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domingo, 21 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 5

Uma das histórias mais curiosas da carreira do ator James Dean foi sua aproximação com Vampira (nome artístico de Maila Nurmi). Para se destacar em Hollywood na década de 1950 era necessário se criar toda uma personagem em torno de si, assim provavelmente algum produtor iria se interessar. Maila, uma atriz desempregada, assumiu o papel de Vampira por sugestão do marido. Havia uma série de filmes de terror e ficção sendo realizados por pequenos e grandes estúdios e assumir uma caracterização ao estilo de Vampira viria bem a calhar para ser escalada nesses filmes. Obviamente que era tudo um jogo de cena, um ato de marketing para angariar papéis. Maila ia caracterizada como Vampira aonde quer que fosse e foi assim que chamou a atenção do novato James Dean. O ator gostava muito de freqüentar um café que ficava na esquina da Sunset Boulevard em Hollywood. E foi lá que topou pela primeira vez com Vampira.

Dean que gostava de agir e se vestir de forma pouco convencional levou um tremendo susto ao ver aquela mulher alta, toda vestida de preto, fortemente maquiada e caracterizada. Sem pensar duas vezes foi até ela puxar assunto. Ao que tudo indica Dean não matou a charada logo de cara e ficou convencido que Maila fosse devota de alguma seita satânica ou algo do gênero. No bate papo James Dean foi logo avisando que estava “em busca de forças demoníacas”, pois queria conhecer a fundo alguma seita satânica. Vampira obviamente achou sua abordagem muito estranha pois não sabia se ele estava tirando uma onda dela ou se falava sério. Era normal para Dean agir assim, de forma esquisita e pouco comum. De uma forma ou outra o assunto fluiu muito bem e em pouco tempo ambos estavam se considerando grandes amigos. “Ele tinha as mesmas neuroses que eu” – explicou anos depois a atriz. Dean também mostrou muito interesse no universo de filmes de terror, principalmente os estrelados por Boris Karloff, ator que adorava, mas sabia que essa não era bem sua praia – “A Warner nunca me deixaria fazer um filme desses”, explicou.

Ao longo de meses a aproximação de Dean e Vampira evoluiu para um breve flerte casual. Era um caso amoroso do tipo “chove não molha”. Dean se aproximava, ficavam juntos alguns dias e depois o ator desaparecia por semanas, sem dar notícia. Vampira lembra que Dean passava por problemas emocionais na época. “Ele estava apaixonado por Píer Angeli mas a mãe da garota não gostava dele. Dean também não colaborava muito para ser aceito pois continuava o mesmo, sem se passar de bom moço”! Após várias idas e vindas finalmente Dean rompeu com Vampira pela imprensa. Foi uma completa surpresa para ela. Usando da coluna de fofocas de Hedda Hooper ele declarou que Vampira “não passava de uma farsa!”. A atriz também não deixou barato dizendo que James Dean “ficava com qualquer um” (uma óbvia referência ao seu bissexualismo). Segundo Vampira, Dean participou de uma animada festa gay em Malibu na noite anterior à sua morte em um acidente de carro. O ator também seria conhecido em certos redutos gays como “o cinzeiro humano” pois gostava que seus amantes apagassem seus cigarros em seu braço! Resta saber se esse tipo de afirmação era apenas um ato de vingança ou um fato real. Quem pode saber a verdade?! De qualquer modo uma coisa é certa: poucas vezes se viu na história de Hollywood um casal tão incomum quanto James Dean e Vampira, eles eram certamente excêntricos e bizarros e combinavam perfeitamente em sua esquisitice!

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 4

Depois do fim das filmagens de "Vidas Amargas" James Dean mergulhou em um dos períodos mais felizes de sua vida e isso por causa de seu relacionamento com Pier Angeli. Ele mudou seu estilo de vida para fazer o namoro dar certo e isso causou uma forte impressão dentro da comunidade de Hollywood. Ao invés de andar jogadão, com jeans e camisas surradas, Dean começou a vestir terno e smoking e para grande surpresa de quem o conhecia passou a apreciar jantares requintados ao lado da namorada. Até compareceu devidamente elegante na estreia do filme "Nasce uma Estrela"! Para quem vivia de moto, andando pelas ruelas menos turísticas da cidade, sem dúvida foi uma mudança radical. Poucas semanas depois de ser liberado pela Warner, Dean resolveu que era hora de voltar para Nova Iorque. Apesar de estar feliz ao lado de Angeli o fato era que o ator só se sentia em casa completamente na grande Apple, onde tinha sua turma formada desde os tempos do Actors Studio. Assim que chegou na costa leste ele emendou um pequeno trabalho na TV, apenas para não ficar sem trabalhar. Depois participou de um novo grupo de teatro que estava montando uma peça na Broadway. Longe de Hollywood o namoro com Angeli começou a esfriar.

A um amigo próximo James Dean confidenciou que Pier e sua mãe estavam pressionando o jovem rebelde a se amarrar, a se casar com a namorada. Isso era algo impensado para ele que sentia ver sua carreira decolar pela primeira vez. Isso porém não era tudo. A mãe de Pier Angeli queria que Dean virasse católico para que tudo saísse de acordo com seus planos. Dean não tinha religião fixa e não frequentava qualquer tipo de igreja e por essa razão ficou receoso. Ele até toparia virar romano se isso fosse de agrado da namorada, a única coisa que definitivamente não estava disposto naquele momento era se casar. Isso era algo fora de cogitação. Obviamente James Dean queria que o relacionamento fosse bem sucedido e um dia, quem sabe, poderia resultar em casamento, mas obviamente em um futuro indeterminado e não nos próximos meses como a mãe de Angeli queria. Infelizmente James Dean tomaria ciência pelos jornais que sua namorada estava indo a festas em Hollywood enquanto ele estava em Nova Iorque. Nas fotos publicadas ela aparecia feliz e sorridente, dançando inclusive com outros homens. Isso definitivamente deixou Dean totalmente aborrecido.

Depois de mais algumas semanas ele retornou a Los Angeles. A Warner queria providenciar seu segundo filme, chamado "Rebel Without a Cause" que seria dirigido pelo cineasta Nicholas Ray. O roteiro prometia pois tratava sobre jovens rebeldes da Califórnia. Era uma boa oportunidade para Dean, além disso o roteiro parecia ter sido escrito sob medida para ele. Em sua próprias palavras: "O meu personagem nesse filme será o de um jovem que tenta fazer tudo certo, mas que no final acaba fazendo tudo errado!". Após ler o script ficou bastante animado com o projeto e na mesma semana informou aos executivos da Warner que faria o filme com certeza! Se as coisas na esfera profissional pareciam andar bem, na vida privada o namoro com Angeli ia de mal a pior. Desde que voltara de Nova Iorque as brigas começaram a se tornar frequentes demais e Dean, rebelde como era, não estava disposto a ser manobrado nem pela namorada e nem muito menos pela mãe dela. No meio do turbilhão o namoro finalmente esfriou. Dean foi para seu lado e Angeli para o outro. Para sua completa surpresa a ex-namorada anunciou em poucos dias que ficaria noiva do cantor Vic Damone, algo que deixou Dean totalmente desnorteado, sem saber como reagir.

Dois meses depois veio uma bomba ainda maior. Pier anunciou sua data de casamento com o cantor ítalo-americano. A cerimônia foi uma das mais concorridas da comunidade de Hollywood, mas Dean ficou obviamente de fora da lista de convidados. Isso não o deixou intimidado e assim ele resolveu ir de moto para ver o que estava acontecendo no dia do casamento de sua ex. Estacionou sua Harley do outro lado da rua, acendeu um cigarro e ficou bem ali, quase como um desafiante. Assim que Angeli saiu da igreja e a chuva de arroz cobriu seu belo vestido de noiva, James Dean subiu em sua moto, acelerou e saiu em disparada, numa das mais representativas atitudes de sua vida, mostrando de forma clara que apesar da desilusão amorosa, ninguém ainda tinha forças suficientes para controlar o rebelde de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 3

Assim que as filmagens de "Vidas Amargas" iam avançando, Dean e Kazan começaram a ter atritos. O que começou com uma simbiose de ideias interessantes para o filme logo desandaram para pequenos mal entendidos que cresceram ao ponto de Kazan falar mal do ator para a imprensa. Para o diretor as filmagens começaram muito bem, mas conforme foram avançando surgiram problemas envolvendo James Dean com praticamente todos os membros do elenco.

Durante uma cena com o ator Raymond Massey (que interpretava seu pai no filme) Dean começou a recitar pequenas obscenidades e palavras de baixo nível para seu colega, enquanto ele tentava se concentrar em declamar seu rebuscado texto. Para Dean tudo não passou de uma brincadeira, mas para Massey aquilo era o ápice da falta de profissionalismo. Com sua estrela Julie Harris as coisas não fluíram melhor. Dean começou a debochar de seu jeito tímido e calado. Julie tentava levar na brincadeira, mas depois aquilo começou a aborrecer a tal ponto que Kazan disse literalmente que "ela era realmente uma santa em aguentar aquele James Dean no set sem perder a paciência"!

Depois de morar um tempo com Richard Davalos em um apartamento cedido pela Warner, James Dean resolveu tomar uma decisão radical. Largou o apartamento, pegou sua velha mochila com os poucos pertences pessoais e resolveu que iria morar dentro de seu camarim no estúdio. Kazan achou aquilo uma maluquice, mas Dean explicou que o camarim no final das contas era mais espaçoso que seu pequeno quarto e além do mais o deixaria mais perto do trabalho (na verdade o deixaria sempre "dentro" de seu trabalho). Os produtores não fizeram questão, mas lhe informaram que assim que as filmagens terminassem ele teria que sair de lá, pois outro filme seria feito e os camarins seriam disponibilizados para o elenco que chegaria para trabalhar no novo filme. Dean deu de ombros, afinal de contas por mais estranho que fosse seu comportamento ele certamente não estaria disposto a viver indefinidamente dentro de um camarim de estúdio de cinema.

Enquanto estava de folga das filmagens, James Dean resolveu visitar os sets de outros filmes, entre eles "O Cálice Sagrado" que estava sendo filmado perto de seu camarim. Foi lá, visitando Paul Newman, que Dean viu pela primeira vez a atriz Pier Angeli. Foi amor à primeira vista! Embora Dean tivesse tido vários casos amorosos com homens em sua vida, ele tinha uma  certa tendência em alimentar paixões amorosas em relação a garotas que conhecia e admirava. Angeli era uma delas. De família católica italiana tradicional, a atriz era o extremo oposto de James Dean, na época considerado um ator largado de Nova Iorque, um sujeito conhecido por sua rebeldia e comportamento fora dos padrões. De qualquer maneira, como diz o ditado, os opostos se atraem. E assim James Dean ficou gamado por ela! Nem bem a viu pela primeira vez comentou depois com Paul Newman: "Puxa, ela não parece ser desse mundo!". Discretamente James Dean convidou Angeli para se sentar com ele no refeitório da Warner durante o almoço. Não demorou muito e surgiram de mãos dadas, confirmando que estavam namorando. A mãe de Pier Angeli não gostou nada de saber da novidade por causa da fama de rebelde e selvagem do ator e tentou acabar com o precoce namoro, mas foi em vão.

Enquanto isso as filmagens de "Vidas Amargas" iam chegando ao fim. Elia Kazan desabafou e disse que Dean não se deu bem com ninguém, nem com o elenco e nem com a equipe técnica. Também reclamou de suas atitudes insuportáveis, como por exemplo, sempre tentar estragar as cenas de Julie Harris. Outro aspecto que incomodou Kazan foi a forma como Dean lidava com o trabalho pois na opinião do diretor "Ele perdia muito tempo tirando fotos de si mesmo". Um egocêntrico? Para Kazan não restava a menor dúvida. Durante as filmagens, Dean resolveu comprar uma nova moto, da marca Triumph, ideal para corridas. Assim que descobriu isso Kazan chamou Dean de lado e lhe avisou: "Não tenho nada a ver com sua vida pessoal, mas enquanto o filme não ficar pronto você não participará de nenhuma corrida". Dean contestou e disse que nunca se machucara antes! Mesmo assim, como ainda era seu primeiro filme, resolveu acatar as ordens do cineasta. Na festa final de confraternização das filmagens James Dean não apareceu. Preferiu pegar sua mochila, colocar nas costas e ir embora de moto até o litoral. Haveria uma corrida para amadores e Dean não queria perder a chance de correr com sua possante moto pela primeira vez.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 2

Qual era a altura do ator James Dean? Parece uma questão secundária, mas que para Dean acabou ganhando uma importância maior do que ele inicialmente esperava! Quando Dean foi para a Califórnia ele tinha um sonho de se tornar ator de teatro. O aspirante a essa nova profissão foi para o novo estado, saindo da caipira Fairmount, em Indiana, com a intenção de estudar na universidade UCLA. Pelo menos essa era a intenção do pai de Dean. Na realidade ele não via qualquer futuro na profissão de ator e sempre desencorajava Dean a seguir por esse caminho. Os sonhos porém sempre falam mais alto.

Os primeiros meses de James Dean na nova universidade não foram nada promissores. Ele não se deu bem com colegas e professores e logo achou tudo muito maçante e tedioso. Chegou a ser expulso da fraternidade que fazia parte após brigar com um dos colegas. Embora estivesse estudando o curso de Direito para quem sabe ser um advogado no futuro, o que Dean gostava mesmo era de frequentar o campus de artes - onde grupos de estudantes ensaiavam peças ao ar livre. Era tudo muito libertador e empolgando, algo bem melhor do que ficar estudando leis e mais leis, rebuscadas pela jurisprudência da corte suprema dos Estados Unidos. No fundo James Dean não queria ser um profissional de terno e gravata, mas sim um artista, como sempre sonhou. O pai dele, claro, não gostava nada quando tinha lhe contava essas ambições para seu futuro profissional.


Sem falar para ninguém, um dia James Dean começou a ir a testes de atores para peças e filmes. Ele achava sinceramente que logo iria ser descoberto pelos agentes e estúdios de Hollywood. Chegou inclusive a procurar um agente que o ajudasse a despontar. Porém o que efetivamente encontrou foram muitas portas fechadas em sua cara! Nos testes não se saiu nada bem. Dean não tinha muitos modos finos e não conseguia convencer os selecionadores. Em vários testes sua pouca estatura tornou-se um empecilho. Com muito esforço e botas altas, Dean conseguia disfarçar sua pouca altura, conseguindo chegar ao 1.69m de altura. Dean foi sendo recusado teste após teste. Os filmes, principalmente de cowboy, exigiam atores altos e fortes. Não era o caso de Dean. Ele sabia montar - afinal morava numa fazenda em Indiana - mas não tinha o porte físico necessário para fazer parte do elenco de um western.

Alguns diretores de elenco eram rudes com ele e deixavam claro que ele era baixinho demais para os personagens. Lutando muito e persistindo Dean acabou conseguindo fazer algumas figurações em "Baionetas Caladas", um filme de guera e depois em uma comédia estrelada pela dupla Jerry Lewis e Dean Martin,  Nessa produção chamada "O Marujo foi na Onda" Dean interpretou um auxiliar de ringue. Enquanto Jerry Lewis saia no braço com seu adversário, dando margem a todos os tipos de situações divertidas, Dean ficava com uma toalha no corner, decidindo se entrava ou não para interromper a luta. Passou longe de ser um papel marcante, mas foi uma primeira chance. Desiludido, certa noite ouviu um conselho muito interessante de um professor de arte dramática. "Dean, deixe isso de lado, vá para Nova Iorque e aprenda a ser um ator de verdade! No cinema você não vai aprender a ser um ator". No outro dia James Dean arrumou as malas, juntou os 300 dólares que tinha (a única grana que possuía naquele momento) e rumou para a big Apple. O que encontrou por lá? Bem, essa é uma outra história...

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 1

Foi na primavera de 1954 que James Dean pintou pela primeira vez em Hollywood como ator contratado. Ele havia fechado contrato com a Warner em Nova Iorque para interpretar Cal Trask na adaptação para o cinema do livro de John Steinbeck. Elia Kazan iria dirigir o filme e havia indicado expressamente Dean pois o tinha visto atuando em Nova Iorque em uma peça e se convencera que aquele era certamente o ator que tanto esperava para dar vida ao atormentado e sombrio Cal. Assim que chegou na costa oeste Dean foi recepcionado por Kazan, que fez um trabalho especial para que sua presença passasse despercebida pela imprensa local pois queria que James Dean se concentrasse apenas em seu papel e nada mais. Era vital que ele ficasse longe dos holofotes e das colunas de fofocas dos jornais da cidade. Como ainda era um perfeito desconhecido na época os planos de Kazan deram completamente certo.

Dean não tinha onde morar em Los Angeles e assim a Warner alugou para ele um pequeno quarto em cima de uma drogaria, bem em frente aos portões principais do estúdio. Assim tudo o que Dean tinha que fazer era atravessar a rua pela manhã para ir até a Warner começar seu trabalho. O quarto era modesto, cujo aluguel era de apenas 50 dólares, mas para Dean, apenas um jovem na época já estava de ótimo tamanho. Todas as manhãs Dean ia até uma lanchonete na esquina, tomava um pequeno café preto, comprava um maço de cigarros e ia para o balcão onde o filme estava sendo rodado. A Warner apostou alto no filme e reconstruiu a cidade de Salinas, onde o enredo se passava, em estúdio. O tamanho da produção intimidou Dean nos primeiros dias. Elia Kazan logo percebeu que o ator ficava muitas vezes retraído, tímido e muito na dele, não procurando se socializar com os demais membros do elenco.

Kazan, um mestre em lidar com atores complicados, logo começou a criar uma amizade bem próxima com Dean, lhe incentivando a discutir as cenas, debatendo as melhores formas de atuar. O resultado dessa aproximação se refletiu em cada cena do filme, hoje considerado um dos grandes clássicos do cinema americano. Curiosamente o estilo de trabalhar de Dean bateu de frente com os atores mais veteranos. Raymond Massey que interpretava o pai de Dean no filme, Adam Trask, se irritava com as improvisações de Dean no set. Massey havia estudado atuação em Oxford, era um ator da velha escola, e não via com bons olhos aquele método de atuar típico do Actors Studio de Nova Iorque. Ele queria seguir à risca o que estava no roteiro enquanto Dean achava que o ator também era parte essencial no processo de criação de um filme e deveria colocar parte de sua personalidade em cada linha de diálogo. Foi um verdadeiro choque de escolas em plena filmagem, algo que Elia Kazan não viu como algo ruim, pelo contrário, como pai e filho eram problemáticos no enredo nada mais interessante que trazer essa tensão entre a nova geração e a velha também durante as filmagens. Ele sabia que no final o filme é que sairia ganhando com esse duelo.  

Fora dos estúdios a Warner determinou a Dick Clayton, um ex-ator e agora agente, que ficasse de olho em Dean, que era conhecido por ter atitudes inesperados e impulsivas. Ao longo dessas primeiras semanas ao lado de Dean, Clayton acabou confirmando o que diziam dele. Assim que recebeu seu cachê de 10 mil dólares as duas primeiras coisas que o ator fez foi comprar um cavalo palomino e um carro esporte GM, que passou a dirigir em alta velocidade pelas ruas de Hollywood. A compra do cavalo era um exemplo de como Dean agia. Ela não montava e não tinha um rancho onde colocá-lo mas ao se deparar com o animal em um estábulo nos estúdios da Warner (ele estava sendo usado em um filme com Randolph Scott) não pensou duas vezes e o comprou, assim, sem mais, nem menos. Em relação ao carro Dick resolveu escrever um memorando aos executivos da Warner para que tomassem cuidado com Dean pois ele "dirigia feito um louco" e caso sofresse algum acidente poderia trazer prejuízos financeiros para a Warner futuramente. O tempo provaria que ele tinha toda a razão do mundo.

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Life

Hollywood, 1955. Dennis Stock (Robert Pattinson) é um fotógrafo freelancer que ganha a vida tirando fotos de atores e atrizes famosos. Numa festa ele acaba conhecendo casualmente James Dean (Dane DeHaan), um jovem ator de Nova Iorque, ainda desconhecido do grande público, prestes a ter seu primeiro filme de repercussão a estrear nas telas, "Vidas Amargas". Eles se tornam amigos e próximos e Stock sugere a Dean que ele participe de uma sessão de fotos casuais, de seu cotidiano, pois Stock tentará vender elas para a famosa revista Life. Assim ambos ganhariam, Stock teria uma chance de renda extra e Dean poderia colher alguns frutos com a publicidade da publicação das fotografias. Após hesitar um pouco, Dean aceita a oferta e junto a Stock parte para sua terra natal, Indiana, onde o fotógrafo pretende tirar as melhores fotografias do jovem aspirante a astro do cinema.

Pela história eu já teria todos os motivos para gostar desse filme. O tema é o encontro entre James Dean e o fotógrafo Dennis Stock, que juntos criaram algumas das fotos mais mitológicas da Hollywood clássica em sua era de ouro. Como não conhecer as fotos de Dean andando debaixo da chuva em Times Square? São fotos que ajudaram a criar o mito em torno dele. O curioso é que durante anos as fãs de Robert Pattinson o compararam a Dean, mas aqui ele resolveu interpretar não o lendário rebelde, mas sim o sujeito cheio de dívidas que resolveu tirar as famosas fotos do ator, símbolo máximo da rebeldia no cinema. O Dean que surge no enredo é apenas um jovem desconhecido, com um único filme a estrear, que tem que lidar com a fama prestes a explodir. O ator que interpreta Dean exagera um pouco na dose. O ator não é bem caracterizado porque parece estar o tempo todo afetado, cigarro na boca, cara de tédio extremo. Não existem momentos espontâneos, não parece uma pessoa real. O grande atrativo mesmo é mostrar momentos íntimos de seu namoro com Pier Angeli, o fim do romance e a fossa que Dean viveu após ela resolver se casar com o cantor Vic Damone. Ficou interessante, sem dúvida. Já Pattinson continua apático, o que sempre estraga de certa maneira os filmes de que participa. Mesmo assim, com esses pontuais problemas, é aquele tipo de filme irresistível para qualquer cinéfilo. A história contada é simplesmente cativante demais para se ignorar.

Life (EUA, Canadá, 2015) Direção: Anton Corbijn / Roteiro: Luke Davies / Elenco: Robert Pattinson, Dane DeHaan, Alessandra Mastronardi, Ben Kingsley, Peter Lucas / Sinopse: Dennis Stock (Robert Pattinson) é um fotógrafo desempregado, vivendo de bicos, que vê uma oportunidade de ganhar uma grana extra ao tirar fotos de um jovem ator desconhecido chamado James Dean (Dane DeHaan). Ele estava prestes a se tornar o maior mito rebelde da história do cinema americano de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

James Dean - Life

Esse filme "Life" que assisti recentemente me fez pensar como o mundo da arte tangencia a imortalidade. Pense um pouco. James Dean morreu há tanto tempo que fica até mesmo complicado entender porque as pessoas ainda se lembram dele, de que algum dia ele veio a existir... A resposta para esse tipo de pergunta é muito simples: a arte imortalizou James Dean assim como imortalizou Elvis, Lennon, Marilyn e tantos outros. Só a arte tem essa capacidade de eternizar a imagem de um artista. Tudo o mais é corroído pelas areias do tempo.

E o mais interessante de tudo é que o foco do filme não se resume a explorar o James Dean das telas, mas também o ator que ficou imortalizado em uma série de fotos que foram produzidas até sem pretensão, mas que hoje em dia valem uma verdadeira fortuna (obviamente estou me referindo não apenas aos originais como também aos licenciamentos de seu uso em produtos em geral como camisas, revistas, etc). E pensar que o fotógrafo Dennis Stock só estava interessado mesmo em quem sabe a Life se interessar por seu trabalho para ganhar uns trocados. Desempregado, pai de família, a vida não andava nada fácil para ele. Hoje seus herdeiros vão muito bem, obrigado, graças às fotos que tirou de James Dean.

Nos Estados Unidos o espólio de Dean fatura cerca de 6 a 8 milhões de dólares ao ano. Claro que essa grana toda não vem da venda de seus filmes, embora pequena parte provenha realmente disso. O grosso do dinheiro vem porém principalmente do uso de sua imagem em licenciamentos. Tal como Marilyn Monroe, Dean também virou uma espécie de símbolo, de imagem máxima de um determinado comportamento - que no caso dele é a do jovem rebelde sem causa. Como morreu aos 24 ele também será eternamente jovem, pelo menos nas estampas de cadernos, camisas e peças de roupas. Por falar em roupas outro fato que contribui muito para que Dean continue sendo uma máquina de faturar milhões vem do fato dele ser sempre usado em peças publicitárias do mundo da moda, o que não deixa de ser uma ironia pois Dean sempre fora criticado em vida justamente por se vestir de forma desleixada.

Em sua rotina Dean usava um jeans surrado (a calça de todo trabalhador da América) e camisas brancas, bem básicas. Esse aliás acabou virando o uniforme de praticamente todo o rebelde dos anos 50. E havia também o topete, esse imortal. O próprio Elvis se inspirou nele para também usar um dos penteados mais duradouros do século XX. E o curioso de tudo é que Dean já demonstrava que ficaria careca com os anos já que tinham grandes entradas em seu cabelo. Claro que isso nunca aconteceu pois ele morreu jovem e para os que partem cedo sempre fica a eternidade da beleza jovial, preservada para todo o sempre.

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de maio de 2015

Assim Caminha a Humanidade

"Giant" entrou para a história do cinema por vários motivos. O mais lembrado deles é o fato de ter sido o último filme de James Dean. Poucos dias após o fim das filmagens o ator resolveu participar de uma corrida e na viagem até lá morreu em um trágico acidente com apenas 24 anos. Outro ponto a se destacar é que esse é considerado até hoje o melhor filme de George Stevens. Diretor habilidoso, conseguia ótimos resultados por causa de um método inovador de trabalho. Ele utilizava várias câmeras, todas em ângulos diferentes e depois passava meses trancado no estúdio assistindo a cada registro, a cada tomada de cena. Só depois de montar o filme em sua própria mente é que ele finalmente dava o corte final em suas obras. Por essa razão "Assim Caminha a Humanidade" é uma verdadeira obra prima, uma ode ao Texas que até hoje impressiona por sua força e atemporalidade. Por fim, e não menos relevante, "Giant" é sempre lembrado pelas ótimas atuações do casal Rock Hudson e Elizabeth Taylor. Rock aliás considerado até aquele momento um mero galã de Hollywood conseguiu sua primeira e única indicação ao Oscar. O reconhecimento da Academia foi mais do que merecido pois o trabalho de Rock é realmente primoroso, onde ele interpreta um personagem em vários momentos de sua vida, desde a juventude até sua velhice. Permeando tudo temos os vastos campos do Texas. A própria imagem da casa de fazenda ao longe, sem nada por perto reflete bem a grandeza daquela região, onde grandes fortunas foram feitas praticamente da noite para o dia. O Ouro negro, como era chamado o Petróleo, fez a riqueza de muitas famílias texanas. E é justamente sobre isso que seu enredo enfoca.

Em sua autobiografia Rock Hudson relembra como foi tratado por George Stevens. O diretor lhe colocou a par de todos os aspectos da produção e chegou a dizer a ele que escolhesse a cor da casa de seu personagem no filme. Nunca um diretor havia feito algo assim com ele. Isso demonstrava o modo de trabalhar de Stevens, ele queria que todos se sentissem parte do processo de realização do filme. Hudson afirmou em seu livro que nunca vira nada igual antes. Se o diretor queria aproximação completa entre ele e o elenco o mesmo não se podia dizer dos dois atores principais. Desde o começo Rock Hudson e James Dean não se deram bem. Dean vinha de Nova Iorque e procurava ir fundo em suas interpretações. Hudson foi formado na Universal, dentro do Star System, e estava pouco preocupado com maneirismos do Actors Studio. Assim travou-se uma verdadeira batalha nas cenas, dois atores com formação completamente diferente que não se gostavam muito pessoalmente. Dean achava Rock um mero galã e um "poste" - apelido que usou por causa da grande altura do ator. Como ele era baixinho, Dean acabou sentindo-se intimidado por Rock. Já Hudson achava Dean esquisito, complicado de se lidar. Curiosamente apesar de ambos não se darem bem, os dois se tornaram grandes amigos da estrela Elizabeth Taylor. Para Dean, Liz era como uma irmã que nunca teve. Amorosa e simpática procurava entender o rebelde ator mesmo quando ele nitidamente se comportava mal com os outros. Já em relação a Rock ela se comportava como uma amiga de farras. Ambos tomaram grandes porres juntos e inventaram o Martini de chocolate, uma combinação explosiva que exigia um intestino de aço de quem ousasse beber aquela mistureba toda. Elizabeth Taylor virou amiga até os últimos dias de vida de Rock Hudson e quando esse morreu de AIDS em 1985 ela fundou uma instituição de apoio a pesquisas para combater a doença.

A edição do filme foi complicada e demorada. Havia muito material gravado, por diversas câmeras e assim George Stevens passou longos meses montando tudo aquilo. Quando o filme finalmente ficou pronto e foi lançado James Dean já havia morrido há mais de um ano. Como tinha se tornado um mito eterno da sétima arte com sua morte suas jovens fãs correram para os cinemas para conferir o último trabalho do encucado ator. O que viram foi uma produção completamente diferente de "Juventude Transviada". Enquanto aquele era uma crônica sobre a juventude e seus problemas, "Giant" era monumental, de enorme duração e com ares de cinema épico. A crítica se dividiu mas de forma em geral todos concordaram que estavam na presença de um dos maiores filmes já feitos por Hollywood. Um dos pontos mais criticados foi justamente a maquiagem realizada nos atores nas cenas em que eles surgem envelhecidos. Para Rock Hudson e Elizabeth Taylor as perucas grisalhas realmente não caíram bem. De fato apenas James Dean surge bem nessas cenas, o que não deixa de ser uma grande ironia pois ele nunca teria a chance de envelhecer como seu personagem, que aparece bêbado e caindo em um vexame público. Aliás muitas das falas de Dean ficaram ruins nesse momento final e o diretor George Stevens, sem opção, teve que contratar o ator Nick Adams para dublar certas partes do texto do ator falecido. Assim em conclusão podemos dizer que "Assim Caminha a Humanidade" não é apenas uma obra de cinema fenomenal mas também um marco histórico do cinema americano. Um filme tão grande quanto o Texas. Um momento maravilhoso do cinema americano que todos os cinéfilos devem assistir. 

Assim Caminha a Humanidade (Giant, Estados Unidos, 1956) Direção: George Stevens / Roteiro: Fred Guiol, Ivan Moffat baseados na obra de Edna Ferber / Elenco: Elizabeth Taylor, Rock Hudson, James Dean, Carroll Baker, Mercedes McCambridge, Jane Withers, Chill Wills, Sal Mineo, Dennis Hopper / Sinopse: "Assim Caminha a Humanidade" conta a estória do rico fazendeiro Bick Benedict (Rock Hudson) . Após cortejar e se casar com a mimada Leslie (Elizabeth Taylor) ele retorna para sua imensa casa de fazenda bem no meio do grandioso estado americano do Texas. Lá tem que lidar com todos os problemas de sua propriedade, inclusive seus empregados. Entre eles se destaca o estranho e taciturno Jett Rink (James Dean) que parece nutrir uma indisfarçável paixão pela esposa de seu patrão.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Juventude Transviada

O filme definitivo da carreira de James Dean. "Juventude Transviada" é a quintessência do mito. De certa forma foi o filme que criou a cultura jovem na década de 50. Os personagens são jovens desiludidos, perdidos, que procuram por algum tipo de redenção. Toda a estória se passa em menos de 24 horas. No filme acompanhamos o primeiro dia de aula de Jim Stark (James Dean) em sua nova escola. Filho de pais que vivem se mudando de cidade o jovem Jim não consegue por essa razão criar genuínos laços de amizades com outros jovens de sua idade. Nesse primeiro dia em Los Angeles ele busca por um recomeço, tudo o que deseja é se enturmar e se possível não se envolver em problemas. Dois objetivos que ele logo entenderá que são bem complicados de alcançar. Desafiado por um grupo de valentões liderados por Buzz (Corey Allen) ele logo se vê envolvido numa briga com punhais. Depois aceita o desafio de participar de um racha altas horas da noite numa colina da cidade, o que trará consequências trágicas para todos os envolvidos.

Juventude Transviada demonstra bem que alguns temas são realmente universais, não importando a época em que acontecem. O jovem novato na escola que sofre bullying e é hostilizado pelos valentões locais, o desejo de ser aceito, a dor da rejeição e a frustrada tentativa de se enquadrar são temas pertinentes ao roteiro que dizem respeito não apenas aos personagens do filme mas a todos nós, principalmente no período escolar onde tudo isso vem à tona de forma muito transparente, para não dizer cruel. James Dean está simplesmente arrasador na pele de Jim Stark. Usando de sua já conhecida expressão corporal o ator esbanja versatilidade em uma interpretação realmente inspirada. Não é de se admirar que tenha sido tão idolatrado por tantos anos. Natalie Wood é outro destaque. Interpretando uma jovem com problemas de relacionamento com seu pai ela mostra bem porque era considerada um dos maiores talentos jovens daquela época. Por fim fechando o trio principal temos o frágil Platão, o personagem mais conturbado do filme. Em sensível atuação de Sal Mineo ele transporta carência afetiva e emocional, procurando a todo custo criar algum tipo de amizade, seja com quem for.

Quando "Juventude Transviada" chegou aos cinemas o ator James Dean já tinha morrido em um trágico acidente, com apenas 24 anos. A comoção por sua morte aliada á sua interpretação majestosa nesse filme criaram um dos mais fortes mitos da história de Hollywood. O nome James Dean ficou associado eternamente à figura do jovem rebelde. Unindo sua história trágica, muito parecida com as dos antigos mitos românticos, à força do cinema, James Dean logo virou ídolo de milhões de jovens ao redor do mundo. Mito esse que sobrevive até os dias de hoje pois mesmo após tantas décadas de sua morte o ator ainda é uma das celebridades falecidas que mais faturam em termos de licenciamento de produtos e direitos de imagem. De certa forma o mito James Dean ultrapassou e muito a influência do ator James Dean, embora essa também seja significativa. Juventude Transviada é assim seu testamento definitivo, o filme que criou toda uma mitologia em torno de seu nome, que se recusa a morrer de forma definitiva. Revisto hoje em dia o filme só cresce em importância e qualidade. Definitivamente é uma das produções mais importantes da história do cinema.

Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, Estados Unidos, 1955) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Stewart Stern, Irving Shulman, Nicholas Ray / Elenco: James Dean, Sal Mineo, Natalie Wood, Corey Allen, Dennis Hopper, Jim Bechus / Sinopse: Jim Stark (James Dean) é um jovem recém chegado em Los Angeles que em seu primeiro dia de aula na nova escola tem que enfrentar um grupo de valentões liderados por Buzz (Corey Allen). Após uma briga de punhais no observatório da cidade ele aceita o desafio de participar de um racha mortal nas colinas da cidade.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Vidas Amargas

Roteiro e Argumento: “Vidas Amargas” se baseia no famoso livro do escritor John Steinbeck. Na realidade se trata de uma grande metáfora sobre os personagens bíblicos do gênesis no velho testamento. Na estória acompanhamos um pobre rancheiro que tem dois filhos, Cal e Aron. Aron (Richard Davalos) é o filho que todo pai gostaria de ter, estudioso, educado e polido. Sua vida emocional é estável e ele namora a delicada e bela Abra (Julie Harris). Aron é em suma um modelo de bom filho. Ele é o oposto de Cal (James Dean) um jovem perturbado, complicado, complexo que sempre toma as piores decisões em sua vida. Numa delas decide investigar o que teria acontecido à sua mãe que os abandonou ainda jovens. Acaba descobrindo um terrível segredo sobre ela na cidade vizinha de Monterrey o que trará trágicas conseqüências para toda a sua família. O livro original é uma obra robusta e por isso aqui optou-se por transpor para as telas apenas parte dele. A adaptação é excelente uma vez que a estória se fecha muito bem em si mesma, não dando pistas de que faltou algo em seu enredo.

Produção: Uma produção do mais alto nível. A reconstituição de época é perfeita (a estória se passa em 1917, pouco antes dos EUA entrar na Primeira Guerra Mundial). Figurinos, costumes, carros, tudo recriado com perfeição. O estúdio Warner resolveu realizar “Vidas Amargas” no formato widescreen, sendo muito eficiente seu resultado final. “Vidas Amargas” foi indicado aos Oscars de melhor diretor, roteiro adaptado, ator (James Dean) e atriz coadjuvantes (Jo Van Fleet). Um reconhecimento merecido de seus méritos cinematográficos.

Direção: Elia Kazan sempre dirigiu com maestria seus atores. Aqui em “Vidas Amargas” ele decidiu inovar, ensaiando o filme por duas semanas antes de começar a rodar as cenas. O método deu muito certo até porque todo o elenco vinha do meio teatral em Nova Iorque. Kazan também incentivou os atores a trazer elementos novos para seus personagens algo que caiu como uma luva para James Dean que gostava desse tipo de liberdade criativa. De fato o ator trouxe muito de si mesmo para a atuação de Cal. No aspecto puramente técnico Kazan também procurou inovar criando ângulos inusitados com a câmera, além de literalmente interagir com as cenas (a melhor acontece quando Dean aparece se balançando num brinquedo de criança e Kazan balança a câmera junto com ele). Enfim, mais uma magnífica direção de Kazan, aqui no auge de sua criatividade e talento.

Elenco: O grande atrativo de “Vidas Amargas” é a presença no elenco de James Dean. Embora ele tenha participado de 3 filmes anteriores (todos como ponta) aqui o ator tem a primeira grande chance de verdade em sua carreira. Elia Kazan havia assistido Dean numa montagem off Broadway e decidiu que ele seria a escolha perfeita para interpretar o perturbado e irascível Cal, um personagem intenso que exigiria muito do ator. James Dean em cena não decepcionou. Ele está perfeito em sua caracterização, colocando para fora tudo o que aprendeu no Actor´s Studio de Nova Iorque. Seu personagem transmite toda a complexidade de sua alma não apenas nos diálogos mas no próprio modo de ser, andar, agir. O trabalho corporal que James Dean trouxe para Cal até hoje impressiona. O ator se entrega como poucas vezes vi no cinema. De certa forma Dean era Cal e o incorporou com perfeição no filme, ofuscando completamente todo o resto do elenco que também é todo bom. A atuação inspirada lhe valeu a primeira indicação póstuma ao Oscar da história. Infelizmente quando a Academia anunciou seu nome para o prêmio James Dean já havia morrido em um trágico acidente de carro aos 24 anos. Melhor se saiu sua colega de cena, Jo Van Fleet, que venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante. Ela interpretou a mãe de Cal e Aron no filme. Prêmio merecido aliás.

Vidas Amargas (East Of Eden, Estados Unidos, 1955) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Paul Osborn baseado na obra de John Steinbeck / Elenco: James Dean, Raymond Massey, Julie Harris, Burl Ives, Richard Davalos, Jo Van Fleet / Sinopse: Dois irmãos, Cal e Aron, disputam a afeição do pai. Esse deseja ganhar dinheiro com a venda de verduras congeladas mas não obtém sucesso. Cal (James Dean) então resolve ganhar seu próprio lucro com a venda de feijões para as tropas americanas que estão sendo enviadas para a I Guerra Mundial. Nesse ínterim Cal acaba descobrindo um terrível segredo sobre sua mãe que é localizada por ele na cidade vizinha de Monterrey. Seu pai havia mentido pois dizia que ela havia falecido quando os irmãos eram apenas crianças. A verdade finalmente irá abalar toda a família.

Pablo Aluísio.

domingo, 12 de agosto de 2012

The James Dean Story

"The James Dean Story" é um interessante documentário realizado pelo cineasta Robert Altman feito apenas dois anos após a morte de James Dean. Único no mundo o filme teve o grande mérito de ainda alcançar todos os familiares de Dean ainda vivos, gravando importantes depoimentos dados por eles sobre o jovem ator. Fazendeiros simples do interior de Indiana, Altman teve uma grande sensibilidade em deixar toda essa gente bem à vontade para extrair deles as lembranças do famoso parente. Assim acompanhamos seus pais adotivos (seus tios na verdade) relembrando a infância do jovem sobrinho em sua fazenda na cidade de Fairmount. Hoje em dia todo esse material ganhou um status de documento histórico haja visto que se tornou o único registro de muitos dos familiares e amigos de James Dean, hoje todos falecidos. 

A grande ausência do filme é o depoimento do pai de Dean. Não é de se admirar pois ele sempre foi uma pessoa muito avessa à publicidade. Poucos são os registros ou declarações feitos por ele. Ao longo de muitos anos foi procurado por documentaristas, historiadores e autores de livros mas sempre recusou fazer qualquer comentário sobre a morte do filho e nem participou de qualquer projeto nesse sentido. Logo "The James Dean Story" não supriria essa lacuna. Em compensação o documentário disponibiliza ao espectador uma grande quantidade de fotos e uma cena inédita que foi cortada do filme "Vidas Amargas". A narrativa do documentário é dramática - o que não poderia ser diferente pois o filme foi rodado nos anos 50, in loco, e captou todo o clima de enterro que ainda pairava sobre a morte do jovem ator. Para quem gosta da história do cinema e para quem é admirador do estilo de Altman o filme é bastante recomendado.  

The James Dean Story (Idem, Estados Unidos, 1957) Direção: Robert Altman, George W. George / Elenco: Parentes e amigos da vida de James Dean, o ator / Sinopse: Documentário que tenta recriar aspectos da vida do jovem ator James Dean, morto em um acidente no ano de 1955. Através de amigos e parentes somos convidados a conhecer o lado mais humano e pessoal do mito. 

 Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

James Dean


Poucos meses antes de morrer o ator James Dean aceitou a oferta de um fotógrafo freelancer chamado Dennis Stock para participar de vários ensaios o mostrando em momentos mais íntimos de sua vida, inclusive em seu último retorno à cidade onde cresceu, em Fairmont, Indiana. Na ocasião Dean aceitou o convite dos alunos da mesma escola onde havia estudado alguns anos antes para participar do baile de formatura daquele ano. Foi uma noite divertida e relaxante onde Dean até mesmo aproveitou para tocar com a banda. Dançou e se divertiu como há muito tempo não fazia. De volta à fazenda onde foi criado, de propriedade do Tio Marcus, resolveu deixar Stock tirar mais fotos nesse estilo, inclusive de forma bem casual, ainda tomando o café da manhã. Ninguém poderia imaginar na ocasião que dentro de pouco tempo Dean estaria sendo enterrado no cemitério da cidade, o Park Cemetery, após sofrer um acidente fatal numa das rodovias da Califórnia. Ele tinha apenas 24 anos de idade.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

James Dean e o nosso tempo...

Na foto ao lado vemos o ator James Dean e o diretor Nicholas Ray que o dirigiu no clássico "Juventude Transviada". Já dizia o ditado popular que "O tempo é o senhor de tudo". Nada sobrevive a ele e mais cedo ou mais tarde todos, não importa o tamanho da fama que conquistaram em vida, um dia serão apenas nota de rodapé na história (ou nem isso). Isso de certa forma aconteceu com o mito James Dean. Embora nos círculos de cinéfilos ele ainda esteja presente o fato é que para o público em geral (inclusive jovens) o nome James Dean não significa mais muita coisa. Percebi isso recentemente quando vi em uma loja de shopping uma bonita camisa com a estampa do eterno ídolo jovem em exposição. Obviamente sabendo de quem se tratava fiz um pequeno teste e perguntei para a atendente da loja, uma moça bem simpática, se ela conhecia o jovem estampado na roupa. Sua resposta foi: "Deve ser algum modelo americano".

Nesse momento eu senti que o antigo mito jovem realmente está morrendo lentamente na lembrança da sociedade. Também pudera, James Dean morreu de um acidente de carro no longínquo ano de 1955. Faça as contas, lá se vão 56 anos, mais de meio século, desde que enfiou seu porsche Spyder num acidente em um cruzamento poeirento do deserto da Califórnia. O curioso de tudo isso é que Dean foi mais famoso na morte do que em vida. De fato o único filme que tinha sido lançado antes dele morrer foi justamente sua estréia como astro de primeiro time no famoso "Vidas Amargas". Antes ele já tinha aparecido em três produções mas em nenhuma delas fez algo relevante, tudo não passando de mera figuração em cena!

Depois de sua morte o filme "Juventude Transviada" ganhou as telas e Dean foi literalmente santificado pela juventude rebelde dos anos 50. Seus trejeitos, modo de vestir e penteado viraram febre nos chamados "anos da brilhantina". Os pedaços de seu carro destruído foram vendidos como souvenirs e até mesmo pessoas que mal o conheceram em vida lançaram livros com revelações "bombásticas". O jovem interiorano do meio oeste americano caiu nas graças do público após isso, se tornando um verdadeiro mártir da rebeldia sem causa! Nada mal para um sujeito que largou tudo para tentar vencer na vida da ensolarada Hollywood.

De baixa estatura, míope e nem um pouco sociável Dean lutou bastante para alcançar seu lugar ao sol. Infelizmente quando colhia seus primeiros frutos na sua carreira uma tragédia cruzou em sua ascensão ao estrelato. Dean pode hoje estar esquecido nas areias do deserto escaldante em que morreu, mas deixou três pequenas obras que lhe garantirão a imortalidade da sétima arte. Como diria o refrão da famosa música do Eagles, James Dean levou bem a sério o lema "too fast to live, too young to die"

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

James Dean: De Volta às Telas?


James Dean, de Volta às Telas? Poderia ser algo completamente impossível, porém alguns executivos do cinema estão pensando justamente nisso. Em trazer de volta o ator para as telas de cinema em um filme inédito. E como isso seria possível? Ora, com a ajuda da tecnologia. O James Dean que voltará será totalmente recriado em computação gráfica, com o melhor que os modernos programas podem fazer. Será no mínimo algo interessante acompanhar esse processo!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

James Dean


Fotos raras do ator James Dean - Duas fotos bem raras do famoso ator, o eterno rebelde jovem do cinema  Com essa postagem eu dou o pontapé inicial nesse recomeço do blog "Cinema Clássico". Irei republicando, aos poucos, todas as postagens desse blog que já está online há alguns anos, mas que por problemas técnicos, teve algumas postagens apagadas. Tudo retormará, em breve, sem maiores problemas.



domingo, 2 de dezembro de 2007

James Dean - Giant


James Dean - Giant
Três fotos com James Dean tiradas durante as filmagens de "Assim Caminha a Humanidade". O filme acabou se tornando o último do jovem rebelde ator, que morreria poucas semanas após o fim das filmagens ao sofrer um acidente de carro com seu Porsche Spyder. Em cena Dean interpretava o capataz de uma grande fazenda chamado Jett Rink, que acabava encontrando petróleo em seu pequeno pedaço de terra, o tornando um homem milionário. O filme, sob direção do excelente George Stevens, foi rodado no interior do grande estado americano do Texas e Dean procurou absorver a cultura local, se vestindo de cowboy, interagindo com os moradores da região.


quarta-feira, 24 de outubro de 2007

James Dean / Marlon Brando


James Dean
Na foto James Dean banca o cowboy no deserto do Texas durante as filmagens de "Assim Caminha a Humanidade". Na verdade o eterno rebelde de Hollywood carregava diversos traumas de infância que o fazia se esconder embaixo de uma personalidade complicada de se relacionar. A mãe de Dean faleceu quando ele era ainda muito jovem, apenas uma criança. Depois seu pai o enviou para ser criado pelos tios em Indiana. O velho estava casando novamente com outra mulher e Dean não fazia mais parte dessa sua nova vida. Assim o ator acabou criando uma sensação de rejeição e problemas familiares que o seguiria pelo resto de sua curta vida. Depois de sua morte alguns textos escritos pelo próprio Dean foram encontrados. Em um deles o ator desabafava sobre a morte precoce de sua mãe ao dizer: "O que ela esperava que eu fizesse? Salvar o mundo inteiro sozinho?".


James Dean - O Rebelde Sem Causa
James Dean posa para uma foto do filme "Juventude Transviada" que no original se chamava "Rebel Without Cause". O roteiro explorava a geração jovem da década de 1950. Na época a expressão Rebelde Sem Causa se disseminou nos meios acadêmicos pois para os especialistas os jovens daquela época não tinha contra o que se rebelar. Os Estados Unidos passavam por um período muito próspero, com grande desenvolvimento econômico. E pela primeira vez na história os mais jovens não eram mais pressionados para largar os estudos para trabalhar no campo. Com tantos pontos positivos os psicólogos simplesmente não conseguiam entender porque tantos jovens se tornavam delinquentes juvenis, rompendo com o American Way of Life de forma tão contundente. A única coisa que ignoraram foi o extremo vazio existencial que atingia muitos adolescentes da época. Isso não poderia ser curado tão facilmente como muitos faziam crer.

Marlon Brando - Espíritos Indômitos
O primeiro filme da carreira de Marlon Brando foi Espíritos Indômitos (The Men, EUA, 1950), dirigido por Fred Zinnemann. Existem filmes que são verdadeiras experiências de vida para os atores. Foi isso que aconteceu com Brando no set de filmagens de sua primeira produção. O roteiro mostrava as dificuldades de um jovem soldado que voltava da guerra paralítico. Após ser atingido no campo de batalha ele perdia a capacidade de andar. Esse é um lado da guerra que geralmente era jogado para debaixo do tapete em filmes de guerra. Os soldados eram mostrados como homens bravos, quase super-heróis. Em seu primeiro filme Brando teve a oportunidade de mostrar o lado mais humano dessas pessoas.

O drama de se tornar deficiente ainda tão jovem, com um longo futuro pela frente. Em sua autobiografia Marlon Brando recordou que teve que conviver com veteranos reais, que ficaram aleijados por ferimentos nos campos violentos da Guerra da Coreia e da Segunda Guerra Mundial. Brando contou que aqueles homens não queriam a pena das pessoas e nem tampouco que fossem lamentados. Eles na verdade ansiavam por um tratamento igualitário, queriam ser vistos como pessoas normais e não como verdadeiros coitadinhos. Muitos deles eram jovens que tinham perdido não apenas a capacidade de andar, mas também de fazer sexo. Imagine isso na cabeça de um homem de 20, 21 anos de idade? Algo realmente terrível. A convivência com aqueles homens mudou a visão de Brando sobre o militarismo para sempre. Ele que havia estudado numa escola militar se sentia arrasado sempre que ouvia alguma história triste contado por aqueles sujeitos. A guerra não é um lugar bonito para se estar. E o lar muitas vezes também pode se tornar um verdadeiro inferno quando você volta do combate incapacitado de alguma forma. A lição de vida fica assim para todos.



Marlon Brando - The Men
Brando estuda o script de "Espíritos Indômitos" ainda na cadeira de rodas de seu personagem. Durante muito tempo Brando afirmara que não faria cinema. Ele era um ator respeitado e conceituado em Nova Iorque com suas peças teatrais e ir para Los Angeles filmar todos aqueles filmes sem muito conteúdo não o animava. Era uma forma de arte menor, não à altura de seu talento. Em sua autobiografia o ator confessa que via os atores de Hollywood como verdadeiras prostituas da arte de atuar, mas que ele não tinha forças suficientes para recusar os altos cachês que a indústria cinematográfica lhe oferecia. De forma irônica Brando escreveu: "Pois é, eu também era uma prostituta, fazer o quê?". Coisas de Brando.


Marlon Brando e o Pai
Na foto Marlon Brando e seu pai surgem sorridentes em um momento bem divertido. Na realidade esse foi um raro momento de descontração. Brando e seu pai tinham um relacionamento tumultuado, agravado pelo alcoolismo de sua mãe (que ele atribuía como culpa do comportamento nada fiel e muito cruel do seu velho) e por uma frieza que deixava Brando muito desconcertado. Na juventude Brando até tentou ser um bom aluno, indo para uma escola militar que também havia sido frequentada pelo pai, mas tudo ruiu quando ele foi expulso por mau comportamento. Isso deixou tudo ainda mais tenso entre ambos. Nem quando Brando se tornou famoso as coisas serenaram. Viviam brigando e jogando coisas horríveis um na cara do outro. No final da vida o velho se tornou ainda mais frio e distante com o filho o que fez Brando confessar em sua autobiografia: "Queria que ele tivesse vivido mais, pois queria dar um soco em sua cara que quebrasse todo os seus dentes" - uau, nem Johnny o motoqueiro de "O Selvagem" teria tanto ódio no coração assim!


Brando na Broadway
Foto clássica de Marlon Brando nos bastidores da Broadway onde trabalhava na famosa peça "Um Bonde Chamado Desejo". Para Brando era essencialmente a consagração de sua carreira de ator teatral, algo que ele almejava conquistar desde quando chegara a Nova Iorque, ainda na década de 1940. Inicialmente Brando não tinha intenção de fazer cinema porém a equação menos trabalho e mais dinheiro falou mais alto. Em Hollywood Brando logo descobriria que a arte não estava em primeiro lugar como nos teatros da grande maçã. O importante era lucrar e fazer sucesso e isso significava muitas vezes mudar os textos originais que eram adaptados para o cinema, algo que geralmente enfurecia o ator.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de outubro de 2007

James Dean - A Morte de James Dean

Na noite anterior de sua morte o ator James Dean resolveu experimentar seu novo carro esporte, um Porsche 550 Spyder que ele apelidou de "Little Bastard" (O Pequeno Bastardo). Dean estava encantado pela máquina e esperava conquistar muitas vitórias nas pistas com ele. O ator era na realidade um piloto de corridas frustrado e adorava se sentir um corredor vitorioso nessas competições abertas a qualquer um que tivesse um carro esporte de alta velocidade como um Porsche, por exemplo. O veículo era especial para as pistas, mas Dean resolveu experimentar usando ele numa auto estrada pouco movimentada da Califórnia, em Salinas. Dean calculou que seria melhor levar o Spyder ao seu limite durante a madrugada para evitar as patrulhas policiais das estradas. De fato Dean poderia ter morrido nessa noite pois conforme confidenciou ao seu mecânico ele chegou aos 160Km/h em plena highway - uma temeridade sem tamanho!

Depois de correr por toda a noite James Dean voltou para sua casa às 4h50m, quando o sol já ameaçava raiar. Sua tentativa de dormir foi em vão pois às oito da manhã o ator Richard Davalos chegou para uma visita. Como a casa de Dean estava uma bagunça (como sempre) Davalos resolveu fazer o café da manhã para o amigo. Dean logo notou sua presença e desceu as escadas, mas por ter dormido muito pouco parecia estar de péssimo humor. Nem sequer deu um mero "bom dia" para o colega. Ele simplesmente acendeu um cigarro e foi ao corredor pegar seus bongôs. Em pouco tempo  começou a tocar sem trocar uma única palavra com Davalos. Anos depois o amigo recordou: "Não me senti ofendido. Dean sempre agia assim. Ele nunca falava com ninguém quando acordava. Só começa a interagir com os outros após a primeira xícara de café". Ao lado de Davalos, James Dean deu uma rápida olhada no jornal da manhã, na parte de cultura onde havia sido publicada algumas críticas de novos filmes que estavam estreando. Entre uma rápida leitura e outra ele logo tomou alguns apressados goles de café e voltou rapidamente ao quarto, pegou seu casaco vermelho e foi em direção à porta. O dia estava apenas começando.

Seu despertar foi breve. Logo Dean estava de novo na estrada, dessa vez dirigindo sua velha caminhonete com seu Spyder a reboque. Dean levou seu carro veloz para uma última revisão na oficina perto de sua casa. Ele queria instalar novos cintos de segurança (os mesmos que ele esqueceu de usar, o que foi decisivo para que não sobrevivesse ao acidente que iria sofrer em poucas horas). Enquanto o mecânico alemão ia conferindo o carro, Dean ficava olhando tudo sobre seus ombros. O ator estava querendo pegar experiência caso houvesse algum problema em plena estrada deserta. Depois de algumas conversas triviais - Dean contou ao mecânico que a cor prateada era na verdade padrão em carros de corridas alemães - os dois perceberam que o "Little Bastard" estava finalmente pronto para arrasar.

Dean ficou tão entusiasmado que resolveu dirigir o carro até o local da corrida. Queria ir "sentindo as rodas" enquanto viajava. Foi uma péssima ideia. O plano inicial era levar o Porsche a reboque de sua camionete. Se tivesse feito isso certamente Dean não teria morrido naquele dia. Após pensar brevemente Dean então tomou a decisão. Ele iria dirigir o Porsche com seu mecânico ao lado. O problema é que o carro de Dean era muito baixo e com cor prateada praticamente desaparecia no asfalto das grandes estradas californianas. Some-se a isso a imprudência do próprio Dean - que pisou fundo a ponto de levar uma multa de um patrulheiro - e você terá então todos os ingredientes necessários para o trágico acidente que estava prestes a acontecer.

Em um dos cruzamentos da estrada, com Dean em alta velocidade, ele se deparou com um robusto Ford, um pequeno caminhão dirigido por um estudante universitário. Ele se preparava para entrar na direção do Porsche. Dean o viu, mas infelizmente o motorista do outro carro não viu Dean (o carro baixo demais, prata e bastante silencioso passou despercebido pelo jovem que não estava em sua preferencial). Segundo seu depoimento para a polícia "Tudo aconteceu em questão de segundos". O carro de Dean, rápido como uma bala, apenas tocou levemente a frente do pequeno caminhão e sendo leve demais, com pouca estabilidade, voou pela estrada, indo parar perto de uma cabine de telefone. O mecânico que estava ao lado de Dean foi então jogado para fora do Porsche (o que em última análise o salvou da morte certa), mas o ator ficou preso. O pescoço de James Dean foi quebrado quase que imediatamente e seu peito afundou devido a pressão da direção que veio ao seu encontro com a desaceleração quando o carro caiu finalmente caiu no chão após literalmente voar por causa do choque. Segundo os paramédicos que o atenderam, James Dean ainda estava vivo quando eles chegaram. Um fiapo de vida ainda deu esperanças a eles que o ator poderia quem sabe sobreviver. Tudo foi em vão. Assim que deu entrada no hospital James Dean sofreu uma parada cardíaca que causou sua morte cerebral em poucos segundos. Era o fim. Aos 24 anos de idade o maior ídolo rebelde da história do cinema estava morto.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

James Dean e Paul Newman

No começo de sua carreira, quando era apenas um jovem ator tentando descolar algum trabalho, Paul Newman conheceu James Dean, o ator rebelde que estava virando um mito em Hollywood. Ambos se encontraram por acaso no Actors Studio em Nova York. Dean nunca fora conhecido por ser um sujeito simpático fora das telas mas na ocasião pareceu ser educado com o novo colega. Em plena aula eles tinham que improvisar uma cena de amor ou ódio. James Dean brincou dizendo que deveriam fazer uma cena de duas pessoas que se amavam muito, o que era estranho para Paul Newman naquela ocasião. Dean então virou-se para ele e sugeriu que fizessem algo que colocasse a sala "em chamas"! Newman se assustou com aquele tipo de proposta e brincou rebatendo: "Hey amigo, vamos com calma! De onde eu venho nós gostamos de trabalhar melhor as coisas...".

Anos mais tarde Newman admitiu que aquele primeiro encontro com James Dean o havia deixado preocupado. Dean tinha deixado meio claramente que se relacionava tanto com homens como com mulheres, e que era um sujeito aberto a todos os tipos de relacionamentos. Na época Paul Newman era casado, tinha filhos e não tinha entendido ainda muito bem como a comunidade gay dava as cartas no mundo do teatro e do cinema americanos. Ele era um hétero convicto e ficou com um pé atrás sobre o que ouvia de seus colegas de Actors Studio. Numa conversa trivial entre as aulas, Jimmy Dean confidenciou para Newman que estava tendo um caso amoroso com um grã-fino chamado Rogers Brackett que o estava bancando em Nova Iorque. Aquilo certamente foi meio chocante para Newman. Ali Dean havia admitido não apenas que era gay, mas que também era sustentado por um homem rico. Duas revelações bombásticas para Newman.

Ao que tudo indica James Dean acabou desenvolvendo alguma queda por Paul Newman. Tempos depois durante um teste de câmera para um filme - um trecho que sobreviveu ao tempo - Newman e Dean surgem juntos na tela. Newman parece pouco à vontade, dando risinhos nervosos. Já Dean é todo presunção. Após trocarem olhares suspeitos, Dean não se contém mais e diz para Paul: "Vamos lá, me beije!". Newman cai na gargalhada logo em seguida. Dean sabia que Newman era um sujeito quadrado, que tinha filhos, obrigações de pai de família e tudo mais e por isso não levou adiante seus ataques! O máximo que conseguiu de Paul Newman foi levá-lo ao apartamento onde morava, onde passaram à tarde de bobeira. Dean deu a Paul um boné de presente, todo vermelho, que ele depois usaria em um jogo de beisebol.

Alguns escritores acreditam que Dean e Newman acabaram tendo um caso passageiro, nada importante ou marcante. A professora de dança de James Dean na época, Eartha Kitt, disse que que eles tiveram sim uma ligação debaixo dos lençóis. Aliás ela chegou inclusive a ir além em suas confidências, dizendo que havia transado com os dois no apartamento de James Dean. Ela afirmou que aquilo havia sido "uma das experiências mais celestiais da minha vida. Essas duas beldades me transportando para o céu. Eu nunca soube que o ato sexual podia ser tão bonito." Verdade ou apenas fantasia de alguém que procurava notoriedade com a imprensa?

Amigos ou amantes, o fato é que as coisas ficariam ruins entre eles pouco tempo depois. James Dean venceu a disputa por um papel importante e Paul Newman foi até ele pedir que Dean falasse com o diretor para que lhe arranjasse um personagem coadjuvante para trabalhar. Dean disse que não o ajudaria.

Newman ficaria ainda mais chateado depois quando perderia mais um papel, só que dessa vez para o atlético Tab Hunter, um ator que nunca fora conhecido por ser um grande talento. Anos depois ele confessaria sua frustração ao afirmar: ""Perder para James Dean era uma coisa, mas como eu poderia viver após perder um papel para Tab Hunter?" Nesse meio tempo James Dean se espatifou em um terrível acidente na estrada de Salinas. Paul Newman ficou bem triste, não apenas por sua morte, mas também por nunca ter tido a oportunidade de reatar sua amizade com Dean. Ele jamais confirmou que tinha tido um namoro com Dean, dizia apenas que tinham sido colegas de estudos em Nova Iorque. "Era um bom sujeito", finalizou ao resumir James Dean.

Pablo Aluísio.