Já que estamos vivendo mais um momento de grandes escândalos políticos envolvendo altos figurões do governo brasileiro que tal relembrar esse grande filme de temática levemente parecida? “Todos os Homens do Presidente” retrata os bastidores do chamado caso Watergate, um dos maiores escândalos políticos da história dos Estados Unidos que chegou a custar a presidência do governo Nixon. Encurralado e desmascarado por dois grandes jornalistas do Washington Post que foram a fundo em suas investigações, Nixon não encontrou outra saída e decidiu renunciar ao seu mandato em razão das enormes pressões envolvidas. E o que foi o Watergate? Simplesmente uma tática ilegal promovida pelo Partido Republicano para espionar as estratégias do Partido Democrata antes das eleições. Watergate era o prédio onde funcionava um dos escritórios centrais dos democratas e ele foi invadido na calada da noite pela liderança Republicana. O fato, considerado gravíssimo, colocou por terra o prestigio do Presidente Nixon que se vendo envolvido em um ato criminoso como esse acabou perdendo a presidência do país. Claro que se formos comparar com os nossos escândalos tupiniquins como Mensalão e outros absurdos, Watergate pode soar pueril, quase infantil pois aqui abaixo do Equador a coisa é bem mais barra pesada. De qualquer modo o filme, feito em tom semi-documental, mostra de forma até didática o trabalho desses dois jornalistas que desvendaram toda a história.
Outro aspecto interessante de toda essa história foi a participação de um misterioso personagem que serviu como fonte para os jornalistas. Usando do pseudônimo de “Garganta Profunda” ele passou valiosas informações que se revelaram verdadeiras conforme as investigações seguiam em frente. Os personagens principais do filme, os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein do Post, são interpretados pelos grandes atores Robert Redford e Dustin Hoffman, respectivamente. Ambos lidam com um material mais intelectual, sem arroubos de ação ou algo do tipo. Suas atuações são sutis, programadas para envolver o espectador e no final se revelam extremamente bem realizadas. Redford no auge da carreira esbanja elegância e fibra. Hoffman não fica atrás. O filme foi dirigido por Alan J. Pakula, um militante do cinema mais socialmente engajado do ponto de vista político. Ele já tinha obtido ótimas críticas pelo seu filme anterior, “A Trama”, e manteve a excelência artística aqui também. Um diretor bastante autoral que em mais de uma dezena de filmes procurou sempre desenvolver grandes teses em tramas complexas e bem desenvolvidas, sempre mostrando o lado mais sórdido da vida política de seu país. Sem dúvida esse “Todos os Homens do Presidente” foi seu maior trabalho, sua obra prima, e que lhe trouxe maior reconhecimento. O sucesso tanto de crítica como de público lhe valeu a indicação de oito Oscars, perdendo injustamente o prêmio de melhor filme para “Rocky um Lutador”. Pelo menos acabou vencendo ainda em categorias importantes como Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante (Jason Robards), Em conclusão aqui está uma das melhores produções de Hollywood sobre tema político. Um filme que traz para debate a importância da imprensa livre em um Estado democrático de Direito. Especialmente recomendado para estudantes de jornalismo e jornalistas em geral. Para esses realmente é um filme obrigatório pois discute ética na política e o papel da imprensa nesse processo de forma impecável.
Todos os Homens do Presidente (All the President's Men, Estados Unidos, 1976) Direção: Alan J. Pakula / Roteiro: William Goldman baseado no livro de Carl Bernstein e Bob Woodward / Elenco: Robert Redford, Dustin Hoffman, Jack Warden, Martin Balsam, Hal Holbrook, Jason Robards / Sinopse: "Todos os Homens do Presidente" mostra os bastidores do caso Watergate que levaria o Presidente americano Richard Nixo à renúncia.
Pablo Aluísio.