segunda-feira, 14 de março de 2022

Crônicas de Marlon Brando - Parte 21

Esse foi o personagem que mudou a vida e a carreira de Marlon Brando. O ator sabia que ganhar um papel numa peça chamada "Um Bonde Chamado Desejo" de Tennessee Williams em Nova Iorque seria a sorte grande em sua vida profissional. Assim Brando foi uma das centenas de atores que se inscreveram para fazer o teste para o papel. Stanley Kowalski era retratado na peça teatral como uma força da natureza, um bruto, sem sentimentos e com muitos músculos. Tennessee Williams sabia que precisava encontrar o ator certo, caso contrário grande parte do apelo dramático de seu texto se perderia. A escolha de Brando para viver esse homem das cavernas moderno teve um fator de pura sorte, por mais incrível que isso possa parecer.

Tennessee Williams já estava perdendo a paciência quando Brando subiu ao palco. A maioria dos que fizeram teste antes dele acabou não agradando ao escritor. Brando parecia ser mais promissor. Era um jovem musculoso, com jeito de interiorano e sem muita educação. Esses eram os pontos que o autor estava buscando. Marlon fez uma boa audição de sua cena mas não foi isso que o levou a ganhar o papel. Casualmente Williams comentou com seu assistente que estava com um horrível vazamento de água em sua casa. Ele morava com a mãe e estava preocupado pois não conseguia encontrar um bom encanador. Ora, Brando desde que saíra da escola militar passou a exercer vários empregos braçais, onde a técnica de se lidar com canos e entupimentos era uma função e um requisito obrigatório.

Assim Brando se ofereceu para ir na casa de Williams para consertar o vazamento. Tennessee Williams confessaria anos depois que quando viu Brando todo suado e sujo, consertando seus canos quebrados, teve a certeza de ter encontrado o ator ideal para dar vida a Stanley Kowalski. Brando estava em ótima forma física e o autor, que era gay, ficou imediatamente atraído por aquela visão, mas procurou se manter à distância, afinal se envolver com os atores de suas próprias peças teatrais não parecia ser uma boa ideia. Brando também não parecia ser gay e isso era algo que foi essencial em sua escolha, afinal de contas tantos atores afeminados tinham feito o teste que Williams dava graças por encontrar um hétero de verdade no meio daquele monte de atores nova-iorquinos homossexuais.

Brando ganhou não apenas o papel mas também a aclamação da crítica. Ele era de fato um sujeito amoral, brutal e rude em cena, tal como seu personagem exigia. Uma das coisas que Brando aprendeu atuando em uma peça de sucesso em Nova Iorque era que não havia moleza sobre isso, pelo contrário, era um trabalho puxado, que exigia muito de um ator. Nos fins de semana havia matinês e assim Brando tinha que se apresentar por duas vezes no mesmo dia. Não era fácil. Ele que sempre fora um indisciplinado viu que as coisas não seriam tão maravilhosas como pensava. Essa aliás foi uma das razões porque Brando escolheu o cinema ao invés de se consagrar definitivamente nos palcos da Broadway. Um filme não exigia tanto esforço e trabalho. Por essa época ele deu mais uma de suas declarações polêmicas a um jornal especializado no mundo do teatro em Nova Iorque. Sorrindo, ele resumiu a situação: "Apenas atores que se assemelham a prostitutas vão para Hollywood fazer filmes. Os grandes atores, os mestres da arte de representar, ficam em Nova Iorque fazendo peças. Bem, o que posso dizer? Eu sou uma prostituta!"

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Crônicas de Cinema
    Marlon Brando - Parte 21
    Pablo Aluísio.

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  2. Pablo:
    Eu acho tudo relacionado a esse filme de uma viadagem imensurável. Começa por essas camisetas do Marlon Brando, passando por essa cara de enjoado dele, que era um de seus cacoetes interpretativos, a estória do filme, e por aí vai. Naquela época mais inocente talvez essas coisas não ficassem tão evidentes, mas hoje em dia esse filme é tão gay quanto a música It's Raining Men. Eu não vou nem falar do maiot talento que o Tennessee Williams viu no Brando; aqui no Brasil tinha o nome de "teste do sofá".

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  3. As melhores biografias afirmam que Tennessee Williams ficou obviamente atraído sexualmente pelo Marlon Brando, mas que não levou seus flertes adiante com medo de ser agredido. Brando, um jovem do meio oeste, um caipirão mesmo, rude, bronco, poderia partir para a pancadaria se uma proposta indecorosa fosse feita. Pelo menos assim pensava o escritor.

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