terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Os Filmes de Brad Pitt

Falando por experiência pessoal, a primeira vez que encarei o ator Brad Pitt como novo astro de Hollywood foi em "Lendas da Paixão" de 1994, filme aliás que tive a chance de conferir no cinema em sua estreia no Brasil. Antes desse filme já tinha ouvido falar do Pitt, claro, mas nada se comparava com a repercussão que essa fita teve até então. Em Hollywood quando se começa a apostar em um novo ator toda uma engrenagem de marketing e propaganda é colocada em funcionamento. Com o Brad Pitt foi assim. A partir do momento em que os produtores decidiram que ele seria o novo star, o novo chamariz de bilheteria, ele começou a ser colocado em evidência.

E aí é aquela coisa. O ator começa a aparecer em muitas capas de revistas (com especial atenção para as revistas teen, para os jovens), muitas matérias em jornais e revistas de cinema e por aí vai. Publicidade, acima de tudo. Em relação a "Lendas da Paixão" devo dizer que o mais atrativo para ir ao cinema, pelo menos no meu caso, foi a presença de Anthony Hopkins no elenco. Havia me tornado fã, de carteirinha mesmo, desde que vi sua maravilhosa atuação em "Vestígios do Dia", um filme belíssimo. Assim quando foi anunciado que ele estaria nesse elenco, em mais um filme de época, realmente não poderia deixar passar em branco.

Quando finalmente vi "Lendas da Paixão" pude perceber que em nenhuma hipótese poderia ser comparado com "Vestígios do Dia". Esse era um drama sensível, com roteiro muito inglês, revisitando a história de um homem que não conseguia expressar seus sentimentos. Já "Lendas da Paixão" era mesmo um novelão estrelado pelo Brad Pitt. Hopkins aqui surgia mais como um coadjuvante de luxo. O filme obviamente não me aborreceu em nenhum momento, mas de certa maneira me deixou um pouco decepcionado, já que as expectativas estavam altas. Para as novas fãs do galã Brad Pitt porém isso tinha pouca importância. Elas queriam mesmo era ver o novo ídolo do cinema, com seus longos cabelos loiros ao vento, em cenas que pareciam mais um cartão postal.

"Nada é Para Sempre" de 1992 é um dos bons filmes da carreira de Pitt. Curiosamente também é um filme ainda pouco conhecido pelo público em geral. Não fez muito sucesso na época, mas conseguiu ter a boa vontade da crítica. O enredo era bem nostálgico, mostrando uma família no começo do século XX. A pesca em rios de Montana era uma metáfora sobre a vida, mostrando que assim como as águas, tudo fluía em seu caminho natural. Pitt ainda bem jovem não era o astro principal do filme, mas sim um coadjuvante de luxo, numa caracterização muito boa, de um rapaz do interior que tinha que encarar o desafio do passar dos anos.

A direção era de Robert Redford. O filme acabou sendo indicado ao Oscar. Philippe Rousselot acabou premiado pela maravilhosa direção de fotografia. Ele captou muito bem a beleza natural dos rios de Montana, algo que trouxe um visual muito belo ao filme como um todo. Também concorreu em outras categorias valiosas, entre elas a de roteiro adaptado, trabalho desenvolvido pelo roteirista Richard Friedenberg e por fim pela música incidental (Mark Isham). Belas imagens sempre pedem por boa trilha sonora, para criar o clima certo para envolver o espectador no cinema. No meu caso tive o privilégio de curtir tudo isso em uma sala de cinema. Esse é realmente aquele tipo de filme ideal para ver no cinema, uma vez que todas as suas qualidades se destacam na tela grande.

Depois de todo esse lirismo natural, Brad Pitt atuou em um filme completamente diferente do anterior. A fita se chamava "Kalifornia" e era bem violenta. Essa produção não encontrou espaço no circuito comercial das salas de cinema no Brasil, sendo lançado diretamente em vídeo (estamos falando ainda dos tempos das locadoras VHS). Provavelmente seu tema bem fora do comum, mostrando um casal de psicopatas espalhando terror e morte pelas estradas mais desertas dos Estados Unidos, acabou gerando desconfiança nas distribuidoras nacionais. Além disso Pitt ainda não era um astro, um campeão de bilheteria. Ele aparecia barbado, usando um boné típico dos caipiras americanos e surgia nada glamoroso ao lado de uma insana Juliette Lewis, em boa atuação. Esse foi um filme pouco badalado e conhecido, mas que tinha qualidade. Quem assistiu nos anos 90 não se arrependeu.

O filme mais badalado da carreira de Brad Pitt nos anos 90 foi sem dúvida "Entrevista com o Vampiro" (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles, 1994), a tão aguardada adaptação para o cinema do romance vampiresco escrito por Anne Rice. O estúdio investiu milhões de dólares na produção e conseguiu contratar dois astros para o elenco principal. Assim ao lado de Pitt na história tínhamos também um afetado Tom Cruise no papel do vampiro Lestat. Pitt interpretava outro ser da noite, Louis. Uma papel não menos importante dentro do roteiro.

Os dois astros de Hollywood não se deram bem no set de filmagens desde o primeiro dia. Pitt não gostou do jeito de Cruise, sempre muito preocupado em roubar todas as cenas apenas para si mesmo. Isso talvez explicasse porque ao longo de tantos anos Cruise jamais havia se dado muito bem com outro ator de seu porte em filmes anteriores. Sempre havia algum atrito, alguma notícia de problemas de relacionamento dentro das filmagens. Brad Pitt porém não facilitou a situação. Numa competição de estrelismos ele também pagou para ver, causando uma tensão no meio dos trabalhos.

O bom de tudo isso é que as interpretações, tanto de Pitt como de Cruise, foram elogiadas. Competindo entre si, quem acabou ganhando foi o público que acabou assistindo duas belas atuações. O filme fez bastante sucesso batendo a casa dos 300 milhões de dólares na bilheteria. Foi um passo importante pois mostrava aos executivos de Hollywood que Brad Pitt conseguia chamar atenção, até mesmo quando dividia as telas com outro grande popstar do cinema como Cruise. Como vários foram os livros escritos por Anne Rice sempre se cogitou novas adaptações. Pitt porém recusou todos os convites para voltar a esse universo de vampiros. Em sua opinião o seu trabalho como Louis foi tão bom e satisfatório que ele simplesmente não queria estragar tudo em uma continuação inferior.

Em 1995 o ator atuou no filme "Seven: Os Sete Crimes Capitais" (Se7en). Tive também a oportunidade de assistir no cinema na época de seu lançamento original e revi não faz muito tempo. Continua sendo um excelente filme policial de suspense, com ênfase no subgênero dos psicopatas seriais, dos serial killers. Na trama Pitt interpreta um policial que ao lado de seu parceiro, em boa atuação de Morgan Freeman, tenta desvendar uma série de assassinatos.

O assassino parece seguir uma linha, um método de execução, fazendo referência aos sete pecados capitais. A direção foi do talentoso David Fincher e para fechar a linha de frente de grandes profissionais do cinema o elenco ainda trazia Kevin Spacey em seu primeiro papel de impacto no cinema. Eu me recordo bem como na época só se falava em Spacey. Ele quase roubou o filme da dupla de protagonistas.

Nesse mesmo ano Pitt surpreendeu meio mundo ao surgir na estranha ficção "Os 12 Macacos" (Twelve Monkeys). Quem estava acostumado com o ator em papéis de galã bonitão levou um tremendo susto. O filme trazia Pitt despido de qualquer vaidade pessoal, atuando em um personagem quase completamente asqueroso, maluco, com os olhos trocados!  O filme em si era um delírio visual e estético assinado pelo cineasta Terry Gilliam, bem conhecido por seus excessos no cinema. Visionário e adepto de cores fortes, ele fez um filme que não passou despercebido.

Outro aspecto interessante é que Brad Pitt também deixou o orgulho de astro de lado, se tornando apenas um coadjuvante em um filme cujo ator principal era Bruce Willis, o herói dos filmes de ação. A crítica gostou do resultado, mas o público em geral torceu o nariz. Não era uma história fácil de digerir e nem tampouco um roteiro acessível a todos os públicos. A coragem de entrar de cabeça em um papel tão esquisito rendeu bons frutos para a carreira de Pitt. Ele foi indicado ao Oscar e acabou ganhando o Globo de Ouro naquele ano por causa de seu trabalho como o amalucado Jeffrey Goines; No fundo o esforço valeu a pena.

Em 1996 Pitt atuou em "Sleepers: A Vingança Adormecida", Dirigido pelo cineasta Barry Levinson, o filme contava com um grande elenco, cheio de astros, entre eles Robert De Niro, Kevin Bacon e Dustin Hoffman. No meio de tanta gente famosa ficou um pouco mesmo complicado se destacar. É um filme bem interessante, mostrando quatro amigos de infância que foram detidos ainda na juventude, por onde sofreram todos os tipos de abusos e agressões. Muitos anos depois se reúnem e decidem se vingar de quem os violentou no passado. O filme não fez tanto sucesso, apesar dos nomes envolvidos, mas é um dos melhores da filmografia do ator, principalmente pelo seu roteiro, muito bem escrito. Além disso foi por demais interessante para Pitt atuar com tantos nomes consagrados de Hollywood ao mesmo tempo. Como ele mesmo disse em entrevista foi um "verdadeiro aprendizado".

Em 1997 Brad dividiu a tela do cinema com Harrison Ford em "Inimigo Íntimo" (The Devil's Own). Ford havia sido um dos maiores campeões de bilheteria do cinema nas décadas de 1970 e 1980. Nos anos 90 porém ele já não era um nome tão forte e popular entre o público. Já Brad Pitt era o astro da década, sendo grande chamariz de bilheterias bem sucedidas. No final das contas, ao contrário do que a crítica dizia, era Pitt que estava dando uma força na carreira de Ford e não o contrário.

No enredo do filme um policial de Nova Iorque acaba descobrindo que o sujeito irlandês que é o seu hóspede e que parece ser uma boa pessoa, inofensiva, é na verdade um terrorista do IRA, atrás de armas americanas para venda. Um traficante de armas internacional. O filme tinha até boas cenas de ação, mas não era nada memorável em seu roteiro, um tanto previsível. A direção foi do veterano Alan J. Pakula, que a despeito de seu talento, não conseguiu realizar um grande filme.

Pablo Aluísio.

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