Durante grande parte da história do cinema americano no século XX, um ator encarnou como ninguém o herói máximo do gênero western, sendo muitas vezes considerado ele próprio, o seu nome, um sinônimo do faroeste, pois para a geração que cresceu assistindo a suas películas, "filmes de bandido e mocinho" eram praticamente a mesma coisa que "filmes de John Wayne". Símbolo do machismo e um dos maiores campeões de bilheteria de Hollywood, John Wayne não era considerado um grande ator pela crítica, que o achava apenas "um tipo", principalmente de faroestes. Era o que bastava para que sua figura corpulenta e seu olhar ambíguo – ora doce e ingênuo, ora irascível – criasse a mitologia do durão que muitas vezes fazia justiça com as próprias mãos. Mario Michel Morrison nasceu em Winterset (Iowa) em 25-05-1907. Começou como dublê de faroestes, em 1928, até ser lançado por Raoul Walsh em "A Grande Jornada" (1930). Demorou nove anos e cerca de cinqüenta filmes classe B antes de John Ford o escalasse para o filme "No Tempo das Diligências". John Wayne foi o favorito dos diretores John Ford e Howard Hawks, que dele arrancaram performances inesquecíveis em clássicos como nesse sucesso absoluto, O filme juntou pela primeira vez John Ford e John Wayne num grande filme - dois heróis e símbolos do próprio cinema americano daqueles tempos - e seria o pontapé inicial definitivo do mais americano dos gêneros - ou do único gênero genuinamente americano, já que ele somente se desenvolverá em território americano em sua premissa básica - o desbravamento do oeste daquele país.
As paisagens do Monument Valley apareciam esplendorosas para contar a mais clássica das histórias do gênero - a carruagem que atravessa o deserto e sofre um violento ataque de índios. As bases para o gênero foram lançadas. O público aprovou. Uma era se iniciava na terra de Tio Sam. O sucesso seguinte de John veio com “Depois do Vendaval” – arrastando Maurren O'Hara pelos cabelos diante dos habitantes de uma cidade irlandesa, Sendo seguido por “Rio Vermelho”, que lançou Montgomery Clift. A famosa crítica de cinema Pauline Kael chamou o filme de "ópera a cavalo". Na opinião de John Wayne, somente "Rastros de Ódio" o superava. Era um de seus preferidos. O astro americano gostava de personagens fortes. Em "Rastros de Ódio" ele compôs o mais perfeito retrato da amargura com seu personagem Ethan. Aqui, ele compõe igualmente um tipo forte, - o pai, vaqueiro, que leva o gado embora do sul após a guerra com uma série de incidentes. Seu maior entrave, no entanto, é o relacionamento com o filho - Montgomery Clift. Narrada através das páginas de um diário, é um exemplo do estilo "macho" de cinema de Hawks, tecnicamente impecável, com brilhante trilha sonora de Dmitri Tiomkim.
A virada definitiva na carreira de John Wayne se deu com "Rastros de Ódio", este não é apenas o melhor filme do mestre John Ford. Foi incluído em várias listas como um dos melhores de todos os tempos em todos os gêneros. Poucos filmes têm a densidade psicológica deste drama das pradarias que narra a busca obstinada de Ethan, um homem duro e insensível, que luta por vingança. Índios incendiaram a casa de seu irmão e de sua cunhada, mataram toda a família e raptaram suas duas sobrinhas. Uma delas é encontrada morta, e a outra, na visão de Ethan, está perdida para sempre e deve morrer... assim que ele a encontrar. Sua busca atravessa os anos como seu único objetivo de vida, atravessa as estações e nada pode perturbá-lo. Poucos personagens incorporaram a imagem da solidão e da obstinação que este interpretado por outra lenda do cinema, John Wayne. Pelo que representa e por tudo que tem atrás de si, "Rastros de Ódio" é um dos maiores filmes da história do cinema.
Na vida pessoal John Wayne também tinha suas "obsessões". Com acentuada preferência por mulheres latinas, John Wayne foi casado com duas mexicanas: Josephine Saenz (33/44) de quem teve os filhos Melinda, Michael (que se tornou produtor) e Patrick (ator) e Esperanza Baur (46/53). Em 1954 casou-se com a peruana Pilar Palette, que lhe deu os filhos Aissa, Marisa e Ethan (nome de seu personagem em “Rastros de Ódio”). Divorciaram-se em 1973.
O ator continuou sua carreira com uma grande lista de sucessos, entre eles “Onde Começa o Inferno” (1959), “O Homem Que Matou o Facínora” (1962) e “El Dorado” (1967). Mas foi sob a direção de Henry Hathaway que John Wayne conseguiu o Oscar de melhor ator por “Bravura Indômita”, aqui temos a estória de uma garota de 14 anos que decide se vingar do bandido que roubou e assassinou seu pai e só consegue ajuda de um xerife bêbado e caolho. Para atrapalha-los um jovem texano resolve ajudá-los porque quer matar o bandido primeiro e receber uma recompensa. A Academia jamais se lembrou de John Wayne antes como candidato para o Oscar - apesar de seus bons desempenhos em “Rastros de Ódio”, por exemplo - e acabou lhe dando o primeiro por este faroeste outonal, em que o ator aparece como uma ruína de si mesmo, velho e gordo, mas com muita garra e seu habitual carisma. O profissionalismo do diretor Hathaway, o ótimo elenco, a boa música do especialista Elmer Bernstein e a caprichosa fotografia de Lucien Ballard valorizam ainda mais o espetáculo. Baseado no romance de Charles Portis. O filme teve uma continuação em 1975: "Justiceiro Implacável" com o próprio Wayne e Katherine Hepburn. "Se eu soubesse, teria adotado o tapa olho há 35 anos" brincou John Wayne ao ganhar seu primeiro Oscar pelo filme. Antes, tentando provar que levava muito a sério sua profissão dirigiu “O Álamo” (1959) e “Os Boinas Verdes” (1968) constrangedora tentativa de defender a guerra do Vietnã – na política ele sempre foi conservador.
Nos anos 70, John Wayne tentou se adaptar aos novos tempos, tentando novos gêneros como seu personagem em "McQ, um Detetive Fora da Lei ", aqui Wayne faz o papel de um policial que após a morte de um companheiro, investiga um caso de tráfico de drogas cujas pistas acabam indicando uma conexão com a própria polícia. O diretor Struges deixa aqui os espaços amplos do faroeste - estilo que o consagrou. Transpõe para o ambiente urbano o herói ético, durão e honesto criado por John Wayne em inúmeros outros filmes, sem perder a noção de ritmo e ação, que esbanjou em seus melhores westerns. Apesar da tentativa de mudança, seu lar era mesmo o western e o ator acabou retornando ao personagem que o fez ganhar o Oscar, assim Wayne estrelou "Justiceiro Implacável" onde a filha de um pastor conta com a ajuda de um pistoleiro para tentar encontrar os homens que mataram seu pai. Continuação de “Bravura Indômita”, com roteiro que lembra o famoso "Uma Aventura na África". Produção que foi valorizada pela presença de John Wayne e Katherine Hepburn. Este foi o penúltimo filme do Duke.
O peso da idade finalmente chegou ao velho cowboy na década de 70. Mesmo doente nunca pensou em se aposentar: "A única que sei fazer é trabalhar. A aposentadoria vai me matar". Lutou bravamente contra o câncer que se abateu sobre ele e sempre afirmava quando perguntado sobre seu estado de saúde: "Liquidei-o. Comigo não há câncer que agüente. Para o inferno com o Big C!". No final de sua carreira, já velho e cansado, Wayne deu uma entrevista para a revista de cinema Variety e afirmou: "É possível que não se interessem mais pelos serviços deste cavalo velho e o larguem no pasto, mas trabalharei até isso acontecer" Também brincou com o fato de algumas revistas afirmarem que estava ficando sem cabelos: "Não tenho vergonha da minha careca, mas não vejo por que obrigar as pessoas a vê-la".
Em 1976, Wayne se despediu das telas e fez seu último filme, "O Último Pistoleiro", com Lauren Bacall, no papel de um velho cowboy morrendo de câncer mas ainda lutando. O roteiro, que tinha muito a ver com a própria vida do ator trazia a estória de um velho e lendário pistoleiro que sofria de câncer e procurava um local onde pudesse morrer em paz. Mas não conseguia escapar de sua reputação. Era baseado em um romance de Glendon Swarthout. John Wayne, perfeito em seu último papel, também já sofria da mesma doença, que o matou em 1979. Este foi o último filme da carreira de John Wayne. No total havia participado de 172 filmes ao longo da carreira!
Em 11 de junho de 1979, o homem que melhor se identificou com os heróis da colonização americana morreu vítima de câncer nos pulmões, mas entrou para sempre no Olimpo dos deuses da sétima arte.
Pablo Aluísio
Cine Western - Pablo Aluísio
ResponderExcluirPerfil: John Wayne
Pablo:
ResponderExcluirAssim com eu sempre achei que o único ator que consegue convencer que é possível um homem jogar outro homem há parede como se fosse um gato é o Arnold Schwarzenegger por conta da presença impressionante, o único ator que me da a segurança de que se eu estivesse no velho oeste sem lei e um homem ruim como o Libert Valence estivesse querendo me matar e o John Wayne falasse "fica tranquilo que eu não permitirei que ele lhe faça nada" eu me sentiria 100% seguro; o único além dele a me causa essa impressão é o Clint Eastwood, mas num nível mais baixo em relação ao John Wayne.
O John Wayne transpirava integridade e segurança. Quem não queria ter como xerife da sua cidade no velho oeste o John Wayne? Agora vem o porque eu o acho um grande ator e não um canastrão de um só tipo. O John Wayne não era de forma alguma um cowboy e na verdade detestava cavalos e odiava mais ainda roupas de cowboy, preferindo um bem cortado terno. Isso é ser bom ator; na minha opinião.
Seu ponto de vista é muito bom. O John Wayne na realidade tinha um certo complexo de inferioridade no que diz respeito aos seus dotes dramáticos, ao seu talento como ator. Muito disso se deve ao John Ford que nos filmes que fez ao lado dele costumava fazer pouco de seu dotes artísticos. Provavelmente Ford pensava como você, mas para que Wayne desse o melhor de si mesmo, escondia isso dele.
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