segunda-feira, 14 de março de 2011

O lado obscuro de Martinho Lutero

Martinho Lutero (1483 - 1546) foi um monge católico alemão que passou para a história por ter dado o pontapé inicial na chamada reforma protestante. Ele trouxe uma nova interpretação e visão sobre o cristianismo. Se intelectualmente ele certamente teve seu valor na vida pessoal não era um sujeito dos mais agradáveis. Lutero era indisciplinado e turrão, sempre puxando briga com seus superiores nos conventos por onde passou. Glutão, comia até ficar literalmente sufocado e tinha habituais acessos de fúria com todos ao seu redor. A menor palavra que ele achasse inadequada era suficiente para ele dar um chute na mesa, com os pratos voando para todos os lados. Seu temperamento raivoso passou para seus escritos. Lutero usava uma linguagem forte e muitas vezes ofensiva contra padres, bispos e freiras que ousassem lhe corrigir ou lhe passar sermões. Tanta raiva interna deu origem ao rompimento completo quando Lutero finalmente entendeu que poderia ele próprio firmar sua própria doutrina religiosa. Ignorando trechos em que se afirmava que a Igreja cristã deveria ser una, Lutero jogou tudo para o alto e foi em busca do desconhecido. Escreveu suas teses, colou nas portas da Igreja católica de sua cidade e iniciou uma ruptura religiosa que até hoje ecoa pelo mundo.

Autores da época ficaram admirados pelo fato daquele homem baixinho, gordo e truculento causar tanta confusão. Lutero tinha problemas de pele - alguns historiadores afirmam que ele sofria de sarna, muito comum na idade média - e isso aumentava ainda mais seu tremendo mau humor. Mais de uma vez puxou punhais para desafetos e não era raro em suas homéricas bebedeiras puxar briga com quem estivesse por perto. Era um valentão de bar. Lutero odiava a vida religiosa e os dogmas católicos a que era submetido. Detestava os votos de pobreza e castidade e ria dos padres que lhe aconselhavam a não encher a cara de vinho na frente dos paroquianos pois isso iria trazer um tremendo mal estar para os demais religiosos da região. Afinal os homens de Deus deveriam dar o exemplo. Para Lutero isso porém não tinha a menor importância. Engordando cada vez mais e mais, ele foi piorando suas doenças de pele e pouco chegado em banhos regulares viu grande parte de seu corpo ser tomado por infecções dolorosas e putrefatas. Alguns que estiveram em sua presença afirmaram que ele fedia muito. Uma de suas biografias afirma que Lutero tomava no máximo um banho rápido a cada sete ou oito meses.

Curiosamente alguns autores defendem a tese de que Lutero no fundo não tinha nenhuma vocação religiosa. Ele teria entrado para um mosteiro católico às pressas, para escapar da morte pois teria matado um homem numa briga de bar. Ao virar religioso ele ganhava um tipo de imunidade penal que vigorava na época, além do mais a vida nos conventos era completamente separada da vida lá fora, assim Lutero poderia escapar, ir para outros conventos distantes e nunca ser pego pela polícia. O que ele não queria mesmo era ser enforcado por assassinato. Pior para os que tentavam conviver com ele dentro das abadias pois além de briguento Lutero era também desbocado, muitas vezes mandando todos para aquele lugar, sem nenhum arrependimento ou remorso. Outro ponto negativo da biografia de Lutero era sua intolerância religiosa e o racismo. Ele odiava judeus e deixou claro sua opinião em diversos escritos. Chegou ao cúmulo do absurdo ao propor a matança da comunidade judaica que vivia em sua região. Lutero queria não apenas matar os judeus como também incendiar suas sinagogas, algo que causou muitos embaraços para seus seguidores, não apenas de sua época, como também de gerações futuras. Como defender ideias tão ofensivas e contrárias da verdadeira fé cristã? Impossível.  Mais de um historiador também afirma que Lutero tinha uma queda e tanto por prostitutas, que aliás eram presença frequente nos bares em que ele tomava suas enormes bebedeiras. Isso obviamente era um escândalo para um monge mas Lutero tinha uma personalidade impulsiva que nunca media direito seus atos, por mais absurdos e escandalosos que fossem. Talvez por adorar a presença de mulheres de vida fácil, Lutero tenha lutado tanto contra o celibato católico que, para ele, era um absurdo completo. Lutero achava que todo homem era pecador e deveria pecar até não querer mais, para depois receber o perdão divino de braços abertos.

Por fim, para quem tinha uma personalidade tão forte, a sua morte acabou em uma sombra de acobertamentos e mistérios, onde não se sabe direito qual foi a verdade dos fatos. Lutero foi encontrado morto pela manhã por seu assistente pessoal. Ele andava ranzinza com os rumos que a reforma protestante tomara. Reclamava que não havia mais organização nos dogmas protestantes pois cada um abria sua própria Igreja e escolhia o que iria ou não vigorar em seu ministério. Lutero achava isso um absurdo. A igreja evangélica em sua opinião deveria ser única, com dogma próprio e válido para todos os protestantes. Isso porém parecia cada vez mais distante. Frustrado, seu consumo de bebida aumentou. Ele procurava afogar sua ira em novas noites em claro de muitas bebedeiras. Para alguns historiadores ele teria morrido após uma noite dessas, de muitas farras e bebidas. Já para outros Lutero havia sido vítima de um acidente, embriagado teria se enrolado em cordas no seu quarto e morrido enforcado. Há ainda os que dizem que se matou com uma corda e seus seguidores teriam escondido a verdade, pois certamente não cairia bem para a nova religião que nascia ter um suicida como fundador. Esses são mistérios que infelizmente não terão solução pois passados tantos séculos já não se sabe mais com certeza o que teria acontecido. A única certeza parece ser a que Lutero definitivamente não era uma pessoa doce e inocente como querem fazer crer alguns de seus seguidores nos dias de hoje.

Pablo Aluísio.

Os Beneditinos

Durante a Idade Média prosperou uma nova religiosidade na Europa. Era baseada em uma busca espiritual interior, procurando encontrar Deus através de uma vida de austeridade, trabalho e ajuda ao próximo. Com certa inspiração nas religiões orientais surgiu por essa época o estilo de vida dos mosteiros. Essas eram construções isoladas - geralmente no alto de montanhas - em que viviam monges em profundo silêncio e disciplina. Todos trabalhavam pela auto suficiência do mosteiro e lá eles próprios plantavam sua alimentação em pequenas hortas dentro dos muros das abadias ou então em propriedades cedidas pela Igreja Católica ao redor dos próprios mosteiros. Em uma época com muitas guerras, pestes e fome, viver em um mosteiro não era uma má ideia. Lá os religiosos se encontravam seguros enquanto o mundo romano desabava sob pesadas invasões bárbaras.

Um dos nomes mais destacados desse período foi um monge católico chamado Bento que iria fundar uma nova ordem dentro da igreja que seria conhecida como a ordem dos Beneditinos. Não se sabe com precisão dados históricos sobre Bento mas documentos seculares encontrados na biblioteca do Vaticano informam que ele buscou pela autorização do Papa para a fundação de inúmeros mosteiros, habitações com no máximo dez ou doze monges que deveriam viver da terra, prestar auxílio e assistência de viajantes e ajuda médica e hospitalar às vilas vizinhas. Os monges deveriam viver sob uma estrita regra de organização interna. Atendiam às chamadas regras que impunham uma rígida organização em suas vidas. O trabalho era dividido entre os monges - alguns plantavam, outros se especializavam em tratamentos de doenças e outros exerciam funções intelectuais, como os importantes monges copistas de obras antigas (graças ao trabalho desses religiosos é que a grande parte dos livros clássicos da cultura grego-romana sobreviveram até os nossos dias).

Os monges católicos também davam grande importância ao estudo de línguas, sendo que muitos deles aprendiam grego para ler e ensinar as escrituras no idioma em que os primeiros evangelhos foram escritos. Também fundaram grandes centros e os mosteiros acabaram dando origem à muitas cidades modernas pois o homem medieval, em busca de educação ou assistência médica acabava fundando vilas nos arredores desses mesmos mosteiros. O moderno direito que ainda hoje disciplina nossas vidas foi preservado por mosteiros beneditinos que copiavam através dos séculos os grandes tratados de direito romano, que acabou dando origem ao direito continental europeu do qual somos herdeiros. 

O sucesso da ordem beneditina logo prosperou em vários países europeus. Fundada inicialmente em cidades próximas à Roma a ideia de fundar mosteiros com religiosos se expandiu. Os monarcas da época deram apoio e ajuda financeira para que mosteiros fossem fundados em praticamente todos os reinos europeus. Em pouco tempo vários mosteiros foram criados na França, Alemanha, Inglaterra e Holanda. Os beneditinos começaram também a fundar escolas que, com os séculos, se transformariam nas primeiras universidades da Europa. Grandes catedrais também foram erguidas pela disciplina beneditina, inclusive as conhecidas igrejas milenares de Canterbury (ou Cantuária) e Winchester. A ordem também construiu a famosa Abadia de Westminster, onde os monarcas ingleses eram coroados e enterrados (tradição que segue até os dias atuais).

Assim dentro da milenar história da Igreja Católica a ordem dos monges beneditinos foi de vital importância. Disseminaram cultura e ajudaram os povos desamparados da época medieval. Em um tempo onde a maioria das pessoas era analfabeta por causa da inexistência de redes públicas de ensino, os beneditinos escolarizaram e ensinaram os primeiros europeus letrados. Também disponibilizaram ajuda e assistência médica aos mais pobres e humildes. Um grande exemplo de vida cristã que ecoa até os dias de hoje.

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de março de 2011

A Queda dos Anjos

Antes de tudo cabe a explicação de que a visão que colocarei nesse texto é a da doutrina católica. Como se sabe os textos religiosos dão origem a vários tipos de interpretação. Não cabe aqui fazer um levantamento sobre todas as visões sobre o inferno existentes mas só a da Igreja Católica Romana, pois essa é a religião que sigo desde sempre. As origens dessa história porém são bem mais antigas e são provenientes de antigos textos do Judaísmo. Embora haja interpretações divergentes, é dessa forma que os estudiosos do catolicismo entendem a questão.

Pois bem, a pergunta "O Que é o Inferno?" tem muito a ver com a queda dos anjos. O inferno nada mais é do que a ausência de Deus na vida do homem. Veja, todos temos a imagem de um lugar em chamas, com labaredas e rios de lava quente, onde almas penadas queimam eternamente. Essa é inclusive a visão que Maria teria mostrado às crianças em sua aparição de Fátima. A Igreja Católica entende que esse inferno mais tradicional foi a forma que a mãe de Jesus encontrou para que as crianças entendessem o significado da palavra inferno. Se pensarmos bem a ausência de Deus é de fato algo tão terrível quanto aqueles mares de fogo e enxofre. O homem que não crê em Deus já está no seu próprio inferno interior.

Essa visão católica também demonstra que Deus em sua infinita bondade na verdade não manda ninguém ao inferno, o homem escolhe esse caminho por si mesmo. Aquele que ignora os ensinamentos de Deus, que não quer saber de aprender e ouvir a palavra do Senhor certamente já está se afastando, por livre e espontânea vontade, de Deus. O interessante é que essa visão bate perfeitamente com a parte narrada da Bíblia quando ela trata dos chamados anjos caídos. Quem são eles? Como reza o texto sagrado, Deus em determinado momento comunicou aos seus anjos que criaria o homem e que esse viria à Terra e que eles, os anjos, o deveriam ajudar. Para alguns seres angelicais isso era absurdo pois eles não tinham a menor intenção de estar abaixo de um reles ser humano, pois se consideravam acima da carne, daquele ser imperfeito criado por Deus. Um terço dos anjos do Senhor se rebelou contra isso. Liderados por Lúcifer eles assim negaram a Deus, caindo em seu próprio inferno. Daí a expressão anjos caídos.

Uma das coisas mais curiosas dessa história da Bíblia é que Lúcifer era até aquele momento de rebelião um dos maiores anjos de Deus. Seu próprio nome reflete isso, "Anjo de Luz", "A Luz da Manhã", glorioso, magnifico. Era o mais bonito, o mais poderoso e brilhante anjo no trono celestial. Acontece que ele começou a se achar tão superior, até mais do que Deus, que caiu nas vestes da arrogância e vaidade. Quando Deus ordenou que ele e os demais auxiliassem e servissem o homem, um ser humano, ele prontamente se recusou a isso. O arcanjo Miguel, que era considerado um anjo de uma hierarquia menor, muito humilde mas poderoso em seu amor a Deus, lutou contra Lúcifer e o venceu, o jogando eternamente nas trevas infernais. A vitória de Miguel sobre Lúcifer foi a vitória da humildade sobre a prepotência, do amor de Deus sobre a arrogância daqueles que acham serem maiores ou melhores do que Deus.

Pense bem. Não é maravilhosa essa narrativa da queda dos anjos? Ela nos dá grande sentido moral e religioso. Expõe um dos aspectos mais importantes da doutrina católica e nos ensina muito, com exemplos que para várias pessoas é pura mitologia mas que olhando de perto, com cuidado, demonstra bem os perigos de se negar a Deus e se achar algo que na realidade não se é! Muitas pessoas conquistam dinheiro, status e poder e começam a se achar auto suficientes, maravilhosas, poderosas e acima do bem e do mal. Como estão enganadas! O texto da queda dos anjos nos ensina a ser como o Arcanjo Miguel, evitando a todo custo se comportar como Lúcifer e sua legião de anjos caídos. A moral de tudo isso? Ora, ninguém é maior do que Deus!

Pablo Aluísio.

Papa Pio XII

Alguns Papas foram alvos de crimes contra a honra ao longo da história. O caso mais grave da história aconteceu com o Papa Pio XII. Sob ordens diretas de Stálin a máquina de calúnia e difamação soviética caiu sobre a reputação do santo padre de forma brutal. A principal acusação falsa sobre ele foi a de que teria colaborado com o regime nazista de Hitler, a tal ponto que chegou a ser chamado jocosamente de "O Papa de Hitler". Que grande mentira, que grande calúnia! O Papa Pio XII foi um homem que ao seu modo lutou contra o nazismo, salvando da morte milhares de judeus perseguidos. A tal ponto que seu nome foi incluído na galeria dos justos do povo de Israel, uma das maiores honrarias dadas a um personagem histórico.

Pio XII de forma interna mandou que todas as igrejas, mosteiros e abadias católicas espalhadas pelo mundo mantivessem sempre abertas as portas para acolher e salvar judeus perseguidos pelos nazistas. Seu empenho pessoal foi tão incisivo nesse ponto que o próprio Hitler mandou que um general alemão se preparasse para matar o Papa. O militar só não cumpriu a ordem porque era um católico e sabia que a guerra estava perdida, com Hitler completamente enlouquecido em seu bunker. Jamais ele iria cometer um crime tão horrível, pelo qual seria julgado pela história nos séculos que viriam. Prevaleceu o bom senso.

Depois da guerra foi a vez de Stálin em se irritar profundamente com o Papa. A doutrina da Igreja Católica era abertamente contra o comunismo. Assim o catolicismo se tornou uma barreira contra o avanço do socialismo na Europa ocidental. Stálin, um dos ditadores mais sanguinários de todos os tempos decidiu que iria matar não a pessoa do Papa Pio XII, mas sim sua reputação. Nos escritórios da KGB então foram montadas as farsas e mentiras que iriam ser espalhadas nos anos que viriam. Um crime imperdoável. Em vista disso o Papa Pio XII acabou sendo um dos líderes religiosos mais caluniados e difamados de todos os tempos. Agora é hora da história reabilitar sua dignidade pessoal.

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de março de 2011

Papa Gregório XV

Alessandro Ludovisi nasceu na cidade de Bolonha em 1554. Era filho de Camilla Bianchini e Pompeo Ludovisi, uma família de nobres da região. Estudioso e focado se tornou padre ainda bastante jovem e depois foi subindo os degraus da hierarquia da igreja católica. Em 1612 se tornou um dos príncipes do cristianismo, se tornando o Arcebispo de Bolonha.

Bem relacionado e considerado um homem culto e preparado, além de bastante sensato, se tornou um dos mais notórios papáveis de sua época. Quando o Papa Paulo V faleceu seu nome logo se tornou forte entre os participantes do conclave. Em fevereiro de 1621 foi eleito Papa e adotou o nome de Gregório XV.

Seu papado não foi tão longo, durando apenas dois anos, porém foi marcante porque ele criou a Congregação para a Evangelização dos Povos (Congregatio pro Gentium Evangelizatione), um dos órgãos mais importantes da história da Igreja Católica. Sua principal função era expandir e evangelizar as novas terras que tinham sido descobertas na América. Aqueles povos que lá habitavam eram pagãos, veneravam deuses indígenas e não conheciam a mensagem do evangelho cristão.

Foi através dessa ordem que muitos membros do clero católico foram enviados para as terras descobertas do além-mar e lá propagaram a fé cristã entre os povos dessas novas colônias. Assim aconteceu também no Brasil onde a ordem teve uma grande influência em nossa história, desde os tempos coloniais, passando pelo império e chegando até mesmo na fundação da república brasileira. Por isso Gregório XV pode ser considerado um dos papas mais influentes de todos os tempos pois sua decisão ajudou a espalhar a palavra de Jesus até mesmo em regiões que sequer eram conhecidas pelos europeus naquele instante, no século XVII.

Pablo Aluísio.

Papa Paulo V

O Papa anterior, Leão XI, ficou apenas 26 dias no trono de Pedro. Ele era um Médici e dizem ter sido vítima de dois grandes grupos em disputa, um grupo italiano e outro que defendia os interesses do Rei da França. Com sua morte o conclave reuniu-se novamente para eleger um novo Papa. Era romano de nascimento, um cardeal com muito prestígio dentro da Cúria. Com o falecimento de Leão XI ele logo se tornou um dos mais fortes candidatos a subir ao trono de Pedro. Sua formação era impecável. Jurista e diplomata, homem dedicado aos estudos, se revelava uma pessoa ideal para o cargo.

Paulo V era um defensor da doutrina da Igreja. Em razão dessa visão muito inflexível ele acabou cometendo alguns erros históricos. Um deles foi a perseguição a Galileu Galilei, algo que iria reverberar pelos séculos seguintes. Também foi contra as ideias do pensador e cientista Nicolau Copérnico. Embora tivesse morrido há mais de 60 anos, seus textos e livros começavam a se tornar bem populares entre os jovens da época.

No plano administrativo Paulo V procurou melhorar a cidade de Roma. Mandou fazer um plano de modernização urbana encomendado a arquitetos e engenheiros para melhorar as ruas e monumentos por toda a grande cidade eterna. Ele era um admirador da arquitetura da Roma Antiga e por isso mandou que os novos lugares públicos da cidade tivessem essa inspiração. Para a Basílica de São Pedro também mandou construir uma bela e suntuosa fachada que existe até os dias atuais, contando inclusive com uma inscrição com seu nome em destaque. Paulo V foi Papa por 15 anos, vindo a falecer em 1621. Entre erros e acertos foi considerado até um bom pontífice, dando uma ordem, uma estabilidade dentro da igreja, algo que era visto como necessário na época. Seu sucessor foi o Papa Gregório XV,

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Papa Alexandre VI

Quando o Brasil foi descoberto o Papa era Alexandre VI. Seu nome real era Rodrigo Bórgia e ele certamente foi um Papa diferente. Além de não ser italiano, o que era comum na época, Bórgia não provinha de uma tradicional e rica família da nobreza europeia. Sua origem plebeia porém  mudou completamente quando seu próprio tio foi eleito Papa em 1455. Calisto III abriu as portas do Vaticano para o sobrinho e ele certamente aproveitou todas as oportunidades provenientes desse parentesco.

Seu tio o transformou em cardeal e Rodrigo começou a jogar a intensa política que havia dentro dos muros do Vaticano. Durante vários papados ele exerceu postos de influência, notadamente nos cargos diplomáticos. Sempre foi uma figura central dentro da Cúria, mas não tinha prestígio e nem riqueza para se tornar um Papa. Quando tinha 60 anos de idade resolveu que iria se candidatar ao pontificado. Com a morte do Papa Inocêncio VIII ele surgiu como um possível sucessor.

Sua eleição foi marcada por acusações. Rodrigo Bórgio disputou contra Ascanio Sforza, filho de uma rica e tradicional família, considerado o favorito. Para surpresa de muitos ele foi vencido. Na visão de historiadores renomados o cardeal Rodrigo simplesmente comprou o voto dos cardeais para se tornar Papa. De uma forma ou outra em agosto de 1492 Rodrigo Bórgia se tornou o Papa Alexandre VI. Seu Papado foi um dos mais problemáticos da história, com inúmeras acusações de corrupção. Para se ter uma ideia de sua forma de administrar a Igreja, Rodrigo Bórgia, pouco tempo depois de se tornar Papa, elegeu seu próprio filho de apenas 16 anos, César Bórgia, como cardeal. Foi um escândalo sem precedentes, não apenas por causa do descarado nepotismo, mas também pelo fato do Papa ter filhos e filhas, além de inúmeras amantes!

César Bórgia era um sujeito inescrupuloso, conhecido por ser assassino e cruel. A Igreja Católica nunca antes tivera uma dinastia tão corrupta no poder. Mesmo assim Bórgia continuou seu reinado de corrupção e sombras. Na política ele foi peça central nas principais monarquias da Europa, sempre envolvido em conspirações para que subissem ao trono os monarcas de sua preferência. Também foi peça central na elaboração do Tratado de Tordesilhas, que iria definir as fronteiras nas nova terras conquistadas na América. Foi a partir desse Tratado histórico que as fronteiras do Brasil começaram a ser definidas (influenciando decisivamente o mapa atual de nosso país). Espanhol de nascimento o Papa decidiu que o novo mundo seria dividido entre Portugal e Espanha, as duas potências navais da época. As terras a oeste seriam da coroa espanhola e as terras a leste seriam de Portugal. Uma linha foi traçada e ela iria determinar os novos domínios das coroas dessas nações.

Em 1503, aos 72 anos de idade, o Papa morreu. Para muitos ele foi envenenado, com acusações de que seu próprio filho César teria sido o autor do crime. O legado histórico de Alexandre VI foi dos piores. Muitos crimes e casos de corrupção foram revelados após sua morte, colocando luz sob um dos Papados mais corruptos da história. Rodrigo Bórgia foi certamente um Papa que manchou a história da Igreja, se tornando símbolo de uma era que séculos depois seria conhecida como a "Era das grandes prostitutas", uma referência nada lisonjeira aos Papas que reinaram nesses tempos obscuros. Por ter sido um Papa tão condenável em atos e atitudes, Alexandre VI acabou sendo objeto de inúmeros livros, filmes e séries ao longo da história, onde basicamente surge como um Papa vilanesco, cruel e corrupto. Uma imagem não muito distante do que realmente foi em vida.

Pablo Aluísio.

Os Nefilins

Existem os livros que fazem parte da Bíblia e existe uma outra série de livros ditos apócrifos (não oficiais), que nunca foram reconhecidos pela Igreja Católica. Esses outros livros deram origem a uma série de especulações e teorias das conspirações. Penso até que esse é realmente o nicho ao qual pertencem. Um dos mais estudados é o chamado Livro de Enoque. E quem seria Enoque? Ele é citado brevemente no Livro do Gênesis. Ali ficamos sabemos que ele teria sido um dos primeiros homens, descendente de Adão, bisavô de Noé.

A Bíblia não vai muito longe em sua história. Apenas diz que foi um homem de Deus, tão próximo ao divino que teria sido levado diretamente ao céu, sem ter que passar pelo processo da morte antes. Nada mais é dito sobre Enoque. Assim podemos chegar na conclusão que esse Enoque foi um homem da antiguidade em alta conta pelos escritores dos primeiros livros bíblicos. O colocaram em alto patamar. Esse Livro que é creditado a ele (nunca provado oficialmente pela Igreja, é bom frisar) tem um enredo e tanto, digno dos mais populares livros de fantasia da atualidade, o que de certa forma deve ter contribuído para que os compiladores da Bíblia o tenham deixado de fora da coleção oficial.

Nele Enoque narra uma história e tanto. Segundo ele, 200 anjos caídos teriam chegado na Terra. Uma vez aqui teriam se enamorado das mulheres, que eles achavam bem formosas. Não demorou e os anjos negros teriam possuído as mulheres dos homens. E dessa relação que era considerada uma abominação por Deus teriam nascido os famosos  Nefilins. Eles eram filhos de anjos com mulheres mortais. Por isso passavam longe de se parecerem com homens normais. Eram gigantes de pura força bruta. Alguns relatos dizem que tinham 3 a 4 metros de altura. Fortes, brutalizados e nada bondosos. Embora recebidos inicialmente com heróis pelos antigos, eles logo mostraram sua verdadeira face perversa. Comiam toda a comida produzida pelos mortais e depois de devastarem cidades inteiras começariam a devorar os próprios homens, bebendo seu sangue em grandes taças. Era uma raça degenerada.

E o Livro de Enoque segue em frente. Afirma que Deus tomou consciência de tudo o que estava acontecendo. Mandou seus anjos celestiais descerem à Terra para aprisionar os 200 anjos nefastos. Esses teriam sido aprisionados e jogados no abismo. Em relação aos seus filhos, os Nefilins, Deus não teria visto outra alternativa a não ser enviar um grande dilúvio para destruir essas criaturas. O curioso é que essa lenda narrada no livro de Enoque combina perfeitamente com o que se lê na parte de Noé na Bíblia. Uma coisa combina com outra. Porém, apesar disso, o Livro de Enoque foi colocado de lado. Teria o clero da época considerado o livro fantasioso demais? Jamais saberemos. De qualquer maneira esses escritos antigos não deixam de ser um prato cheio para quem gosta de conhecer mais a mitologia dos anjos. Nesse aspecto o texto é por demais rico, além de muito original e bem escrito. No final a conclusão a que chegamos é que se Enoque realmente escreveu esse livro ele foi mesmo um ancestral com o talento de um J. R. R. Tolkien da antiguidade.

Pablo Aluísio.