domingo, 7 de março de 2010

Elvis Presley - Elvis e o nosso tempo

Tudo começou com ele. Difícil imaginar o que viria depois se ele não tivesse existido. Elvis foi o primeiro superastro do rock. O primeiro símbolo sexual. O primeiro rebelde. O primeiro inovador. O primeiro a incorporar duas vertentes da cultura americana: um branco, um caipira de Tupelo, que cantava como um negro. Elvis poderia ter sido uma moda passageira como tantas outras na musica de massas, industrial. Mas em sua garganta e em seu corpo tudo fazia sentido, tudo era natural. Nele, o rock'n'roll existia realmente, era uma verdade, um fato concreto. Todos os que cantaram, rockaram, sonharam depois dele, sonharam e rockaram com ele, mesmo sem sentir. A marca a ser suplantada era sempre a dele. Paul McCartney uma vez disse, acerca dos Beatles: "Tudo o que nós queríamos era ser maiores que Elvis", Elvis, a fronteira. Esta é a historia desse homem. A historia de seus sucessos, seus triunfos, sua riqueza, um pouco a própria historia do sonho rock de ser famoso, rico e sacudir o mundo antes dos 30. esta é a história de quem fez tudo isso e sobreviveu ao rock e aos 30 anos. De alguém que, na verdade, sobreviveu à própria morte, como tantos outros mitos desse novo panteão – Hendrix, Joplin, Brian Jones. Esta é a historia do rei do Rock.

POBRE MENINO Para Vernon e Gladys Presley, aquele dia seria diferente. Mesmo antes que ele pudesse caminhar, eles tinham começado a levar Elvis à Igreja da Primeira Assembléia de Deus. O local não passava de um simples barracão de madeira, situado na Adams Street, Tupelo, Mississipi, que rangia como se fosse desabar durante os movimentadíssimos cultos da congregação. Eles já haviam notado antes que Elvis acompanhava a cantoria do coro batendo palmas nos tempos certos, mas, neste ensolarado dia de 1938, quando ele tinha somente três anos de idade, Elvis surpreendeu a todos. Largando-se do joelho de sua mãe, atravessou a nave e literalmente escalou a plataforma do coro. "Eu deixei ele ficar na plataforma", sua mãe relembraria anos mais tarde. "Ele não atrapalhava ninguém, depois, ele se habituou a fazer isso. Ele tentava cantar junto com o coro. Ele era muito pequeno para conhecer a letra, mas ele cantava certinho no mesmo tom que os demais". Isto foi uma humilde descrição da primeira vez que Elvis demonstrou sua vocação para a música. E, na verdade, todo o background do fenômeno que foi Elvis Presley é a simplicidade e, em sua maior parte, a pobreza. Seus pais vieram de modestíssima origem. Vernon Presley havia crescido em uma fazenda em Tupelo — a tradicional cidade algodoeira onde os Presley haviam vivido por mais de um século. Gladys era uma de oito irmãos. Seu pai havia morrido quando ela tinha somente doze anos de idade e desde então ela havia trabalhado a terra com o resto dos irmãos, colhendo milho e plantando algodão. O casal celebrou núpcias em 1933, sendo que nesta época Vernon estava trabalhando em uma fazenda com seu pai e Gladys recentemente havia se empregado em uma tecelagem.

FILHO ÚNICO Nos primeiros tempos, o casal morou na casa dos pais de Gladys — os Smiths. Mais tarde um pouco, eles foram morar com os pais de Vernon. Assim que chegou o verão, Gladys se viu às voltas com uma gravidez e teve de deixar o bom emprego. Vernon já havia trocado de emprego, passando a entregar leite e verduras de porta em porta, e, agora que a família aumentaria, viu-se compelido a arranjar novo teto. Seu patrão lhe ofereceu uma cabana de dois quartos para alugar a um preço bem em conta. Apesar de rústica e mal-acabada, tinha uma estrutura sólida e oferecia boa proteção contra as nevascas e a lama que surgia durante o degêlo da primavera. Os doutores locais haviam avisado Gladys que ela seria contemplada com gêmeos. Assim sendo, ela e Vernon decidiram antecipadamente o nome dos garotos. Elvis Aaron e Jesse Garon. Gladys Presley deu à luz no começo da tarde de 8 de janeiro de 1935. Jesse nasceu morto. Ao anoitecer, ele foi colocado em um pequeno caixão e no dia seguinte enterrado em uma sepultura sem marca de nenhuma espécie no cemitério local. Os Presley não tiveram mais nenhum filho.

MISÉRIA E MUSICA O estado do Mlssissipi é dado a extremos se formos analisar seu clima. Verões infernais contrastando com gélidos invernos entremeados de furacões vindos do golfo do México. Na época em que Elvis nasceu, havia mais um problema. Quase toda a área havia sido profundamente atingida pela depressão econômica de 29. "Eu posso dizer que nós vivíamos do lado errado dos trilhos" — diria Elvis quando alguém ficava ansioso de conhecer mais alguma coisa sobre ele. "Mas, naqueles dias em Tupelo, não havia realmente um lado certo dos trilhos. Ninguém comia direito. Ninguém reclamava, mas estávamos próximos de fazê-lo, às vezes. Muitas vezes eu pensei comigo mesmo "Por favor, Deus, não nos deixe ficar nessas condições para sempre". Mas quando eu ia com minha mãe para a velha igreja cantar, eu esquecia tudo que acontecia em nosso dia a dia". Ao sentir que a verdadeira vocação de Elvis era o canto, seus pais formaram com ele um trio, que se apresentava sempre cantando hinos religiosos nas festas da Igreja e nas convenções revitalistas. Enquanto Vernon e Elvis cantavam, Gladys tocava harmónica, tirando dela sons idênticos aos de um órgão, sustentando harmonicamente o vocal.

FIBRA MORAL Nem Vernon nem Gladys conseguiram completar os estudos primários. Eles admitiriam mais tarde que sabiam escrever e ler razoavelmente. No entanto, a falta de cultura do casal era compensada com uma grande fibra moral. Eles queriam ver Elvis crescer bem. Apesar de trabalharem duro o dia inteiro, o casal não largava o filho um minuto sequer. Assim, Elvis não brincava com a garotada de Tupelo, não andava com as turminhas de rua e seus amigos eram muito selecionados. Elvis se lembraria mais tarde que devido a esse zelo incansável, ele não aprendera a nadar quando guri, pois sua mãe não o deixava ir ao riacho que atravessava Tupelo com medo que ele se afogasse.

CAIPIRAS E BLUES Desde pequeno, Elvis sempre foi muito receptivo à música. A música religiosa vinha em primeiro lugar e seu hino favorito por anos a fio foi "Eu não terei que cruzar o Jordão sozinho". Em segundo lugar vinha a música folclórica local. Naqueles dias sem brilho da depressão, um dos consolos do pessoal da cidade era cantar canções hillbillies (caipiras) e blues do Mississipi acompanhados de guitarras e dobros. Elvis impregnou sua alma do sentimento das canções religiosas misturando-as com o ritmo compulsivo e negro dos lamentos dos blues. Um dos primeiros sinais do potencial interpretativo do jovem Presley veio quando ele tinha nove anos de idade e estava no quinto grau de sua escola. Sua professora, Mrs. J.C. Grimes contou a Gladys. "Por duas manhãs, nós perguntamos às crianças se nenhuma delas gostaria de vir até a frente da classe recitar uma prece. Nenhuma delas se ofereceu. Mas, no terceiro dia, Elvis resolveu vir" — ela disse — "ele fez a prece e cantou várias canções. Uma delas era "Old shep". Pode ser que ela não fosse exatamente uma canção para reunião em classe, mas ela me fez chorar". Gladys Presley, em grande estado de excitação, deu as boas noticias ao marido enquanto Mrs. Grimes contou o acontecido ao Diretor J.D. Cole. Não muito depois, ele comunicou a Mrs. Presley a notícia avisando que se realizaria a Alabama-Mlssissipi Fair, que incluiria o habitual concurso de cantores amadores. Se ela deixasse, a escola gostaria de inscrever Elvis para que ele participasse da mostra. É claro que ela deixou.

ESTRÉIA PRECOCE "Eu nunca esquecerei aquele dia", ela relembraria anos mais tarde, "Quando eu o botei em cima do palco, surgiu um sério problema. Elvis não tinha acompanhante e nem sabia tocar guitarra, e os garotos que sabiam não queriam acompanhá-lo. Eles não gostariam de ajudar um rival (um dos garotos presentes chamava-se Johnny Winter). Ao mesmo tempo, ele não era alto o bastante para alcançar o microfone. Então, eu pedi uma cadeira para ele trepar e ficar da altura indispensável para que ele conseguisse e ele cantou "Old shep" sem acompanhamento. Nós ficamos surpresos como Elvis se sentiu à vontade em cantar daquela maneira diante de milhares de pessoas". Neste dia, a voz que faria milhões obteve sua primeira recompensa; um segundo lugar, 5 dólares mais entrada franca nas outras atrações da feira.

A PRIMEIRA GUITARRA Passado algum tempo, mais precisamente no começo de janeiro de 1945, Elvis e sua mãe estavam olhando a vitrina de uma loja em Tupelo, quando ela lhe perguntou: — Elvis... você está certo de que quer mesmo uma bicicleta? Olhe aquela guitarra linda ali no canto. Você não gostaria de tê-la antes da bicicleta?" Os olhos do garoto brilharam. "Que grande idéia a da senhora, mamãe. Eu preciso de uma guitarra se eu quiser ser um cantor". O décimo aniversário de Elvis estava próximo e seus pais achavam que ele gostaria de ganhar uma bicicleta. Mas, o grande problema para que eles o presenteassem era o preço: 55 dólares por uma bicicleta nova. O preço da guitarra era de apenas US$ 12.95 e ficou claríssimo que a brilhante idéia de Mrs. Presley viria dar um resultado muito mais importante do que poupar dinheiro. Aprender a tocar guitarra tornou-se o maior objetivo na vida de Elvis.

CANTANDO NA IGREJA Elvis nunca aprendeu por música. Nem tentou. Mas, ansiosamente, perseguia os Tios Vester Presley e Johnny Smith para que eles lhe ensinassem alguns acordes. Com os acordes aprendidos, Elvis passava o dia inteiro sentado em frente ao rádio, cantando e tocando junto com os intérpretes de country-music. Ao mesmo tempo Elvis ia à igreja duas vezes por semana, e lá desenvolvia um sentimento profundo de amor pelos spirituals. Cantando e tocando na igreja e em rápidas apresentaç5es na área de Tupelo, Elvis começou a desenvolver um estilo todo seu de se apresentar. Mas a família Presley continuava imersa na pobreza e não havia nenhuma perspectiva das coisas melhorarem. Elvis sempre se lembraria da noite que seu pai disse: — "Eu não quero ir embora de Tupelo. Eu vivi aqui desde menino e aqui estão minhas raízes, mas eu decidi que é tempo de começar uma nova vida".

PARA MEMPHIS "Durante muito tempo nós havíamos sonhado com a mudança" — ele relembraria anos mais tarde. — "Nós achávamos que se fôssemos para Memphis, haveria mais dinheiro e mais diversão para Elvis, mas nos primeiros dias, ficamos amargamente desapontados. Sua mãe e eu andávamos pelas ruas procurando trabalho. Nós fazíamos isto mesmo chovendo ou se estivesse nevando e, por muito tempo, não houve trabalho para ninguém, quanto mais para nós. Minha esposa e eu tentávamos esconder os problemas de Elvis, mas como ele era sensível até demais, eu estou certo de que sabia o que estava acontecendo". A mudança da família de Tupelo para Memphis ocorreu em 16 de setembro de 1948. Eles venderam a mobília modesta, amarraram todos os seus pertences em cima do surrado Plymouth 1939 e dirigiram-se para Memphis, 100 milhas ao norte.

TEMPOS DIFÍCEIS Para Elvis, havia começado um tempo de mudança e adaptação. A sonolenta e acolhedora atmosfera de Tupelo foi substituída pela vida cheia de tensão da cidade grande. Na L C Humes High School, onde o casal matriculara Elvis, havia mais de 1.600 alunos, muito mais pessoas do que toda a população do lado leste de Tupelo. E finalmente Vernon Presley conseguiu um empreguinho como fabricante de ferramentas. Apesar de receber muito pouco, felizmente seus gastos eram mínimos. A primeira residência dos Presley ficava no n0 572 da Poplar Avenue. Um casarão de 16 quartos que havia sido transformado em casa de cômodos. Neste aposento mínimo, os Presley cozinhavam, dormiam e viviam, utilizando o banheiro comum. Apesar da promiscuidade e do intenso calor, eles faziam o melhor que podiam. Rapidamente, a família começou a pensar em algo melhor. Vernon começou a melhorar seu salário trocando de empregos. Vindo a ser motorista de uma firma transportadora de plantas e mais tarde despachante de uma firma de pinturas. Gladys abandonou o emprego de garçonete em uma cafeteria indo trabalhar em uma fábrica de cortinas. Elvis começou a aparar cercas vivas, lavar carros e fazer outros biscates. As coisas começaram a melhorar gradativamente e, depois de um ano em Memphis, a família achou uma residência melhor em Lauderdale Court na Rua Winchester — local que pertencia à Prefeitura de Memphis, que alugava os apartamentos somente a famílias de baixa renda.

LADRÃO DE PIPOCAS Mais tarde, no ano seguinte, Elvis arranjou um emprego de lanterninha no Loew's State Theater. O trabalho começava às cinco da tarde e se estendia até as dez da noite, com um salário de 14 dólares por semana, mas sua mãe o fez largar este emprego porque ele prejudicava seus estudos. Assim que começaram as férias do verão de 1951, ele retornou ao emprego, mas logo depois foi despedido porque outro lanterninha dedurou Elvis e a vendedora de balas como Iadrões de pipocas e doces da bomboniére do local. Apesar dos pesares, Elvis continuava resoluto no intento de ajudar seus pais, principalmente depois que problemas de saúde forçaram sua mãe a abandonar o emprego. Assim, ele conseguiu um biscate numa pequena firma de produtos metálicos — a Marl Metal Products Co. Novamente ele teve que abandonar o emprego porque os problemas com o estudo recomeçaram e sua mãe não podia suportar isso. Apesar de seu frágil estado de saúde, Gladys recomeçou a trabalhar. Desta vez, no Hospital Geral de Memphis.

NASCE O REBELDE - É neste final de sua infância que o caráter de Elvis começa a moldar-se. Dentro dele, influências opostas entre chocavam-se. A maneira de ser, educada e cortês, ensinada pacientemente por seus pais, e o comportamento revoltado da nova geração de jovens do pós-guerra, inspirada em grande parte pelo ator James Dean. Apesar de tudo isso estar acontecendo, Elvis continuava a obedecer tudo aquilo que sua mãe achava estar fazendo para seu bem. Ele não jogava rugby com os colegas de escola porque ela achava que ele se machucaria seriamente. Ele não fumava nem bebia porque ela havia dito que aquilo faria mal a ele.

CETIM E BRILHANTINA Inevitavelmente, assim que Elvis ficou famoso, repórteres entrevistaram seus professores perguntando tudo a seu respeito. As respostas eram sempre as mesmas: Elvis era um garoto polido, respeitador e profundamente religioso. Como compensação para o caminho que seguiu, Elvis resolveu se revoltar ao menos em sua aparência. A juventude da época tinha como ultima moda usar roupas esporte simples e casacos militares surradissimos. Elvis decidiu que aquilo não era com ele. Contra a vontade dos pais, ele deixou o cabelo crescer, usando muita brilhantina e um penteado que se assemelhava a um traseiro de pato com um grande topete caindo sobre a testa. Grossas costeletas e roupas pretas completavam o seu Iook.

SONHO ACORDADO Apesar das gozações dos colegas de escola, a fascinação de Elvis por roupas estranhas era enorme. Assim que ele deixou a escola para trabalhar, seu divertimento predileto era ir, após o trabalho, ficar olhando as vitrinas do magazine de roupas Lansky, a melhor loja de Memphis. Várias vezes Bernard Lansky, o dono, convidou Elvis a entrar e experimentar algumas peças das que estavam expostas. Elvis sempre respondia, mostrando os bolsos vazios, — "Não, senhor Lansky, eu não quero comprar nada agora. Se algum dia eu for famoso e tiver dinheiro, eu voltarei e comprarei a sua loja". E ele cumpriu a promessa. Assim que começou a despontar como cantor de sucesso, Elvis comprou todo o estoque de roupas e distribuiu entre sua família e os amigos. Durante seu último ano de escola, Elvis começou a namorar uma menina dois anos mais nova do que ele. Ela se chamava Billie. Mais tarde ele se lembraria dela como mais alta e mais pesada do que ele. Mas ele acreditava que ela era a mais linda criatura depois de Deus. "Ela gostava de me ouvir cantar e tocar guitarra e dizia que eu era bom, realmente. Mas ela achou outro amor e me deixou. Isto me quebrou o coração". Elvis teve muito poucas garotas quando era estudante devido a sempre ou quase sempre não ter dinheiro no bolso. Ele ficava horas sentado em frente a porta de Lauderdale Court olhando os carros passarem, sonhando com o dia em que compraria dois Cadillacs: um para seus pais e outro para ele próprio. Durante este seu sonhar acordado, ficava claro para ele que a única maneira de fazer fortuna rapidamente era através de sua voz.

CHOFER DE CAMINHÃO No começo de 1953, Elvis se formou sem grande destaque na Humes High. Depois de uma rápida passagem por um emprego em uma fábrica de ferramentas, ele começou a trabalhar como chofer de caminhão para a Crown Electric Co. recebendo 35 dólares por semana. Ao mesmo tempo, ele passou a estudar a noite para se tornar um eletricista. Um dia, quando dirigia o caminhão da Crown pelas ruas de Memphis, um cartaz chamou sua atenção. Era um outdoor da Memphis Recording Service que anunciava que qualquer pessoa poderia gravar um disco para perpetuar qualquer evento de seu agrado. Isto alertou Elvis e ele decidiu gravar um disco para dar de presente a sua mãe, cujo aniversário estava próximo. Isto iniciaria uma série de momentosos eventos porque a Memphis Recording Service era subsidiária da Sun Record Co.

SUN RECORDS A Sun havia sido lançada em 1950 por Sam Philips e seu irmão Judd, que durante os primeiros tempos se concentraram em gravar blues negros e cantores de rhythm & blues e lançavam ou vendiam essas gravações para firmas maiores que se incumbiam de distribuir para todos os E.U.A. Mas, no começo de 1953, os irmãos Philips decidiram lançar seu próprio selo utilizando o material que antes cediam para as grandes fábricas. Numa manhã de junho do mesmo ano, Judd Philips notou um rapaz alto carregando uma guitarra em pé na porta, não sabendo o que fazer. Judd saiu para tomar um café da manhã tardio e quando voltou meia hora mais tarde o rapaz continuava no mesmo local, encostado em um poste. Elvis estava desorientado. Não sabia mesmo o que fazer. Judd se aproximou e convidou-o a entrar e disse-lhe para procurar Marion Keisler.

O PRIMEIRO DISCO Marion ficou impressionada. O rapaz cantou uma canção e no meio da música ela sentiu que ele tinha jeito. Afinal de contas, ela trabalhava em rádio e em estúdio desde criança e seu julgamento era baseado em sua experiência profissional. Nesta época — verão de 53 — ela era chefe de produção da Sun. Em troca de 4 dólares, Marion ajudou Elvis a gravar um disco com as músicas "Mv Hapiness "e "That's when your Heartaches begin " Marion resolveu fazer um tape com Elvis cantando "My Hapiness" porque ela achava que Sam Philips gostaria de ouvir o jovem cantor quando voltasse do almoço. Mas isso não foi preciso. Sam retornou ao estúdio no meio da gravação, ouviu a fita e disse a Elvis que ele prometia. Elvis, anos mais tarde, revelou que quando ouviu sua voz gravada pela primeira vez, achou-a terrível. Afinal, ele estava acostumado a ouvir e cantar em cima de discos de outros. Somado à ambição, havia outro fator que empurrava Elvis para a carreira de cantor: a necessidade. Durante o ano de 1953, Vernon Presley foi acometido de uma hérnia de disco e teve que ficar longo tempo sem trabalhar por recomendação dos médicos. Elvis ficou muito preocupado com a situação do velho Vernon e com o que aconteceria a saúde de sua mãe. Assim sendo, no fim de 1953, Elvis retornou ao estúdio da Sun para gravar mais duas faixas: "Casual Love" e "l'll never stand in your way". Novamente, Marion ficou impressionada com os dotes vocais de Elvis e, mais uma vez, Sam Phillips falou a Elvis que ele tinha um grande futuro pela frente. Novamente, nada de concreto ficou decidido.

ELVIS, SCOTTY & BILL Algumas semanas mais tarde, Sam recebeu uma fita de demonstração com uma música que ele batizou de "Without you". Nenhum cantor do elenco da gravadora aceitou gravá-la. Foi aí que Marion sugeriu o nome de Elvis. Sam gostou da sugestão e Elvis foi chamado às pressas do emprego para gravar a música. Após três horas de estúdio, Sam percebeu que a voz de Elvis não combinava com aquele tipo de música ao estilo de Rosemary Clooney. Mesmo assim, Sam resolveu investir em Elvis e colocou dois músicos country de grande tarimba trabalhando com ele: o guitarrista Scotty Moore e o baixista Bill Black. E assim, durante todo o mês de junho, trabalhando dia e noite, eles fizeram demonstrações para que Sam os julgasse e desse suas sugestões, tentando encaixar Elvis em um estilo que fosse rentável.

"NÃO SEJA OBSCENO" E o tempo provou que Sam estava fazendo as coisas certo. Durante uma das sessões de gravação, o trio gravou uma versão de "that's all right Mama", de Arthur Crudup, que impressionou bastante Sam e Dewey Phillips, disc-jockey que tinha' um show na rádio local WHBQ das 21 horas à meia noite. Nesta mesma noite, munido de um acetato, Dewey colocou no ar a interpretação de Elvis. Foi um sucesso. Rapidamente 47 telefonemas foram dados pedindo que o disco fosse tocado novamente, e, no dia seguinte mais 14 telegramas chegaram pedindo informações sobre onde poderiam comprar o disco. No dia seguinte aos telegramas, Dewey praticamente arrastou Elvis ao estúdio da rádio para uma entrevista. Elvis disse ao disc-jockey que não sabia ser entrevistado. Calmamente Dewey respondeu: "Responda as minhas perguntas e não diga nada de obsceno".

THE PÉLVIS A primeira grande apresentação ao vivo de Elvis aconteceu em 10 de agosto de 1954, pouco depois do lançamento de "That's All Right Mama". O show era produzido por Bob Neal, que viria a ser Empresário de Elvis por pouco tempo. Sam pediu a Bob um número pequeno e secundário. O estilo de Elvis impressionou os ouvintes e sua mise-en-scéne pélvica enlouqueceu as garotas. Apesar de Elvis ter um contrato assinado com a Sun, a gravadora não se encontrava em posição de lhe dar um grande adiantamento em espécie. E além do mais, essa pequena gravadora regional não possuía meios para lançar Elvis como uma grande estrela. E neste exato momento que surge um novo personagem em nossa história. O Coronel Tom Parker é uma figura misteriosa. Dizem que nasceu na Holanda, e que seu nome de batismo é Andreas Van Kuijik. O título de "Coronel" não é de origem militar: teria lhe sido outorgado pelos governadores do Tennessee e da Louisiania como recompensa por seus trabalhos de cabo eleitoral. Quando ele apareceu na vida de Elvis, em fins de 1954, tinha 45 anos. Orfão, começara a trabalhar como servente no ponycircus (Circo que apresentava espetáculos de equitação, muito comum no centro-sul dos Estados Unidos) de seu tio. A partir dai, o Coronel passaria boa parte de sua vida em feiras e circos. Conheceu a pobreza, e falava sobre ela com freqüência: "Eu apresentava um número de galinhas dançantes. O que as fazia dançar? Bom, você também dançaria se estivesse sobre um prato quente. Mas os tempos eram difíceis, e muitas vezes terminávamos a semana anunciando a galinha dançante". O encontro entre Elvis Presley e o coronel Tom Parker já faz parte da historia do rock'n'roll. O impacto de energia bruta de Elvis se une á astúcia, o faro e o tino comercial do Coronel para produzir um dos maiores ídolos de massa que a América e o mundo já conheceram. O menino de Tupelo, o rebelde de Memphis ultrapassa o pequeno circuito da música caipira americana e se torna o primeiro e único Rei absoluto do Rock'n'Roll.

CONTRATO MILIONÁRIO A primeira vez que o Coronel viu Elvis ele cantava num cinema em Texarcana: imediatamente ele percebeu que Elvis tinha algo especial. O Coronel conhecia o show business — tinha promovido o cowboy star Tom Mix e cantores country como Gene Autry, Eddy Arnold e Hank Snow, com quem ele, agora, dirigia uma agência de promoções. Nessa época — nos últimos meses de 1954 — Scotty Moore estava empresando Elvis mais como amigo do que como profissional. E, a partir de 1 de janeiro de 1955, Elvis tornou Bob Neal oficialmente seu empresário, para um contrato de pouca duração. No começo, o Coronel se contentou em ser o agente de Elvis, e foi ele quem conseguiu as datas no Grand Ole Opry, no Louisiania Hayride, e uma longa tournée com Hank Snow. O sucesso de Elvis no Hayride, um programa de rádio, levou o cantor à TV, numa nova versão do show. Bob Neal percebeu logo suas limitações: era incapaz de empresar um Elvis cada vez mais solicitado. Ele precisava de um empresário mais ativo e ambicioso. E Tom Parker era o homem ideal.

ELVIS E A RCA Durante a maior parte de 1955 o sucesso de Elvis se limitou aos shows regionais e às paradas locais de country music. Mas no outono aconteceu sua grande chance: foi a Convenção Anual dos Disc Jokeys de Country & Western, em Nashville, Tenessee, que reunia, normalmente, descobridores de talento de toda a América. Neste ano havia um interesse todo especial, porque o mercado estava em crise, estagnado, e novas caras eram super benvindas. Um dos participantes da Convenção era Steve Sholes da gravadora RCA, que conhecia os primeiros discos de Elvis e acompanhava sua carreira com interesse. Agora ele acreditava que Elvis estava plenamente desenvolvido, pronto para o mercado nacional, e escreveu um relatório entusiástico para a matriz. Outras companhias também se interessaram e, em novembro, Bob Neal e o Coronel foram a Nova York investigar as possibilidades. A 20 de novembro de 1955 terminou o contrato entre Elvis e Bob Neal e, imediatamente, ele assinou com Tom Parker. Dois dias depois Parker fechou negócio com a RCA: ela pagaria 40 mil dólares por Elvis, seus discos e seus direitos o que, na época, era uma quantia fabulosa. O contrato abria para a RCA o catálogo de 16 avulsos editados pela Sun, mais um volume considerável de faixas inéditas. A RCA pagou a Elvis, também, 5 mil dólares em royalties que lhe eram devidos desde os tempos da Sun; com eles, Elvis comprou seu primeiro Cadillac. O Coronel partiu imediatamente para a promoção maciça de Elvis, usando toda a energia e a experiência que acumulara em seus anos como promotor de feiras e circos. Seus esforços uniam-se na perfeição com os interesses e recursos da RCA e com o impacto fenomenal que Elvis tinha sobre sua platéia.

EFEITO EXPLOSIVO - Numa entrevista muito significativa, Elvis certa vez ligou seu estilo flamboyant à maneira febril como os pregadores de sua infância oravam e cantavam: "Eu costumava ver aquela gente toda cantando. Eram cantores incríveis, mas nunca obtinham a repercussão que mereciam... ficava tudo parado. Mas o pregador... esse sujeito realmente conseguia inflamar o pessoal. Ele punha todo mundo gritando, dançando, balançando, cantando. Ele agitava mesmo, corria de um lado para o outro, massacrava o piano... a congregação delirava. Esta era a diferença entre o pregador e os bons cantores. Eu percebi que cantar, apenas, não era o suficiente. Eu percebi que tinha que fazer um show, uma performance, pegar a platéia por inteiro. Eu devo meu estilo aos tempos em que freqüentava a igreja". Inevitavelmente, e para grande alegria do Coronel, a imprensa logo percebeu e destacou esse lado inquietante de Elvis: "Jaquetas drapejadas, calças justas, um topete cheio de brilhantina, as costeletas, os olhares sensuais, os requebros, tudo isso tem um efeito explosivo sobre as adolescentes", descreveu um jornal.

RASGANDO AS ROUPAS O primeiro conflito real com as fãs aconteceu em 1954; num show em Jacksonville, Florida, quando um bando de garotas frenéticas rasgou sua jaqueta branca, sua camisa rosa e suas calças pretas. O compositor Johnny Tillotson estava lá e assim descreveu a cena numa entrevista, em 1962: "Eu era um discjokey na minha cidade natal de Jacksonville quando Elvis veio à cidade junto com vários outros artistas country. Era bem no começo de sua carreira, ele ainda era o primeiro número do show mas, por causa do tumulto que sempre provocava na platéia, se apresentava por último". "Eu me lembro que ele se sentou ao meu lado no camarim, depois do espetáculo, com os olhos brilhando, o rosto empapado de suor. Ele dizia: "Puxa, é fantástico, incrível, maravilhoso estar no meio de todo esse rebuliço. Aí ele ficou pensativo e acrescentou: Só fico pensando onde isso vai parar". Vernon e Gladys Presley percebiam muito bem o que estava acontecendo, e Elvis procurava sempre acalma-los — "Mamãe e Papai ainda não se acostumaram com isso tudo", ele disse na época. "Mamãe me escuta o dia inteiro no rádio lá de casa, e eu sempre lhe digo para não enjoar. Ela e papai costumavam ver todos os meus shows, mesmo os distantes de Memphis, mas eu não quero que eles viajem além de 100 milhas de lá. E muito cansativo para Mamãe. Certa vez ela se assustou com as fãs, na Florida, que estavam fazendo muita gritaria e rasgando minhas roupas. Ela pensou que estivessem me machucando. Eu disse a ela: Mamãe, é melhor a senhora se acostumar com isso ou parar de vir aos meus shows, porque isso vai acontecer sempre daqui pra frente... assim espero".

TRANSE HISTÉRICO Em fins de 1955 a RCA lançou o primeiro disco de Elvis para sua etiqueta: o legendário "Heartbreak Hotel" com "I Was The One" do outro lado. Um pouco depois, ele apareceu pela primeira vez na TV, em cadeia nacional, no programa do comediante e maestro Jackie Gleason, dividindo as atenções com Tommy e Jimmy Dorsey. Com eles Elvis também fez um concerto em Nova York e, em poucos minutos, o lugar ficou intransitável com o tumulto das fãs, acalmadas apenas à força de jatos d'água fornecidos pelo corpo de bombeiros. As vendas de "Heartbreak Hotel" dispararam, indo além do milhão de cópias. Mas, junto com o sucesso e conseqüente adulação, vieram as primeiras criticas: "Presley não sabe cantar e disfarça sua falta de talento com uma agressividade grosseira, pior que qualquer dança aborígene de acasalamento", um critico escreveu. "A música popular vem caindo há algum tempo", outro comentou, "mas com Elvis chegou ao seu ponto mais baixo". Na Inglaterra, o sucesso custou a chegar para Elvis. Só depois de uma matéria entusiástica no jornal Dally Mirrar, em abril de 56, é que as vendas de "Heartbreak Hotel" começaram a sair do ponto morto. A EMI, que distribuía os discos de Elvis na Grã Bretanha, aproveitou espertamente a matéria com anúncios de página inteira que reproduziam as frases mais inflamadas: "Quando EIvis canta, ninguém suspira ou geme: milhares de garotas simplesmente caem em transe histérico".

DA CINTURA PARA CIMA Enquanto isso, nos Estados Unidos, a RCA e o Coronel levaram Elvis para Nova York. Lá, por orientação do Coronel, Elvis passou a freqüentar o Teatro Apollo, no Harlem, centro dos artistas negros de rythm 'n blues, para aprender o máximo sobre suas mise-en-scenes. Mais tarde, começaram a circular comentários acusando Elvis de ter copiado todos os gestos e truques dos artistas negros. Certa vez, o grande bluesman urbano Bo Diddley respondeu a tais observações dizendo: "Se Presley me copiou, não me importo. E melhor para ele. Eu não estou passando fome". Elvis tinha o poder de criar controvérsia. Com a popularidade alcançada por sua apresentação ao lado dos Dorseys, começaram a chover convites para novos programas de TV. Mas com um problema: a maioria dos apresentadores se recusava a por diante das câmeras a imagem rebolativa e a "dança selvagem" de Elvis. Milton Berle contornou a situação pedindo a Elvis que se controlasse, o que ele fez a contento. Ed Sullivan, grande astro da TV americana, primeiro anunciou que "não queria Elvis por dinheiro nenhum do mundo". Mas quando viu os fantásticos índices de audiência de Berle, permitiu o cantor em seu programa — só que focalizado da cintura para cima. No auge da fama e da fortuna, Elvis não se esqueceu dos pais: fez com que Vernon se aposentasse e comprou uma casa para os dois, em Memphis: "E um modo de retribuir a meus pais todos os sacrifícios que fizeram por mim. Em show business as coisas acontecem tão rápido que é muito comum as pessoas se esquecerem de coisas simples como agradecer a seus pais. Eu fiz questão de me lembrar".

TÍMIDO E EDUCADO Mas a maioria dos críticos e das autoridades não prestava muita atenção a esses nobres sentimentos. Para eles, Elvis continuava sendo um selvagem e um ignorante musical, uma ameaça às boas famílias. No sul, seus discos e fotos eram queimados em praça pública. Só um crítico, Walter Wintchell, ficou a seu lado. "Elvis é a melhor coisa a acontecer no cenário da música jovem", ele escreveu. Evidentemente o Coronel vibrava com a controvérsia. E alimentava o mito, organizando fãs clubes, incentivando as reuniões e rebuliços das fãs, mandando confeccionar camisetas, botões de lapela e outras bugigangas com I LOVE ELVIS escrito. Mas não se descuidava da administração: o cachê de Elvis subia diariamente e, afinal, o Coronel passou a exigir — e obter — uma gorda percentagem das bilheterias. Por uma curta participação no filme Bye Bye Birdie o Coronel pediu — e acabou conseguindo, depois de muita discussão — a soma de 100 mil dólares. O caminho que levava Elvis ao cinema era natural e inevitável. O astuto produtor HaI Wallis foi o primeiro a ver isso e, em abril de 1956, Elvís e o Coronel voaram para Hollywood para tratar de contratos e royalties. Recebido com a habitual histeria de fãs, Elvis passou facilmente nos testes cinematográficos. "Ninguém sabia o que esperar dele, mas assim que as câmeras começaram a rodar, vimos que ele era um ator nato, instintivo", Wallis recorda. O sucesso no teste levou a um contrato inicial para três filmes, com cachês de 100 mil, 150 mil e 200 mil dólares respectivamente. O primeiro foi Love Me Tender, filmado entre junho e novembro de 1956 e co-estrelado por Richard Egan e Debra Paget. Uma revista especializada descreveu o inicio dessa nova carreira para Elvis: "O mesmo tumulto que Elvis provoca em seus shows, ele consegue nos estúdios. Técnicos, atores, figurinistas, todos querem ver de perto o jovem cantor. Ele é timido, educado, trata a todos de 'senhor' e 'madame', e, mesmo após dias de trabalho, não consegue chamar ninguém pelo primeiro nome". Seu companheiro Richard Egan também teve boa impressão de Elvis: "Era tão simples e humilde que todos se esforçavam para ajudá-lo. Ele encantava todo mundo".

LOVE ME TENDER Como se toda essa simpatia e atividade não fossem o suficiente, Elvis ainda se envolveu numa briga, num posto de gasolina de Memphis, onde tinha ido descansar uns dias. Como uma pequena multidão tivesse se reunido para ver o cantor e seu Continental branco, o dono do posto, temendo por seu patrimônio, tentou tirar Elvis do estabelecimento à força. Elvis reagiu e todos foram parar na delegacia. Julgado semanas depois — com o tribunal cheio de microfones e câmeras de TV e rodeado de fãs ululantes — ele foi obviamente absolvido, para delírio e alegria da meninada. Porém mais importante para a carreira de Elvis era seu filme de estreia, Love Me Tender. A trama se desenrolava nos tempos da Guerra de Sucessão norte-americana e contava a história de dois irmãos — Elvis e Richard Egan — que roubam um trem. Embora Elvis cantasse, o filme não era um musical, mas um drama — e o cantor inclusive morria no final. Embora se diga que o próprio Elvis tenha ficado descontente com seu trabalho de ator ao ver o copião, os fãs adoraram. Em três dias a 2Oth Century Fox recuperou todo o investimento feito. Os críticos, tanto americanos como ingleses, massacraram o filme. E, curiosamente, na Inglaterra Love Me Tender fez pouco ou nenhum sucesso de público. Apesar disso, a trilha sonora vendeu um milhão de cópias antes sequer de ser lançada, e tornou-se seu sexto disco de ouro (os outros cinco foram "Heartbreak Hotel" / "I Was The One" / "I Want You" / "Need You / "Löve You" / "Don't Be Cruel" e "Hound Dog". Em 1957, outros discos de ouro vieram aumentar essa lista: "Too Much" / "Pia yin 'For Keeps" / "All Shook Up"/ "That's When the Heartaches Begin"/ "Loving You"e "Teddy Bear" tudo isso, só no primeiro semestre do ano.

CENTRO ELVIS PRESLEY O segundo filme, Loving You, mostrava Elvis como um caipira que chega à cidade e se torna cantor de sucesso com a ajuda de um maestro (Wendell Corey) e por uma esperta divulgadora (Lizabeth Scott). Mesmo com as habituais críticas e poucas oportunidades para cantar no filme — o que deve ter decepcionado os fãs — o filme foi um sucesso de bilheteria. Com a prosperidade recém-alcançada, Elvis comprou duas mansões. Uma em Bel Air, Hollywood, para quando estivesse filmando. Outra, que se tornaria lendária, no número 3.764 na Estrada 51 Sul de Memphis: a Mansão Graceland, com 18 quartos e o "modesto " custo de 100 mil dólares. Pouco depois, em 1957, fez uma volta triunfal a Tupelo, palco de sua infância pobre, e foi recebido por 20 mil fãs ululantes. "Quando eu era garoto", Elvis disse à abarrotada platéia da Feira Municipal, onde fora cantar, "não tinha dinheiro para vir aqui e acabava preso por tentar penetrar. Agora a policia tem que me proteger quando entro". Alguns meses depois, os organizadores da Feira convidaram Elvis novamente, oferecendo o cachê anterior, 10 mil dólares por duas apresentações. Primeiro Tom Parker recusou, depois disse que Elvis faria os shows de graça. Com a renda dessas duas noites, foi construído em Tupelo o Centro Elvis Presley Para a Juventude, atrás da cabana miserável onde Elvis vivera quando garoto. Evidentemente o Coronel sabia como tirar o máximo proveito da fama. Em todo show lá estava ele, coordenando as vendas — e às vezes vendendo pessoalmente — cerca de 78 artigos com o nome "Elvis", de fotos a camisetas e ursinhos de pelúcia. "O melhor modo de desvalorizar o seu produto é dando-o de graça", ele dizia sempre, quando o acusavam de comercialismo excessivo. O terceiro filme de Elvis foi JaiIhouse Rock. Nele, Elvis ainda é o matuto ingênuo, mas a história é mais verossímel e realista: o herói é preso por homicídio involuntário e aprende guitarra com um companheiro de cela. Com Jailhouse Rock o sucesso de Elvis atinge o ponto máximo, e o filme se torna o campeão de bilheteria de 1958.

LUXO E RIQUEZA Elvis passara a viver em sua mansão de Bel Air, cercado por seis amigos de Memphis, dois primos, três músicos, três assistentes e dois secretários. Seu nome era ligado ao de várias estrelas de Hollywood, como Natalie Wood, e ele se concedia todos os luxos de um milionário. Mas, para o serviço militar, Elvis Aaron Presley ainda era um cidadão comum, e a 30 de dezembro de 1958, ele recebe uma notificação convocando-o a se apresentar em Fort Chafee, Arkansas. Como seu quarto filme, King Creole, estava ainda em filmagens, foi pedido — e obtido — uma prorrogação para o alistamento. Isso provocou nova controvérsia: Milton Bowes, chefe da seção de recrutamento de Memphis, foi soterrado de cartas protestando ora contra o privilégio concedido ao cantor, ora contra a própria convocação. "Elvis é um sujeito simpático", Bowes se defendeu, "mas já convocamos gente mais importante e não houve toda essa celeuma". Apesar dos protestos, o filme foi concluído a tempo. A história de King Creole — baseada livremente na novela de Harold Robbins, A Stone For Danny Fisher — mostrava de novo Elvis como duro, metido em encrenca. Dessa vez a Paramount, que produzia o filme, procurou agradar a todos, incluindo muitas músicas na trilha e dando a Elvis oportunidade de mostrar que sabia ser ator quando necessário. A RCA soube acompanhar a publicidade do filme com um álbum de trilha sonora e outro de antologia, reunindo os maiores sucessos de Elvis. Na verdade, mesmo com a diminuição de renda que dois anos de serviço militar representavam, Elvis estava com o futuro assegurado, financeiramente, com royalties de discos, filmes, edição, de música e percentagens sobre Jailhouse House e King Creole. E o Coronel sabia como administrar tudo com astúcia.

SOLDADO DE ELITE - A data de apresentação de Elvis ao serviço militar chegou. A 24 de março de 1958, Elvis apareceu no Hospital Central de Memphis para um exame médico. Ele desembarca de seu Cadillac Branco vestindo camisa preta, calça preta, cinto preto, sapatos pretos e uma jaqueta escarlate debruada de preto. Com ele estava uma loura dançarina de Las Vegas conhecida como Dovyt Harmony, mas ele nâo queria ser fotografado com ela. Sua classificação nos testes de saúde mental foi AI. Apesar da controvérsia que causou a sua convocação, o exército insistia em que Elvis não receberia tratamento especial devido a sua condição de astro popular, e ele mesmo declarou que nâo queria nada dessas frescuras que a imprensa estava botando em suas manchetes como declaraçôes saídas de sua boca. "Eu estou orgulhoso de servir o exército" — ele diria — "E um dever e eu vou cumpri-lo. Papai uma vez me disse: seja um bom soldado e você será tudo na vida". No começo de 1958 a convocação e treinamento básico de Elvis eram tão relevantes para o alto comando do Exército que eles destacaram oito oficiais para trabalharem full-time neste insólito evento. Acabado o trabalho em King Creole, Elvis recebeu um adeus sui-generis de Hollywood: ganhou de presente um velho rifle da guerra civil, um bolo e um poster de um pracinha descascando batatas. Após a despedida, Elvis fez uma última visita a Memphis, alugando o rinque de patinação local por oito noites seguidas para que ele e doze maravilhosas garotas pudessem patinar à vontade sem que ninguém os incomodasse. Segunda-feira, 24 de Março. Fazia um frio desgraçado. Elvis chegou à junta militar nº 86 exatamente às 6:35 da manhã, 25 minutos antes da abertura do expediente. Com ele estavam Judy Spreckles, uma loura ex-exposa de um magnata do açúcar que explicou a imprensa: — "Eu sou como uma irmã para Elvis", e , logicamente. Tom Parker, com as mãos cheias de balões de propaganda de King Creole. Elvis recebeu o número US53310761. Após a entrevista com o pessoal da junta, tomou um ônibus junto com 14 outros recrutas e após uma ligeira refeição na parte oeste de Memphis, deu-se a tragédia: apesar dos esforços policiais, os fãs imprensaram Elvis dentro do ônibus, rasgando suas roupas civis e várias meninas tiveram crises histéricas, gerando um louco pandemônio.

TRISTEZAS DE UM PRACINHA Após 8 semanas de treinamento básico, ele estava apto para receber a usual licença de duas semanas. Uma garota em um conversível veio busca-lo em Fort Hood às 6:00 horas da manhã e eles se dirigiram a Graceland onde sua mãe começou por alimenta-lo bem para ver se ele conseguia recuperar as 12 libras que havia perdido nas duras horas do treinamento básico. Durante esta licença, novamente Elvis alugou o ringue de patinação, gravou rapidamente em Nashville e incorporou um brilhante conversivel vermelho à sua frota de carros"... Soldados podem receber permissão para dormir em casa se seus pais morarem nas cercanias do quartel. Os pais de Elvis então alugaram um trailer, postando-o em frente ao portão de Fort Hood, para logo depois alugarem uma cabana em um loteamento situado ao lado da base. Mas, ao mesmo tempo em que ele passava as noites "em casa", ele treinava e aprendia diligentemente os ofícios inerentes a seu dever. Em artilharia, Elvis era o terceiro colocado em sua unidade. Como atirador, recebeu as melhores notas da turma, sendo indicado como instrutor antes do término do tempo de instrução. A sua ida para a Alemanha tinha razão de ser. Afinal Elvis era um soldado de elite, e como tal, seria mandado para os locais onde tais indivíduos eram necessários. Logo depois de voltar a Camp Hood para terminar seu período de instrução, começou o drama que iria abalar sua vida. Sua mãe estava gravemente doente e ele e seu pai decidiram levá-la a Memphis para consultarem o Médico da família. O diagnóstico revelou hepatite aguda e Gladys foi internada no hospital metodista de Memphis. Três dias depois, Gladys Presley faleceu de um ataque do coração. Ela tinha apenas 42 anos de idade. Para Elvis, ela não havia sido somente sua mãe. Ela havia sido sua melhor garota. Ela havia inspirado a sua luta para a fama e a glória e lhe dera coragem para agüentar as pressões daquela vida infeliz que levaram durante a fase pobre de suas vidas. Ela havia cuidado de todo o jeito para que não caísse doente e havia mantido a calma enquanto todos o criticavam por sua maneira de ser. O Corpo de Gladys Presley foi transferido para a sala de música de Graceland. Elvis teimou em manter abertos os portões da mansão no dia do funeral. — "Mamãe amava meus fãs" — ele respondeu — "Eu quero que eles dêem seu adeus a ela". Mas, orientado pelo Coronel, Elvis tinha mesmo eram outros pensamentos.

ATITUDES NOBRES Marlon Brando, Cecil B. De Mille, o Governador do Tenesee e milhares de outras pessoas haviam mandado mensagens de simpatia e 400 convidados assistiram ao funeral. Depois do elogio fúnebre feito a Gladys pelo Reverendo James E. Hammill, os quatro irmãos Blackwood cantaram "Rock of ages" e "Precious Memories" que haviam sido as canções preferidas dela. Do lado de fora, 3.000 fãs estavam em vigília. Com uma escolta de 65 policiais, a procissão do funeral partiu de Graceland em direção ao cemitério de Forest Hills ao sul de Memphis. Após o enterro, Elvis voltou a sua Limousine chorando e entre soluços exclamou: "— Oh, Deus, tudo que eu tinha foi embora". Elvis ficou em Memphis mais uma semana. Depois, retornou para Fort Hood para se preparar para o embarque na Doca da Marinha em Brooklyn, o que ocorreu em 1º de Outubro de 1958. quando o transporte de tropas Gen. Randall partiu em direção a Alemanha. Elvis subiu ao navio, posou para fotografias enquanto uma banda militar tocava canções gravadas por ele. Um release distribuído à imprensa noticiava: "O Soldado Presley demonstrou desde o início um sentimento de liderança e atitudes nobres diante de suas obrigações". A pequena cidade de Friedberg estava deliciada com a novidade e o movimento trazido pelo novo residente. Os discos de Elvis tocavam dia e noite nas juke-boxes dos bares da cidade e as lojas vendiam souvenirs absurdos para os 18.000 habitantes. A imprensa havia falado que a ocupação de Elvis era simplesmente a de dirigir um Jeep, mais tarde circularam rumores que ele fazia parte da tripulação de um tanque Patton.

"GENERAL PRESLEY" O pai de Elvis resolveu ir para Friedberg e hospedou-se na suite de um hotel perto da base. Mais tarde, a avó de Elvis também veio para cozinhar para o neto querido as delícias sulistas de que ele tanto sentia falta. Depois de mudarem-se de um hotel para outro incessantemente, Elvis finalmente alugou uma casa de três andares em Bad-Nauheim, uma estação de águas perto de Friedberg. Quase 10.000 cartas por semana chegavam para ele. Algumas endereçadas ao "General Presley" — e para responder a esta avalanche de correspondência, Elvis contratou duas secretárias locais. Mas ele tinha que cumprir seus deveres para com o Exército e estava na Alemanha faziam poucas semanas quando seu batalhão foi convocado para manobras na fronteira, perto da Tchecoslováquia. Uma de suas ocupações era dirigir um Jeep, com um sargento como passageiro, checando as estradas da retaguarda porque, se o batalhão fosse subitamente obrigado a entrar em ação, informações completas a respeito das condições das estradas seriam vitais. Em Friedberg, a vida que Elvis levava não diferia das dos outros pracinhas. A alvorada era as cinco da matina. As sete horas devia se apresentar ao sargento de dia. Depois, chegava a hora da limpeza do alojamento e 15 minutos de ginástica para manter o preparo físico. Das nove ao meio dia eram ministradas aulas sobre códigos de rádio, comunicações e outras matérias do programa de treinamento. As tardes eram usadas para serviços de escritório e a saída era as cinco da tarde, quando ele corria para casa para saborear a refeição preparada pela avozinha querida. Aos sábados, havia o tradicional baile do quartel e Elvis normalmente, atendendo a pedidos dos colegas, sentava-se, pegava o violão e cantava clássicos como "Danny Boy" e outras músicas de seu repertório.

G. I. BLUES Em junho do ano seguinte, Elvis obteve 14 dias de licença e resolveu ir passá-las em Paris. Esta viagem teve uma significação toda especial em sua carreira após a sua desmobilização. No Lido Club, Elvis conheceu os irmãos Barnard, de quem ficou muito amigo. Um certo dia, George conheceu outra face de Elvis: o baladista romântico. Enquanto ele trocava de roupa em seu apartamento para irem juntos a uma boite, seu irmão Bert sentou-se ao piano e começou a tocar uma canção bem melosa chamada "Willow weep for me". Então, do quarto começou-se a ouvir uma voz melodiosa e bem modulada cantando a canção. Por incriveI que pareça, era Elvis cantando. Não o Elvis que todos conheciam dos discos, mas um Elvis suave com a voz controlada, um excelente cantor ao estilo de Frank Sinatra. Em 5 de março de 1960, Elvis é desmobilizado do Exército Americano. Outras pessoas estavam também conscientes do que isso significava. Entre elas estavam Hal Wallis e Tom Parker. Era chegada a hora de Elvis retornar ao lar. E isso merecia sem dúvida uma grande comemoração. Ao mesmo tempo, o Coronel estava transando um espetacular show de TV com Elvis e co-estrelado, quem diria, por... Frank Sinatra. HaI Wallis certamente não havia perdido tempo. Em 1959, ele começou as tomadas do próximo filme de Elvis — sem Elvis. O Filme se chamaria G.I. Blues (no Brasil, saudades de um pracinha) e seria uma história sobre os soldados americanos estacionados na Alemanha entremeada de canções. O Exército concordou em ajudar nas filmagens e a terceira divisão blindada foi usada como suporte nas cenas. Um doublê foi usado para substituir Elvis. Aos 25 anos de idade, Elvis achava que sua carreira estava terminada mas o Coronel percebeu que ele devia, agora mais do que nunca, dar a cartada certa.

PRISCILLA BEAULIEU Apesar dos pesares, o Exército prestou a Elvis um favor. Em 1973, Priscilla Beaulieu, filha do Capitão do Exército Joseph Beaulieu relembraria "Eu me lembro do dia em que meu pai anunciou à família que ele seria transferido para a base aérea de Wiesbaden. Eu me lembrei, brincando com meus pais, que Elvis estava estacionado ali por perto e talvez eu tivesse uma chance de conhecê-lo". Então minha mãe disse: "Eu nunca deixarei você atravessar a rua para falar com Elvis Presley". Certo dia, Priscilla estava em um café perto da base, comendo alguma coisa, quando um rapaz lhe perguntou se ela tinha vontade de conhecer Elvis. Ela pensou que era brincadeira e aceitou o convite. Segundo suas lembranças deste dia memorável, quando ela deu por si, estava em frente a Elvis, apertando sua mão. Dois dias antes de deixar a Alemanha definitivamente, Elvis declarou a imprensa que só havia uma razão para ele não ir embora. Esta razão chamava-se Priscilla. Felizmente para ela, ninguém a conhecia e nem sabia como achá-la. No dia em que Elvis retornou aos States, 3 de março de 1960, para sermos mais precisos, a base aérea de Maguire estava coberta de uma espessa neblina e o vento soprava selvagemente, o que fazia a temperatura andar pelos 20 graus abaixo de zero. No entanto, uma pequena multidão de fãs estava lá, enfrentando as intempéries para dar boas-vindas ao recém-promovido Sargento Presley.

VOLTA TRIUNFAL Quando perguntado a respeito de seu futuro, Elvis declarava que gostaria de representar um pouco mais em seus filmes, assim como Frank Sinatra. Logo Elvis estaria representando em Holiywood. Mas antes disso, ele fez um retorno triunfal a Memphis e a Graceland e entrou em estúdio para gravar o disco que seria o teste para ver se sua carreira havia sido prejudicada com a ida para a Alemanha. Apesar de contar com vários milhões de discos vendidos, Elvis e a RCA estavam com receio de um redundante fracasso. As sessões foram transferidas para a vizinha cidade de Nashville devido a problemas surgidos entre Elvis e o pai. Vernon havia se casado com uma mulher de 31 anos de idade, mãe de três filhos, chamada Davida Elliot. Isto aconteceu em 12 de Abril de 1960. Para Elvis e para o Coronel Tom Parker logo dissiparam-se os temores. O compacto que marcaria sua reentrada no show-bizz foi um grande sucesso. De um lado a faixa "Stuck on You" e do outro "Fame and Fortune". Antes do lançamento oficial já havia sido encomendadas 1.275.077 cópias — um recorde mundial. Após o lançamento, o disco passou da casa dos 2 milhões de cópias. O tão esperado especial de Televisão foi um estrondo. O cachê de Elvis para cantar apenas três canções foi de apenas 125.000 dólares e o Cel. Parker anunciava que Elvis só se apresentaria a partir disso por um cachê mínimo de 150.000 dólares. O filme "Saudades de um Pracinha" bateu recordes de bilheteria e como se não bastasse sua trilha sonora recebeu um disco de ouro. Elvis ainda era um sucesso e continuava a ser o "Rei".

O REI DESTRONADO? - Estava se tornando muito claro que Elvis queria mudar de estilo. A gravação de "It's Now or Never" — que se tomaria o maior sucesso de toda a sua carreira — confirmou isso. Baseado na balada italiana "O Sole Mio" — composta em 1901 e muito popular entre tenores operistícos — recebeu letra em inglês de Aaron Schroeder e W. Gold e vendeu um total de 9 milhões de cópias, sendo 5 milhões nos Estados Unidos, 1 milhão na Inglaterra e o restante no mundo todo. Elvis explicou sua escolha: "O Sole Mio sempre foi uma de minhas canções favoritas. Eu sempre cantei essa música e agora resolvi gravá-la. Não sei ler música, mas sei do que gosto. Essa música não era rock'n'roll mas tinha um certo balanço. No final deu tudo certo". Depois de G.I. Blues, Elvis teve o seu primeiro papel realmente, dramático no cinema com Flaming Star, a história de um mestiço "dividido entre dois amores, dois compromissos, e lutando para manter os dois". O papel tinha sido escrito originalmente para Marlon Brando e nele, para tristeza de fãs e críticos, Elvis quase não cantava: apenas a canção título e "A Cane And A High Starched Collar". Seus seguidores, principalmente, tiveram uma tremenda decepção e ficou bem claro que a maior parte de seu público não estava satisfeita com sua carreira pós-exército. Hal Wallis assim definiu a escolha de filmes para Elvis: "Não enchemos seus filmes com problemas sociais, é tudo pura diversão. Fazer um filme com Elvis é a única coisa segura que conheço em todo mundo dos espetáculos. Gostaria que muitos de meus colegas estivessem ganhando dinheiro tão facilmente como eu". Em 1960 uma estimativa dava como em torno de 2 milhões e 500 mil dólares a fortuna total de Elvis ganha só em filmes e royalties fonográficos naquele ano. A sua única aparição na TV foi um especial com Frank Sinatra porque, como explicou o Coronel, "se os fãs podem ficar vendo Elvis de graça na TV vão diminuir a procura por seus discos e filmes". A maior parte dos cantores famosos, estabelecidos, como Frank Sinatra e Bing Crosby, exigiam o fim do rock'n'roll e a volta das canções e baladas que tinham feito sua glória. E Elvis acabou ficando do seu lado, com resultados mais do que lucrativos para suas finanças. O disco seguinte a "It's Now or Never" só fez confirmar essa tendência: tratava-se de outro clássico, "Are You Linesone Tonight?" escrito em 1926 e gravado por Al Johnson e outros astros da canção americana. A versão de Elvis nada tinha de rock: era romântica, sentimental, e vendeu mais de 4 milhôes de cópias nos Estados Unidos.

VIDA SENTIMENTAL Nessa época, as colunas de fofocas especulavam sobre a vida sentimental de Elvis apontando a atriz Juliet Prowse como sua garota definitiva. Mas a verdade era outra: ao contrário do que esperava, Priscilla Beaulieu tinha saído muitas vezes com Elvis, após o seu primeiro encontro na Alemanha. O pai era um pouco contra, mas a mãe apoiava. "Elvis era muito realista, muito calmo" Priscilla recorda. "Ele me fazia sentir à vontade, não era agressivo, era muito gentil". Quando Elvis voltou para os Estados Unidos Priscilla pensou que o namoro tinha terminado. Por isso ficou muito surpresa ao ser convidada para vir passar o Natal de 1960 em Graceland. "Fiquei espantada com esse convite. E claro que meus pais foram contra, mas Elvis conversou com eles e eles concordaram. Ficou acertado que eu terminaria meus estudos lá mesmo, em Memphis". Priscílla se mudou para a ala leste de Graceland, sob os cuidados de Vernon e Dee. Não se falava ainda em casamento, mas Priscilla estava contente com o desenrolar dos fatos: "Elvis não teria me chamado para Graceland se não tivesse um bom motivo. Creio que ele já gostava muito de mim e não se incomodaria em providenciar uma nova escola para mim se não se sentisse de algum modo comprometido".

ENCABULADO Segundo Priscilla, o divertimento favorito de Elvis nessa época era passar filmes em casa, especialmente bangue bangues, filmes de guerra e comédias de Peter Sellers. "Mas ele nunca exibia seus próprios filmes por que se sentia encabulado. Ele nunca ficava contente com sua imagem, com seu penteado ou com o modo como representava. Não gostava de se ver na tela, era muito auto-critico". De yez em quando Priscilla ia a Holiywood para ver Elvis trabalhando, mas ficava sempre fora do alcance dos repórteres. Estes continuavam arranjando romances para Elvis em suas colunas, numa lista que incluía várias estrelas e estrelinhas de Hollywood e até uma lutadora de catch de Memphis chamada Penny Bunner. Houve rumores também sobre uma possível briga séria entre Elvis e Frank Sinatra por causa de Juliet Prowse, co-estrela de G.I. Blues.

ARTISTA ROMÂNTICO Mas apesar de tais boatos a imagem pós-exército de Elvis continuava sendo solidificada bem longe da aura de rebelde que marcara o começo de sua carreira. Agora Elvis era o artista romântico que qualquer mãe do mundo aprovaria como namorado de sua filha. Em Paris, ainda no exército, Elvis dissera que, caso seus fãs pedissem, ele gravaria baladas com todo prazer. Agora tanto ele como o Coronel tinham, decidido que os fãs queriam baladas, e Elvis as incluía em todos os seus discos e filmes. O resultado inicial foi um sucesso estrondoso —, mas ele viria de qualquer jeito, nem que Elvis saisse recitando o catálogo telefônico de Nova York! Em 1961 seus filmes foram "Wild ln The Country" — dramático, com Elvis no papel de um garoto sulista em luta com seu irmão malvado — e "Blue Hawaii", escapista. Os dois, inevitavelmente, foram sucesso de bilheteria. Seus discos acompanharam o mesmo ritmo: atingiram a marca de um milhão de cópias vendidas, com os sucessos "Surrender" (versão de outro clássico italiano, "Torna a Sorrento"), "I Feel So Bad", "Little Sister", "His Latest Flame" e duas canções de Blue Hawaii, "Cant Help Falling ln Love" e "Rock-a-Hula Baby"! Para completar, o álbum com a trilha sonora de Blue Hawaii se tornou mais um disco de ouro, ultrapassando rapidamente a marca de milhão de cópias em vendas. Lançado em outubro, de 1961, permaneceu 20 semanas no primeiro lugar das paradas americanas e atingiu vendas absurdamente altas

PRODUTOS ELVIS O ano seguinte, 1962, foi repleto de sucessos semelhantes, com os filmes "Follow That Dream", "Kid Galahad" e "Girls, Girls, Girls", mais os discos de ouro "She's Not You" e "Return To Sender", Elvis estava tão seguro de seu sucesso que não fez aparição alguma em shows ou programas de TV e desprezou ofertas milionárias para apresentações no exterior, principalmente na Inglaterra, onde tinha um séquito numeroso de adoradores. Nessa época, Elvis já era um dos homens mais ricos do mundo. Uma estimativa da época dizia que cada filme de Elvis custava de 1 a 2 milhões de dólares e rendia, no mínimo, 6 milhões. Outras fontes de renda eram as vendas de "produtos Elvis", como fotografias, camisetas, anéis, brinquedos, pulseiras e bolsas. Estes produtos eram supervisionados pela firma Television Personalities Inc., que teve uma renda de 2 milhões e 500 mil dólares em 1962 — a percentagem de Elvis na empresa era de meio por cento. Todas essas fontes davam a Elvis uma renda anual estimada em muitos milhões de dólares.

COMO UM SULTÃO Toda essa fortuna trouxe os problemas de praxe — como separar os verdadeiros amigos dos falsos. EIvis mantinha-se apegado a um círculo restrito de amizades, que a imprensa chamava de "Máfia de Memphis". A "Máfia" compunha-se de oito homens que Elvis conhecia desde a infância (inclusive seu primo Gene Smith) mais Joe Esposito, seu companheiro no exército. Eles acompanhavam Elvis em toda parte, tinham tarefas especificas e recebiam um bom salário, mas seu papel principal era preservar a privacidade do Rei. Em 1974 Elvis comentou acerca de seus amigos: "Eles gostavam muito de dar festas e chamavam algumas garotas, mas nunca permiti que se excedessem. Nunca tolerei palavrões na minha casa. Todo mundo se divertia muito, de um modo sadio e limpo" Na mesma época, um companheiro de Elvis também tratou, do mesmo assunto: "Nós apanhávamos e selecionávamos as garotas muito bem. Sempre dividíamos as garotas entre nós, e se uma reclamava não voltava mais. Elas tinham que ter muito bons modos, disso Elvis fazia questão fechada. Eu me lembro dele reclinado num sofá, com meia dúzia de meninas em volta, como um sultão num harém. Quando dava meia noite ele subia e ia dormir. Não me lembro de nenhuma vez em que ele tenha ido dormir com alguma dessas garotas". É claro que, hoje, é muito difícil crer nessa imagem límpida, perfeita. Mas nessa época — inicio dos anos 60 — um astro como Elvis tinha que controlar muito bem sua imagem privada. Se o público descobrisse por exemplo, que Priscilla Beaulieu vivia com ele em Graceland, sua aura impecável estaria definitivamente comprometida. Hoje, com quem um artista vive interessa tanto quanto a pasta de dente que usa.

BOM MOÇO E a imagem de bom moço de Elvis funcionava. Em 1963 até seus antigos detratores elogiavam seus bons modos, polidez, educação e esforço em se tornar um bom ator. Evidentemente, a música acompanhava. O rock'n'roll sensual e violento dos anos 50 estava definitivamente esquecido e enterrado. Agora, Elvis só gravava canções muito bem comportadas e tradicionais como as do filme It Happenned At The World's Fair, tema de seu filme de 1963. Embora muita gente já estivesse decepcionada com esse novo EIvis, isso ainda não afetava a parte financeira. Em 1963, Elvis ganhou três discos de ouro e a RCA anunciou que suas vendas anuais atingiam o número de 11 milhões de LPs e 49 milhões de avulsos vendidos. Seus filmes — agora estava filmando Fun In Acapulco — tinham rendido a soma total de 75 milhões de dólares, e o Coronel declarou que, só em 63, a renda de Elvis com o cinema tinha ido ao milhão e meio de dólares. Nessa época o Coronel deu uma longa entrevista a um jornal de finanças, esclarecendo muito coisa sobre o lado econômico da carreira de Elvis. Segundo ele, sua percentagem em tudo era de 25%, indo 75% para Elvis —menos em filmes, onde a Agência William Morris ficava com 10%. Ele acrescentou que pelo menos metade de sua quota era reinvestida na carreira de Presley, sob a forma de anúncios, custos da agência, salários, etc. "A parte de Elvis", ele disse, "vai direto para uma junta de administradores de Memphis". Inquirido sobre a possibilidade de "queima" de Elvis por super-exposição em filmes, o Coronel disse: "Se eu tenho um produto, eu trato de vendê-lo. Se existe uma demanda por alguma coisa, você tem de atender essa demanda se quiser fazer dinheiro, porque senão alguém vai preencher por você".

SINAIS DE DECADÊNCIA A obsessão do Coronel por dinheiro era clara. Clara também era sua despreocupação com o aspecto artístico do seu produto. No tocante a filmes, por exemplo, uma vez que o lado financeiro estivesse acertado, o estúdio decidia tudo: atores, história, direção. "Não temos controle algum sobre os filmes", o Coronel disse. "Só sobre o dinheiro. Mas o que Elvis precisa num filme? Algumas canções, um pouquinho de enredo, alguns atores simpáticos, e só". Superficialmente, o sucesso de Elvis ainda era o mesmo. Mas, visto com mais atenção, já estava esfriando. Em 63. por exemplo, ele aparece com três discos de ouro — "One Broken Heart For Sale, "Devil in Disguise" e "Bossa Nova Baby" — mas a marca do milhão só foi atingida com as vendas mundiais. Nas paradas americanas e inglesas eles não eram os super-sucessos do passado. "One Broken Heart for Sale", por exemplo, não passou do 11º lugar nos Estados Unidos. "Devil" conseguiu chegar ao 3º posto, mas "Bossa Nova Baby" também ficou na 11º colocação. Em 1964 suas vendas de discos pareciam as mesmas do ano anterior: "Viva Las Vegas", "Kissin' Cousins" (dois temas de filmes) e "Ain't That Lovin You Baby" venderam um milhão de cópias mundialmente, isso faria a felicidade de qualquer artista, mas, para quem fora um superastro como Elvis, era um sinal de decadência.

COM OS BEATLES Mesmo seus filmes — e em 64 Elvis fez três, Viva Las Vegas, Kissin' Cousins e Roustabout — decaíam em qualidade e em afluência de público. Desde que todo mundo ganhasse seu quinhão, ninguém parecia se preocupar com um mínimo de nível artístico. O declínio de Elvis costuma ser atribuído ao baixo nível de seus filmes e às canções melosas de seus discos. A tomada da América pelos Beatles, em 1964, também deve ter contribuído em muito para acelerar esse processo. O pique e impacto de sua escalada para o sucesso foi um fato inédito no show businnes, suplantando os do próprio Elvis. E eles contavam com compositores de talento, como John Lennon e Paul McCartney, enquanto Elvís era apenas uma voz a serviço das (más) baladas alheias. (Elvis chegou a declarar certa vez que nunca compusera uma canção em toda a sua vida). Tudo isso certamente contribuiu, mas o declínio de Elvis era inevitável dentro do próprio ritmo de vida do show business. Como ele se resguardou do contato direto com o público fugindo dos shows desde que voltou do exército, Elvis custou a perceber que, um dia, a loucura termina naturalmente. Na noite de 27 de agosto de 1965, a mansão de Elvis em Bel Air viu um encontro histórico: Elvis Presley e os Beatles. Contatos telefônicos já tinham sido feitos antes, mas esse foi o primeiro encontro ao vivo. Os Beatles ficaram com Elvis até duas da manhã, ouvindo discos, conversando sobre a vida na estrada e tocando. Quando Elvis confessou que seus filmes levavam pouquíssimo tempo para serem feitos — um deles, ele disse, tinha sido rodado em apenas 15 dias — John Lennon retrucou: "Ainda temos uma hora livre. Vamos fazer um épico!"

SOMA FABULOSA Artisticamente, contudo, Elvis tinha reservas quanto a seus rivais e sucessores. "Dizem que o fato de não fazer mais shows ajudou o sucesso dos Beatles", Elvis disse, "mas não acredito. Desejo a maior sorte do mundo aos Beatles. Não creio que deva dizer o que sinto sobre eles. Afinal, eles são meus colegas de profissão. Acho que eles lutaram para chegar onde chegaram e receberam um enorme voto de confiança. Sinto muito, mas tenho de ser diplomático. Eles são artistas como eu e acho que se empenham tanto quanto qualquer um de nós. E isso é o que importa no fim das contas". Nesse ano Elvis teve dois discos de ouro por vendas mundiais de um milhão de cópias: "Crying In The Chapel" (que tinha gravado em 1960 mas nunca tinha sido lançado) e o tema de filme "I'm Yours" (seu 50º disco de ouro). No cinema, ele fez os filmes "Girl Happy" e "Tickle Me" e assinou um novo contrato com o produtor Hal Wallis. Uma declaração oficial da Paramount dizia: "O dinheiro envolvido na transação está na casa dos 10 milhões de dólares, se não é um recorde mundial, ainda é uma soma fabulosa". No começo de 1966 o Coronel anunciou que Elvis faria três filmes até 1969. "Elvis não faz um show há muito tempo", ele se justificou, "nós queremos ser justos com todos os fãs. Se ele aparecesse no Texas, não seria justo com os fãs do resto do mundo. A mesma coisa se ele só se apresentasse em Londres. Mas seus filmes podem ser vistos pelos fãs de todo o mundo".

O CORONEL SE EXPLICA E seus discos? De agora em diante seriam apenas trilhas de filmes? "Não é verdade.", disse o Coronel. "Não havia nenhum filme ligado a "Crying ln The Chapel" e foi esse o maior sucesso de Elvis no ano passado. Decidimos lançar apenas dois álbuns e quatro avulsos por ano. Com três filmes por ano haverá sempre material para esses discos. Super-exposição é muito ruim para qualquer artista. Dê muito doce a um garoto e ele logo enjoa". O Coronel afirmou também, curiosamente, que 1965 tinha sido o melhor ano para Elvis em termos de vendas de discos — graças, principalmente, à seu catálogo anterior. Comentando o declínio nas paradas de sucesso, o Coronel disse: "Quando Elvis chegou aos primeiros lugares, o mercado era muito mais restrito. Agora, só na Inglaterra, existem 40 ou 50 grupos que competem com Elvis. Existe só uma porção de dinheiro para ser gasta em discos, e ela é distribuída por todas as ofertas". Nesse mesmo ano, mais tarde, o Coronel defendeu Elvis dos ataques contra seus filmes: "Dizem que os filmes de Elvis não estão indo bem. Mas eu afirmo que, de 22 filmes que fizemos, 19 foram sucesso de bilheteria. Se seus filmes não fossem sucesso, por que as pessoas iam continuar querendo fazê-los.

A VOLTA AO ESPLENDOR A derrubada dos filmes e discos de Elvis continuava e um dos mais fortes ataques veio de Tom Jones. Ignorando a ética existente entre os artistas de um não criticar o outro, o "rei do lamê" pichou o sucesso de Elvis com "If Every Day Like Christmas" dizendo: "Eu não estou feliz com nenhum dos novos discos de Elvis e essa música veio acentuar ainda mais a sua decadência como cantor". Essas criticas, contudo, passaram despercebidas. A 30 de abril de 1967, o Coronel convocou amigos e outros empresários para encontrá-lo no aeroporto de Los Angeles. Junto com eles estava Sam Brosette, divulgador da MGM, a quem o Coronel perguntou se ele podia convocar "dois fotógrafos que pudessem ser acreditados". De Los Angeles, o comitê vôou para Las Vegas, recolheu-se a um Hotel e seus membros foram instruídos pelo Coronel para estarem na recepção às sete horas da manhã do dia seguinte. Às três horas da madrugada, Elvis, Priscilla e quatro amigos chegaram a Las Vegas e a sua primeira providência foi entrar no fórum e comprar uma licença de casamento por 15 dólares. Depois, dirigiram-se ao Alladin Hotel se hospedando em suítes separadas com os respectivos pais. Brosette e o resto do comitê se encontraram às sete horas e rumaram para o Hotel Alladin. O coronel havia falado a eles que algo importante estava para acontecer, mas não disse do que se tratava. O mistério se desvaneceu quando pouco tempo antes da cerimônia do casamento, na qual Elvis e Priscilla se comprometeram a "amar, honrar, amparar e confortar um ao outro". A palavra obediência foi jogada para o alto. Anos mais tarde, Priscilla relembraria como a idéia do casamento surgiu e porque tomou tal decisão. Ela havia arranjado "Um bom trabalho em Hollywood como modelo" e disse a Elvis que se ele quisesse algo com ela, teria que segui-la. No dia seguinte, ele simplesmente lhe mostrou um anel e perguntou se ela queria casar com ele. Durante a cerimônia, Elvis puxou do bolso um anel de três quilates e enfiou rapidamente em seu dedo. Após a festa, os noivos tomaram o primeiro aviso para Palm Spríngs e passaram os quatro dias que se seguiram na cama (segundo Priscilla).

LISA MARIE PRESLEY Em fevereiro, uma filha Lisa Marie nasceu de parto natural no Hospital Central de Memphis. Numa noite de sábado de abril em 1968, Elvis veio a Las Vegas para ver o show de Tom Jones no Flamingo. Priscilla e amigos viajaram 400 milhas desde Los Angeles para o acontecimento. Eles sentaram-se em uma mesa diretamente em frente ao palco e Elvis pode ser visto aplaudindo freneticamente o "rei do lamê". Durante o espetáculo, Tom anunciou: "Está aqui entre nós um homem a quem eu admirei durante muito tempo. Mr. Elvis Presley". Elvis e Priscilla foram aos camarins para cumprimentar Tom e ficaram para um longo papo. Priscilla disse o quanto havia gostado do álbum Tom Jones, Live at the Talk of the Town, enquanto Elvis falava que "Delilah" era sua melhor música. Depois desse encontro em Las Vegas, Elvis e Tom tornaram-se grandes amigos. Nesta mesma época, Elvis tinha voltado às paradas de sucesso com "Guitar Man". Na primavera, precisamente após o término de seu último filme "Live a little, Love a little", foi anunciada sua volta aos especiais de TV, o que seria sua primeira aparição desde o "Welcome Home Elvis" após o serviço militar oito anos antes. ELVIS NBC TV Special, o especial de TV, foi exibido em Dezembro de 68. Durante seus 50 minutos de duração, podia-se ouvir algumas favoritas como "Heartbreak Hotel", "All Shook Up" e "Hound Dog" entremeadas com novas canções incorporadas ao seu repertório. Foi um grande sucesso. Este especial mostrou claramente a Elvis que o próximo capitulo de sua carreira seria seu retorno às apresentações ao vivo. Mas, antes de isto acontecer, Elvis fez outro retorno — aos estúdios de gravação em Memphis. Em Janeiro de 69, ele fez sua primeira gravação na cidade desde que havia largado a Sun há mais de dez anos. Nesta sessão, foi gravado seu grande sucesso por um longo período, "In The Ghetto '. A volta triunfal de Elvis às apresentações ao vivo deu-se em agosto de 1969 no novo Hotel Internacional de Las Vegas, rezando o contrato assinado que ele daria dois shows noturnos durante um mês consecutivo em troca de 600.000 dólares. Sua última aparição ao vivo havia sido em um show de caridade em março de 1961. Para auxiliar um pouco a divulgação do grande evento que era sua volta aos palcos, o Coronel dispôs por toda Las Vegas nada mais, nada menos, que 500 outdoors iluminados a Neon com a frase: Elvis In Person!

ELVIS ESTÁ DE VOLTA!!!. A imprensa, que durante longo tempo o havia malhado sem piedade, festejou sua volta aclamando-o com expressões dignas do retorno de um rei. Durante 20 canções, Elvis demonstrou sua grande versatilidade e domínio de palco, sendo chamado por toda crítica de "maravilhoso", "sem igual", "admirável" e outras expressões do mesmo quilate. O repertório incluía duas canções dos Beatles: "Yesterday" e "Hey Jude". Depois de ter casa lotada em Las Vegas, Elvis vai a Houston e consegue lotar o Astrodome por 6 dias seguidos. A cidade estava tomada pela histeria e nos Astrodome havia um esquadrão de Polícia destacado especialmente para proteger o palco. Nas paradas de sucesso, o mesmo se sucedia. "Suspicious Minds" — urna canção que tipificava seu novo estilo estava em primeiro lugar. No começo do verão de 1970, o coronel anuncia o filme que capitalizaria para ele todo o esplendor do cantor ao mesmo tempo que incrementaria novamente a tão desejada carreira cinematográfíca. O filme, 32º de sua carreira, seria um documentário de duas horas de duração mostrando performances de concertos e shows em Las Vegas. Segundo ele, existiam milhares de pessoas em diversos países que assim teriam chance de ver o Rei. Se elas não podiam ir a Las Vegas vê-lo, Elvis iria em filme até elas. "Elvis é assim" não passava de uma mistura de shows do cantor com entrevistas de alguns admiradores mais fanáticos. Algumas cenas incluíam até o Rei abrindo uma série de telegramas em pleno palco e fazendo piadas sem graça em cima do seu conteúdo, para delírio dos espectadores. A estréia do filme no Hollywood Egyptian Theater foi tumultuadissima, apesar da publicidade ter sido pequena - apenas notas nas colunas especializadas dos jornais locais. Isto pressagiou a sorte que o filme teria no mundo inteiro. "Elvis é assim" bateu recordes de bilheteria em 1971 e sua volta era o centro das atenções. Novamente seus discos eram sucesso e a procura por seus shows era simplesmente furiosa. Em junho do ano seguinte, depois de uma rápida tournêe pelo meio oeste americano, Elvis lota o Madison Square Garden com uma multidão uivante de 80.000 fãs em 4 shows, sendo espantosa a afluência de jovens que não eram nem nascidos durante sua fase áurea de roqueiro. Devido ao sucesso do concerto, a RCA lança um álbum intitulado "Elvis as recorded at Madison Square Garden", que recebe só em encomendas 250.000 pedidos nos E.U.A. e que vem a ser um de seus álbuns mais vendidos. Outro golpe de mestre em sua carreira acontece no mês de janeiro seguinte quando ele se apresenta em um concerto de uma hora promovido pela própria RCA no Havai. O Concerto é transmitido via satélite para todo o oeste americano, e, mais tarde, video-tapes do mesmo show são distribuídos para todas as regiões do globo. Na segunda semana de fevereiro, são lançados simultaneamente em todo o mundo um milhão de cópias do álbum-duplo Aloha from Hawaii Via Satelitte.

BOATOS E SEPARAÇÃO Mas enquanto tudo acontece como manda o figurino em sua carreira, começam a acontecer sérios problemas em sua vida pessoal e as noticias veiculadas no final de 72 deixam seus fãs arrasados. Em julho, é anunciado o fim do casamento de Elvis com Priscilla e os boatos que correm a respeito do que teria acontecido não são desmentidos. Mike Stone, professor de caratê, que havia ido a Graceland para ensinar os rudimentos de tal arte ao casal, tinha mesmo era fugido com Priscilla. Em agosto, Elvis entra com um pedido de divórcio alegando "diferenças irreconciliáveis". Também corriam boatos de que o pivô da separação do casal havia sido a cantora Hobbie Gentry. Finalmente, em outubro de 1973 o divórcio é homologado, ficando Priscilla com a custódia de Lisa e uma pensão de milhões de dólares. Logo após o divórcio, Elvis contrai pneumonia e apesar de se recuperar rapidamente, era só o começo de uma série de doenças. Em agosto do mesmo ano, ele é obrigado a faltar a dois shows em Las Vegas por estar acometido de gripe; reaparece cheio de febre e pedindo desculpas, dizendo que havia faltado somente cinco apresentações em 18 anos de carreira. Em novembro, noticia-se que Elvis havia proposto reconciliação a Priscilla e ela havia recusado e que suas relações com seu mentor e empresário Tom Parker começavam a se deteriorar. No final do ano, Elvis tem outra pneumonia. Boletins noticiosos diziam que ele estava gordo demais e passava por uma dieta rigorosa. Em janeiro de 75, ao completar 40 anos, ele dá entrada novamente no hospital. Para a imprensa, ele estava alojado em uma suíte de 400 dólares diários apenas para um ckeckup de rotina. Alguns boletins dizem que ele estava com uma complicação hepática causada por excesso de dieta agravada por aplicações de hormônios esteróides e tratamento de acupunturico receitados para problemas havidos com seu braço esquerdo. Outros boletins noticiam uma úlcera.

FILMES CONFISCADOS Em março, Elvis faz sua primeira aparição em seis meses — no Las Vegas Hilton; sua aparência é pesadona e ele confessa aos amigos mais chegados que deve perder no mínimo 10 quilos por ordem médica. Os fotógrafos são proibidos de tirarem fotos e os que o fazem são presos e tem os filmes confiscados. Em maio, a imprensa noticia: "Protegido por 15 guarda-costas, o quarentão Elvis Presley vive a vida de um prisioneiro, ele dorme até o meio da tarde e raramente sai de casa. Ele gasta a noite o que perde do dia em companhia de Linda Thompson". Em junho, Elvis é hospitalizado por dois dias devido a um problema nos olhos. Correm boatos de que o Rei está sofrendo de glaucoma, e que ficará cego. O médico pessoal de Elvis diz que o Rei está com uma inflamação na íris devido às fortes luzes de palco. Elvis começa a usar óculos escuros em tempo integral. Em agosto Elvis tem que cancelar uma série de apresentações em Las Vegas devido a uma distensão no baixo-ventre causada por excesso de peso. Somente em dezembro é que Elvis retorna aos palcos do Las Vegas Hilton fazendo apenas um show por noite. Nas vésperas do ano novo, ele canta diante da maior platéia de sua carreira, 60.000 pessoas. Isto acontece em Pontiac, Michigan. Este show vira notícia porque as calças do rei rasgaram-se em pleno palco. Duas décadas depois de chocar a consciência de uma nação, Elvis ainda estava apto a chapar a rapaziada com seu rebolado pélvico.

O FIM Depois de conseguir o que muito poucos artistas atingem em suas carreiras – o sucesso absoluto não uma, mas duas vezes – Elvis mergulha na fase negra de sua vida. A solidão da fama, a desconfiança paranóica, a obesidade e a doença corroem o Rei até a morte. Mas Elvis Aaron Presley, morto, sobrevive como Elvis, a lenda, o mito, a alma viva do rock'n'roll. - Os dois anos finais da vida de Elvis não são alegres nem apoteóticos. A idade, o excesso de peso, os componentes mais trágicos da fama, como o medo paranóico, a solidão, a desconfiança, abreviaram e consumiram a vida do antigo rebelde de todas as causas. Após a separação de Priscilla, Elvis se tornou praticamente um recluso. Suas apresentações ao vivo — geralmente em Las Vegas, capital do jogo e meca da maioria silenciosa endinheirada da América — rareavam cada vez mais. Trancado em Graceland, Elvis comia e via TV. Comia obsessivamente. Para subir num palco, seus amigos confidenciariam mais tarde, que ele chegava a devorar 6 bananas split. Dos 90 para os 100 quilos foi um pulo fácil. Não foi só o peso que subiu: a pressão também. No entanto, os médicos nunca diagnosticaram a moléstia cardíaca que acabaria por matá-lo. Ao invés disso, Elvis acusou apenas problemas intestinais, que o levariam a duas internações no Hospital Batista de Memphis em 76 e em 77, quatro meses antes de sua morte.

DROGAS PERMITIDAS Refugiava-se também nas drogas. Não nas marginais, que fizeram a fama e a ruína do sonho rock, mas nas permitidas, as mesmas que corroem sua derradeira platéia, a ampla classe média americana. Nas palavras de três de seus assessores, despedidos por Vernon no inicio de 77, Elvis tomava pílulas para tudo: para acordar, para dormir, para comer, para parar de comer, até para ir ao banheiro. "As vezes eu não podia acreditar" - disse o seu ex-guarda costas a um jornal de Chicago - "Elvis ficava sentado, com os olhos fechados, a cabeça caída e a boca aberta, não tinha forças nem para abrir os olhos. Estava sob o efeito de pílulas o dia inteiro e costumava aplicar drogas durante o dia todo no braço e até nas pernas com essas seringas de plástico". Ironicamente, essa entrevista foi concedida no mesmo dia em que Elvis morreu — 16 de agosto — apenas algumas horas antes. E esse não foi o único sinal premonitório. Três semanas antes o semanário soviético Literaturnaya Gazeta fizera uma espécie de obituário precoce, acusando "o cruel mecanismo do show business ocidental" como responsável pela extenuação do cantor. "A riqueza e a fama não trouxeram a felicidade do Rei do Rock", disse a Gazeta. "Espiritualmente o esvaziaram e despojaram. Ele se transformou num homem solitário, escravo da sua própria riqueza. A indústria ocidental dos espetáculos cria sempre novas modas, produz novos reis e novos ídolos, jogando fora os que já não estão mais na moda. Uma das vítimas deste cruel mecanismo é o Rei do Rock'n Roll".

ALMA DOENTE Um pouco depois, três antigos empregados de Elvis lançaram um livro devastador: "Elvis, o que aconteceu?". Nele, toda a solidão amarga, toda a alma doente, toda a estagnação da vida privada do Rei eram postos a nu. Revelava-se que Elvis tinha um medo obsessivo de ser assassinado, e já tinha dado até recomendações expressas para que "arrancassem os olhos" de seu provável futuro assassino para que ele "não entrasse rindo no tribunal". Que ele acreditava ter o dom da cura milagrosa pela imposição das mãos, como apregoavam os antigos ministros de Tupelo. Que colecionava armas de fogo e se divertia atirando em aparelhos de TV, cada vez que um programa não lhe agradava. Uma vida inútil, estéril. E triste. Não por coincidência seu derradeiro LP se chamava exatamente Moody Blue (algo como Deprimido) e foi prensado em vinil azul que, para a cultura americana, é a cor da tristeza. Contudo, o fim veio inesperadamente. E foi tão solitário como todo o resto da sua vida. Na tarde de segunda feira, 15, foi ao dentista. A noite, convidou alguns amigos a Graceland e ficou jogando frescobol com eles até de madrugada. Na manhã de terça, perto das 9h, caiu morto em um dos muitos banheiros da mansão de 18 quartos. Seu gerente Jerry Esposito — irmão do velho companheiro de exército Joe Esposito — o encontrou. Ainda tentou reanima-lo, acreditando ser apenas um desmaio. Mas o laudo médico do Hospital Batista de Memphis, para onde foi levado, indicou claramente a morte: arritmia cardíaca, causada provavelmente pela pressão alta e pelo endurecimento das coronárias. O funeral foi grandioso. Durante dois dias 80 mil pessoas desfilaram aos prantos diante do caixão de bronze onde Elvis descansava, sóbrio e obeso, de terno e gravata. "Por favor não digam que ele era gordo assim", soluçava uma fâ madurona. "Fizeram com que ele ficasse gordo no caixão. Ele era magro e ágil assim" (e mostrava um medalhão do jovem Elvis rebelde dos anos 50).

VITALIDADE AMERICANA Um motorista bêbado atirou o carro contra a multidão do lado de fora de Graceland, matando duas pessoas.. O Presidente Carter lamentou a morte "de um símbolo do bom humor e da vitalidade americana". Jaqueline Onassis enviou pêsames. Elton John mandou uma corbeille imensa e reconheceu que, sem Elvis, ele não existiria. Finalmente, 50 limusines escoltaram Elvis até o mausoléu da família Presley onde já estava sua mãe, morta, como ele, aos 42 anos, vítima da obesidade, dos remédios em excesso e do coração. Seis mil pessoas — a maioria madura, quase da idade do ídolo morto choraram, gemeram e desmaiaram. Mais um sonho — e um pesadelo — terminavam.

FILMES E DISCOS Tudo parecia acabado, mas não em relação a Elvis, o mito. Para os fãs, continuarão a existir seus filmes e discos. Estes, até 1975 já tinham vendido um total que ultrapassava a cifra dos 300 milhões. E, com sua morte, poderia em breve dobrar esse número. Mas não é nem isso que importa. O Elvis que ficou não é nem o dos discos — pelo menos não de seus discos mais famosos e campeões de venda — nem o dos filmes. Nem o Elvis triste, amargo, paranóico e obeso de seus últimos anos, O Elvis da história —e não só da história do rock — é o ato, o gesto, a atitude, a imagem daquele garoto vestido de cetim, cabelo cheio de brilhantina, costeletas, girando como um selvagem, libertando, desafiando. Não é nem o que Elvis realmente pensou, ou sonhou: é o que ele significou, a ruptura definitiva, o modelo sobre o qual tudo se forjou. E o que ele nem conseguia dizer quando balbuciou, lá em 1954, assustado: "Não sei onde tudo isso vai parar".

Agradecimentos especiais a Sérgio Capuzzo,

sábado, 6 de março de 2010

Elvis Presley - A vida, a música e os filmes

Era uma vez um garoto americano muito pobre chamado Elvis Aron Presley. Quando ele nasceu, a 8 de janeiro de 1935, seus pais, Vernon e Gladys não tinham nem com que sonhar. Como a imensa maioria da comunidade não especializada do Sul, eles se limitavam a sobreviver no limite do possível. E o possível era muito duro. A depressão tinha devastado o Estado do Mississipi e transformado Tupelo, antigo centro próspero de algodão, numa cidade estagnada e decadente. Numa tentativa de empregar a massa de ex trabalhadores da cultura algodoeira, o governo Roosevelt financiara a instalação de algumas indústrias de tecidos rústicos, lonas, uniformes e calças jeans. Gladys Smith Presley, jovem e bem disposta, conseguira uma vaga como costureira em uma dessas fábricas. Vernon Elvis Presley, criado toda a vida no campo, no trato e na colheita do algodão, não sabia fazer outra coisa: continuou colhendo e arando as terras alheias, cada mais estéreis e devastadas. Às vezes conseguia um emprego temporário, no auge da safra, como ajudante de caminhão. No inverno, distribuía leite e tentava aprender carpintaria. Nunca sonhavam, existiam. Como conforto e alegria tinham a igreja da Assembléia de Deus.

Eram crentes, austeros e assíduos na Assembléia, para conseguir a salvação eterna e fugir das chamas do inferno era necessário apenas cantar. E, se a salvação era incerta, o calor dos Spirituals pelo menos ajudava aquela comunidade destroçada a se manter unida. Só um povo era mais miserável que os brancos do bairro leste de Tupelo, os negros de Tupelo. Os pretos de todo o sul. Aos negros era negada até mesmo a dignidade. Por isso sua música era mais feroz, mais inflamada, seus Spirituals arrebatavam e traziam consigo o transe e a possessão. Os pretos de Tupelo viviam no outro lado dos trilhos que cortavam o bairro dos brancos pobres. Não era um convivência intensa, mas era pacífica. Afinal, tudo unia famílias como os Presleys, a eles: a miséria, a falta de perspectiva, o amor pela música, a identidade pelo canto.

Elvis Aron Presley nasceu miserável em um mundo repleto de música. Seu irmão, que iria se chamar Jesse Garon, nasceu morto e foi enterrada numa lata, nos fundos do quintal, da casinha de um quarto, feita de madeira, tijolos de argila e teto de zinco. Gladys concentrou toda sua energia em Elvis. "Para Gladys ele era a coisa mais importante de sua vida", diz uma vizinha. "Ela adorava esse garoto. Deixava de comprar roupas, até sapatos, para que ele tivesse carne ou galinha pelo menos uma vez por semana. E ela nunca o deixava sozinho, estava sempre por perto, mesmo quando ele brincava com outros garotos. E ela não ia a parte alguma sem ele, nem mesmo ao armazém. Cada vez que ele se perdia de vista, nas brincadeiras com os outros garotos moleques, ela saía gritando seu nome, chorando e desesperada até encontrá-lo". Na medida do possível para uma família que se alimentava basicamente de feijão e milho e comprava uma peça de roupa e um par de sapatos a cada seis meses, Elvis cresceu mimado e cercado de atenções. Para contrabalançar, Vernon e Gladys lhe legaram o lado mais austero e duro de sua formação protestante.

From Tupelo to Memphis
Ensinaram-lhe a jamais se dirigir a palavra, de forma não respeitosa, a uma pessoa mais velha; deveria chamar a todos de "senhora" e "senhor", trabalhar sempre, sorrir muito raramente. Roubar, nunca. "Uma vez Elvis achou uma garrafa de Coca Cola no meu muro e a levou para casa" lembra a mesma vizinha. "Quando Gladys soube, deu-lhe uma surra antes mesmo que ele pudesse se explicar. Mesmo quando eu intervim e disse que a garrafa não era de ninguém, ela continuou a repreender Elvis por não ter perguntado antes". O menino Elvis aceitava tudo. Era um menino muito bom. Mais tarde ele lembraria agradecido. "Meus pais me deram a melhor formação do mundo, me mostraram o que era certo e o que era errado. Na época eu não entendia quando mamãe me batia por ter sumido de sua vista, eu achava que ela não me amava". Com cinco anos o bom menino se iniciou no mundo da cidade e da música. À cidade, sua mãe o levava para assistir às aulas da Escola pública (ela levaria Elvis à aula até a idade de 15 anos). A música veio naturalmente, nos serviços da Assembléia de Deus, nos piqueniques com os vizinhos, no rádio ouvido solenemente ao cair da tarde, cadeiras no quintal, os avós no centro, Elvis num tamborete aos pés de Gladys. Para Gladys e Vernon, a música era um alívio. Para Elvis, um sonho: muito jovem para medir a extensão de sua pobreza, ele tinha o direito de sonhar. Ficava extasiado com os microfones, com as roupas brilhantes de cetim e franjas dos cantores country, nas feiras e mafuás. Ficava entretido e ausente, ouvindo os negros tocarem banjo e harmônica na beira do rio, nos dias de pescaria. Os Spirituals o deixavam fora de si.

Por isso quando a professora do grupo escolar perguntou à classe se alguém sabia rezar, o loiro e sério Elvis Aron levantou a mão e disse que sabia cantar. E cantou, seguro e sentido, uma velha balada, "Old Sheep". Para ele, cantar e rezar era a mesma coisa: mágica saborosa que deixava e tornava os dias diferentes. A professora, chorosa e comovida, levou o pequeno Elvis para um concurso de talentos na feira de amostras. E ele ganhou o segundo lugar e cinco dólares. Guardou o dinheiro e, no seu décimo aniversário, somou-o às economias de Vernon para comprar um violão de 13 dólares. E começou a aprender a mágica. Com um jeito que seu tio e professor, Vester Presley, considerou "surpreendente", ele aprendeu os acordes básicos. E se pôs a tocar e cantar, a resumir no seu violão o mundo de sons que ouvia à sua volta. Os hinos da Igreja, Elvis sabia de cor. As baladas e quadrilhas que ele ouvia no rádio e nas feiras com seus ídolos country - brilhantes, faiscantes - Jimmie Rodgers, Bob Willis, Ted Daffan. E os blues rurais, tão ásperos e sentidos, de Big Bill Broonzy, Otis Spahn, Bukka White, John Lee Hooker, Howlin Wolf, que os pretos do outro lado dos trilhos preservaram em sua integridade. Para Elvis Aron, não havia distinção alguma: tudo era música, tudo era mágica.

Quando Elvis fez 13 anos, seus pais decidiram abandonar Tupelo, procurando uma vida melhor em Memphis, capital do Tennessee, centro vital do sul. "Nós estávamos sem um tostão", ele diria mais tarde. "Tudo o que a gente tinha coube nuns poucos caixotes que papai amarrou no teto do seu Plymouth 1939. E saímos para Memphis assim, sem saber de nada, sem conhecer ninguém, só na esperança de que as coisas iriam melhorar". Não melhoraram muito. Após um período duro morando numa cabeça de porco, todo o progresso que Vernon Presley conseguiu foi alojar sua família num conjunto habitacional do governo. Lá, pelo menos, havia dois quartos, um banheiro e uma cozinha própria. Gladys começou a trabalhar como ajudante de enfermagem, Vernon se empregou como encaixotador numa fábrica de tintas e Elvis foi para a Humes School. "Era uma escola pobre, uma escola para pobres", diz um colega de Elvis "Ninguém estudava muito, também não havia muito o que estudar". Talvez a pobreza tenha começado a incomodar Elvis. Para escapar do tédio sufocante da vida entre o conjunto habitacional e a escola, ele jogava futebol (em geral com um time de pretos da escola negra), ouvia rádio, tocava, cantava, tocava e ia levando a vida. E guardava dinheiro para comprar roupas.

A juventude de Elvis: brilhantina e Rock'n'Roll
"Elvis era muito diferente da gente", diz Red West, um colega da escola. Ele usava um cabelo muito mais comprido que nós e costeletas, o que na época era coisa de negros e caipiras. Ele se amarrava em roupas berrantes, brilhantes, cetim preto e rosa, por exemplo. Nenhum de nós usava esse tipo de roupa. Era coisa de negro". De fato, Elvis encontrava suas camisas berrantes e calças frisadas numa loja para negros, dentro do mesmo gueto. Um caipira? Ele era um caipira: roupas de cetim, franjas e estrelas eram seu jeito de se expressar individualmente num mundo tedioso e cinza. As costeletas? "Eu tinha uma cara muito de garoto, queria parecer mais velho, com jeito de motorista de caminhão, assim um tipo durão, sabe?" Costeletas e roupas chocantes, casacos cor de rosa, jeito de negro, andar de caipira, em plena Memphis dos anos 50, Elvis estava forjando, sem saber, uma identidade própria, única, tão misturada nas suas origens quanto sua própria vida e música que gostava de cantar na escola, nos passeios com os amigos, nas festas de fim de semana. Os amigos gostavam daquela música que tinha tantos estilos, alguns como o blues rural, totalmente desconhecidos para eles (o mundo negro e o mundo branco eram entidades completamente separadas nas cidades do sul americano).

Gostavam de ver como o tímido Elvis se transfigurava atrás de um microfone. "Ele era incrível" relembra uma colega. Ganhava todos os pedidos de bis nas festinhas e nas audições. "Cantava de um jeito que fazia a gente chorar, vibrar. As garotas adoravam. Ele era muito boa pinta e dançava de um jeito diferente, todo seu". Quando Elvis fez 15 anos ele achou que era hora de procurar um emprego e colaborar para o minguado orçamento da família. Fez algumas tentativas como lanterninha de cinema e depois como empacotador numa fábrica de latas. Mas Gladys sempre achava que o serviço era pesado demais para seu pequeno Elvis. Mas, três anos depois, em 1953, as necessidades crescentes da família - que havia sido despejado do conjunto habitacional por ter passado o teto máximo de renda permitido - venceram os instintos protetores da mamãe Presley: Elvis se empregou numa firma de material elétrico como motorista de caminhão. Elvis ganhava 41 dólares por semana. A metade ele entregava aos seus pais. A outra metade ele gastava em roupas de cetim, jukeboxes, gasolina para o carro e salões de barbearia. "Esse cabelo dele quase me fez negar-lhe o emprego" disse, anos mais tarde, o chefe da Crown Eletric Company "Ele era muito grande, e com costeletas. Mas ele era tão educado, tão polido, que eu acabei deixando ele ficar. Ele cuidava muito do cabelo, ia sempre que podia aos salões mais sofisticados, para frisar, lavar e aparar os cabelos. E ele tingia também, usava o cabelo bem preto, na verdade ele era loiro".

Cabelo preto, costeletas, uma cara fechada, uma guitarra jogada no assento ao lado do motorista. Elvis, o durão, o rapagão americano. Na hora do almoço, comia um sanduíche, sentava na sombra e tocava. Uma tarde de sábado, resolveu fazer algo diferente. Lembrando o aniversário próximo de sua querida mamãe, ele parou o caminhão numa esquina da rua principal, pegou sua guitarra e entrou no acanhado prédio de dois andares que abrigava a Sun Records, uma modesta companhia de discos. Fundada por Sam Phillips, ex DJ de rádios country. A Sun tinha duas especialidades: Uma era descobrir, gravar e vender artistas locais, artistas de country & Western e, principalmente, músicos negros de todos os tipos, de cantores de blues ("os negros são os únicos que preservam a originalidade e a força em sua música", Sam costumava dizer); a outra era manter um serviço de gravações domésticas, dando a namorados e pais corujas a oportunidade de preservar em acetato suas declarações de amor ou as gracinhas de seus pimpolhos. Esse setor também tinha uma outra finalidade, além de suprir o sempre deficitário orçamento da Sun: servia como um meio para esquadrinhar o mercado e descobrir o sonho impossível de Sam Phillips: "O dia em que eu achar um branco que cante com a força de um negro, eu vou estar feito". Sam estava mais do que certo: Só encarnado no corpo de um branco, o ritmo negro seria aceito para uma América que só agora considerava a possibilidade de uma integração.

Elvis Presley e a Sun Records
Marion Keisker, recepcionista da Sun em 55, lembra com detalhes: "foi no começo da tarde de um sábado muito atarefado que ele chegou, e eu achei uma figura muito estranha, com aquele cabelo grande. Ele me disse que queria gravar umas canções para sua mãe e eu perguntei que tipo de música ele cantava. Ele então se virou até mim e disse: "Eu canto todo tipo de música". Fiquei intrigada e perguntei que tipo de interpretação tinha, se era hillbilly (caipira), porque ele tinha um jeito de caipira. Então eu perguntei: "Você vai imitar que cantor? Com quem você se parece?" Ele me olhou muito sério e disse: "Eu não me pareço com ninguém". Quando Marion começou a rodar a fita, ela viu que Elvis estava certo. Ele não se parecia com ninguém. Cantou um sucesso de um grupo negro, The Ink Spots, "My Happiness" e uma balada melosa, favorita de sua mãe: "That's when your Heartaches begin". E seu estilo era um cruzamento perfeito entre o timbre áspero e monocórdio dos negros e o gingado, o scat dos cantores brancos rurais. Elvis saiu com o disco para Gladys e Marion foi correndo mostrar a fita para Sam Phillips. Ele não ficou muito impressionado. Só quando Elvis voltou, no começo de 1954, e pediu para fazer outro disco, Sam descobriu o que tinha nas mãos. Assistiu as gravações e anotou: "Elvis Presley. Bom baladista. Chamar na primeira oportunidade".

A primeira oportunidade demorou um pouco a chegar, mas veio. Em junho desse mesmo ano, Sam comprou em Nashville uma canção, que exigia um estilo diferente de cantar. E lembrou do "garoto das costeletas". Foi como se Deus o tivesse chamado, lembra Sam. "Ele mesmo atendeu o telefone e disse que tudo estava certo, que já estava indo para a Sun". E veio mesmo, correndo, fez a pé os seis quarteirões e chegou bufando, todo vermelho e suado. Eu lhe perguntei: "O que você sabe cantar?" e ele disse: "Eu canto de tudo, senhor". E começou a cantar spirituals, baladas folclóricas, blues e R&Bs. "Pareceu-me um bocado inseguro e eu lhe sugeri que procurasse um grupo de apoio. Ele então me disse que não conhecia ninguém e que contava comigo para arranjar uma banda". Sam marcou uma nova gravação para dali a duas semanas e ligou para alguns músicos amigos seus: o baixista Bill Black, o guitarrista Scotty Moore e o baterista D.J. Fontana. Todos eram experientes músicos de bailes, festinhas e feiras do Tennessee. Os músicos vieram mas as coisas não começaram muito bem, eles não gostaram muito de Elvis. "Ele parecia um garoto metido, um amador. E, depois, aquelas costeletas... ninguém usava aquilo na época. E camisa rosa e negra também, definitivamente aquilo era coisa de negro", relembra Scotty. Alguém sugeriu que a banda fosse aumentada, para soar bem country, com violino e pedal steel. Timidamente Elvis balbuciou: "Assim está bom, o que me importa é o ritmo, assim está tudo bem, sim senhor".

Um mês se passou nos estúdios da Sun, com Elvis, Scotty, Bill e D.J. tocando e Sam gravando. Tocavam basicamente melodias country, música de rodeio, baladas, às vezes um hino, um blues. Aos poucos o gelo inicial foi sendo quebrado. E os três conversando chegaram a um acordo: com o tipo de interesses que tinham, era possível criar um som diferente, um ritmo especial e único. Uma noite no intervalo entre vários takes de baladas country, Elvis largou a Coca Cola e começou a brincar, cantando um R&B de Arthur Grudup: "That's All Right (mama)". Pulava pelo estúdio, dançando uma mistura de quadrilha com Be Bop com ginástica. Scotty, Bill e D.J. aderiram, acelerando o compasso, sinconpando a melodia. Da sala de controle, Sam gritou: "Que diabos é isso? Continuem, pelo amor de Deus, vamos gravar". Do outro lado do avulso "That's All Right" Sam Phillips colocou uma canção à altura, uma valsinha country, o "Blue Moon of Kentucky", tão acelerada, tão ritmada, que era impossível chamá-la de valsa ou country. Em breve isso teria um nome: era o Rockabilly, mistura de Rock, o ritmo básico dos negros, com o Hillibilly, a inflexão melódica e instrumental dos caipiras. Com o lançamento do avulso "That's All Right" começa o sonho americano de Elvis Aron Presley, o garotinho pobre e bem comportado de Tupelo.

O Nascimento do Rock'n'Roll como o conhecemos
Agosto de 1954, o rock'n'roll, mais um ritmo de dança, uma dance craze, do que um propriamente uma linguagem musical, tinha acabado de tomar conta da América, da juventude americana, mais rica, mais desiludida e mais ociosa que o país jamais conheceu. Elvis Presley ainda não sabia, mas ele tinha todos os elementos para se colocar na frente, no alto dessa loucura americana e dar-lhe um caráter próprio, definitivo. Era jovem, pobre e ambicioso. Tinha uma voz potente, elástica e maleável como poucos cantores. Era uma figura bonita, machona, sexy, com gosto exótico, misto de caipira e criolo. E, o principal, possuía uma capacidade, quase orgânica, fisiológica, para aprender, compreender e moldar todos os principais elementos rítmicos e melódicos da música americana, fosse Hillbilly, Blues rural, country & Western, balada pop, That's what rock'n'roll is all about.

No entanto, muito compreensivelmente, a série de cinco avulsos que a Sun Records produziu com Elvis foi destinada em sua maior parte ao público country. Destino natural para um artista sediado em Memphis, capital mundial do country. De um lado, Elvis gravava sempre uma canção com sabor country & western e do outro sempre vinha um rythm blues. Em todos, Elvis subvertia o esperado: cantava o blues como um caipira, cantava o country como um negro, ou fundia as duas coisas num sincopado novo. Todos os cinco avulsos foram imediatos e fulminantes sucessos locais, na área que vai de Memphis a Nashville. Primeiro tocavam só em rádios de negros. Mas depois que, Elvis garantiu que estudara na Humes High School, uma escola só para brancos, s explosão foi incontrolável. Logo após o primeiro avulso, Elvis se demitiu da firma de utensílios elétricos e começou a carreira na estrada. Seu empresário era o próprio guitarrista Scotty Moore, e no começo não foi muito fácil vender o show de Elvis no circuito country. A lei de integração racial nas escolas tinha acabado de entrar em vigor, e era uma chaga aberta no espírito segregacionista do Sul. Como explicar e tornar aceitável um cantor branco com voz de negro, roupa de negro, música de negro? Como evitar que ele trouxesse o negro para dentro da asséptica família branca americana? A muito custo e jogando com todas as influências de Sam Phillips, Elvis conseguiu um pequeno número na grande feira de música country de Nashville, a Grand Ole Opry. E foi aí que a família americana viu que o pior estava por vir.

Elvis e seus músicos subiram no palco lá no final do show, após uma série de estrelas country. Cabeça baixa, ele respondeu às perguntas do fosforescente apresentador com seu habitual "sim senhor", "não senhor". Quase um garoto normal. E então, meio tremendo de medo, começou a cantar "That's All Right". Medo, paixão, adrenalina, começou a dançar, a girar, a sacudir os quadris. As garotas gritaram, os garotos roeram as unhas, os mais velhos odiaram. Elvis foi banido do Opry. Mas a loucura tinha começado. "Na verdade eu estava tremendo feito vara verde" diria ele muito depois, "Não podia parar de mexer a perna, tinha de disfarçar. Aí saí dançando como costumava fazer em casa e no estúdio. Entre 54 e 56, Elvis e seu trio iam semear a loucura no comportado circuito country do sul. Metidos num furgão, rolando pelas estradas, tocando em rodeios, pátios de Igreja, escolas, festivais. Os avulsos da Sun iam vendendo regularmente e Elvis chegara a aparecer pela primeira vez na Billboard. Mas era ali, nas estradas do sul, que a loucura brotava. Eram os garotos, as meninas, os filhos de fazendeiros, vaqueiros da monolítica classe média sulista que lotavam qualquer local, com chuva ou sol, para ver Elvis requebrar, soluçar, girar os quadris, exibir sua versão caipira e instintiva do Rock'n'Roll. "Era uma loucura" lembra Scotty "Esses garotos surgiam ninguém sabe de onde, bastava fazer propaganda de boca, dizendo que Elvis ia tocar em tal lugar. As meninas, então, era inacreditável; choravam e chegavam a molhar as cadeiras"

Elvis, a RCA Victor e o Coronel Tom Parker
Muito em breve a histeria ia tomar conta da América. Elvis, o bom menino, estava sem saber, trazendo o sopro da vida, do prazer e da arruaça para uma sociedade como a de Vernon e Gladys, baseado no puritanismo, no trabalho e na sisudez. Ele não percebia isso: nunca percebeu. Sabia apenas que ganhava dinheiro, o que era muito bom. Que já podia comprar quantas camisas roxas e douradas quisesse, que podia encomendar um cadillac rosa (o carro mais famoso de todos os tempos!) e dar uma casa de dois andares para seus pais. Subir na vida, num velho ditado americano. Subir, mesmo às custas do rock'n'roll. Num desses fulminantes shows na estrada, Elvis foi assistido por um espectador mais do que atento: o "coronel" Tom Parker. O coronel é outro mito americano, é o sujeito vivido, esperto, sagaz, vagamente desonesto, o artista de fazer dinheiro. Ex vendedor de cachorro quente, ex empregado de mafuás e parques de diversões, ele era, em 1955, um dos principais agenciadores de artistas country do Tennessee. Ele viu Elvis como muito mais do que uma promessa, e muito mais do que um artista country. "Fique talentoso e sexy como você é, meu filho, que eu farei contratos incríveis e nós seremos ricos como rajás" foi o que ele lhe disse. Não se sabe o que Elvis respondeu, mas deve ter dito: "Sim senhor". Ou, como uma antiga namorada recorda: "Elvis vivia me perguntando se eu achava que ele iria ser famoso algum dia. Não famoso só em Memphis, mas no país todo, no mundo e nos cinemas. Ele ficava ansioso, impaciente e dizia: "Preciso descobrir como, preciso dar um jeito". Tom Parker daria o jeito para ele.

Sua primeira providência como empresário de Elvis, foi tirá-lo da Sun e vender seu contrato e seus cinco singles à RCA Victor, então controladora de 70% do mercado fonográfico americano. Preço: 35 mil dólares, mais 5 mil de luvas para Elvis. Nunca um artista valera tanto. Elvis comprou um cadillac folheado a ouro. Depois, providenciou para que Elvis tivesse sua própria editora musical; e começou a comprar diversas editoras menores. Resultado: Elvis passou a ser beneficiário quase absoluto das rendas obtidas com as canções que cantava. Um truque do coronel que, a pretexto de que Elvis contribuíra para os arranjos e produção de seus próprios discos, aumentava sua fatia de royalty. E passou assim a ter um imenso e variado repertório à sua disposição. Depois o coronel organizou e registrou todas as formas possíveis e imaginárias de se obter lucro com o nome de Elvis: fotos, folhetos, camisetas, bonecos, lenços, lancheiras, penteados, vitrolas etc. E recolocou Elvis na estrada: ainda vagamente no circuito country, mas fugindo do esquema das feiras, fazendo-o tocar em teatros e cinemas. E não apenas no sul, mas sim em qualquer lugar onde houvesse jovens com apetite para a voz e a dança de Elvis. Hoje se poderia dizer que o coronel fez de Elvis um ídolo de massa. Na época, tudo o que lhe ocorreu foi que havia muito mais dinheiro para ganhar além de Memphis, Tupelo e Nashville.

O que aconteceu depois que Elvis vendeu sua alma ao coronel e sua música à RCA, faz parte da história do rock. É o trecho mais dourado do sonho. Entre 1956 e 1958, Elvis varreu a América como um furacão. Não se pode chamar, a rigor, rock'n'roll o tipo de música que ele cantava e mostrava em seus álbuns. Evidentemente há rocks, e alguns clássicos: "Jailhouse Rock", "Blue Suede Shoes", "Shake, Rattle and Roll", "Tutti Frutti". Mas há muito mais baladas, músicas country, blues lentos. O que existe de essencialmente rock em tudo é Elvis, o próprio Elvis, a voz sincopada de Elvis, seu estilo compacto de interpretar qualquer tipo de música. E seu cabelo, as costeletas e a negritude insuportável de suas roupas - ternos urbanos com o brilho das sedas dos vaqueiros - e a sensualidade barata e obscena de seus requebros. Por tudo isso, a juventude americana à cata de uma identidade fez de Elvis o protótipo de rebelde, a bandeira. Por tudo isso, a boa família americana, a boa imprensa americana odiava Elvis. E quando ele compareceu ao Ed Sullivan Show, resumo televisivo da maioria silenciosa, as câmeras tiveram ordem de só o focalizar a parte superior de seu corpo. Mesmo assim, protestos furiosos choveram: "É lamentável que Mr Sullivan se torne propagandista desse feiticeiro vudu que veio solapar nossos bons costumes", escreveu um editoralista. "Dar publicidade ao tipo de música que esse jovem encarna é abrir mão de nossa moralidade, é querer ver nossas filhas violadas nos carros, ao som infernal do rock'n'roll", disse um dos mais importantes radialistas de Nova Iorque.

Elvis se torna astro em Hollywood
O que pensava Elvis, o bom garoto de Tupelo? "Nada vejo de mal em minha dança. Apenas faço o que sinto. Quando velhos amigos me aconselham a moralizar meu jeito, escuto e continuo como sempre. Não consigo cantar parado. Sem a minha perna esquerda eu estaria morto. Mamãe é que custou a se acostumar com isso, com os fãs atrás de mim. Uma vez até quis impedir que elas me rasgassem a roupa, achando que podiam me machucar. Eu sempre dizia a ela: calma, tenha paciência que isso é um bom sinal". Após os álbuns distribuídos costa a costa, os filmes. A partir de "Love me Tender", estreado em novembro de 1956, Elvis passou a ser um astro cinematográfico dos mais constantes e produtivos, e sua fama tornou-se mundial. Multimídia? Apenas dinheiro, diria o coronel. Cerca de um milhão por ano, tirando os direitos autorais e royalties. Todas as garotas queriam que seus namorados se parecessem com Elvis e os rapazes queriam ficar parecidos com ele. De uma hora para outro os antigos cabelos "escovinha", tipo militar, que imperavam na sociedade americana, foram substituídos por topetes cheios de brilhantina, como o de Elvis. Ele mudara não apenas a música de seu tempo mas também os costumes e o "American Way of Life". Elvis Presley estava no topo do mundo.

O que faltava a Elvis e ao coronel? Só um lance de mestre: conquistar seus opositores, ou seja, a família americana. Ou, como se diria depois, o sistema. A chance de ouro veio no início de 1957. Elvis foi convocado para o serviço militar. O coronel não deixou que transparecesse um sinal de favorecimento e recusou até mesmo uma oferta para que seu alistamento fosse no corpo de serviços especiais, onde tudo o que Elvis teria que fazer era cantar para as tropas. "Elvis é um cidadão americano pronto a cumprir com seus deveres", disse aos repórteres, enquanto vendia fotos no dia mesmo de embarque de Elvis para a Alemanha, sem costeletas e uniformizado como qualquer recruta, em março de 1958. Atrás de si, Elvis deixava 41 discos de ouro, quatro filmes arrasados pela crítica, mas recordes de bilheteria, uma legião de fãs, uma fortuna sigilosamente guardada e uma mansão, Graceland, totalmente fechada, nos arredores de Memphis. Durante 18 meses Elvis Aron Presley serviu o exército como um bom rapaz americano, saudável e forte. Dirigiu um jipe de combate em uma base da OTAN na Alemanha Ocidental, recebeu elogios públicos de seus superiores como "Um soldado exemplar e disciplinado". Em 58 ainda, perdeu a mãe, figura solar de sua vida, vitimada por um ataque cardíaco. Todos sabiam como o rebelde Elvis era um bom filho. A consternação foi geral.

E quando ele retornou em 1960 foi como se nunca tivesse saído. Na sua ausência a RCA editara um enorme volume de singles, muitos ainda da Sun Records. Os fãs estavam encantados em ter um herói nacional de volta (em 1960 ainda era um símbolo positivo servir o exército). E os adultos também tinham descoberto um novo Elvis: O garoto pobre que fica milionário com o próprio esforço e não hesita em abandonar tudo quando sua pátria o chama. O governador do Tennessee saudou-o publicamente com um discurso em que disse: "Mostraste que és acima de tudo um cidadão da América, um voluntário do Tennessee". O jornal conservador Christian Science Monitor estampou um editorial em primeira página: "Elvis é a prova viva da eficácia do American Way of Life. Ele reafirma nossa fé nos valores básicos de nossa sociedade". E assim o odiado Elvis Presley se tornou o queridinho da América, quem diria. Seu mais recente filme King Creole recebeu boas críticas. Enquanto isso, na ausência de seu Rei, o Rock entrava na pior crise de sua existência. O Rock estava no fundo do poço.

Elvis Presley e os anos 60
Ao mesmo tempo em que Elvis servia o exército na Alemanha, o rock'n'roll morria lentamente na América, frutificando e multiplicando vários cantores que passaram a ser conhecidos como "sub-Elvis": Ricky Nelson, Bobby Darin, Neil Sedaka, Fabian e Frankie Avalon. Essa música não podia mais ser chamada de rock'n'roll. Em sua primeira entrevista ao voltar do exército, Elvis disse: "Se o rock'n'roll morrer acho que morro também. Vou ficar desempregado". Depois pensou um pouco e riu: "Talvez não. Talvez consiga viver bem só com os meus filmes". Ledo engano. Nos anos que se seguiram Elvis apostou alto em uma carreira de ator. Tanto que inclusive deixou de fazer shows ao vivo. Quem queria ver Elvis só pagando um ingresso de cinema. Afastado do público, enfurnado em um set de filmagem a carreira de Elvis entrou em parafuso. As trilhas vendiam bem, e sem esforço Elvis conseguiu emplacar vários sucessos como "G.I.Blues" e "Blue Hawaii", mas era muito pouco para quem era o Rei do Rock. No começo dos anos 60 Elvis assinou um contrato de sete anos com a MGM, foi um erro que se refletiria mais tarde. Os estúdios começaram a comercializar o talento de Elvis de todos os jeitos, com três filmes por ano, acompanhando trilhas sonoras bem abaixo de seu potencial. Assim, preso ao esquema de Hollywood, o inevitável aconteceu.

Em 1964 os Beatles desembarcaram triunfantes nos Estados Unidos, pela primeira vez na história um conjunto musical conseguia o feito de emplacar os cinco primeiros lugares na parada. Os Beatles tomaram conta da América e abriram as portas para a chamada "invasão britânica", uma enorme quantidade de conjuntos ingleses que tomariam de assalto as paradas americanas. De 1964 a 1968 não deu outra, grupos como Rolling Stones ditaram o Top 10 da Billboard. Enquanto isso Elvis ficava de mãos atadas, preso ao famigerado contrato de sete anos com a MGM. Elvis foi ficando cada vez mais rico a cada filme, mas foi ao mesmo tempo morrendo artisticamente. Algo deveria ser feito e o próprio Elvis exigiu uma mudança radical ao seu empresário Tom Parker. Elvis sentia falta da estrada e dos shows, sem outra alternativa o coronel resolveu entrar em negociação com a rede NBC para a produção de um especial de fim de ano. Este seria conhecido mais tarde como o NBC TV Special "Comeback Special", o especial da volta de Elvis.

O show seria transmitido no final do ano, em dezembro. O coronel Parker sugeriu um roteiro simplesmente desastroso para o especial: "Elvis entraria de papai noel, cantaria meia dúzia de músicas natalinas e iria embora pela chaminé". Elvis e o produtor Steve Binder simplesmente odiaram essa idéia. Juntos, trocaram pensamentos e conceitos e chegaram a um modelo básico. Elvis seria acompanhado de sua primeira banda, Scotty Moore e D.J. Fontana (Bill Black havia morrido em 1965). Seria um show acústico (o primeiro da história), com Elvis vestindo uma roupa de couro negro, tocando uma guitarra Gibson, tudo de forma natural e autêntica. Ele interpretaria seus velhos sucessos e duas canções escritas especialmente para o programa: "If I Can Dream" e "Memories". Estava em ótima forma física e empolgado pela chance de voltar a apresentar um material de qualidade. Tudo que precisava era uma chance de mostrar novamente seu incontestável talento. Os ensaios foram exaustivos, Elvis tomou a frente, elaborando arranjos e produção, esse foi um momento crucial de sua vida, se falhasse, provavelmente seria o fim de sua carreira. E ele sabia disso.

Elvis NBC TV Special
Em 1968, aos 33 anos de idade, Elvis Presley volta à TV, num especial histórico para NBC em comemoração ao natal. O cantor estava no auge de sua beleza física e o show foi um marco em sua vida. Com cenas em estúdio e ao vivo, Elvis estava natural, espontâneo, Elvis como ele só. Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" relembra o impacto do show: "O especial de Elvis foi um sucesso espetacular e alcançou o maior índice de audiência do ano. A música final, "If I Can Dream", foi sua primeira gravação que ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas em muitos anos. Sentamos em torno da TV assistindo ao programa, esperando nervosamente pela reação. Elvis se manteve silencioso e tenso durante toda a exibição do programa, mas assim que os telefones começaram a tocar, compreendemos que ele conquistara um novo triunfo. Não perdera a classe, ainda era o rei do rock'n'roll". Com esse programa Elvis se convenceu que era hora de deixar Hollywood para trás e retomar os rumos de sua carreira musical. Não haveria mais trilhas sonoras insípidas, o momento era de entrar em estúdio novamente para gravar canções de qualidade, para mudar novamente os rumos musicais de seu tempo.

Em 1969, Elvis e banda se reuniram para uma série de sessões de gravações em um acanhado estúdio de gravação de Memphis chamado "American Studios". Elvis voltava às suas origens, o American era localizado em um bairro negro de Memphis e lá Elvis poderia novamente respirar a cultura que deu origem à sua própria musicalidade. Segundo Priscilla: "Depois do sucesso do especial, Elvis dedicou várias semanas a uma sessão de gravação, mais uma vez altamente motivado. Pela primeira vez em 14 anos ele fora persuadido a gravar em Memphis, em uma companhia negra em que muitos artistas importantes, inclusive Aretha Franklin, haviam gravado os seus sucessos mais recentes. Os músicos dos estúdios eram jovens e Elvis estabeleceu um grande contato com eles. Mais importante ainda: Elvis fazia uma música sensacional com eles. Ele ficava cantando no estúdio, até o amanhecer, voltava à noite, transbordando de energia, pronto para recomeçar. Sua voz estava em grande forma e seu entusiasmo era contagiante. Cada faixa ficava cada vez mais sensacional do que a anterior. Escutávamos as canções repetidamente e Elvis estava sempre gritando, exultante: -'Escutem esse som' - ou então decidia: - 'Vamos tocar tudo de novo'"

Com um disco novamente liderando as paradas de sucesso, um sucesso de TV, tudo o que faltava a Elvis era colocar o pé novamente na estrada. Mas como? Já havia se passado 7 anos de sua última apresentação ao vivo. Como ele deveria voltar? Colocar novamente seus ternos folgadões dos anos 50 e cantar seus velhos rocks? Ou então imitar o estilo de Sinatra e cia? Foi então que Elvis resolveu mudar tudo: trocou seu triozinho de caipiras, montou uma nova banda, que mais parecia uma orquestra, mudou seu modo de vestir e suas coreografias e novamente se reinventou. Agora estavam abertas as portas para o Elvis anos 70: roupas reais, com capas, apresentações viscerais em ginásios lotados, adoração em massa, concertos apoteóticos e monumentais. Elvis voltara para retomar seu trono e como todo rei que se preze ele iria agora ser literalmente adorado nos anos seguintes, numa adoração que chegaria às raias da divindade. Os anos que se seguiriam seriam os mais loucos, alucinados, exagerados e alucinantes da carreira de Elvis. Tudo seria elevado à nona potência, tudo, inclusive seus problemas pessoais. Elvis entrava naquela que seria sua última década. O Rei Midas Elvis chegara.

Os anos finais
Nos anos 70, Elvis se tornou um artista que não tinha mais nada a provar. O cantor sobreviveu a duas gerações diferentes da música, que ele próprio havia ajudado a criar, o rock'n'roll. A primeira geração de pioneiros como Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Buddy Holly e a segunda geração dos ingleses como os Beatles haviam passado, mas Elvis se mantinha firme na sua carreira. Tudo agora ficava para trás. Elvis Presley se tornou um artista diferente em seus anos finais. Evoluiu e seus discos retratam bem essa significativa mudança em seu estilo. Livre das pressões iniciais de sua carreira, Elvis deu vazão ao seu lado mais pessoal: gravou de tudo, blues, gospel, country, baladas, sempre levando em conta seu próprio gosto musical. O tempo lhe trouxe mais confiança e controle sobre os rumos de sua carreira. O antigo casamento com o cinema acabou com dois filmes que mostravam Elvis no palco, neste período: "That's The Way It Is" e "Elvis On Tour". Na TV Elvis fez dois especiais marcantes: "Aloha From Hawaii" em 1973, que foi transmitido para todo o mundo, via satélite, batendo recordes de audiência e "Elvis In Concert", seu último registro ao vivo, gravado poucos meses antes de sua morte.

A fama, que parecia não ter limites, também cobrou seu preço. O divórcio com Priscilla Presley, com quem havia se casado em 1967, levou o cantor a uma série de depressões que acabariam sendo a tônica de seus últimos anos. Consagrado como artista, Elvis sentia-se frustrado em sua vida pessoal. Alcançou fama e fortuna inimagináveis, mas não alcançou o principal: a felicidade. Em seus momentos finais, Elvis se tornou um recluso, com sérios problemas de saúde, o que acabou o levando ao uso descontrolado de remédios e pílulas, acabando por se viciar em tais substâncias. Perdeu o controle sobre seu peso, engordando muito em seus últimos anos. Mesmo assim, com todos esses problemas, Elvis continuou sendo adorado por tudo aquilo que representou. Infelizmente, em 16 de agosto de 1977, Elvis Aron Presley foi encontrado morto no banheiro de sua mansão Graceland, por sua última namorada, Ginger Alden. Pretendia se casar com ela e reconstruir sua vida pessoal. Não houve tempo. Tudo terminou naquela manhã em Memphis.

Mas a vida parou só por alguns instantes. Sua missão foi cumprida, nossa liberdade foi conquistada e a luz que nos transmitiu não deixou que tudo parasse. Continuou a brilhar com mais intensidade e a cada dia que passa sentimos que o amamos hoje muito mais do que o amamos ontem, e muito menos do que o amaremos amanhã. Enquanto existir algum ser humano vivo no universo, Elvis Presley viverá! Viva Elvis!

Fonte: Elvis por Ele Mesmo.

Elvis Presley - A derrocada de um Mito

Elvis Pós Aloha: A derrocada de um Mito
Qualquer fã de Elvis sabe que o aloha foi seu maior feito. E também o seu último. Após o grande show de 73 Elvis iniciou um penoso e doloroso processo de decadência física e artística. Não que durante esse período nada de bom tenha sido produzido. Se formos analisar individualmente música por música dos shows e discos vamos encontrar momentos magníficos como o show de 31/12/76(só para citar um exemplo), as interpretações ao vivo de How Great Thou art, My Way, a assombrosa e delirante performance de Unchained Melody de 21/06/77, enfim, a lista seria imensa demais para caber em um livro. Nos discos temos o ótimo Promised Land,e grandes momentos nos álbuns Good Times, today e Moody blue. Porém, esses ótimos momentos eram para terem sido mais frequentes, considerando a magnitude do talento de Elvis. Eles se perdem e vão por água a baixo quando ouvimos shows horrendos comos os de College Park em 74 ou do dia 19/06/77; versões medíocres de clássicos como Hound Dog, All Shook Up; Sessões conturbadas como as de julho de 76 e fevereiro de 76 e o declínio físico fulminante que se abateu sobre Elvis, notadamente da segunda metade de 75 em diante.

Mas porque, logo no auge de sua carreira, Elvis jogou tudo no lixo? Essa pergunta é por demais complexa. Elvis era o tipo de cara que precisava ser estimulado, e quando era, dava tudo de si. Porém, se não fosse assim, Elvis se entediava fácil, simplesmente porque ele tinha tudo em suas mãos, mulheres, dinheiro, fama, carros, tudo, literalmente. Para fugir disso, muitos artistas de dedicam a causas filantrópicas ou a hobbys. John Travolta, por exemplo, pilota aviões nas horas vagas. Mas Elvis simplesmente resolveu se desconectar do mundo real usando remédios cada vez mais fortes. Saída mais fácil, porém fatal e covarde. É bem verdade que ele tentou algumas vezes se engajar em algo como o karatê,lembram do projeto do filme? Porém, devido à falta de tempo e ao condicionamento físico de Elvis deplorável o filme não passou do campo das idéias.

Em suma: imaginem um homem de 38 anos, rico, entediado e podendo fazer tudo o que queria. Temos que acrescentar os dois principais fatores que acenderam um pavio que já existia: a tendência auto-destrutiva de Elvis, que se traduzia, principalmente, em seu comportamento exagerado e impulsivo e o divórcio, que acabou com ele. Não que se Priscila naõ tivesse abandonado Elvis ,fosse modificar o que aconteceu, só iria retardar o processo.

Isso pessoalmente. Profissionalmente a bagunça era generalizada. Pergunto a vocês, o que Elvis deveria ter feito depois do aloha? Primeiro de tudo, vamos imaginar hipoteticamente que Elvis resolvesse finalmente largar os remédios e mudar de vida pessoal e artística, certo? O primeiro passo seria tratar de sua dependência química, ainda em um estágio tratável. Depois umas férias para ficar 100%. Voltando Elvis deveria passar uns dois meses enfurnado em estúdio produzindo o melhor disco de sua carreira, procurando as melhores músicas, melhores compositores, explorando outros estilos, voltando às origens do Rock que tanto o consagrou e gravando grandes baladas. Depois disso, elvis deveria fazer uma turnê mundial daquelas que ficam na história, pela Europa, Asia e, porque não, America do Sul. Nesses shows haveria a total reformulação do repertório e principalmente arranjo dos clássicos, que por volta de 73 já estavam ultrapassados. Mas do que outra coisa Elvis também iria divulgar nos shows música por música de seu novo álbum. O próprio contato com culturas diferentes iria causar um impacto tão violento, de forma positiva, na vida de Elvis que isso ,somente, iria ajudá-lo na sua busca espiritual e de cura. Quem sabe após isso, tentar parceria com outros músicos.

Mas vamos ser realistas e sonhadores. Realistas pois, sabemos que se Elvis quisesse poderia ter feito isso. Tinha talento de sobra e com um empresário decente isso seria mais fácl ainda. E sonhar, porque Elvis não estava em condições nem de jogar um jogo de tênis, quanto mais de fazer um projeto ambicioso desse. Não tinha forças para se reeguer. Ou não queria. Também não possuia ninguém para ajudá-lo. Ele havia se divorciado há pouco tempo e as mulheres que dele se aproximavam era por puro interesse. Do outro lado seua "amigos" se resumiam há um bando de pilantras interesseiros: A máfia de Memphis. Claro, Elvis não queria ser ajudado, mas os outros que fizessem sua parte. E não adianta Joe esposito vir com uma cara lambida em entrevistas dizer que fez o melhor que pode porque é mentira. Joe morria de medo de enfrentar Elvis dizendo o que realmente pensava. Já os outros não vou nem comentar. Basta lembrar um comentário póstumo de Marty Lacker que disse em entrevista que quando carregava o caixão de elvis, que era muito pesado murmurou pra si mesmo: " Esse filho da puta, nem quando morto para de nos dar trabalho!" Que amigão, hein????? Pois era daí para pior. Quanto mais chapado Evis estivesse melhor para esses caras, pois podiam roubá-lo com mais facilidade. E vernon, seu pai, não tinha cultura suficiente para entender o que estava acontecendo com se filho. Além disso, ele nunca teve muita influência sobre Elvis. E o coronel??? Bom a velha raposa, que numa altura dessa deve estar queimando nas profundezas do inferno ,só queria saber de dinheiro e de desperdiçá-lo em Vegas. Outra preocupação dele era de não ser descoberto como imigrante ilegal. Já pensou se alguém tivesse descoberto isso enquanto Elvis estava vivo? Esse alguém iria ter o coronel nas mãos, que iria passar de chantageador para chantageado. Vejam em que ambiente social mais podre e miserável Elvis estava. Como um homem, já sem muita vontade de viver, poderia te alguma chance em um ambiente assim?

Turnês mundiais? Álbum bem produzido e com material de vanguarda? Que nada! A realidade foi distinta do sonho. O que Elvis fez, graças ao coronel? 15 dias após o aloha começou mais uma temporada em vegas. Sinceramente, esse foi o maior anti-climax da carreira do astro. Foi como se após a gravação de Suspicius Minds em 69 elvis tivesse ido a um estúdio de 3ª gravar canções de ninar lançadas posteriormente em um álbum chamado " Elvis canta para bebês" ( a RCA, por incrível que pareça lançou, postumamente, um álbum similar!!!). Enfim, entederam o que eu quis dizer?Vegas em 73 não tinha mais nada para oferecer para Elvis, nem Elvis tinha nada a oferecer a Vegas. Tenho um show dessa temporada e Elvis nunca soou tão entediado. Também pudera!! Há pouco mais de duas semanas atrás você está fazendo um show via satélite para o mundo todo, assistido por mais de um bilhão de pessoas e logo depois você está cantando duas vezes por dia para a platéia mais gagá, careta e desinteressante do planeta!! Realmente uma pena! Elvis era um artísta tão formidável para ser desperdiçado dessa forma.

Não é minha intenção aqui culpar os amigos de namoradas e Elvis, mas sim afirmar que eles possuem sua parcela de culpa. Assim como o próprio Elvis. Assim como seus fãs que o aceitavam e ainda o aceitam de qulaquer forma. O que quero dizer é que se Elvis tivesse por perto pessoas que realmente gostassem dele de verdade ele talvez ainda estivesse vivo. E, principalmente, se ele soubesse o quanto era importante para milhões de pessoas no mundo talvez ainda tivéssemos o privilégio de escutar e o maior vocalista de todos os tempos em ação. E seria ótimo saber que ele estaria bem e feliz.

Artigo escrito por Victor Alves.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Elvis Presley - Elvis e Ann-Margret

Foi quando visitava a família na costa oeste no verão americano de 1963 que Priscilla pela primeira vez se tornou alvo da imprensa nacional, devido ao caso que Elvis estava tendo com Ann Margret. Tudo começou no final de julho, em Las Vegas, onde Elvis e Ann Margret filmaram "Viva Las Vegas". Quando o filme terminou, ambos estavam enamorados. Uma prova disso é que pela primeira vez em sua vida Elvis começou a sumir de casa por dois, três dias e até uma semana para passá-los na residência de Ann Margret, em Hollywood Hills. Essa violação da regra de que as mulheres tinham de vir até ele, era apenas um dos sinais que os caras da Máfia de Memphis interpretaram como verdadeira paixão.

Enquanto o romance de Elvis e Ann pegava fogo, Priscilla ficava em Graceland, aguardando a volta de seu namorado, como ela mesmo recorda em seu livro "Elvis e Eu": "Eu estava transtornada desde que soubera que a estrela do novo filme de Elvis seria Ann Margret, a starlet em ascensão mais rápida em Hollywood. Ann Margret fizera apenas uns poucos filmes, inclusive bye bye birdie, mas já fora apelidada pela imprensa como "Elvis Presley de saias". Elvis estava curioso em relação a ela, tenho comentado que "a imitação é a forma mais sincera de lisonja". Compreendi que se lhe revelasse meus temores, ele podia não dizer nada para me tranqüilizar. Afinal porque eu tinha tanta certeza de que no instante em que Elvis estivesse longe de mim - e perto de Ann Margret - surgiria um romance entre os dois?

Cada vez que eu me aprontava para ir ao encontro de Elvis em Los Angeles, ele apresentava uma alegação qualquer para adiar a visita: - "Este não é o momento mais conveniente, baby. Estamos com problemas nas filmagens" - "Que problema?" - eu questionava - Elvis cinicamente me respondia: - "O caos é total aqui. Tenho um diretor maluco que está perdidamente apaixonado por Ann. Pela maneira como ele está dirigindo, dá até para pensar que o filme é todo dela. Ele está favorecendo Ann em todos os closes" - Elvis fez uma pausa - "E não é só isso: querem também que ela cante algumas canções comigo. O coronel ficou furioso. Disse que eles terão de me pagar um extra para cantar com ela". Enquanto escutava a arenga de Elvis, tentei me compadecer com a situação.

Mas, emocionalmente, estava mais preocupada com a estrela do filme do que com o diretor. - "Como está Ann Margret?" - Perguntei - "Acho que ela é uma boa garota" - respondeu Elvis. Então ele logo descartou o assunto com a expressão "uma típica starlet de Hollywood". Minha preocupação foi temporariamente atenuada. Eu sabia que ele sempre encarava as atrizes de maneira desfavorável, chegando mesmo a comentar: "Elas estão mais interessadas em suas carreiras e o homem fica em segundo plano. Não quero ser o segundo para qualquer coisa ou qualquer pessoa. É por isso que você não precisa se preocupar com a possibilidade de eu me apaixonar pelas atrizes que trabalham comigo"

Eu queria acreditar, mas não podia ignorar as notícias na imprensa sobre o romance ardente que estava acontecendo nas filmagens de "Viva Las Vegas". Só que o romance no set de Las Vegas, segundo os boatos, não era entre Ann Margret e o diretor e sim entre Ann Margret e Elvis. Uma noite em que estávamos conversando pelo telefone perguntei abruptamente: "Tem algum fundo de verdade?" - "Claro que não" - respondeu Elvis, caindo na defensiva no mesmo instante - "Você sabe como são esses repórteres. Adoram ampliar qualquer coisa. Ela apenas aparece por aqui nos fins de semana, em sua motocicleta. Brinca um pouco com a turma e depois vai embora. Isso é tudo" - Mas isso não era o suficiente para mim. Ann Margret estava lá e eu não. Enfurecida, declarei: "Quero ir para aí agora!" - Elvis ficou visivelmente surpreso com a minha reação e se saiu com essa: - "Agora não é possível. Estamos terminando o filme e voltarei para casa dentro de uma ou duas semanas. Mantenha-se aí e trate de conservar acesso o fogo da paixão" - De forma melancólica eu lhe respondi: "A chama está ardendo muito baixa. É melhor alguém voltar logo para casa e atiçar o fogo".

Quando estava preparada para entrar em uma verdadeira guerra com Ann por Elvis, aconteceu uma coisa que deixou todos surpresos: de repente Elvis e Ann Margret desmancharam o namoro. Alguns rapazes da Máfia de Memphis encontraram Ann nos estúdios dias depois e conversaram sobre o assunto: - "Pensamos que vocês estavam apaixonados" - disse um deles - "Eu também" - falou a atriz - "E daí, o que aconteceu?" - quis saber um dos caras. Ann respondeu: "Não sei. Perguntem ao seu chefe. Eu não tenho a mínima idéia". Quando Elvis voltou de Hollywood resolvi mexer nas suas coisas atrás de provas, foi então que achei um bilhete na sua carteira que dizia: "Não posso entender - Scoobie". Era de Ann Margret. Tive certeza. Scoobie era o apelido que ela dera a si mesmo, como Elvis me confessou depois.

A frase era também o título do primeiro disco de sucesso que ela gravou no começo dos anos sessenta. Era evidente que Elvis se dissociara completamente de Ann Margret, cortando os vínculos entre os dois. Rasguei o telegrama em pedacinhos, joguei no vaso e puxei a descarga, com a maior satisfação. - "Não deixa passar muita coisa não é mesmo baby? Para uma garotinha você é uma mulher típica" - Ele estava rindo - "Acho que é melhor eu tomar cuidado". Retribui o sorriso, mas pensei: "Nada disso. Sou eu quem precisa tomar cuidado. A amizade mútua e o respeito profissional entre Ann Margret e Elvis persistiram até o dia de sua morte. Ao longo dos anos ele nunca esqueceu de enviar um buquê de flores em forma de guitarra, desejando sucesso para a atriz sueca, sempre que ela estreava em um novo show ou em um novo filme!"

Priscilla Presley, no livro "Elvis e Eu".

Elvis Presley - Danny Fisher

A principal preocupação de Danny Fischer (Elvis) não é ser um astro do rock, mas sim terminar seus estudos e se formar. Mas, com o pai desempregado o único jeito de conseguir isso é ir trabalhar como copeiro, limpando mesas num night club barra pesada, onde ele conhece todos os tipos que freqüentam o submundo de New Orleans. Entre essas pessoas está Ronnie (Carolyn Jones), uma prostituta com um coração de ouro, a quem ele protege de um bando de bêbados matutinos quando ela está voltando para casa depois de uma noite dura. Eles ficam amigos e, quando Ronnie o acompanha até a escola, alguns estudantes a insultam. Danny acaba brigando com eles e é expulso da escola, perdendo a chance de se formar.

A barra começa a ficar mais pesada e, na mesma noite, ele se envolve com uma gang de marginais liderados por Tubarão (Vic Morrow) e começa a roubar lojas de departamentos. Danny só precisa cantar para a freguesia, desviando a atenção dos companheiros que roubavam a loja. É a partir desta parte da trama que o personagem de Danny Fischer começa a pensar seriamente em se tornar um cantor.

Entre assaltos e canções, Danny conhece Maxie Fields (Walther Matthau), um sinistro chefe da máfia local, e tem um caso com Ronnie e outro com a ingênua Nellie (Dolores Hart) e começa a cantar em uma boate chamada King Creole, onde vira um enorme sucesso, atraindo multidões. Maxie Fields, dono do Blue Shade, uma boate rival, tenta tirar Danny do King Creole e contratá-lo para o seu club.

Como ele não aceita, acaba sendo chantageado por tomar parte num roubo cuja vítima, desconhecido para ele, era seu próprio pai, que fica muito machucado e vai parar no hospital. Sem dinheiro para pagar a conta do pai hospitalizado, Danny aceita a oferta de Maxie Fields. Nas garras do gangster ele segura a situação por algum tempo, mas quando Maxie conta ao pai de Danny que seu filho foi um dos ladrões que o atacaram, Danny fica possesso e bate no mafioso. Em busca de vingança, fields manda seus homens atrás dele, que está escondido com Ronnie numa cabana remota. Quando são descobertos pelos capangas, Ronnie leva um tiro e morre. Felizmente, Maxie Fields também é encontrado morto e Danny pode voltar para o King Creole, onde se reconcilia com o pai e com a sempre fiel Nellie. Elvis sempre dizia que de todos os seus filmes, King Creole era o seu favorito.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Elvis Presley - O Casamento de Elvis Presley

O pedido - Uma noite, pouco antes do natal de 1966, Elvis bateu de leve na minha porta e disse: "Sattnin, preciso falar com você." Tínhamos uma senha. Provocante, eu lhe disse que teria de pronunciá-la antes que eu o deixasse entrar. Ele riu e disse: "Olhos de fogo" - o apelido que eu lhe dava quando estava furioso. Elvis estava com seu sorriso infantil e as mãos nas costas. "Sente-se e feche os olhos Sattnin" - disse. Obedeci. Quando abri os olhos, deparei com Elvis ajoelhado aos meus pés, na minha frente, estendendo uma caixinha de veludo preto. "Sattnin..." - murmurou ele. Abri a caixa para descobrir o mais lindo anel de diamantes que já vira. Era de três e meio quilates, cercado de diamantes menores, destacáveis. - eu poderia usá-los separadamente. "Vamos nos casar" - anunciou Elvis - "Você vai ser minha. Eu lhe disse que saberia quando o momento chegasse. Pois o momento chegou". Ele enfiou o anel em meu dedo. Eu estava emocionada demais para falar; foi o momento mais lindo e romântico da minha vida. Nosso amor não seria mais um segredo. Eu poderia viajar abertamente como a Sra. Elvis Presley, sem o receio de inspirar alguma manchete escandalosa. E o melhor de tudo, os anos de angústia e medos de perdê-lo para uma das muitas mulheres que disputavam o meu lugar estavam terminados. Elvis estava ansioso em mostrar o anel ao pai e vovó, informando-os que estávamos oficialmente noivos. Nem mesmo tive a chance de me vestir. Levando em consideração nosso estilo de vida irregular, ficar noiva no meu quarto de vestir e mostrar o lindo anel de diamantes num roupão não parecia absolutamente estranho.

Eu queria compartilhar a notícia com meus pais, mas Elvis sugeriu que esperássemos até a nossa volta para Los Angeles, poucas semanas depois. Poderíamos então anunciar pessoalmente; eles mereciam nossa consideração. Naquela noite ligamos para meus pais e os convidamos para passar um fim de semana conosco em Bel Air. Elvis estava mais nervoso do que em qualquer outra ocasião anterior no dia em que eles deveriam chegar. Olhava a todo instante pela janela, à espera do carro. Estava ansioso em lhes mostrar o anel e quase o fez no instante mesmo em que passaram pela porta, mas eu consegui manter a mão nas costas até que todos sentamos. Estendi então a mão e disse: "Só queríamos mostrar isso a vocês". "E o que isso significa?" - perguntou papai, olhando para a minha mão. "É um anel de noivado, senhor" - informou Elvis. As lágrimas afloraram aos olhos de mamãe. "Oh Deus, é lindo!" - murmurou ela. Os dois estavam extasiados. Adoramos informá-los que finalmente ocorria o que esperavam há tanto tempo e pelo que muito haviam rezado. Ressaltamos a importância de manter o noivado em segredo, pedindo que mantivessem um sigilo absoluto, mesmo para a família, já que os garotos poderiam comentar na escola e a notícia se espalharia rapidamente. Queríamos um casamento íntimo, não um evento de celebridade. Meus pais concordaram com todos os planos. Não podiam estar mais felizes e durante todo o fim de semana se mostraram radiantes de prazer.

Durante os cinco anos em que vivia com Elvis raramente lhes permitira discutir o casamento. A possibilidade da família ser magoada era a preocupação maior de meus pais. Agora não tinham mais que se preocupar se haviam tomada a decisão acertada ao deixarem a filha tão jovem saísse de casa. Sei que o coronel Parker pedira a Elvis que analisasse o nosso relacionamento e decidisse o que julgava melhor. A atitude de Elvis em relação ao casamento era de que se tratava de algo definitivo. Embora ele fosse monógamo por natureza, adorava as opções. Apesar disso não estava disposto a me largar. Curiosamente , depois da conversa com o coronel Parker, Elvis não levou muito tempo para chegar à conclusão de que era o momento certo. A decisão foi sua e somente sua.

O vestido - Em meio ao maior excitamento, fizemos o resto dos planos para o casamento. A primeira sugestão foi de que eu providenciasse o vestido imediatamente; se a notícia vazasse, poderíamos casar de um momento para o outro. Mas minha busca por um vestido de noiva acabou se prolongando por meses. Disfarçada por óculos escuros e um chapéu, visitei todas as butiques exclusivas de Memphis a Los Angeles; apesar do disfarce, era paranóica o bastante para pensar que todos me reconheciam. Cheguei a conversar com diversas costureiras sobre modelos, mas não confiava o bastante para dizer que seria para um vestido de noiva. Finalmente alguém indicou uma loja pouco conhecida de Los Angeles. Charlie acompanhou-me, apresentando-se como meu noivo. Foi ali que encontrei meu vestido de noiva. Não era extravagante, nada tinha de excepcional - era simples e para mim maravilhoso. Sai da cabine para mostrá-la a Charlie. Ao me ver, Charlie ficou com os olhos cheios de lágrimas e murmurou: "Você está linda, Beau. Ele vai ficar muito orgulhoso."

A cerimônia - A cerimônia de casamento foi a 1º de maio de 1967. O coronel Parker cuidou de tudo. Seu plano era de que Elvis e eu seguíssemos de carro de Los Angeles para nossa casa em Palm Springs no dia anterior ao casamento, a fim de que quaisquer repórteres inquisitivos que suspeitassem do evento pensassem que a cerimônia ocorreria lá. Na verdade, planejávamos levantar antes do amanhecer no dia do casamento e voar de Palm Springs para Las Vegas, onde passaríamos pelo cartório às sete horas da manhã, a fim de pegar a licença para o casamento. De lá seguiríamos imediatamente para o Aladdin Hotel. Ali trocaríamos de roupa, faríamos uma pequena cerimônia na suíte do proprietário do hotel e depois - era o que esperávamos - deixaríamos a cidade antes que a notícia se espalhasse. O tempo era essencial. Sabíamos que a notícia se espalharia pelo mundo assim que solicitássemos a licença para o casamento. Foi justamente o que aconteceu. Poucas horas depois de obtermos a licença, o escritório de Rona Barret começou a telefonar para indagar se os rumores sobre o casamento eram verdadeiros. Elvis e eu seguimos o plano do coronel, mas enquanto corríamos de um lado para o outro, durante o dia, não pudemos deixar de pensar que nos daríamos mais tempo se tivéssemos de fazer tudo de novo. Ficamos particularmente aborrecidos pela maneira como nossos amigos e parentes acabaram sendo afastados.

O coronel até disse a alguns dos rapazes que a sala era muito pequena para caber a maioria e suas esposas e não havia tempo de mudar para uma sala maior. Infelizmente já era tarde demais para mudar qualquer coisa quando Elvis descobriu. Agora, recordo às vezes a confusão daquela semana e me pergunto como foi possível que as coisas escapassem inteiramente ao nosso controle. Eu gostaria de ter tido a força para declarar na ocasião: "Vamos com calma. Este é o nosso casamento, com ou sem fãs, com ou sem imprensa. Vamos convidar quem quisermos e realizá-lo onde quisermos!". A impressão foi de que a cerimônia acabou um instante depois de começar. Fizemos as promessas. Éramos agora marido e mulher. Lembro dos flashes espocando, os parabéns de papai, as lágrimas de felicidade de mamãe. Eu daria qualquer coisa por um momento a sós com meu marido. Mas fomos imediatamente levados para uma sessão fotográfica, depois a uma entrevista coletiva e finalmente a uma recepção, com mais fotógrafos. Sra. Elvis Presley. Era diferente, soava muito melhor do que os rótulos anteriores, como "companheira constante", "namorada adolescente", "Lolita de plantão", "amante". Pela primeira vez, eu era aceita por todos os nossos conhecidos e pela maioria do público. Havia exceções, é claro - as que acalentavam alguma esperança de que um dia poderiam conquistar Elvis. Eu não podia compreender isso na ocasião. Estava apaixonada e imaginava que todas seriam felizes por nós. Senti-me orgulhosa quando li nos jornais que eu fora o segredo mais bem guardado de Hollywood; era maravilhoso ser reconhecida. Estavam encerrados os anos de dúvida e insegurança, sem saber se eu pertencia e a que lugar.

A noite de núpcias - Eu estava ao mesmo tempo exausta e aliviada quando finalmente voltamos a Palm Springs, no Learjet de Frank Sinatra, o Christina. Havia mais fotógrafos e repórteres à nossa espera quando desembarcamos e outros se postavam diante de nossa casa. Fiquei surpresa ao constatar que Elvis estava se comportando muito bem, levando em consideração o nervosismo que demonstrara por aquele compromisso supremo. Contudo, ele foi simpático com a imprensa e enfrentou tranqüilo os intermináveis pedidos de poses dos fotógrafos, algo que normalmente só podia suportar por curtos períodos. Além de todo o resto, não dormíamos há quase 48 horas. À sua maneira, Elvis estava determinado a fazer com que o dia do casamento fosse especial para nós. Ele gracejou com Joe Esposito, indagando: "É assim que se faz?". Ele carregou-me no colo pelo limiar da casa, cantando "Hawaiian Wedding Song". Parou e deu-me um beijo longo e apaixonado, depois subiu a escada e levou-me para o quarto, com toda a turma rindo e aplaudindo. Ainda era dia e o sol brilhava forte pelas janelas do quarto quando Elvis colocou-me no meio da cama enorme, com extremo cuidado. Tenho a impressão de que ele realmente não sabia realmente o que fazer comigo. Afinal, Elvis me protegera e salvara por muito tempo. Estava agora compreensivelmente hesitante em consumar todas as promessas sobre a excelência daquele momento.

Recordando agora não posso deixar de rir ao pensar como nós dois estávamos nervosos. Poder-se-ia até imaginar que era a primeira vez que ficávamos juntos em circunstâncias tão íntimas. Gentilmente, os lábios de Elvis se encontraram com os meus. Depois, ele fitou-me fundo nos olhos e disse, a voz suave, enquanto me puxava contra o seu corpo: "Minha esposa...amo você, Cilla..." Ele cobriu meu corpo com o seu. A intensidade da emoção que eu experimentava era eletrizante. O desejo e a intensidade que haviam se acumulado em mim ao longo dos anos explodiram num frenesi de paixão. Ele teria imaginado como seria para mim? Planejara durante todo o tempo? Jamais saberei. Mas sei com certeza que, ao passar de moça para mulher, toda a longa, romântica e ao mesmo tempo frustrante aventura que Elvis e eu partilháramos parecia ter valido a pena. Tão antiquado quanto isso possa parecer, éramos agora um só. Era algo especial. Ele fez com que fosse especial, como acontecia com qualquer coisa de que se orgulhasse. Tudo foi muito especial naquela noite.

Priscilla Presley, no livro "Elvis e Eu"

Elvis Presley - As Lembranças de Ann-Margret

Em pessoa, você não pode chamá-la de Sra. Ann-Margret mas apenas Ann-Margret. Ela não gosta de ser chamada de senhora, pois lhe dá uma sensação de respeito, só dado a pessoas mais velhas, em sua opinião. E ela não quer esse tipo de tratamento. E mesmo agora, aos 70 anos, ela quer ser apenas a boa menina do passado.

"Não é interessante como nós definimos esses padrões impossíveis para nós mesmos?" ela pergunta servindo o chá na sua sala de estar em sua casa localizada no Benedict Canyon, com a voz um tanto sussurrada. "Eu sempre tentei ser a menina perfeita. Sempre tentei ter boas maneiras, ser educada até nos menores detalhes. Nunca quis desagradar meus pais." Ela ri um pouco quando diz isso.

Então, com os olhos azuis de tonalidade lavanda, olhando diretamente através de você, ela acrescenta: "Quero dizer, você está crescendo mas quer manter sua boa imagem de quando era jovem e inocente"

Ann-Margret teve sua cota de dificuldades, começando com sua estréia no cinema em 1961 em "Dama por Um Dia", em que ela sobreviveu ao contracenar com a exigente Bette Davis até o dia em que finalmente conheceu o reconhecimento da crítica em "Ânsia de Amar", em 1971. Nesse meio termo desenvolveu um sério problema de dependência de pílulas prescritas e álcool, algo que segundo suas próprias palavras a impedia de "separar a fantasia da realidade". Só conseguiu superar esse drama após se recuperar de um grave acidente que sofreu em Lake Tahoe quando ao esquiar caiu de uma altura considerável, quebrando praticamente todos os ossos de seu rosto. Após isso resolveu retomar os rumos de sua vida. Nada mais de bebidas ou drogas.

Com a publicação de seu livro de memórias, "Ann-Margret: My Story" ela pretende reavaliar fatos de sua vida, inclusive suas decepções amorosas como o complicado romance que manteve com Elvis Presley, um relacionamento que durou 14 anos segundo ela, só terminando definitivamente com a morte do cantor em 1977.

Elvis (ou EP, como ela gosta de chamar) sempre enviava a ela arranjos de flores em forma de guitarra, sempre que a sueca estava estreando algum show, programa ou filme. Essas gentilezas de Elvis prosseguiram com os anos, mesmo após ela se casar com o ator Roger Smith. Eles se conheceram e se apaixonaram enquanto estavam filmando "Amor à Toda Velocidade" em Las Vegas. Elvis lhe deu uma cama toda cor-de-rosa, tamanho king-size. Anos depois Ann levou o presente para seu apartamento em Beverly Hills, onde está até hoje. "Elvis gostava de brincar de se esconder de seus seguranças, então ia para minha casa onde se divertia muito ao saber que todos estavam atrás dele". Então eu dizia: "Ligue para eles ao menos" - e Elvis me respondia: "Não, deixem que fiquem loucos, chamem a polícia, nesse dia eu vou me divertir como nunca. Estou muito bem aqui mesmo!" - Ann ri muito quando se lembra disso. "Meu marido sabia que a cama havia sido um presente de Elvis mas eu sempre deixei claro que nunca iria vendê-la". E assim foi.

Sobre a biografia Ann explica: "Eu não queria escrever sobre essas coisas mas depois pensei que seria muito bom reavaliar toda a minha vida". O acordo foi mais do que satisfatório e ela recebeu um bom cachê para revelar seus segredos mais íntimos, cem mil dólares. "Antes de escrever o livro falei com meu marido, minha mãe e outras pessoas próximas, para saber se não haveria problemas. Todos disseram que estava tudo bem".

Ann-Margret não faz revelações escandalosas em seu livro. Seus atos mais ousados são considerados pueris para os padrões atuais. Margret acha que andar de moto a alta velocidade pelas ruelas de Los Angeles é algo revelador de sua rebeldia. Será mesmo? O livro é tímido se formos comparar com a história de outras celebridades.

Talvez o maior interesse venha de suas lembranças com Elvis. De certa forma ambos pareciam reflexos de uma mesma pessoa no espelho. "Assim que me encontrei com Elvis senti algo muito forte, uma eletricidade, algo fora do comum. Éramos jovens, estávamos no cinema e tínhamos gostos parecidos. Mas ele era também uma força que ninguém poderia controlar. Ele nunca mencionou Priscilla enquanto estávamos juntos nas filmagens. Só depois que ouvi alguns rumores que ele tinha uma namorada em Memphis, uma garota que ele conheceu na Alemanha mas eu não sabia de nada, nem seu nome!"

Ann continua: "O que importava era que ele estava aqui. Foi paixão à primeira vista. Ele gostava de estar em um set de filmagem. Achava tudo maravilhoso, a equipe técnica, as filmagens. Seu maior sonho era ser ator de cinema, ele me disse isso muitas vezes. Eu estava apaixonada mas conforme o filme foi chegando ao fim também fui percebendo que ele foi ficando mais distante. Soube anos depois que sua namorada, a Priscilla, tinha ficado sabendo de nosso namoro e que havia jogado um vaso de flores na parede quando soube de tudo! Ela tinha uma personalidade muito forte. Ele ficou com receios de perder ela e depois de um tempo se decidiu por ficar com Priscilla! Elvis nunca chegou para mim e disse que estava acabado ou que teríamos que dar um tempo, ele simplesmente sumiu sem dar maiores explicações. Depois de tempos em tempos me enviava flores como eu disse. Mas nunca mais passou disso".

Apesar de tudo Ann-Margret parece satisfeita com tudo. Ela é educada, com modos de uma senhora fina e elegante. Gosta de sempre se vestir de rosa, sua cor preferida. O dia está quente mas ela não abre mão de estar muito bem trajada. Ela também usa um anel de diamantes que chama a atenção. Brincos de ouro branco também formam um belo quadro. Seu perfume é marcante e seu batom segue a tonalidade de suas roupas, também rosa. O efeito de tudo isso é muito interessante, elegância e charme em um mesmo conjunto.

Sentada em um sofá floral ela vai relembrando os anos passados. Recebe muito bem as pessoas em sua casa, mandando a empregada servir chá em xícaras de porcelana de aros dourados. Sua sala de estar é mobiliada com um piano de cauda branco (teria alguma ligação com Elvis?) e o visitante tem uma bela vista de toda Los Angeles logo abaixo. Há um belo lustre de cristal sobre nós e flores de seda por todo o ambiente. Na mesa do café há peças de cristal suficientes para ela abrir sua própria franquia Lalique. Ela adora gatos de cristal, que estão em toda parte pela sala.

Ela parece descontente. Percebe que anoto tudo o que vejo. De repente diz: "Há muitas coisas sobre a mesa", e em seguida, remove as taças de cristal e gatinhos e os leva para outra sala. Ela se senta novamente, mas depois decide que a iluminação no meio da tarde não é muito boa para a decoração. Seus saltos clatter fazem barulho contra o piso de madeira, e ela brinca com o painel de luz do corredor.

Sua casa também tem muitos quadros bonitos. Em uma das paredes da sala, há um enorme do casamento de seus pais, Gustav e Anna Olsson. Ela também mandou emoldurar todas as capas de revistas em que apareceu durante todos esses anos. Curiosamente não há nenhuma foto de Elvis por perto. O único quadro de um rei a surgir em sua casa é a do Rei e da Rainha da Suécia. Nada da majestade Elvis Presley!

Artigo publicado no jornal L.A.T.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Elvis Presley - Biografia, 1956 - Parte 1

8 de janeiro - Elvis celebra seu aniversário de 21 anos de idade ao lado de sua mãe Gladys. Ele havia acabado de assinar com a gravadora RCA Victor que tinha grandes planos para o jovem artista. Com o dinheiro do novo contrato Elvis planejava comprar uma nova casa para a família.

10 e 11 de janeiro - Elvis viaja até Nashville para suas primeiras gravações na nova gravadora. Seu produtor passa a ser Steve Sholes. Nessa primeira sessão na RCA Elvis grava as seguintes músicas: I Got a Woman, Heartbreak Hotel, Money Honey, I'm Counting on You e I Was The One.

20 de janeiro - A RCA Victor não perde tempo e lança o primeiro single (compacto simples) de Elvis Presley no mercado. É o primeiro disco do cantor com o selo da nova gravadora. O single vem com as canções Heartbreak Hotel e I Was The One (no lado B) e se torna um grande sucesso de vendas, chegando ao primeiro lugar nas paradas, em especial da Billboard, a mais importante dos Estados Unidos. É o primeiro sucesso nacional de Elvis que assina a composição, embora não a tenha composto de fato. Uma letra estranha, um desabafo de um homem solitário, inspirada em um bilhete de um suicida. Apesar do tema sombrio acabou virando um grande hit. Como parte da promoção da nova canção a RCA escala Elvis para aparecer em programas de TV.

30 e 31 de janeiro - A RCA Victor tem planos de colocar no mercado um álbum (LP) de Elvis Presley, mas não tem músicas suficientes para tanto. Assim Elvis viaja até Nova Iorque para a gravações de novas faixas. Nessa sessão em NYC ele grava as seguintes músicas: Blue Suede Shoes, My Baby Left Me, One-Sided Love Affair, So Glad You're Mine, I'm Gonna Sit Right Down and Cry e Tutti Frutti. Nessa mesma ocasião Elvis participa de programas de TV de grande sucesso de audiência, o que eleva e muito sua popularidade por todo o país.

3 de fevereiro - A RCA quer mais músicas gravadas por Elvis em estúdio. Assim ele participa de mais uma sessão em Nova Iorque onde grava apenas duas músicas: Lawdy Miss Clawdy e Shake Rattle and Roll. Essas duas músicas, ótimas por sinal, deveriam fazer parte do primeiro álbum de Elvis pela RCA que seria lançado no mês seguinte, mas curiosamente foram arquivadas pela gravadora, só chegando no mercado anos depois no disco "For LP Fans Only".

Pablo Aluísio.