terça-feira, 11 de março de 2008

Diocleciano, o Assassino de Cristãos

Os séculos III e IV foram particularmente caóticos para o Império Romano. Não havia uma linha de sucessão clara para a subida dos imperadores ao trono e assim a lei do mais forte prevaleceu. Nessa época histórica aquele que tivesse o melhor exército subiria ao trono pela força bruta. Isso deu origem a uma série de imperadores generais, entre eles o sanguinário Diocleciano. Ao subir ao trono o novo imperador percebeu que não tinha força suficiente para dominar completamente o vasto império Romano. Assim resolveu dividir o império entre quatro outros generais, dando origem a uma tetrarquia (um governo de quatro imperadores). Dentre eles Diocleciano foi escolhido para ser o Autocrata Supremo, o líder máximo, cuja opinião iria sempre prevalecer sobre os demais.

General habilidoso no campo de batalha esse novo imperador não tinha muita paciência ou diplomacia para lidar adequadamente com os assuntos de Estado. Assim muitas vezes resolvia os problemas administrativos e sociais da mesma forma que agia no campo de batalha: matando e passando no fio da espada todos os que se atrevessem a cruzar seu caminho. Ele promoveu reformas tributárias e procurou reorganizar o caos que reinava em muitas províncias romanas. Em 303 Diocleciano determinou que aquela estranha religião chamada cristianismo deveria ser varrida dos territórios de Roma. Implantou pena de morte para quem seguisse esse Cristo, um Deus proveniente da Judeia. Para Diocleciano uma das razões da decadência do Império era justamente o abandono por parte dos romanos dos antigos rituais em honra aos seus deuses, como Marte, o deus da guerra e Baco, o deus do vinho. Os templos começavam a ficar vazios pois a cada ano aumentava o número de seguidores do Cristo dentro da própria Roma. Para Diocleciano a morte de cristãos iria inibir novas conversões.

Assim de 303 a 311 houve assassinatos em massa de comunidades cristãs pelo império. Para dar o exemplo o imperador ordenou aos seus generais que as penas fossem cumpridas com extrema brutalidade. Torturas e execuções em massa fizeram com que o chão do império ficasse impregnado do sangue dos mártires cristãos. Segundo historiadores a fúria de Diocleciano deu origem a mais sangrenta perseguição aos cristãos da história - nada poderia ser comparado ao número de mortes promovidas pelo general imperador, nem mesmo Nero que se notabilizou por tantas mortes poderia ser comparado a ele nesse aspecto. Para chocar ainda mais os adeptos da nova religião o imperador ordenou que todos os cristãos fossem crucificados tais como o seu mestre judeu. Cruzes podiam ser vistas por todas as estradas imperiais.

A morte não foi apenas a única pena aplicada. Lugares que eram usados para cultos, chamados de igrejas pelos seguidores do Cristo, foram destruídos e queimados. Qualquer funcionário do Império que fosse descoberto cristão perdia imediatamente seu cargo e sua vida. Relíquias e objetos tais como cruzes ou qualquer outro sinal que lembrasse o Cristo judeu era destruído e seus donos penalizados brutalmente. O que Diocleciano não contava era que sua perseguição acabaria criando um efeito contrário ao que ele planejava. Ao invés de diminuir o número de cristãos aconteceu justamente o oposto - a coragem dos mártires acabou inspirando milhares de romanos a também seguirem a nova fé. Em pouco tempo o número de cristãos em Roma duplicou e depois triplicou! Diocleciano ficou chocado com essa situação.

Para piorar ainda mais a situação o próprio governo do imperador começou a ruir. A tetrarquia foi desfeita, as fronteiras do império invadidas e o exército romano já bastante cristianizado começou a sofrer de indisciplina e desordem em suas fileiras. O imperador começou a ser visto como um assassino cruel e sanguinário. A inflação se tornou crônica e a economia imperial entrou em colapso. O imperador acabou morrendo na distante Croácia, em pleno campo de batalha, aos 66 anos de idade, enquanto Roma passava por graves e conturbadas convulsões sociais. Ele que havia governado pela espada, também morreria por causa dela! Anos depois de sua morte os cristãos decidiram erguer uma Igreja em cima de sua tumba em Split na Croácia. A nova catedral foi construída em honra de São Domingos. Um monumento cristão sobre os despojos de um Imperador que passou para a história como um dos maiores assassinos de cristãos da Roma Antiga. O Cristianismo assim triunfava sobre a antiga religião pagã e seu imperador homicida.

Pablo Aluísio.

Cleópatra: Origens

A Rainha do Egito, mesmo após tantos séculos de sua morte, ainda desperta paixões! E isso nada tem a ver com Roma ou com a morte de César, mas sim com sua aparência pessoal. É curioso porque na antiguidade isso não era tão vital, porém atualmente, para se provar seu ponto de vista, isso acaba se tornando crucial! Recentemente vi em uma rede social uma extensa polêmica envolvendo a cor da pele da Rainha do Egito Cleópatra.

Teria sido ela uma mulher negra ou branca? Na verdade a resposta a essa pergunta é bem mais simples do que parece. Basta descobrir de onde vinha a linhagem nobre da família de Cleópatra, de onde ela descendia geneticamente, quem eram seus pais e avôs. Cleópatra na verdade pertencia à dinastia dos Ptolomeus. O que isso significa exatamente? Significa que ela tinha origem genética grega, pois a família dos Ptolomeus não era originária do Egito, como os antigos faraós das dinastias do passado, mas sim de invasores gregos que dominavam o Egito desde os tempos de Alexandre, o Grande.

Ptolomeu foi o general de Alexandre, o Grande, que herdou o Egito depois da morte do grande conquistador. Uma vez instalado lá ele deu origem a uma linhagem de descendentes que ficaram no poder por séculos no Egito. Essa linha nobre passou a se chamar dinastia dos Ptolomeus, os filhos, netos, bisnetos e as gerações que sucederam, todas provenientes inicialmente desse grande general grego. Cleópatra era uma de suas descendentes. Um fato que reforça ainda mais a tese de que ela era uma europeia branca é que os membros dessa dinastia jamais se casavam com pessoas fora de sua família, tudo para manter o poder entre eles mesmos. Primos casavam com primos, tios com sobrinhas e até irmãos com irmãs! Para um Ptolomeu o mais importante era manter o trono do Egito dentro dos laços familiares, fosse qual fosse o preço a se pagar por isso.

Assim a Rainha Cleópatra era realmente branca e não negra como alguns defendem. Outro aspecto digno de nota é que em nenhum representação antiga da Rainha que conseguiu sobreviver ao tempo ela aparece representada como uma mulher negra, pelo contrário. Sua esfinge é claramente a de uma mulher branca, inclusive com o nariz tão característico dos membros descendentes de Ptolomeu. Assim a dúvida fica historicamente devidamente sanada. Todos os quadros, pinturas e até mesmo representações de Hollywood, com a rainha sendo interpretada pela atriz Elizabeth Taylor, por exemplo, não estão errados do ponto de vista histórico. Ela era realmente branca, de descendência grega e europeia.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 10 de março de 2008

O Lado Negro da Revolução Francesa

Embora a Revolução Francesa tenha deixado um legado histórico importante para a humanidade, com todos os seus princípios e valores jurídicos e humanistas, o fato é que houve sim um lado sombrio naqueles acontecimentos. A brutalidade, a barbárie e a violência imperaram de uma forma injustificável. A revolução francesa provou, entre outras coisas, que as massas sem controle se comportam como assassinas e cruéis.

A crueldade estava em todos os lugares, em todas as partes mais remotas do país. Pessoas eram sumariamente mortas apenas por terem alguma ligação com a nobreza. Mesmo se tivessem isso jamais justificaria a matança de pessoas inocentes. A revolução não distinguia entre crianças, mulheres e idosos. Todos eram assassinados. Isso pode ser constatado pela própria família real. Não apenas o rei Luís XVI foi guilhotinado, mas também a rainha Maria Antonieta. O pequeno herdeiro, o Delfim, teve destino desconhecido, mas historiadores concordam que ele foi deixado numa cena imunda para morrer de frio, fome e doenças. Era um garotinho. Matar uma criança como ele foi um ato ignóbil.

Pessoas idosas também não escaparam da guilhotina. A cabeça dos nobres, de padres e de qualquer um que fosse considerado contra a revolução eram penduradas em lanças ou expostas pela ruas de Paris. Muitas cabeças ficavam nos postes apodrecendo enquanto abutres se alimentavam delas. Houve também saques a túmulos. Os reis franceses que foram enterrados na capela de St. Denis ao longo de séculos tiveram seus túmulos profanados. Seus restos mortais, depois da pilhagem, foram jogados em um pântano próximo. Roubaram os artefatos que estavam nos caixões como anéis, medalhas, etc. Uma coisa horrorosa. O aspecto histórico foi completamente ignorado por uma massa de pessoas sem qualquer cultura ou formação educacional.

O mais temível nisso tudo é que depois de um tempo a revolução começou a se auto destruir. Os próprios revolucionários passaram a se acusar, tais como fanáticos sem freios. Danton e Roberspierre foram para a guilhotina, acusados de traidores e infames, mesmo que as provas fossem precárias. O período do terror demonstrou sem meias verdades a insanidade da revolução francesa. Um período violento e estúpido na história da França.

A Revolução Francesa foi especialmente cruel com a rainha Maria Antonieta. Como ela era austríaca de nascimento criou-se toda uma onda de xenofobia em torno dela, algo que foi aumentando e aumentando, muito por causa do ressentimento das roupas caras e finas que a rainha usava em seu auge na corte. Quando a revolução explodiu o ódio também saiu do controle. A própria rainha se viu cercada por mulheres em seu palácio. Elas com facões ameaçavam a vida da rainha e de seu filho. Todos os tipos de rancores movidas por classes sociais explodiram ali.

Quando a rainha foi presa seus direitos humanos foram flagrantemente violados - os mesmos direitos humanos que os revolucionários diziam defender. A rainha foi jogada em uma masmorra medieval úmida, sem as mínimas condições de higiene. Banhos e roupas limpas lhes foram negados. A comida era pouca para a própria sobrevivência.

Depois da morte do marido, o rei Luís XVI, os revolucionários franceses continuaram com seus atos de pura violência física e mental contra a rainha. Seu filho lhe foi retirado da cela, para morrer em outra cela de causas até hoje mal explicadas. Muitos historiadores afirmam que os revolucionários deixaram que ele morresse de fome, frio e doenças por causa da cela insalubre onde foi jogado. Os poucos pertences que ainda continuavam com a rainha foram roubados pelos carcereiros, entre eles um pequeno relógio que havia sido dado a ela por sua mãe, a imperatriz Maria Theresa. Maria Antonieta começou a apresentar sinais de uma grave enfermidade, onde hemorragias constantes aumentavam a cada dia. Os revolucionários negaram a ela atendimento médico e até o uso de panos para conter e limpar o sangue. Direitos humanos respeitados? Não pelos revolucionários que diziam defender essa bandeira.

Assim cai por terra muitas das falácias de que os revolucionários franceses eram pessoas ilustradas que defendiam a liberdade e os direitos humanos. Eles foram muito mais movidos pelo ódio contra a monarquia e o clero do que qualquer outra coisa. Não conseguiam respeitar nem Maria Antonieta, a rainha, em sua condição de mulher, esposa e mãe. Mataram milhares de pessoas sem julgamento justo, em praça pública, movidos apenas por ódio, histeria e gritaria. Os revolucionários assim agiam como verdades bárbaros e inescrupulosos. Coisas que eles realmente eram.

Pablo Aluísio.

Livros sobre a Rainha Maria Antonieta

Aqui vai uma dica de leitura para quem gosta de história, um livro que li recentemente e de que gostei bastante. Trata-se da biografia da Rainha Maria Antonieta escrita por Zweig Stefan. Não é um livro novo e nem recente. Na verdade a primeira edição foi lançada em 1932. O tempo porém só lhe fez bem. O estilo de escrita de Zweig Stefan é um primor, uma verdadeira aula de como se deve escrever uma biografia de forma interessante, prazerosa, que capture a atenção da primeira à última página. Aqui o autor leva seu leitor para dentro da vida da Rainha, é como se estivéssemos nos aposentos reais do Palácio de Versalhes. Não se trata de um tratado de história, com inúmeras referências a cada página, o que tornaria a leitura pesada e muitas vezes chata. Nada disso. É escrito em estilo de romance, com a diferença de que não se trata de mera ficção, mas de algo que realmente aconteceu.

A protagonista é essa arquiduquesa austríaca, da dinastia dos Habsburgs, que é dada em casamento ao Delfim da França, um garoto que iria no futuro se tornar o Rei Luís XVI. Filha da imperatriz Maria Teresa da Áustria, Maria Antonieta sabia bem que ela e suas irmãs estavam destinadas a terem um casamento arranjado, pois era tradição na casa de Habsburg esse tipo de situação. As arquiduquesas eram criadas para se tornarem esposas de monarcas e nobres por toda a Europa, consolidando assim uma política de alianças por todo o continente. Aliás a primeira imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina, que era inclusive sobrinha neta de Maria Antonieta, teve o mesmo destino, vindo a se casar com Dom Pedro I. 

Na França Maria Antonieta se deu conta que sua vida não seria muito fácil. Seu casamento demorou a se consumar, por causa da hesitação do príncipe. Com a morte de Luís XV, ela e seu marido subiram ao trono muito jovens, sem experiência para lidar com as transformações que estavam acontecendo dentro da França. A obsessão da Rainha pelo luxo e extravagância, com vestidos e penteados absurdos também não ajudou em nada. Enquanto o povo francês sofria na fome e na miséria, a corte de Versalhes desfilava riqueza, em situações que de certa maneira afrontava o próprio povo que sustentava a monarquia.

O resultado dessa situação todos sabemos. A Revolução Francesa eclodiu e o absolutismo monárquico europeu sofreu o primeiro grande golpe de sua história. Não é um livro de final feliz, ainda mais porque Zweig Stefan cria uma simpatia do leitor com a Rainha, mesmo com todos os erros que ela cometeu. O livro também demonstra que uma campanha de calúnia e difamação se espalhou pelo reino, divulgando mentiras e boatos maldosos sobre o comportamento da Rainha, que não era tão má pessoa como faziam parecer os revolucionários. No final de tudo é um livro tão bom que dá vontade de reler assim que chegamos ao final. E para quem gosta de curiosidades aqui vai uma informação final mais que interessante: o escritor Zweig Stefan, que assim como Maria Antonieta, era austríaco de nascimento, passou seus últimos anos de vida no Brasil. Ele tinha origem judaica e por essa razão precisou ir embora da Europa quando o nazismo começou a tomar de assalto os países europeus. Acabou morrendo em Petrópolis, aos 60 anos de idade.
  
Nesses últimos dias terminei de ler o livro "Rainha da moda: Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução". A autora Caroline Weber se propôs a escrever uma biografia diferente da rainha da França. Ao invés de focar apenas nos eventos históricos propriamente ditos, ela procurou mostrar como a moda de Maria Antonieta, seus vestidos, seus penteados e roupas magníficas influenciaram nos eventos políticos que deram origem à revolução francesa. É uma boa ideia, certamente interessará aos estudiosos de moda e costumes, tudo na mais perfeita ordem.

A questão porém é que em termos de história o livro também se desnuda muito superficial. Claro que o vestuário em termos de Maria Antonieta ganha ares de profunda importância em sua história, porém a rainha também não se resumiu a apenas isso. Alguns momentos marcantes da vida da monarca por essa razão passam quase em brancas nuvens.

Isso fica bem claro nos momentos finais antes de Maria Antonieta ser levada à guilhotina ou então em seu julgamento. Tudo é visto pela autora de maneira muito superficial e raso. Eu apenas bato palmas para a coragem de Caroline Weber em se lançar na elaboração de um livro sob esse enfoque. A revolução francesa foi tão brutal que nenhum vestido de Maria Antonieta sobreviveu aos séculos. Tudo foi roubado ou destruído pelos revolucionários. O que sobrou do luxo de sua vida está nas pinturas, nos retratos que mostram os vestidos mais marcantes da rainha ou seus penteados ao estilo poof, também reproduzidos em pequenas aquarelas ou gravuras que eram vendidas em Paris.

O pano original, o tecido real, tudo foi perdido. De Maria Antonieta sobraram apenas algumas espartilhas, pequenos sapatinhos, etc. Assim fazer um filme sobre a moda da época sem ter o objeto de estudo em mãos já é pelo menos um ato de coragem da escritora. No final de tudo o que poderia recomendar em termos de literatura é mesmo o maravilhoso livro escrito por Zweig Stefan. Essa sim é uma obra espetacular. Já esse "Rainha da Moda" serviria apenas como um complemento de luxo ao livro principal. Faça essa dobradinha literária que será bem agradável.

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de março de 2008

Ludwig van Beethoven - Verdades e Mentiras

Com que idade  Beethoven começou a ficar surdo?
Os biógrafos não conseguiram chegar a uma idade certa pois o compositor escondia seus problemas de saúde. O que se pode dizer com certeza é que ele começou a apresentar os primeiros sintomas de surdez antes dos 30 anos de idade, uma vez que existe uma carta escrita por ele a um amigo em que relata seu problema. Ele tinha 27 anos quando escreveu essa carta.

Beethoven continuou a compor depois de surdo?
Uma das maiores provas de sua genialidade vem do fato de que o maestro continuou a criar suas sinfonias mesmo após ficar surdo. Ele tinha tal domínio em escrever partituras que o som havia se tornado um mero detalhe, dispensável. Quando começou a ficar surdo o mestre ainda tentou colocar os ouvidos na tampa de madeira do piano para sentir as vibrações, mas depois dispensou essa ajuda. O fato impressionante é que ele nunca chegou a ouvir algumas de suas maiores criações musicais!

Beethoven foi um musico pobre?
Como todo gênio musical de seu tempo, Beethoven também passou por dificuldades financeiras. Em várias de suas cartas que sobreviveram ao tempo ele confessa seus problemas com dinheiro, chegando ao ponto de pedir alguma ajuda a amigos para pagar seu aluguel. Além disso ele cuidava de dois irmãos que viviam desempregados. Vindos de uma família pobre e desestruturada, não havia nenhum tipo de suporte financeiro para ele que tinha que literalmente ganhar a vida dando aulas de piano em seu pequeno quartinho em Viena. Foi uma vida dura nesse aspecto. E assim como Mozart ele também morreu pobre, sendo enterrado em um túmulo simples.

Beethoven admirava Napoleão Bonaparte?
Um aspecto curioso sobre Beethoven é que ele tinha uma admiração pelo imperador francês, mas tinha que esconder isso de todos. Acontece que seus principais financiadores eram membros da realeza europeia, do antigo regime, absolutistas em sua maioria. Napoleão era considerado a escória por esses reis, princesas e rainhas. Para ele era melhor ficar de boca fechada sobre suas inclinações políticas.

Como era a personalidade de Beethoven? 
Ele era uma pessoa conhecida por seu mau humor. Seu local de trabalho era sempre desorganizado, com partituras musicais por todos os lados. Também vivia resmungando e criticando as pessoas ao redor. Suas explosões de raiva e fúria também eram bem conhecidas de amigos, familiares, etc. Curiosamente não era um homem vaidoso como muitos outros compositores de sua época. Geralmente se vestia mal e nunca penteava seus cabelos que estavam sempre longos demais para as cortes cheias de nobres de sangue azul que frequentava. Era por isso muitas vezes considerado um gênio excêntrico.

Como Ludwig van Beethoven via Mozart? 
Ele chegou a conhecer Mozart pessoalmente, quando ainda era jovem. Com os anos passou a ser comparado com Mozart, comparação essa que o irritava profundamente. Mozart era um gênio absoluto em sua opinião e muitas vezes se via dizendo que apenas Mozart poderia tocar determinada  peça musical ao piano. Como de certa forma se sentia inferiorizado a Mozart demorou muito mais do que o esperado para compor sua primeira sinfonia, pois tinha receios de ser comparado ao grande músico austríaco. No final de sua vida chegou a dizer: "Nenhum músico será tão grandioso como Mozart"

Pablo Aluísio.

Augusto

Quando Jesus Cristo nasceu o imperador que reinava em Roma era Augusto, o divino! Claro que na realidade ele não era divino coisa nenhuma, porém Augusto foi considerado um administrador tão capaz do Império que acabou sendo aclamado como uma divindade, com direito a um lugar no panteão romano dos deuses, algo que era aceito naturalmente dentro da religião politeísta do povo romano. O próprio título que lhe foi atribuído, Augusto, significava justamente isso, o de um ser humano que ao morrer se tornou um Deus glorioso!

O mais interessante é que Augusto foi de certa maneira um imperador improvável. Ele era um patrício de família nobre, mas nada em sua infância e juventude poderia antecipar que um dia ele se tornaria um imperador romano com tanto poder! Na realidade quando nasceu Caio Otávio (seu nome real) nem sequer existiam imperadores em Roma, já que seu nascimento se deu na fase da República romana. Sua única ligação com o poder era o fato de ser o sobrinho do grande general, orador e político Júlio César. Amado pelos seus soldados e pela plebe (a grande massa empobrecida do império), Júlio César acabou centralizando praticamente todo o poder de uma Roma em seu auge. Quando se deu conta ele praticamente havia se tornado um verdadeiro rei - algo que dava arrepios no senado romano. Assim para conter sua sede de poder ele acabou sendo morto brutalmente por senadores que o esfaquearam em pleno senado nos idos de março.

A morte de Júlio César mudou a vida de Otávio para sempre. Poucos sabiam, mas ele acabou sendo nomeado o herdeiro de César em seu testamento, o que significava que ele herdaria todos os seus bens e também seu legado político. Depois de um período realmente conturbado - onde um triunvirato subiu ao poder, sendo Otávio um de seus vértices - ele finalmente se acomodou no trono em Roma, se tornando não um rei, mas sim um imperador, um novo título que iria dominar a política romana nos séculos seguintes.

Sob um ponto de vista histórico Augusto foi um bom imperador. Ele reorganizou o Estado romano, criou instrumentos para equilibrar as finanças, organizar o exército e preservar as vastas fronteiras de um Império que dominava praticamente todo o mundo ocidental conhecido. Ao cessar as invasões a povos vizinhos de Roma ele conseguiu implantar um momento histórico de paz e prosperidade em Roma. A "pax romana" significava justamente isso: havia pela primeira vez em séculos um período de paz absoluta dentro das fronteiras romanas. Uma de suas maiores satisfações foi justamente fechar as portas do templo de Marte (o Deus da guerra) em Roma, um gesto que significava que todo o império se encontrava em paz, sem guerras e nem matanças de povos inimigos.

Augusto viveu muito para um homem da antiguidade, mais de 75 anos de idade. Ele era magro, tinha hábitos moderados, comia pouco, trabalhava muito e procurava administrar toda a máquina estatal romana com honestidade, responsabilidade e justiça, premiando os melhores homens do império por suas qualidades pessoais e competência. Embora Jesus tenha sido provavelmente o maior homem que já andou na face da Terra, o imperador Augusto morreu sem saber de sua existência. Afinal de contas Jesus nasceu numa distante província romana. Além disso quando Augusto morreu o jovem Jesus era apenas um garoto de 14 anos, ainda entrando na sua puberdade.

Aliás para muitos historiadores o único grande fracasso da vida do imperador Augusto foi justamente no campo religioso. Como imperador ele foi alçado ao cargo máximo da religião romana. E ele levou muito à sério essa função, promovendo uma série de leis de moralidade a serem seguidas pelo povo de Roma. Infelizmente suas leis foram desrespeitadas por sua própria filha, Júlia, que promoveu uma orgia em um templo sagrado na cidade eterna. Horrorizado e escandalizado por sua atitude ele a baniu para sempre para uma ilha distante e isolada. Augusto não admitia ser desmoralizado como chefe da religião pagã de Roma. Depois de sua morte todos os seus esforços foram reconhecidos pelo povo de Roma, a ponto de um mês do ano ser renomeado em sua homenagem: o mês de agosto, o mês de Augusto, o Divino.

Curiosidades sobre Augusto
Embora tenha sido considerado um bom imperador, Augusto precisou banhar suas mãos em sangue, muito sangue, como era comum na Roma Antiga. Quando sufocou uma rebelião na Sicília, se viu diante de um exército de escravos. Os que tinham donos foram entregues de volta. Para aqueles que não se sabia a quem pertenciam, ele mandou matar todos. Foram crucificados de uma só vez mais de 6 mil homens de acordo com alguns dados históricos.

Augusto também mandou matar muitos senadores e figuras importantes da história da república romana, entre eles o grande orador e político Cícero. Para que a república morresse e o império surgisse no horizonte em Roma, muitas pessoas importantes da cidade foram assassinadas. Isso de certa maneira mancha a biografia desse imperador, muitas vezes retratado como um homem sensato. Na hora que foi necessário mandar para a morte seus inimigos, Augustus não pensou duas vezes.

Augusto também era considerado um homem de estatura baixa e de composição física frágil. Um dos problemas em sua biografia era a falta de conquistas militares para estampar no fórum de Roma. Ele nunca chegou nem perto de ter um histórico militar de batalhas como seu tio-avô Júlio César. Com isso foi necessário que algumas vitórias de seu general Agripa fossem creditadas como vitórias de Otávio Augusto. Ele poderia ser considerado um líder inteligente e astuto, mas nunca foi um soldado romano de legião.

Historiadores concordam que Augusto só teve dois amigos verdadeiros em vida, o general Agripa, seu amigo desde a infância e o rico mercador Mecenas. Ambos faziam parte da vida privada de Augusto, eram amigos próximos realmente, pessoas com quem ele falava abertamente e sobre todos os assuntos do império. Augusto não gostava e nem confiava em seu enteado Tibério, que iria se tornar o imperador romano com sua morte. Augusto considerava Tibério muito limitado intelectualmente, algo que iria se revelar verdadeiro nos anos seguintes à morte de primeiro imperador.

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de março de 2008

Rainha da Moda: Maria Antonieta

Nesses últimos dias terminei de ler o livro "Rainha da moda: Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução". A autora Caroline Weber se propôs a escrever uma biografia diferente da rainha da França. Ao invés de focar apenas nos eventos históricos propriamente ditos, ela procurou mostrar como a moda de Maria Antonieta, seus vestidos, seus penteados e roupas magníficas influenciaram nos eventos políticos que deram origem à revolução francesa. É uma boa ideia, certamente interessará aos estudiosos de moda e costumes, tudo na mais perfeita ordem.

A questão porém é que em termos de história o livro também se desnuda muito superficial. Claro que o vestuário em termos de Maria Antonieta ganha ares de profunda importância em sua história, porém a rainha também não se resumiu a apenas isso. Alguns momentos marcantes da vida da monarca por essa razão passam quase em brancas nuvens.

Isso fica bem claro nos momentos finais antes de Maria Antonieta ser levada à guilhotina ou então em seu julgamento. Tudo é visto pela autora de maneira muito superficial e raso. Eu apenas bato palmas para a coragem de Caroline Weber em se lançar na elaboração de um livro sob esse enfoque. A revolução francesa foi tão brutal que nenhum vestido de Maria Antonieta sobreviveu aos séculos. Tudo foi roubado ou destruído pelos revolucionários. O que sobrou do luxo de sua vida está nas pinturas, nos retratos que mostram os vestidos mais marcantes da rainha ou seus penteados ao estilo poof, também reproduzidos em pequenas aquarelas ou gravuras que eram vendidas em Paris.

O pano original, o tecido real, tudo foi perdido. De Maria Antonieta sobraram apenas algumas espartilhas, pequenos sapatinhos, etc. Assim fazer um filme sobre a moda da época sem ter o objeto de estudo em mãos já é pelo menos um ato de coragem da escritora. No final de tudo o que poderia recomendar em termos de literatura é mesmo o maravilhoso livro escrito por Zweig Stefan. Essa sim é uma obra espetacular. Já esse "Rainha da Moda" serviria apenas como um complemento de luxo ao livro principal. Faça essa dobradinha literária que será bem agradável.

Pablo Aluísio.

Dom Pedro I: A Guerra em Portugal

Após a independência do Brasil Dom Pedro I foi perdendo cada vez mais popularidade entre o povo brasileiro. Ele dissolveu a constituinte e outorgou sua própria constituição em 1824. Embora tivesse diversos artigos de índole liberal a nova carta magna da nação que nascia também concentrava grande poder nas mãos do imperador através do chamado poder moderador, acima de todos os demais poderes executivo, legislativo e judiciário.

A morte de um jornalista no Rio, um ferrenho crítico do governo de D. Pedro I piorou muito a situação. Assim ele decidiu abdicar ao trono em nome de seu filho D. Pedro II e partiu para Portugal onde uma grave crise na monarquia se instalava. Seu irmão D. Miguel, de índole absolutista havia assumido o trono português. Perseguidor e adepto do absolutismo monárquico mais atrasado, ele havia levado a nação portuguesa ao caos.

D. Pedro I tinha uma visão mais liberal do mundo. Ele inclusive era admirador do imperador Napoleão Bonaparte que naquele período histórico representava justamente a vitória dos ideais de libertação da Revolução Francesa. Pedro não tinha os meios e nem as forças necessárias para vencer o irmão numa guerra civil, mas mesmo assim foi adiante. Ele vendeu grande parte de sua fortuna pessoal e criou um exército para invadir Portugal com a finalidade de tirar seu irmão do trono. Como tinha propostas mais liberais que D. Miguel acabou ganhando apoio de grande parte da população portuguesa.

A primeira cidade conquistada por D. Pedro I foi o Porto. A população local o recebeu de braços abertos. Tão emocionado ele ficou com esse apoio nesse momento tão difícil de sua vida que mandou que após sua morte seu coração fosse levado para a catedral da cidade. D. Miguel tentou vencer D. Pedro ainda no Porto, mas não foi feliz. Depois disso sofreu uma série de derrotas que o levou a fugir de Portugal. Dom Pedro então assumiu por um breve período o torno português como Dom Pedro IV, para logo em seguida abdicar em nome de sua filha, Maria I, que seria a futura rainha de Portugal. A vitória porém lhe custou muito. Dom Pedro contraiu tuberculose no campo de batalha e morreu precocemente no mesmo quarto que havia nascido, décadas antes. Era o fim de uma vida realmente extraordinária.

Pablo Aluísio.