sexta-feira, 1 de abril de 2011

John Fitzgerald Kennedy

Essa semana os Estados Unidos (e o mundo) relembraram os cinquenta anos da morte do presidente americano JFK. Muitos especiais foram passados nos canais a cabo durante os últimos dias. Hoje à noite em particular assisti um muito bom chamado "Os Filmes Perdidos dos Kennedys" que reúne um acervo realmente fabuloso de imagens raras captadas da intimidade da família Kennedy, em especial dos momentos de lazer e diversão quando o clã se reunia numa casa de verão, à beira do mar. O John Kennedy que surge dessas imagens é muito diferente do mito que estamos acostumados a ver em aparições oficiais. O que pode se ver é basicamente um jovem, agindo ainda como um garoto o tempo todo. JFK nada na piscina, joga futebol, faz brincadeiras com suas irmãs e com seu irmão Bob e acima de tudo procura curtir a vida (que ele não sabia, mas seria breve e terminaria numa grande tragédia).

Eu sempre fui de opinião de que JFK só se tornou esse ícone americano por causa da forma como se deu sua morte. Politicamente sempre achei sua presidência muito fraca. Coisas como a crise dos mísseis de Cuba e as violações dos direitos civis de negros no sul dos EUA só ocorreram mesmo porque seus inimigos políticos o consideravam jovem e inexperiente demais para ser presidente da nação mais rica e poderosa do mundo.

O seu lado playboy e mulherengo, cantado em coro e verso por todos esses anos, que muitos associam como uma vantagem, vejo como um sinal de fraqueza. De certa forma Kennedy não se dava ao respeito e não agia de acordo com o cargo que ocupava. Em certo sentido nunca deixou de se comportar como um playboy inconsequente, levando sua presidência muitas vezes à beira do abismo. Seu romance com Marilyn Monroe foi uma vergonha. Quando ela cantou "Happy Birthday" em Nova Iorque foi como se houvesse uma declaração pública e notória dos casos de infidelidade do presidente. Além disso aquele namoro, que para ele nada significou, acabou levando Marilyn para uma rota suicida em sua vida.

Outro dia li um artigo afirmando que a Guerra do Vietnã jamais teria acontecido se JFK tivesse ficado vivo por mais um mandato presidencial. Não penso assim. Ele como presidente já havia ordenado o envio das primeiras tropas americanas ao sudeste asiático. Muito provavelmente teria afundado a nação naquele lamaçal tal como fizeram seus sucessores na Casa Branca. Aqui não está em dúvida a personalidade ou seus ideais mas sim a simples constatação de que independente de quem ocupasse a presidência a ordem de ir ao Vietnã seria dada. Aliás que político americano conseguiu até hoje se sobrepor ao poder da indústria de armas daquele país? Nenhum é a resposta.

Já em relação às inúmeras teorias da conspiração sobre sua morte também tenho uma visão mais conservadora e tradicional. Em minha opinião foi realmente Lee Oswald quem matou o presidente. Ele agiu sozinho, fruto de uma mente perturbada. Muitos vão pensar que isso é uma forma simplista de analisar a situação. Será mesmo? Na maioria das vezes a solução de todos os mistérios está realmente nas coisas mais simples, nos eventos mais banais. Oswald tinha ressentimentos com a liderança do país e muitas vezes afirmou ter especial ódio contra a imagem de família feliz e bem sucedido dos Kennedys. Depois de passar um tempo na União Soviética e voltar aos EUA para viver de um emprego medíocre, não é de se admirar que esse ex-marine, excelente atirador, tenha realmente perdido a noção, decidindo explodir os miolos do presidente sem medir as consequências de seus atos. Claro que o fato dele ter sido morto logo depois inflamou ainda mais os que defendiam uma ampla e complexa teoria da conspiração mas eu realmente não acredito em nada disso. Já li vários livros sobre o assunto e sempre fiquei cético em relação a tudo.

Bom, basicamente é isso. Fique de olho na programação de seus canais a cabo pois muita coisa tem sido exibida essa semana sobre o presidente. Filmes, séries, documentários e muito mais. Para quem gosta de história é realmente um prato cheio de curiosidades, imagens raras, detalhes interessantes. Eu não sou particularmente fã do presidente JFK mas é impossível negar que ele foi o símbolo de uma era que não voltará mais. Aquela nação americana, cheia de entusiasmo, alegria, otimismo, onde até o presidente era um garotão que esbanjava charme, realmente não existe mais, e isso faz, ora vejam só, 50 anos! Camelot provavelmente nunca mais se repetirá.

Pablo Aluísio.

Karl Marx - Verdades e Mentiras

Karl Marx era Ateu?
Há duas posições sobre isso. Tomando-se seus escritos como ponto de partida Marx certamente era ateu e tinha uma visão bem crítica das religiões. Isso fica bem claro em uma de seus escritos mais famosos onde diz: "A religião é simultaneamente uma expressão de sofrimento genuíno e um protesto contra esse sofrimento. A religião é o suspiro das criaturas oprimidas, seu sentimento em um mundo sem sentimentos, a alma de nossa condição desalmada. É o ópio do povo." Já sob o ponto de vista de alguns historiadores Marx teria sido retratado por uma de suas empregadas de maneira diferente. Segundo ela o velho Marx teria flertado perigosamente com o ocultismo, muito popular em Londres naquela época.

Como era a personalidade de Karl Marx?
Embora sua imagem passe a impressão de que era uma pessoa sisuda e introspectiva, pessoas que conviveram com ele o retratam mais como um homem simpático, bonachão até! Marx era um sujeito sem cerimônias no trato social. Quando estava empregado, trabalhava arduamente, mas quando se encontrava sem trabalho adotava uma postura mais amena, chegando a rolar no chão com seus filhos em brincadeiras infantis. Também pouco ligava para as convenções sociais de sua época. Se tivesse vontade passava o dia inteiro só de cuecas em casa, dormindo no sofá da sala, sem problemas. Geralmente trocava o dia pela noite. Para alguns biógrafos Marx nunca perdeu seu jeito de "estudante em apuros financeiros"!

Em quais cidades Karl Marx morou?
Ao longo da vida Marx sempre se mostrou muito inquieto, procurando por novos lugares para recomeçar sua vida. Ele nasceu em Trier, na Renânia, Alemanha, em 1818. Em Bonn iniciou seus estudos universitários, onde se dedicou ao direito. Em 1836 foi para Berlim estudar filosofia na universidade local. Depois da graduação nova mudança, dessa vez para Iena, onde completou seu doutorado em 1841. Um ano depois decide ir embora da Alemanha, indo morar em Paris. Em 1845 é expulso da França por causa de suas ideias subversivas publicadas no jornal Deutsch-Französische Jahrbücher. Resolve então ir para a Bélgica onde se instala em Bruxelas mas fica por pouco tempo, retornando para a Alemanha. Novos problemas o levam então para Londres, onde viverá até o fim de seus dias. 

Como era a vida de Karl Marx em Londres?
Karl Marx passou por muitas dificuldades financeiras em Londres. Embora tenha tido uma boa carreira de jornalista não conseguiu arranjar empregos regulares na cidade, passando a maior parte de seu tempo desempregado. Se não fosse a ajuda de seu fiel amigo Engels, Marx e sua família certamente passariam fome. Sem ocupação, por não conseguir arranjar um emprego, Karl Marx acabou se encantando pela maravilhosa biblioteca do Museu Britânico, para onde ia todos os dias estudar e escrever. É nesse local que começa a tomar forma o manuscrito que se tornaria anos depois sua grande obra prima, "O Capital". Quando soube do nome de seu livro sua mãe ironizou: “É uma pena que o pequeno Karl não produza algum capital, em vez de só escrever sobre ele.”

Quantos Filhos teve Karl Marx?
Embora tenha passado por vários apertos financeiros a família de Karl Marx era até bem numerosa. Foram quatro filhos ao lado da esposa Jenny e mais um, fruto de seu caso extraconjugal com a própria empregada da família. A vida dos Marx no número 28 da Dean Street, no Soho, em Londres, não foi fácil. Muitas privações, falta de dinheiro e dificuldades econômicas. Karl Marx só conseguiu levar em frente sua vida familiar porque seu amigo Engels estava sempre lhe ajudando. Quando sua empregada Lenchen ficou grávida, Engels assumiu a paternidade da criança para que Jenny não pedisse o divórcio de Marx. Muitos anos depois antes de morrer, Engels resolveu contar a verdade para sua filha adotiva, esclarecendo que Marx era o seu verdadeiro pai. A vida das outras duas filhas de Marx também não foi feliz. Duas delas se suicidaram ainda muito jovens.

Qual era o principal papel da filosofia na sociedade para Karl Marx?
Karl Marx não acreditava na filosofia como pura abstração. Para ele a filosofia deveria ser usada como ferramenta de mudanças dentro da sociedade. Isso ficou bem claro quando escreveu: "Antes os filósofos apenas interpretavam o mundo! A principal questão, porém, é transformá-lo”. Para Marx essa transformação viria com o fim da luta de classes, quando a classe do proletariado assumisse os meios de produção que pertenciam à classe dominante, a burguesia.

Karl Marx era casado com uma burguesa?
Em uma fina ironia do destino o próprio Karl Marx era casado com Jenny Von Westphalen, filha de uma família aristocrata e burguesa. Uma mulher de pulso e personalidade firmes, que rompeu com a tradição da vida das mulheres de sua família ao se casar com um "pobretão" como Marx. Jenny mostrou ser uma mulher de valor pois a vida ao lado de Marx não foi fácil. Só houve uma melhora no padrão de sua vida após ela receber uma pequena herança familiar, fato que foi intensamente comemorado por Marx ao levar sua família para um picnic em Londres. Embora Marx estivesse sempre pronto a criticar a burguesia ele adorava os pequenos luxos que uma vida com dinheiro podia proporcionar, como bons e fartos banquetes e vinhos finos e caros.

Karl Marx especulava na Bolsa de Valores de Londres?
Sim, para surpresa geral de seus admiradores comunistas. Marx usava o sistema capitalista para ganhar mais dinheiro, especulando com ações na bolsa de valores Londrina. Com parte do dinheiro herdado por sua mulher, Marx, para ironia de quem baseava sua obra em críticas contra o capitalismo, resolveu investir no mercado de capitais em Londres. A um amigo escreveu: “Você ficará bastante surpreso ao saber que andei especulando, especialmente em títulos ingleses que foram valorizados até um nível bastante exorbitante e depois, em sua maior parte, despencaram. Dessa maneira, ganhei mais de 400 libras e vou começar tudo de novo! É um tipo de operação que exige pouco do seu tempo, e vale a pena correr algum risco para ‘aliviar’ o inimigo de seu dinheiro.” Pois é, o pai do comunismo, Karl Marx, especulava na bolsa de Londres, jogando sem culpas o sujo jogo do capitalismo que tanto criticava.

Qual é considerada a obra prima de Karl Marx?
Embora o "Manifesto Comunista" seja até hoje bem conhecido, Karl Marx se notabilizou mesmo por sua obra prima, "O Capital", que foi publicada em 1867. Embora sua base filosófica e econômica tenha logo se tornado conhecida, Marx foi severamente criticado por ser um escritor ruim, desorganizado e pouco claro. Seus textos foram ditos como obscuros, de complicado entendimento, muito por causa da falta de organização e clareza de seu autor. Não era surpresa para quem convivia com Marx. Ele geralmente escrevia em folhas soltas, que ficavam espalhadas em sua escrivania. As ideias iam surgindo em sua mente e ele as passava para o papel sem se importar com a falta de estrutura que depois se tornaria uma tremenda dor de cabeça para seus leitores e estudiosos de sua obra literária.

Em que ano morreu Karl Marx?
Karl Marx morreu em 1884. Seu grande sonho ao longo da vida era se tornar professor universitário, algo que nunca realizou. Ao invés disso sobreviveu com grandes dificuldades como jornalista freelancer em vários jornais ao longo da vida. No final da vida desenvolveu uma séria depressão que o tornava inerte por longos períodos. Seu último trabalho foi escrever um prefácio breve para a edição russa de "O Capital". Seu livro se tornaria muito popular por lá e acabou servindo de base teórica para a revolução russa que iria acontecer no século seguinte. Marx jamais viu suas ideias saírem do papel para a sociedade pois quando morreu o sistema comunista não havia sido implantado em nenhum país. Poucas décadas depois de sua morte milhões de pessoas viveriam sob regime comunista, principalmente na Rússia e países vizinhos do leste europeu. Apenas seu neto, um jovem operário da indústria de Londres, presenciaria isso, ao se espantar ao ver imensos painéis na praça vermelha em Moscou com a imagem de seu avô, em desfiles transmitidos pelo noticiário inglês.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Jesus e o Buraco na Agulha

Disse Jesus: "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". Para contornar uma mensagem tão forte muito já foi dito e escrito. De que não foi bem isso que Jesus quis dizer, que agulha não é agulha, que mexeram no texto original do novo evangelho. Outros dizem que foi o imperador Constantino que escreveu a frase! Mil teorias da conspiração! Afinal esse tipo de frase não ajuda em nada para aqueles quer querem vender riqueza e prosperidade em cultos dominicais. É embaraçoso e vergonhoso. E o pior é que temos uma frase saída da boca do próprio Jesus. Frase definitiva!

Mas foi isso mesmo que Jesus afirmou. Agulha é agulha mesmo. Desde os tempos de Jesus já existia agulha que era usada para costurar as roupas, etc. Jesus quis dizer o que está na frase mesmo, ele foi claro. Agora se isso incomoda alguns, aí já é outra história. Jesus ensinou o desapego aos bens materiais. As pessoas no Brasil hoje vão às igrejas em busca de riqueza material. Quem prometeu riquezas no mundo foi o Diabo. Quem vai numa igreja pedir riqueza material certamente não segue Jesus e nem está fazendo pacto com ele. Está fazendo pacto com outro ser, aquele que caiu do céu, mais conhecido como Lúcifer. Esse topa pacto para trazer riquezas.

O verdadeiro Jesus é aquele que dizia que era tão pobre que não tinha nem onde repousar sua cabeça de noite. A verdadeira mensagem de Jesus nada tem a ver com riquezas. O resto é alienação e fanatismo de gente besta. Na verdade quem prometeu riquezas materiais foi o Diabo, o anjo que foi expulso do céu. Ele que surge no evangelho prometendo riquezas a Jesus. Assim quem tenta formar pactos de riqueza com sua religião pobre e rasa, na verdade está firmando pacto não com Jesus, mas sim com Lúcifer! Pense sobre isso.

Pode existir um rico que não tenha apego e amor ao dinheiro, aos bens que possui? Sim, pode existir, mas é algo muito raro, muito raro. O rico médio é o escravo do dinheiro, é dinheirista, o que ama mesmo o vil metal. Ser rico e ser elevado espiritualmente é tão raro como um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Eis o que Jesus deixou em sua mensagem. A maioria dos ricos amam sua riqueza, sua fortuna. Eles não amam Jesus de verdade e nem tampouco sua mensagem.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 29 de março de 2011

Voltaire e seu pensamento sobre a religião

François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire, escreveu certa vez a seguinte frase: "A Religião começou quando o primeiro patife conheceu o primeiro tolo!". Era claramente uma crítica, das mais pesadas, ao clero de seu tempo. Voltaire foi um dos pensadores mais influentes da revolução francesa e seu pensamento não poderia passar à margem do que acontecia dentro da sociedade da França em sua época.

Havia três setores básicos dentro da sociedade francesa. O chamado Primeiro Estado era composto pela nobreza. Rei e seus súditos mais próximos, todos vivendo no alto luxo de palácios suntuosos como Versalhes. Não trabalhavam, apenas viviam de festas e jantares à luz de velas. A nobreza custava muito caro ao povo francês. Comandava também as forças militares com mão de ferro. Não havia separação de poderes. O Rei era o executor, criador e aplicador das leis, tudo ao seu puro ponto de vista. Sua opinião era a lei, no final das contas.

O Segundo Estado era formado pelo Clero. Altamente corrupto, corrompido e destrutivo para o povo da França. Era o setor religioso que tinha como principal objetivo controlar as massas, segundo o ponto de vista de Voltaire. E como era feito esse controle social? Ora usando da própria doutrina religiosa que prometia um céu aos bem comportados, aos que aguentavam o peso de uma vida de sofrimentos, de trabalho duro nos campos. Todos trabalhando em prol dos parasitas da sociedade (que eram, segundo Voltaire, os nobres e os religiosos).

Por isso em sua frase há muito conteúdo. Os patifes, para o pensador, eram os nobres, os religiosos, o clero corrompido. Esses enganavam o povo, que era o tolo de sua frase lapidar. O povo trabalhava de sol a sol para dar boa vida aos membros da nobreza e do clero. Os nobres e o clero viviam na riqueza, em grandes palácios. O povo que produzia toda a riqueza do país vivia em casas miseráveis, nos campos, sem ajuda nenhuma por parte do Estado francês. Diante de um quadro tão grave de injustiças que poderia discordar de seu pensamento?

Pablo Aluísio.

Papa Alexandre VII

Depois de Alexandre VI, poucos poderiam prever que haveria um Alexandre VII, isso porque o sexto havia deixado muito a desejar, se envolvendo com escândalos e corrupção das mais variadas formas. Que Papa iria se assumir como o sétimo dessa linhagem? Mas sim, houve esse Papa. O Cardeal  Fabio Chigi assumiu o título de Papa Alexandre VII quando foi eleito no ano de 1655.

Ele era natural de Siena, na Itália, e nasceu no dia 13 de fevereiro de 1599. Ao longo de sua vida no clero exerceu inúmeros postos na hierarquia da Igreja Católica e se tornou um homem importante dentro da instituição quando se tornou secretário de Estado do Vaticano, sendo uma espécie de braço direito do Papa Inocêncio X. Homem estudioso, poeta e escritor, ele contou também com alianças familiares para subir em sua carreira. Era sobrinho do Papa Paulo V.

Começou como um Papa extremamente humilde e devoto que odiava o luxo de Roma. Dizia-se que mantinha seu próprio caixão por perto, para que sempre lembrasse que era um homem mortal que um dia morreria. Porém com o tempo e o poder esse Papa foi perdendo parte dessa mentalidade. Passou a se sentir confortável com todo o luxo do Vaticano e passou a empregar parentes, revelando um de seus piores pecados, o nepotismo.

Ele que havia sido inquisidor também mostrava pouca tolerância para com pessoas que eram consideradas hereges pela doutrina católica. Isso dificultava a diplomacia do Vaticano em relação a embaixadores de países protestantes. Ele morreu de insuficiência renal, após ficar 12 anos no trono de Pedro. Crônicas da época diziam que ele ainda mantinha seu caixão por perto e morreu após rezar a missa da Páscoa, mesmo contra a opinião de seus médicos pessoais. Foi um Papa controvertido, amado e odiado pelas pessoas de sua época na mesma proporção.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Deus está Morto!

Certa vez Friedrich Nietzsche escreveu a impactante frase: "Deus está Morto!". Claro que isso mexeu com os brios de muitos. Só que esqueceram mesmo de analisar a fundo o que havia por trás de uma afirmação tão polêmica e sugestiva. A verdade é que temos que analisar um pouco o contexto histórico da própria vida do escritor e filósofo Nietzsche.

Ele nasceu em uma família muito religiosa. E isso naquela época significava ser criado em um núcleo familiar muito fechado, muito opressor. Tudo era pecado, tudo ia contra a vontade de Deus. As pessoas se vestiam de negro, as casas eram escuras e mal ventiladas. Era complicado até mesmo respirar em um ambiente como aquele. Castigos físicos eram naturais. Qualquer frase mal colocado era reprimida com um forte tapa na cara!

É natural que sendo uma pessoa sensível e inteligente como Nietzsche ele algum dia iria se revoltar contra aquilo tudo, contra aquela loucura onde seres espirituais cuidavam e puniam os vivos. Mortos cuidando da vida de pessoas vivas! Onde algo assim iria fazer algum sentido? Nietzsche leu o evangelho, o estudou com cuidado. Ele foi um ser humano dos mais inteligentes e logo descobriu que na prática nada do que estava nos textos do evangelho era aplicado. Muitas vezes era o oposto disso! As pessoas mais religiosas da comunidade eram as piores. Verdadeiros patifes!

O pai queria que ele fosse pastor, mas Nietzsche conhecia os religiosos de seu tempo. Eram todos grandes hipócritas, gente que lia uma coisa e que na vida fazia outra. O Deus estava mesmo morto! Se formos levar em conta o Deus idealizado dos primeiros escritos cristãos, certamente está morto! O Deus original foi deixado de lado, principalmente no Brasil onde a religiosidade se resume a fanatismo e busca por bens materiais. Deus está morto e foi morto por todos os que diziam seguir sua mensagem.

Pablo Aluísio.

domingo, 27 de março de 2011

Marx e o Ópio do Povo

Karl Marx certa vez escreveu a seguinte frase: "A Religião é o Ópio do povo". O que ele quis dizer com isso? Ora, em muitos países a religião era usada para manter a mesma exploração de classes que sempre existiu. O povo pobre e oprimido que trabalha para ser explorado por classes mais ricas tinha mesmo que ter algo para amanciar sua ira natural. A religião, quando usada como ferramenta de opressão e alienação, se cabe muito bem nesse papel.

A religião, principalmente em termos de Brasil, está corroída pela corrupção religiosa. E até as pedras da calçada sabem disso. Aqui no Brasil a religião é tão rasa e pobre que a tal teologia da prosperidade avança cada vez mais. Vá para a igreja, fique rico! 

É tudo tão grotesco, mas serve para enriquecer ainda mais as classes superiores. Já os mais pobres afundam ainda mais na pobreza. A desigualdade social se aprofunda. Nâo é para menos que o Brasil é um dos países mais desiguais de todo o mundo. Chega a um patamar vergonhoso.

Marx dizia que a religião é um véu, que aliena os povos. Enquanto as classes pobres são exploradas elas são alienadas com religião, tal como se fosse uma droga, o ópio. Nesse ponto ainda podemos discordar? Marx viveu sua época e presenciou o que acontecia ao seu redor. Imagine se ele pudesse ter contato com a situação do Brasil atual. Certamente daria uma farta gargalhada com o que veria. Afinal nada confirma mais sua frase do que o que acontece atualmente.

Pablo Aluísio.

sábado, 26 de março de 2011

Duas Lendas sobre Jesus Cristo

Duas Lendas sobre Jesus Cristo
Existem duas lendas sobre Jesus que nunca poderão ser confirmadas, nem pelos historiadores mais especialistas na sua vida. A primeira lenda afirma que Jesus era casado com Maria Madalena. O novo testamento silencia sobre o tema. Nem diz que Jesus era casado e nem que era solteiro. Para falar a verdade as escrituras estão interessadas na mensagem e nos milagres de Jesus e não sua vida amorosa, sentimental. O evangelho era realmente cheio de lacunas. Não existe nada sobre a vida civil de Jesus e nem sequer uma descrição física de como ele era. São situações que ficam no limbo. De qualquer maneira se essas duas lendas fossem confirmadas seria uma abalo e tanto na doutrina cristã.

O que historiadores podem fazer é analisar o tempo de Jesus. Naquela época um homem solteiro com mais de 30 anos de idade seria mal visto pela comunidade. Fofocas e rumores sobre sua sexualidade logo se tornariam comuns. E o que dizer de um solteirão que andava rodeado de outros homens? Embora hoje em dia esse tipo de pergunta soe até mesmo absurda, não subestime a mentalidade tacanha das pessoas que viviam no século I. E isso piorava ainda mais no meio de pessoas religiosas. O preconceito seria ainda maior. A doutrina do Judaísmo pregava que um bom judeu tinha que se casar, constituir família e ter muitos filhos. Algo que Jesus realmente ignorou em sua missão. E não nos esqueçamos que Jesus era um judeu. Assim do ponto de vista histórico faria mais sentido se Jesus fosse casado e não solteiro, só que não existem provas concretas sobre essa questão. Uma coisa porém é certa, Maria Madalena foi muito próxima a ele. No mínimo era uma amiga muito, muito íntima. Era sua esposa? Essa pergunta ficará sem resposta pelas limitações históricas das fontes que existem.

Outro rumor ainda choca os cristãos que dele tomam conhecimento. Uma velha lenda, que data inclusive dos primeiros séculos do cristianismo, dizia que Jesus era na verdade filho de um legionário romano chamado Pantera ou Panterus. Maria, ainda não casada oficialmente com José, um homem mais velho e em seu segundo casamento, teria se apaixonado por esse soldado romano. Teria ficado grávida dele. Ora, naquele tempo o Judaísmo afirmava que em tal situação ela devia ser apedrejada em praça pública por seu pecado.

Então a história da virgem Maria teria sido criado para evitar esse fim trágico. Ficou chocado com isso? E o que dizer de antigos textos de religiosos judeus que chamavam Jesus de "o bastardo". Teria alguma ligação com o fato de que José não era o pai verdadeiro de Jesus? E o que aconteceu com seu pai José que simplesmente desaparece do evangelho? Ele morreu antes de Jesus se tornar adulto? E o tal de Panterus, existiu mesmo? Penso que em algum momento Jesus foi alvo de fofocas e mexericos, o que justificaria sua pregação contra esse tipo de comportamento. Jesus dizia que o que tornava impuro o homem não era o que ele comia, mas sim o que saía de sua boca, tal como falar esse tipo de coisa da vida alheia. Entretanto esse tipo de lenda é outra que provavelmente jamais será confirmada. Não existem registros históricos precisos e confiáveis sobre essa questão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Jesus Cristo e os Homossexuais

Jesus Cristo e os Homossexuais
Responda rápido: Em qual versículo Jesus condena a homossexualidade na Bíblia? A resposta é simples: Em nenhum! Não há uma única palavra saída da boca de Jesus que trate sobre o tema da homossexualidade nos textos bíblicos. Ficou surpreso? Pois é, meus caros! Não estava na agenda de Jesus condenar os gays enquanto caminhou pelo mundo. Ele nunca pregou contra a homossexualidade, nunca afirmou nada no sentido de condenar os gays. O que existe é o silêncio completo de Jesus sobre o tema.

E não  havia gays nos tempos de Jesus? Pelo contrário! Jesus caminhou em um mundo onde havia homossexuais por todas as partes. O povo romano que conquistou sua nação seguia uma religião que não tinha barreiras sobre a homossexualidade. Por isso era normal que um cidadão romano fosse gay ou bissexual. Para um romano isso era algo natural. Até mesmo dentro das legiões da Roma Imperial a homossexualidade era algo latente. Era comum o relacionamento entre os próprios legionários que até formavam casais dentro dos acampamentos militares.

Entre os judeus a homossexualidade também eram bem conhecida e disseminada. Sobre esse tema Jesus não tratou. Ao contrário de condenar ele simplesmente dizia que "aquele que nunca pecou que atirasse a primeira pedra!". O curioso é que Jesus nada disse contra gays e a comunidade homossexual de seu tempo, mas pregou muito contra os ditos religiosos hipócritas que lotavam os templos de Jerusalém.

Jesus os chamou de víboras e ladrões. Afirmou que a casa de Deus havia se tornado um covil de ladrões. Pessoas que usavam a religião e a fé em Deus para ficarem ricas. Isso lhe lembrou algo? Lembrou a você sobre gente que fica rica, milionária, com a fé alheia no Brasil? Claro que sim! Esse tipo de gente tirou Jesus de sua habitual calma e pacifismo. Ele virou as bancas dos mercadores do templo. Era contra religiosos cheio de hipocrisia que Jesus mais pregou em vida, não em relação aos gays e bissexuais. Será que esse tipo de explorador da fé ganhará o reino de Deus? Pense sobre isso.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Moisés Histórico

O Moisés Histórico
Muitos personagens que aparecem no Velho Testamento parecem ser apenas personagens de literatura. Não foram pessoas reais que existiram. Um caso notório parece ser o de Noé. A história do Dilúvio parece ser apenas uma adaptação de histórias ainda mais antigas de civilizações do chamado Crescente Fértil. É uma boa história, sem dúvida, com a Arca de Nóe e tudo mais, entretanto suas bases, ao que tudo indica, são apenas contos de literatura. Mera ficção. Diria até que com um toque infantil, uma história para ser contada às crianças pois há os bichinhos e tudo mais.

Outro personagem do Velho Testamento que parece nunca ter existido, sendo apenas um personagem de literatura, é o tão aclamado Moisés. A história procura por dupla confirmação, ou seja, para ser considerado um personagem histórico real, Moisés teria que ser citado em outras fontes que não fossem o próprio velho testamento. E teria que ser uma fonte independente do povo judeu. Só que tirando a Bíblia, Moisés não é citado em nenhuma outra obra do mundo antigo. Para um homem que fez tanto pelo seu povo, algo que influenciou em outros povos, era de se esperar que seu nome fosse citado em algum pergaminho, principalmente proveniente do Egito antigo. Só que não existe nada. Silêncio completo e total.

A arqueologia também nunca encontrou nada sobre Moisés. Segundo o velho testamento ele teria caminhado por décadas ao lado de seu povo, por diferentes regiões. E seria uma multidão o seguindo, os judeus que tinham deixado a escravidão do Egito para trás. Milhares de pessoas teriam deixado vestígios históricos de sua passagem. Pesquisas foram feitas, mas a arqueologia nunca encontrou nada nas regiões por onde ele teria passado. Nada, absolutamente nada!

O mesmo problema pode ser encontrado nos antigos reis do povo judeu. Davi e seu filho Salomão, por exemplo, jamais tiveram sua existência histórica confirmada. A lenda do pequeno Davi matando o gigante Golias parece mesmo um conto de pura fantasia. Provavelmente Davi tenha sido apenas um personagem de literatura, tal como o Rei Arthur na Inglaterra. Até que a história e a arqueologia encontrem algo concreto, a existência deles vai continuar sendo apenas nas páginas antigas do velho testamento.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Ressurreição de Jesus

O texto aqui exposto é baseado em opinião de historiadores que estudaram o tempo em que Jesus viveu. Acreditar ou não na ressurreição de um homem como Jesus é questão de fé. Não se trata de uma crítica contra quem acredita. Dito isso vamos ao tema. Para historiadores Jesus não ressuscitou. Essa afirmação se baseia não apenas na questão puramente científica, onde nenhum ser humano jamais ressuscitou, mas também em fatos históricos. Hoje acredita-se que Jesus foi um camponês vindo da Galileia que realmente foi crucificado pelos romanos. Devemos partir desse fato básico para analisar o resto do que nos conta os evangelhos (nem todos, pois a ressurreição não está em todos os evangelhos, pois mais estranho que isso possa parecer ao leitor!).

Olhando para a arqueologia descobre-se que poucos restos mortais de pessoas crucificadas foram preservados pelo tempo. Para falar a verdade a arqueologia histórica possui apenas um osso do pé de um crucificado que sobreviveu ao passar dos milênios. Os romanos eram assassinos profissionais e os soldados que cuidavam da crucificação tinham técnicas especiais para executar os condenados. A tese de que Jesus não ressuscitou, mas apenas sobreviveu ao ato de tortura chamado crucificação não faz o menor sentido. Os romanos jamais deixariam isso acontecer. E os corpos dos crucificados não eram retirados da cruz. Eles ficavam pendurados, apodrecendo, sendo comidos por aves de rapinas e cães selvagens. Era parte do horror da intimidação do império Romano.

Então se o corpo de Jesus desceu da cruz realmente morto, o que aconteceu depois? Segundo o evangelho um homem chamado José de Arimatéia teria pedido a Pilatos que o corpo de Jesus fosse retirado da cruz para que ele o sepultasse em uma tumba recém escavada na rocha. Historiadores do período acreditam que esse homem citado no evangelho jamais existiu. E de que se tal pedido fosse feito a Pilatos ele jamais autorizaria a descida do corpo da cruz. Pilatos era um homem cruel e um déspota assassino de massas. Assim José de Arimatéia seria um personagem de literatura. Isso se baseia no fato de que os Romanos não iriam deixar tirar o corpo de Jesus da cruz. Como escrevi, os Romanos deixavam os mortos ali pendurados como exemplo para os demais. Não havia exceção.

Sem descida do corpo da cruz e sem que Jesus fosse levado para uma tumba, não haveria ressurreição. A narrativa do Novo Testamento ficaria sem base. Então seguindo o exemplo do que costumeiramente acontecia, o que teria acontecido com o corpo de Jesus? Ele teria ficado na cruz por dias, talvez até semanas, até que sobrasse muito pouco. Depois disso os Romanos jogariam os restos mortais em local não sabido do povo. Um ossário com os restos de outros executados. Era uma forma de evitar peregrinações e cultos. Será que foi isso mesmo que aconteceu? Os historiadores se baseiam no que normalmente acontecia naqueles tempos. É algo cruel, mas não devemos nos esquecer que aqueles tempos eram violentos e cruéis por definição.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de março de 2011

O Deus Falho

O Deus Falho
Afirmam textos religiosos que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Disso tiramos algumas conclusões. Certamente os escritores antigos que escreveram esse trecho queriam seguir o caminho das divindades do passado. Os deuses gregos e romanos tinham dois braços, duas pernas, uma cabeça, um tronco. Hominídeos. A imagem que mostravam era a imagem de um ser humano. E em termos de personalidade também demonstravam semelhanças com os homens. Muitas dessas divindades eram mesquinhas, cruéis, mentirosas e até mesmo criminosas. Tal como o homem. Nisso as antigas religiões, hoje consideradas meras mitologias, eram mais sinceras e honestas.

Porém dentro da tradição judaico-cristã o Deus único é considerado um ser espiritual perfeito e isento de falhas. Ops, temos aí uma contradição. Se Deus (o Jeová) é em tudo semelhante ao homem e esse tem profundas imperfeições, como ele poderia ser perfeito? Aliás se formos ler os textos do antigo testamento veremos que essa divindade realmente não seria perfeita. Os exemplos são muitos. O que você diria de uma divindade que promoveu um dilúvio, matando milhões de seres humanos? Quantos seres humanos inocentes, crianças e mulheres, não morreram nessa atitude de alagar todo o mundo?

Esse Deus das páginas do velho testamento é bem furioso, vingativo e nada bondoso. Apenas com a mensagem de Jesus é que essa divindade, chamada no passado de Jeová ou Yaveh, ganha contornos de amor e devoção. No passado era nitidamente um deus guerreiro, mortal e até mesmo genocida. Aliás de onde vem essa divindade? Historiadores ainda debatem. Alguns dizem que era uma divindade de segundo ou terceiro escalão na Babilônia, onde os judeus eram cativos.

Curiosamente acabou virando o deus único dos judeus em um movimento cultural muito semelhante com o que aconteceu no Egito antigo. O Faraó Akhenaton havia abolido todos os deuses antigos da religião do Egito. Só havia sobrado Aton, o Deus Sol. Era o único que poderia ser cultuado. Por essa época havia muitos judeus vivendo no Egito. Não é de se admirar que tenham adotado o monoteísmo. Por certo acharam uma boa ideia. A conclusão que tiro desse texto é simples e clara aos que leram atentamente. Deuses antigos eram criações da mente humana. Zeus e todos os demais nasciam da criação dos homens. Depois suas histórias de fantasia eram escritas em textos antigos. Uma questão meramente cultural. É literatura, literatura de fantasia.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O Idioma de Jesus

Qual era o idioma falado por Jesus Cristo? Qual era o idioma falado por ele e seus discípulos? Ora, nos tempos de Jesus, nas regiões por onde ele passou, havia basicamente quatro línguas dominando. O primeiro idioma era o hebraico. Essa era a língua original do povo judeu. Foi no hebraico antigo que os primeiros capítulos do velho testamento foram escritos. Era a língua também falada pelos sacerdotes em seus rituais religiosos. Não era a língua porém que o povo falava nas ruas e cidades da Judeia. Esse idioma falado por todos era o aramaico, língua que de certo modo se assemelhava ao hebraico, mas que desse se diferenciava por ser uma língua que os judeus aprenderam na Mesopotâmia, quando eram cativos da Babilônia.

Outras duas línguas usadas na época de Jesus eram o grego e o latim. O grego era a língua da cultura, dos intelectuais. Era considerada naqueles tempos antigos a língua universal, que todos os povos conhecidos poderiam falar. Exercia a mesma função do inglês nos dias atuais. Já o latim era a língua do povo romano, dos militares romanos, das legiões de Roma. O latim não era ensinado aos povos conquistados pelo império romano por uma questão prática, de Estado. Era melhor que essa língua se tornasse exclusiva dos soldados, para que eles se comunicassem sem que os povos conquistados soubessem o que eles diziam, quais eram as ordens dadas, etc.

Diante dessas quatro línguas, qual seria a falada por Jesus de Nazaré? Para os estudiosos e historiadores não há dúvidas que Jesus falava aramaico. Essa era a língua do povo judeu da época. O hebraico estava mais restrito aos estudiosos dos antigos textos sagrados, dos templos, etc. O aramaico era a língua falada no dia a dia, das ruas, das praças, etc. Hoje em dia é considerada uma língua morta, só falada por pequenos grupos em vilas no interior da Síria. Também é provável que Jesus falasse e entendesse hebraico, uma vez que ele esteve diversas vezes nos templos e nas sinagogas. E nesses ambientes o hebraico era a língua oficial.

Do latim e do grego não há muitas referências. No máximo se pode deduzir que Jesus tenha se comunicado com o centurião romano em grego e não em latim, pois o grego era a língua universal. No mais, as últimas palavras ditas por Jesus na cruz eram claramente do idioma aramaico pois trechos originais dessas frases chegaram até nós. Lembrando que o novo testamento foi escrito em grego e não em latim, nem hebraico e nem aramaico. Mesmo assim esses escritores em grego deixaram algumas palavras na língua nativa de Jesus, o aramaico. Com o passar dos séculos o aramaico passou a ser associado a uma "língua de escravos", algo que os judeus queriam esquecer de seu passado. Assim houve uma revalorização do hebraico, sendo nos dias de hoje a língua oficial de todos os povos judeus ao redor do mundo.

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de março de 2011

Arquivos do Vaticano - Edição VIII

A Origem de Satanás - É curioso que ao longo do velho Testamento o personagem Satã assumiu diversas moldagens teológicas. No começo Satã era considerado apenas um anjo adversário, mas ainda sob a submissão de Deus. Era o adversário, o acusador. Essa persona pode ser encontrada nas primeiras referências a esse anjo nas escrituras. Muitos inclusive defendem a ideia de que Satã aqui não se referia a um anjo em particular, mas a qualquer anjo que se colocasse como adversário do homem.

Depois, com o passar dos textos sagrados, ainda no Velho Testamento, Satã finalmente assume uma identidade própria. Deixa de ser um adjetivo, para se tornar um substantivo, vira realmente um personagem próprio e não uma referência um tanto vaga. Ele se torna um príncipe entre os demônios. Um líder do inferno. É interessante também notar que Satã continua sendo referido como a um anjo, mas agora como um chefe angelical de principados infernais. Outro ponto que muitos teólogos afirmam é que Satanás não é Lúcifer. São dois anjos diferentes. Satanás também não deve ser confundido apenas com a figura do Diabo. Esse termo diabo é um gênero, assim como demônio. Satã seria um ser dessa categoria.

Na língua aramaica Satã vira Satanás. Lembre-se que o aramaico era a língua falada por Jesus e seus apóstolos. No Novo Testamento Satanás ganha os contornos que conhecemos hoje em dia, uma criatura totalmente do mal. um ente que vive para destruir Deus e a humanidade. Nas palavras do próprio Jesus essa entidade maléfica seria "mentiroso e assassino desde o começo dos tempos". Por isso Jesus nunca dialoga com Satanás, ele simplesmente o expulsa quando o encontra.

Um aspecto a se levar em conta é que Satanás sempre surge como criatura, abaixo de Deus, mesmo quando identificado como um anjo. Ele seria um anjo caído, que foi expulso do céu. Por isso pessoalmente não acredito nas teorias que afirmam que Satanás seria apenas uma influência do Zoroastrismo, uma religião antiga em que existiam dois deuses, um do bem e outro do mal. Satanás nunca é retratado na Bíblia como um Deus, pelo contrário, ele jamais foi um criador, mas apenas uma criatura mesmo.

A Origem dos Anjos
Qual é a origem dos anjos? Essa pergunta pode ser respondida do ponto de vista da literatura, como também do ponto de vista da crença, da doutrina judaica. Na literatura não há como precisar a origem dos anjos nos textos. Ao que tudo indica a existência de seres angelicais era algo natural entre o povo judeu antigo. E mais do que isso, nas religiões persas, do Egito antigo e da Mesopotâmia já havia referências a seres alados que seriam uma intermediação entre os deuses e os homens. Assim os anjos não surgiram inicialmente nos textos religiosos dos povos judeus. Religiões ainda mais antigas já apresentavam esses personagens.

No ponto de vista da doutrina e da crença, rabinos do passado tentaram chegar na data exata da criação dos anjos. Alguns rabinos defendiam que os anjos tinham sido criados por Deus no segundo dia da criação. Outros defendiam que os anjos surgiram no quinto dia. O que não poderia ser aceito pelo judaísmo era a possibilidade dos anjos terem ajudado Deus na criação do universo. Eles também rejeitaram de todas as maneiras a possibilidade da criação dos anjos no primeiro dia do surgimento do universo criado por Deus.

Agora algo parece ser certo dentro da doutrina do judaísmo. Os anjos teriam surgido antes da criação dos seres humanos. Tanto que nas lendas mais antigas alguns dos anjos do Senhor teriam ficado enciumados e chocados com a criação dos homens. E isso teria piorado quando Deus teria determinado que os anjos protegessem a humanidade. A revolta de alguns anjos teria dado origem a uma guerra angelical, onde um terço dos anjos teriam sido jogados no inferno, sendo liderados por Lúcifer, que antes de sua queda seria o anjo mais maravilhoso do céu, o "filho da manhã". 

Papa Francisco mostra preocupação com Golpe Militar
O Papa Francisco mostrou solidariedade com o povo de Mianmar. O país sofreu um violento golpe militar nos últimos dias. Com brutalidade e o velho estigma de estupidez que caracteriza esse tipo de golpe de Estado, os militares daquele país retiraram do poder o governo civil de Aung San Suu Kyi. Depois fecharam e censuraram o acesso às redes sociais. Como se isso não fosse o bastante decidiram de forma arbitrária simplesmente cortar todo o acesso à internet no país. Quem tentasse acessar a net seria preso sem julgamento algum.

Sobre a situação, que vem sendo condenada por praticamente todos os países ao redor do mundo, o Papa assim se manifestou: "Expresso minha solidariedade ao povo birmanês. Rezo para que aqueles que assumem responsabilidades no país se comprometam, com sincera disponibilidade, com o serviço do bem comum, promovendo a justiça social e a estabilidade nacional a favor de uma coexistência democrática harmoniosa. Neste momento tão delicado, quero voltar a assegurar ao povo birmanês minha proximidade espiritual, minha oração e minha solidariedade."

Os Velhos do Velho Testamento
O leitor da Bíblia leva um susto quando lê que personagens do velho testamento como Matusalém, viveram mais de 900 anos! Como um ser humano poderia viver tanto naqueles tempos antigos? É verdade que havia pessoas na antiguidade que viviam mil anos? Ora, há duas respostas para esse tipo de pergunta. A primeira é literária e teológica e a segunda é histórica.

Do ponto de vista da teologia e da literatura esses velhos do velho testamento são explicados de duas maneiras. Na época em que os textos da Bíblia foram escritos havia um princípio de teologia que dizia que quando mais perto da criação o homem vivesse, mais ele viveria. Os filhos de Adão, por estarem cronologicamente próximos da criação, iriam viver mais anos do que os netos de Adão e assim por diante. Por isso esses escritores colocaram idades absurdas para essas figuras do velho testamento. Porém, como se sabe, essas são questões inerentes apenas à literatura e à teologia.

Historicamente nenhum ser humano chegou a viver 900 anos. Essa parte da Bíblia é apenas uma alegoria, uma forma de defender uma visão teológica. Na realidade os homens da antiguidade viviam menos do que os homens da modernidade. isso porque não havia a tecnologia científica e médica dos dias atuais. Um homem de 40 anos de idade na era antiga era considerado um ancião, uma pessoa bem velha mesmo. Se Matusalém realmente existiu, se foi uma pessoa, uma figura histórica, ele deve ter chegado aos 80 anos de idade, o que espantava as pessoas que viviam naqueles tempos. Só não vá pensar que ele viveu 900 anos, pois isso seria biologicamente impossível, no presente e no passado também. 

A Existência Histórica de Pôncio Pilatos
Pôncio Pilatos realmente existiu? Ele foi uma figura histórica real? Ao longo dos séculos pouco se duvidou da existência histórica de Pôncio Pilatos. Ele havia sido citado não apenas no novo testamento, mas também em outras obras da época como Flávio Josefo. Para os historiadores todas essas citações já seriam válidas para determinar a certeza histórica desse romano.

Na década de 1960 uma pedra retirada do teatro romano em Cesárea Marítima colocou fim definitivo sobre a dúvida. Nessa pedra havia inscrições onde aparecia o nome de Pôncio Pilatos como prefeito daquela região. Ele era nomeado bem abaixo do nome do imperador Tibério, ou seja, todos os elementos históricos estavam no lugar certo, perfeitamente localizados naquela fase da antiguidade.

Essa pedra também foi importante pois além de citar Pôncio Pilatos, citava seu cargo, o de prefeito. Esse romano iria cair em desgraça alguns anos após a morte de Jesus. Ele era um déspota e um homem cruel que estava sempre provocando as crenças do povo judeu. Sua governança foi considerada tão complicada que não tardou e ele foi chamado de volta à Roma. Os eventos de sua morte e seus últimos anos não são bem conhecidos pela história, mas uma coisa é certa, ele de fato existiu, foi um homem real, confirmando mais um aspecto descrito nos evangelhos. Provavelmente morreu no ostracismo, em uma das muitas casas de nobres em Roma. 

Jesus Cristo e Apolônio de Tiana
Há muitas semelhanças entre as histórias de Jesus de Nazaré e o filósofo grego Apolônio de Tiana. Isso levou alguns a perguntar: seria a história de Jesus uma cópia, um plágio, da vida de Apolônio de Tiana? A resposta é negativa. E os historiadores concordam sobre esse aspecto por uma simples questão cronológica. Os Evangelhos foram escritos antes das principais obras que contam a história do grego Apolônio de Tiana. Embora Apolônio de Tiana tenha nascido no ano 2 da era cristã, as principais obras sobre sua vida foram escritas séculos depois de sua morte.

O fato é que esses livros que contavam a vida desse professor e pensador grego pecavam pela fantasia. Muitas das histórias atribuídas a Apolônio de Tiana não passam de mera ficção. O que aconteceu foi que sua obra foi muito popular no império romano. Imperadores como Adriano adoravam essas obras literárias que misturavam pequenos trechos do pensamento desse filósofo com camadas e mais camadas de pura literatura de ficção. Além disso esses textos foram escritos muitos anos depois da vida de Jesus.

Presume-se que muitos desses autores tardios sobre Apolônio de Tiana tenham inserido em suas narrativas, coisas que leram nos evangelhos. Assim Apolônio de Tiana poderia surgir como o filho de uma virgem, um homem que fazia milagres, que ressuscitava mortos, etc. Pedaços da vida de Jesus foram utilizados nesses livros de mera literatura sobre Apolônio de Tiana. Embora não seja de bom tom hoje em dia falar algo nesse sentido, o fato é que não foi Jesus um plágio de Apolônio de Tiana, mas justamente o contrário disso. 

O Barco de Jesus
Há um trecho no evangelho segundo Mateus em que Jesus acalma a tempestade no mar da Galileia. Ele estava em um barco nessa ocasião e acalmava o mar bravio e o céu chuvoso, da tempestade. Em 1986 um barco do século I, ou seja, da mesma época em que Jesus andou pela Terra, foi encontrado no Mar da Galileia, na mesma região onde Jesus pregou por anos e anos. Seria esse o barco de Jesus? Ou seria o barco que havia pertencido a Pedro, que era um pescador?

Infelizmente essas duas últimas perguntas não podem ser respondidas com certeza pela arqueologia. O que se pode afirmar através de exames que foram feitos na madeira desse barco antigo é que ele realmente pertenceu a um pescador do Mar da Galileia no século I da era cristã. Fazendo exercícios de imaginação poderíamos até pensar que esse mesmo barco foi um dia avistado por Jesus nas margens desse Mar ou então, indo mais longe, o próprio Jesus poderia ter navegado nele em algum momento de sua vida.

Apesar de não se afirmar com certeza sua ligação com Jesus de Nazaré, o fato é que esse artefato arqueológico é dos mais importantes já encontrados, mostrando uma peça da história do povo de Israel. Ali os historiadores encontraram também uma peça de argila e uma lâmpada antiga, mostrando artefatos que pertenciam aos povos que ali viviam há 2 mil anos! Algo muito raro e quase impossível de se encontrar nos dias de hoje. Se foi de Jesus ou de algum de seus apóstolos, nunca saberemos, mas que é uma peça incrível de um passado remoto, isso podemos afirmar com absoluta certeza. 

O Evangelho de Filipe
É um dos mais controversos textos antigos sobre Jesus que se tem notícia. Não faz parte do grupo de evangelhos canônicos, reconhecidos pela Igreja Católica e por essa razão é classificado como um texto apócrifo, de procedência e origem incertas. Mas o que chama tanto a atenção nesse texto antigo (escrito, segundo historiadores por volta do século I e II da era cristã)?

Há revelações (ou pontos de vista) bem interessantes aqui. Foi o próprio apóstolo Filipe que o escreveu? Não se sabe, mas muito provavelmente não! Historiadores acreditam que o texto foi escrito em cima de tradições orais, quase centenárias à época, que foram reunidos por seguidores de um grupo de cristãos que viveram muito provavelmente no norte da África ou no Egito.

Entre as coisas que mais chamam atenção nesse texto é a importância dada a Maria Madalena. Ela é mostrada como a seguidora preferida pelo próprio Jesus, sua companheira. O texto afirma que Maria Madalena era esposa de Jesus? Não, não chega a afirmar isso, mas ao mesmo tempo dá enorme importância a Maria Madalena no ministério de Jesus.

Inclusive é nesse evangelho que existe um trecho muito controverso que diz que Jesus havia beijado Maria Madalena na... Infelizmente não se pode saber onde Jesus a beijou. O trecho da palavra no papel foi destruído pela ação do tempo. Onde Jesus beijou Maria Madalena? Na boca? No rosto? Impossível se determinar. Até que se encontre outra cópia desse evangelho tudo o que existirá são suposições, para o deleite de teorias da conspiração. Que o diga o autor de "O Código Da Vinci". 

O Estranho Livro de Enoque
Hoje em dia se fala muito nesse livro de Enoque. Para alguns ele deveria estar na Bíblia pois é citado nela, em trecho escrito por Judas. Ora, se um dos autores da Bíblia o usa como citação, por que o livro de Enoque não está entre os livros do velho testamento? A Igreja Católica o retirou da Bíblia? Qual é sua origem? Por que não faz parte dos livros canônicos? Foi realmente escrito pelo profeta Enoque? Muitas perguntas ficam no ar, vamos responder algumas delas.

Antes de mais nada é importante dizer que historiadores e teólogos concordam que o chamado Livro de Enoque não foi escrito pelo Enoque que está na Bíblia. Esse é dito como o sétimo homem após Adão e o texto que chegou até nós data de aproximadamente dois séculos antes de Cristo. Logo as datas históricas não batem. Se Enoque realmente foi uma pessoa real e pertencia à sétima geração após Adão ele provavelmente viveu há aproximadamente 10 mil anos no passado!

O Livro de Enoque é basicamente um livro de fantasia, com monstros e gigantes vivendo entre os homens. É um livro que não se pode ler como se fosse um registro histórico do passado, a não ser que você queira ler livros como "O Senhor dos Anéis" como retratos fiéis de algo que realmente aconteceu. Esse livro de Enoque também tem origem desconhecida. Quem foi o seu verdadeiro autor? Ninguém sabe.

Judas realmente o cita na Bíblia, mas o faz para derrubar os argumentos de quem acreditava nele. Não é um texto de confirmação de nada, do valor de suas palavras. O Livro de Enoque nunca foi considerado como um livro inspirado por Deus, nem dentro do cristianismo e nem dentro do judaísmo. É um livro, repito, de pura fantasia. Um curioso caso de um livro antigo trazendo seres do mundo da fantasia, o que não deixa de ser, apesar de tudo, uma prova do pensamento imaginativo do homem antigo. É uma das obras de fantasia mais antigas que se tem notícia.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de março de 2011

Bento XVI: O Homem Que Não Queria Ser Papa

Temos no momento uma boa oportunidade para ampliar os horizontes na leitura, geralmente aproveitando o tempo livre para se dedicar a temas de interesse, que não sejam necessariamente ligados à sua profissão. Recentemente li essa interessante obra intitulada "O Homem Que Não Queria Ser Papa" de autoria de Andréas Englisch. Ele é um Vaticanista veterano que resolveu escrever um livro mostrando a subida do cardeal Joseph Aloisius Ratzinger ao trono de São Pedro. Como ele era um jornalista alemão enviado ao Vaticano por seu jornal para cobrir as notícias papais, acabou encontrando farto material para escrever sobre a ascensão do primeiro papa alemão em séculos de existência da Igreja Católica. Curiosamente apesar de ser da mesma terra de Bento XVI ele não era do círculo íntimo do Papa, que aliás tinha sérias reservas em relação ao escritor, agravado após a publicação de um artigo onde ele acabou irritando Ratzinger profundamente.

Pois bem, o mais interessante nesse livro é que o Papa Bento XVI é mostrado em seu lado mais humano, uma aproximação impensada para qualquer católico comum ao redor do mundo. Ratzinger é retratado como um estudioso, um homem extremamente culto e erudito, mas também profundamente tímido e reservado. Um homem de letras, que adorava ficar em seu escritório por longas horas escrevendo suas teses acadêmicas. Quando João Paulo II morreu, ele planejou voltar para sua terra natal, onde iria dedicar seus últimos anos de vida para escrever vários livros que planejava sobre a infância e juventude de Jesus. Era um velho sonho do cardeal. Ele certamente queria apenas participar da eleição do novo Papa, pedir sua aposentadoria ao Vaticano o mais rapidamente possível e voltar feliz e realizado para sua cidade natal na Alemanha. Queria morrer em paz na região onde foi criado por pais amorosos e bastante religiosos. Inclusive já havia acertado tudo com sua irmã que iria morar ao seu lado.

Agora imaginem um senhor idoso como ele, ciente que havia chegado ao fim de uma longa caminhada, ser eleito, praticamente da noite para o dia, o novo Papa! Por isso o livro se chama, de forma muito adequada aliás, "O Homem Que Não Queria Ser Papa". Naquela altura de sua vida Joseph Ratzinger se sentia pronto e realizado para curtir uma aposentadoria ao lado de seus amados livros. Um homem que estudou a vida inteira e que queria terminar seus dias ao lado de sua irmã, fazendo aquilo que mais gostava: ler e escrever. Ele inclusive já havia mandado grande parte de sua biblioteca para a Bavária. Estava literalmente de malas prontas.

De repente ele acabou sendo eleito Papa, se tornando líder espiritual de mais de 1 bilhão de católicos ao redor do mundo! Foi uma reviravolta complicada de se lidar. O autor aproveita justamente essa delicada situação para mostrar o tumulto e caos que se seguiu à eleição de Ratzinger! O velho cardeal alemão bem sabia que não tinha muitos dos pressupostos necessários para suceder o grande João Paulo II, homem que admirava imensamente. Ele não se considerava carismático e nem tinha o dom de levantar multidões. Para ser ter uma visão de seu modo de ser, ele gostava de realizar missas com poucas pessoas, em igrejinhas de Roma que comportavam no máximo 50 pessoas. Também adorava rezar missas em latim, algo que o fazia lembrar de sua infância querida. Para Ratzinger as missas tinham que ter um certo sentimento de aproximação e familiaridade entre o sacerdote e seus fiéis. Muito longe das missas campais celebradas por Papas, onde se chega a cifras absurdas de pessoas presentes.

Assim o autor vai mostrando os primeiros dias de Joseph no trono, seus pequenos erros e gafes e sua imensa dificuldade de assumir um cargo de tamanha grandeza e responsabilidade. Como era um religioso de bastidores, foi muito penoso para ele ir para a frente das câmeras, participar de eventos públicos com milhões de pessoas e se mostrar confortável com tudo o que teve que enfrentar. Confesso que em determinados momentos do livro cheguei até mesmo a sentir pena de Bento XVI por causa de algumas situações aflitivas pelas quais passou. Um homem que jamais almejou virar a estrela do show ou ir para debaixo dos holofotes do mundo! Apenas uma pessoa reservada como ele entenderá perfeitamente os sentimentos que ele precisou enfrentar, tendo o mesmo temperamento.

Conservador e muito firme em suas opiniões, Bento XVI sempre será lembrado como um Papa de transição entre dois Papas que são verdadeiros símbolos da mídia moderna, João Paulo II e Francisco. Por falar em Jorge Mario Bergoglio, ele também está nas páginas do livro em um momento particularmente muito saboroso, justamente no conclave que elegeu Ratzinger! Poucos sabem, mas o fato é que Francisco quase foi escolhido nessa primeira votação. Os cardeais presentes na Capela Sistina reconheceram prontamente a vocação de Bergoglio para assumir o anel do pescador, porém segundo o autor, o futuro Papa sentiu a pressão e dizem ficou bastante nervoso naquele momento. Suando bastante e de cabeça baixa, Jorge Mario Bergoglio parecia sentir o peso de cada voto dado a ele. Talvez por isso os demais cardeais tenham no último momento escolhido o mais frio e equilibrado Joseph Ratzinger.

É bom também chamar a atenção para o fato de que muito do que se tornou realidade com a renúncia de Bento XVI pode ser entendido ao se ler esse livro. Pequenos e grandes desapontamentos do novo Papa parecem confirmar a tese que ele realmente não aguentou a pressão a que vinha sendo submetido desde os seus primeiros dias. A saúde também já não era boa. Ele tinha problemas de locomoção e sentia muitas dores. Não queria passar pelo que passou João Paulo II que foi sucumbindo à doença na frente do público ao longo dos anos. Ele próprio mudou uma questão de direito canônico para deixar mais clara sua posição na renúncia. Um mosaico de eventos e fatos que acabou dando origem à sua decisão que deixou o mundo surpreso. Assim deixo a recomendação desse livro - um revelador passeio por dentro dos muros do Vaticano em um dos momentos mais importantes e vitais de sua história.

Pablo Aluísio.