domingo, 10 de agosto de 2025

O Caçador

Uma boa produção australiana. O filme conta a estória de um caçador (Willem Dafoe) que é contratado por uma grande empresa de engenharia genética para ir até a Tâsmania (na Austrália) com o objetivo de capturar o que seria a última espécie de um famoso tigre que é dado como extinto pela ciência desde a década de 20. Chegando lá ele acaba conhecendo a família de um ecologista desaparecido. Também tem que lidar com a hostilidade dos moradores locais que pensam que ele também é um pesquisador ecologista, O fato é que a indústria madeireira da região é a única fonte de trabalho dos moradores do local. O filme é lindamente fotografado em uma região extremamente bela da Oceania. Há longas tomadas da fauna e flora da densa floresta australiana. O roteiro soube explorar bem esse lado mais natural sem esquecer também de desenvolver o afeto que o caçador vai nutrindo pela família que lá encontra.

Os fãs do cinema americano provavelmente vão estranhar um pouco o ritmo da produção que não tem pressa nenhuma em contar a estória. Há uso de efeitos digitais também mas eles são discretos e necessários uma vez que o tal tigre da Tasmânia está extinto mesmo e eles tiveram que recriar o animal digitalmente. O roteiro é bem escrito e redondinho e não tem pretensões de ser épico ou tentar desenvolver os personagens mais profundamente. No fundo é um misto de mensagem ecológica com cenas de cartão postal. A única crítica mais severa que faço a "The Hunter" é o seu desfecho que achei realmente imoral e indigno. Poderiam ter desenvolvido outro destino para o animal caçado - do jeito que ficou o final me deixou realmente aborrecido. De qualquer forma assistam, penso que irão gostar (principalmente os defensores da natureza).

O Caçador (The Hunter, Austrália, 2011) Direção: Daniel Nettheim / Roteiro: Alice Addison / Elenco: Sam Neill, Willem Dafoe, Frances O'Connor, Sullivan Stapleton , Dan Wyllie, Callan Mulvey, Jacek Koman, Morgana Davies / Sinopse: Martin David (Willem Dafoe) é um caçador que é contratado por uma empresa de biotecnologia para ir até distante floresta australiana com o objetivo de capturar o último tigre da Tasmânia.

Pablo Aluísio.

Sob o Domínio do Medo

Essa é a segunda transposição para as telas do livro "The Siege of Trencher's Farm" de Gordon Williams. A obra literária original mostrava uma imagem nada agradável de certos moradores de uma típica cidade sulista do interior dos EUA. Embora o livro tenha sua fama todos os cinéfilos certamente se lembram muito mais do filme original com Dustin Hoffman no elenco e direção de Sam Peckinpah. O filme realizado na década de 70 marcou época por causa de sua violência estilizada. O original tinha uma tensão e um suspense inovadores na linguagem cinematográfica da época o que não se repete aqui nessa releitura. Nessa nova versão resolveu-se trocar tudo isso pela simples e pura violência irracional, sem maiores preocupações com estilo ou estrutura. Os tempos são outros realmente. O que realmente marca esse remake atual é sua característica de produção B com orçamento restrito..Por essa razão esqueça maiores comparações. Claro que a trama segue praticamente a mesma do antigo filme com Dustin Hoffman: casal vai morar em uma pequena cidade do sul dos EUA e lá começa a sofrer hostilidades dos moradores locais. A esposa é nascida na cidade e conhece as manias dos habitantes mas o maridão é do tipo nerd, roteirista e escritor de Hollywood que logo é tachado de "otário" pelos valentões e beberrões do local. Além disso ela foi namorada no passado de um dos trabalhadores locais que vai até sua casa para realizar reformas em um dos telhados do imóvel. A tensão decorrente dessa situação logo se impõe. Como sabemos os red necks (caipirões americanos) não são um bom exemplo de gente culta e civilizada. Pelo contrário, conseguem cultuar até nos dias atuais uma mentalidade completamente atrasada e anacrônica.

O elenco é todo formado basicamente por atores de seriados o que vai ser divertido para quem gosta de acompanhar séries. O destaque vai para o ator sueco Alexander Skarsgård. que interpreta o vampiro Eric Northman em "True Blood". Certamente ele tem uma boa presença em cena que não compromete o resultado do filme embora também não surpreenda em momento algum. James Marsden, que faz o protagonista, apesar de carismático ainda não tem cacife para levar uma produção dessas para o sucesso nas bilheterias (tanto que o filme teve resultado bem ruim nesse aspecto não conseguindo sequer recuperar seu investimento). De resto, como já disse, só sobra mesmo muita violência (estupros, torturas, assassinados e mortes bizarras - inclusive uma com uma armadilha para urso, totalmente inusitada). Enfim, um remake realmente desnecessário e sem importância mas que pode até mesmo servir para aliviar o tédio em uma tarde chuvosa se você não exigir muito.

Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, Estados Unidos, 2011) Direção: Rod Lurie / Roteiro: Rod Lurie, David Zelag Goodman baseados na obra "The Siege of Trencher's Farm" de Gordon Williams / Elenco: James Marsden, Kate Bosworth, Alexander Skarsgår / Sinopse: Casal vai morar em uma pequena cidade do sul dos EUA e lá começa a sofrer hostilidades dos moradores locais. A esposa é nascida na cidade e conhece as manias dos habitantes mas o maridão é do tipo nerd, roteirista e escritor de Hollywood que logo é tachado de "otário" pelos valentões e beberrões do local. Além disso ela foi namorada no passado de um dos trabalhadores locais que vai até sua casa para realizar reformas em um dos telhados do imóvel. A tensão decorrente dessa situação logo se impõe.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de agosto de 2025

Rita Lee - Lança Perfume

Rita Lee - Lança Perfume
Esse disco consagrou a Rita Lee como cantora solo de enorme sucesso comercial. Ela vinha na estrada há muitos anos, havia feito grande sucesso com o grupo Os Mutantes e depois alcançou bastante sucesso de crítica em sua fase ao lado da banda Tutti-Frutti. Só que nada do que havia acontecido antes em sua carreira iria se comparar com o sucesso desse álbum. Lançado em setembro de 1980 o disco logo virou febre, praticamente transformando cada faixa em grande sucesso nas rádios e nas casas noturnas (o Brasil ainda vivia a moda da Discoteca). 

Em poucos meses no mercado o disco vendeu 1 milhão de cópias! Um sucesso de fazer inveja a Roberto Carlos em nosso país. A gravadora mal deu conta de tantos pedidos chegando todos os dias. Todo mundo queria ter sua cópia. Eu vivi aqueles anos e era até complicado encontrar alguma casa que não tivesse esse LP da Rita Lee. Como eu disse, foi mesmo a grande consagração da artista em termos de sucesso comercial. Um êxito que mostrava que a Rita Lee finalmente havia chegado no topo da música popular brasileira!

Rita Lee - Lança Perfume (1980)
Lança Perfume
Bem Me Quer
Baila Comigo
Shangrilá
Caso Sério
Nem Luxo, Nem Lixo
João Ninguém
Ôrra Meu

Pablo Aluísio. 

Raul Seixas - Gita

Esse foi o disco de maior sucesso comercial da carreira de Raul Seixas e também aquele que lhe trouxe maiores problemas. Acontece que os militares, em plena ditadura, implicaram com a letra da música "Sociedade Alternativa". Para os incultos fardados aquilo era música de comunista. Estaria Raul Seixas propondo a formação de uma sociedade comunista no Brasil? Pois é, hoje soa absurdo esse tipo de questionamento, mas na época a barra pesou para Raulzito e seu principal parceiro, Paulo Coelho. Ambos foram chamados para dar explicações no temido DOPS, centro de torturas do porão da ditadura militar, aquela porcaria que assolou nosso país.

De qualquer forma, olhando-se apenas para o que importa (a música) temos aqui alguns dos maiores clássicos do cantor e compositor. Os destaques vão para "Medo da Chuva", que tem uma letra simplesmente maravilhosa, muito impactante; para a canção título "Gita", toda baseada na obra do bruxo inglês Aleister Crowley, auto intitulado "A Besta do Apocalipse" e finalmente para "O Trem das 7", mostrando todo o lado sertanejo e brejeto do roqueiro baiano. "Loteria da Babilônia", com seu jogo de palavras sempre me lembrou de Bob Dylan. Então é isso, "Gita" é o exemplo do grande talento desse tal de Raulzito.

Raul Seixas - Gita (1974)
1. Super-Heróis
2. Medo da Chuva
3. As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor
4. Água Viva
5. Moleque Maravilhoso
6. Sessão das 10
7. Sociedade Alternativa
8. O Trem das 7
9. S.O.S.
10. Prelúdio
11. Loteria da Babilônia
12. Gîta

Pablo Aluísio.  

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O Apostador

Jim Bennett (Mark Wahlberg) é um daqueles sujeitos que nasceu com tudo pronto para dar certo na vida. Filho de uma família tradicional e aristocrática, neto de um dos homens mais ricos da América, professor universitário culto e inteligente, tudo parece caminhar muito bem em sua existência. O que poucos sabem é que Jim também tem um lado oculto, uma vida que quase nunca vem à tona. Ele é um jogador compulsivo, um viciado em jogatinas e apostas. Quando não está dando aulas de literatura romântica em uma ótima universidade, Jim está mergulhado em mesas de cartas e roletas, geralmente no submundo de Las Vegas, onde as apostas não possuem limites e as dívidas são pagas com a própria vida. Agora, depois de se endividar absurdamente, Jim precisa pagar a um chefão da máfia coreana uma pequena fortuna proveniente de seu vício. Ele tem sete dias para quitar 260 mil dólares em dívidas provenientes das mesas de jogos ou então será executado sumariamente. Para resolver o problema ele acaba se atolando ainda mais ao procurar um perigoso agiota, um criminoso, que não está disposto a perder seu dinheiro para um apostador inveterado como ele. O cerco vai se fechando cada vez mais ao seu redor. "The Gambler" é o novo filme estrelado por Mark Wahlberg. Esse ator conseguiu ao longo dos anos escolher muito bem os filmes dos quais participa. Embora não seja um grande talento na arte de atuar ele demonstra ter um bom faro para se envolver nos projetos certos. Afinal de contas um bom roteiro faz toda a diferença do mundo.

Assim ele acerta novamente ao atuar nessa nova produção. O enredo é muito bom, envolvente até, mostrando uma pessoa que não consegue controlar seu vício em apostas. Embora seja um jogador talentoso, daqueles que conseguem ganhar altas somas em apenas algumas horas, ele tem um sério problema pois simplesmente não consegue parar na hora certa. Viciado em adrenalina também comete grandes loucuras ao apostar fortunas em apenas uma jogada decisiva. Com atitudes assim não é de se admirar que acabe invariavelmente arruinado no fim da noite. Sua salvação parece vir de onde menos se espera. Ele se surpreende pelo talento literário de uma nova aluna, Amy Phillips (interpretada pelo bonita e carismática Brie Larson), que pode ser o caminho para um recomeço em sua vida. O elenco de apoio é de primeira, a começar pela oscarizada Jessica Lange. Ela interpreta sua mãe, uma mulher que precisa salvar de tempos em tempos o seu pescoço, justamente por ele quase sempre ser ameaçado de morte por dívidas com gangsters. Lange poderia ter sido melhor aproveitada pelo roteiro, mas sua pequena presença já vale o ingresso. Outro boa participação vem com o ator John Goodman. Sempre visto como bom comediante, Goodman surpreende ao interpretar um agiota que acaba tendo os melhores diálogos de todo o filme. Sua explicação sobre o momento em que todos ganham o direito de usar a palavra "dane-se" é muito bem bolada. Então é isso, o que temos aqui é um bom filme, apoiado em um roteiro bem escrito, excelente trilha sonora com várias canções dos anos 70 e atuações inspiradas.

O Apostador (The Gambler, Estados Unidos, 2014) Direção: Rupert Wyatt / Roteiro: William Monahan, James Toback / Elenco: Mark Wahlberg, Jessica Lange, John Goodman, Michael Kenneth Williams, George Kennedy. Indicado ao Black Reel Awards na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Michael Kenneth Williams). 

Pablo Aluísio.

Tomb Raider: A Origem

Essa é a terceira vez que tentam trazer para o cinema a personagem dos games Lara Croft. Nas duas anteriores ela foi "interpretada" pela Angelina Jolie. Nenhum dos dois filmes funcionou em minha opinião. Eram filmes bem produzidos e tudo mais, porém com roteiros básicos demais para se levar á sério. Tentando melhorar agora o roteiro tem um pouquinho mais de consistência, desenvolvendo até aspectos da personalidade de Croft. Nesse novo filme a aventureira é interpretada pela atriz sueca Alicia Vikander. Provavelmente você vai se lembrar dela do bom filme de ficção "Ex_Machina", onde a garota interpretava uma androide que chegava na conclusão que os seres humanos seriam dispensáveis. Agora Alicia dá vida a uma Lara Croft bem jovem, que tenta superar o desaparecimento do pai, há sete anos sumido, após participar de uma expedição.

Juntando as pistas ela resolve então ir na ilha perdida no mar do Japão onde seu pai desapareceu. Ele estava em busca de uma tumba de uma suposta deusa da morte. Dizia-se que ela espalhava a destruição e a morte em tudo que tocasse. Se ela voltasse do mundo dos mortos seria a destruição completa da humanidade. Com uma lenda dessas, acabou atraindo o interesse também de pessoas inescrupulosas. Assim Lara precisa não apenas encontrar seu pai como também sobreviver a todos os perigos e vilões nessa expedição.

Eu gostei desse filme. A influência dos filmes de Indiana Jones é quase completa, até porque a própria personagem dos games é uma espécie de versão feminina do arqueólogo mais famoso do cinema. Mesmo assim é algo que funciona. O filme se mostra menos ansioso do que os anteriores, o que significa que as coisas vão acontecendo com mais calma, com melhor desenvolvimento da história. De maneira em geral é um bom produto pipoca de pura diversão. Além disso não vai aborrecer os fãs de games. Ficou tudo dentro das expectativas.

Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider, Estados Unidos, 2018) Direção: Roar Uthaug / Roteiro: Geneva Robertson-Dworet, Alastair Siddons / Elenco: Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins / Sinopse: A jovem Lara Croft (Alicia Vikander) decide ir atrás do pai, desaparecido há sete anos numa ilha pouco conhecida dos mares do Japão. Ele estava em busca da tumba de uma antiga divindade japonesa antiga, a deusa da morte e da destruição.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Extermínio

Extermínio 
Nunca havia assistido a nenhum filme dessa franquia... até agora! Estava um tanto farto desse negócio de filmes sobre Apocalypse Zumbi. Pareciam mesmo ser todos iguais. Então surgiu nos cinemas o novo filme da franquia e como não havia visto nada resolvi conferir. Quem sabe esse trazia algo de novo. Estruturalmente o roteiro não é lá muito original, ou melhor dizendo, nada original. Apesar disso acabei gostando do filme, para minha total surpresa, é bom frisar. Mais do mesmo, devo admitir, mas bem feitinho...

A história se passa numa Inglaterra devastada por um vírus que transformou todos os infectados em bestas, em feras insanas. Como se fosse um vírus da raiva turbinado ao máximo. Tecnicamente não são zumbis, estão vivos, podem ser mortos por balas, mas no geral agem como os monstros mais clássicos do tipo, vagando por aí, sedentos por carne humana. Então há esse protagonista que acorda em uma cama de hospital e vai descobrindo que as ruas estão vazias, que um terrível mal se abateu sobre Londres. Eventualmente ele conhece um bom homem (que está sadio) e sua filha. Juntos eles vão para o interior em busca de uma comunidade de sobreviventes. E o filme é isso. Apesar da falta de maiores surpresas é um filme mais bem produzido e caprichado do que a carniça rotineira que estamos acostumados e ver em filmes de zumbis. Por essa razão gostei do que vi a ponto de ir atrás também do segundo filme! Deus que me proteja!

Extermínio (28 Days Later, Reino Unido, Estados Unidos, 2002) Direção: Danny Boyle / Roteiro: Alex Garland / Elenco: Cillian Murphy, Naomie Harris, Christopher Eccleston / Sinopse: Um homem acorda após meses internado em um hospital de Londres. Ao caminhar pelas ruas descobre que tudo está vazio! Não há ninguém por perto! Só depois vai entender que um vírus mortal devastou a Inglaterra (e o mundo). Os poucos seres humanos sadios fogem dos infectados, que se transformaram em bestas e feras, sedentos de carne humana! 

Pablo Aluísio. 

Anjos Rebeldes 2

Anjos Rebeldes 2
Se o primeiro filme já era fraco... imagine o segundo! Aliás tão fraco que sequer foi lançado nos cinemas na época, indo parar diretamente no mercado de vídeos VHS. Coisas de uma indústria cinematográfica que começava a tomar consciência que nem todos os filmes mereciam a honra de serem exibidos nos cinemas. De uma maneira ou outra, mesmo não tendo gostado muito do primeiro filme, tive curiosidade suficiente para assistir a essa continuação. 

O enredo era básico: Anjos em luta em nosso mundo pelo bem e pelo mal. Na disputa uma mulher que estaria grávida de um menino que supostamente seria o novo Messias a caminhar pela Terra, tal como um Jesus Cristo dos tempos modernos. Um aspecto curioso dessa franquia é que até mesmo os anjos do bem eram seres meio asquerosos, provando que a linha que separava o Paraíso do Inferno era mais tênue do que inicialmente poderia se pensar. Nem preciso dizer também que os religiosos conservadores da época ficaram mais uma vez irritados com esses filmes, mesmo que fossem, em última análise, apenas produtos rápidos de cultura pop. Eita gente chata! 

Anjos Rebeldes 2 (The Prophecy II, Estados Unidos, 1998) Direção: Greg Spence / Roteiro: Gregory Widen, Matt Greenberg / Elenco: Christopher Walken, Russell Wong,  Jennifer Beals / Sinopse: Quando os poderes do bem e do mal descem novamente à Terra em uma batalha pela humanidade, a única esperança de sobrevivência é o filho ainda não nascido de uma mulher inocente. Com a ajuda de um estranho misterioso, ela corre para proteger seu filho e salvar a humanidade.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Anticristo

O filme "Antichrist" do diretor Lars Von Trier não é indicado para todos os tipos de público, muito pelo contrário. Na realidade poucas pessoas irão compreender na totalidade todas as nuances e subtextos inclusos nele durante sua projeção. A maior prova disso aconteceu justamente em Cannes quando o diretor acabou se aborrecendo com as perguntas dos jornalistas sobre qual seria o verdadeiro significado desse filme. Ora, este é o tipo de produto cinematográfico que não é para ser explicado para a coletividade como um todo e sim compreendido por cada um à sua própria maneira, da forma que melhor lhe couber. Explicar ou tentar explicitar as verdadeiras razões do filme seria tirar pelo menos metade de seu conteúdo e fascínio. Antichrist não é para ser explicado ou entendido, ao invés de levantar respostas ele serve justamente para o oposto disso, ou seja, formular ainda mais dúvidas em quem o assiste.

O argumento em si pode soar banal para alguns. Um casal sofre a perda de seu único filho, que cai da janela de seu apartamento. Após essa tragédia o casal resolve se refugiar em um bosque, numa casa isolada, para tentar superar o trauma da perda da criança. Assim durante praticamente todo o filme só temos dois personagens em cena, justamente a esposa e seu marido, cujos os nomes em nenhum momento são citados. Simplesmente são identificados como "ele" e "ela". Willem Dafoe, como o marido, está muito bem. Como terapeuta ele tenta ajudar a esposa na dura batalha de superação da morte do filho. O grande destaque porém em termos de interpretação fica com a excelente e talentosa atriz francesa Charlotte Gainsbourg. Seu trabalho no filme é digno de aplausos, pois a personagem principal em crise exige uma entrega ao papel fora do comum. Ela está perfeita em cena, a série de emoções que tem que passar ao público demonstra que estamos realmente na presença de uma atriz acima da média.

Apesar do título, Antichrist não é nem de longe um filme de terror ou algo semelhante. Na realidade a violência, a angústia e o desespero são retratados de forma intimista, bem mais interior. O diretor confessou em entrevista que concebeu o filme quando estava passando por uma série crise de depressão. No caso notamos isso em cada minuto de projeção. O filme é tenso, soturno e sombrio. O cenário, dentro da floresta, deixa tudo ainda mais depressivo. O uso de cenas fortes (inclusive breves momentos de sexo e violência explicitas) deixam claro que o filme não é, em nenhum momento, um passatempo agradável ou de fácil assimilação. Os subtextos sobre o jardim do Éden, do casal isolado na floresta, do filho com defeitos congênitos (seria ele o anticristo realmente?), da força da natureza, tudo nos leva à reflexão após o assistir. Em dias atuais, onde o cinema está cada vez mais pipoca e juvenil do que nunca, isso não é pouca coisa. Que venham outros brilhantes trabalhos de Lars Von Trier, os cinéfilos agradecem. Afinal de contas o caos reina!

Anticristo (Antichrist, Suécia, Polônia, Alemanha, França, Itália, Dinamarca, 2009) Direção: Lars von Trier / Roteiro: Lars von Trier / Elenco: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg, Storm Acheche / Sinopse: Após a morte de seu único filho um casal se isola em uma floresta distante para repensar e superar o trauma e o choque da perda. O isolamento do local porém dá margem ao surgimento dos instintos mais básicos e violentos do ser humano.

Pablo Aluísio.

O Mensageiro

The Messenger é um bom retrato do outro lado das guerras em que os EUA estão envolvidos nesse momento. O roteiro mostra a rotina de trabalho de dois soldados americanos que tem como missão básica informar a morte dos combatentes aos seus familiares. Nem é preciso dizer da intensa carga emocional que essas situações geram. O interessante desse bom roteiro escrito por Oren Moverman e Alessandro Camon é que ele nos mostra os bastidores da guerra, o lado mais humano das perdas de vidas e a dor e o sofrimento daqueles que perderam seus entes queridos. De certa forma lembra muito um outro filme chamado O Retorno de um Herói, um belo trabalho de atuação do "eterno coadjuvante" Kevin Bacon. Ele inclusive tem recebido diversos prêmios por sua atuação inspirada.

Aqui temos a dupla formada pelos também ótimos atores Ben Foster e Woody Harrelson. O primeiro tem se destacado bastante nos filmes que tem feito e o segundo é velho conhecido dos cinéfilos, tendo atuado em filmes marcantes ou divertidos como O Povo Contra Larry Flint e Zombieland. Tenho lido algumas críticas sobre o filme em que se afirma que o tema dele logo se esgota e o argumento se repete em demasia ao longo da projeção. Não penso assim. Ao lado da tarefa desempenhada pelos soldados vamos conhecendo também os problemas emocionais deles, os traumas causados pelo front e as dificuldades de desenvolver uma relação estável com alguém. O filme não é cansativo e cria situações interessantes do ponto de vista dramático, como a questão ética de se envolver com a viúva de um militar morto em combate ou a falta de sensibilidade e envolvimento emocional por parte dos notificadores com a dor dos familiares. The Messenger levanta questões interessantes que devem ser debatidas. 

O Mensageiro (The Messenger. EUA, 2009) Direção: Oren Moverman / Roteiro: Oren Moverman e Alessandro Camon. Com Ben Foster, Jena Malone, Eammon Walker, Woody Harrelson, Samatha Morton, Steve Buscemi, Yaya da Costa. / Sinopse: O filme conta a história de dois militares que possuem como função principal levar a comunicação para os familiares que seus entes queridos morreram em campos de batalha. E isso leva os militares a ter, todos os dias, uma forte carga emocional desses encontros, que quase nunca são pacíficos ou reconfortantes. 


Pablo Aluísio.