sábado, 21 de novembro de 2020

Marnie - Confissões de uma Ladra

Marnie Edgar (Tippi Hedren) é uma ladra, uma mentirosa e uma vigarista. Ela sempre aplica o mesmo golpe. Arranja emprego como secretária em escritórios de renome. Após algumas semanas trabalhando, sendo ótima funcionária, ela começa a estudar a rotina do escritório. O mais importante é descobrir onde fica a senha para abrir o cofre, onde estão os dólares. Uma vez que consegue o que deseja, o furto é realizado, geralmente na calada da noite. Ela tem uma mãe doente que mora em Baltimore. Parte do dinheiro que rouba é usado para ajudá-la. Só que após tantos golpes Marnie é finalmente descoberta por Mark Rutland (Sean Connery). O mais estranho é que ele não a entrega para a polícia. Ao contrário, se apaixona por ela. E se torna seu marido em um casamento estranho, obsessivo, à beira da insanidade. Marnie se casa com receios de ir para a prisão, mas logo seus diversos problemas psicológicos começam a surgir. Ela tem pavor da cor vermelha, tem pesadelos recorrentes e não consegue conter seus impulsos para o crime. Mal o marido dá as costas ela já começa a planejar como roubar o cofre dele. Também se revela, mais uma vez, mentirosa e manipuladora. Casar com uma mulher como essa se revela acima de tudo ser algo bem perigoso.

"Marnie" é considerado um filme menor do grande mestre Alfred Hitchcock. Discordo bastante dessa opinião. Conforme o filme avança o roteiro vai explicando melhor o que acontece na mente de Marnie, seus traumas de infância, as violências que sofreu e porque odeia homens em geral. Ela sofre de um caso grave de frigidez sexual, o que torna intolerável o mero toque de um homem em seu corpo. E ela não baixa a guarda nem para seu próprio marido, uma pessoa que em última análise também é um chantagista emocional. Como todos sabemos o grande Sean Connery faleceu no último 31 de outubro, aos 90 anos. E foi justamente esse o gatilho que me levou a rever esse clássico do mestre Hitchcock. Na época em que atuou nesse filme Connery ainda era James Bond. Ele procurava por novos caminhos, para não ficar marcado com um só personagem. Claro, ele alcançou seus objetivos e está excelente nesse papel. Um sujeito elegante que tenta ajudar a mulher que ama. No começo ficamos com um pé atrás sobre essa sua paixão. Afinal Marnie se revela uma mulher criminosa e perigosa, mas ele passa por cima de tudo por esse sentimento de amor. Em suma, um filme de Hitchcock que merece ser melhor avaliado nos dias atuais. Suas nuances psicológicas, o desenvolvimento dos personagens, é algo que impressiona. O mestre do suspense realmente não brincava dem serviço.

Marnie, Confissões de uma Ladra (Marnie, Estados Unidos, 1964) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro:  Jay Presson Allen, baseado no romance escrito por Winston Graham / Elenco: Tippi Hedren, Sean Connery, Martin Gabel, Diane Baker, Louise Latham / Sinopse: Marnie Edgar (Tippi Hedren) é uma ladra que vive de pequenos e grandes golpes. Descoberta por Mark Rutland (Sean Connery), ela passa a ser ajudada por esse que acaba se tornando seu marido. Filme indicado pelo Cahiers du Cinéma como melhor filme do ano.

Pablo Aluísio. 

Sahara

Temos aqui um clássico dos filmes de guerra, estrelado pelo astro da época em Hollywood, o ator Humphrey Bogart. A história do filme se passa durante a II Grande Guerra Mundial. Um tanque das forças armadas americanas sob o comando do Sargento Joe Gunn (Humphrey Bogart) acaba perdido no meio das areias do deserto do norte da África. Cercados por tropas alemãs por todos os lados, Gunn e seus homens tentam desesperadamente encontrar algum poço com água na região pois suas reservas estão quase no final. No caminho acabam fazendo dois prisioneiros, um soldado italiano e um oficial alemão, que se recusam a colaborar com seus inimigos americanos. A despeito de ter sido feito durante o esforço de guerra dos Estados Unidos, ainda no meio dos acontecimentos, em plena II Guerra Mundial, e ter como principal objetivo levantar a moral das tropas aliadas, "Sahara" é um belo retrato dos militares que lutaram nas areias escaldantes do deserto africano. O sargento interpretado por Bogart é um exemplo disso. Eles encontram um soldado italiano no meio do deserto. Como havia escassez de água e comida, levar o inimigo não seria uma boa ideia. Deixá-lo no Sahara também não, pois o condenaria à morte certa. Por uma questão de humanidade decide então salvar a vida do soldado, mesmo sendo seu inimigo. É o bom mocismo das tropas americanas colocada em primeiro plano no roteiro, uma forma de deixar claro que aqueles homens estavam lutando pelos verdadeiros ideais, pelo lado certo do conflito.

Outro aspecto interessante em "Sahara" é a linha dramática que o filme explora. Após procurar por um poço de água no meio daquele inferno de areias sem fim, os soldados americanos descobrem um que está praticamente vazio, apenas no fundo encontram uma gruta que pinga algumas gotas de água para finalmente matarem sua sede. O local assim passa a ser disputado de forma violenta por americanos e alemães que também sofrem com o clima hostil da região. O personagem de Bogart mesmo sabendo que há pouca água no poço, resolve transformar o local numa moeda de troca com as tropas de soldados alemães que estão em maior número, mas sedentos de sede. O que se desenrola a partir daí é umas melhores coisas do filme, pois os americanos, como se estivessem num jogo de poker, começam a blefar com os oficiais alemães, prometendo água (que na realidade não possuem em abundância) em troca da rendição das tropas do III Reich. Um brilhante jogo de tensão psicológica então se impõe entre os inimigos, revelando um roteiro muito bem escrito, acima da média, para um filme da época. Assim deixo a dica para quem gosta de filmes sobre a II Guerra Mundial. "Sahara" mostra que acima das ideologias e das doutrinas políticas, existe apenas a luta pela sobrevivência do homem contra as forças da natureza ao qual ele não tem o menor controle.

Sahara - Em Busca da Sobrevivência (Sahara, Estados Unidos, 1943) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Zoltan Korda / Roteiro: John Howard Lawson, Zoltan Korda / Elenco: Humphrey Bogart, Bruce Bennett, J. Carrol Naish / Sinopse: Um tanque do exército americano se perde nas areias do deserto do norte da África, durante a II Guerra Mundial. Eles fazem prisioneiros entre os inimigos e procuram por água de forma desesperada, pois estão sem ela para conseguir sobreviver naquele inferno quente e seco. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (J. Carrol Naish), melhor direção de fotogtafia (Rudolph Maté) e melhor som (John P. Livadary).  

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Paris Está em Chamas?

Clássico dos filmes de guerra. A frase "Paris Está em Chamas?" é atribuída ao ditador nazista Adolf Hitler. Ele havia ordenado aos generais alemães em Paris para que queimassem toda a cidade, não deixassem nenhum monumento em pé, que a destruição fosse total. Isso aconteceu no período final da guerra, quando a Alemanha nazista já estava sendo derrotada em praticamente todos os campos de batalha da Europa. Como vingança Hitler queria a destruição completa da capital francesa. Um ato final de loucura de um dos mais infames ditadores da história moderna. O roteiro porém faz um amplo painel do que aconteceu antes que Hitler desse essa ordem insana. Quando o filme começa, vemos os bastidores da dominação nazista em Paris. Descontente com os rumos da administração alemã na cidade de Paris, naquele momento ocupada pelos nazistas, o ditador Adolf Hitler resolve mudar o comandante da capital da França. Envia para lá um general linha dura com expressas ordens de destruir a cidade antes dela ser invadida por forças aliadas. Vendo a aproximação de tropas americanas na região, os moradores de Paris então intensificam os ataques contra os soldados alemães na cidade. A resistência francesa ganha cada vez mais apoio da população em geral, todos esperando ansiosamente pela tão sonhada libertação de Paris.

Essa é uma produção francesa, com elenco cheio de estrelas francesas e americanas, que procura narrar os eventos que antecederam a libertação da cidade de Paris pelas tropas aliadas. Hitler queria que a cidade fosse incendiada antes que os americanos tomassem posse dela, um ato absurdo e lunático que levaria a perder centenas de anos de história, arte, cultura e arquitetura. O ditador alemão não queria ver nada de pé caso os alemães perdessem o controle da principal cidade francesa. O título do filme, "Paris Está em Chamas?", reflete bem isso, pois essa foi uma pergunta feita por telefone por um alto oficial alemão ao comandante do eixo na capital após os americanos entrarem na cidade, triunfantes.

É um filme bastante longo, com quase quatro horas de duração, que procura mostrar todos os personagens envolvidos na invasão de Paris. Isso talvez canse alguns espectadores pois o roteiro, apesar de obviamente ter uma linha narrativa principal, procura contar muitas histórias paralelas ao mesmo tempo. Isso porém não atrapalha o resultado final. Os atores americanos do elenco surgem em pequenas participações interpretando generais e oficiais das forças aliadas que foram decisivos na expulsão dos alemães da cidade. Em termos de produção, nada a criticar. Filmado nas próprias ruas de Paris, com uso inclusive de cenas reais captadas no calor da luta, o filme é realmente um ótimo retrato daquele momento decisivo na história da França e da Segunda Guerra Mundial. Um excelente programa para quem estiver em busca de conhecimento sobre aqueles eventos históricos tão importantes.

Paris Está em Chamas? (Paris brûle-t-il?, França, 1966) Estúdio: Marianne Productions, Transcontinental Films / Direção: René Clément / Roteiro: Larry Collins, Dominique Lapierre / Elenco: Jean-Paul Belmondo, Alain Delon, Kirk Douglas, Glenn Ford, Charles Boyer, Leslie Caron / Sinopse: Filme histórico, mostrando os momentos que antecederam a invasão dos aliados (Estados Unidos, Inglaterra e demais países ocidentais) em Paris. A cidade estava completamente dominada pelos nazistas e demais forças do Eixo. A queda de Paris iria se tornar um dos eventos mais simbólicos da derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor direção de fotografia (Marcel Grignon) e melhor direção de arte (Willy Holt, Marc Frédérix). Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor trilha sonora incidental (Maurice Jarre).

Pablo Aluísio.

Corvetas em Ação

Título no Brasil: Corvetas em Ação
Título Original: Corvette K-225
Ano de Produção: 1943
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Richard Rosson, Howard Hawks
Roteiro: John Rhodes Sturdy
Elenco: Randolph Scott, James Brown, Ella Raines, Barry Fitzgerald, Andy Devine, Fuzzy Knight

Sinopse:
O comandante 'Mac' MacClain (Randolph Scott) perde uma de suas embarcações após o ataque de um submarino alemão. Muitos de seus homens são mortos mas ele sobrevive. De volta à terra ele aguarda o comando de seus superiores para assumir outro navio de guerra. Nesse meio tempo acaba conhecendo a bela Joyce Cartwright (Ella Raines), irmã de um de seus oficiais mortos em batalha. Seu breve romance porém logo tem que ser interrompido pois o oficial é designado para assumir o comando de um nova corveta, a Donnacona. Ao conhecer sua nova tripulação acaba tendo uma surpresa e tanto pois outro irmão de Joyce se encontra novamente em sua equipe, um jovem rapaz recém saído da academia militar!

Comentários:
Durante a Segunda Grande Guerra vários filmes foram feitos visando ajudar no esforço de guerra. Essas produções tinham duas características básicas: um tom bem patriótico, visando aumentar o moral das tropas americanas no exterior e roteiros mais simples que tinham como objetivo valorizar o militar que estivesse lutando no front da guerra. Os filmes inclusive eram passados para as tropas para elevar seu senso de honra e patriotismo. "Corvetas em Ação" segue por essa linha. Ele foi realizado em plena guerra, com a ajuda das forças armadas americanas, no caso aqui da Marinha. O ator Randolph Scott, especializado em faroestes, deixou o coldre e a espora de lado para vestir um elegante uniforme de gala da forças navais. Seu personagem, o comandante MacClain, é o símbolo máximo da honradez do marinheiro dos Estados Unidos. Íntegro, honesto e confiável, ele passava a mensagem subliminar para os soldados de que seus oficiais estavam acima do bem e do mal. Homens a quem se deveria obedecer sem medo ou receio. Esse bom filme de guerra foi dirigido pelo talentoso cineasta Howard Hawks, sempre valorizando eletrizantes cenas de combate ao lado de doces momentos de galanteio de Scott para com a bonita Ella Raines. Sua fórmula como sempre era muito bem executada e funcionava muito bem, como vemos aqui. Em suma, um bom entretenimento até hoje, mesmo sendo bem ufanista e idealizada.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Al Capone

Filme clássico que conta a história de Al Capone, o mais famoso criminoso da grande era dos gangsters. Seu "reinado" se deu justamente durante os tempos da lei seca. E o roteiro é muito interessante. Na trama encontramos as origens de sua subida ao topo do mundo do crime. Após passar vários anos como capanga do mafioso Johnny Torrio, o gangster Al Capone (Rod Steiger) decide assumir ele próprio os rumos de seu "negócio". Forma um grupo de criminosos leais a ele e começa uma série de mortes, eliminando todos aqueles que não aceitam sua liderança. Depois começa a corromper políticos e autoridades policiais, para que garantam passe livre para suas atividades ilegais. Com a lei seca, consegue fazer fortuna ao comercializar bebidas aos principais bares clandestinos de Chicago. Investindo também em prostituição e jogos, Capone logo se torna um homem rico e poderoso. Tudo parecia caminhar muito bem para ele até o massacre de St. Valentine's Day que acaba chocando a população da cidade pela brutalidade e violência envolvidas na chacina. A partir daí sua queda se torna inevitável.

Esse clássico do cinema é mais uma produção que foca suas lentes para a vida do mais famoso gangster de todos os tempos, Alphonse Gabriel "Al" Capone (1899 - 1947). O roteiro tem uma interessante visão sobre o criminoso, mostrando seus dias de glória ao mesmo tempo que o mostra senil e corroído pelas sífilis em seus últimos anos. Rod Steiger brilha na composição de seu personagem. Ele não era apenas parecido fisicamente com Capone, mas também adotou todos os trejeitos do famoso bandido. Como era um grande ator leva o filme todo praticamente nas costas já que a produtora Allied Artists Pictures não tinha recursos para bancar uma grande produção.

A parte mais interessante vem da subida de Capone dentro da hierarquia da máfia de Chicago. Sujeito de origem humilde, com pouco estudo, rude e violento, ele se mostra muito astuto ao entender a verdadeira natureza humana a ser corrompida. Assim em sua escalada, Capone dava duas opções aos que cruzavam seu caminho: ou se corrompiam junto a ele através de subornos e corrupções ou então viravam alvos de sua quadrilha. Embora não seja historicamente tão preciso, o roteiro mostra algo bem vital na subida de Capone ao poder, o uso de políticos corruptos em prol de seus interesses. O criminoso inclusive elegeu em seu auge vários prefeitos de Chicago que depois que chegavam ao cargo tinham que garantir caminho livre para as atividades de seu bando. Assim fica a recomendação desse muito bom filme. "Al Capone" mostra muito bem a subida de um criminoso a uma posição jamais imaginada por um sujeito como ele antes. Talvez por isso seja lembrado até hoje.

Al Capone (Al Capone,  Estados Unidos, 1959) Estúdio: Allied Artists Pictures / Direção: Richard Wilson / Roteiro: Malvin Wald, Henry F. Greenberg / Elenco: Rod Steiger, Martin Balsam, Fay Spain / Sinopse: O filme conta a biografia do famoso criminoso Al Capone. Após subir dentro da hierarquia do mundo do crime ele começa um amplo jogo de poder e dominação, corrompendo políticos e policiais da cidade de Chicago.

Pablo Aluísio.

Para Além das Montanhas

Título no Brasil: Para Além das Montanhas
Título Original: The Desperate Ones
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos, Espanha
Estúdio: David Films, Pro Artis Ibérica S.A.
Direção: Alexander Ramati
Roteiro: Alexander Ramati
Elenco: Maximilian Schell, Irene Papas, Raf Vallone, Theodore Bikel, Maria Perschy, Fernando Rey

Sinopse:
Em 1941 dois irmãos poloneses são capturados por tropas soviéticas e enviados para uma prisão russa na Sibéria. Em um típico gulag do regime Stalinista os prisioneiros são tratados da pior maneira possível, em uma situação que muito se aproxima dos campos de concentração nazistas. Transferidos várias vezes durante anos eles conseguem escapar da prisão mas para conseguirem ganhar a liberdade de uma vez por todas terão que sobreviver nas duras condições das montanhas geladas da fronteira com o Afeganistão.

Comentários:
Recentemente tivemos a trista notícia da morte do grande ator austríaco Maximilian Schell (1930 - 2014). Sem dúvida uma grande perda para o mundo do cinema mundial. Intérprete elegante, sofisticado, que sabia incorporar um oficial alemão nazista como ninguém, aqui ele surge em um papel bem diferenciado de sua carreira, pois ao invés de dar vida a oficiais carrascos nazistas da Segunda Guerra, ele interpreta uma vítima daquele conflito insano que varreu a Europa e o mundo. No papel do prisioneiro Marek ele apresenta um de seus personagens mais viscerais. O roteiro também inova pois deixa um pouco as atrocidades cometidas pelas tropas de Hitler de lado para mostrar a brutalidade de outra ditadura feroz da época, a de Josef Stalin no comando da extinta União Soviética. As prisões eram verdadeiros campos de concentração onde milhares de pessoas morriam de fome e frio, além de assassinatos em massa cometidos em torno de uma ideologia que pregava a igualdade mas que na realidade só servia para destruir os inimigos do regime de forma sumária. O texto se propõe a servir de denúncia contra os absurdos do comunismo sob a tirania de Stalin e os limites que um homem pode alcançar para tentar alcançar sua liberdade definitiva. Cenas fortes e realistas que causaram espanto na época. Vale certamente a recomendação nessa semana em que perdemos o grande Maximilian Schell!

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A Ponte de Waterloo

Clássico do cinema com a inesquecível atriz Vivien Leigh. A história se passa durante a segunda guerra mundial quando um oficial inglês, interpretado pelo ator Robert Taylor, relembra quando era apenas um jovem soldado durante a Primeira Guerra Mundial. Naquela época conhecera uma jovem garota, que sonhava um dia se tornar uma grande bailarina. Seus sonhos porém acabam com a explosão da guerra que varreria toda a Europa. Ela se chamava Myra (Vivien Leigh). Tentando sobreviver nas ruas de Londres, abalada pela morte de seu grande amor nos campos de batalha e precisando sobreviver de todas as formas, ela acaba tendo que abrir mão de tudo, inclusive de sua dignidade pessoal. Poucos sabem, mas a estrela Vivien Leigh (1913 - 1967) participou de poucos filmes ao longo de sua carreira. Foram apenas 20 produções entre 1935 e 1965. A atriz inglesa não se dava muito bem com o sistema industrial de fazer cinema em Hollywood e por causa de sua saúde ficava longos anos sem realizar nenhum filme. Também era extremamente seletiva na escolha dos roteiros de que iria participar. Depois de "E O Vento Levou" de 1939 choveram ofertas dos principais estúdios de Hollywood, mas Leigh sabiamente rejeitou a grande maioria deles.

Esse "A Ponte de Waterloo" foi lançado logo após "Três Semanas de Loucura" que sucedeu a "E O Vento Levou". Ao contrário do anterior, que apostava em um texto mais leve e até bem humorado, "Waterloo Bridge" era um dramalhão daqueles bem trágicos, com história bem pesada, mostrando os dramas de uma jovem garota (Leigh), cheia de sonhos e planos a realizar na vida, mas que tinha de desistir de todos eles para lutar pela sobrevivência. O cenário não poderia ser pior, a Europa durante a sangrenta Primeira Guerra Mundial. As cidades destruídas, com a população civil passando por necessidades básicas.

A fome, por exemplo, se tornara uma companheira constante. Vivien Leigh se entrega completamente ao personagem, dando o melhor de si, como sempre aliás. Talvez seu maior problema tenha sido o fato de dividir o filme com Robert Taylor que era apenas um galã sem muito talento dramático. O desnível deles se torna muito evidente ao longo do filme, com Leigh empenhada e muito talentosa e Taylor cheio de poses e olhares canastrões (chega a ser risível sua canastrice em cena!). Talvez por isso o filme não tenha tido a repercussão merecida. De qualquer maneira vale apenas pelo talento da eterna Vivien Leigh, um dos maiores talentos da história do cinema americano em sua fase mais clássica.

A Ponte de Waterloo (Waterloo Bridge, Estados Unidos, 1940) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Mervyn LeRoy / Roteiro: S.N. Behrman, Hans Rameau / Elenco: Vivien Leigh, Robert Taylor, Lucile Watson / Sinopse: Durante a Guerra Mundial, um casal tenta concretizar seu amor em mundo destruído pelo maior conflito armada de toda a história. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor direção de fotografia (Joseph Ruttenberg) e melhor música (Herbert Stothart).

Pablo Aluísio.

A Pequena Órfã

Título no Brasil: A Pequena Órfã
Título Original: Curly Top
Ano de Produção: 1935
País: Estados Unidos
Estúdio: Fox Film Corporation
Direção: Irving Cummings
Roteiro: Patterson McNutt, Arthur J. Beckhard
Elenco: Shirley Temple, John Boles, Rochelle Hudson, Jane Darwell, Rafaela Ottiano, Esther Dale

Sinopse:
Edward Morgan (John Boles) é um milionário excêntrico que casualmente acaba conhecendo a pequena orfã de cabelos encaracolados Elizabeth Blair (Shirley Temple). Ela é encantadora. Mesmo com a má sorte em seu destino, orfã e abandonada, ela mantém uma alegria de viver que encanta a todos ao seu redor. Morgan então decide adotar a criança e sua irmã menor, mas encontra muitas barreiras burocráticas. Assim acaba tendo uma ideia, assumindo uma outra identidade, a de "Mr Jones", algo que criará divertidas confusões.

Comentários:
Shirley Temple era apenas uma criança quando fez esse filme. E ela conseguiu se tornar uma das cinco maiores bilheterias daquele ano. Durante a grande depressão a garotinha virou motivo de alegria para o povo americano que naquela crise não tinha muitos motivos para se alegrar. A única saída para ter alguns momentos de paz e alegria era o cinema mais próximo. E era lá que o americano médio, massacrado pela grave crise que assolava o país, conseguia sorrir mais uma vez. Shirley Temple representava justamente isso, a esperança de um futuro melhor. Aquela menina era naquele momento a representação de tudo o que a América tinha de melhor para oferecer ao seu povo. Otimismo e esperança por um futuro melhor. Não foi à toa que o presidente Franklin Delano Roosevelt disse a famosa frase: "Enquanto tivermos Shirley Temple estaremos bem!". O líder americano queria dizer que enquanto houvesse esperança em um mundo melhor, a nação continuaria a seguir em frente, olhando para frente, confiando nas novas gerações. Agora, colocando tudo isso um pouco de lado, vamos ressaltar o lado mais mais importante desse filme. Shirley Temple era muito talentosa! Duvida disso? Assista a esse "A Pequena Órfã". O que podemos dizer? A pequena era realmente maravilhosa. Temple tinha apenas sete anos quando fez esse simpático filme. Mesmo com tão pouca idade ela não brincou em serviço, pois dançou, cantou e atuou como gente grande! Era algo que Hollywood não tinha visto até aquele momento. Shirley Temple foi sem dúvida a maior atriz mirim de todos os tempos, ao ponto da Academia ter lhe dado um Oscar especial por seu incrível talento.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Lady Hamilton

Depois do grande sucesso de "E O Vento Levou" a atriz Vivien Leigh decidiu deixar Hollywood para trás. Estava cansada dos grandes estúdios, dos produtores, dos executivos americanos. Ela via a atuação de uma outra maneira, como grande arte. Não apenas como algo para se fazer grandes fortunas, em filmes comerciais produzidos em ritmo industrial. Assim ela voltou para sua terra natal, a Inglaterra. Ao lado de Laurence Olivier, seu marido e grande nome do teatro e cinema britânicos, ela começou a procurar por um roteiro realmente artístico para voltar ao cinema. Acabou encontrando em "Lady Hamilton". Esse filme se tornaria a primeira adaptação para o cinema do romance histórico "Fire Over England" escrito por AEW Mason.

A história era bem evocativa de um passado glorioso do império britânico. Sir William Hamilton (Alan Mowbray), um viúvo de meia idade, se torna o embaixador britânico na corte de Nápoles. Emma (Vivien Leigh) é uma jovem inglesa que em visita a sua mãe acaba conhecendo Lord Hamilton. Não demora muito e eles começam um romance. A paixão é compartilhada e em poucos meses eles decidem se casar. Apesar da diferença de idade, o casamento vai bem até Emma, agora Lady Hamilton, conhecer o jovem e destemido Lord Nelson (Laurence Olivier), um militar condecorado, considerado um verdadeiro herói para os britânicos. Apesar da rígida moralidade da sociedade inglesa de sua época, Emma não consegue se controlar e acaba tendo um ardente romance com Nelson, gerando um escândalo na sociedade Londrina.

Essa produção, cujo enredo foi baseado em fatos históricos reais, tem muita classe e sofisticação. Fica claro, desde os primeiros momentos, que os britânicos queriam mostrar aos americanos toda a superioridade de seu nível cultural, sempre mais refinado e elevado. O filme apresenta uma produção pomposa, com figurinos luxuosos e cenários ricamente decorados. Laurence Olivier surge com um tapa-olho na maioria das cenas e Vivien Leigh desfila uma infinidade de vestidos elegantes a cada momento. Aliás o figurino do filme, considerado deslumbrante na época, foi um dos destaques. As roupas foram todas assinadas pela figurinista inglesa Marjorie Best.

A direção de fotografia de Rudolph Maté também foi um dos destaques do filme, sendo indicada pela academia ao Oscar, Um filme bonito de se ver, com direção de arte caprichada, foi considerada naquele ano como uma das produções mais bem realizadas em sua reconstituição de época. Os produtores esperavam por uma indicação de Vivien Leigh ao Oscar, mas ela não veio. Na época se dizia que a comunidade do cinema em Holywood havia ficado ofendida pelo fato de que a atriz inglesa havia voltado para Inglaterra, dando as costas para o cinema americano. Havia uma dose de rancor em sua "não indicação". Apesar de tudo isso, o filme ainda hoje é considerado um dos melhores momentos da carreira de Vivien Leigh. Um filme histórico que tem drama, romance e até mesmo uma pitada de tragédia para emocionar os mais sentimentais.

Lady Hamilton, a Divina Dama (That Hamilton Woman, Inglaterra, 1941) Estúdio: Alexander Korda Films, London Film Productions / Direção: Alexander Korda / Roteiro: Walter Reisch, R.C. Sherriff / Elenco: Vivien Leigh, Laurence Olivier, Alan Mowbray / Sinopse: O filme "Lady Hamilton, a Divina Dama" conta a história real, baseada em fatos históricos, do romance de uma dama da alta sociedade inglesa com um famoso almirante da marinha de seu país. A paixão entre ambos causou grande escândalo, porque ela era uma mulher casada. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor direção de arte (Vincent Korda e Julia Heron). melhores efeitos especiais (Lawrence W. Butler, William A. Wilmarth) e melhor direção de fotografia (Rudolph Maté). Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor som (Jack Whitney).

Pablo Aluísio.

Ouro para os Imperadores

Título no Brasil: Ouro para os Imperadores
Título Original: Oro per i Cesari
Ano de Produção: 1963
País: Itália, França
Estúdio: Adelphia Compagnia Cinematografica
Direção: André De Toth, Sabatino Ciuffini, Riccardo Freda
Roteiro: Arnold Perl, baseado na obra de Florence A. Seward
Elenco: Jeffrey Hunter, Mylène Demongeot, Ron Randell, Massimo Girotti, Giulio Bosetti, Ettore Manni

Sinopse:
Lacer (Jeffrey Hunter) é um escravo na Roma Antiga que com grande talento para construções (exercendo o que hoje em dia seria uma função de arquiteto) acaba ganhando a confiança de seu senhor, o governador da província da Gália. Em vista disso é enviado para uma perigosa missão de reconhecimento em terras ocupadas por bárbaros celtas. Ele deverá ir até lá para descobrir se os rumores de que a região é rica em ouro são verdadeiros ou não.

Comentários:
Nos anos 1960 o cinema italiano viveu sua fase de ouro em termos de popularidade. Os filmes eram campeões de bilheteria e o êxito comercial dessas películas ajudou na criação de uma verdadeira indústria de cinema italiano. Isso acabou abrindo as portas inclusive para a contratação de atores americanos, como foi o caso de Jeffrey Hunter que foi até a Europa para estrelar esse épico ao estilo “Espadas & Sandálias”. O roteiro investe mesmo nas lutas e na aventura, com pequenas pitadas de romance envolvendo o galã americano. A produção é surpreendentemente boa, a ponto de pensarmos se tratar de um filme feito nos Estados Unidos. A única diferença mais perceptível vem no roteiro pois ele foi escrito claramente visando atender a um tipo de público mais popularesco, como os que lotavam as matinês em cinemas populares - algo que também se repetia no Brasil. Assim não faltam lutas de espadas, gladiadores musculosos e muitas cenas espetaculares de ação. De certa forma pode ser considerado até mesmo uma releitura ou uma tentativa de realizar um "Spartacus" Made in Italy. Mesmo assim diverte ainda hoje. Para quem gosta de épicos passados na Roma Antiga é certamente uma boa pedida.

Pablo Aluísio.