sábado, 18 de janeiro de 2020

Intriga Internacional

Não é dos filmes mais celebrados do mestre Alfred Hitchcock, porém é um dos melhores em cenas de ação. Também é considerado uma espécie de pioneiro nos filmes envolvendo o mundo da espionagem. Antes de James Bond surgir nas telas, Alfred Hitchcock resolveu explorar esse universo, tão em voga na época da guerra fria. O toque de mestre foi misturar o mundo da espionagem internacional com a vida das pessoas comuns. Imagine todo esse aparato mortal atingindo em cheio a vida de um homem inocente. Na trama temos o protagonista Roger O. Thornhill (Cary Grant), um publicitário falastrão de Manhattan, que acaba sendo confundido com um espião americano. Jogado no meio de um jogo de vida e morte da espionagem internacional que mal consegue compreender, ele tenta se manter vivo. No meio do caos que sua vida se torna, ele acaba se apaixonando pela bonita e misteriosa Eve Kendall (Eva Marie Saint), sem desconfiar contudo que ela também faz parte dessa mortal intriga internacional.

O mestre do suspense Alfred Hitchcock costumava dizer que não estava muito interessado nas estórias que contava, mas sim na forma como as contava. Ele se considerava um "pintor de flores" do mundo cinematográfico. Esse filme "North by Northwest" se encaixava bem nesse ponto de vista. O filme não tem um grande enredo. Na verdade tudo se resume na estória de um homem errado que se encontra no lugar errado, no momento errado, sendo confundido com um assassino internacional, um espião há muito procurado por serviços de inteligência ao redor do mundo. Depois que isso acontece sua vida se torna caótica, onde ele tenta sobreviver de todas as maneiras às várias tentativas de eliminá-lo! O curioso é que, como o roteiro explica depois, o espião verdadeiro com o qual ele é confundido sequer existe, sendo apenas uma invenção da CIA para despistar seus perseguidores.

Além do habitual suspense, Alfred Hitchcock também investiu bastante nas cenas de ação É o seu filme mais movimentado nesse aspecto. Há duas sequências que ficaram bem conhecidas. A primeira acontece quando o personagem de Grant é perseguido por um avião no meio do nada! Essa cena é a mais conhecida do filme até os dias de hoje. Também é a que melhor aproveita o suspense que foi a marca registrada da filmografia do diretor. Outro ponto alto acontece no clímax do filme, em seu final, quando Grant e Marie Saint participam de uma perseguição no alto do monte Rushmore (com os rostos dos presidentes americanos mais memoráveis da história, esculpidos na rocha). A cena é tecnicamente perfeita e demonstra muito bem que os efeitos especiais em Hollywood na época já eram bem avançados.

Quando o filme termina, chegamos em algumas conclusões. É fato que Alfred Hitchcock aqui optou pelo lado mais comercial do cinema americano, deixando seu lado autoral (que sempre foi seu maior legado) um pouco de lado. Fica evidente que ele estava em busca de um sucesso de bilheteria, acima de qualquer outra coisa. Outro aspecto é perceber que Hitchcock já tinha entendido que haveria um boom de filmes de espionagem. A MGM já tinha anunciado que iria trazer James Bond para o cinema e o velho mestre logo entendeu que essa seria uma tendência a dominar o cinema na década que estava para nascer. Algo que efetivamente aconteceu mesmo nos anos 1960. Pelo visto Hitchcock tinha talento não apenas para realizar bons filmes de suspense, como também para antecipar o que iria cair no gosto do público. 

Intriga Internacional (North by Northwest, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Ernest Lehma / Elenco: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, Martin Landau, Jessie Royce Landis, Josephine Hutchinson / Sinopse: Um homem comum, publicitário de Nova Iorque, é confundido com um perigoso e mortal espião internacional. A partir daí ele passa a lutar por sua própria sobrevivência. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Original (Ernest Lehman), Melhor Direção de Arte (William A. Horning, Robert F. Boyle) e Melhor Edição (George Tomasini).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Amargo Triunfo

Filme de guerra estrelado pelo ator Richard Burton. Ele interpreta o capitão inglês Leith (Burton), Especialista em arqueologia, ele é designado para participar numa perigosa missão que deve entrar em uma cidade ocupada pelos nazistas no norte da África, na Líbia. O objetivo é roubar documentos de uma guarnição do exército alemão. As informações poderiam ser vitais para o esforço de guerra. O problema é que esse comando será subordinado ao Major Brand (Curd Jürgens), O capitão tem problemas pessoais com ele. No passado ele teve um caso amoroso com a atual esposa do Major. E ele descobre sobre isso um dia antes da missão. Claro, de uma forma ou outra o oficial vai tentar prejudicar o personagem de Burton. E para piorar eles precisam atravessar um deserto hostil, uma situação nada fácil, nem para militares experientes.

Temos aqui um bom filme. Não é nada espetacular, nem grandioso, mas é uma boa diversão. O ator Richard Burton fez muitos filmes nesse estilo, sendo um dos mais lembrados o clássico "Selvagens Cães de Guerra", onde a fórmula atingiu sua perfeição. Nesse aqui as coisas são um pouco mais modestas. A questão é que o filme foi assinado pelo ótimo diretor Nicholas Ray, o que elevou minhas expectativas antes de assistir. E aí aconteceu o velho problema quando expectativas grandes encontram filmes meramente medianos. Fica um gostinho de decepção no ar.

O roteiro poderia ter explorado melhor a rivalidade entre o Capitão de Burton e o Major, esse com a dor de saber que sua esposa na verdade amava outro homem. Para um filme de guerra também não há grandes cenas de ação. Existe o combate contra os alemães na cidade da Líbia, depois eles fogem para o deserto e aí o filme se concentra mais em uma tensão psicológica entre os homens. Curiosamente - e aqui vai um spoiler - foi um dos poucos filmes em que vi o personagem de Richard Burton morrer. E não em campo de batalha. Ele é picado por um escorpião do deserto. Em um filme com heróis e covardes em cena os roteiristas poderiam ter escrito um final melhor para seu personagem. Porém a intenção foi mesmo colocar em evidência a pouca honradez do Major, o que acabou funcionando na cena final, com os bonecos de pano do exercício militar. Enfim, não é dos melhores filmes da carreira de Richard Burton, mas cumpre bem seu papel no quesito entretenimento.

Amargo Triunfo (Bitter Victory, Estados Unidos, França, 1957) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: René Hardy, Nicholas Ray / Elenco: Richard Burton, Curd Jürgens, Ruth Roman, Christopher Lee / Sinopse: Durante uma expedição no deserto, na II Guerra Mundial, dois oficiais ingleses duelam psicologicamente entre si. A esposa do Major Brand (Curd Jürgens) foi apaixonada pelo Capitão Leith (Burton) no passado, o que cria uma grande tensão entre eles durante a missão. Filme indicado ao Venice Film Festival.

Pablo Aluísio. 

Aguirre, a Cólera dos Deuses

Título no Brasil: Aguirre, a Cólera dos Deuses
Título Original: Aguirre, der Zorn Gottes
Ano de Produção: 1972
País: Alemanha
Estúdio: Werner Herzog Filmproduktion
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
Elenco: Klaus Kinski, Ruy Guerra, Helena Rojo, Peter Berling, Cecilia Rivera, Daniel Ades

Sinopse:
Em 1561 uma expedição espanhola é enviada para os confins da selva amazônica. O objetivo dos espanhóis é localizar a lendária cidade de El Dorado, com suas ruas, casas e templos revestidos do mais puro ouro. Só que ao invés de encontrar tesouros inigualáveis, os homens de Pizarro só encontram a devastadora realidade da natureza, matando os homens da expedição com doenças, fome e desespero.

Comentários:
Werner Herzog sempre foi um cineasta visceral. Quando ele decidiu contar essa história, que é baseada nos relatos de um padre jesuíta que acompanhou essa expedição pelas profundezas da selva, ele decidiu que iria filmar tudo na própria região onde aconteceram os fatos históricos. Assim ele levou toda a sua equipe técnica e elenco para o lado peruano da selva amazônica. Obviamente as filmagens foram muito complicadas, praticamente um caos, mas quando se assiste ao filme percebe-se que tudo valeu a pena. O filme é muito interessante justamente por capturar a beleza exótica da Amazônia em toda a sua plenitude. Outro ponto de destaque desse filme é a atuação do ator Klaus Kinski. Ele interpreta um militar de baixa patente chamado Aguirre. Quando as coisas começam a dar errado na expedição ele resolve comandar uma rebelião, destituindo o comandante espanhol por nobre bobalhão que obviamente fica sob seu julgo. Enlouquecendo cada vez mais enquanto se aprofunda na selva, Aguirre é corroído pela ganância e pela loucura. Herzob optou por um filme sensorial, que apela mais para as emoções do espectador do que por um roteiro cheio de diálogos e palavras. Isso funcionou muito bem, porque muitas vezes o silêncio entre os personagens funciona como mais um elemento de tensão naquele inferno verde amazônico. Dizem que na selva, durante as filmagens, Klaus Kinski quase enlouqueceu, tal como seu personagem! Não poderia ser mais conveniente a um filme cujo tema trata justamente disso. Sem sombra de dúvidas esse é um dos melhores trabalhos de Werner Herzog e se você gosta do trabalho desse cineasta simplesmente não pode deixar de assistir. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A Rainha Tirana

Inglaterra, 1580. A rainha Elizabeth I (Bette Davis) governa de forma absoluta em seu reino. Filha de Henrique VIII, ela dá sequência nos reinados da dinastia Tudor. Governante inteligente e sagaz, passa por um momento delicado em sua vida pessoal. Mesmo chegando numa idade mais avançada ela ainda não escolheu um marido para dar continuidade a sua linhagem. Um herdeiro traria estabilidade para os anos que viriam e por essa razão um casamento real logo se torna um importante assunto de Estado. A rainha da França, Catarina de Médici, logo sugere que ela se case com um nobre importante de sua própria corte, mas Elizabeth não parece muito interessada. Ao invés disso começa a ter sentimentos por um soldado plebeu inglês chamado Walter Raleigh (Richard Todd), que mesmo sem qualquer título de nobreza acaba conquistando o coração da rainha absolutista britânica.

Elizabeth I (1533 - 1603) passou para a história como a "Rainha Virgem". Esse nome foi dado por seus próprios súditos pois Elizabeth (Isabel I, no Brasil) não parecia empenhada em se casar para ter filhos. Durante muitos anos os historiadores se perguntaram se ela foi lésbica ou simplesmente era frígida demais para se interessar por assuntos matrimoniais. De qualquer forma sua relutância em se casar e ter filhos acabou marcando sua biografia. Nessa produção da Fox temos uma parte de sua história, justamente em um momento em que ela passou a se interessar por um plebeu, Walter Raleigh. Ele era um veterano de guerra contra a Irlanda e desejava construir uma frota para ir até o novo mundo (a América) para fazer fortuna. Para isso eram necessários navios e apenas a rainha poderia lhe conceder tamanho privilégio. Ao adentrar a corte de Elizabeth, levado por um nobre que havia sido amigo de seu pai no passado, Raleigh começou a entender que a forma mais fácil de chegar em seus sonhos era mesmo conquistar o coração da solitária monarca.

O problema é que Elizabeth I não era uma mulher fácil de lidar. Sujeita a explosões de raiva e ira, que atingia a todos ao seu redor, ela costumava tratar seu pretendentes de forma humilhante. Não era raro dispensar a eles um tratamento digno de um cão de estimação, fazendo questão de criar intrigas e fofocas na corte sobre sua nova aquisição ou como ela costumava dizer seu novo "pet". Raleigh, um homem de convicção e temperamento duro e forte, logo enfrentou Elizabeth sobre isso e muito provavelmente por causa dessa sua personalidade independente a rainha acabou caindo de amores por ele. Um romance que não interessava a outros nobres e que tampouco era bem visto dentro da corte. O filme captura o momento histórico do auge do absolutismo inglês, com a Casa Tudor em seu apogeu de glória e poder.

Essa mesma soberana seria retratada em dois filmes mais recentes muito bons chamados "Elizabeth" e  "Elizabeth: A Era de Ouro" com Cate Blanchett no papel central. Embora sejam produções excelentes, com maravilhosa produção, o fato é que a presença da clássica atriz Bette Davis faz toda a diferença do mundo se formos comparar os filmes. Assim como a histórica figura da realeza inglesa, Davis também tinha uma personalidade marcante. Aqui ela encontrou um papel muito adequado ao seu jeito de ser. Também em termos de reconstituição histórica a sua rainha surge mais de acordo com os figurinos e costumes da época, inclusive com o estranho corte de cabelo que não foi reproduzido nos filmes modernos sobre Elizabeth (provavelmente porque deixaria o público espantado com os estranhos adereços). No geral o que temos aqui em "The Virgin Queen" é uma produção muito digna de todos os aplausos, tanto em sua tentativa de trazer um pouco de história para o público em geral como também pela sua fidelidade histórica dos acontecimentos originais. Um belo clássico do cinema americano que certamente vai agradar aos gostos mais refinados.

A Rainha Tirana (The Virgin Queen, Estados Unidos, 1955)  Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Henry Koster / Roteiro: Harry Brown, Mindret Lord  Elenco: Bette Davis, Richard Todd, Joan Collins / Sinopse: O filme resgata a história da monarca inglesa Elizabeth I, conhecida entre seus súditos como a "Rainha Virgem" e entre seus inimigos como a "Rainha Tirana". Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Charles Le Maire e Mary Wills).
 
Pablo Aluísio.

Meu Reino Por um Amor

Grande momento da carreira da atriz Bette Davis e um dos filmes mais lembrados por sua grande atuação. Aqui ela encontrou um papel à altura de sua personalidade única. Ela interpreta a rainha Elizabeth I, que ficou conhecida na história como a "rainha virgem" pois nunca se casou e nem deixou herdeiros. Quando o filme começa ela está pronta para receber um de seus comandantes, o Conde de Essex (Errol Flynn). Ele está triunfante pois venceu uma grande batalha contra a Espanha e sua armada. A rainha porém não está satisfeita pois esperava que a campanha lhe trouxesse muitos tesouros dos navios espanhóis. Ao invés disso tudo foi para o fundo do mar. O interessante é que por baixo do jogo de aparências a rainha ama aquele homem, tem verdadeira paixão por ele. Seu comportamento é até mesmo uma forma de despistar dos outros lordes. Os seus verdadeiros sentimentos ficam escondidos em encontros secretos com seu amado. Em pouco tempo ela volta para seus braços.

O roteiro do filme foi baseado em fatos históricos reais, inclusive não abrindo mão do trágico destino que acabou envolvendo esse romance. Bette Davis está ótima como a monarca inglesa, inclusive usando figurinos e maquiagem bem pesadas, típicos da época. Isso significou que ela precisou até mesmo cortar parte de seu cabelo para fazer jus aos problemas de calvície que atingia a rainha. A Elizabeth I foi uma mulher complexa, cheia de traumas por causa da velhice e da perda da juventude (algo retratado no filme). A estrutura do roteiro desse filme é bem teatral pois foi baseado numa peça. Só que em nenhum momento cansa o espectador. Além disso tem ótimos diálogos que prendem a atenção. Enfim, um filme realmente digno dessa histórica rainha inglesa.

Meu Reino Por um Amor (The Private Lives of Elizabeth and Essex, Estados Unidos, 1939) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Norman Reilly Raine, Eneas MacKenzie / Elenco: Bette Davis, Errol Flynn, Olivia de Havilland, Vincent Price / Sinopse: O filme resgata a história de amor envolvendo a rainha Elizabeth I (Davis) e o Conde de Essex (Flynn) durante o século XVI. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (W. Howard Greene, Sol Polito), Melhor Direção de Arte (Anton Grot), Melhor Som (Nathan Levinson), Melhores Efeitos Especiais (Byron Haskin, Nathan Levinson) e Melhor Música (Erich Wolfgang Korngold).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Da Terra Nascem os Homens

Sempre lembrado em qualquer lista que selecione os maiores filmes de western de todos os tempos, "Da Terra Nascem os Homens" é um filme monumental. Dirigido pelo excelente  William Wyler o filme ainda hoje causa impacto em quem assiste. Com ares de grandeza o cineasta procurou em longas e abertas tomadas capturar um pouco da imensidão do oeste americano. O próprio título original do filme (The Big Country) já mostra de forma clara essa sua intenção. O resultado não ficou menos do que grandioso. Na trama acompanhamos a chegada de  James McKay (Gregory Peck) a uma daquelas pequenas cidades do velho oeste que ficavam no meio do nada, bem no centro de um deserto empoeirado. Ele vem do leste urbano e cosmopolita. Agora no oeste rural, selvagem e rústico tentará de todas as formas se adaptar aos costumes da região. Isso é uma necessidade pois ele está noivo da bela Patricia Terrill ( Carroll Baker), filha de um dos grandes criadores de gado do Estado.

Conhecido como Major (Charles Bickfor) ele manda e desmanda nas terras do local até encontrar resistência de outro fazendeiro, Rufus Hannassey (Burl Ives) que quer colocar um basta nessa dominação. A briga e a rixa surgida entre os dois homens são na verdade uma metáfora de William Wyler com a guerra fria, que na época estava no auge. EUA e União Soviética seriam representados por esses dois homens que não conseguem viver mais em paz e em harmonia, sempre tentando prejudicar uma ao outro em todas as oportunidades possíveis. Apenas a chegada do forasteiro McKay poderá trazer uma luz sobre esse impasse.

Já o personagem de Gregory Peck é certamente um dos grandes papéis de sua carreira. Educado, fino e um verdadeiro cavalheiro, não acredita no poder das armas e nem da violência. Sua postura elegante e pacífica logo é confundida com covardia, numa mostra clara da mentalidade atrasada e bruta dos homens do velho oeste. "Da Terra Nascem os Homens" é um filme de fôlego, com quase 3 horas de duração. De certa forma lembra até mesmo "Assim Caminha a Humanidade" em seus longos planos abertos, com a casa sede da fazenda ao longe, perdida no meio do nada. É um filme tão rico que conta com nomes como Charlton Heston em papéis secundários - ele estava prestes a estrelar o filme de sua vida, Ben-Hur, que faria logo a seguir.

Outro personagem coadjuvante muito marcante é o interpretado por Burl Ives, excelente ator que aqui levou o Oscar por sua inspirada atuação de Rufus. A trilha sonora evocativa e forte é outro aspecto que chama a atenção. Por fim, e o mais importante, fica a lição subliminar de tudo o que vemos no filme. A grande mensagem de "Da Terra Nascem os Homens" é que a violência realmente não leva a lugar nenhum. A cena final e seu resultado mostram de forma bem clara isso. Um recado de Wyler para as grandes nações do mundo: ou elas encontram uma maneira de viver de forma pacífica ou então se destruirão mutuamente, em uma situação onde não há vencedores, mas apenas perdedores.

Da Terra Nascem os Homens (The Big Country, Estados Unidos, 1958) Direção: William Wyler / Roteiro: Jessamyn West, Robert Wyler, James R. Webb, Sy Bartlett, Robert Wilder baseados no livro de Donald Hamilton / Elenco: Gregory Peck, Jean Simmons, Carroll Baker, Charlton Heston, Burl Ives, Charles Bickford / Sinopse: Numa região do velho oeste disputada por dois fazendeiros e criadores de gado, um homem do leste que chega no local para se casar com a filha de um deles, procura trazer uma nova mentalidade e uma outra maneira de pensar sobre o modo como se deve conviver com o próximo. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Burl Ives). Também indicado na categoria de Melhor Música (Jerome Moross). 

Pablo Aluísio.

Cimarron

Baseado no premiado romance homônimo de Edna Ferber e dirigido por Anthony Mann, o clássico, "Cimarron, Jornada da Vida" conta a aventura do casal Yancey Cimarron Cravat (Glenn Ford) e sua bela e rica mulher Sabra Cravat (Maria Schell) que mesmo contra a vontade dos pais de Sabra, partem juntos em 1889 de Kansas City para Oklahoma para participarem da famosa corrida de cavalos e carruagens na tentativa de ocupar um pedaço de terra oferecido pelo governo com o objetivo de povoar o último estado que ainda se encontrava selvagem. No longa, a jovem Sabra abandona uma vida de riqueza para casar-se com o aventureiro Yancey Cimarron um aventureiro corajoso e desbravador que sonha estabelecer-se na nova terra e fundar um jornal que funcionaria como um libelo a favor das causas indígenas, dos negros, dos judeus e dos menos favorecidos.

Depois de estabelecidos, os problemas de Yancey começam a aparecer, pois, além de reencontrar uma bela e velha paixão, Dixie Lee (Anne Baxter), tem que enfrentar as idéias contrárias de sua mulher que além de não ser muito a favor da causa indígena, sonha com um futuro bem diferente para a sua família. Yancey, no entanto, não concordando muito com as idéias conservadoras e menos aventureiras de sua mulher abandona tudo e parte para uma nova empreitada, abandonando sua família e seu jornal para conquistar novas terras, só que desta vez no Alasca. O filme atravessa, desde a fundação de Oklahoma em 1889, um período de 25 anos e mostra todas as mudanças pelas quais os americanos - e até o mundo - passaram: a descoberta e conquista do petróleo, a colonização de um novo estado e a explosão da Primeira Guerra Mundial. Cimarron é um épico que conta uma história real de força, determinação, empreendedorismo e espírito de conquista do povo americano.

Cimarron (Cimarron, EUA, 1960) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Arnold Schulman baseado na obra de Edna Ferber / Elenco: Glenn Ford, Maria Schell, Anne Baxter, Arthur O'Connell,  Mercedes McCambridge,  Vic Morrow / Sinopse: A saga de um aventureiro, Yancey Cimarron Cravat (Glenn Ford). Inquieto e sempre procurando por novos caminhos em sua vida ele ganha o oeste em busca de riquezas e aventuras.

Telmo Vilela Jr.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Devastando Caminhos

Tom Andrews (Randolph Scott) é um explorador que é contratado pela companhia ferroviária do Canadá com a missão de encontrar um caminho entre as montanhas rochosas. O objetivo é construir uma grande linha ferroviária que ligue as duas costas do Canadá, ligando o Atlântico ao Pacífico, servindo como rota de união entre a  distante colônia britânica e as principais cidades do país. O trabalho de Andrews porém não será nada fácil pois a ideia não conta com o apoio das populações montanhesas, que temem perder sua liberdade e autonomia com a chegada do progresso que virá com as novas rotas comerciais abertas pela ferrovia. Como se não bastasse os nativos locais também se insurgem contra a chegada do trem a vapor. Eis um dos mais curiosos filmes de Randolph Scott. Logo de início percebemos que é um western diferente pois foi praticamente todo rodado no Canadá e não nos EUA. O filme tem linda fotografia e foi quase todo filmado em locações reais nos parques nacionais da cidade canadense de Alberta. Lindos lagos e montanhas cinematográficas passeiam pela tela.

Algumas cenas mais ousadas foram feitas pelo próprio Randolph Scott (ele foi dublê antes de virar astro). Numa delas o ator se equilibra ao lado de furiosas corredeiras; para em outro momento subir em uma montanha inóspita. Apesar disso o tom é bem leve. Obviamente há cenas de brigas, lutas e tiroteios mas no geral o filme tende mais para o lado romântico, onde Scott fica indeciso entre se firmar com uma jovem da região ou assumir de vez o namoro com uma médica da companhia ferroviária. Para os que gostam de ação duas cenas se destacam. Na primeira delas o personagem de Randolph Scott sofre um atentado com bananas de dinamite e em outra temos um grande confronto entre os trabalhadores da ferrovia e os índios das montanhas que querem colocar a construção da estrada de ferro abaixo. Por falar nisso foi impossível não lembrar de uma série atual que tem basicamente o mesmo tema desse filme, "Hell on Wheels" do canal AMC. O argumento é basicamente o mesmo, porém no quesito belezas naturais "Canadian Pacific" se saí bem melhor, fruto da beleza ímpar da região onde foi filmado. Assim fica a dica desse faroeste canadense estrelado pelo cowboy americano Randolph Scott. Não deixe de assistir.

Devastando Caminhos (Canadian Pacific, EUA, 1949) Direção: Edwin L. Marin / Roteiro: Jack DeWit / Elenco: Randolph Scott, Jane Wyatt, J. Carrol Naish, Victor Jory / Sinopse: Explorador americano é contratado por companhia ferroviária canadense para achar um caminho entre as montanhas rochosas por onde possa passar a nova linha de trem que ligará as duas costas do Canadá. A construção da ferrovia porém não será nada fácil já que os moradores da região e os nativos locais não querem que ela passe por suas terras.

Pablo Aluísio.

Cheyenne

The Cheyenne Social Club é um western diferente, mais leve e com muito bom humor. Só o fato de reunir esses dois mitos, James Stewart e Henry Fonda, já o tornaria obrigatório a qualquer fã de cinema, mas ainda tem mais, outro grande nome na direção: Gene Kelly! Muitos podem torcer o nariz para o fato do filme ter sido dirigido por um ator e dançarino especialista em musicais, mas podem ficar tranquilos, o resultado é muito satisfatório. Obviamente que a ação fica em segundo plano, revelando-se o roteiro uma fina comédia de humor de costumes, mas isso não é um empecilho. O filme foi lançado em 1970, quando o gênero faroeste já estava saindo de moda, mas vamos convir que tudo aqui se encaixa perfeitamente, até mesmo na idade mais avançada dos atores, que interpretam cowboys velhos de guerra que são surpreendidos por uma "herança" no mínimo inusitada. Imagine herdar um bordel numa cidade do velho oeste! É justamente em cima dessa situação curiosa e cômica que o roteiro se desenvolve.

James Stewart novamente faz o papel de um personagem com grande virtude e valores morais. Embora inicialmente isso não fique muito claro, logo o roteiro toma rumos para reafirmar essa característica que de uma forma ou outra sempre marcou todos os seus personagens de sua carreira. Já Henry Fonda está ótimo. Fazendo um cowboy casca grossa, o ator está mais carismático do que nunca. Realmente adorei sua caracterização ao estilo interiorano esperto. Na trama ele funciona como escada para o amigo James Stewart, mas isso em nenhum momento é um problema pois ambos sempre trabalharam excepcionalmente bem juntos. A dupla está perfeita em todas as cenas, demonstrando mesmo como eram bons atores, na verdade eram grandes amigos na vida real e isso passa para a tela. Enfim é isso, embora não seja tão conhecido "The Cheyenne Social Club" é no final das contas uma excelente diversão, com tudo o que o estilo western pede: bom humor, cenas de duelo, tiroteios e grandes atores em cena. Quem precisa de mais do que isso?

The Cheyenne Social Club (Estados Unidos, 1970) Direção: Gene Kelly / Roteiro: James Lee Barrett baseado na novela de Davis Grubb / Elenco: James Stewart, Henry Fonda e Shirley Jones / Sinopse: John O´Hallan (James Stewart) é um cowboy que é surpreendido pela notícia de que recebera de herança um bordel numa cidade do velho oeste. Ao lado do amigo Harley Sullivan (Henry Fonda) resolve ir conhecer o local para colocá-lo à venda, o que não contava era com a resistência das mulheres do estabelecimento que não querem que o "club" seja vendido!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Pistola do Mal

Lorn Warfield (Glenn Ford) é um pistoleiro errante há muito longe de sua casa e família. Após vários anos decide retornar para seu lar ao lado de sua esposa e dois filhos. Quando chega em seu antigo rancho porém acaba descobrindo que tudo está em cinzas, sendo o paradeiro de sua família desconhecido. Partindo em busca deles acaba descobrindo que muito provavelmente estejam reféns de uma tribo Apache que mora nas montanhas. Esses nativos usam brancos sequestrados como moeda de troca com outras tribos e traficantes de armas. Sem alternativa Lorn decide enfrentar o deserto hostil para libertar seus familiares."A Pistola do Mal" é um western muito bem realizado. Embora seu enredo lembre em certos momentos antigos clássicos como "Rastros de Ódio" o filme consegue ter identidade própria, apostando numa linguagem naturalista, pé no chão, onde o velho oeste surge com toda sua crueza: doenças, miséria e cidades abandonadas à própria sorte.

Glenn Ford surge em cena novamente com seu eterno figurino: jaqueta, chapéu surrado e sapatos de espora. Aqui ele repete seu tipo habitual, mas consegue excelente atuação em pelo menos duas excelentes cenas. Na primeira delas, amarrado pelos Apaches no meio do deserto, tenta espantar os abutres que chegam para esperar sua morte certa. Na outra boa sequência enfrenta um grupo de índios em uma cidade abandonada junto a um grupo de renegados que se fazem passar por um regimento da cavalaria americana. "A Pistola do Mal" é um faroeste americano que já mostra sinais de influência do chamado Western Spaguetti. A edição, a música e a sordidez das situações lembram em muito os filmes de Sergio Leone. "Por um Punhado de Dólares", realizado quatro anos antes, certamente é uma referência. Enfim, "A Pistola do Mal" é uma produção a se conhecer. Hoje em dia o filme já não é tão lembrado pelo apreciadores de filmes de faroeste, porém vale a pena ser redescoberto.

A Pistola do Mal (Day of the Evil Gun, Estados Unidos, 1968) Direção: Jerry Thorpe / Roteiro: Charles Marquis Warren, Eric Bercovici / Elenco: Glenn Ford, Arthur Kennedy, Dean Jagger, Nico Minardos,  Harry Dean Stanton / Sinopse: Pistoleiro parte em busca de sua família sequestrada por Apaches. No meio do caminho encontra doenças, miséria e um grupo de renegados que se fazem passar por soldados da cavalaria norte-americana.

Pablo Aluísio.