terça-feira, 9 de abril de 2019

Cidade Oculta

Eu me recordo que esse filme nacional foi lançado em VHS no Brasil no selo Manchete Vídeo. E depois de algum tempo foi exibido na própria Rede Manchete, canal que hoje não mais existe. Como eu era um adolescente cheio de hormônios explodindo por todos os lados, o que mais me chamou atenção aqui foi a presença da atriz Carla Camurati. Eu achava ela linda. Uma bonita loira de olhos azuis que de vez em quando presenteava seus fãs com generosas cenas de nudez. Nesse "Cidade Oculta" ela não se desnudou tanto como em outros filmes, mas isso não importava. Nos anos 80 um seio à mostra já era uma vitória e tanto.

Em relação ao filme em si foi até elogiado pela crítica da época. Não era comum, ou melhor dizendo, era praticamente zero a chance de um filme brasileiro tentar seguir os passos do cinema noir dos Estados Unidos. Esse filme tentou justamente isso. O resultado pode ser considerado um pouco irregular, mas a coragem dos realizadores em ir por esse caminho merece todos os nossos elogios.

Cidade Oculta (Brasil, 1986) Direção: Chico Botelho / Roteiro: Arrigo Barnabé, Chico Botelho / Elenco: Arrigo Barnabé, Carla Camurati, Cláudio Mamberti / Sinopse: Na noite de Sâo Paulo se misturam os mais variados tipos que vão de ladrões, policiais corruptos e mulheres fatais.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

A Mula

Clint Eastwood tem 88 anos de idade. Aposentadoria? Nem pensar! Tanto que nesse seu novo filme ele não se contentou em apenas atuar. Ele também produziu, dirigiu e escreveu parte do roteiro! Incrível mesmo sua disposição para seguir em frente no cinema. E como não poderia deixar de ser, ele aqui interpreta um octogenário que vê sua vida mudar. Sua fazendinha de plantação de flores é tomada pelo banco. Sem dinheiro e com problemas na família ele decide então aceitar um serviço que parece fácil (mas só parece). Ele deve ir até uma garagem de um posto de gasolina para receber uma "encomenda" a ser levada até um certo destino. O pagamento é excepcional. Claro que ele sabe que se trata de drogas, mas como já está no final de sua jornada nem pensa muito e aceita o tal serviço.

Assim se torna mais uma "mula" de um cartel de drogas mexicano. Como é um velho senhor não desperta suspeitas nos policiais que acaba esbarrando pelo caminho. É o "disfarce" perfeito. No começo as coisas vão muito bem. Ele ganha bastante dinheiro, a ponto inclusive de comprar uma nova camionete zero, último modelo, tinindo de nova. Porém aos poucos o cerco policial vai se fechando. A quantidade de drogas transportada é absurda, em certa ocasião ele chega a levar 300 kilos de uma cidade para outra e por isso o DEA (departamento anti-drogas) começa a ficar no seu encalço. Clint continua o mesmo ator carismático de sempre. Basta sua presença na tela para justificar qualquer filme, só que aqui, pela primeira vez, podemos ver com nitidez o peso da idade no ator. Ele tem uma certa dificuldade para falar e andar. As costas curvadas mostram os efeitos do tempo. Não é para menos, já que ele está próximo dos 90 anos! De qualquer maneira é sempre um prazer rever o bom e velho Clint. A dignidade pessoal aliás está mais forte e presente como nunca. Poucos conseguiram essa proeza.

A Mula (The Mule, Estados Unidos, 2018) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Clint Eastwood, Sam Dolnick, Nick Schenk / Elenco: Clint Eastwood, Bradley Cooper, Dianne Wiest, Laurence Fishburne, Taissa Farmiga, Michael Peña / Sinopse: Velho senhor, já na beira dos 90 anos, decide aceitar a oferta de serviço de "mula" de traficantes mexicanos. Ele terá que transportar drogas de uma cidade para outra em sua velha camionete. A intenção é despistar, com sua aparência de senhor idoso, a polícia que começa a investigar o caso.

Pablo Aluísio.

O Sétimo Filho

A única coisa que me fez assistir a esse filme foi a presença de Jeff Bridges no elenco. Ele, em minha opinião, está naquela categoria de atores que fazem o cinéfilo encarar qualquer coisa, mesmo filmes fracos ou meramente medianos. Nessa última categoria se classifica esse filme de fantasia, meio fora de moda, com roteiro cheio de clichês. A Universal gastou quase 100 milhões de dólares em sua produção, mas o resultado final é bem decepcionante. Bridges interpreta um caçador de bruxas e feiticeiras na idade média. Uma de suas principais rivais é a misteriosa Malkin (interpretada por Julianne Moore, outro bom motivo para assistir). O tal sétimo filho é o assistente de Bridges na estória. Deveria ser o protagonista, mas o ator que o interpreta, chamado Ben Barnes, quase coloca tudo a perder. Ele é bem ruinzinho.

Assim sobram efeitos especiais (alguns bem feitos, outros nem tanto), um clima de aventura medieval e um roteiro bem fraquinho, que só serve para dar uma desculpa para as cenas de ação. O interessante é que o filme foi feito visando atrair o público da China. Isso mesmo, é uma produção entre China e Estados Unidos. Nos cinemas americanos o filme fracassou, mas conseguiu gerar lucro no país da grande muralha. Então o estúdio se saiu com uma desculpa esfarrapada, dizendo que o roteiro não era lá essas coisas porque foi simplificado, para o público chinês. Justificando assim parece até que o público chinês de cinema não prima muito pela inteligência. Melhor teria sido o silêncio. No final das contas o filme não me aborreceu, embora igualmente não tenha me surpreendido em nada. Em termos de originalidade nesse universo de fantasia, não há nada mesmo a encontrar. Tudo mais do mesmo.

O Sétimo Filho (Seventh Son, Estados Unidos, China, 2014) Direção: Sergei Bodrov / Roteiro: Charles Leavitt , Steven Knight / Elenco: Jeff Bridges, Julianne Moore, Ben Barnes, Alicia Vikander / Sinopse: O Mestre Gregory (Bridges) ganha a vida caçando feiticeiras e bruxas. Agora terá seu maior desafio, enfrentar a poderosa Malkin (Moore) que busca vingança, pois no passado foi aprisionada por ele em uma cova, bem no meio do deserto.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de abril de 2019

Wild Bill - Uma Lenda No Oeste

Cinebiografia de Wild Bill Hickok, um dos mais conhecidos nomes da mitologia do velho oeste americano. Veterano da Guerra Civil americana, condutor de diligências, Xerife, jogador inveterado e pistoleiro de aluguel, Wild Bill foi um dos mais temidos homens de seu tempo. Extremamente hábil no gatilho ele desafiou grandes nomes de sua época.  A vida de Bill foi movimentada desde seus primeiros anos. Aos 18 anos se uniu às tropas do General Lee e foi lutar ao lado do exército da confederação. Lá conheceu e se tornou amigo de Buffalo Bill. Ao sair do exército foi perambular pelo oeste selvagem e se envolveu em vários duelos que ficaram famosos pois foram fartamente noticiados pela imprensa, garantindo sua fama em todo o país.

Lidar com um nome tão conhecido do velho oeste pode ser complicado. Felizmente o filme é muito bom, interessante e bem editado. Ao invés de contar cronologicamente a história de Wild Bill o diretor optou por narrar os últimos momentos de vida dele, onde aos poucos sua história é relembrada em diversos flashbacks (em preto e branco, na maioria das vezes). O filme é curto, pouco mais de 90 minutos, o que torna insuficiente para mostrar toda a vida do famoso personagem (que foi de tudo um pouco na vida, desde caçador de búfalos a xerife de cidades perigosas como Deadwood). Talvez apenas uma minissérie conseguiria contar todas as histórias envolvendo Wild Bill.

Tecnicamente muito bem escrito, o roteiro romanceou alguns aspectos da vida do famoso pistoleiro para trazer mais interesse à trama. São pequenas licenças que o roteirista pede para a história real dos fatos, nada muito comprometedor. A mais significativa dessas mudanças foi a relação que os roteiristas criaram entre o assassino de Wild Bill e um amor do passado dele, algo inexistente na vida do famoso pistoleiro. Obviamente que ambos os personagens existiram realmente, mas Jack McCall, o assassino de Bill (que seria enforcado por esse crime) não era filho de Susannah Moore, a antiga namorada de seu passado. Essa foi apenas uma tentativa de trazer mais dramaticidade ao filme.

Jeff Bridges está muito bem no papel e todo o elenco de apoio é acima da média, principalmente Ellen Barkin como Calamity Jane, outra personagem que foi imortalizada pelo cinema em diversos filmes ao longo desses anos. Fazendo às vezes de narrador o filme ainda traz o ótimo John Hurt no papel de um amigo inglês de Wild Bill. Jeff Bridges aliás sempre se sai muito bem em faroestes, não apenas por ter o tipo certo, como também por incorporar trejeitos da época de uma forma muito convincente. Cantor de música country nas horas vagas ele parece mesmo ter um afeto especial por todo esse universo. Enfim, "Wild Bill - Uma Lenda No Oeste" pode até não ser perfeito do ponto de vista histórico, porém é um faroeste acima da média que ajuda a resgatar essa importante figura do passado.

Wild Bill - Uma Lenda No Oeste (Wild Bill, Estados Unidos, 1995) Estúdio: United Artists / Direção: Walter Hill / Roteiro: Thomas Babe, baseado no livro de Peter Dexter / Elenco: Jeff Bridges, Ellen Barkin, John Hurt / Sinopse: o filme conta a história real do pistoleiro Wild Bill que fez fama no velho oeste americano. Filme indicado ao prêmio da National Society of Film Critics Awards na categoria de Melhor Ator (Jeff Bridges). Também indicado na mesma categoria no New York Film Critics Circle Awards.

Pablo Aluísio.

Colette

Esse filme conta a história da escritora francesa Sidonie-Gabrielle Colette. E essa não foi uma história comum, típica de uma mulher de sua época. Ela era filha de um veterano de guerra, um homem honesto, mas pobre, sem recursos. Em um tempo em que as mulheres casavam oferecendo dotes aos maridos ela definitivamente não era uma futura esposa almejada por muitos. Quem acabou se interessando por ela foi um homem mais velho, um escritor meio fracassado chamado  Henry Gauthier-Villars, conhecido no meio literário como Willy. Ele contratava escritores fantasmas e depois colocava seu nome como autor. Algo nada honesto.

Então ele descobre o grande talento de sua nova esposa com as letras. Sempre endividado e à beira da falência ele colocou Colette para escrever incansavelmente. Acabou encontrando finalmente o sucesso, mas explorando sua esposa para isso. Embora os livros fossem escritos por ela, ele os assinava, levando os lucros e a fama pelo sucesso dos livros lançados. Chegava ao ponto de trancá-la em um quarto até que ela escrevesse novas páginas para os romances. Uma espécie de escravidão literária.

E então finalmente Colette decide te ruma vida independente. Ela pede o divórcio e começa um caso homossexual com marquesa Mathilde de Morny. Porém ainda havia a questão dos livros, algo que levou o ex-casal a lutar por anos e anos nos tribunais franceses. Eis aqui um bom filme, não apenas bem realizado, mas também recheado de trechos mais do que curiosos. Como escrevi essa escritora não teve uma vida comum, ao contrário disso, foi bem tumultuada, cheio de problemas. No meio de tudo havia o amor pela arte, não apenas dos livros, mas também das peças de teatro, da dança e das performances. Foi através disso que Gabrielle Colette se tornou realmente imortal.

Colette (França, Estados Unidos, Inglaterra, 2018) Direção: Wash Westmoreland / Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland / Elenco: Keira Knightley, Dominic West, Arabella Weir, Fiona Shaw, / Sinopse: O filme conta a história da escritora francesa Gabrielle Colette, de seu casamento com Henry Gauthier-Villars (Willy), até seu romance com a marquesa Mathilde de Morny. Filme premiado pelo British Independent Film Awards.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de abril de 2019

O Retorno de Mary Poppins

A Disney tinha duas opções para trazer a personagem Mary Poppins de volta aos cinemas. A primeira seria fazer um remake do filme clássico original. A segunda seria produzir uma continuação. Acabou decidindo pela segunda alternativa. Esse novo filme da Mary Poppins é uma espécie de sequência do primeiro filme. Ela retorna, reencontra as crianças do primeiro filme (agora adultos, com problemas financeiros) e vai cuidar dos filhos deles. O clima de magia e inocência continua o mesmo. Há muitas canções (o filme poderia ser considerado um musical ao velho estilo) e cenas que misturam animação à moda antiga com atores reais. A produção é caprichada e de bom gosto, porém nada disso parece ter atraído a criançada dos dias de hoje.

O filme custou 130 milhões de dólares e mal conseguiu recuperar o investimento nas bilheterias dos cinemas. Era algo esperado. Esperar a mesma reação de uma criança atual como a das crianças da década de 1960 era algo que definitivamente não iria acontecer. Não se repetiria. As crianças atuais estão mais ligadas em tecnologia e games. Uma babá como Mary Poppins, mesmo com seus "poderes mágicos" não seria mesmo um atrativo para a gurizada.

De bom mesmo temos um ótimo elenco, mesmo que algumas estrelas tenham pouco espaço em cena. A premiada Meryl Streep interpreta uma prima de Mary Poppins, com direito a música e coreografia próprias. A maquiagem é pesada, mas o talento se sobressai. Colin Firth é o banqueiro sem alma que quer colocar as mãos numa casa hipotecada, justamente onde vivem as crianças que Mary está cuidando. O filme revela ainda o talento de Emily Blunt em musicais. Ela canta, dança e se sai muito bem no filme. Todos já sabiam que como atriz ela era realmente muito boa, acima da média, mas esses outros talentos ainda eram desconhecidos do grande público. De fato ela é uma artista completa.

O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns, Estados Unidos, 2018) Direção: Rob Marshall / Roteiro: David Magee / Elenco: Emily Blunt, Meryl Streep, Colin Firth, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw / Sinopse: A babá Mary Poppins (Blunt) retorna para rever as crianças que cuidou no passado. Elas agora são adultas, com problemas financeiros com o banco. Aos poucos ela vai tentando ajudar, enquanto cuida de novas crianças. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Música Original, Melhor Canção Original ("The Place Where Lost Things Go"), Melhor Figurino e Melhor Design de Produção. Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical, Melhor Atriz (Emily Blunt), Melhor Ator (Lin-Manuel Miranda) e Melhor Trilha Sonora.

Pablo Aluísio.

Kursk

Eu me recordo muito bem da história desse filme. Acompanhei pela imprensa. Em agosto de 2000 o submarino nuclear russo K-141 Kursk perdeu contato com sua frota no Mar de Barents. Era uma das máquinas de guerra mais importantes da frota do norte. Após algumas buscas descobriu-se que o submarino havia sofrido um acidente grave. Um dos torpedos explodiu dentro do Kursk. Nele havia uma tripulação de 118 homens. A maioria morreu na explosão. Apenas 20 sobreviventes tentaram pedir por socorro, batendo com martelos nas grossas camadas de aço do submarino.

O filme se concentra justamente nessa operação de salvamento. Inicialmente os russos tentaram salvar os tripulantes sobreviventes, porém como bem mostrado no filme, a frota do norte estava sucateada (um aspecto bem presente nas forças armadas russas atualmente). Feridos em seu orgulho patriótico, os comandantes da marinha russa hesitaram muito em pedir ajuda internacional. Até porque eles entendiam que isso seria uma espécie de humilhação pública perante o mundo. Enquanto decidiam o que fazer os marinheiros ficaram no fundo do oceano, esperando por um socorro que parecia nunca chegar.

Esse bom filme foi produzido pelo cineasta Luc Besson. Ele contratou pessoalmente dois excelentes atores para o elenco. O primeiro deles foi o grande Max von Sydow. Ele interpreta esse velho homem do mar, um almirante russo cheio de orgulho que não quer a ajuda dos ingleses no resgate. Já Colin Firth é o oficial inglês, que oferece os meios mais modernos para resgatar os marinheiros russos. O filme captou muito bem toda a atmosfera da tragédia do Kursk, não esquecendo de também desenvolver a vida dos marujos, de suas famílias e as perdas que sofreram. Sob o ponto de vista cinematográfico é uma bela obra. Na ótica histórica também não deixa nada a desejar.

Kursk (Bélgica, França, Luxemburgo, 2018) Direção: Thomas Vinterberg / Roteiro: Robert Rodat, baseado no livro "A Time to Die" de Robert Moore / Elenco: Max von Sydow, Colin Firth, Matthias Schoenaerts, Léa Seydoux, Peter Simonischek / Sinopse: O filme resgata a história da tragédia que envolveu o submarino nuclear Kursk em agosto de 2000.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Shazam!

O personagem do Capitão Marvel é um dos mais antigos do mundo dos quadrinhos. Foi criado em 1940 e no auge de sua popularidade conseguiu vender mais quadrinhos do que o próprio Superman. Depois a editora original que o publicava faliu e os direitos foram comprados pela DC Comics. O curioso é que a nova editora não soube aproveitar bem seu potencial, o desperdiçando na maioria das vezes, algo que se repete também aqui nesse seu primeiro filme para o cinema. Convenhamos, esse roteiro não ajuda muito. Há um tom de comédia (e até pastelão) que acabou transformando o antigo herói em basicamente um bobão! Tudo bem que ele seria apenas um garoto de 14 anos em sua mentalidade, mas precisavam mesmo exagerar tanto na dose?

Assim o que temos aqui é uma versão um tanto abobada do Capitão Marvel. O enredo procura dar uma modernizada em suas antigas origens, mas só consegue ser bem sucedido em termos. Zachary Levi, o ator que interpreta o herói, é basicamente um comediante e leva seu trabalho nessa linha mesmo, a do humor. Com uma roupa cheia de enchimentos para parecer mais forte do que é, seu estilo me soou muito exagerado, desproporcional. O mais estranho é que o garoto Billy Batson tem um comportamento mais bem equilibrado do que o dele, que seria a versão adulta de Billy! Ai entra a maior contradição desse roteiro que me pareceu bem ruinzinho no que diz respeito à caracterização dos personagens.

O filme custou 100 milhões de dólares e até o momento conseguiu, à duras penas, faturar 400 milhões (no mercado americano e internacional). Provavelmente será tudo o que conseguirá atingir. Não chegou perto do grande sucesso da temporada, a do filme da Capitã Marvel. Penso que erraram a mão (mais um vez) em termos de adaptação para o cinema dos heróis da DC Comics. Agora virou uma situação de 8 ou 80. Ou tudo surge cinzento e obscuro demais ou então seu extremo oposto, bobo e infantil. A DC deve calibrar melhor seu material quando for para as telas.

Shazam! (Estados Unidos, 2019) Direção: David F. Sandberg / Roteiro: Henry Gayden, Henry Gayden, baseados no personagem dos quadrinhos criado por C. C. Beck e Bill Parker / Elenco: Zachary Levi, Mark Strong, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Adam Brody, Djimon Hounsou / Sinopse: O garoto de 14 anos Billy Batson acaba ganhando poderes especiais dado por um mago misterioso. Ao gritar o nome "Shazam!" se torna um super-herói com o poder de voar, desenvolver super velocidade, grande força, entre outros. Agora precisará enfrentar um vilão que deseja tomar posse de todos os seus poderes.

Pablo Aluísio.

Estrada Sem Lei

A história de Bonnie e Clyde já rendeu um clássico ao cinema. Estou me referindo a "Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas" (EUA, 1967) com Warren Beatty e Faye Dunaway. Uma obra-prima. Agora o canal Netflix resolveu contar a história dos policiais que deram fim ao casal criminoso mais famoso do século XX. Esse "The Highwaymen" conta basicamente o mesmo fato histórico, só que de um outro ponto de vista, focando nos policiais que foram atrás do casal pelas estradas americanas empoeiradas e desoladas do interior. Aqui se destacam dois personagens principais, dois veteranos, antigos membros do Texas Rangers, que unem forças para um último (e definitivo) serviço.

É uma caçada humana, com muitos momentos de tensão e violência. Obviamente que a capacidade de rastrear desses velhos homens da lei foi crucial nessa busca. Eles conseguiram antever os passos dos criminosos, chegando nas cidades antes mesmo deles irem para lá. Usando da máxima "Bandidos são como cavalos selvagens, sempre voltam para seu lar", eles utilizaram como bússola as cidades onde moravam parentes dos membros da quadrilha. Uma estratégia eficiente, que acabou dando muito certo. Em pouco tempo ficaram no rastro dos bandidos. O interessante desse roteiro é que a interação com Bonnie e Clyde é mínima, tal como se deu na vida real. Eles estão sempre presentes como alvo a ser alcançado pelos policiais, mas nunca como presença real. Apenas no momento final é que o caminho deles se cruzam de forma definitiva.

Por fim, tanbém não poderia deixar de elogiar os atores Kevin Costner e Woody Harrelson. Estão ótimos como os velhos Rangers. O papel de Kevin Costner me lembrou muito de "Os Intocáveis" quando interpretou o policial Eliot Ness. Foi ele quem prendeu o também famoso Al Capone. Tudo a ver com a grande era dos gângsters, do qual Bonnie e Clyde também fizeram parte.  Já Harrelson está em um momento maravilhoso na carreira, fazendo uma sucessão de bons filmes em série. Não poderia estar melhor no filme. Juntos eles fizeram o melhor filme com o selo Netflix que já assisti. Um excelente policial de época que poderia perfeitamente ter sido lançado no cinema, onde seguramente faria sucesso. Qualidade cinematográfica para isso certamente não lhe faltaria.

Estrada Sem Lei (The Highwaymen, Estados Unidos, 2019) Direção: John Lee Hancock / Roteiro: John Fusco / Elenco: Kevin Costner, Woody Harrelson, Kathy Bates, John Carroll Lynch / Sinopse: Durante a década de 1930 o casal de criminosos Bonnie e Clyde espalha terror pelo interior dos Estados Unidos, numa trajetória de crimes. Para localizar o casal a governadora do Texas decide contratar um velho Texas Ranger que ao lado de seu antigo parceiro ganha a estrada em busca do paradeiro dos criminosos. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

As Viúvas

O diretor Steve McQueen sempre surge nos cinemas com filmes interessantes. O forte dele não se concentra apenas na boa direção dos atores, mas também na escolha de roteiros bem escritos. Aqui temos três núcleos de personagens onde o enredo se desenvolve. O primeiro núcleo é formado por uma quadrilha de criminosos, assaltantes a bancos, liderados por Harry Rawlings (Liam Neeson). Após um roubo eles fogem à toda velocidade pelas ruas da cidade, sendo perseguidos pela polícia. O caos é completo, com tiros e explosões para todos os lados. A única lei que prevalece é a da sobrevivência.

No segundo núcleo temos dois políticos que disputam o controle de uma subsidiária da prefeitura localizada em um bairro suburbano, de população negra e pobre. Esses políticos são tão corruptos e criminosos quanto os próprios assaltantes. Todos podres. Por fim há o grupo das viúvas que dá título ao filme. Só que elas não são viúvas comuns. Pelo contrário, seus maridos foram mortos pela polícia. Uma delas passa a ser ameaçada por antigos comparsas do marido. Eles querem saber onde foi parar os dois milhões de dólares que ele roubou e escondeu. A pobre mulher não sabe de nada, mas precisa agir, antes de ser morta pelos bandidos.

O diretor Steve McQueen cria assim o cenário por onde seus personagens desfilam na tela. Não há absolutamente ninguém que preste entre eles. São todos criminosos em maior ou menor grau. Todos são gananciosos, sem escrúpulos e estão dispostos a tudo para colocarem as mãos no dinheiro roubado. É curioso que o espectador fique sem ter por quem torcer. Afinal as tais viúvas passam longe de exemplos, na verdade elas logo se tornam também criminosas, planejando um grande roubo. Claro, nem tudo sai como elas querem. Eu gostei do filme, mas fiquei um pouco incomodado por essa falta de um protagonista decente, que passe pelo menos um exemplo bom. Nem que fosse algum policial investigando os crimes, por exemplo. Do jeito que ficou "As Viúvas" mais parece um estudo de criminologia onde temos que torcer pelos menos piores ou pelos menos inescrupulosos. Vou torcer para o bandido A ou B? Não me parece ser uma decisão fácil de tomar.

As Viúvas (Widows, Estados Undos, Inglaterra, 2018) Direção: Steve McQueen / Roteiro: Gillian Flynn, Steve McQueen / Elenco: Viola Davis, Michelle Rodriguez, Elizabeth Debicki, Liam Neeson, Robert Duvall, Colin Farrell / Sinopse: Criminosos, políticos corruptos e uma quadrilha formada por viúvas de bandidos mortos, convive numa grande cidade americana infestada de crimes. O prêmio máximo será dado a quem colocar as mãos primeiro em uma bolada de dois milhões de dólares roubados de um banco da cidade. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Atriz (Viola Davis).

Pablo Aluísio.