sábado, 19 de janeiro de 2019

A Conquista do Oeste

Tinha tudo para ser um grande filme, mas acabou sendo prejudicado por suas próprias pretensões absurdas. Quando a Metro decidiu produzir esse faroeste resolveu que iria realizar "o filme definitivo" sobre o velho oeste. Para isso contratou três grandes diretores do gênero e um elenco milionário que contava com, entre outros astros, James Stewart, John Wayne e Gregory Peck. A promessa era de que haveria mesmo uma super produção vindo. Além disso contava com um novo sistema de exibição chamado Cinerama, que tinha como objetivo dar uma visão completa da cena para o público, com três enormes telas. 

Infelizmente as coisas não foram bem. O excesso de atores, diretores e roteiristas só resultou em um filme longo, arrastado e superficial. Nenhum personagem tinha tempo de se desenvolver bem. Dizia-se na época que a Metro havia juntado três roteiros de três filmes diferentes em um só! Não poderia dar certo mesmo. Além disso o tal sistema de tela tripla cansava o espectador que em determinado momento não sabia nem em que direção deveria olhar. Mais uma experiência para atrair público que não havia dado muito certo. Revisto hoje em dia o filme não se sustenta muito. Todos os elementos estão lá, porém isso não resultou em um grande filme, mas apenas em um filme grande, longo demais, que acaba causando simples tédio.

A Conquista do Oeste (How the West Was Won, Estados Unidos, 1962) Direção: John Ford, Henry Hathaway, George Marshall, Richard Thorpe / Roteiro: James R. Webb, John Gay / Elenco: James Stewart, John Wayne, Gregory Peck, Henry Fonda, Debbie Reynolds, Karl Malden, George Peppard, Eli Wallach, Richard Widmark / Sinopse: São três histórias que se interligam e que contam a história da colonização do velho oeste americano, com seus pioneiros, cowboys, militares e fazendeiros. Todos em busca de uma vida melhor.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A Sétima Cavalaria

"A Sétima Cavalaria" começa onde praticamente todos os filmes sobre o General Custer terminam. Aqui acompanhamos a volta do Capitão Tom Benson (Randolph Scott) ao Forte Lincoln após ir buscar sua noiva, a bela Martha (Barbara Hale). Ele era o braço direito de Custer na tropa e saiu de licença por motivos pessoais. O que Benson não sabe é que ao retornar não encontrará mais ninguém no forte! Toda a Sétima Cavalaria da qual fez parte acabara de ser massacrada pelos guerreiros Sioux e Cheyennes comandados por Cavalo Louco e Touro Sentado. "A Sétima Cavalaria" é seguramente um dos melhores filmes de western estrelados por Randolph Scott. O roteiro é muito bem escrito e se concentra nos eventos que ocorreram após a morte de Custer e a Sétima Cavalaria. O inquérito aberto pelo exército americano, as dúvidas sobre as reais intenções de Benson ao pedir licença, a necessidade de resgatar todos os restos mortais dos militares em Little Big Horn, tudo é extremamente bem exposto em grande momento de Scott no cinema. Há cenas impactantes como a volta do cavalo do general ao campo de batalha e a questão sobre a quem pertenceria os despojos da grande batalha - aos vencedores ou aos soldados da cavalaria?

Uma das coisas que mais chamam atenção nesse filme é a questão sobre quem teria sido responsável pelo massacre das tropas americanas. Durante muitos anos após o desastre em Little Big Horn houve uma glorificação do General Custer. Considerado herói pois morreu lutando, seu legado foi incontestável por anos. Depois descobriu-se que Custer cometeu muitos erros no campo de batalha. Extremamente vaidoso e egocêntrico, Custer queria alcançar os picos da glória ao acreditar que venceria toda uma nação Sioux apenas com poucos homens extremamente bem treinados. Se equivocou feio o que acabaria custando a vida de centenas de soldados e oficiais americanos. O filme não tem medo de tocar nessa ferida e o faz de forma brilhante. Para quem gosta da história do velho oeste "A Sétima Cavalaria" é essencial.

A Sétima Cavalaria (7th Cavalry, EUA, 1956) Direção: Joseph H. Lewis / Roteiro: Peter Packer baseado no livro de Glendon Swarthout / Elenco: Randolph Scott, Barbara Hale, Jay C. Flippen / Sinopse: Aqui acompanhamos a volta do Capitão Tom Benson (Randolph Scott) ao Forte Lincoln após ir buscar sua noiva, a bela Martha (Barbara Hale). Ele era o braço direito de Custer na tropa e saiu de licença por motivos pessoais. O que Benson não sabe é que ao retornar não encontrará mais ninguém no forte! Toda a Sétima Cavalaria da qual fez parte acabara de ser massacrada pelos guerreiros Sioux e Cheyennes comandados por Cavalo Louco e Touro Sentado.

Pablo Aluísio.

Jake Grandão

John Wayne morreu em 1979. Esse filme foi produzido em 1971, ou seja, no começo da última década de vida do veterano ator. Com os filmes de faroeste em baixa, já que o gênero teve mesmo seu auge durante os anos 40, 50 e 60, o velho astro procurava se manter em cartaz. Esse "Jake Grandão" contou com o dinheiro do próprio ator que praticamente foi o produtor executivo da fita. Para compor elenco e equipe técnica, Wayne reuniu velhos companheiros do cinema (como a atriz Maureen O'Hara) com uma geração jovem, muitos deles filhos de grandes astros do passado que agora tentavam uma chance dentro da indústria cinematográfica. Isso demonstrou acima de tudo o bom caráter de John Wayne, procurando dar oportunidades para todos que o conheciam.

A direção foi creditada a George Sherman, diretor dos bons e velhos tempos dos grandes filmes de western do passado. Só que ele passou por problemas de saúde durante as filmagens e assim o próprio John Wayne acabou dirigindo metade do filme, embora seu nome não constasse nos créditos oficiais da fita. No enredo ele interpretava um velho xerife aposentado, um homem da lei do passado, que agora procurava por paz, além de tentar uma reconciliação com um dos seus amores de um tempo distante. Sua tranquilidade porém seria rompida com o sequestro de seu neto. A partir daí caberia a ele pegar o velho rifle, montar seu cavalo e ir atrás dos criminosos. Bom filme, digno, da fase final da filmografia de um dos grandes mitos da história do cinema americano.

Jake Grandão (Big Jake, Estados Unidos, 1971) Direção: George Sherman, John Wayne / Roteiro: Harry Julian Fink, Rita M. Fink / Elenco: John Wayne, Richard Boone, Maureen O'Hara, Virginia Capers / Sinopse: Jacob McCandles (John Wayne) é um velho xerife aposentado que precisa voltar à ativa, após ter seu neto sequestrado por um bando de criminosos perigosos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Ben McKenzie

Quem é Ben McKenzie? Nesse mundo de séries geralmente nos esbarramos com aqueles atores que já conhecemos, mas que não sabemos o nome. É aquele tipo de ator que você encontra em várias séries, gosta do trabalho dele, mas geralmente no final pergunta: como é mesmo o nome dele? Ben já esteve em várias séries que acompanhei. Não sou particularmente um fã de seu trabalho, mas devo dizer que ele é sem dúvida um sujeito talentoso, que segura uma série como protagonista sem problemas.

A primeira vez que vi algo com Ben foi na série adolescente "OC". Não cheguei a acompanhar direito essa série porque quando ela era exibida não me interessou muito. Séries sobre jovens riquinhos já tinha saturado em minha opinião. Mesmo assim cheguei a ver vários episódios, sem maiores compromissos. Se me recordo bem ele interpretava um cara modesto que ia morar em Los Angeles, em um bairro de jovens ricos. Era só. Tinha boa trilha sonora, mas nada além disso.

Só voltei a reencontrar o Ben em "Southland: Cidade do Crime". Sempre fui fã de séries policiais e essa era muito especial. Toda rodada em uma Los Angeles cheia de crimes, o Ben interpretava um jovem policial que ia ganhando a manha das ruas a cada dia de trabalho. Série excepcionalmente acima da média, muito boa, filmada quase como se estivéssemos assistindo a um documentário sobre a vida real. Também serviu para mostrar que a vida nas grandes cidades americanas não era o país das mil e uma maravilhas como muitos brasileiros inocentemente pensavam. Era barra pesada, selvagem, crua e violenta. Essa série recomendo a todos.

A terceira série que cheguei a acompanhar do Ben foi "Gotham". Ele interpreta o jovem comissário Gordon numa era antes do Batman, que ainda é uma criança. Porém muitos dos vilões do universo do homem morcega desfilam pela tela. É uma série extremamente bem produzida, com o melhor que a Warner Bros tem a oferecer. Mesmo acompanhando grande parte da primeira temporada não consegui curtir. É aquele tipo de série que tudo parece estar no lugar, com bons roteiros, elenco muito bom, direção de fotografia bonita, mas que ao mesmo tempo não cria empatia e nem parece ter carisma. Por isso após alguns episódios larguei a série. Não foi do meu gosto pessoal. Talvez um dia volte a acompanhar, quem sabe...

Pablo Aluísio.

Christopher Plummer

Christopher Plummer só melhorou com o passar dos anos. Pelo menos essa é a impressão de muitos cinéfilos e críticos de cinema ao redor do mundo. Hoje em dia podemos dizer inclusive que ele está no melhor momento de sua carreira e isso após quase 70 anos de carreira e mais de 200 filmes no currículo! Não é pouca coisa, meus caros. Há dois dias ele completou 89 anos de idade e nem pensa em se aposentar!

O interessante é que ele só veio mesmo a ser considerado um grande ator, de primeira grandeza, há relativamente pouco tempo. Para quem está há tantos anos na estrada não deixa de ser uma grande injustiça. Finalmente Plummer está tendo o reconhecimento que sempre mereceu, mesmo quando atuava em papéis menores, de personagens secundários, algo que ele fez com muita dignidade quando sua carreira começava a entrar numa fase morna, sem sucessos de bilheteria.

Durante muitas décadas ele foi considerado apenas um galâ elegante, ideal para interpretar personagens aristocráticos, sofisticados, da alta classe. O Oscar só veio em 2017, por sua atuação em "Toda Forma de Amor". Tarde demais? Não, diria que antes tarde do que nunca! Pessoalmente confesso que de certa maneira também nunca havia prestado muito atenção nele até meados dos anos 80. Uma das minhas referências mais óbvias quando ouvia falar em Christopher Plummer era seu bom desempenho como Sherlock Holmes em "Assassinato por Decreto". Ele interpretou um Sherlock bem fiel aos livros originais, bem clássico, bem de acordo com as páginas da literatura. E isso me causou uma excelente impressão.

Dizem que os galãs geralmente possuem prazo de validade. Quando a idade chega eles tendem a ser esquecidos. No caso de Plummer isso não aconteceu. Ele passou a ter um outro momento em sua vida artística. Penso que nem foi algo planejado pelo ator. Ele simplesmente aceitou bons papéis que iam surgindo, geralmente de pessoas na terceira idade. Eram bons roteiros e isso o elevou de novo ao primeiro time de Hollywood. "O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus", "A Última Estação", "Elsa e Fred - Um Amor de Paixão", "O Homem Que Inventou o Natal", "Todo o Dinheiro do Mundo", "A Exceção" "Limites" e "Não Olhe Para Trás" são filmes representativos desse seu novo momento na sua filmografia, que é sempre bom lembrar, é cheia de clássicos do passado.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Primeiros Filmes - Steven Spielberg

Há muitas histórias diferentes sobre Steven Spielberg em seu começo de carreira no cinema. Algumas dizem que ele simplesmente um dia pegou um crachá do estúdio Universal, entrou lá e fingindo ser um diretor experiente começou a dirigir seus primeiros filmes. Claro que algo assim passa longe da verdade, são mitos divertidos que o próprio Spielberg usou para se divertir. O fato é que por trás desse tipo de anedota se esconde um dos diretores mais importantes da história do cinema americano. Não é exagero. Spielberg é seguramente um dos cineastas mais marcantes das últimas décadas. Em seu nível provavelmente só teremos nomes como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. A diferença básica é que enquanto cineastas como esses procuravam acima de tudo agradar a crítica, Spielberg direcionou praticamente toda a sua carreira para o grande público. Certa vez ele disse que o seu cinema não tinha muitos mistérios, que ele apenas dirigia aqueles filmes que ele próprio, como um fã de cinema, gostaria de assistir. É foi justamente pensando nisso que Spielberg cravou seu nome na história de Hollywood.

Judeu, louco por cinema desde a juventude, Steven decidiu bem cedo que queria dirigir filmes. Ele nunca quis dar uma de intelectual com suas obras. Na verdade Steven Spielberg teve sua infância nos anos 1950, justamente a era de ouro da ficção no cinema americano. Essa influência ficou com ele para sempre. Os filmes do diretor jamais deixaram essa herança de lado, sempre com extraterrestres, fantasia, diversão. Exatamente por ser um fã de cultura pop é que Spielberg se tornou o que é hoje em dia. Seus filmes nunca foram tão eruditos como os de Coppola ou Scorsese. Ao invés disso o diretor direcionou sua filmografia para a diversão do jovem louco por quadrinhos, TV e cinema. E tudo começou lá atrás, quando ele dirigiu um episódio da série de sucesso "O Incrível Hulk". Spielberg ainda era um jovem, mas a emissora, confiante em seu talento, o escalou para dirigir o episódio chamado "Never Give a Trucker an Even Break". Esse foi o ponto zero da carreira de Spielberg na direção. A série era estrelada pelos atores Bill Bixby (que interpretava o cientista  Dr. David Banner) e Lou Ferrigno (que dava vida ao monstro verde dos quadrinhos). Como já era tradição dentro da indústria americana, primeiro os jovens diretores ganhavam experiência em séries de TV, para só depois tentar a sorte nas telas de cinema, algo que para Spielberg veio até muito rápido, rápido demais para dizer a verdade.

Steven Spielberg mostrou sua genialidade já no seu primeiro filme pra valer em Hollywood. Encurralado (Duel, Estados Unidos, 1971) tinha um roteiro dos mais simples, para não dizer, simplórios. Era apenas a história de um motorista que passava a ser perseguido por um grande caminhão nas estradas da Califórnia. Nada mais do que isso. Spielberg entendeu que aquela seria uma ótima oportunidade para mostrar seu talento de direção. Usando de enquadramentos inovadores e uma trilha sonora impactantes ele criou um dos melhores filmes daquele ano. O filme acabou sendo exibido na TV, o que não foi algo ruim para o diretor, já que assim ele tinha chances de concorrer em algum prêmio importante que premiasse telefilmes. No Globo de Ouro o talento de Steven Spielberg foi reconhecido e pela primeira vez em sua curta filmografia ele acabou sendo indicado na categoria de Melhor Telefilme do ano, uma indicação que já valia como prêmio por ter sido lembrado.

Nessa primeira fase de sua filmografia os estúdios passaram a prestar mais atenção no jovem diretor. Muitos o apontavam como um novo talento nas produções de terror e suspense, mas esse tipo de rótulo não se enquadrava bem em Spielberg. Ele queria tentar todos os gêneros cinematográficos e pessoalmente preferia os filmes de Sci-Fi (ficção) do que de terror propriamente ditos. Spielberg foi um dos vários garotos de sua geração que cresceram assistindo a séries de ficção como "Além da Imaginação". Por isso essa inspiração jamais seria deixada de lado.

De qualquer forma o estigma de ser um novo talento do suspense levou com que Spielberg dirigisse dois outros telefilmes, nenhum deles com grande destaque. O primeiro foi "A Força do Mal" sobre um casal que se mudava para uma velha casa isolada no meio rural e começava a ter problemas com espíritos malignos. Um filme de terror bem feito, mas ainda sob controle do estúdio, o que cortou de certa forma a criatividade do diretor. Depois dele, já em 1973, veio "Savage" sobre um jornalista investigativo que descobria fotos comprometedoras de um magistrado indicado para a Suprema Corte dos Estados Unidos. Esse filme foi interessante para Spielberg porque ele teve a oportunidade de dirigir um grande ator,  Martin Landau. Só que a TV havia ficado pequena demais para ele. Em breve Spielberg queria se dedicar à grande paixão de sua vida: filmes para o cinema.

Pablo Aluísio.

Primeiros Filmes - Amy Adams

A atriz Amy Adams nasceu na Itália... quem diria que ela fosse italiana, não é mesmo? Bem, é quase isso. Filha de um militar americano servindo no velho continente, ela acabou nascendo por lá em uma cidade chamada Vicenza. Era agosto de 1974. Pois bem, o tempo passou e ela abraçou a carreira artística. Primeiramente no teatro - o berço de todos os grandes atores e atrizes - e depois o cinema.

Hoje a filmografia da Amy já conta com 59 filmes! Um número de respeito, ainda mais se formos levar em conta que ela começou a atuar para valer em cinema só a partir de 1999, ou seja, ela nem completou ainda 20 anos de carreira. Como toda jovem tentando encontrar um espaço nesse mercado mais do que competitivo, a ruiva precisou ralar bastante e também fazer algumas bobagens ao longo dos anos. Normal em casos assim, de atrizes em começo de carreira. Como processo natural ela acabou atuando, logo no seu primeiro filme, numa besteira intitulada "Lindas de Morrer". O elenco pelo menos era muito bom, com atrizes que realmente faziam jus ao título do filme. Ao lado dela nessa produção estavam Kirsten Dunst, Denise Richards e Ellen Barkin; Essa última loira aliás sempre considerei uma das mulheres mais sensuais do cinema americano.

Bom, se você é jovem e bonita e anda precisando trabalhar em Hollywood no comecinho da carreira um caminho simples de arranjar papéis é descolar alguma produção de terror para participar . A Amy Adams não escapou desse caminho. Seu segundo filme foi o inacreditável (no mal sentido mesmo) "Horror na Praia Psicodélica". Depois de cinco indicações ao Oscar gostaria de saber como a Amy olha para trás e encara produções como essa em que ela atuou! Deve ser um misto de arrependimento com humor. Por falar nisso os produtores dessa fitinha a anunciavam como um "Encontro entre os filmes slasher e os psicodélicos anos 60, tudo se passando numa praia paradisíaca!" Deve ser literalmente um horror!

Pablo Aluísio.

Primeiros Filmes - Nicole Kidman

Olhando para o passado me lembro do primeiro filme que assisti com a atriz Nicole Kidman. Foi "Terror a Bordo", de 1989. Aluguei a fita ainda nos tempos do VHS. Claro que ninguém nunca tinha ouvido falar naquela ruiva australiana de longos cabelos cacheados. O filme apesar de ter sido muito elogiado pela crítica brasileira na época me pareceu porém apenas razoável. Não fiquei pessoalmente impressionado. Depois disso só ouvi falar novamente nela em "Dias de Trovão". Aqui o quadro já mudava um pouco. Ela havia se mudado para Los Angeles e começado um namoro com o astro Tom Cruise. Era 1990. Claro que por ser a garota do Cruise ela imediatamente ficou na mira da mídia, principalmente das revistas de celebridades e fofocas.

Namorar o ator mais bem pago do cinema trouxe uma espécie de fama instantânea para ela. Esse namoro iria acabar em um casamento não muito feliz, com um final que deixou a Kidman muito desapontada e decepcionada com Cruise. Quem não se recorda ele se separou dela poucos dias antes da esposa ter direito a parte de sua fortuna. Foi um fim incentivado por um materialismo meio vergonhoso.

"Dias de Trovão" é um filme pipoca por excelência. Foi vendido como um "Top Gun" com carros de corrida. No fundo é isso mesmo. O roteiro é bem vazio, com Tom Cruise brincando de piloto o tempo todo na tela, sem convencer muito bem. Claro que como cinema de ação funciona bem também, porque o diretor Tony Scott sempre foi um mestre nesse tipo de edição. Um filme com muito visual, muito pop, mas sem muito conteúdo. Faz muitos anos que revi o filme, mas mesmo na revisão pude sentir novamente o quanto é vazio essa produção sobre duas rodas.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Os Filmes de Brad Pitt

Falando por experiência pessoal, a primeira vez que encarei o ator Brad Pitt como novo astro de Hollywood foi em "Lendas da Paixão" de 1994, filme aliás que tive a chance de conferir no cinema em sua estreia no Brasil. Antes desse filme já tinha ouvido falar do Pitt, claro, mas nada se comparava com a repercussão que essa fita teve até então. Em Hollywood quando se começa a apostar em um novo ator toda uma engrenagem de marketing e propaganda é colocada em funcionamento. Com o Brad Pitt foi assim. A partir do momento em que os produtores decidiram que ele seria o novo star, o novo chamariz de bilheteria, ele começou a ser colocado em evidência.

E aí é aquela coisa. O ator começa a aparecer em muitas capas de revistas (com especial atenção para as revistas teen, para os jovens), muitas matérias em jornais e revistas de cinema e por aí vai. Publicidade, acima de tudo. Em relação a "Lendas da Paixão" devo dizer que o mais atrativo para ir ao cinema, pelo menos no meu caso, foi a presença de Anthony Hopkins no elenco. Havia me tornado fã, de carteirinha mesmo, desde que vi sua maravilhosa atuação em "Vestígios do Dia", um filme belíssimo. Assim quando foi anunciado que ele estaria nesse elenco, em mais um filme de época, realmente não poderia deixar passar em branco.

Quando finalmente vi "Lendas da Paixão" pude perceber que em nenhuma hipótese poderia ser comparado com "Vestígios do Dia". Esse era um drama sensível, com roteiro muito inglês, revisitando a história de um homem que não conseguia expressar seus sentimentos. Já "Lendas da Paixão" era mesmo um novelão estrelado pelo Brad Pitt. Hopkins aqui surgia mais como um coadjuvante de luxo. O filme obviamente não me aborreceu em nenhum momento, mas de certa maneira me deixou um pouco decepcionado, já que as expectativas estavam altas. Para as novas fãs do galã Brad Pitt porém isso tinha pouca importância. Elas queriam mesmo era ver o novo ídolo do cinema, com seus longos cabelos loiros ao vento, em cenas que pareciam mais um cartão postal.

"Nada é Para Sempre" de 1992 é um dos bons filmes da carreira de Pitt. Curiosamente também é um filme ainda pouco conhecido pelo público em geral. Não fez muito sucesso na época, mas conseguiu ter a boa vontade da crítica. O enredo era bem nostálgico, mostrando uma família no começo do século XX. A pesca em rios de Montana era uma metáfora sobre a vida, mostrando que assim como as águas, tudo fluía em seu caminho natural. Pitt ainda bem jovem não era o astro principal do filme, mas sim um coadjuvante de luxo, numa caracterização muito boa, de um rapaz do interior que tinha que encarar o desafio do passar dos anos.

A direção era de Robert Redford. O filme acabou sendo indicado ao Oscar. Philippe Rousselot acabou premiado pela maravilhosa direção de fotografia. Ele captou muito bem a beleza natural dos rios de Montana, algo que trouxe um visual muito belo ao filme como um todo. Também concorreu em outras categorias valiosas, entre elas a de roteiro adaptado, trabalho desenvolvido pelo roteirista Richard Friedenberg e por fim pela música incidental (Mark Isham). Belas imagens sempre pedem por boa trilha sonora, para criar o clima certo para envolver o espectador no cinema. No meu caso tive o privilégio de curtir tudo isso em uma sala de cinema. Esse é realmente aquele tipo de filme ideal para ver no cinema, uma vez que todas as suas qualidades se destacam na tela grande.

Depois de todo esse lirismo natural, Brad Pitt atuou em um filme completamente diferente do anterior. A fita se chamava "Kalifornia" e era bem violenta. Essa produção não encontrou espaço no circuito comercial das salas de cinema no Brasil, sendo lançado diretamente em vídeo (estamos falando ainda dos tempos das locadoras VHS). Provavelmente seu tema bem fora do comum, mostrando um casal de psicopatas espalhando terror e morte pelas estradas mais desertas dos Estados Unidos, acabou gerando desconfiança nas distribuidoras nacionais. Além disso Pitt ainda não era um astro, um campeão de bilheteria. Ele aparecia barbado, usando um boné típico dos caipiras americanos e surgia nada glamoroso ao lado de uma insana Juliette Lewis, em boa atuação. Esse foi um filme pouco badalado e conhecido, mas que tinha qualidade. Quem assistiu nos anos 90 não se arrependeu.

O filme mais badalado da carreira de Brad Pitt nos anos 90 foi sem dúvida "Entrevista com o Vampiro" (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles, 1994), a tão aguardada adaptação para o cinema do romance vampiresco escrito por Anne Rice. O estúdio investiu milhões de dólares na produção e conseguiu contratar dois astros para o elenco principal. Assim ao lado de Pitt na história tínhamos também um afetado Tom Cruise no papel do vampiro Lestat. Pitt interpretava outro ser da noite, Louis. Uma papel não menos importante dentro do roteiro.

Os dois astros de Hollywood não se deram bem no set de filmagens desde o primeiro dia. Pitt não gostou do jeito de Cruise, sempre muito preocupado em roubar todas as cenas apenas para si mesmo. Isso talvez explicasse porque ao longo de tantos anos Cruise jamais havia se dado muito bem com outro ator de seu porte em filmes anteriores. Sempre havia algum atrito, alguma notícia de problemas de relacionamento dentro das filmagens. Brad Pitt porém não facilitou a situação. Numa competição de estrelismos ele também pagou para ver, causando uma tensão no meio dos trabalhos.

O bom de tudo isso é que as interpretações, tanto de Pitt como de Cruise, foram elogiadas. Competindo entre si, quem acabou ganhando foi o público que acabou assistindo duas belas atuações. O filme fez bastante sucesso batendo a casa dos 300 milhões de dólares na bilheteria. Foi um passo importante pois mostrava aos executivos de Hollywood que Brad Pitt conseguia chamar atenção, até mesmo quando dividia as telas com outro grande popstar do cinema como Cruise. Como vários foram os livros escritos por Anne Rice sempre se cogitou novas adaptações. Pitt porém recusou todos os convites para voltar a esse universo de vampiros. Em sua opinião o seu trabalho como Louis foi tão bom e satisfatório que ele simplesmente não queria estragar tudo em uma continuação inferior.

Em 1995 o ator atuou no filme "Seven: Os Sete Crimes Capitais" (Se7en). Tive também a oportunidade de assistir no cinema na época de seu lançamento original e revi não faz muito tempo. Continua sendo um excelente filme policial de suspense, com ênfase no subgênero dos psicopatas seriais, dos serial killers. Na trama Pitt interpreta um policial que ao lado de seu parceiro, em boa atuação de Morgan Freeman, tenta desvendar uma série de assassinatos.

O assassino parece seguir uma linha, um método de execução, fazendo referência aos sete pecados capitais. A direção foi do talentoso David Fincher e para fechar a linha de frente de grandes profissionais do cinema o elenco ainda trazia Kevin Spacey em seu primeiro papel de impacto no cinema. Eu me recordo bem como na época só se falava em Spacey. Ele quase roubou o filme da dupla de protagonistas.

Nesse mesmo ano Pitt surpreendeu meio mundo ao surgir na estranha ficção "Os 12 Macacos" (Twelve Monkeys). Quem estava acostumado com o ator em papéis de galã bonitão levou um tremendo susto. O filme trazia Pitt despido de qualquer vaidade pessoal, atuando em um personagem quase completamente asqueroso, maluco, com os olhos trocados!  O filme em si era um delírio visual e estético assinado pelo cineasta Terry Gilliam, bem conhecido por seus excessos no cinema. Visionário e adepto de cores fortes, ele fez um filme que não passou despercebido.

Outro aspecto interessante é que Brad Pitt também deixou o orgulho de astro de lado, se tornando apenas um coadjuvante em um filme cujo ator principal era Bruce Willis, o herói dos filmes de ação. A crítica gostou do resultado, mas o público em geral torceu o nariz. Não era uma história fácil de digerir e nem tampouco um roteiro acessível a todos os públicos. A coragem de entrar de cabeça em um papel tão esquisito rendeu bons frutos para a carreira de Pitt. Ele foi indicado ao Oscar e acabou ganhando o Globo de Ouro naquele ano por causa de seu trabalho como o amalucado Jeffrey Goines; No fundo o esforço valeu a pena.

Em 1996 Pitt atuou em "Sleepers: A Vingança Adormecida", Dirigido pelo cineasta Barry Levinson, o filme contava com um grande elenco, cheio de astros, entre eles Robert De Niro, Kevin Bacon e Dustin Hoffman. No meio de tanta gente famosa ficou um pouco mesmo complicado se destacar. É um filme bem interessante, mostrando quatro amigos de infância que foram detidos ainda na juventude, por onde sofreram todos os tipos de abusos e agressões. Muitos anos depois se reúnem e decidem se vingar de quem os violentou no passado. O filme não fez tanto sucesso, apesar dos nomes envolvidos, mas é um dos melhores da filmografia do ator, principalmente pelo seu roteiro, muito bem escrito. Além disso foi por demais interessante para Pitt atuar com tantos nomes consagrados de Hollywood ao mesmo tempo. Como ele mesmo disse em entrevista foi um "verdadeiro aprendizado".

Em 1997 Brad dividiu a tela do cinema com Harrison Ford em "Inimigo Íntimo" (The Devil's Own). Ford havia sido um dos maiores campeões de bilheteria do cinema nas décadas de 1970 e 1980. Nos anos 90 porém ele já não era um nome tão forte e popular entre o público. Já Brad Pitt era o astro da década, sendo grande chamariz de bilheterias bem sucedidas. No final das contas, ao contrário do que a crítica dizia, era Pitt que estava dando uma força na carreira de Ford e não o contrário.

No enredo do filme um policial de Nova Iorque acaba descobrindo que o sujeito irlandês que é o seu hóspede e que parece ser uma boa pessoa, inofensiva, é na verdade um terrorista do IRA, atrás de armas americanas para venda. Um traficante de armas internacional. O filme tinha até boas cenas de ação, mas não era nada memorável em seu roteiro, um tanto previsível. A direção foi do veterano Alan J. Pakula, que a despeito de seu talento, não conseguiu realizar um grande filme.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Os Filmes de Sylvester Stallone

O ator Sylvester Stallone nasceu em um bairro pobre e quente de Nova Iorque chamado Hell´s Kitchen. Ele era de uma família de descendentes de italianos. O pai tinha o sonho de se tornar um cantor famoso ao estilo Frank Sinatra. Infelizmente sua carreira nunca decolou e ele ganhava a vida como cabeleireiro. Sua mãe era uma típica matrona italiana, com temperamento forte e decidido. Em vários sentidos ela era a verdadeira chefe da família Stallone. Durante seu nascimento houve problemas. Stallone nasceu com o uso de fórceps o que acabou danificando os nervos de sua face, o que fez com que tivesse problemas de articulação no rosto. Também atrapalhou sua capacidade de falar. Some-se a isso o fato de ter sofrido muito bullying na época da escola e você entenderá porque em determinada época de sua juventude o ator tenha se tornado praticamente um delinquente juvenil. A falta de jeito, de grana e de perspectivas, fez com que Sly (seu apelido desde a infância) tentasse algo diferente na vida.

Ele queria ser ator. Esse sonho foi sendo destruído por dezenas de professores de cursos de arte dramática dizendo que ele não conseguiria pois não tinha jeito para a profissão. Stallone porém não deu ouvidos e seguiu em frente. Ele se casou com sua namoradinha de adolescência chamada Sasha e foi tentar sobreviver trabalhando em qualquer emprego que surgisse pela frente. De dia trabalhava como açougueiro, jardineiro, etc. De noite ficava insistindo em seu velho sonho, frequentando escolas de teatro. No começo foi complicado. Ninguém estava disposto a lhe dar um papel. Stallone percebeu que precisava de algum diferencial. Acabou encontrando na academia (que pertencia à sua mãe). Ele começou a malhar de forma obsessiva, ganhando músculos. Também comprou uma velha máquina de escrever. Talvez pudesse dar certo como roteirista caso sua carreira como ator não fosse para lugar nenhum. Ele escreveu cerca de 20 esboços até o dia em que assistindo a uma luta de Muhammad Ali na TV teve uma ideia genial para um roteiro. Ali era o grande campeão dos pesos pesados. Agora imagine se um sujeito completamente desconhecido o enfrentasse e vencesse uma luta contra esse mito do boxe! Não seria algo absolutamente histórico? O personagem Rocky Balboa acabava de nascer....

"Rocky: Um Lutador" chegou nas telas de cinema em 1976. Foi um grande sucesso de público e crítica. Embora tenha sido dirigido pelo cineasta John G. Avildsen, todos os méritos foram dados para Sylvester Stallone. O filme foi premiado com o Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Edição. Stallone foi indicado tanto ao Oscar como ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator, mas não venceu. O resultado porém foi extremamente positivo. Literalmente da noite para o dia ele virou um nome quente em Hollywood, passando a fazer parte de todas as listas de futuros astros pelas revistas especializadas em cinema. Poucos se atentaram para o fato de que Stallone já tinha uma série de filmes menores em sua carreira antes de Rocky. No tempos duros ele havia chegado até mesmo a estrelar um filme pornô barato que anos depois, para aproveitar sua fama de estrela de cinema, foi renomeado para "O Garanhão Italiano", sendo lançado no mercado de vídeo VHS. Nada disso porém abalou a carreira de Stallone que passou a escrever diversos roteiros para o cinema. Ele queria se consolidar no cinema, não ficando preso apenas ao personagem Rocky Balboa.

Antes porém que qualquer um desses roteiros se transformassem em filmes, Stallone aceitou o convite de Norman Jewison para atuar no drama "F.I.S.T". Era um filme de época, ambientado na década de 1930, explorando o mundo brutal do sindicalismo americano em seus primórdios. O filme foi bem recebido pela crítica, mas fez pouco sucesso. Na realidade foi uma forma de Stallone em se consolidar como um ator de respeito em Hollywood naqueles tempos pioneiros. Outro bom filme dessa fase foi "A Taberna do Inferno", lançado em 1978. Essa produção foi extremamente importante para Stallone pois foi a primeira vez que ele dirigiu um filme em sua carreira. Era um teste de fogo para o ator. O resultado foi muito bom. Stallone interpretava um personagem chamado Cosmo Carboni. O enredo tinha bastante a ver com a própria vida de Sylvester Stallone e mostrava a dura vida de três ítalo-americanos na Nova Iorque dos anos 1940. Foi, segundo o próprio Stallone, um de seus mais memoráveis momentos no cinema. Mesmo com a boa receptividade, o fato é que o filme também não rendeu muito dinheiro. Assim como "F.I.S.T" era uma produção para elevar seu prestígio, não necessariamente um chamariz de bilheteria. Essa só viria mesmo na sequência de seu maior sucesso. Sim, Stallone estava voltando para a primeira continuação da história do lutador Rocky Balboa e havia acertado um cachê recorde com o estúdio para voltar aos ringues.

Os anos 70 chegaram ao final com mais um grande sucesso de bilheteria na carreira de Sylvester Stallone. O filme "Rocky II" foi um enorme êxito comercial. Quando Stallone anunciou sua sequência a crítica em geral caiu em cima dele, afirmando que era uma tolice fazer uma continuação em cima de um filme como "Rocky, Um Lutador", cuja história já havia se fechado bem em si mesmo. Mal eles sabiam o que Stallone planejava. Ele queria criar uma longa série de filmes com o seu personagem. Embora não tivesse divulgado isso, o fato é que Sly já tinha pronto os roteiros de duas outras continuações, se essa fosse bem sucedida. Dito e feito. "Rocky II: A Revanche" lotou os cinemas. Stallone assumiu completamente o controle do filme, dirigindo e escrevendo o roteiro. As negociações com o estúdio foram tensas pois os executivos não queriam dar tanto controle assim ao ator. Stallone porém era inflexível, ou ele teria controle sobre tudo ou nada feito. E como sem ele não haveria filme a companhia acabou cedendo. O elenco e a equipe técnica foram basicamente os mesmos do filme anterior. Stallone havia criado um vínculo com todos eles. Um fato curioso de seu roteiro é que Stallone não queria transformar o boxeador  Apollo Creed (Carl Weathers) em um vilão da série, mas apenas em um rival dos ringues. Por isso começou a desenvolver melhor o personagem, criando um lado mais humano nele.

Depois do sucesso Stallone pode finalmente respirar aliviado. Afinal ele tinha uma série de filmes de sucesso e seu prestígio comercial em Hollywood seguia firme. O que o ator não sabia é que ele estava prestes a entrar na melhor década de sua carreira. Os anos 80 iriam consagrar Stallone de uma maneira jamais vista. Em pouco tempo ele se tornaria o ator mais bem pago da indústria, batendo recordes de cachês milionários pelos filmes que faria nos anos seguintes. Stallone passou o ano de 1980 em branco, sem lançar filmes, apenas colhendo as glórias e o sucesso de Rocky II. Em 1981 ele finalmente divulgou sua volta às telas. Ele iria surgir no filme policial "Os Falcões da Noite". Embora não fosse escrito por Stallone e nem dirigido por ele, esse policial de ação foi um percursor das fitas de grande sucesso que ele iria estrelar em poucos anos. Esteticamente essa produção está mais para os anos 70, com seu estilo mais cru e realista. Stallone interpreta um tira chamado Deke DaSilva que enfrenta um ótimo vilão, um psicopata interpretado pelo ótimo ator Rutger Hauer. Até mesmo Billy Dee Williams, de Star Wars, também estava no elenco. Stallone, com barba e cara de mau, usava a violência para prender o criminoso de forma pouco usual para a época. Era um prenúncio do que iria vir em sua filmografia.

O filme "Fuga Para a Vitória" de 1981 foi um caso curioso dentro da filmografia de Sylvester Stallone. Ele abriu mão de ser o ator principal do filme para ter a oportunidade de trabalhar ao lado do grande mestre do cinema John Huston. Embora já fosse um astro de grandes bilheterias em Hollywood, Stallone não queria perder a oportunidade de ver um dos diretores de cinema mais aclamados da história trabalhando em um set de filmagem. Como mero coadjuvante ele não teve um papel de destaque dentro do filme, isso coube a Michael Caine, mas o fato de ter ficado em segundo plano não foi visto pelo ator como algo ruim. Além disso duas outras razões o convenceram a fazer o filme: o fato de não ter a responsabilidade do sucesso da produção em seus ombros e a chance de atuar com o Rei do futebol, Pelé! No final de tudo, como ele próprio diria anos depois em entrevistas, valeu bastante a experiência.

Lançado em julho de 1981 nos cinemas, "Fuga Para a Vitória" não se tornou um grande sucesso de bilheteria, mas conseguiu gerar lucro para o estúdio. Com orçamento de pouco mais de 10 milhões de dólares consegui render nos cinemas meros 27 milhões. Um bom número, mas nada comparado com os grandes sucessos que Stallone vinha colecionando em sua carreira cinematográfica. Por essa razão um mês após o fim das filmagens dessa produção com John Huston, Stallone começou a escrever um novo roteiro para a terceira continuação da série do lutador Rocky Balboa. Para voltar a interpretar seu personagem mais famoso a United Artists aceitou pagar a Stallone o cachê recorde de 8 milhões de dólares! Um valor que abalou as estruturas em Hollywood na época, pois foi considerado acima de qualquer comparação com outros atores da indústria. Esse seria o primeiro grande cachê milionário da carreira de Stallone que nos anos que viriam iria bater sucessivos recordes chegando ao ponto, no auge, de receber quase 30 milhões de dólares por apenas um filme! Esses números realmente astronômicos jamais voltariam a se repetir na história de Hollywood, fazendo com que na década de 80 Stallone se tornasse o ator mais bem pago de todos os tempos.

A crítica americana começou a se voltar contra Stallone a partir do filme "Rocky III". Para esses jornalistas ranzinzas essa produção não tinha razão de ser, era apenas uma tentativa leviana de Stallone em faturar em cima do seu personagem mais famoso. O ator não se importou com essas opiniões. Ele explicou: "A história de Rocky não cabe em apenas um filme! Há muito o que se contar sobre ele. Não vou dar ouvidos aos críticos. Eu tenho que continuar a contar a história de Rocky e é isso que eu irei fazer". Stallone concentrou tudo em suas mãos para esse terceiro filme de Rocky Balboa. Ele assumiu a direção e o controle artístico absoluto do filme. Além disso escreveu sozinho o roteiro. O estúdio lhe deu todo o apoio e não atrapalhou o astro durante as filmagens. Ele fez o que quis e quando quis, sem se reportar a ninguém. "Foi uma liberdade incrível que tive, mas também veio as responsabilidades. Eu sabia que Hollywood estava de olho em mim, perguntando se eu conseguiria fazer tudo de forma adequada" - diria em entrevistas após o lançamento do filme.

"Rocky III - O Desafio Supremo" chegou nas telas americanas em maio de 1982 (no Brasil só foi lançado em agosto). Stallone conseguiu manter o orçamento nos eixos e o filme custou relativamente pouco, 17 milhões de dólares, recuperados no primeiro fim de semana em cartaz. Foi um grande sucesso de bilheteria, o público adorou de verdade. Quando a bilheteria começou a bater os 300 milhões de dólares (imagine o lucro que esse filme produziu!) Stallone respirou aliviado. Ele tinha mais um grande sucesso em mãos! Os produtores de Hollywood estavam aos seus pés. O roteiro escrito pelo ator não apostava apenas na luta em si, mas também em acontecimentos dramáticos na vida do boxeador. Para interpretar seu rival nos ringues Stallone contratou o ator negro Mr. T, muito conhecido pelo seu jeito peculiar de ser. Era justamente essa personalidade diferente que Stallone procurava para dar vida ao excêntrico Clubber Lang. "Não poderia ter encontrado um ator mais ideal para o filme" - confessaria Stallone em entrevistas. "Era o tipo que procurava, para dar uma cara, um rosto ao filme. Ele era ótimo dentro e fora das lutas". Com o sucesso de Rocky III Stallone começou a procurar por um novo roteiro para seu próximo filme. A história de um veterano do Vietnã logo despertaria sua atenção.

Em 1982 Stallone entrou em um novo projeto que iria se tornar um dos maiores sucessos de sua carreira. Era a adaptação de um livro contando a história de um veterano da guerra do Vietnã que chegava numa pequena cidade para reencontrar um velho companheiro de farda e passava a sofrer represálias do xerife local. Na época se discutia bastante sobre um certo preconceito contra os que lutaram no Vietnã. Para muitos na sociedade americana era algo vergonhoso ter perdido aquele conflito nas selvas distantes daquele país. Por isso John Rambo era visto como uma pessoa que definitivamente não era bem-vinda naquele lugar. Stallone até cogitou em dirigir o filme, mas no final a direção foi entregue ao cineasta Ted Kotcheff que acabou fazendo um belo trabalho. A única maior interferência de Stallone no filme foi a sugestão dada aos roteiristas para que não seguissem o final do livro. No romance original Rambo morria. Stallone obviamente vendo o potencial do personagem conseguiu mudar esse desfecho para o filme. Ele inclusive iria depois comprar os direitos autorais da obra escrita por David Morrell.

Com o controle do personagem em mãos, Stallone iria dominar tudo nos filmes seguintes, produzindo mais três continuações (recentemente o projeto de um quinto filme da série chegou a ser anunciado). O resultado comercial de "Rambo - Programado Para Matar" ou "Rambo I" como também é conhecido, foi espetacular. Para falar a verdade o filme deu início ao chamado cinema de ação dos anos 80, com personagens durões, que mais se pareciam com um exército de um homem só. Stallone e seu Rambo foi o grande incentivador da explosão dos filmes de ação que iria acontecer nos anos seguintes. Isso é inegável. Depois de Rocky e Rambo, Stallone estava numa posição privilegiada em Hollywood. Todos os produtores queriam lhe contratar. As maiores produções eram lhe oferecidas, mas ao invés de estrelar uma grande superprodução Stallone escolheu dois projetos que surpreenderam muita gente. Eram filmes bem fora da rota do que se esperava dele naquele período de sua carreira.

O primeiro foi  "Rhinestone: Um Brilho na Noite". Pouco conhecido mesmo entre os fãs do ator essa era uma comédia romântica musical, com Stallone fazendo escada para a cantora de country music Dolly Parton. Um filme muito distante de outros de sua filmograia, uma produção que pouca gente esperaria encontrar o astro de filmes de ação. Até hoje muitos se perguntam o que diabos Stallone estaria fazendo em um filme assim, onde ele nem sequer era o primeiro nome do elenco? Na verdade o ator escolheu esse filme justamente para manter em pé seu prestígio como ator, indo para um caminho mais de humor que ele sempre quis seguir. Seu personagem era uma espécie de caricatura de sua imagem nas telas. O filme se não é ruim, pelo menos passou longe de ser vergonhoso. Pelo contrário, tem até seu charme. So que nas bilheterias realmente não fez qualquer sucesso. Quase passou em brancas nuvens.

A outra surpresa foi ver Stallone dirigindo a sequência de "Os Embalos de Sábado à noite". O filme se chamava "Os Embalos de Sábado Continuam", Com custo milionário e contando com um John Travolta turbinado por malhação pesada, incentivada pelo próprio Stallone, o filme tentava levar em frente a história do dançarino suburbano Tony Manero. O que pegou todos de surpresa foi o fato de que o público não queria mais saber da discoteca de Manero. Sem interesse do público, o filme afundou nas bilheterias, sendo um dos grandes fracassos comerciais daquele ano de 1983. Diante do resultado ruim dos dois filmes, Stallone então começou a se mexer para seguir em frente com seus personagens mais famosos. Rambo e Rocky estariam de volta às telas em poucos meses.

Em 1985 Stallone estrelou dois grandes sucessos de bilheterias. Algo que elevou seu cachê às alturas, o transformando no ator mais bem pago de Hollywood. O primeiro blockbuster estreou em maio. Era "Rambo II - A Missão", a tão aguardada sequência do primeiro filme. O roteiro foi escrito pelo próprio ator. Ele resolveu levar o personagem John Rambo de volta ao Vietnã para uma missão secreta e não oficial do governo americano. O foco em Rambo agora seria a pura ação. Stallone apenas capturou as características do personagem do livro original, o transformando agora em um super soldado indestrutível que volta ao campo de batalha de uma guerra que havia sido perdida pelos Estados Unidos. A crítica acusou Stallone de ufanismo, porém o ator não deu ouvidos. O público adorou. Em poucas semanas Rambo II já havia ultrapassado a marca dos 300 milhões de dólares de bilheteria. Um resultado espetacular do ponto de vista comercial.

Em dezembro surgiu nas telas outro mega sucesso do ator. "Rocky IV" logo se tornou o mais bem sucedido filme da franquia criada por Stallone. O velho lutador de boxe voltava dessa vez para reerguer o orgulho americano contra um lutador russo imbatível. O gigante Dolph Lundgren interpretava o intimidador desportista e soldado soviético Drago. Um homem praticamente criado em laboratório, feito para jogar Rocky e a bandeira dos Estados Unidos no chão. Era uma metáfora muito bem bolada por parte de Stallone. Ele apenas levou para um ringue de boxe a rivalidade da guerra fria entre seu país e a União Soviética. Com um roteiro desses não havia como errar. Foi um tiro certo. O filme estourou nas bilheterias. Rocky IV fez mais sucesso do que Rambo II. Em poucos dias o filme batia 400 milhões de dólares nos cinemas. Em um ano Stallone havia conseguido arrecadar quase 1 bilhão de dólares ao redor do mundo com apenas dois filmes! Era algo inédito até então. Um aspecto interessante é que ambos os filmes foram elogiados pelo presidente americano Ronald Reagan. O republicado, da ala mais direitista do partido, declarou em um discurso que os filmes recuperavam o verdadeiro espírito da América. Sem dúvida, nos anos 80 Stallone realmente escalou os picos da glória e do sucesso no cinema.

Pablo Aluísio.