sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Billy Elliot

Esse filme foi baseado em fatos reais. É a singela história de um garoto cujo pai quer que ele se torne lutador de boxe. Por isso o matricula na academia do bairro. O menino é franzino, magro, não muito adequado para um esporte tão violento, que exige tanto do aspecto físico. Assim acaba acontecendo o óbvio: ele leva uma dúzia de surras no ringue. O pai, um mineiro, porém não quer saber, acha que ele vai ficar mais durão com esse tipo de lição. Só que o pior acontece (sob o ponto de vista do pai, claro) quando Billy começa a prestar atenção nas meninas que dançam ballet numa sala ao lado onde ele treina boxe. Ele fica encantando com a dança, com a beleza e a suavidade dos movimentos. Logo compra (escondido) um par de sapatilhas e começa a frequentar as aulas de ballet ao lado das meninas. Imagine quando o pai descobre toda a verdade...

O roteiro é bem humano e desnuda o preconceito, a visão estreita e a estupidez de certa pessoas (em especial do pai do garoto). O fato dele dançar ballet não o tornava obviamente um homossexual, longe disso. Porém como explicar isso a um turrão do interior? Pela bela mensagem que passa, focando na tolerância e no respeito pelas escolhas de cada pessoa, o filme acabou sendo indicado a três prêmios no Oscar, entre eles o de Melhor Roteiro, o que foi um grande feito para um filme como esse, de pequeno orçamento e produção modesta. Depois a história do Billy Elliot acabou sendo encenada de novo nos mais concorridos palcos de teatro de Nova Iorque e Londres, alcançado o mesmo (e merecido) sucesso.

Billy Elliot (Billy Elliot, Inglaterra, França, 2000) Direção: Stephen Daldry / Roteiro: Lee Hall / Elenco: Jamie Bell, Julie Walters, Jean Heywood / Sinopse: Um garoto sonha em aprender a dançar ballet, mas para isso vai ter que superar os preconceitos de seu pai, um mineiro das minas de carvão, que acha que isso é coisa de homossexual. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (Stephen Daldry), Melhor Atriz Coadjuvante (Julie Walters) e Melhor Roteiro Original (Lee Hall). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Atriz Coadjuvante (Julie Walters). Vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme Britânico, Melhor Atriz Coadjuvante (Julie Walters) e Melhor Ator (Jamie Bell).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Ao Cair da Noite

Esse filme foi até muito bem recomendado por fãs de filmes de terror e suspense, por isso resolvi conferir. A história se passa em um mundo que foi devastado por uma estranha doença incurável. Aos primeiros sinais de sua presença não resta outra alternativa a não ser a morte. O filme começa justamente assim, com o neto matando e enterrando o próprio avô por esse estar infectado. Eles o levam para a floresta e lá incineram seu corpo. Tudo para evitar que o resto da família seja também contaminada. Passados alguns dias a casa onde vivem pai, esposa e filho, é invadida por um estranho. Ele consegue ser imobilizado e conta que estava em busca de água pois tem mulher e filho em um lugar próximo esperando  por ele.

No benefício da dúvida Paul (Joel Edgerton) resolve acreditar na história contada pelo estranho. Eles vão até a floresta e resgatam sua família, mas será que o novo hóspede estaria mesmo contando toda a verdade? Esse roteiro investe muito mais no suspense. Como todos vivem isolados, com medo da contaminação que praticamente exterminou a humanidade, há sempre um clima de medo, ansiedade e apreensão com o mundo lá fora. Não se trata de mais um filme sobre apocalipse zumbi como alguns disseram, nem de uma contaminação que transformou os seres humanos em vampiros, como afirmaram outros. O roteiro nunca esclarece tudo. O espectador apenas fica sabendo que há uma doença mortal, altamente contagiosa, fazendo com que a família fique isolada e reclusa numa velha casa no meio do bosque. No elenco o filme conta com a atriz Riley Keough, a neta de Elvis Presley, como a esposa do estranho. Ela tem duas ótimas cenas no filme, mostrando que é realmente uma boa atriz. Fora isso o que temos aqui é um bom suspense, que tem seus momentos, mas que também passa longe de ser a obra prima do terror que alguns andaram dizendo por aí.

Ao Cair da Noite (It Comes at Night, Estados Unidos, 2017) Direção: Edward Shults / Roteiro: Trey Edward Shults / Elenco: Joel Edgerton, Christopher Abbott, Riley Keough, Carmen Ejogo / Sinopse: Depois que um vírus mortal se espalha pelo mundo, uma família decide se isolar em uma casa no meio da floresta. Tudo muda quando um estranho chega por lá. Ele tenta invadir a casa e depois que é imobilizado diz que tem mulher e filho sem água no meio da floresta. A vinda dessa segunda família acaba mudando o destino de todos naquela casa isolada.

Pablo Aluísio.

Black Mirror

Série: Black Mirror
Episódio: 1.01 - The National Anthem
Ano de Produção: 2011
País: Inglaterra
Estúdio:  Zeppotron, Channel 4
Direção: Otto Bathurst
Roteiro: Charlie Brooker
Elenco: Rory Kinnear, Lindsay Duncan, Donald Sumpter, Tom Goodman-Hill, Anna Wilson-Jones, Patrick Kennedy
  
Sinopse e comentários:
Esse é o episódio piloto dessa série que anda bem comentada entre os jovens. Claro, o roteiro usa uma situação bizarra e no limite. Uma princesa da monarquia inglesa é sequestrada. Para poupar sua vida o primeiro ministro precisa se humilhar, aparecendo ao vivo na TV tendo relações sexuais com um porco! Sinceramente... achei muito grotesca a situação.

OK, "Black Mirror" aposta mesmo na fronteira entre a ficção mais radical e a falta completa de bom gosto. Quase atravessaram a linha. Particularmente não consegui ver nada de muito importante ou impactante. Na verdade assim que a situação foi colocada na tela fiquei com aquela sensação de que passaram um pouco dos limites! Afinal uma série convencional como essa tratando de zoofilia, mesmo que na base do argumento do enredo, me pareceu um pouco demais da conta. Não sei se vou continuar assistindo. Talvez verei mais um ou dois episódios. Se não me convencerem de que vale a pena deixarei para lá.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O Rei do Show

Eu não costumo ler muito sobre um filme antes de assisti-lo. Justamente para não perder o fator surpresa que penso ser uma das coisas mais interessantes em relação a ver um filme pela primeira vez. Por isso tive uma surpresa e tanto ao descobrir que esse "The Greatest Showman" é na verdade um musical! Isso mesmo, embora conte sua história até de maneira quase convencional, o roteiro encaixou vários números musicais onde os personagens de repente saem cantando e dançando, nas mais diferentes situações. Claro que não no estilo dos antigos musicais da MGM, mas sim na linha de produções mais recentes como "La La Land". Muita gente não gosta desse gênero, mas no meu caso não vejo problema nenhum, pelo contrário, até aprecio.

Muito bem, entre uma canção e outra, o enredo vai contando a história real do empresário circense P.T. Barnum, um nome muito popular no século XIX. Claro, o roteiro trata com simpatia seu protagonista, o mostrando como um bom homem, que pela necessidade de dar a melhor vida possível para sua família resolveu investir em um circo de aberrações para ganhar dinheiro. Assim ele vendia ingressos para que o público visse o menor homem do mundo, o homem mais alto do mundo, a mulher barbada, o oriental tatuado, o incrível homem de três pernas e por aí vai. Embora tenha boas intenções nesse aspecto a verdade nua e crua era que P.T. Barnum não era o sujeito bonzinho e boa praça representado no filme. Na verdade ele era um picareta que ganhava dinheiro com a deficiência e os problemas dos outros. Um verdadeiro canalha.

O filme porém passa longe de retratá-lo assim. Nem sua frase mais famosa que dizia que nascia um idiota a cada segundo, foi lembrada (ou melhor dizendo, estrategicamente varrida para debaixo do tapete). O que sobra diante disso é um filme bem simpático, nada condizente com os fatos históricos reais, mas que consegue ao menos entreter com competência o público. Um aspecto interessante é a presença da cantora Jenny Lind. Ela de fato existiu e dizia-se na época que tinha a voz mais linda do mundo. Infelizmente registros gravados de sua voz não sobreviveram ao tempo (a tecnologia de gravação era muito rudimentar na época). De qualquer maneira a simples lembrança dela já valeu a pena, embora o roteiro tropece mais uma vez ao mostrar um tipo de sentimento entre os dois. Isso jamais aconteceu já que na história real Lind acusou Barnum de tê-la roubado, ficando com a maior parte do dinheiro de sua turnê pelos Estados Unidos (que rendeu quase cem apresentações em um ano!).

O ator Hugh Jackman dança e canta no filme. Graças a uma edição muito bem feita ficamos com a impressão de que ele é um bom dançarino. Só que não se engane, é tudo mesmo fruto apenas da edição que corta a cena em tantas partes que você já não consegue acompanhar direito o que está acontecendo. As músicas da trilha sonora até são agradáveis, porém é aquele tipo de material que você já sabe que não vai longe. São canções bonitas e descartáveis. Nada memoráveis. Algumas fazem uma força incrível para se tornarem hits nas rádios. Tudo em vão. O filme tem ido bem de bilheteria e é um dos fortes candidatos aos prêmios de cinema que estão vindo por ai. Vamos ver se o favoritismo se confirma. Então é isso. "O Rei do Show" é um bom filme que por acaso é um também um musical, sem muita preocupação com o P.T. Barnum histórico. Por mais falhas que tenha, pelo menos diverte por uma hora e meia, sem fazer muito esforço.

O Rei do Show (The Greatest Showman, Estados Unidos, 2017) Direção: Michael Gracey / Roteiro: Jenny Bicks, Bill Condon / Elenco: Hugh Jackman, Michelle Williams, Zac Efron, Rebecca Ferguson / Sinopse: Em ritmo de musical o filme conta a história do empresário circense P.T. Barnum (Hugh Jackman). Após perder o emprego ele resolve comprar um museu falido em Nova Iorque. Em pouco tempo resolve transformar o lugar em um circo de aberrações, com pessoas bem diferentes. Acusado de explorar a desgraça alheia, Barnum se torna um homem rico, usando seu dinheiro para contratar a cantora Jenny Lind (Rebecca Ferguson) para uma série de concertos ao vivo por todo o país. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção Original ("This is Me" de Benj Pasek e Justin Paul). Também indicado nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Ator - Comédia ou Musical (Hugh Jackman).

Pablo Aluísio.

O Estranho que Nós Amamos

Título no Brasil: O Estranho que Nós Amamos
Título Original: The Beguiled
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: American Zoetrope
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Albert Maltz
Elenco: Colin Farrell, Nicole Kidman, Kirsten Dunst, Elle Fanning, Oona Laurence, Addison Riecke

Sinopse:
Roteiro baseado no romance escrito por Thomas Cullinan. Durante a guerra civil americana um cabo das tropas da União é gravemente ferido. Encontrado sob uma árvore, próximo a uma escola só para moças, ele é resgatado e levado para dentro da velha mansão. Aos poucos se recupera e começa a virar objeto de desejo de todas aquelas mulheres.

Comentários:
Esse é um remake de um filme de 1971 com Clint Eastwood. Ao contrário do filme original porém, que ia mais para uma linha de western tradicional, esse aqui procura investir em um lado mais cult, sofisticado, como é bem característico dentro da filmografia da diretora Sofia Coppola. Assim ela valoriza muito mais as personagens femininas, deixando em segundo plano a figura do militar ferido, aqui interpretado por Colin Farrell. Produzido pela companhia do pai, o grande Francis Ford Coppola, Sofia realizou um filme com uma bonita fotografia, mas também demasiadamente lento, sem muito ritmo, o que certamente vai causar um certo cansaço no público. Na tentativa de realizar uma obra cinematográfica mais cultural ela acabou mesmo errando na dose, transformando seu filme em algo chato e enfadonho. Mesmo assim, se você conseguir sobreviver ao ritmo lento, quase parando, vai ao menos conhecer uma boa história, mesmo que ela já tenha sido contada melhor antes com o ícone dos filmes de western Clint Eastwood.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Tempestade: Planeta em Fúria

Qual é o filme mais cheio de clichês de 2017? Olha, ninguém vai conseguir tirar esse título de "Tempestade: Planeta em Fúria"! O mais estranho de tudo é que o filme até começa bem para depois afundar como o Titanic. O enredo é meio bobinho. Há um sistema mundial de controle do clima. Uma rede de satélites orbita ao redor do planeta justamente para controlar as tempestades, chuvas, temperaturas, etc. OK, tudo bem tolinho, mas tudo bem, até comprei a ideia no começo. Pois bem, algo assim caindo nas mãos erradas poderia causar o caos! E é justamente isso que ocorre quando um vírus implantado entra no sistema dos satélites, causando todos os tipos de destruição.

Claro que com o clima fora de controle todos se ferram! Nem os cariocas escapam. Numa cena de humor involuntário os banhistas brasileiros estão numa boa, curtindo um dia de sol numa das praias do Rio de Janeiro, quando de repente as ondas do mar congelam e começam a transformar todas as pessoas em estátuas de gelo! Isso mesmo, todo mundo congelado em uma praia do Rio, em pleno domingo de sol!!!... Bom, muita gente vai desistir do filme por aqui... mas eu até que disse para mim mesmo: "OK, vou aceitar mais essa bobagem do tamanho do Cristo Redentor". Percebam que eu estava em um dia bom, com muita paciência. As coisas só se tornam insuportáveis mesmo quando o Presidente dos Estados Unidos (pois é, os americanos são bobos demais), surge no horizonte para salvar o país... ai, ai, ai... é muito ufanismo para aguentar, vou te contar...

O ator principal do filme é o Gerard Butler. Ele é o cientista que projetou tudo. Quando o sistema vira uma arma contra a humanidade ele decide fazer de tudo para salvar a todos. É um personagem sem graça, que fala meia dúzia de termos técnicos (que não significam nada no final das contas) e dá uma de herói no final. Tudo é muito infantilizado nesse filme. Poderiam até fazer uma coisa legal com a ideia inicial, mas preferiram mesmo colocar uma tonelada de clichês nesse bolo cinematográfico indigesto! Tem espaço até para a criancinha tentando salvar seu cachorrinho enquanto sua cidade é invadida por uma dezena de tornados...  Convenhamos, é muita falta de originalidade e criatividade! Em outra cena, para ser o mais politicamente correto possível, um astronauta (que acaba salvando todo mundo) faz questão de lembrar para todos que é mexicano! Tive que dar risada! A sutileza para criticar Trump passou longe aqui... E as bobagens não param por aí, coisa pior vem na frente. Tem até uma equipe multicultural, com muitas mulheres latinas e negras, para não pegar mal com a turma da lacração. Enfim, um filme amorfo, totalmente sem sal. Uma perda de tempo sem salvação.

Tempestade: Planeta em Fúria (Geostorm, Estados Unidos, 2017) Direção: Dean Devlin / Roteiro: Dean Devlin, Paul Guyot / Elenco: Gerard Butler, Ed Harris, Andy Garcia, Jim Sturgess, Abbie Cornish, Alexandra Maria Lara / Sinopse: Cientista americano que criou um projeto de controle do clima no planeta precisa salvar a humanidade depois que o sistema é invadido, causando caos e destruição nas principais cidades ao redor do mundo.

Pablo Aluísio.

Dragão Vermelho

Resolvi rever ontem "Dragão Vermelho", o último filme da trilogia original do personagem Hannibal Lecter. Como já escrevi antes, esse ainda é o meu preferido. O interessante é que sua história é anterior a tudo o que vemos em "O Silêncio dos Inocentes". Isso fica bem claro na última cena de "Red Dragon" quando o diretor da prisão pergunta a Lecter se ele tem interesse de se encontrar com uma jovem agente do FBI. Ela mesma, a personagem de Jodie Foster. Pois bem, voltando um pouco, no começo do filme, vemos Hannibal trabalhando junto ao agente Will Graham (Edward Norton). O policial está tentando prender um assassino em série canibal (que obviamente é o próprio Hannibal!). Após descobrir sua identidade eles entram em confronto. Lecter o esfaqueia e esse consegue reagir antes de ser preso, também o atingindo.

Os anos passam e Graham se afasta do FBI, afinal ele quase foi assassinado. Tudo muda porém quando um novo assassino em série surge. Apelidado pela imprensa de "Fada dos Dentes", esse criminoso mata famílias inteiras, em chacinas terríveis. Impulsionado por sua ética profissional o agente do FBI decide voltar. Ele estuda o modos operandi desse serial killer e acaba descobrindo semelhanças com o antigo modo de agir de Lecter. Pior do que isso, ele também é um canibal que come pedaços de suas vítimas. Tentando colocar o psicopata atrás das grades o mais breve possível, antes que ele faça novas vítimas, Graham decide ir conversar novamente com Hannibal na prisão, uma reaproximação que o deixará extremamente nervoso e receoso. Assim a situação que vemos em "O Silêncio dos Inocentes" de certa forma se repete aqui. O agente do FBI e o assassino encarcerado interagindo para localizar e prender o psicótico que está solto pelas ruas.

Dentre os vários pontos positivos desse filme eu destacaria o trabalho de Ralph Fiennes. Ele interpreta o psicopata Francis Dolarhyde. Vivendo uma vida dupla, de tímido técnico que trabalha em um Zoo de dia e de matador cruel e sanguinário de noite, o sujeito vai enlouquecendo cada vez mais com o passar do enredo. Ele tem uma fixação por um desenho de Black intitulado "Dragão Vermelho e a Mulher banhada de Luz" e passa a alucinar, achando que o tal dragão da figura o está dominando, o transformando ele próprio em uma espécie de deus mitológico! Algo completamente insano. Apesar de ter tido uma classificação etária maior nos EUA, o filme não é dos mais violentos dentro dessa trilogia. Só há uma cena mais violenta quando o dragão vermelho começa a devorar vivo o jornalista Freddy Lounds (Philip Seymour Hoffman, sempre ótimo). Depois o encharca de gasolina e toca fogo! Fora isso a violência é mais intelectual, com os policiais tentando pegar o assassino, usando para isso pistas deixadas por ele mesmo nas cenas dos crimes. Somando-se o bom roteiro, a sempre interessante presença de Anthony Hopkins e o trabalho de direção de Brett Ratner, temos no final um dos melhores filmes de assassinos seriais do cinema mais recente.

Dragão Vermelho (Red Dragon, Estados Unidos, 2002) Direção: Brett Ratner / Roteiro: Ted Tally, baseado no livro escrito por Thomas Harris / Elenco: Anthony Hopkins, Edward Norton, Ralph Fiennes, Harvey Keitel, Philip Seymour Hoffman, Mary-Louise Parker / Sinopse: Após ser preso o psicopata canibal Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) passa a ajudar o agente do FBI Will Graham (Edward Norton) em seus casos de homicídio. Há um novo serial killer agindo nas ruas de Chicago e sua captura passa a ser algo urgente, por causa dos crimes horrendos que comete. Filme premiado pelo Fangoria Chainsaw Awards na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Fiennes).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Dunkirk

Historicamente a retirada de Dunquerque foi um dos momentos mais cruciais da II Guerra Mundial. Os britânicos e franceses se viram cercados por forças nazistas e tiveram que abandonar às pressas uma região importante em termos de estratégia. O Primeiro Ministro Churchill preferiu a retirada ao invés de perder seus batalhões. Um passo atrás para no futuro continuar a avançar rumo à vitória. Esse evento já virou filme antes, bons filmes aliás, como "Tobruk" e "A Retirada de Dunquerque", dois clássicos do cinema de guerra. Agora o cineasta Christopher Nolan (da excelente trilogia do Batman) resolveu voltar para aquelas praias cercadas pelo inimigo.

O roteiro é direto ao ponto. Quando o filme começa vemos um jovem soldado inglês escapando por pouco dos tiros dos alemães. Eles parecem estar em todos os lugares (mas curiosamente nunca surgem na tela). Após quase morrer, o soldado finalmente consegue ir para a sua linha de combate. Assim como ele, milhares de outros soldados esperam a chegada dos navios da armada inglesa para irem embora de Dunquerque, afinal a ordem de retirada já foi dada e eles não possuem mais nada a fazer ali, a não ser sobreviver. Os navios porém não parecem chegar nunca. A força aérea da Alemanha nazista (a temida Luftwaffe) faz dos indefesos soldados estacionados naquela praia alvos fáceis. 

Três caças ingleses então são enviados, mas a jornada até as praias de Dunquerque se torna complicada. O roteiro também abre espaço para o esforço de guerra do homem comum. Na história vemos ingleses, cidadãos normais, usando seus barcos particulares para resgatarem o maior número possível de soldados. Um momento realmente impactante de heroísmo das pessoas simples, que tentam ajudar de alguma forma no front de batalha. Nolan assim usa três linhas narrativas para contar a história de seu filme. A do jovem soldado que espera ser resgatado nas praias de Dunquerque, a dos pilotos que lutam nos céus contra os inimigos para salvar os homens do exército e finalmente a das pessoas comuns, civis, que usam seus próprios barcos para ajudar de alguma forma na retirada. Tudo muito bem conduzido, com ótimas cenas de batalha, em especial com os caças da linha Spitfire, símbolos máximos da eficiência da RAF (A força aérea real inglesa) na guerra. Nolan também acerta em realizar um filme enxuto, que conta sua história de forma honesta, eficiente, sem encher a paciência do espectador com coisas desnecessárias. Desde "O Resgate do Soldado Ryan" não tinha assistido a um filme da II Guerra Mundial tão bem realizado. Está mais do que recomendado. 

Dunkirk (Dunkirk, Estados Unidos, Inglaterra, França, Holanda, 2017) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan / Elenco: Tom Hardy, Kenneth Branagh, James D'Arcy, Cillian Murphy, Fionn Whitehead, Barry Keoghan, Mark Rylance / Sinopse: O filme mostra a retirada nas praias de Dunquerque das forças inglesas e francesas sob o ponto de vista de três personagens principais: um jovem soldado inglês, um piloto de caça da RAF e um homem mais velho, veterano, que usa seu pequeno barco para resgatar o maior número possível de soldados daquele cerco armado pelas forças nazistas. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Direção (Christopher Nolan) e Melhor Trilha Sonora (Hans Zimmer).

Pablo Aluísio. 

Rebelião em Alto Mar

Excelente filme. Essa é a terceira versão com essa mesma história. As anteriores contaram com dois mitos do cinema, a primeira com Clark Gable e a segunda com Marlon Brando. A produção dessa terceira versão não deixa a desejar, pois conta com vários nomes de peso em seu elenco. Como é baseado em fatos reais não há maiores diferenças em termos de enredo entre os três filmes. A história se passa no século XVIII. O comandante William Bligh (Anthony Hopkins) da Marinha Real Britânica, recebe a missão de levar o navio HMS Bounty até o Pacífico Sul. Seu objetivo é recolher mudas de Fruta-Pão para levá-las para a Jamaica, onde serão plantadas e usadas como alimentação para a mão de obra escrava que é utilizada nas fazendas daquela colônia.

Antes de embarcar Bligh resolve contratar seu amigo pessoal, Fletcher Christian (Mel Gibson), para ser seu homem de confiança dentro do navio. A viagem começa e durante a navegação o Capitão Bligh informa para sua tripulação que tem a vontade de contornar o Cabo Horn, um lugar terrível, cheio de tempestades, onde vários navios afundaram e homens morreram. Essa é a primeira decisão do Capitão que vai contra a vontade de seus marinheiros. A coisa porém não cessa por aí. Bligh se mostra um tirano, sempre açoitando e torturando os membros do navio pelos menores deslizes de disciplina.

Homem duro, pouco propenso a fazer concessões, o Capitão acaba vendo a situação piorar quando o navio finalmente chega nas paradisíacas ilhas do Taiti. Com lindas praias, frutas e mulheres nativas bonitas (e nuas), sempre prontas para transar com os tripulantes, a disciplina e a moral piora ainda mais. Após ficar algumas semanas nessas ilhas, o Bounty finalmente parte em direção à Jamaica, porém os marinheiros resolvem se revoltar contra o Capitão e seu método de comando. O motim, punido por enforcamento pela lei inglesa, logo se torna incontrolável, tendo como mentor justamente o imediato Christian, a quem o Comandante parecia confiar tanto, por considerá-lo seu amigo leal. A traição é duplamente violenta e mortal.

O elenco conta com grandes nomes. O primeiro deles, central em todos os acontecimentos, é Sir Anthony Hopkins, perfeito como o Capitão que perde o controle da situação do barco ao seu comando. Mel Gibson que trava um verdadeiro duelo de interpretação com Hopkins em cena, obviamente leva uma surra nesse aspecto, pois ele era ainda muito jovem quando atuou no filme. Melhor se sai o ícone do cinema e teatro inglês Laurence Olivier. Quando o filme começa o Capitão do Bounty é levado a uma corte marcial e Laurence interpreta seu superior, um almirante, que preside o julgamento. Daniel Day-Lewis também está na tripulação do navio, com o primeiro imediato do capitão que acaba perdendo seu posto durante a viagem. Não há muito espaço para Lewis brilhar, mas ele cumpre perfeitamente bem seu papel no meio de tantas feras da arte de atuar. Por fim Liam Neeson dá vida a um marinheiro bom de briga, meio animalesco, que se torna um pesadelo para seus superiores enquanto atravessa o Atlântico. Em suma, um filme realmente muito bom, com ótima fotografia, roteiro bem escrito, coeso e um time de atores de primeira linha. Imperdível para cinéfilos em geral.

Rebelião em Alto Mar (The Bounty, Estados Unidos, Inglaterra, 1984) Direção: Roger Donaldson / Roteiro:  Robert Bolt, baseado no livro histórico escrito por Richard Hough / Elenco: Mel Gibson, Anthony Hopkins, Daniel Day-Lewis, Laurence Olivier, Liam Neeson, Edward Fox / Sinopse: No século XVIII o Capitão William Bligh (Anthony Hopkins) é surpreendido por um motim em sua embarcação, o navio da armada inglesa HMS Bounty. Os amotinados liderados por Fletcher Christian (Mel Gibson) tomam o controle do navio alegando não mais suportar a tirania de seu comandante. Filme indicado à Palma de Ouro do Cannes Film Festival. Também indicado ao British Society of Cinematographers na categoria de Melhor Fotografia (Arthur Ibbetson).

Pablo Aluísio.

domingo, 31 de dezembro de 2017

Elvis Presley - Burning Love and Hits from His Movies Vol. 2

1.  Burning Love (Dennis Linde) - O maior sucesso de Elvis em termos de singles nos anos 70 foi a música "Burning Love". O compacto vendeu muito e trouxe Elvis de volta às rádios. Um som contagiante, ótimos arranjos, uma sonoridade jovial, alegre! Era basicamente o que os fãs esperavam de Elvis Presley, o tão aclamado Rei do Rock! Pois bem, naqueles tempos a RCA Victor tinha essa política de não colocar músicas de singles nos álbuns oficiais de Elvis. Isso vinha desde os anos 50. "Hound Dog", "Don´t Be Cruel", entre outras, venderam milhões de singles, mas não fizeram parte do repertório de nenhum disco do cantor. Elas só chegavam depois, em coletâneas de sucessos, do tipo "Elvis Golden Records". O mesmo aconteceu com esse hit "Burning Love". Por volta de 1972 a canção não foi incluída em nenhum dos álbuns oficiais de Elvis que estavam à venda. A RCA porém não conseguia ignorar mais o sucesso dessa música. Por essa razão inventou um disco próprio para lançar a música intitulado "Burning Love and Hits from His Movies, Volume 2". É absurdo pensar que os executivos preferiram colocar o grande sucesso de Elvis na época em um disco do selo RCA Camden (de preço promocional), misturada com inúmeras outras músicas antigas de filmes que não tinham mais apelo ou potencial para o sucesso, do que encaixá-la adequadamente em um disco de inéditas, do selo principal (RCA Victor), para colocar novamente um álbum de Elvis no topo da parada Billboard Hot 100.

2.  Tender Feeling (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Como era de se esperar em uma coletânea como essa, da RCA Camden, há uma boa dose de bobagens no repertório do disco. Curiosamente porém há também boas faixas, mesmo que retiradas das trilhas sonoras dos filmes de Elvis em Hollywood. Um bom momento vem com a romântica "Tender Feeling" do filme "Kissin Cousins" de 1964. Hoje em dia já gosto mais dessa trilha sonora. O filme é muito fraco, com um roteiro explorando dois personagens interpretados por Elvis, um caipira das montanhas e um oficial da força aérea. A única diferença entre eles era uma peruca loira. A parte musical do filme é bem melhor. Com o passar dos anos e com a inúmeras audições a trilha sonora hoje em dia me soa até bem divertida, com alguns momentos que se destacam. Essa canção "Tender Feeling" eleva a qualidade do disco como um todo. Elvis estava em um excelente momento vocal, cantando com aquela tonalidade do começo dos anos 60, caprichando realmente na interpretação. A melodia também ajuda muito. Não foge muito de certos clichês, mas o arranjo (igualmente adequado) preserva o romantismo à prova de falhas. Alguns podem até se enganar pensando tratar-se de mais uma composição de Don Robertson, mas não, essa é uma criação, quem diria, do trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. Aliás praticamente toda a trilha de "Kissin Cousins" é uma criação deles.

3. Am I Ready (Roy Bennett / Sid Tepper) - "Am I Ready" é outra balada romântica de filmes. Essa porém fez parte do filme "Spinout", um derivado de "Viva Las Vegas", onde Elvis voltava a interpretar um piloto de pistas de corridas. Até considero o filme bem produzido, fruto de um certo capricho do estúdio pois essa produção foi lançada para celebrar os 10 anos de Elvis em Hollywood. Até o famoso piloto Bruce McLaren, fundador da igualmente conhecida equipe de Fórmula 1, fez uma pequena pontinha no filme. Aliás um dos carrões que Elvis pilota em cena era uma autêntica máquina McLaren, uma das primeiras de sua recém fundada indústria de carros esporte. Pois bem, deixando de lado essas curiosidades automobilísticas, o fato é que a sonoridade da trilha sonora desse filme nunca me convenceu completamente. Há algo estranho nas gravações dessas músicas. Algo que incomoda. Os arranjos também sempre me soaram como menos caprichados do que de outras trilhas do passado. Essa baladinha romântica tem seus momentos, mas como fez parte de um pacote maior, acabou sendo prejudicada justamente por causa de sua sonoridade fora de tom. Também passava longe de ser uma novidade dentro da discografia de Elvis. Havia outras faixas dos anos 60, algumas arquivadas há anos, que certamente chamariam mais a atenção dos fãs.

4.  Tonight Is So Right for Love (Joseph Lilley / Abner Silver / Sid Wayne) - "Tonight Is So Right for Love" é da trilha sonora do filme "Saudades de um Pracinha" (G.I. Blues, 1960). Elvis não gostava desse álbum. Para ele um disco sobre um soldado cantor era ir um pouco longe demais. Claro que "G.I. Blues" tinha mesmo uma alta dose de oportunismo barato, pois era Hollywood tentando faturar em cima do fato de que Elvis foi para a Alemanha prestar seu serviço militar. Isso é um ponto de vista inegável. Porém no caso específico desse disco devo discordar de Elvis. Em minha opinião "G.I. Blues" é uma das melhores trilhas sonoras dos anos 60. Tudo muito caprichado, músicas bonitas e bem gravadas, além de trazer uma nova versão ótima para seu clássico "Blue Suede Shoes". Se formos comparar "G.I. Blues" com outras trilhas sonoras, principalmente após 1965, perceberemos que Elvis estava reclamando de um material que no final das contas era muito bom. Claro que um roqueiro não poderia se sentir muito confortável em cantar marchas militares, mas isso é uma visão um pouco limitada, simplista. Dentro do que Hollywood fazia na época, com seus musicais, digo e reafirmo que esse álbum era realmente muito bom, tanto que foi elogiado em seu lançamento e ganhou indicações importantes em prêmios de música. Prova de sua inegável qualidade artística.

5.  Guadalajara (Pepe Guízar / Joseph Lilley) - Eu não gosto de "Guadalajara". Não tem jeito. São coisas distintas. Uma coisa é ouvir uma música mexicana. Outra coisa completamente diferente é ouvir uma música feita por americanos de Hollywood que tenta se parecer com a verdadeira música do México. A segunda é apenas uma imitação da primeira. Infelizmente esse é o caso dessa canção gravada por Elvis para o filme "O Seresteiro de Acapulco" (Fun in Acapulco, 1963). Para não dizer que é um desperdício completo vale mencionar o bom arranjo, que acho muito interessante, embora não salve a música de ser fake, falsa. Fica apenas o prazer de ouvir todos aqueles metais ecoando pelas caixas de som. Obviamente não deixa de ser divertido ouvir Elvis se contorcendo todo para cantar alguns trechos em espanhol sem parecer algo completamente esquisito. É curioso que um dos grandes cantores da história da música norte-americano, o maravilhoso Nat King Cole, sempre se saía muito bem cantando em espanhol. Aliás algumas das suas mais lindas gravações são no idioma ibérico. Lindas, lindas performances. Eu não me importaria em nada em ouvir um álbum totalmente em espanhol cantado por Elvis Presley. Só que para funcionar, obviamente, as músicas teriam que ser originais, mexicanas ou espanholas de verdade, não algo composto por um maestro em Hollywood, feito meio às pressas, para cumprir contratos com estúdios de cinema. Joseph Lilley, o produtor dessas sessões, compôs "Guadalajara". É como se um compositor nascido no Alabama fizesse um samba carioca para um filme de Hollywood! Tem coisas que simplesmente não poderiam dar certo desse jeito.

6.  It's a Matter of Time (Clive Westlake) - Bela canção romântica. Lado B do single "Burning Love". O compacto aliás amarrava todo o álbum. Esse tipo de estratégia hoje em dia nem faz muito sentido, mas nos anos 70 a gravadora ainda pensava dessa maneira equivocada. Esse disco, nem preciso dizer, é uma bagunça tremenda. A RCA pegou as duas canções do single "Burning Love" (que ainda trazia "It's a Matter of Time") para abrir os respectivos Lados A e B do vinil. Depois encheu linguiça colocando várias canções de trilhas sonoras dos anos 60, sem qualquer critério visível. Tudo jogado ao vento, sem nenhuma organização. Agora veja como a obra de Elvis conseguia sobreviver até mesmo aos erros de sua gravadora. Mesmo sendo mal lançado, desorganizado, de um selo menor e sem prestigio da RCA, o álbum fez sucesso comercial, vendendo 700 mil cópias! As pessoas gostaram tanto de "Burning Love" que imediatamente compraram o disco. Lançado em novembro de 1972 o álbum rapidamente se destacou nas paradas. Claro que o fã mais experiente sabia que estava sendo de certa forma enganado. Para ter "Burning Love" e "It's a Matter of Time" no formato LP ele teria que comprar outras oito músicas sem nenhum atrativo para quem era colecionador. Velhas canções de trilhas sonoras. Era a velha tática do Coronel Parker em lançar a mesma coisa duas, três, quatro vezes, se fosse possível. Um desrespeito para o consumidor. O ideal teria sido aproveitar diversas outras faixas que foram gravadas para a trilha sonora do disco "Elvis on Tour" (que jamais seria lançado) para preencher esse álbum. Aí sim teríamos um grande lançamento em mãos. Isso porém só aconteceria em um mundo perfeito, onde a RCA respeitasse mesmo os admiradores da obra de Elvis Presley. Algo que definitivamente não aconteceu.

7.  No More (Hal Blair / Don Robertson) - Durante muitos anos a trilha sonora de "Blue Hawaii" foi o álbum mais vendido de toda a carreira de Elvis Presley. Um disco que comercialmente trouxe muito sucesso para Elvis. A crítica porém nunca gostou muito dele artisticamente. Disseram que era Hollywoodiano demais, sem consistência, com arranjos enjoativos (a tal sonoridade havaiana). Nem tudo o que se disse foi equivocado. Há de fato músicas que não se sustentam fora da trilha do filme, porém há também bela canções ali. Um exemplo é "No More", bela balada romântica escrita por Don Robertson (ótimo compositor romântico) e Hal Blair. Gravada e lançada em 1961, justamente dentro da trilha sonora de "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano, no Brasil), essa canção tem uma linda melodia que até hoje surpreende. Além disso Elvis estava em um momento vocal realmente maravilhoso. Um grande momento de sua carreira, sem dúvida alguma. Penso até que Elvis deveria ter aproveitada essa canção romântica nos palcos durante os anos 70.

8.  Santa Lucia (Tradicional) - Outra boa faixa que foi usada nessa coletânea, outra que também veio de Hollywood, foi a italianíssima "Santa Lucia". Fã de Dean Martin, Elvis sempre flertou com a música italiana, algo que se acentuou depois quando ele retornou do exército em 1960. De tempos em tempos surgia no mercado novas gravações de Elvis nesse estilo, todas herdeiras de uma forma ou outra de seu grande sucesso "It´s Now Or Never" (seu compacto mais vendido em todos os tempos). Pois bem, essa faixa foi gravada para fazer parte do filme "Viva Las Vegas" (Amor à toda Velocidade, 1963). No filme ela não chegou a ser bem utilizada, mas dentro dos estúdios Elvis se empenhou e acabou tendo uma excelente performance, cantando a música com um capricho todo especial. Gosto muito do resultado final.

9. We'll Be Together (Phillip Brooks / O'Curran) - "We'll Be Together" foi tirada da trilha sonora do filme "Girls, Girls, Girls". Para os mais cínicos esse filme foi mais um dos vários genéricos de "Blue Hawaii" que Elvis filmou durante os anos 60. O Coronel Parker considerava esse o "produto perfeito" para Elvis, com trilha sonora cheia de músicas havaianas, clima bonito, bela fotografia e obviamente muitos dólares em caixa por causa do sucesso de bilheteria. Assim para "Girls, Girls, Girls" Elvis voltou ao Havaí. Ele interpretava um jovem pescador que tentava comprar um barco para ganhar a vida, enquanto cantava aqui e acolá nos night clubs locais. A música em si é apenas razoável, como praticamente todas as músicas desse filme. Nada muito memorável. Alguns ainda elogiam seu ritmo, sua sonoridade caribenha, mas sinceramente não me apetece. 

10. I Love Only One Girl (Roy Bennett / Sid Tepper) - "I Love Only One Girl" era outra de trilha sonora dos anos 60. O filme "Double Trouble" era uma tentativa de levar Elvis para o mundo dos filmes de espionagem, ao estilo James Bond, o agente 007 que tinha permissão para matar. Já deu para perceber que era outro desperdício de tempo e dinheiro. O roteiro trazia um enredo que se passava na Europa, mas o Coronel Parker e a MGM acharam que isso sairia muito caro. Assim uma unidade foi enviada para a Bélgica e outros países do velho continente. Cenas exteriores foram gravadas e trazidas para Hollywood. Dentro do estúdio, já em Hollywood, Elvis iria apenas contracenar com essas imagens sendo exibidas atrás dele. Era a técnica chamada Back Projection Screen (algo como projeção atrás do elenco), que servia para economizar orçamento, mas que não parecia muito convincente nas telas de cinema. O filme acabou sendo feito assim. Era bem fraco, assim como toda a sua trilha sonora. Embora Elvis tente dar um gás, a verdade pura e simples era que o material era todo sem inspiração, feito às pressas. Assim não haveria mesmo salvação. Só serve mesmo para dar saudades das melhores trilhas de Elvis, que apresentavam boa qualidade artística, algo que ia ficando cada vez mais raro de acontecer, principalmente após 1965.

Elvis Presley - Burning Love and Hits from His Movies Volume 2 (1972) - Elvis Presley (vocais, violão) / James Burton (guitarra) / Scotty Moore (guitarra) / The Jordanaires (vocais) / Dj Fontana (bateria) / Ronnie Tutt (bateria) / Charlie Hodge (violão e vocais) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Glen Hardin (piano) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Kathy Westmoreland (vocais) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Selo: RCA Camden, depois relançado pelo selo RCA Victor / Data de Lançamento: Outubro de 1972.

Pablo Aluísio.