sábado, 24 de fevereiro de 2007

O Barco do Amor

"Clambake" é muito divertido. Seguindo a fórmula dos filmes de Elvis Presley dos anos 60, o filme consegue prender atenção não só pelas músicas mas também por um enredo muito bem bolado e simpático. A troca de identidades entre o garoto rico (Presley) e o instrutor pobretão de esqui de um hotel de luxo na Flórida (Hutchins), rende boas piadas e situações engraçadas, principalmente por causa do elenco de apoio, todo bom. Shelley Fabares, o par romântico de Elvis, era uma gracinha, uma simpatia só, que deu tão certo com ele que estrelou mais dois filmes ao seu lado. Já o rival de Elvis pela mão da mocinha foi interpretado pelo bom Bill Bixby, que iria se consagrar nos anos 70 interpretando Bruce Banner no famoso seriado de TV Hulk.

Como sempre Elvis vai apresentando as músicas da trilha ao longo do filme. Aqui duas se destacam: "You Don´t Know Me" (que de tão boa foi regravada por Elvis depois, porque ele não tinha gostado muito de sua versão para esse filme) e "House That Has Everything" (que mostrava muito bem porque Elvis Presley era o maior cantor de sua época). No mais, muitas paisagens bonitas (esse foi o segundo filme de Elvis rodado na Flórida) e um boa corrida de lanchas potentes como pano de fundo.

Outro fato digno de nota é que esse filme foi um dos mais reprisados na Sessão da Tarde nas décadas de 1970 e 1980, por isso acabou se tornando também um dos mais queridos dos fãs brasileiros. Seguramente só não foi mais exibido pela Rede Globo nessa época do que "Feitiço Havaiano" e "Saudades de um Pracinha", os campeões nesse quesito. O curioso é que Elvis sofreu um pequeno acidente nas filmagens, ao tropeçar no fio de um eletrodoméstico. Isso fez com que as filmagens fossem suspensas por algumas semanas. Porém essa interrupção não atrapalhou o resultado final do filme. "Clambake" pode até não ser dos mais lembrados filmes feitos pelo cantor, mas como disse, é um dos mais divertidos e nostálgicos, principalmente para os fãs brasileiros.

O Barco do Amor (Clambake, Estados Unidos, 1967) Direção: Arthur H Nadel / Roteiro: Arthur Brownie Jr / Elenco: Elvis Presley, Bill Bixby, Will Hutchins e Shelley Fabares / Sinopse: Scott Haywerd (Elvis Presley) é filho de um dos homens mais ricos dos EUA, dono de refinarias de petróleo. As garotas só se aproximam dele por causa de sua rica herança; Cansado dessa situação resolve trocar de identidade com Tom Wilson (Will Hutchins), um pobre instrutor de esqui aquático de resorts de luxo. Após a troca de identidades Scott conhece Diane Carter (Shellery Fabares) uma garota que rouba seu coração.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - O barco do amor

Elvis Presley - O barco do amor. 
Antes do começo das filmagens desse filme, Elvis sofreu uma queda no banheiro de seu apartamento em Hollywood! Ele bateu fortemente com a cabeça no piso e precisou ser levado a um hospital. As filmagens foram suspensas por um período para que ele se recuperasse. O estúdio de cinema teve prejuízo e seu empresário, o coronel Parker ficou furioso. Para o empresário, o que estava atrapalhando Elvis era suas leituras de temas exóticos, livros esotéricos que ele pediu para que Elvis queimasse logo após esse incidente.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Volta Meu Amor

Nenhum casal fez tanto sucesso nos cinemas durante a década de 1960 do que Rock Hudson e Doris Day. Juntos, eles fizeram três comédias românticas que tiveram excelentes bilheterias para a época. A fórmula era infalível. Com o sucesso de "Confidências à Meia Noite" a volta do casal era algo considerado certo pelos produtores. A própria Doris Day tinha adorado ter trabalhado ao lado de Rock e ao final das filmagens havia lhe dito que eles deveriam fazer outros filmes juntos. Afinal se o público havia gostado tanto por que não retornar para um novo filme?

"Volta Meu Amor" foi o segundo filme de Rock Hudson e Doris Day. O roteiro seguia basicamente a mesma estrutura do primeiro filme. Um playboy chamado Jerry Webster (Rock Hudson) se fazia passar por outro homem para conquistar o coração da bela Carol Templeton (Doris Day). A ideia seguia as linhas básicas do primeiro filme, mostrando um jogo de sedução que acabava virando contra o sedutor mal intencionado. O roteiro era muito parecido também, a mesma ideia central que havia sido utilizada em "Confidências à Meia Noite". Nem por isso o filme deixou de ser um bom passatempo, dos mais agradáveis, até mesmo nos dias de hoje.

Apesar dos diálogos "ousados" para os anos 60 a produção era divertida, leve e recomendada para todos os públicos, mas principalmente casais. A sociedade americana passava por profundas mudanças sociais e de costumes na época em que esses filmes eram lançados nos cinemas. As mulheres finalmente tinham conquistado seu espaço no mercado de trabalho. Eram agora independentes, profissionais e não usavam mais o casamento como único meio de vida. Ter ou não um companheiro tinha se tornado apenas uma opção e não uma obrigação. O roteiro, com todo o seu bom humor, mostrava esses aspectos, principalmente em relação à personagem de Doris Day.

Rock Hudson geralmente interpretava homens incorrigíveis, playboys e conquistadores inveterados. Já Doris Day trazia para as telas a nova mulher, dona de seu destino, com pleno controle de sua própria vida. O choque entre esses dois estilos de vida é que criava o fino humor para esse tipo de produção. Quando foi lançado "Volta Meu Amor" se tornou um sucesso de bilheteria ainda maior do que "Confidências à Meia Noite", o que deixou todos surpresos. Ninguém esperava que o filme original fosse superado. Por causa do sucesso a dupla voltaria ainda a atuar junto pela terceira e última vez em "Não Me Mandem Flores". De qualquer forma fica a dica para os fãs de Rock Hudson e Doris Day. "Volta Meu Amor" é uma delícia de filme. Não envelheceu e mesmo revisto nos dias de hoje, ainda é uma ótima diversão.

Volta Meu Amor (Lover Come Back, Estados Unidos, 1961) Direção: Delbert Mann / Roteiro: Stanley Shapiro, Paul Henning / Elenco: Rock Hudson, Doris Day, Tony Randall / Sinopse: Jerry Webster (Rock Hudson) é um publicitário que tem que promover um produto novo chamado VIP que se tornará um grande sucesso de vendas para e empresa em que trabalha. O problema é o tal produto simplesmente não existe! Para completar suas dores de cabeça ele ainda tem que lidar com uma outra publicitária rival, Carol Templeton (Doris Day), que luta para que sua licença de publicitário seja cassada. Para vencer Carol, Jerry acaba fazendo se passar por outra pessoa, pelo suposto inventor de VIP. E os dois acabam se apaixonando nessa confusão toda! Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original (Stanley Shapiro e Paul Henning). Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Tony Randall).

Pablo Aluísio.

Rock Hudson

Durante muitos anos, o ator escondeu de Hollywood sua verdadeira orientação sexual. Ele era gay, mas teve que viver no armário. Naquela época, um escândalo desses iria acabar com sua carreira no cinema americano. Fez muito sucesso de bilheteria nas décadas de 1950 e 1960. Seu nome sempre constava entre os 10 maiores nomes de Hollywood. Entre os 10 atores que mais traziam bilheteria para o cinema. Morreu em 1985, após admitir, finalmente, que era gay. Foi o primeiro grande caso conhecido de morte de famoso pela AIDS.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Rio Violento

Um filme clássico que une o talento de direção de Elia Kazan com a excelente performance de um grande ator como Montgomery Clift só poderia despertar muito o interesse dos cinéfilos. E foi justamente isso o que aconteceu com esse "Rio Violento". O filme procurava responder a uma questão extremamente pertinente: Até que ponto o progresso da sociedade justificava a mudança compulsória do modo de vida das pessoas? Qual era igualmente o limite de intervenção do Estado na existência das pessoas comuns? Até que ponto essa interferência era legítima ou legalmente justificável?

No filme Montgomery Clift (excepcionalmente bem) interpreta o personagem Chuck Glover, um agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar uma senhora idosa que mora em uma ilha no rio Tennessee. Ela se recusa a abandonar o local pois foi ali que nasceu e criou seus filhos, enterrou seu marido e viveu ao lado de negros libertos e demais moradores do local. Lutando por seus valores tradicionais e por aquilo que lhe é mais importante a senhora resolve enfrentar até mesmo o poder do governo americano. E isso obviamente criou uma disputa jurídica que iria repercutir em todo o sistema judiciário norte-americano.

O filme apresente um excelente elenco. Aliás essa sermpre foi uma característica marcante nos filmes de Elia Kazan. A atriz Jo Van Fleet está simplesmente maravilhosa. Interpretando a matriarca Ella Garth, ela tem duas grandes cenas que a fazem ser o grande destaque de todo o filme. Em uma delas explica ao personagem de Montgomery Clift a dignidade de quem viveu e trabalhou no rio Tennessee há gerações. Devo dizer que poucas vezes vi Clift ser superado em cena, mas aqui ele realmente foi colocado de lado, até mesmo pela força do texto que a atriz tem a declamar. Socialmente consciente, tocando em temas tabus para a época (como o racismo do sul dos Estados Unidos), "Rio Violento" é um dos melhores trabalhos de Kazan. Ele foi um diretor que via o cinema como algo a mais e não apenas um mero entretenimento. Por isso seus filmes sempre tinham alguma mensagem a passar ao público.

Rio Violento (Wild River, Estados Unidos, 1957) Direção: Elia Kazan / Elenco: Montgomery Clift, Lee Remick, Jo Van Fleet / Sinopse: Chuck Glover (Clift) é um jovem agente do governo dos Estados Unidos que tem a missão de retirar um grupo de moradores de uma ilha no meio do rio Tennessee. As pessoas não querem ir embora de lá, deixando suas casas e sua história para trás. Porém é do interesse do Estado que elas deixem aquelas terras. Filme indicado no Berlin International Film Festival.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV

Dois monarcas europeus se tornaram símbolos máximos do absolutismo. O primeiro foi Henrique VIII da Inglaterra. O segundo foi Luís XIV da França. Esses reis governaram sem limites. Não havia divisão de poderes. A ordem desse tipo de monarca era a lei. E isso incluia seus caprichos, injustiças e violações de direitos humanos de toda ordem. E como não havia limites para seus poderes, toda a riqueza de suas nações lhes pertencia pessoalmente. Por isso também viviam em palácios luxuosos, com paredes folheadas a ouro, quadros pintados pelos maiores artistas. Luxo e riqueza absolutas, enquanto grande parte da população passava fome, pagando pesados impostos.

O filme "O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV" conta parte dessa história. Um belo filme assinado pelo talentoso cineasta Roberto Rossellini. No enredo Luís XIV, Rei absolutista da França, precisa lidar com as crises de seu governo, as intrigas palacianas e as paixões dentro da corte, enquanto organiza muito luxo e riqueza para ostentar de forma suntuosa nos corredores de seus palácios reluzentes. Não é para menos que o monarca passaria para a história conhecido como "O Rei Sol". É o cinema reconstruindo uma era de excessos, de exploração e também de muita injustiça. Uma palavra mal colocada na frente desse tipo de monarca poderia resultar em uma execução sumária.

O interessante é que o roteiro enfoca basicamente os primeiros anos do reinado do "Rei Sol", Luís XIV (1643-1715), o maior monarca absolutista da França. É sem dúvida um belo filme que se concentra nos detalhes de cotidiano da corte do afetado monarca francês. Apreciei a reconstituição histórica e a rica produção desse filme. Mostra acima de tudo que debaixo das perucas e dos babados, o Rei era um homem também extremamente inteligente e ciente do que ocorria em seu país e não apenas o alienado fútil e alheio ao mundo ao redor que geralmente emerge das páginas de alguns livros de história.

Outro aspecto que deve ser considerado é que no cinema europeu, de uma forma geral, temos um outro ritmo, um tipo diferente de dramaturgia. Nada de licenças poéticas e invencionices, tão comuns em filmes americanos. Roberto Rossellini procura ser o mais realista possível, sem arroubos insanos ou espaço para coisas desnecessárias. No final de tudo o que temos é de fato um filme realmente excepcional, muito recomendado e bem fiel aos fatos históricos reais. É uma lição histórica importante, mostrando inclusive o contexto em que iria surgir as primeiras obras iluministas, que iriam denunciar justamente as injustiças desse tipo de poder absoluto.

O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV (La Prise de Pouvoir Par Louis XIV, França, 1966) Estúdio: ORTF / Direção: Roberto Rossellini / Roteiro: Philippe Erlanger, Jean Gruault / Elenco: Jean-Marie Patte, Raymond Jourdan, Silvagni / Sinopse: O filme "O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV" é uma superprodução histórica do mestre Roberto Rossellini e conta a história do rei francês que se tornou símbolo de uma era em que a mera vontade dos monarcas não tinha limites, era a lei absoluta. Filme indicado no Cahiers du Cinéma como melhor filme do ano.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

O Escorpião Negro

Título no Brasil: O Escorpião Negro
Título Original: The Black Scorpion
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Amex Productions, Frank Melford-Jack Dietz Productions
Direção: Edward Ludwig
Roteiro:  David Duncan, Robert Blees
Elenco: Richard Denning, Mara Corday, Carlos Rivas, Mario Navarro

Sinopse:
Escorpiões gigantes estão destruindo a Cidade do México, surgindo de cavernas através de erupções vulcânicas. Resta a Hank, um geologista americano, a missão de pará-los.

Comentários:
Na década de 1950 houve uma grande quantidade de produções que apresentavam insetos gigantes, monstros que destruíam cidades e coisas do gênero. Via de regra esses filmes procuravam copiar sucessos de bilheteria como  "O Mundo em Perigo" (1954). Esse exemplar aqui é um dos menos conhecidos, mas não quer dizer que seja ruim. Pelo contrário os efeitos especiais são de boa qualidade. O especialista envolvido aqui foi o mesmo Willis O`brien, do clássico "King Kong". Nada mal. O orçamento obviamente foi bem menor, mas ele conseguiu, mesmo com poucos recursos, fazer um bom trabalho, não resta dúvidas. Há uma cena em especial, passada em uma caverna, com um monstro que mais lembra um verme, que até hoje é cultuada pelos fãs desse tipo de filme. Curiosamente reaproveitaram algumas criaturas que não tinham sido utilizadas no filme do gorilão, o que desperta ainda mais o interesse dos admiradores desse tipo de Sci-Fi produzido nos anos 50.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

A Raposa do Mar

Após enfrentar uma batalha sangrenta o Capitão Murrell (Robert Mitchum) é enviado para um novo posto. Ela passa a ser o comandante de um destróier americano no Atlântico Sul durante o auge da II Guerra Mundial. Inicialmente a tripulação recebe seu novo comandante com certa desconfiança. Ele pouco interage com os marinheiros sob seu comando, preferindo passar seus dias trancado em sua cabine privada. Na verdade ele ainda tenta se recuperar dos vários ferimentos sofridos em seu último confronto. As coisas mudam quando subitamente o radar do navio localiza um ponto em alto mar que ao que tudo indica talvez seja um submarino alemão. Chamado à sala de controle o comandante então tem sua confirmação – é realmente o que se pensava ser. Em poucos minutos ele coloca o navio de combate no encalço do submarino do Terceiro Reich, o que dará origem a uma verdadeira caçada em alto-mar com consequências terríveis para todos os envolvidos.

Muitos filmes foram realizados sobre os combates travados durante a II Guerra Mundial mas poucos foram tão bem realizados como esse. “A Raposa do Mar” tem ótimos diálogos, um roteiro muito inteligente e um aspecto mais do que bem-vindo: ao contrário de outros filmes de guerra que retratavam os alemães como monstros, esse aqui se propõe a mostrar todos os conflitos e ansiedades vivenciadas pelos marinheiros do Reich dentro do submarino durante a batalha. Isso humaniza bastante esses militares, somando ainda mais ao filme, o transformando em uma pequena obra prima do gênero. 

O roteiro foi adaptado de um livro escrito por um almirante da marinha americana, D.A. Rayner, o que explica seu argumento tecnicamente muito fiel à realidade dos fatos. O capitão do submarino, Von Stolberg (interpretado com grande inspiração pelo ator alemão Curd Jürgens), é um homem que já lutou em várias guerras e sabe que os alemães dessa vez lutam em vão. A estrutura dramática do filme se apóia justamente em cima desse duelo entre o comandante americano Murrell e o capitão Von Stolberg, que lutam bravamente entre si para vencer essa marcante batalha naval. “A Raposa do Mar” é sem dúvida um grande filme de guerra, um dos melhores já feitos sobre a luta nos oceanos.

    
A Raposa do Mar (The Enemy Below, Estados Unidos, 1957) Direção: Dick Powell / Roteiro: Wendell Mayes, baseado no livro escrito pelo almirante D.A. Rayner / Elenco: Robert Mitchum, Curd Jürgens, David Hedison / Sinopse: Um comandante americano e um capitão de submarino alemão duelam no Atlântico sul durante a II Guerra Mundial. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais. Também indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Curd Jürgens).

Pablo Aluísio. 

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Os Inocentes

Eis um belo clássico do suspense e do terror. O filme tem uma história bem interessante. Miss Giddens (Deborah Kerr) é contratada por um rico homem de negócios para cuidar de seus sobrinhos órfãos. Eles vivem em uma isolada e distante mansão no interior inglês. Em estilo vitoriano a estranha casa parece ter personalidade própria, envolvida em uma penumbra perene de mistério e sordidez. No começo o novo emprego se mostra promissor, mas logo Giddens começa a perceber o estranho comportamento das crianças, o que a deixa completamente desconcertada. Será que há alguma ligação entre aquelas pessoas e a forças do sobrenatural tão presentes na casa?

Gostei de praticamente tudo em "Os Inocentes". O roteiro é muito bem escrito, se aproveitando muito bem do clima soturno, do argumento inteligente e das excelentes atuações. Embora muitos críticos não gostem do filme "Os Que Chegam Com a Noite" eu penso que ter assistido ele antes me ajudou muito na compreensão do texto desse "Os Inocentes". Isso porque a estória do filme de Marlon Brando nos mostra tudo o que aconteceu naquela casa antes dos acontecimentos que vemos aqui em "Os Inocentes". Assim já sabemos de antemão como era o relacionamento entre as crianças e Peter Quint (que era interpretado por Brando). Aliás vou além, recomendo que os filmes sejam assistidos em sequência, pois certamente um complementa o outro, deixando tudo mais fluído e bem compreendido para o espectador. São obras cinematográficas que se completam.

 "Os Inocentes" é um terror psicológico que se fundamenta muito no chamado poder de sugestão. Ao invés de mostrar monstros de borracha sem cabeça (como era comum em alguns filmes da época), o filme apenas sugere certas situações, certos momentos, tudo com elegância e sofisticação. Talvez por isso não tenha envelhecido, mesmo tendo sido produzido no começo dos anos 1960. O roteiro também é aberto a várias interpretações. Por exemplo, há uma certa controvérsia até hoje entre os cinéfilos sobre o que teria realmente acontecido com o garoto Miles (interpretado muito bem pelo ator mirim Martin Stephens). Possessão demoníaca? Ou apenas pura maldade e perversidade pessoal do garoto? Cada espectador acaba criando sua própria conclusão, o que demonstra bem como o roteiro é muito bem escrito e imaginativo.

Também não é para menos uma vez que estamos falando de um filme que foi adaptado da obra de um dos maiores escritores da história, Henry James. Por essa razão espere por um excelente suspense de terror mas não por um filme banal, de soluções fáceis e sustos gratuitos. O inteligente argumento no fundo explora o lado mais sombrio da alma humana, dissecando a própria natureza do ser humano, que já nasce corrompida e tendente à maldade pura, como muito bem demonstrado nos garotos de “Os Inocentes”. São crianças, mas nem um pouco inocentes como o próprio título do filme sugere em fina ironia. Enfim, "Os Inocentes" é uma bela obra cinematográfica que mostra que muitas vezes o implícito é bem mais assustador do que o explicito em filmes de suspense e terror. Além disso disseca como poucos a verdadeira natureza humana. Você vai se surpreender com o resultado final.

Os Inocentes (The Innocents, Inglaterra, 1961) Direção: Jack Clayton / Roteiro: John Mortimer baseado no livro de Henry James / Elenco: Deborah Kerr, Peter Wyngarde, Megs Jenkins / Sinopse: Miss Giddens (Deborah Kerr) é contratada por um rico homem de negócios para cuidar de seus sobrinhos órfãos. Eles vivem em uma isolada e distante mansão no interior inglês. Não demora a perceber que algo muito sinistro está ocorrendo no local. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de melhor filme britânico.

Pablo Aluísio.

O Feiticeiro

Título no Brasil: O Feiticeiro
Título Original: Necromancy
Ano de Produção: 1972
País: Estados Unidos
Estúdio: Zenith International
Direção: Bert I. Gordon
Roteiro: Bert I. Gordon, Gail March
Elenco: Orson Welles, Pamela Franklin, Lee Purcell, Michael Ontkean, Harvey Jason, Lisa James

Sinopse:
Homem envolvido com uma estranha seita de cultos satânicos resolve convencer a própria mulher a mudar para uma comunidade no interior, dominada por mãos de ferro pelo líder da estranha religião. Lá ela acabará descobrindo que Mr. Cato (Orson Welles) não se considera apenas dono da cidade, mas das pessoas que por lá moram também.

Comentários:
Nos anos 70, com os convites rareando, o grande gênio e monstro do cinema Orson Welles precisou encarar o que havia disponível no mercado. Assim ele acabou estrelando essa fitinha B, sem nenhum atrativo, sobre um bruxo ou mago da magia negra em uma cidadezinha perdida no meio oeste americano. Obviamente que para os amantes da sétima arte haverá um toque de melancolia em ver o mestre Welles envolvido em tamanho abacaxi, por outro lado para os apreciadores de filmes trash certamente será muito divertido ver o criador do grande clássico "Cidadão Kane" dando uma de bruxão malvado, deitando e rolando em suas vilanices. No geral a fita é bem medíocre e estaria completamente descartada nos dias de hoje se não fosse a presença de Orson Welles, aqui lutando para pagar seu aluguel. Pois é, a vida nunca foi fácil para ninguém.

Pablo Aluísio.