terça-feira, 28 de março de 2006

Zorro e a Cidade de Ouro Perdida

Mais um longa-metragem com o personagem Lone Ranger (Cavaleiro Solitário) para o cinema. Aqui no Brasil o nome de Zorro foi definitivamente assumido com o título nacional da produção embora isso seja obviamente um erro pois o Lone Ranger nada tem a ver com o Zorro verdadeiro. Talvez o fato de ambos os personagens usarem máscara tenha incentivado a distribuidora nacional a adotar o nome comercial de Zorro. Deixando isso de lado aqui temos mais um típico western de matinê com muitas aventuras, tiroteios e heroísmo por parte do Lone Ranger e seu fiel companheiro Tonto (que sofre bastante nas mãos dos bandidos). Novamente os atores Clayton Moore e Jay Silverheels assumem os persongens principais, Lone Ranger e Tonto, respectivamente. O enredo gira em torno da busca de um medalhão dividido em cinco partes que uma vez reunidos revela o mapa da localização de uma lendária cidade formada de ouro, mito conhecido pelos espanhóis que chegaram na América colonial como El Dorado.

Um velho cacique resolve então distribuir as partes do medalhão a pessoas de sua estima. Aos poucos porém esses são mortos misteriosamente, o que leva Lone Ranger a desconfiar que tudo não passa de uma tentativa de se apoderar das partes do medalhão para assim colocar as mãos no tesouro da cidade dourada. A pista leva a uma fazendeira e seu capanga violento. Com toques das antigas aventuras dos anos 40, essa nova fita do Cavaleiro Solitário investe em elementos bem fantasiosos que obviamente fizeram a festa da garotada que frequentava as matinês na década de 1950. Um ponto digno de nota também é a sutil mensagem contra o preconceito racial que surge no personagem do Dr. James Rolfe (Dean Fredericks). Ele é um médico bondoso da cidade que atende indígenas sem pedir nada em troca. O que poucos sabem é que ele tem sangue pele vermelha, fato que revelará em um ponto crucial da estória, ensinando aos mais jovens a importância de se ter orgulho de sua raça, seja indígena, negra ou qualquer outra. Uma bela lição que valoriza ainda mais o filme como um todo. Assista e se divirta com o sabor nostálgico das antigas matinês com o Lone Ranger. 

Zorro e a Cidade de Ouro Perdida (The Lone Ranger and the Lost City of Gold, Estados Unidos, 1958) Direção:  Lesley Selander / Roteiro: Eric Freiwald, Robert Schaefer / Elenco: Clayton Moore, Jay Silverheels, Douglas Kennedy / Sinopse: Lone Ranger (Cavaleiro Solitário) e seu leal parceiro Tonto tentam desvendar a morte de vários indígenas. Depois de investigar eles descobrem que cada um deles era dono de partes de um medalhão que uma vez reunidos indicam a localização de uma lendária cidade toda feita de ouro puro. Agora eles tentarão descobrir os autores dos crimes.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 27 de março de 2006

Assim São os Fortes

Um dos aspectos mais curiosos da carreira do ator Clark Gable foi sua pouca aparição em filmes de Western. No auge do gênero, sendo um dos mais populares filões da época, era de se esperar que o galã Gable se utilizasse desse tipo de produção para manter sua popularidade em alta, mas isso não aconteceu. Para falar a verdade Gable sempre foi considerado uma ausente ilustre nos faroestes da época, sempre preferindo participar muito mais de filmes de aventura, romances e dramas urbanos. Talvez ele se sentisse deslocada no velho oeste, quem sabe, a verdade nunca saberemos ao certo. Uma exceção a essa regra é justamente esse bom western chamado "Assim São os Fortes" que fez um belo sucesso na época - o que infelizmente não pareceu ter empolgado o ator a estrelar mais filmes como esse. O filme foi considerado até mesmo ousado para a época, pois mostrava um romance entre um branco (Flint Mitchell, personagem de Gable no filme) e uma indígena! O roteiro é uma adaptação do livro vencedor do Pulitzer, "Across the Wide Missouri" de autoria do aclamado escritor Bernard DeVoto.  Esse é um clássico do mundo da literatura dos Estados Unidos. Uma obra prima.

A história se passa na década de 1830. Flint Mitchell (Gable) é um caçador e desbravador que sai em busca de caças e metais preciosos nas montanhas distantes e desabitadas de Montana e Idaho. As terras são ricas em recursos naturais e logo chamariam a atenção de outros homens brancos gananciosos. Mitchell, por sua vez, deseja apenas levar uma vida bucólica, tirando o necessário da natureza para sua sobrevivência. Em sua expedição acaba conhecendo a tribo dos índios Blackffoot e se apaixona por uma das mulheres da comunidade. Clark Gable se esforça bastante para dar uma certa veracidade ao seu papel. Ao invés de surgir como um galã de cabelo penteado, cheio de brilhantina, ele tenta capturar o estilo de vida desses pioneiros das montanhas. O figurino é o mais adequado, além do modo mais rude de ser. 

 O resultado é muito bom e o filme foi de certa forma subestimado pois não chamou qualquer atenção da Academia (revelando um certo preconceito contra o gênero western em suas premiações). O que mais se destaca na produção é sua linda fotografia. “Assim São os Fortes” foi todo filmado em locações do Colorado, em maravilhosas reservas florestais e se torna logo um colírio para os amantes da natureza. Seu roteiro foca mais nas diferenças de costumes entre brancos e índios e não há tantas cenas de ação ou tiroteios como se vê em outras produções de western da época. Mesmo assim tem um final eletrizante que empolga o espectador. Fica assim a dica desse "Assim São os Fortes" um dos poucos filmes de faroeste estrelados pelo grande ídolo Clark Gable.

Assim São os Fortes (Acroos The Wide Missouri, Estados Unidos, 1951) Direção: William A. Wellman / Roteiro: Talbot Jennings baseado no livro de Bernard DeVoto / Elenco: Clark Gable, Ricardo Montalban, John Hodiak / Sinopse: A estória se passa na década de 1830. Flint Mitchell (Gable) é um caçador e desbravador que sai em busca de caças e metais preciosos nas montanhas distantes e desabitadas de Montana e Idaho. As terras ricas logo chamariam a atenção de outros homens brancos, mas Mitchell deseja apenas levar uma vida bucólica, tirando o necessário da natureza para sua sobrevivência. Em sua expedição acaba conhecendo a tribo dos índios da tribo Blackffoot e se apaixona por uma das mulheres da comunidade.

Pablo Aluísio.

Unidos Pelo Próprio Sangue

Revelado através das lentes do grande diretor John Sturges, o longa "Unidos Pelo Próprio Sangue" (Backlash,1956) conta o drama de Jim Slater (Richard Widmark), um pistoleiro errante que chega ao Vale do Gila - um local no meio do deserto repleto de ouro e vigiado de forma implacável pelos apaches - com o intuito de descobrir onde estaria enterrado seu pai que tempos atrás chegou ao local, com mais cinco parceiros, para resgatar 60 mil dólares em ouro. O grupo no entanto foi surpreendido e massacrado por vários apaches. Em sua busca, Slater acredita que um sexto homem sobreviveu ao massacre e fugiu com todo o ouro. A busca desse sexto homem vira uma obsessão para Slater que na companhia de uma misteriosa mulher de nome Karyl Orton (Donna Reed) passa por cidades como: Tucson, El Paso, Silver City, até finalmente chegar em Sierra Blanca onde o casal se vê no meio de uma guerra entre dois poderosos fazendeiros: Major Carson (Roy Roberts) e Jim Bonniwell (John McIntire).

Em Sierra Blanca, todos os segredos que atormentavam o pistoleiro se revelam e Slater encontra todas as respostas para as suas eternas dúvidas. Além disso, fica frente a frente com o seu maior inimigo, em um dos finais mais surpreendentes da história dos filmes de faroeste. Além de uma bela fotografia, vale destacar o excelente roteiro diferenciado e muito interessante, assinado por Borden Chase o mesmo roteirista que oito anos antes, assinara o roteiro de outra pérola do western: Rio Vermelho (1948), com os lendários John Wayne e Montgomery Clift.

Unidos Pelo Próprio Sangue / Punidos Pelo Próprio Sangue (Backlash, EUA, 1956) Direção: John Sturges / Roteiro: Borden Chase baseado no romance de  Frank Gruber / Elenco: Richard Widmark, Donna Reed, William Campbell / Sinopse: Pistoleiro errante chega em um distante vale em busca de respostas com o objetivo de descobrir o paradeiro do ouro que seu pai teria enterrado na região.

Telmo Vilela Jr.

domingo, 26 de março de 2006

Herança Sagrada

Após a morte do cacique Cochise (Jeff Chandler), a nação Apache se divide em dois blocos de guerreiros. Os que desejam continuar a manter a paz com os brancos são liderados por Taza (Rock Hudson), filho sucessor e novo chefe da tribo. Já o grupo que deseja uma guerra final para expulsar os brancos das terras indígenas é liderado pelo famoso guerreiro Geronimo (Ian MacDonald) e pelo irmão de Taza, o impiedoso Naiche (Rex Reason). No meio do conflito se situa o Forte Apache, guarnição da sexta cavalaria do exército americano que se encontra na região para manter a ordem e a paz. Esse filme “Herança Sagrada” é um western curioso por vários motivos. O primeiro é o fato de ser dirigido por Douglas Sirk, um diretor mais conhecido por seus dramas sentimentais e urbanos. Dentro do gênero faroeste ele realmente não tinha muita intimidade e nem experiência. Nem por isso deixou de desenvolver um excelente trabalho, haja visto que o filme se mantém muito bem, com doses exatas de aventura, ação e até romance. Por exemplo o personagem nativo Taza almeja se casar com a filha de um apache que pertence à ala guerreira do chefe Geronimo, o que lhe trará muitos problemas. A parceria do diretor Sirk com Rock Hudson funcionou novamente muito bem nesse improvável western. Ele era um cineasta hábil que conseguia extrair o melhor de seu elenco, mesmo em filmes como esse.

Em sua autobiografia, o ator Rock Hudson relembrou algumas impressões sobre esse filme. Inicialmente ele afirmou que não se sentia completamente à vontade interpretando um nativo, um índio, pois tinha um biótipo bastante caucasiano, não servindo para interpretar com veracidade esse tipo de guerreiro. Ele obviamente ficaria mais convincente como um soldado da cavalaria dos Estados Unidos, com seus uniformes azuis. Depois relembrou com muito bom humor as dificuldades no set de filmagens. “Herança Sagrada” foi todo rodado em locações reais, no meio do deserto, numa região rica em barro vermelho. Rock no livro escreveu que todos os dias, após filmar suas cenas, tinha que tomar um prolongado banho onde segundo suas próprias palavras havia “toneladas de barro que desciam pelo ralo do banheiro”.

Apesar de tudo Rock Hudson reconheceu em seu livro de memórias que o filme foi bom para sua carreira pois fez sucesso de bilheteria, o ajudando a se transformar em um astro. Deixando esses detalhes de lado a conclusão que se chega após assistir a esse “Herança Sagrada” é a de que se trata realmente de um bom western, com cenas bem realizadas (como a emboscada dentro do cânion com os apaches promovendo um verdadeiro massacre da sexta cavalaria) e uma boa dose de realismo na forma como os índios são retratados em cena. “Herança Sagrada” é acima de tudo um filme muito interessante, por colocar os índios como protagonistas da estória e não apenas como inimigos sem alma e nem personalidade, que só serviam para morrer nas mãos  do colonizador branco. Por essa razão “Herança Sagrada” pode ser incluído até mesmo no panteão dos melhores filmes de faroeste já produzidos pela Universal Pictures.

Herança Sagrada (Taza, Son of Cochise, Estados Unidos, 1954) Direção: Douglas Sirk / Roteiro: Gerald Drayson Adams / Elenco: Rock Hudson, Barbara Rush, Gregg Palmer, Jeff Chandler, Ian MacDonald, Rex Reason / Sinopse: Após a morte do chefe Cochise (Jeff Chandler) o jovem Taza (Rock Hudson) assume a liderança de sua tribo. Ele deseja paz com os brancos mas enfrenta forte resistência de seu próprio irmão e Gerônimo, lendário guerreiro da nação Apache, que desejava a guerra contra o inimigo invasor.

Pablo Aluísio.

Cine Western - Robert Allen


Cine Western - Robert Allen
Ator que atuou em faroestes na era do cinema mudo em Hollywood durante as décadas de 1920 e 1930. Também trabalhou em outros estilos cinematográficos, como comédias românticas. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 25 de março de 2006

A Lenda do Bronze

Interessante western B da United Artists. Ao longo dos anos acabou ganhando um status de cult movie. O enredo se desenvolve em torno de um perigoso pistoleiro foragido chamado Tris Hatten (Raymond Burr). Seu paradeiro é desconhecido e como acontecia de forma habitual no velho oeste sua cabeça está a prêmio. Após cavalgar pelo deserto hostil ele chega na pequena cidade de Apache Bend, bem na fronteira do México, ao lado de um reserva de índios Apache. Imediatamente procura uma taberna de um conhecido, o mexicano Sanchez. Lá encontra bebidas, mulheres e um pouco de descanso. Nesse momento acaba sendo avistado por um garoto, Clay Gipson (Donald MacDonald), filho do xerife da cidade, Wade Addams (Hugh O'Brian), que imediatamente se dirige até o local e efetua a prisão do foragido fora-da-lei, sem maiores problemas. A história da captura do temido pistoleiro por um desconhecido xerife de uma cidadezinha logo chega aos jornais, o que atrai a atenção de todos os bandoleiros da região, inclusive do antigo bando de Hatten que não tarda a chegar em Apache Bend.

Agora o xerife terá que a todo custo manter sob custódia o famoso bandido em sua modesta delegacia, enquanto aguarda a chegada do juiz na cidade para o julgamento e enforcamento do bandido. Esse faroeste é estrelado pelo ator Hugh O'Brian, que hoje está injustamente esquecido. Seus personagens eram dos mais virtuosos do cinema da época. Para se ter uma ideia o xerife interpretado por ele aqui é um sujeito completamente ético, honesto e ciente de seus deveres. Embora haja uma grande recompensa pela captura do famigerado Tris Hatten, ele a recusa, afirmando que só está cumprindo seu dever. Sua esposa, interpretada pela linda atriz Nancy Gates, quer que ele deixe a estrela de bronze de lado para se tornar apenas um rancheiro mas ele quer cumprir sua função até o fim. 

Filmes sobre xerifes honrados sempre são interessantes. Esse aqui lembra em certos momentos de “Matar ou Morrer”, o grande clássico com Gary Cooper. Assim como acontecia naquele filme ele também tem que enfrentar uma situação de extremo perigo, praticamente sozinho, acompanhando de apenas uns poucos auxiliares. A trilha sonora, toda executada com apenas dois instrumentos, gaita e violão, acentua ainda mais sua solidão e melancolia. Em suma, um belo filme realmente, que obviamente bebe de todos os clichês do gênero mas que nem por isso deixa de ser muito bom. Fica a recomendação.

A Lenda do Bronze (The Brass Legend, Estados Unidos,1956) Direção: Gerd Oswald / Roteiro: Jess Arnold, Don Martin / Elenco: Hugh O'Brian, Nancy Gates, Raymond Burr, Donald MacDonald / Sinopse: Após capturar famoso pistoleiro um xerife de uma pacata e pequena cidadezinha do velho oeste assume o desafio de manter o fora-da-lei preso até a chegada do juiz no local. Enquanto isso o antigo bando do bandido encarcerado chega na cidade para liberta-lo das garras da lei.

Pablo Aluísio.

O Vale da Vingança

“O Vale da Vingança” é um filme de western interessante porque o foco de seu roteiro difere um pouco dos filmes de faroeste de sua época. A moralidade é o centro do argumento dessa produção. Lily Fasken (Sally Forrest) é uma jovem que surge grávida numa pequena cidade do velho oeste. Apesar da pressão para dizer quem é o verdadeiro pai de seu filho, ela se recusa a revelar o nome de todas as formas. As coisas começam a ficar mais complicadas quando o cowboy Owen Daybright (Burt Lancaster) surge uma noite em sua casa para lhe dar uma soma em dinheiro para que ela possa cuidar da criança recém-nascida. Seu ato logo despertam suspeitas. Os moradores da cidade começam então a comentar que Owen seria o verdadeiro pai do filho de Lily. Não demora muito para que os irmãos dela saiam no encalço de Owen, exigindo que ele se case com sua irmã. Caso contrário as coisas iriam complicar e muito para ele. A verdade porém é muito mais complexa do que isso. Como se sabe no velho oeste a honra de uma mulher geralmente era resolvida na base da violência. Duelos eram comuns nessas situações limites. Mais cedo ou mais tarde aquela situação delicada seria resolvida na base do gatilho e da pólvora.

O ator Burt Lancaster é o astro do filme, mas o personagem mais interessante da trama é Lee (Robert Walker), seu irmão no roteiro. Lee é um cowboy, assim como Owen (Lancaster), mas ao contrário desse não tem qualquer tipo de valor moral. Ele mente, rouba, faz trapaças e coloca seu irmão nas mais diversas dificuldades. Para piorar é o responsável pela saia justa em que Owen se encontra com os irmãos da austera e decidida Lily. É realmente uma pena que Robert Walker tenha morrido tão jovem, com apenas 32 anos. Ele era talentoso e tinha excelente postura em cena. Como Lee, o irmão problemático, ele acaba roubando o filme de Burt Lancaster. Esse “O Vale da Vingança” seria seu antepenúltimo trabalho. Ele tragicamente faleceu em agosto de 1951 após misturar remédios prescritos com bebida alcoólica. A reação foi tão forte que acabou o levando ao óbito de forma muito precoce. Uma grande perda.

O diretor de “O Vale da Vingança” foi o eclético Richard Thorpe que teria seu auge de popularidade seis anos depois ao dirigir o cantor Elvis Presley no sucesso “O Prisioneiro do Rock” (Jailhouse Rock, 1957). Thorpe foi um dos cineastas mais produtivos da história de Hollywood, tendo dirigido incríveis 185 filmes ao longo de sua carreira! Enfim temos aqui um western que discute a situação da mulher no velho oeste. Ser uma mãe solteira naqueles tempos duros e ambiente rude, realmente não era para qualquer uma. Assista e entenda essa interessante questão moral que o roteiro se propõe a discutir.

O Vale da Vingança (Vengeance Valley, Estados Unidos, 1951) Direção: Richard Thorpe / Roteiro: Irving Ravetch baseado no livro de Luke Short / Elenco: Burt Lancaster, Robert Walker, Joanne Dru, Sally Forrest, John Ireland / Sinopse: Um cowboy chamado Owen (Burt Lancaster) é apontado erroneamente como o pai de uma criança recém nascida numa pequena cidade do velho oeste. Procurando por vingança pelos danos morais impostos a sua irmã, dois pistoleiros vão em busca de Owen para tomar satisfações. O conflito terá graves consequências.

Pablo Aluísio.
 

sexta-feira, 24 de março de 2006

Talhado em Granito

Mais um western com o mito Randolph Scott. A produção foi realizada a toque de caixa para aproveitar as férias escolares do meio de ano. Na época Randolph Scott estava prestes a cumprir seu contrato com o estúdio para alcançar vôos mais ousados – ele queria produzir seus próprios filmes sem salário fixo, mas com participação nos lucros, uma decisão que o deixaria milionário nos anos que viriam. Uma decisão muito acertada que inclusive iria inspirar outros atores de Hollywood a seguirem  o mesmo caminho. Ao invés de ser um ator meramente contratado dos estúdios, era mais lucrativo produzir seus próprios filmes, ficando com parte da bilheteria. A decisão de filmar em Santa Clarita na Califórnia, uma região que Scott adorava pelo seu clima ameno e agradável, foi o argumento final para que ele aceitasse rodar a fita. Assim ele terminaria seu contrato com a Warner, ficaria livre para virar produtor de seus filmes e seguiria em frente para realizar seus planos. As filmagens foram tranquilas, sem problemas, com Scott aproveitando para curtir a região, geralmente saindo para cavalgar com amigos após mais um dia de trabalho no set. Era verão, tempo ideal para filmar e curtir umas férias ao mesmo tempo.

Uma das maiores curiosidades na realização desse filme foi que durante praticamente todas as filmagens Randolph Scott contou com a presença do ator e amigo Cary Grant no set. Grant foi à região apenas para visitar o amigo, mas gostou tanto que resolveu ficar uma semana acompanhando os trabalhos. Scott não poderia ficar mais contente já que com Grant lhe fazendo companhia eles poderiam relembrar os bons tempos quando eram apenas jovens atores tentando alcançar um lugar ao sol em Hollywood. Agora, já astros consagrados, podiam relaxar e curtir a bonita região juntos. Cary Grant tentou inclusive convencer o amigo a largar um pouco os filmes de western para realizar outros tipos de filmes. A resposta de Randolph Scott foi muito interessante: “Os filmes de western são uma mina de ouro. São baratos, fáceis de vender e muito comerciais. Além disso gosto de cavalgar e cortejar a mocinha. Sou bom nisso!”. E era mesmo, como podemos confirmar aqui em “Talhado em Granito”, uma fita de rotina mas que mantém um charme incrível mesmo nos dias atuais. Se você é fã do cinema eficiente de Randolph Scott não deixe de assistir.

Talhado em Granito (Sugarfoot, Estados Unidos, 1951) Direção: Edwin L. Marin / Roteiro: Russell S. Hughes baseado no livro de Clarence Budington Kelland / Elenco: Randolph Scott, Adele Jergens, Raymond Massey / Sinopse: Ex-oficial da guerra civil reencontra seus velhos inimigos no distante Arizona. Agora terá que decidir entre acertar devidamente as contas ou esquecer o passado para seguir em frente na sua vida.

Pablo Aluísio.

O Estouro da Manada

Alguns filmes da era de ouro do western americano eram verdadeiras homenagens ao estilo de vida do cowboy, aquele bravo que atravessava as mais inóspitas regiões para levar seu gado até a fronteira, onde era finalmente comercializado e vendido para os grandes centros. Esse “O Estouro da Manada” é uma das mais sinceras odes que já assisti em relação ao vaqueiro das pradarias. No enredo um garoto mimado e chato, filho do dono da ferrovia, chamado Chester (Dean Stockwell), se perde no meio do deserto, um dos lugares mais hostis do mundo. Nessa região ele é encontrado por acaso pelo cowboy Dan Matthews (Joel McCrea). O vaqueiro está atrás de um mustang negro selvagem que ele gosta de chamar de “Midnight”. De inicio o garoto rico se faz de arrogante e esnobe com o velho cowboy, mas conforme ambos vão convivendo juntos a relação de amizade muda de tom. A busca pelo cavalo e o trabalho duro de se tocar o gado no meio do deserto acaba criando no jovem rapaz um espírito completamente diferente, de honradez e trabalho. O antes prepotente e irascível garoto acaba se transformando em um homem de verdade, forjado no cotidiano da vida dos cowboys americanos, aqui personificado com maestria pelo ídolo Joel McCrea.

O filme tem lindas sequências ao ar livre. “O Estouro da Manada” foi rodado no Vale da Morte na Califórnia, um dos lugares mais secos do planeta. Mesmo assim a natureza em todo seu esplendor acaba proporcionando para a filmografia da produção um lindo cenário natural. No fundo o roteiro trata sobre o aprendizado de um jovem com um homem mais velho que acaba lhe ensinando grandes valores através de pequenas coisas que acontecem no cotidiano de um cowboy.  Enquanto tenta chegar em Santa Fé para entregar a manada o cowboy Dan e seu pupilo vão aprendendo sobre a vida e os valores do homem que vive de seu trabalho, tocando o gado pelas terras sem fim do oeste americano.

Para os fãs do ator Joel McCrea o filme é uma ótima opção. Seu personagem é um vaqueiro que tem o sonho de abrir um rancho próprio para uma criação de cavalos. Por isso ele tentará durante todo o filme capturar Midnight, o cavalo selvagem puro sangue que sempre consegue lhe escapar. A seqüência final, com o estouro de uma enorme manada pelo deserto é maravilhosamente bem realizada. Um clímax mais do que adequado para esse filme que louva com muito sucesso o mais simbólico personagem do velho oeste americano: o cowboy!

O Estouro da Manada (Cattle Drive, Estados Unidos, 1951) Direção: Kurt Neumann / Roteiro: Jack Natteford, Lillie Hayward / Elenco: Joel McCrea, Dean Stockwell, Chill Wills, Leon Ames, Henry Brandon, Howard Petrie / Sinopse: Garoto rico e mimado é esquecido no meio de deserto após o trem que o transportava lhe esquecer durante uma parada. Perdido no meio do nada, ele é salvo por um cowboy, Dan (Joel McCrea), que está no local tocando uma manada de gado em direção a Santa Fé. Juntos, atravessando o deserto, o jovem rapaz irá começar a mudar sua atitude e mentalidade ao tomar conhecimento do modo de viver dos cowboys americanos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Ringo Não Discute... Mata!

Outro ator que cruzou caminho com Franco Nero e seu Django foi Giuliano Gemma, ator romano que fez inúmeros filmes de faroeste espaguetti. Produtivo, estrelou um número enorme de filmes do gênero, feitos em escala industrial. Seu grande sucesso foi “O Dólar Furado” mas esse foi apenas um entre centenas de outros que seguiam a mesma linha. Geralmente atuando com o nome americanizado de Montgomery Brown, Gemma foi colecionando filmes atrás de filmes, criando toda uma legião de fãs nos chamados cinemas de bairro aqui no Brasil que não cansavam de passar suas fitas rápidas e ligeiras. Com preços promocionais, geralmente em sessão dupla, os cinemas rendiam excelentes bilheterias. O curioso é que em muitos desses filmes Giuliano Gemma usava não apenas o nome de Montgomery Brown como seu próprio pseudônimo artístico, mas os seus personagens também levavam esse nome. É o caso desse “Ringo não discute... Mata!”. Antes de mais nada esqueça o personagem Ringo dos westerns americanos. Nas produções Made in Hollywood, Ringo era sempre derivado do famoso pistoleiro Johnny Ringo (que efetivamente existiu de fato). Já no cinema italiano Ringo era apenas um nome sonoro, comercial, que se prestava a todo tipo de caracterização que ia desde pistoleiros a soldados, bandidos, mocinhos e o que mais a imaginação dos roteiristas criassem.

Aqui Gemma interpreta um soldado da União de nome Montgomery Brown (vulgo Ringo) que ao retornar da guerra civil encontra sua esposa e filha sob o domínio de uma família de mexicanos cruel e facínora. O pai é um porco beberrão e o filho um sádico perverso. Além disso descobre que seu pai, um senador honesto, havia sido covardemente assassinado pelos mesmos mal feitores. Disfarçado de humilde jardineiro, Ringo começa aos poucos a planejar sua vingança que tardará mas não falhará. O filme tem produção modesta mas não chega a ser pobre. Existem até bons cenários (todos localizados no deserto da Espanha) que mantém a dignidade. Gemma não se esforça muito – ele não era tão bom ator por essa época, mas apenas um italiano que parecia americano e que por isso era escolhido pelos diretores.

O filme como não poderia deixar de ser termina em um grande tiroteio em que não escapam nem o padre e nem os moradores pacíficos do lugar. Um acerto de contas envolvendo toda a cidade. Era o usual nesse tipo de filme. De bom mesmo temos a trilha sonora de Ennio Morricone – sempre bem realizada, a ponto inclusive de ser lançada em disco de sucesso na época. Aqui no Brasil o filme teve vários títulos diferentes que iam do original “Ringo Retorna” até “Uma Pistola Para Ringo” (esse último inclusive também foi usado em uma outra produção que nada tinha a ver com essa). De qualquer modo é um exemplo do que o cinema italiano realizava na década de 60 – muita ação, balas e diversão com os atores italianos posando de americanos da fronteira no velho oeste daquele país.

Ringo Não Discute... Mata! / O Retorno de Ringo / Uma Pistola Para Ringo (Il Ritorno di Ringo, Itália, Espanha, 1965) Direção: Duccio Tessari / Roteiro: Duccio Tessari, Fernando Di Leo e Alfonso Balcázar / Elenco: Giuliano Gemma, Fernando Sancho, Lorella De Luca, George Martin, Nieves Navarro / Sinopse: Em busca de vingança um veterano do exército da União volta para sua cidade natal para liquidar os assassinos de seu pai. Disfarçado de pobre jardineiro ele começa a colocar em prática seu plano de vingança.

Pablo Aluísio.