sexta-feira, 2 de março de 2018

Cinquenta Tons de Liberdade

Esse terceiro filme é bem mais inócuo do que todos os anteriores. O casal formado pelo milionário Christian Grey e por Anastasia Steele acaba se aproximando cada vez mais de se tornar um casal de rotina, comum, como tantos outros que encontramos por aí. O casamento é o grande atrativo dessa terceira sequência. Agora casados de papel passado, eles precisam enfrentar um criminoso, Jack Hyde, que os culpa pela destruição de sua vida. Ele perdeu o emprego, foi parar na cadeia, mas não desiste de se vingar. O curioso é que acaba se descobrindo que Hyde e Grey possuem um passado em comum, chegando a viverem na mesma família quando eram garotos órfãos. Mesmo com essa ameaça pairando no ar, não espere por cenas emocionantes e nem uma dramaturgia mais forte. No final das contas a presença de Hyde nem faz muita diferença. Ele é apenas uma muleta narrativa para que a estória não fique resumida ao próprio casal, viajando a lugares bonitos do planeta, enquanto curtem a sua lua de mel.

Um aspecto que notei nesse terceiro filme é que a autora E.L. James pareceu ter absorvido as críticas que se fazia no tocante à violência de Grey para com Anastasia. As cenas de masoquismo estão muito atenuadas, quase inexistentes. O tal quarto vermelho, com algemas e chicotes pelas paredes, ainda está lá, mas o casalzinho o usa cada vez menos. Na verdade durante o filme inteiro só há mesmo uma sessão de sexo nessa linha. Depois o quarto acaba sendo usado por ela apenas para afogar suas mágoas, quando dorme no sofá de lá, ao descobrir que seu marido pode estar tendo um caso extraconjugal. Quando o filme termina ficamos com a sensação que o casal vai cair numa rotina daquelas, que destrói vários casamentos. Eles estão no jardim, carregando o filhinho para dentro de casa. Pois é, nesse filme a Anastasia também descobre que está grávida, o que apavora Grey que diz que ainda não está preparado para ser pai. Pelo visto ele não é emocionalmente muito maduro. Um velho clichê de livros românticos ao estilo Sabrina. Então basicamente é isso o que temos. Se faz o seu gênero não deixe de assistir a esse filme que acabou me soando como uma conclusão bem insossa da trilogia.

Cinquenta Tons de Liberdade (Fifty Shades Freed, Estados Unidos, 2018) Direção: James Foley / Roteiro:  Niall Leonard, baseado no romance escrito por E.L. James / Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Eric Johnson / Sinopse: Christian Grey (Jamie Dornan) e Anastasia Steele (Dakota Johnson) finalmente se casam. Para a Lua de Mel eles começam a viajar pelos lugares mais bonitos do planeta como Paris e Aspen. Só que a felicidade completa do casal é perturbada pela presença criminosa de Jack Hyde (Eric Johnson), o ex-patrão de Anastasia que foi demitido de seu emprego após ter problemas com ela. Achando que sua vida acabou, ele decide partir para a vingança, custe o que custar.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Mark Felt

Após a morte do todo poderoso diretor do FBI, J. Edgar Hoover, o Presidente Nixon resolve nomear para o cargo um homem de sua confiança, alguém para abafar todos os escândalos envolvendo o governo. Antigo braço direito de Hoover, o veterano agente Mark Felt (Liam Neeson) começa então a vazar para a imprensa informações confidenciais que comprometiam o Presidente. As coisas pioram ainda mais quando homens do Partido Republicano invadem a sede do comitê de campanha dos democratas no prédio Watergate. Imediatamente o novo diretor do FBI começa a abafar o caso, mas Mark usando o codinome de "Garganta Profunda" entrega o jogo para dois jornalistas do Washington Post, abrindo assim a maior crise do governo Nixon, algo que o levaria a renunciar ao cargo alguns meses depois, em vista dos crimes cometidos.

Bom filme sobre um dos mais famosos informantes da história. É interessante notar que essa nova produção pode ser assistida em conjunto com dois outros filmes, dando uma ideia geral do que aconteceu no caso Watergate. O primeiro indicado é "Todos os Homens do Presidente", o clássico com Robert Redford e Dustin Hoffman. Lá tínhamos esse mesmo evento que levou Nixon à renúncia, mostrando tudo sob o ponto de vista da imprensa. Recentemente tivemos também "The Post" com Tom Hanks e Meryl Streep. A última cena mostra a invasão do comitê democrata em Watergate, quase o ponto de partida desse filme aqui. Assim são filmes que se complementam. Outro ponto importante a frisar é que "Mark Felt" marca a volta de Liam Neeson aos filmes mais sérios, dramáticos, deixando de lado as produções de pura ação que ele vinha estrelando. Para viver o Garganta Profunda, Liam usou uma maquiagem que o deixou mais envelhecido e em certos aspectos até mesmo irreconhecível. Também está bem mais magro, tudo para se adequar ao papel. De modo em geral é um bom filme, porém será necessário ao espectador médio ter pelo menos noções mínimas de história americana, principalmente do caso Watergate, uma vez que o roteiro parte da premissa que o público já saiba de antemão tudo o que aconteceu. Com ritmo mais centrado, um pouco lento, diria em certos momentos até um pouco burocrático, esse novo filme do diretor Peter Landesman não deixa de ser também uma boa aula de história política.

Mark Felt - O Homem que Derrubou a Casa Branca (Mark Felt: The Man Who Brought Down the White House, Estados Unidos, 2017) Direção: Peter Landesman / Roteiro: Peter Landesman, baseado no livro de memórias escrito por Mark Felt / Elenco: Liam Neeson, Diane Lane, Marton Csokas, Tom Sizemore, Bruce Greenwood, Michael C. Hall / Sinopse: Após a morte do diretor do FBI J. Edgar Hoover, o Presidente Nixon nomeia um novo diretor que começa a abafar os crimes e desvios do governo. Em vista disso o agente veterano Mark Felt (Neeson) começa a vazar informações confidenciais para a imprensa, com o objetivo de desmascarar a corrupção que existe dentro do governo Nixon.

Pablo Aluísio.

A Maldição da Casa Winchester

Esse filme é baseado numa história real. Sarah Winchester (Helen Mirren) fica profundamente abalada com a morte do marido e da filha, uma criança ainda em idade de berço. Fragilizada demais para superar as perdas, ela começa a ver vultos pela casa. Até que um médium é chamado e diz a ela que os tais vultos na verdade são os espíritos das pessoas mortas pelas armas da marca Winchester, que ela se torna herdeira. Para que eles não apareçam mais, ela terá que construir uma mansão, sem nunca parar, pois no dia em que as obras cessarem ela também morrerá. Tudo isso foi verdade, aconteceu de fato. Esse porém é apenas o ponto de partida do filme. Quando Sarah aparece pela primeira vez no filme ela já é uma viúva soturna, bastante atormentada.  Um psicólogo é enviado para verificar se ela ainda tem sanidade para ficar à frente da fábrica de armas. O roteiro então adota a pura fantasia - afinal é um filme de horror bem ao estilo de Hollywood - deixando para trás a oportunidade de contar a história real dessa figura singular.

No mundo real Sarah foi uma mulher enlouquecida pelo espiritismo. Ela construiu uma casa enorme, com centenas de quartos, todos eles inúteis e sem serventia - afinal ela morava sozinha na grande mansão. Dizia-se na época que ela havia perdido completamente o juízo (o que é bem provável). Acabou morrendo sozinha, completamente insana, enfurnada em sua estranha casa que ainda existe e está aberta a visitação pública na Califórnia. Se o estúdio tivesse optado por contar essa história teríamos realmente uma pequena obra prima em mãos. O problema é que tudo é desviado para os sustos. Assim Sarah é mostrada no filme como uma mulher que realmente luta contra os espíritos que vagam pela sua propriedade. Ela precisa construir quartos e mais quartos, que reproduzem os locais onde essas pessoas morreram. Nessa tomada de direção o filme não funciona muito bem. Não espere por grandes sustos ou terror. O filme é mais sutil nesse aspecto. O que vale mesmo a pena é a presença da grande dama do teatro e do cinema Helen Mirren. Com grande dignidade, ela nos faz acreditar mesmo que Sarah era apenas uma viúva que lutava contra centenas de entidades sobrenaturais e não uma pobre alma fragilizada, em processo de enlouquecimento, atormentada pela morte de seus entes queridos, explorada por todos os tipos de charlatões. Uma prova inequívoca de como Mirren é mesmo uma grande atriz.

A Maldição da Casa Winchester (Winchester, Estados Unidos, 2018) Direção: The Spierig Brothers / Roteiro: Tom Vaughan, The Spierig Brothers / Elenco: Helen Mirren, Jason Clarke, Sarah Snook, Finn Scicluna-O'Prey  Sinopse: O Dr. Eric Price (Jason Clarke) é enviado para a estranha mansão Winchester com o objetivo de fazer uma avaliação do estado psicológico de Sarah Winchester (Helen Mirren), uma viúva reclusa que se tornou a herdeira da fábrica de armas Winchester. Os vizinhos dizem que ela está louca, construindo sem parar quartos para sua casa. Será que estaria mesmo enlouquecida e insana ou os espíritos que afirma ver são reais e estão lhe atormentando todas as noites?

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

The Beatles - Let It Be (1970)

The Beatles - Let It Be (1970) - Fruto do projeto fracassado chamado Get Back o disco Let It Be foi o último disco oficial a ser lançado pelos Beatles (embora não fosse o último a ser gravado como muita gente pensa) e foi produzido por Phil Spector. A ideia inicial de Paul McCartney era filmar um grande documentário mostrando os Beatles dentro dos estúdios, criando e gravando a trilha sonora do filme para depois todos saírem em uma grande turnê em vários países. Deu com os burros n´água. Antes de mais nada as gravações dentro dos estúdios se tornaram um verdadeiro inferno, com os integrantes se ofendendo entre si a todo o tempo. Além do constante confronto entre Paul, George e John este ainda inventou de trazer a japonesa Yoko Ono para dentro de Abbey Road, causando mais aborrecimentos ainda ao resto do grupo e aos produtores do filme.

Para completar de afundar os planos de Get Back a ideia de sair novamente em turnê foi logo descartada pelos demais membros do grupo que não tinham mais a menor intenção de ter de arcar com toda a histeria da estrada, como nos tempos da Beatlemania. George Harrison odiou a ideia assim como John Lennon que não tinha mais nenhum interesse no grupo. Assim Get Back acabou afundando e sendo arquivado. Tudo o que restou foi um vasto material de cenas dos Beatles dentro do estúdio, ensaiando em uma Jam Session sem fim (e sem direção).  Quando o grupo finalmente rachou em 1969 a Apple resolveu ressuscitar o projeto. Trocaram o nome de tudo para Let It Be, contrataram uma boa equipe de cineastas para salvar o documentário e Lennon jogou nas mãos de Phil Spector os pedaços da sessões para que ele desse um jeito naquela bagunça sem fim.  Spector então arregaçou as mangas para encontrar em metros e metros de gravações, material suficiente para compor um disco que fosse comercialmente viável.

O resultado é irregular. Embora haja clássicos absolutos como Get Back, Let It Be, Across The Universe (pessimamente gravada na opinião de Lennon) e Long and Winding Road, a opção de Spector em dar um clima de descontração ao conjunto do disco - com bobagens ditas pelo próprio grupo entre as faixas, pedaços dispersos de músicas e piadinhas - não trouxe um produto à altura de um álbum dos Beatles. Do jeito que ficou mais parece um bootleg do que um disco oficial da gravadora do grupo. Certamente todo fã do conjunto britânico deve ter o álbum em sua discoteca mesmo que passe o resto da vida se lamentando que músicas tão belas não tenham sido lançadas em um disco ideal. Enfim é a vida...

1. Two of Us (Lennon / McCartney) - "Two of Us" é uma balada dos Beatles que sempre considerei subestimada. Nunca vi por aí muitos elogios sendo feitos a essa faixa. É uma criação de Paul McCartney, com pequenas contribuições de John Lennon. Gosto de seu lado acústico, fazendo inclusive com que a gravação tenha um aspecto de singeleza que deixa até uma impressão de que estamos ouvindo uma jam session e não uma gravação oficial dos Beatles. No disco original de 1970 o produtor Phil Spector conseguiu estragar a introdução da canção, colocando Lennon falando algumas bobagens antes da música começar. Nada a ver. Ficou fora de contexto, fora de nexo. Qual teria sido o motivo? Só o maluco do Spector poderia explicar. Penso que essa decisão de trazer uma espécie de som mais cru do disco não foi a melhor opção. Paul que sempre havia primado por belas produções nos discos dos Beatles ficou duplamente irritado quando ouviu o disco. Afinal nada havia sido passado por seu crivo pessoal. Uma bobagem atrás da outra.

2. Dig a Pony (Lennon / McCartney) - Canção composta por Lennon para Yoko Ono. Uma boa faixa, valorizada por bons arranjos criados por John e Paul. Apesar de ser uma canção bem gravada e tudo mais, acabou ganhando o desprezo de Lennon após o fim dos Beatles. Durante uma entrevista ele qualificou sua própria canção como "um lixo"! Não se deve dar ouvidos a John. Ele, depois do fim do grupo, começou a falar mal de muitas músicas e discos da banda, numa reação pouco racional, mais movida pela emoção e pelos problemas (inclusive legais) que ele enfrentou após o fim dos Beatles. Parecia que John queria destruir tudo o que era relativo aos Beatles, provavelmente tentando prejudicar os que ainda tinham direitos sobre as músicas e a marca comercial de seu antigo conjunto. A canção que foi originalmente chamada por John de "All I Want Is You" e acabou depois ganhando esse título mais original e mais criativo " Dig a Pony". Apesar do péssimo humor por parte de John em relação à música pode ouvir sem receios. É uma boa canção do álbum.

3. Across the Universe (Lennon / McCartney) - Outro grande momento de John Lennon em "Let It Be" é a canção "Across the Universe". Certamente é uma obra prima de Lennon. Uma música de melodia lindíssima, com letra igualmente inspiradora. John a compôs na Índia quando os Beatles foram se encontrar com o falso guru Maharishi Mahesh Yogi. De uma forma ou outra o clima espiritualista tocou profundamente a alma do Beatle, resultando em versos como esses: "Palavras flutuam como uma chuva sem fim em um copo de papel / Elas se mexem selvagemente enquanto deslizam pelo universo / Um monte de mágoas, um punhado de alegrias / Estão passando por minha mente / Me possuindo e acariciando / Glória ao maestro do universo / Nada vai mudar meu mundo". E a poesia de Lennon continuava: "Imagens de luzes quebradas / Que dançam na minha frente como milhões de olhos / Eles me chamam para ir pelo universo / Pensamentos se movem como um vento incansável / Dentro de uma caixa de correio / Elas tropeçam cegamente enquanto fazem seu caminho / Através do universo". John acabou não gostando da versão que foi gravada para o álbum "Let It Be". Ele acusou Paul diretamente de ter sabotado sua música. John afirmou anos depois em uma entrevista que os Beatles ficavam semanas trabalhando nos arranjos das músicas de McCartney e quando chegava na hora de gravar as suas músicas pintava um clima de preguiça e má vontade entre os demais Beatles. Verdade ou paranoia de John Lennon? Na minha opinião a gravação de "Across The Universe" que ouvimos aqui nesse disco é muito boa, com belos arranjos. Nem Phil Spector com toda a sua loucura conseguiu estragar a música. Tanto isso é verdade que até hoje é uma das músicas mais celebradas da discografia dos Beatles. Não penso que as acusações de John tinham algum fundo de verdade. Ele estava apenas magoado com Paul e resolveu soltar farpas contra ele pela imprensa. Algo até bem injusto. O fato inegável é que "Across The Universe" é uma obra prima irretocável dos Beatles. Uma música eterna.

4. I Me Mine (Harrison) - George Harrison já vinha numa relação conturbada com John quando finalmente entrou no estúdio para gravar essa bela balada chamada "I Me Mine". O fato é que após uma briga entre eles, John simplesmente boicotou a faixa do colega de banda, não aparecendo nas sessões de gravação dessa canção. Apenas Paul e Ringo participaram. A ausência de John Lennon obviamente é sentida, porém os três Beatles restantes acabaram fazendo uma bela gravação. O refrão era um exemplo de auto afirmação de Harrison em relação ao seu talento. Depois de ficar anos e anos na sombra de John e Paul ele cantava no refrão versos como: "Por todo o dia eu sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu / Por toda a noite, eu sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu / Agora estão com medo de largar / Todos estão tramando / Tornando-se mais forte o tempo todo / Por todo o dia eu sou mais eu / Eu, depois eu, depois eu / Eu, depois eu, depois eu / Tudo o que eu escuto sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu / Até aquelas lágrimas, sou mais eu, sou mais eu, sou mais eu". A letra, como visto, podia ser encarada até mesmo como uma grande indireta contra a dupla Lennon e McCartney. Uma mensagem do tipo "Vocês são bons, mas eu sou mais eu!". Provavelmente Lennon tenha entendido isso e caído fora de sua gravação justamente por essa razão.

5. Dig It (Lennon / McCartney / Harrison / Starkey) - Não espere muito de "Dig It". Essa música é um besteirol Lenniano, como gostava de dizer Paul. Na verdade a gravação original é longa (e chata). Phil Spector resolveu cortar quase tudo, deixando no disco oficial apenas uma amostra de pouco mais de 50 segundos! Soa quase como uma introdução de "Let it Be". Não ficou bom. Melhor teria sido deixado essa jam session besteirol de fora do disco. Não acrescenta nada e nem está completa. Então porque lançar no álbum? Provavelmente Phil Spector a adicionou por gratidão (ou medo) de John Lennon. Afinal foi John quem o contratou para produzir o material que havia sido gravado.

6. Let It Be (Lennon / McCartney) - Paul McCartney compôs a música "Let It Be" em homenagem à memória de sua mãe, falecida muitos anos antes, quando ele era ainda um adolescente. Assim como John Lennon havia feito em "Julia" do Álbum Branco, Paul pensou que havia chegado sua hora de lembrar de sua mãe Mary. A música abria com o seguinte estrofe: "When I find myself in times of trouble / Mother Mary comes to me /  Speaking words of wisdom, let it be". Esses versos chamaram a atenção dos fãs dos Beatles. Houve uma certa especulação quando a música chegou no mercado de que Paul estava fazendo uma referência a Mary (Maria), mãe de Jesus. Seria uma canção religiosa? Anos depois, já com o fim dos Beatles, Paul finalmente explicou a letra dizendo: "Não é uma música sobre Maria, Nossa Senhora, mas sim sobre Mary, minha mãe. Ela era enfermeira em Liverpool, morreu muito jovem e minhas lembranças foram se apagando com o passar dos anos. Eu fiz a música pensando exclusivamente sobre ela. Quando ela voltava do hospital tarde da noite ou pela manhã, sempre me trazia algum presentinho, um carrinho de plástico ou qualquer outra coisa. Ela também sempre tinha palavras que me acalmava. Por isso a letra traz memórias que ainda tenho de sua presença calma e tranquilizadora".

7. Maggie Mae (Harrison) - O disco "Let It Be" chegou ao mercado montado pelo produtor Phil Spector. Ele resolveu aproveitar pequenos trechos de ensaios, em que os Beatles apenas brincavam no estúdio, em estilo jam session, sem qualquer compromisso, para encaixar entre as faixas principais do disco. Uma dessas canções em pedaços foi "Maggie Mae", uma musiquinha bem básica, com acordes engraçadinhos, que John e Paul tocaram nos estúdios, sem jamais pensar que ela iria parar em um disco oficial dos Beatles. A letra relembrava uma prostituta de Liverpool, dos tempos de adolescência de John e Paul. Inicialmente Paul McCartney ficou bem aborrecido em saber que a música iria fazer parte do repertório de "Let It Be", mas como as cópias já estavam sendo prensadas, não havia mais o que fazer. Para falar a verdade Paul nunca gostou de Phil Spector que só foi contratado por decisão de John Lennon, sem consultar os demais membros da banda.

8. I've Got a Feeling (Lennon / McCartney) - Por falar em criações da dupla Lennon e McCartney, o blues "I've Got a Feeling" foi uma das últimas parcerias deles. Uma canção feita face a face, com ambos trabalhando e dando sugestões dentro do estúdio. Paul trouxe o esboço inicial e John começou a acrescentar notas, versos, instrumentos e arranjos. Acabou sendo uma das melhores faixas do disco. O curioso é que John e Paul quiseram imprimir na canção um certo tom de relaxamento, quase como se fosse uma jam session dentro dos estúdios. Só que tudo isso era obviamente bem trabalhado pela dupla. John Lennon resolveu inserir uma indireta para sua primeira esposa, Cynthia, nos versos da canção, quando canta "Oh, por favor acredite em mim, eu odiaria perder o trem / E se você me deixar por causa disso, eu não me atrasarei". Acontece que ela havia perdido o trem quando os Beatles foram para a Índia. Isso irritou profundamente John. Assim o Beatle passou meses longe dela, o que segundo ele próprio serviu para criar um fosso emocional entre o casal. Depois disso Yoko entrou na vida de John e o casamento deles acabou de vez. Já Paul resolveu escrever algumas linhas mais românticas para a música. É dele a seguinte estrofe: "Todos esses anos eu tenho andado por aí / Intrigado como é que ninguém veio me dizer / Que toda a minha procura se resumia a alguém / Que se parecesse contigo". Palavras escritas para Linda, o novo amor na vida de Paul. Afinal Jane Asher naquele momento já era passado.

9. One After 909 (Lennon / McCartney) - Uma das curiosidades mais interessantes do disco "Let It Be" foi a inclusão de uma nova versão para a música "One After 909". Na época os fãs dos Beatles não sabiam e nem foram informados sobre isso, mas essa canção que parecia ser uma doce novidade, uma criação inédita, era na verdade uma das mais antigas composições da dupla Lennon e McCartney. Na realidade esse excelente rock foi composto por John e Paul quando eles eram apenas adolescentes em Liverpool. Foi uma das primeiras experiências deles em criar seu próprio material. Uma música que foi escrita ainda nos anos 50. Pois bem, os Beatles já tinham gravado uma versão do rock na primeira metade dos anos 60. A versão ficou muito boa, realmente excelente. Quem tiver dúvidas ouça as versões gravadas em Abbey Road que foram lançadas no Anthology. Apesar dos bons resultados o que aconteceu a seguir segue sendo uma incógnita. A EMI Odeon simplesmente arquivou a gravação e ela ficou fechada nos porões da gravadora por longos anos! Inexplicavelmente aliás porque era uma versão tecnicamente muito boa. Durante as sessões do "Let It Be" John então resolveu trazer ela de novo, meio que na base da Jam Session, mas que acabou pegando. A versão dos Beatles nesse álbum também é muito boa. Esse é de fato um rock à prova de falhas, com guitarras fortes e aquele sentimento rockabilly que Lennon tanto adorava.

10. Long and Winding Road (Lennon / McCartney) - Uma das coisas que mais irritaram Paul McCartney quando finalmente ouviu o disco oficial "Let It Be" foi a forma como o produtor Phil Spector tratou sua criação "The Long and Winding Road". Para Paul os arranjos ficaram ruins, exagerados, bem de acordo com a "parede de som" que era característica de Spector. Definitivamente McCartney não queria aquele tipo de sonoridade para sua música, porém quando Paul finalmente a ouviu já era tarde demais. Os discos estavam prensados e nas lojas. Não tinha mais volta, era segurar a raiva e seguir em frente. Ele ainda iria reclamar disso em inúmeras entrevistas ao longo dos anos, mas definitivamente já era tarde demais."The Long and Winding Road" foi composta por Paul após o fim de seu longo relacionamento com a atriz Jane Asher. Ela foi a namorada de Paul durante praticamente toda a sua carreira ao lado dos Beatles. Todas as grandes composições dele nessa época foram criadas em cima de seu romance com Jane. Quando o namoro acabou Paul ficou bem arrasado e criou essa bela balada romântica, um adeus final aos anos que passou ao lado de Jane. Curiosamente Jane também foi responsável por ter jogado fora muitas músicas compostas por Paul e John durante a fase dos Beatles. Durante uma faxina ela resolveu jogar no lixo um monte de papéis. Eram letras de música de John e Paul - imaginem o tamanho do prejuízo histórico que isso causou! Mesmo assim, Paul realmente a amava e achava que um dia iria se casar com ela. Aliás todos os demais Beatles pensavam que eles iriam se casar algum dia. Infelizmente isso nunca aconteceu.

11. For You Blue (Harrison) - "For You Blue" foi composta por George Harrison. Em um álbum que trazia também "I Me Mine", considerada por muitos uma das melhores composições de Harrison, ela acabou ficando um pouco ofuscada. Mesmo assim gosto bastante da faixa. Algumas pessoas implicam com o uso da chamada sleep guitar, mas eu pessoalmente gosto desse tipo de sonoridade. Harrison acabou levando esse estilo para muitos de seus discos na carreira solo. Inclusive quando os três Beatles remanescentes resolveram gravar duas faixas no projeto "Anthology", Paul implicou com seu uso em "Free as a Bird" justamente por ter se tornado marca registrada de George. Se a faixa é bem arranjada e produzida, já não digo o mesmo de sua letra que em minha opinião é básica. Confira: "Porque você é bonita e adorável, garota, eu te amo / Porque você é bonita e adorável, garota, é verdade / Eu te amo mais do que amei a qualquer outra garota / Eu te quero de manhã, eu te amo / Eu te quero no momento em que me sinto triste / Eu vivo cada momento para você garota". Como se pode perceber os versos são bem simples. Amor colegial.

12. Get Back (Lennon / McCartney) - O curioso é que o álbum nem iria se chamar "Let It Be" mas sim "Get Back", que era um rock forte, com muita pegada, uma música também composta por Paul. Só nos últimos momentos, bem antes do lançamento do filme e do disco, é que Paul mudou de ideia, fazendo com que a balada sentimental e nostálgica "Let It Be" finalmente viesse a dar o título do disco como também do filme que estava sendo lançado. John Lennon cismou com a letra de "Get Back". Havia uma parte em que Paul cantava, olhando para Yoko Ono, em que ele dizia para ela voltar para o lugar de onde veio. John encarou isso como uma provocação direta de Paul e resolveu tomar satisfações. O clima que já não era bom dentro dos Beatles piorou, mas Paul não comprou briga, afirmando diplomaticamente para John que tudo não passava de paranoia de sua cabeça, uma vez que a canção não era sobre Yoko.

The Beatles - Let It Be (1970): John Lennon (Guitarra, violão, piano e vocal) / Paul McCartney (Baixo, violão, guitarra, piano e vocal) / George Harrison (Guitarra, violão e vocal) / Ringo Starr (Bateria) / Billy Preston (teclados) / Produção: Phil Spector / Selo: Apple - Emi Odeon / Data de gravação: 2 a 31 de Janeiro de 1969 (Apple Studios, Savile Row) e Janeiro de 1970 e Março de 1970 (Abbey Road Studios, Londres) / Data de Lançamento: 8 de maio de 1970 / Melhor Posição alcançada nas paradas: 1 (Inglaterra) e 1 (Estados Unidos).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Maria Antonieta

Título no Brasil: Maria Antonieta
Título Original: Marie-Antoinette
Ano de Produção: 2006
País: Canadá, França
Estúdio: GMT Productions, Télé-Québec
Direção: Francis Leclerc, Yves Simoneau
Roteiro: Jean-Claude Carrière
Elenco: Karine Vanasse, Olivier Aubin, Marie-Eve Beaulieu, Danny Gilmore, Hélène Florent
  
Sinopse:
Marie-Antoinette (Karine Vanasse) é uma jovem duquesa austríaca, filha da imperatriz Maria Teresa, que é dada em casamento ao futuro Rei da França, Louis XVI (Olivier Aubin). Ela chega a Paris com apenas 14 anos de idade. Após a morte do Rei Luís XV ela se torna Rainha da França, em um dos períodos mais turbulentos da história, com a eclosão da Revolução Francesa. Filme premiado pela Visual Effects Society Awards.

Comentários:
Produção franco canadense, muito bem realizada, que se propõe a contar a história da Rainha Marie-Antoinette (1755 - 1793). A estrutura do filme é bem interessante, quase adotando uma postura de semi documentário. Há uma narração que vai da primeira a última cena, tal como se houvesse alguém narrando um livro de história (ou um conto de fadas, dependendo do ponto de vista). A história de Maria Antonieta já é por si só por demais interessante, pois ela foi o símbolo do Antigo Regime, absolutista, com todos os exageros de luxo e poder, enquanto o povo francês padecia de uma grave crise, com fome e miséria por todo o reino. A rainha e o marido subiram ao poder ainda muito jovens, viviam alienados entre os muros do fabuloso palácio de Versalhes. O resultado de uma situação como essa não poderia ser diferente, pois logo explodiu um movimento revolucionário de consequências trágicas para toda a família real. Obviamente houve erros por parte de Luís XVI e Maria Antonieta, mas o filme também procura mostrar que eles também foram vítimas de injustiças, principalmente em seus julgamentos, verdadeiras farsas que visavam apenas punir e matar os membros da monarquia. Um dos pontos altos desse filme é a atuação da bela atriz canadense Karine Vanasse. Além de ser parecida com a rainha, ela ainda demonstra um grande carisma em cena. Outro ponto digno de nota é que o roteiro procurou colocar nos diálogos trechos de cartas que foram escritas pela própria Maria Antonieta, fazendo com que tudo seja historicamente ainda mais preciso. Um filme muito interessante para quem deseja conhecer melhor a vida da última rainha francesa.

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Angústia

Título no Brasil: Angústia
Título Original: The Locket
Ano de Produção: 1946
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: John Brahm
Roteiro: Sheridan Gibney
Elenco: Laraine Day, Robert Mitchum, Brian Aherne

Sinopse:
A jovem e adorável Nancy (Laraine Day) parece ser a mulher ideal para se casar com o respeitável John Willis (Gene Raymond). O casamento é marcado, mas poucos momentos antes da cerimônia Wills é abordado por Harry Blair (Brian Aherne) que tenta convencer John a desistir do casamento o mais rapidamente possível! O motivo? Nancy seria sua esposa, uma mulher que tem muitos segredos em seu passado, uma mentirosa compulsiva, cleptomaníaca, que inventou toda uma farsa sobre sua vida para enganar seu futuro marido, o promissor John Willis. Afinal quem estaria realmente contando a verdade?

Comentários:
Em filmes do estilo noir é de se esperar que nada seja o que aparenta ser. Um exemplo perfeito encontramos aqui nesse roteiro. A personagem Nancy (interpretado pela linda atriz Laraine Day, parece realmente ser uma dama da sociedade, a mulher perfeita para se casar e constituir uma família. Pelo menos assim pensa seu noivo. Imagine tudo ruir com o surgimento de um perfeito estranho afirmando que sabe todos os podres de seu passado e como se isso não fosse ruim o suficiente ainda revela ser ele o verdadeiro marido dela! O enredo se passa todo na alta sociedade de New Orleans, então a direção de arte é realmente um destaque, com figurinos bonitos e estilosos. A cena em que Laraine Day vestida de noiva não aguenta a pressão psicológica pela qual está passando é realmente um primor de interpretação por parte da atriz (que injustamente não foi indicada ao Oscar, embora todos estivessem esperando pelo grande prêmio da Academia por sua inspirada atuação). "The Locket" ainda traz uma trama inteligente e intrigante, que leva o espectador e ter dúvidas até praticamente seu final. Se você é cinéfilo e gosta de filmes noir não deixe de conferir esse pequeno clássico dramático do pós-guerra.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Tensão em Shangai

Título no Brasil: Tensão em Shangai
Título Original: The Shanghai Gesture
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Josef von Sternberg
Roteiro: Josef von Sternberg, Geza Herczeg
Elenco: Gene Tierney, Walter Huston, Victor Mature
  
Sinopse:
Poppy (Gene Tierney) é uma jovem garota que decide tentar a sorte na distante e exótica Xangai, onde acaba conhecendo Madame Gin Sling (Ona Munson), uma mulher muito determinada que conseguiu sair da pobreza absoluta para o sucesso empresarial ao inaugurar um cassino na cidade. Sir Guy Charteris (Walter Huston) é um empresário estrangeiro que vai a Xangai em busca de novos investimentos. Lá começa a adquirir grandes áreas para seus empreendimentos comerciais. Logo percebe que a casa comandada por Gin Sling tem grande valor empresarial, mas a velha senhora se recusa a vender o seu cassino. O que ele nem desconfia é que tem um passado em comum com a jovem Poppy, que agora trabalha sob as ordens de Madame Sling.

Comentários:
O oriente sempre exerceu um grande poder de atração sobre os americanos em geral. Sabendo disso Hollywood começou a explorar dramas e aventuras passadas em terras distantes como a China ou a Indochina (atual Vietnã). Essa produção da United Artists vai por esse caminho. O filme foi todo rodado em Chinatown, bairro de imigrantes orientais em Los Angeles. A arquitetura e os costumes do local serviram para recriar a Xangai do roteiro. No elenco o forte ator Victor Mature (que iria virar um ídolo nos anos seguintes) fez um dos seus primeiros trabalhos no cinema. O curioso aqui é que o diretor austríaco Josef von Sternberg decidiu deixar os ares de aventura exótica de lado, como queriam os produtores, para investir mais no lado dramático dos personagens principais. Assim o enredo se revela quase como uma novela, onde traições e reviravoltas na trama (incluindo aí a revelação de uma filha desconhecida) dão as cartas na estória. Não é um aspecto muito surpreendente pois a peça que deu origem ao filme chamada "Mother Goddam" era realmente um drama pesado, com muitas lágrimas e momentos de tensão e tristeza. Sternberg sabia muito bem disso e não quis ser desrespeitoso com o autor Geza Herczeg (que gentilmente colaborou no roteiro). A obra original que estreou na Broadway com grande sucesso na década de 1920 inclusive inspirou o lendário Cecil B. DeMille a também realizar sua própria versão do texto em 1929. Em conclusão temos aqui um filme muito honesto em suas pretensões cinematográficas. 

Pablo Aluísio.

Diário de um Pároco de Aldeia

Título no Brasil: Diário de um Pároco de Aldeia
Título Original: Journal d'un Curé de Campagne
Ano de Produção: 1951
País: França
Estúdio: Union Générale Cinématographique (UGC)
Direção: Robert Bresson
Roteiro: Georges Bernanos, Robert Bresson
Elenco: Claude Laydu, Nicole Ladmiral, Jean Riveyre

Sinopse:
Após se formar no seminário um jovem padre é enviado pela Igreja Católica para assumir a pequena e distante paróquia de Ambricourt, no interior rural da França. Lá acaba encontrando um rebanho disperso, desinteressado e pouco religioso. Sua situação é agravada por uma crise existencial que coloca em dúvida até mesmo sua vocação para o sacerdócio. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator Estrangeiro (Claude Laydu). Filme vencedor do Festival de Veneza nas categorias de Melhor Direção (Robert Bresson) e Melhor Roteiro Adaptado.

Comentários:
Um drama delicado e muito bem escrito baseado na prestigiada novela escrita por Georges Bernanos. O local é uma região pobre e distante na França rural do começo do século XX. É justamente para lá que é enviado um padre recém formado no seminário. Assim que chega ele logo percebe que as coisas não serão simples ou fáceis. O povo local anda apático, sem esperanças. A igreja vive vazia e nem mesmo as crianças parecem interessadas em fazer o catecismo. Some-se a isso a precariedade da paróquia que sequer tem energia elétrica. Sem dinheiro ou meios adequados, o jovem sacerdote precisa se deslocar numa velha bicicleta em vielas cheias de lama e buracos. Um dos momentos mais interessantes acontece quando o padre encontra seu superior, um homem já muito vivido pelo tempo que lhe dá uma grande lição de vida ao lhe explicar que bons padres nem sempre são amados por seus fiéis, mas sim respeitados. No fundo, na essência desse enredo, o mais relevante é presenciar o cotidiano de um padre francês que luta contra todas as adversidades possíveis e imagináveis para reafirmar sua fé católica em um mundo melhor. Através de uma narração em off, onde ele escreve suas memórias em um diário o espectador vai conhecendo seus pensamentos e sua visão de mundo. O ator Claude Laydu enriquece o filme ao disponibilizar uma atuação de introspecção, onde ele tenta passar ao espectador todo o conflito interno pelo qual passa em sua mente. Enfim, temos aqui um belo drama com todos os ingredientes que já conhecemos tão bem do prestigiado e intelectualizado cinema franco.

Pablo Aluísio.