quinta-feira, 8 de março de 2007

Cleópatra

É curioso notar como a rainha Cleópatra sempre foi retratada no mundo das artes. Uma mulher poderosa, sensual, extremamente sexualizada e igualmente perigosa. Essa imagem que sobreviveu aos milênios foi construída e muito pelos seus próprios inimigos. Costuma-se dizer que a história sempre é contada pelos vitoriosos. Como ela foi derrotada pelo imperador romano Augusto muito do que temos hoje em mente dessa rainha vem justamente da forma como os romanos a enxergavam.

E isso é meio trágico porque grande parte dessa imagem foi construída em cima de interesses políticos. Era necessário destruir sua imagem pública para que ela jamais tivesse a ousadia de aspirar Roma para si. Até porque ela teve um filho com Júlio César. Esse menino tinha mais direitos do que o próprio Augusto que era apenas o sobrinho de César. Assim antes que ela almejasse chegar em Roma com seu filho foi necessário destruir sua reputação, sua imagem. Por isso a rainha era geralmente retratada como prostituta, amante infiel, mulher fatal, tal como se fosse uma versão de Lilith, a primeira mulher de Adão que destruiu aquele que deveria ser o primeiro casal da criação.

Hoje em dia historiadores procuram pela sua verdadeira personalidade. Sim, provavelmente ela fosse uma mulher perigosa. Ela fazia parte da dinastia dos Ptolomeus. Isso significava que ela era na verdade mais grega do que egípcia. Nessa dinastia era comum as mulheres matarem seus homens em busca do poder absoluto. Irmãs matavam irmãos, pais matavam filhos, filhos matavam pais. Era realmente um banho de sangue. A própria Cleópatra muito provavelmente mandou matar seu irmão mais jovem. Era assim que as coisas funcionavam naqueles tempos da antiguidade.

Porém é fato também que ela tinha muitas qualidades. Era uma mulher letrada, que falava várias línguas. Uma mulher inegavelmente culta. Afinal a tão famosa Biblioteca de Alexandria ficava literalmente em seu quintal, como parte do Palácio real. Ela também teve uma educação primorosa em filosofia, geometria, literatura, poesia e até astronomia. Esses setores eram essenciais entre os gregos que dominaram o Egito em sua época. No jogo da política a rainha também sabia que o sexo poderia ser usado como forma de alcançar o poder. E ela não se furtou disso, usando homens poderosos como Júlio César e Marco Antônio como amantes convenientes no tabuleiro da violenta política do Mediterrâneo. Só não espere que essa rainha tenha sido boba nesses relacionamentos. Muito pelo contrário, ela soube como poucas usar de sua feminilidade para alcançar tudo aquilo que almejava.

Pablo Aluísio.

Um comentário: