quinta-feira, 22 de março de 2007

A Morte de Rock Hudson

Rock Hudson nunca foi uma pessoa muito disciplinada. A coisa piorava quando se tratava de sua saúde. Após ser diagnosticado com AIDS ele foi até Paris para participar de um tratamento experimental e de fato após tomar todas as novas drogas teve uma aparente melhora em sua saúde. O problema é que Rock interpretou isso como uma espécie de cura, de que a AIDS enfim não era tão terrível como todos diziam. Em pouco tempo começou a beber muito novamente e a fumar - duas coisas que os médicos franceses tinham proibido.

A indisciplina em relação ao modo de vida piorou seu quadro de saúde e em pouco tempo Rock perdeu muito peso, ficou com aspecto doentio e aparência envelhecida. Mal se podia reconhecer a imagem do galã de Hollywood do passado. Pior do que isso, Rock deixou de lado a disciplina em relação aos remédios e isso consolidou novamente uma brusca queda em sua saúde. Decidiu ir até o deserto de Nevada, para tirar férias próximo a Las Vegas, mas a viagem foi interrompida pois ele passou muito mal, não conseguindo mais se alimentar direito. Ele havia alugado um velho jipe, para ter uma aventura, mas quase foi parar no hospital por causa disso. Ele não tinha mais condições físicas de fazer algo como aquilo.

De volta a Los Angeles Rock recebeu um telefonema de sua velha amiga Doris Day. Ela queria que ele se apresentasse em seu novo programa de TV. Ter Rock como convidado era seguramente uma garantia de audiência. Além disso reviver a antiga dupla que tanto sucesso havia feito nas telas de cinema no passado certamente iria despertar bastante atenção. O problema é que Rock estava com um aspecto péssimo na época. Muito magro, com olhar doentio, ele mal conseguia andar direito. Doris Day não sabia de seu estado de saúde e fez o convite. Rock não conseguiu dizer não, pois ele considerava Doris sua grande amiga no meio do show business. Ele aceitou o convite e as filmagens foram marcadas.

Quando Rock apareceu no estúdio Doris ficou alarmada com seu estado. Ela não sabia que Rock estava com AIDS e imediatamente pensou que todos aqueles boatos de que ele estaria com câncer eram verdadeiros. O roteiro do programa dizia que Rock deveria chegar e sentar ao lado de Doris Day em um cenário que parecia um belo jardim florido. A cena foi feita e exibida na mesma semana. Acabou sendo o último trabalho de Rock, sua última aparição pública. O aspecto ruim do ator logo alarmou os espectadores e a imprensa sensacionalista começou a suspeitar de que Rock tinha algo muito grave, algum problema de saúde ainda mantido em segredo. Em pouco tempo o boato de que ele seria portador do vírus da AIDS começou a se espalhar. Rock não se preocupou. Ele deveria voltar para Paris para uma nova fase de tratamento, mas não estava com vontade de fazer a longa viagem. Teria o ator desistido de lutar pela vida?

A verdade e que em seus últimos meses de vida Rock Hudson lutou bastante por sua vida. A ciência médica ainda não tinha respostas e nem cura para a AIDS e por isso ser contaminado pelo vírus era mesmo uma sentença de morte. Em busca de alguma saída o ator foi para Paris para participar de um tratamento experimental, só que não houve resultados positivos. Ele foi declinando a cada dia, até que seu médico o aconselhou a voltar para os Estados Unidos para morrer em paz. Os amigos mais próximos de Rock então o colocaram em um avião e ele voltou para Los Angeles.

Rock morreu em sua mansão que ele gostava de chamar de "O Castelo". Era uma bela propriedade nas colinas de Hollywood. Ao longo de muitos anos ele reformou o lugar, ampliando seus espaços, construindo novos quartos e um belo jardim que cuidava pessoalmente. Também providenciou toda a decoração, inspirada na arquitetura do sul da Espanha. Ele adorava o estilo ibérico europeu. Seu amigo e secretário Mark Miller diria sobre a casa: "Rock passou a vida reformando o Castelo. Foram anos e anos construindo. Quando finalmente a reforma ficou pronta, o homem também estava pronto! Ele morreu em seus aposentos que tanto amou".

Foi nesse lugar que Rock esperou pela morte. Não havia mesmo nenhum outro lugar melhor para essa passagem. Rock faleceu no dia 2 de outubro de 1985. Algumas semanas antes ele decidiu assumir sua homossexualidade publicamente, algo que tinha escondido por décadas. Também revelou que estava com AIDS, uma nova doença mortal. Esse ato de coragem de Rock teve grande repercussão na mídia mundial e ajudou muito na conscientização das pessoas sobre a doença, os preconceitos que giravam em torno dela e o incentivo na busca de uma cura pela ciência. Rock determinou que sua fortuna fosse usada numa fundação que levaria seu nome e que teria como objetivo incentivar e promover pesquisas sobre o vírus da AIDS.

Rock não queria ter um túmulo, ele preferia que seu corpo fosse cremado e suas cinzas fossem jogadas no mar. Ele havia sido marinheiro na segunda guerra mundial e nesse último ato de vontade pediu por uma despedida própria de um homem da marinha. O destino final de suas cinzas seria o fundo do oceano. Assim foi feito. Seus mais próximos amigos, Mark Miller e Tom Clark (um antigo amante) cuidaram de tudo. O espólio do ator ainda seria processado pelo último namorado fixo de Rock, Marc Cristian, que exigia uma fortuna por ter morado ao seu lado enquanto Rock definhava com AIDS. Ele alegava que Rock havia lhe escondido a doença, colocando sua vida em risco. Nos Tribunais acabou vencendo a causa, fazendo com que grande parte de sua fortuna pessoal não tivesse o destino que o ator tanto queria em seus últimos momentos de vida. De qualquer foram seus últimos desejos foram atendidos. Rock não queria que o lamentassem. Ele odiava funerais e todos os rituais que o acompanhavam. Era católico, como sua avó. Por isso algumas missas foram rezadas semanas após sua morte. Porém isso era o máximo que ele aceitava em relação ao seu falecimento. Ele dizia que havia vivido uma vida maravilhosa e que sua hora havia chegado. Ele partia dessa vida feliz e agradecido por tudo o que aconteceu.

Pablo Aluísio. 

7 comentários:

  1. Cinema Clássico
    A Morte de Rock Hudson
    Pablo Aluísio.

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  2. Eu me lembro muito bem da morte de Rock Hudson. Teve uma grande repercussão na mídia em todo o mundo. Ele foi o primeiro grande nome do mundo artístico a morrer de AIDS, chamando a atenção para essa nova doença. Isso foi muito antes de Cazuza, Freddie Mercury e todos os outros que seguiram nesse mesmo caminho. E foi um ator importante na história do cinema. Se ele tivesse feito apenas "Assim Caminha a Humanidade" ainda assim seria lembrado para sempre pelos fãs da sétima arte.

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    1. Em Assim Caminha a Humanidade ele, mais um astro que um ator de recursos dramáticos, acaba, ironicamente, com seu tipão natural e imponente, ofuscando o gênio da interpretação, James Dean.

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  3. Foi um grande astro de Hollywood, principalmente nos anos 50, seu auge de popularidade. Seus filmes eram grandes sucessos de bilheteria e ganhou notoriedade como "O homem favorito da América", eleito pelas próprias mulheres da época. Foi um marco na história do cinema americano, não há como negar.

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  4. Publicado originalmente como:
    Histórias de Rock Hudson - Parte 6
    Pablo Aluísio.

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  5. Um fato que deve sempre se ressaltar é que pelo fato do Rock Hudson ter confessado ser portador de AIDS que pararam de chama-la, preconceituosamente, de de"câncer gay", ou seja, uma doença que só atingia a guetos que supostamente levavam uma vida devassa. Devido a importância do Rock Hudson as pesquisas na época foram aceleradas e a AIDS se tornou uma doença comum da qual todos deveriam se precaver, principalmente os hemofílicos, por conta do grande numero de transfusões de sangue a que eram submetidos.

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  6. Havia preconceito entre os próprios gays. No livro sobre a história de Rock Hudson há um fato curioso. Quando ele descobre que está com a doença ele fica perplexo, pois achava que apenas os "gays de beira de cais" em San Francisco, tinham a doença. Ou seja, apenas gays pobres e promíscuos que viviam na rua e na prostituição. Essa era a mentalidade da época.

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