sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A Bruxa

1630. Nova Inglaterra. América colonial. Expulso da vila de colonizadores puritanos ingleses o patriarca William (Ralph Ineson) leva sua família para viver na floresta. Os perigos são muitos. Além das feras escondidas nos bosques, ainda existe a possibilidade de todos morrerem de fome ou frio durante o inverno. William porém acredita que tudo dará certo pois ele se considera um bom cristão, devoto e temente a Deus. As coisas porém logo começam a dar errado. O jovem caçula, um bebezinho, desaparece misteriosamente. O outro filho volta da floresta com um comportamento estranho, como se estivesse possuído. Aos poucos todos começam a apresentar um estranho e sinistro comportamento que resultará em uma provável tragédia no meio daquele local esquecido por Deus.

É cada vez mais raro encontrar um filme de terror tão bom como esse! Por isso os fãs do gênero podem celebrar. "A Bruxa" é um filme inteligente, que joga mais psicologicamente com o público do que apelando para cenas de efeitos visuais vazios ou sem justificativa. Sim, não se engane, temos aqui um dos melhores filmes de horror psicológico dos últimos anos. O diretor e roteirista Robert Eggers soube muito bem por onde procurar as fontes de seu roteiro. Ele estudou velhas peças judiciais da época da inquisição protestante na América colonial e vitoriana e a partir disso escreveu sua estória que é bem aterrorizante e bem escrita. A família que preza pela devoção a Deus e seu isolamento na floresta, longe da vila de colonizadores ingleses, forma certamente o cenário perfeito para tudo o que acontece.

Há também uma bem colocada exploração em torno de símbolos macabros que estão no inconsciente coletivo de todos: o bode, a casa perdida no meio do nada, os objetos hereges, etc. Um dos aspectos mais curiosos vem da figura da própria bruxa, que diga-se de passagem nunca é muito explorada justamente para aumentar ainda mais o suspense em torno de todos os acontecimentos sobrenaturais que vão surgindo. Destaco o momento em que o jovem Caleb (Harvey Scrimshaw), em plena entrada na sua puberdade, é seduzido por uma sensual figura na porta de um casebre. Tudo de acordo com o que você mesmo pode descobrir ao estudar teologia medieval. O mal muitas vezes pode surgir pela beleza de uma imagem irresistível. Há também um ótimo jogo de pistas falsas, sendo que o espectador quase sempre nunca sabe ao certo quais pessoas daquela família estariam realmente sob o domínio do mal absoluto! Seria a filha mais velha, a mãe destruída emocionalmente pela perda de seu jovem bebê ou os gêmeos que agem e se comportam de forma completamente fora do convencional?

Enquanto os males vão se multiplicando todos os personagens parecem caminhar para a insanidade completa. Seria algo realmente vindo das trevas ou apenas um surto psicótico de todos eles, que viviam imersos em uma espécie de fanatismo religioso fora do comum? Todos esses questionamentos são plenamente válidos e vão surgindo em nossas mentes enquanto assistimos ao filme.  Enfim, falar mais seria estragar as várias surpresas do argumento. É muito bom encontrar novamente um filme desse nível que explora o tema das bruxarias do século XVII sem jamais cair em clichês ou soluções baratas. O diretor Eggers foi muito sutil nesse aspecto e por isso realizou realmente uma obra bem acima da média. Excelente filme de terror. Assista sem receios. Está mais do que recomendado.

A Bruxa (The Witch - A New-England Folktale, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, 2015) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Robert Eggers / Roteiro: Robert Eggers / Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw /Sinopse: Durante a era colonial uma família passa a ser atormentada por uma estranha criatura da floresta, algo que pode ser definido como uma bruxa satânica. Filme vencedor do London Film Festival e do Sundance Film Festival na categoria de Melhor Direção (Robert Eggers).
  
Pablo Aluísio.

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