Esse é o último CD do cantor David Bowie. Eu confesso, logo de cara, que nunca fui seu fã. Obviamente sempre respeitei sua importância para o mundo da música, porém não era realmente o tipo de som que tocava em minha lista de preferidos. Talvez minhas reservas em relação a Bowie nem tenha muito a ver com sua música, mas com sua imagem. Aqui estou escrevendo apenas como um ouvinte comum, uma pessoa normal que tem seus gostos pessoais, como qualquer outra. Gostar de um cantor, uma banda ou um artista, tem muito a ver com empatia. Os próprios produtores e executivos do meio musical sabem muito bem disso. Por essa razão também as imagens dos músicos geralmente são minuciosamente trabalhadas, justamente para criar empatia com o maior número possível de pessoas, gerando a partir daí o tão esperado sucesso.
Pois bem, eu nunca consegui criar empatia com David Bowie. Sempre achei sua figura muito excessiva, diria até estrambólica demais da conta (pelo menos em minha forma de pensar). Seu estilo completamente kitsch me afastou de sua música. Eu nunca embarquei em coisas como Ziggy Stardust - até achava original e bem criativo, porém ficava aquela sensação de algo muito parecido com o cinema trash de ficção (esse sim do qual gostava realmente). Suas roupas estranhas, seu cabelo cor de laranja, tudo conspirava para que eu não fosse atrás de Bowie como artista, nunca comprasse seus álbuns ou fosse em busca de seu trabalho para ouvir com maior atenção. É uma questão de puro gosto pessoal e não existe nada de errado nisso. Bowie realmente não era a minha praia.
Dito isso devo dizer que esse seu último álbum me agradou. Bowie, já na beira da morte, procurou se livrar de todos os excessos, de todas as perucas, roupas espaciais, androginia, saltos altos, etc. Aqui ele se mostrou da forma mais simples e honesta possível e talvez por essa razão eu tenha finalmente gostado de seu trabalho. De certa maneira isso já havia acontecido antes, em especial com o cantor Cazuza. Na beira da mortalidade, sob pressão psicológica total, esse tipo de artista parece retomar a sobriedade, tentando dar o melhor de si antes do momento final. Uma das coisas mais curiosas é que nesse último adeus, Bowie procurou pelo mais tradicional, pelo bom e velho jazz.
Um cantor que se notabilizou toda a vida por destruir velhos padrões sonoros e de comportamento acabou abraçando o conservadorismo musical em seu último momento. Como eu disse, a partir do momento que se chega na hora da verdade, muitos se transformam e no caso de Bowie essa transformação foi para melhor. Os dias de Ziggy Stardust também tinham ficado para trás definitivamente e isso fez muito bem a Bowie. Assim esse último CD me fez parar para uma reavaliação. Não vou aqui mentir dizendo que começarei a gostar de seus discos anteriores, isso não tem volta. Eles estão no passado e se depender da minha vontade ficarão lá para sempre. Porém uma coisa é certa, "Blackstar" sempre terá um espaço na minha coleção de CDs, tanto pelo fato de ser o último suspiro de Bowie como principalmente por ser um belo trabalho musical. Esse realmente vale a pena.
David Bowie - Blackstar (2015)
Blackstar
Tis a Pity She Was a Whore
Lazarus
Sue (Or in a Season of Crime)
Girl Loves Me
Dollar Days
I Can’t Give Everything Away
Pablo Aluísio.
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