Estamos na Elvis Week mais uma vez. Então nada mais oportuno do que lembrar alguns momentos imortais de Elvis Presley. A primeira vez que ouvi "My Way" eu ainda era muito jovem, acredito que não tinha nem 15 anos de idade. Sinceramente falando, uma música como essa definitivamente não foi composta para alguém tão jovem. Na época eu ainda estava descobrindo aos poucos a grande riqueza que se poderia encontrar na história da música. É curioso, sempre gostei do som da minha geração, dos artistas e grupos que faziam sucesso na minha juventude, mas ao mesmo tempo comecei a me interessar bastante também pelos grandes ídolos do passado. Nesse retorno a um tempo não vivido acabei descobrindo artistas como Beatles e, é claro, Elvis Presley. "My Way" me veio pela primeira vez na voz de Elvis. Eu comprei o álbum duplo "Aloha From Hawaii" e a canção abria um dos lados do disco. Era uma faixa grandiosa, com rico arranjo (nessa fase de sua carreira Elvis se apresentava com uma orquestra completa como apoio) e me recordo bem que a intensidade de sua interpretação me deixou realmente admirado e impressionado.
É interessante que descobri Elvis de maneira cronológica, ou seja, primeiro curti seus discos de rock dos anos 50, depois fui comprando suas trilhas sonoras pop dos anos 60 e só depois, numa fase mais adiantada, foi que fui finalmente adentrando os anos 70 em sua carreira. Antes do Aloha eu já havia comprado "That´s The Way It Is", meu primeiro disco da fase madura de Elvis. Como eu era bem jovem ainda, confesso que curtia mais a fase roqueira do cantor. O Elvis que me fazia a cabeça era o de sua fase "James Dean de guitarras". Cabelos cheios de brilhantina, topete fantástico e todo aquele visual que marcou toda uma geração da história da música popular mundial. O Elvis trágico, machucado, muito profundo interiormente, que cantava sobre relacionamentos adultos, só vim a descobrir mais tarde. "My Way" também me impressionou pela força de sua letra. Ali estava um homem com muitos anos de vida, fazendo uma verdadeira revisão de seu passado. Era uma mensagem que certamente um adolescente não entenderia completamente, mas hoje, bem mais velho, entendo perfeitamente o que seu autor quis passar. Só com as experiências da vida podemos compreender completamente o que essa letra tenta transmitir.
Outro fato curioso sobre "My Way" em minha vida é que só muito tempo depois, quando comecei mesmo a estudar a história da música, lendo livros e revistas sobre o assunto, é que pude constatar que Elvis não era o primeiro a transformar a bela canção em um momento imortal. Frank Sinatra já havia feito isso antes (inclusive nos EUA ela era bem mais associada a Sinatra do que a Elvis) e indo mais além, a versão original havia se tornado um verdadeiro hino na Europa, na voz de Claude François. Paul Anka escreveu a primeira versão em língua inglesa e Sinatra ganhou um de seus maiores hits. Aliás para quem gosta realmente de música um dos maiores prazeres sobre esse assunto é realmente ler e conhecer sua rica história. Como ela foi composta, os músicos que participaram de sua sessão de gravação original, os produtores envolvidos, os primeiros selos onde foi lançada (algo que atualmente se perdeu já que a música em si não precisa mais de um meio físico para chegar até você).
Eu não sou da época de Elvis ou Sinatra, mas isso pouco importou. Na verdade o importante é ter bom gosto e ao longo da vida procurar desenvolver uma cultura musical, ouvindo de tudo, sem preconceito ou ideias pré concebidas sobre nada. O próprio Elvis era assim, uma das suas frases mais interessantes é aquela que diz que a música não tem cor e nem classificação. Ele estava certo. Se não tivesse pensado assim desde o começo da minha vida teria perdido alguns dos melhores discos que ouvi em minha existência. Gosto também muito de uma frase de John Lennon que dizia "Eu sou uma velha orquestra de Rock ´n´ Roll". Nem preciso dizer que me identifiquei totalmente com essa auto definição. Eu também sou uma velha capa de LP toda surrada. Tem coisa melhor do que isso? Absolutamente não!
Mas voltemos ao clássico. Existem canções que só crescem com o passar do tempo. Embora a tenha conhecida em minha adolescência, ainda muito jovem, "My Way" foi ganhando cada vez mais significado. Os anos passaram e "My Way" foi se tornando cada vez mais relevante. A mais pura verdade é que todos um dia irão se identificar com ela. O passar dos anos deixa sempre essa sensação de nostalgia e reflexão, além de todo um repertório de perguntas sobre as escolhas que fizemos, os caminhos que resolvemos percorrer e as vitórias, arrependimentos e conquistas que vivenciamos. No fundo é a história de nossas vidas, transformada de forma genial em uma das mais belas baladas que já tive o prazer de ouvir. E o Elvis, bem o velho Elvis sempre será imortal, não por causa do sensacionalismo e nem das excentricidades que rodeiam sua vida, mas sim pela emoção e sinceridade que conseguia colocar em cada nota musical. Nesse ponto ele foi realmente único. Ouvir "My Way" com Elvis sempre será um prazer renovado, tal como naquele distante passado quando o ouvi pela primeira vez em vinil. Certas coisas não mudam, não importando o tempo e nem o espaço.
Pablo Aluísio.
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