Hoje publiquei no blog sobre Elvis o texto compilado do álbum Elvis Sings Flaming Star, um disco que poucos dão importância mesmo entre os colecionadores estrangeiros. Há uma certa má vontade em relação a esse álbum por duas razões básicas: foi lançado pelo selo promocional RCA Camden e era, em resumo, uma colcha de retalhos produzida pela RCA com músicas que estavam sobrando em seus arquivos há anos. De novidade apenas uma versão ao vivo com muita energia de "Tiger Man". Nos Estados Unidos o disco na época em que chegou pela primeira vez aos consumidores não despertou muito interesse, mas na Inglaterra ele conseguiu se destacar nas paradas chegando em um fantástico terceiro lugar entre os mais vendidos! Os ingleses sempre amaram o som de Elvis e estavam sempre especulando sobre uma possível turnê do cantor na ilha - algo que infelizmente nunca aconteceria por causa do empresário Tom Parker que, como se sabe, não poderia deixar o país por ser um imigrante ilegal que não podia tirar passaporte! Achou absurdo? Pois é, bem vindo ao mundo de Elvis!
Esse ano de 1968 é emblemático dentro da carreira de Elvis porque hoje em dia é considerado o ano em que ele voltou aos bons e velhos tempos, cantando novamente ao vivo, relembrando seus sucessos no especial de TV que o consagraria novamente. Essa visão é um pouco simbólica demais. Se formos parar para analisar as sessões de gravação de Elvis nesse ano veremos que as coisas não foram bem assim. Durante praticamente todo o ano Elvis fez basicamente o mesmo que estava fazendo nos anteriores: gravando muitas músicas para trilhas sonoras de Hollywood, tentando a todo custo levantar e ressuscitar sua carreira no cinema. Duvida? Então vejamos. A primeira sessão de gravação desse ano aconteceu em janeiro quando Elvis foi a Nashville terminar as músicas do péssimo filme "Stay Away Joe" (um faroeste pastelão, por mais estranho que isso possa parecer!). Claro que nessa sessão em particular ele conseguiu registrar algumas excelentes músicas como "Too Much Monkey Business" e "U.S. Male", mas esse não era o ponto focal principal da sessão.
Depois em março Elvis retornou aos estúdios para a gravação de mais uma trilha sonora medíocre, dessa vez do filme "Live a Little, Love a Little". Essa sessão só não foi um desperdício completo porque afinal de contas nela Presley gravou "A Little Less Conversation" que iria se tornar um hit mundial muitos anos depois com um remix que venderia milhões de cópias ao redor do mundo. Houve também a gravação de "Almost in Love", uma bossa nova, a única composição de um brasileiro (Luiz Bonfá) a ser gravada por Elvis Presley em toda a sua carreira. Pois bem, em junho Elvis foi até a Califórnia para a gravação do NBC TV Special, esse sim um ponto de reviravolta em sua trajetória artística, mas depois disso o que ele fez no resto do ano? Em outubro lá estava Elvis em Hollywood novamente gravando mais trilhas sonoras, dessa vez do faroeste spaguetti "Charro" e da confusa comédia romântica musical "The Trouble with Girls". Trocando em miúdos, mesmo após o NBC, que para muitos significava a volta triunfal do Rei do Rock, ele ainda voltou para a velha fórmula desgastada de sua cambaleante carreira em Hollywood.
A verdade é que em termos de qualidade musical a discografia de Elvis Presley só sofreria mesmo um impacto de verdade no ano seguinte, nas maravilhosas sessões realizadas em Memphis, no American Sound Studios. Ali realmente foi um pico de qualidade sem precedentes. Elvis deixou os temas bobinhos de trilhas de filmes para se concentrar em algo muito mais substancial, canções realmente significativas, relevantes e extremamente bem compostas. Ao invés de ficar posando de eterno adolescente namorador nas telas Elvis finalmente assumia sua idade cronológica, cantando letras sobre relacionamentos e problemas adultos, deixando as musiquinhas de namoricos adolescentes de lado. Afinal ninguém aguentava mais aquilo. Já tinha passado do prazo de validade. Mudar para melhor só aconteceria mesmo dentro do American. Aquele sem dúvida foi um momento crucial em sua carreira. Isso porém aconteceu em 1969 e não em 1968 onde Elvis ainda insistiu em seguir por caminhos equivocados. Todo o resto é apenas uma simplificação simplória da história do cantor.
Pablo Aluísio.
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