quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 2 (1959)

50.000.000 ELVIS FANS CAN'T BE WRONG - ELVIS GOLD RECORDS VOL.2 (1959) - Se "A Date With Elvis" só trazia reprises, "Elvis Gold Records vol.2" reunia o melhor do material inédito que havia sido lançado pela RCA enquanto Elvis estava servindo o exército americano na Alemanha Ocidental. Todas essas canções tinham sido deixadas por Elvis antes dele seguir viagem para cumprir seu serviço militar na Europa. Com Elvis Presley fora do país, a RCA Victor começou a lançar essas músicas inéditas, principalmente em singles (compactos simples). Embora não lhe fosse proibido gravar durante seu período de caserna, o Coronel Parker achou por bem decretar que Elvis não entraria novamente em estúdio para gravações oficiais enquanto estivesse servindo à nação. Publicamente Parker justificava essa atitude afirmando que não queria que Elvis de alguma forma prejudicasse seu serviço militar. Mas não era essa a verdadeira intenção de Tom Parker.

Tudo no fundo não passava de uma estratégia do astuto empresário para valorizar seu artista e forçar a RCA a relançar novamente velhos discos de Elvis, ganhando assim duas vezes pelo mesmo produto, velha tática da raposa. Era muito mais vantajoso para Parker assim, pois não teria custos e receberia todos os lucros livres de novos gastos. Além de ganhar com as velhas gravações o Coronel também supervalorizava as novas músicas, as poucas gravações inéditas deixadas por Elvis antes de partir! Seu segundo grande objetivo era justamente esse mesmo: demonstrar que a ausência de Elvis pesava muito no saldo final das vendas da gravadora. O sucesso imediato de todos esses singles vinha para comprovar que Elvis era um produto valorizado demais para ser descartado quando ele retornasse aos EUA. Com esse tipo de atitude o Coronel acabou ficando com o controle da situação. Para a RCA só restava mesmo lançar as poucas músicas inéditas deixadas por Elvis antes de ir para a Europa em singles, lançamentos promovidos em intervalos regulares, durante a ausência prolongada do cantor, pois só assim eles conseguiriam manter sempre o nome de Elvis nas paradas. E depois de colocar tudo no mercado e perceber que não havia mais nada para lançar, a RCA se apressou em reunir todas as faixas em um só LP.

Este é o disco que acabou servindo aos propósitos da gravadora de Elvis, pois é a coletânea que trouxe pela primeira vez todos os principais singles de sucesso do cantor no período em que ele estava afastado de sua vida profissional. Apesar de ser realmente apenas uma coletânea de sucessos o disco sempre me pareceu ser algo mais. Seria como o álbum que Elvis gravou antes de partir, só que ao invés da RCA lançar logo o disco, ela preferiu antes o dividir em compactos diversos, mesmo que depois tenha reunido tudo em um mesmo produto. Um pouco confuso, não é mesmo? Coisas que só os executivos dessas gravadoras conseguem entender ou justificar. De qualquer forma o disco, visto do ponto de vista de conteúdo, não deixa de ter uma identidade própria, e isso é facilmente comprovável pois ele, sem dúvida, é um disco bem singular, pois está mais para um disco coeso, um verdadeiro álbum da carreira de Elvis, do que para uma simples e mera reunião de hits. Sempre o encarei dessa forma, como um disco próprio da discografia de Elvis e quase sempre procurei ignorar seu título de "Elvis Gold Records Vol.2". Na minha visão isso de certa forma tira um pouco de seu brilho e pode levar os fãs de Elvis a erro, pensando que ele se resume apenas a isso. Nada mais longe da realidade. Vou até mais longe e posso afirmar que, na minha modesta opinião, esse é o melhor trabalho musical de toda a carreira do cantor!

Se Elvis foi o Rei do Rock, essas faixas foram as que melhores capturaram a maturidade do artista em sua fase de roqueiro. Se Elvis definiu o mundo musical dos anos 50 a partir desse novo idioma musical, então não há nenhum momento mais significativo dessa era do que essas músicas. Me explico. Não há como negar toda a importância de seus registros na Sun Records e nem mesmo de suas primeiras músicas pela RCA Victor. Mas aqui temos um artista totalmente ciente de sua importância, totalmente à vontade para produzir um material riquíssimo em termos de valor histórico e musical. As canções foram gravadas basicamente, com exceções, nas duas últimas sessões de Elvis antes dele ir para a Alemanha. O futuro de Elvis a partir dessa fase era incerto. Como ficaria sua carreira depois que ele retornasse do exército? Tudo era uma grande dúvida na cabeça de todos. Talvez por isso Elvis tenha se empenhado tanto, tenha sido tão perfeccionista nas gravações. É fato notório o alto número de takes produzidos e todas as dificuldades que aconteceram até que Elvis se sentisse satisfeito. Do trabalho árduo veio a perfeição. Não se enganem, as canções aqui presentes são simplesmente os melhores exemplos do Rock'n'Roll de Elvis nos anos 50. Essa foi a despedida do Rei do Rock aos melhores anos de sua trajetória artística. Não sou e nunca fui daqueles que acreditam que após sua volta do exército Elvis nunca mais conseguiu produzir material de relevância! Longe disso, mas não posso deixar de negar que os anos 50 foram, sem a mais remota sombra de dúvida, o auge da carreira de Elvis Presley. Muitos o condenam, pois a partir dos anos 60 Elvis iria tomar outros rumos musicais. Não penso dessa forma. Elvis seguiu e trilhou outros caminhos mas o fato dele ter deixado o velho Rock'n'Roll de lado não significa que ele teria sido menor ou teria menos importância por essa razão. Nos anos que viriam Elvis não seria um artista menor, apenas seria diferente. De qualquer maneira esse disco é o testamento final do Elvis Rocker, tão amado, tão odiado, tão debatido, tão estudado, tão controvertido! Um testamento assinado por mais de 50.000.000 de testemunhas que certamente não poderiam estar erradas!

I NEED YOUR LOVE TONIGHT (Wayne / Reichner) - Abrindo o disco temos esta ótima canção pop que possui um ritmo gostoso e fluente. Elvis a gravou em Nashville, a capital da música country and western, no dia 10 de junho de 1958 naquela que foi sua última sessão de gravação antes de servir o exército americano. Essa sessão não contou com as presenças de Scotty Moore e Bill Black, pois estes estavam em dissídio com Tom Parker por melhores salários. Como Parker não aceitou a proposta apresentada, eles resolveram não comparecer para participar das sessões. Com o boicote da banda original de Elvis, o produtor Steve Sholes então convocou os serviços de novos músicos: Bob Moore foi chamado para tocar baixo (sua participação foi tão boa que ele se tornaria efetivo na banda de Elvis nos anos 60) e Hank Garland foi para a guitarra, na vaga deixada por Scotty. Ainda foi chamado o lendário Chet Atkins, não só para tocar no grupo, como também para colaborar nos arranjos. Foi lançada como Lado B do single "A Fool Such As I" em Março de 1959 atingindo o quarto lugar nas paradas. Sem sombra de dúvida foi uma despedida de gala, digna de um verdadeiro Rei.

DON'T (J.Leiber / M.Stoller) - Canção composta especialmente para Elvis. Leiber e Stoller resolveram compor uma música romântica bem ao estilo dele, totalmente adequada para a sua característica vocal. Sem dúvida é um momento especial! Considerada pelos críticos e fãs como umas das melhores baladas românticas dos anos 50, ainda hoje consegue emocionar. Curiosamente a canção foi gravada na sessão que deu origem ao disco de natal "Elvis Christmas Album". Apesar de toda a gravação ter se concentrada no projeto natalino, Elvis conseguiu arranjar tempo para finalizá-la. Esse fato vem demonstrar como Elvis era eficiente dentro dos estúdios nos anos 50. Em apenas 3 dias de gravação ele conseguiu emplacar 12 canções, que iam do gospel ao R&B de raíz. Certamente material não iria faltar para a RCA, muito pelo contrário, como bem demonstra a avalanche de lançamentos durante os primeiros anos da carreira de Elvis. Eram tantas as músicas disponíveis que muitas vezes os próprios singles do Rei competiam entre si. Apesar de toda essa correria e abundância de novos títulos o single não deixou de se tornar um grande sucesso alcançando o primeiro lugar da parada de singles logo no começo de 1958. Dessa forma o compacto "Don't / I Beg Of You" se tornava o sétimo single de Elvis a entrar no topo de sucessos da revista Billboard. Mais um disco de ouro para sua vasta coleção de prêmios.

WEAR MY RING AROUND YOUR NECK (Carrol / Moody) - Muito provavelmente a mais complicada gravação feita por Elvis para esse disco. Na primeira tentativa de gravá-la Elvis teve que produzir 22 takes e mesmo assim não se deu por satisfeito! Como se isso não bastasse o produtor Steve Sholes teve que promover no dia 26 de fevereiro daquele mesmo ano uma pequena sessão onde foram acrescentados novos instrumentos, guitarra e piano. Só depois da música ter sofrido esse overdub foi que Steve Sholes a considerou ideal para lançamento. O mais curioso é que muito desse material ainda não foi lançado. O que é bem conhecido pelos fãs é o material que saiu no disco Essential Elvis vol.3, mas isso é uma pequena amostra do que foi gravado por Elvis. De qualquer maneira a canção foi finalmente lançada como single em abril de 1958 com "Doncha Think It's Time" no lado B, chegando ao terceiro lugar na parada da revista Billboard.

MY WISH CAME TRUE (Hunter) - Outra canção que trouxe muita dor de cabeça para Elvis! Foram 28 tentativas antes de se chegar à versão definitiva. Ela foi gravada nas sessões de setembro na costa oeste. Naquela ocasião o produtor Steve Sholes e o engenheiro de som Thorne Nogar estavam preparados para gravar as músicas natalinas que fariam parte do disco "Elvis Christmas Album". Porém Elvis os lembrou bem a tempo que ainda teria que completar a versão definitiva de "Treat Me Nice" para a trilha sonora de "Jailhouse Rock" ainda naquela noite. Superado esse pequeno impasse, Elvis começou os primeiros ensaios do álbum temático, justamente com a conhecida "Blue Christmas". Depois de completá-la Elvis decidiu que iria aproveitar a presença da vocalista Millie Kirkham para gravar um tema que ele apreciava muito. Talvez por causa das próprias características peculiares da música (grandiosidade, vocalização feminina bem presente) as coisas começaram a emperrar dentro do estúdio. Após várias tentativas Elvis se deu satisfeito com o take 28. Muito provavelmente ele tenha ficado mesmo farto e considerou essa versão como razoável. O cansaço aliado a pressão de terminar tantas músicas em um só dia fez com que Elvis desse por encerrado as tentativas e passasse adiante para agora sim se concentrar no material de natal. "My Wish Came True" possui uma sonoridade ímpar dentro da discografia de Elvis dos anos 50, principalmente pelo fato do cantor ser acompanhado pelo magistral vocal da já citada Millie Kirkham (arranjo pouco comum nos discos convencionais de Elvis dessa década). Como era uma música bem diferenciada do conjunto da obra de Elvis naquele período, a RCA resolveu encaixá-la no Lado B do single "A Big Hunk O'Love". A faixa principal, como todos sabemos, chegou ao topo das paradas, sendo que "My Wish Came True" conseguiu alcançar o honroso 12º lugar entre as músicas mais ouvidas. Nada mal para uma das mais peculiares canções de Elvis.

I GOT STUNG (Schroder / Hill) - Foi a última canção gravada por Elvis antes dele seguir viagem para Alemanha. Esta sessão foi realizada no dia 11 de junho de 1958 nos estúdios da RCA em Nashville. Ao contrário de "Wear My Ring Around You Neck", por exemplo, a sessão de gravação de "I Got Stung" está muita bem documentada, principalmente nos CDs "I Got Stung" e "Totally Stung". No primeiro temos quinze das 24 versões produzidas. Além de todo esse farto material disponível ainda podemos encontrar ótimos takes completos dentro da discografia oficial da BMG como os que podem ser ouvidos nos discos "Today, Tomorrow and Forever" e "Essential Elvis vol.3". Dessa forma o fã mais paciente e persistente chega com certa facilidade na íntegra da lista de todas as versões produzidas por Elvis para essa canção. A música é um dos mais belos trabalhos produzidos por Elvis em estúdio nos anos 50. Ela consegue trazer em sua curta duração todos os elementos que fizeram do Rock'n'Roll o mais popular gênero musical daqueles anos dourados. Para quem quer conhecer a sonoridade verdadeira da primeira geração do Rock americano é indispensável ouvir essa canção. Infelizmente acho que apesar de toda sua relevância a RCA a subestimou, pois ela foi lançada como lado B de "One Night" em outubro de 1958. Na minha visão todas as duas músicas mereciam destaque e nenhuma delas deveria ser renegada para um lado B de single, por mais importante que ele fosse. De qualquer forma a música superou esse pequeno erro que foi cometido em seu lançamento e foi sendo regravada por outros artistas nas décadas que viriam. Esse fato por si só já demonstra como ela é realmente um símbolo inestimável dos primeiros passos desse novo ritmo que nascia. Para reforçar esse pensamento pode-se citar, por exemplo, a ótima versão gravada por Paul McCartney em seu CD "Run Devil Run". Mais rocker impossível.

ONE NIGHT (Bartholomew / King) - A versão original desta canção foi lançada por Smiley Lewis em 1956 pelo selo Imperial. Aproveitando seu relativo sucesso e repercussão, Elvis a gravou logo após na costa oeste em fevereiro de 1957. Não é a melhor canção do disco mas certamente é a mais conhecida entre os fãs. Isso decorre muito do fato de Elvis tê-la utilizado mais de dez anos depois em seu memorável retorno no programa NBC TV Special em 1968 (Comeback Special). Com isso a canção ficou muita associada ao especial, principalmente pela interpretação visceral que Elvis apresentou naquele momento. Com blusão de couro negro, muita energia e disposição, Elvis realmente cravou no imaginário popular a sua performance de "One Night". Já a versão clássica dos anos 50 enfrentou uma série de problemas, entre eles a sua própria letra, que mais uma vez foi considerada ofensiva pelos moralistas de plantão! Sem outra opção Elvis e os produtores resolveram gravar uma versão, digamos assim, "soft" da música. Nada que pudesse chocar os pais dos fãs do cantor. Para evitar criar maiores polêmicas e problemas um dos versos foi alterado para retirar possíveis mensagens implícitas de natureza sexual. Claro que os jovens entenderam muito bem o recado da canção mesmo depois da alteração promovida, mas parece que a leve suavização foi do agrado dos nervosos senhores da moralidade dos anos 50. A versão "hardcore", com a letra imprópria, foi lançada muitos anos depois com o título de "One Night a Sin". Compare as duas e perceba as alterações. Com ou sem censura, com ou sem moralismo descabelado, a versão de "One Night" por Elvis Presley conseguiu chegar ao quarto lugar nas paradas em outubro de 1957. Um verdadeiro pecado, convenhamos.

A BIG HUNK O'LOVE (Schroder / Wyche) - A última música de Elvis dos anos 50 a chegar ao primeiro lugar em junho de 1959. O single, que foi lançado com "My Wish Came True" no lado B, foi além de campeão de vendas indicado para duas categorias no prêmio Grammy: "Melhor performance de um artista Top 40" (perdendo para Nat King Cole) e "Melhor performance de Rhythm & Blues" (novamente perdendo, dessa vez para Dinah Washington). Uma das coisas que mais chamam atenção na carreira de Elvis é a ausência de prêmios Grammy de maior importância. Cantor reconhecido internacionalmente, Elvis nunca ganhou um prêmio dessa natureza, enquanto vivo, pela sua obra mais popular. O Rei do Rock nunca foi reconhecido com esse tipo de premiação por seus álbuns dos anos 50, década onde se concentra sua fase mais roqueira! Tampouco levou algum tipo de prêmio por seus discos dos anos 70, considerados alguns de extrema importância dentro do conjunto da obra de Elvis. Nem sua sessão em Memphis de 1969, considerada pelos críticos um dos maiores momentos de ressurgimento já registrados de um artista na história, mereceu maior atenção pela academia de música! O Grammy só reconheceu mesmo sua importância em relação à sua obra gospel, pois todos os prêmios que lhe foram dados se referiam a esse gênero religioso, que se não é menor, certamente era secundário dentro da carreira de Elvis. Injustiçada ou não pelo Grammy, "A Big Hunk O'Love" acabou se tornando parte do repertório fixo do cantor nos anos setenta, porém como sempre a sua versão "anos 50" em pouco se assemelha ao arranjo dos anos 70. Isso é decorrente do fato de que Elvis modificou a arranjo mais R&B de muitos de seus clássicos dos anos 50 para se adaptar ao estilo Las Vegas, com uso de arranjo de metais (para muitos de forma excessiva em certos momentos!) e outros detalhes que inexistiam nas versões de estúdio nos primeiros anos da carreira dele. Para diferenciar e notar todas as mudanças de arranjo é interessante ouvir as duas versões! Certamente os que preferem o estilo mais cru e enraizado da primeira geração do Rock vão preferir o estilo dos anos 50, enquanto os que admiram mais os arranjos engrandecidos dos cassinos ficarão certamente com o estilo de Elvis dos anos 70. Uma questão de gosto pessoal.

I BEG OF YOU (McCoy / Owens) - Outra que foi gravada na costa oeste em 1957 e que ficou bastante tempo arquivada, isso para os padrões dos anos 50 evidentemente! Tom Parker não gostou muito do resultado final e por isso seu lançamento foi sendo sistematicamente adiado até que ela foi finalmente colocada como lado B do single "Don't". Talvez para agradar Parker ou o próprio Elvis a música acabou tendo duas versões com arranjos diferenciados. Aquele que acabou prevalecendo e que se tornou oficial não é o melhor na minha opinião, pois a outra versão tem muito mais pique e energia. A mais rápida só iria chegar aos lançamentos da gravadora de Elvis muitos anos depois no CD "Essential Elvis - Stereo 57". Essa coleção acabou sendo a percurssora do projeto "Follow That Dream" (FTD) que ao longo dos anos tem lançado vasto material inédito de Elvis, seja através de apresentações dos anos 70, seja pelo lançamento de edições revisionistas de seus álbuns clássicos, seja por meio de discos de takes alternativos. De qualquer forma "I Beg Of You" é um belo exemplo do melhor rock de Elvis Presley nos anos 50. Imperdível.

(Now and Then There's) A FOOL SUCH AS I (B. Trader) - Lançada originalmente em 1952 por Hank Snow pela RCA. Hank foi um nome importante na história de Elvis. Além de colocar o cantor em suas excursões para fazer parte da trupe de artistas do Hank Snow Show, ele foi ainda a primeira pessoa a falar para os executivos da RCA sobre esse novo cantor que estava fazendo grande sucesso no sul do país. Na realidade Hank queria mesmo era se tornar empresário de Elvis, tanto que foi falar pessoalmente com Steve Sholes da RCA sobre a contratação de Elvis pela gravadora. O próprio Elvis estava muito lisonjeado com o interesse de Hank. Mas as coisas não seriam tão fáceis assim. Apesar de todo o interesse, Hank foi colocado para escanteio pelo Coronel Parker que assumiu o posto de empresário de Elvis. Ninguém sabe como Hank desistiu assim tão rapidamente do jovem talento, alguns autores levantam a hipótese que o Coronel usou até de chantagem para fazer Hank Snow cair fora! De qualquer forma ele pulou fora mesmo após ter se encontrado com Parker em um hotel de Memphis. "A Fool Such As I" é uma balada romântica excepcional que marcou toda uma época! Elvis chegou a concorrer a um Grammy de "Melhor canção do ano" por esta música, mas infelizmente, assim como aconteceu com "A Big Hunk O'Love", também não conseguiu ganhar o tão cobiçado prêmio. Apesar de todos seus inegáveis méritos a música foi aos poucos sendo deixada de lado. Um dos raros registros dela ao vivo pode ser conferido no show que Elvis fez em Pearl Harbor no dia 25 de março de 1961. Esse foi um concerto beneficente que Elvis fez em prol dos veteranos da II Guerra Mundial. Quando Elvis apresentou sua "A Fool Such as I" a gritaria foi geral! Essa é uma singularidade bem interessante dessa apresentação, pois Elvis e banda fizeram uma execução bem fiel ao do disco, exceto por uma pequena brincadeira promovida por ele mesmo na segunda parte com a letra original. Outro grande destaque digno de nota é a participação muito especial no estúdio do guitarrista Chet Atkins. Grande músico e um dos grandes nomes de Nashville, Chet colaborou muito no arranjo final da música. Sua vocação de produtor era tão evidente que ele próprio acabou se tornando encarregado de algumas sessões de Elvis nos anos 1960.

DONCHA'THINK IT'S TIME (Otis / Dixon) - Essa canção é bem interessante porque traz uma coisa muito comum nas músicas da primeira geração do Rock americano. A letra obviamente não traz nada de novo, é a velha fórmula de romances adolescentes, declarações apaixonadas, simples banalidades que os jovens diziam para suas namoradinhas. O grande valor de quase todas as primeiras músicas de Rock'n'Roll vem de seu ritmo inigualável. Com ele pode-se até mesmo inverter a verdadeira intenção ou a literalidade das letras escritas. Veja o caso dessa canção: na primeira audição tudo pode até mesmo passar despercebido, mas e a forma como Elvis a canta? Será que a letra já resume tudo mesmo? Claro que os jovens entendiam no estilo insinuante de Elvis a verdadeira intenção por trás da canção. De ingênuo e bobo não havia nada mesmo! A vida de Elvis nesse período não se resumia ao velho esquema "letras inocentes, intenções maliciosas"! Havia também muita correria e viagens para cumprir suas obrigações. Esse foi o caso. Elvis foi praticamente retirado do set de filmagens de seu novo filme, "King Creole" (balada sangrenta, 1958), para completar uma sessão que ficara incompleta! A RCA já estava sabendo que iria ficar um longo tempo sem seu artista principal e por isso sempre que havia possibilidade levava Elvis para o Radio Recorders com a finalidade de, como dizia a gíria dos produtores, "encher a lata", ou seja, deixar mais material arquivado para futuros lançamentos da gravadora durante a ausência prolongada de Elvis fora do país defendendo os interesses do Tio Sam. Se tempo era dinheiro então a RCA não perdeu nem um segundo: a canção foi rapidamente lançada como lado B de "Wear my Ring Around Your Neck", pouco menos de dois meses depois que foi gravada! Mas isso não era tudo! Logo Elvis estaria com as malas prontas para seguir rumo à Europa, onde iria cumprir seu serviço militar junto às tropas da OTAN estacionadas na Alemanha. O cantor deu azar, pois acabou pegando um dos mais rigorosos invernos daquele país. No fundo Elvis era mais uma arma de propaganda do governo dos EUA na "guerra fria", pois ele foi despachado para um posto bem perto da "cortina de ferro". Assim os jovens sem liberdade do leste europeu teriam um símbolo da "liberdade americana" no seu quintal! Boa ideia, não é mesmo? Que tal usar Elvis contra os comunistas? De qualquer forma passe ao lado desses pequenos detalhes políticos e curta o disco pelo que ele tem de melhor: ótimas canções e momentos de uma das mais brilhantes fases da carreira de Elvis Presley.

Ficha Técnica: (One Night / I Beg Of You) Elvis Presley (voz e guitarra) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / The Jordanaires (vocais) / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 23 de fevereiro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood. Ficha Técnica: (Don't / My Wish Came True) Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 6 e 9 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood. Ficha Técnica: (Doncha' Think it's Time / Wear My Ring Around Your Neck) Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / The Jordanaires (vocais) / Tiny Timbrell (guitarra) / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 1º de fevereiro de 1958 - Local: Radio Recorders, Hollywood. Ficha Técnica: (I Need Your Love Tonight / A Big Hunk O'Love / A Fool Such As I / I Got Stung)(voz e guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Hank Garland (guitarra) / / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Buddy Harmon (bongôs) / The Jordanaires (vocais) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes e Chet Atkins / Data de gravação: 10 e 11 de junho de 1958 - Local: RCA Studios, Nashville. 50.000.000 Elvis Fans Can't Be Wrong - Elvis Gold Records Vol. 2 Data de Lançamento: dezembro de 1959 / Melhor posição nas charts: #31 (EUA) e #4 (UK)

Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Setembro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001 / reescrito em junho de 2006.

Elvis Presley - A Date With Elvis (1959)

A Date With Elvis
- Lançado em Agosto de 1959, o LP "A Date With Elvis" reúne músicas do período do cantor na Sun Records juntamente com canções extraídas de algumas de suas primeiras trilhas sonoras, como por exemplo "Jailhouse Rock" (o prisioneiro do rock, 1957) e "Love me Tender" (ama-me com ternura, 1956). Segue basicamente o mesmo critério utilizado pelo disco "For LP Fans Only", ou seja, é mais uma coletânea inventada pelo Coronel Parker e pela RCA para vender novamente material já lançado antes pelo cantor. A única novidade é que essas músicas nunca tinham sido reunidas antes no formato LP, pois eram provenientes de singles e EPs, como no caso das trilhas dos filmes já citados e das canções da época da Sun. Só que dessa vez o mercado não caiu na "estratégia" de Parker e assim como aconteceu com o anterior, "For LP Fans Only", o disco não alcançou o sucesso esperado, chegando somente ao 32º lugar na parada de álbuns da Billboard.

O fato era que a RCA Victor já havia utilizado todo o material gravado por Elvis antes dele ir servir o exército e em desespero de causa lançou este disco, que acabou não agradando aos consumidores e fãs. Todos estavam ansiosos para comprar novos discos de Elvis e não em adquirir mais uma vez o que já tinham. Muitos autores inclusive afirmam que tudo não passou de uma armação de Tom Parker em cima da RCA, levando a gravadora de Elvis a erro, pois a verdadeira intenção do Coronel seria essa mesma, ou seja, para o empresário seria interessante que o disco não fosse bem nas paradas, pois isso iria demonstrar aos produtores da RCA que a renovação do contrato de Elvis não era apenas uma opção, mas sim uma necessidade imperiosa para a empresa. Já que o público queria material inédito, então a RCA não deveria medir esforços para ter novamente Elvis em seu plantel. A necessidade de ter Elvis para a gravação de músicas inéditas iria, com certeza, ser mais um fator de pressão agindo ao lado de Tom Parker. Isso iria certamente pesar muito na renegociação do contrato de Elvis após ele voltar da Alemanha. Talvez o Coronel soubesse que o melhor seria mesmo reunir todas as gravações de Elvis pela Sun Records num único disco. Essa sim seria uma boa maneira de oficializar o lançamento dessas faixas da Sun pela RCA. Mas isso só iria acontecer mesmo muitos anos depois, já no final da carreira de Elvis, com o aclamado "The Sun Sessions".

De qualquer maneira, tudo tem seu lugar na história e esse disco, visto hoje, acabou tendo seu papel dentro da discografia do Rei. O nome do disco deriva do fato do mesmo trazer em sua capa a data do retorno de Presley aos Estados Unidos depois de prestar serviço militar na Alemanha. Era como se Elvis tivesse um encontro marcado com todos seus fãs no referido dia de seu retorno. A "ideia genial" só poderia partir de uma pessoa mesmo: O Coronel Tom Parker, mais uma vez! Em sua vida pessoal Elvis sofreu nesse período a maior perda de sua vida. Sua mãe, Gladys Smith, morreu do coração em Memphis. O cantor era muito próximo a ela e se viu deste modo frente ao maior drama de sua vida. A partir deste ponto de sua vida Elvis iria sofrer uma profunda mudança em sua personalidade, fato que iria se refletir muito em sua carreira musical nos anos que viriam. Segundo o autor Albert Goldman em seu livro "Elvis", foi neste período de sua vida que o Rei do Rock começou a sentir todo o peso negativo da fama e da celebridade, pois ao ver seus dramas pessoais expostos com grande repercussão na mídia, Elvis pela primeira vez sentiu o gosto amargo de ser uma figura pública que poderia ser explorada facilmente pela imprensa marrom. A morte de Gladys teve enorme influência não somente em aspectos pessoais de Elvis, mas também artísticos. No ano que viria Elvis iria deixar a velha imagem de roqueiro rebelde criada em torno dele nos anos 50 e iria promover uma mudança radical em seu estilo musical. Essa guinada nem sempre seria louvada ou celebrada, principalmente pelos seus primeiros fãs do estilo rocker dos anos 50. Para esses, Elvis iria ficar muito açucarado na década que nascia. Esse tipo de pensamento e postura foi muito bem resumido na famosa frase de John Lennon, que declarou ao saber da morte do cantor em 1977: "Elvis morreu no dia em que entrou para o exército!". Estas são as canções do disco "A Date With Elvis" (LPM 2011):

BLUE MOON OF KENTUCKY (Bill Monroe) - Originalmente foi lançado no ano de 1948 pelo próprio autor Bill Monroe, considerado o "pai do Bluegrass". O pequeno single trazia o selo Columbia e teve uma repercussão restrita às paradas ligadas ao gênero country. De qualquer forma ela acabou chamando atenção e ficou sempre em evidência, sendo muito tocada em estações de rádio do Sul. Certamente virou uma das preferidas também de um garoto de apenas 13 anos que sempre estava sintonizando suas velhas estações country em busca de novidades. O nome do garoto em questão? Nem é preciso dizer. Em julho de 1954 chegava às lojas do sul dos Estados Unidos o single "Sun 209" que trazia as duas primeiras canções comerciais interpretadas por Elvis Presley. No lado A "That's All Right" e no lado B, ela mesma, aquela simples baladinha country que tocava insistentemente nas estações caipiras de Memphis. Era a materialização do velho sonho de se tornar cantor nascendo para aquele garotinho que ouvia Bill Monroe no rádio. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada em julho de 1954 contando apenas com Elvis, Scotty Moore e Bill Black. O produtor Sam Phillips sempre afirmava que: "O dia em que eu encontrar um branco que cante como um negro, irei ganhar um milhão de dólares". Essa profética frase iria se tornar verdade quando o próprio Sam resolveu dar uma chance a um dos inúmeros novatos que iam a seu estúdio em Memphis todos os dias tentar uma chance de se tornar artista profissional. Para quem não acredita em sonhos impossíveis, "Blue Moon Of Kentucky" veio para registrar para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música popular mundial, um sonho que se tornou possível para Elvis Presley, pois ele acreditou em sua materialização com convicção. Pois é, "Sonhos são como deuses, nós temos que acreditar neles" já dizia a conhecida frase.

YOUNG AND BEAUTIFULL (A. Silver / A. Schroder) - Canção romântica que foi escrita especialmente para Elvis quebrar os corações de suas fãs adolescentes. Primeiro cantor a possuir um vasto conjunto de fãs clubes organizados nos anos 50, Elvis era considerado pelas jovens dos chamados anos dourados como o "namorado ideal", pelos fãs masculinos como um "modelo rebelde a se seguir" e pelas mães dessa moçada como "uma ameaça aos bons costumes". Embora fosse visto durante os anos 50 como um rebelde e delinquente essa imagem seria alterada profundamente em 1958 quando Elvis foi para o exército. A partir desse momento a imagem de Elvis sofreu uma profunda modificação passando a ser considerado um bom moço para até mesmo para as mães conservadoras de suas fãs mais fiéis. Essa imagem de um Elvis rebelde e transgressor realmente não condizia com a verdade. Talvez por ser polêmico e considerado um sucessor legitimo de James Dean nos anos 50, o cantor era apontado de forma equivocada como o grande incentivador do aumento da delinquência juvenil dos EUA. Um mau elemento, à margem da sociedade. Nada mais longe da verdade. Elvis era apenas um garoto do sul, extremamente ligado em sua família, profundamente religioso e que procurava levar uma vida decente. Obviamente não estava aí para contestar os valores da classe média americana. Era antes de tudo uma pessoa que procurava subir na vida com seu talento. Claro que papéis como o de Vince Everett do filme "Jailhouse Rock" contribuíram e muito para essa visão, mas tudo não passava de marketing dos estúdios. Elvis se dava bem com todos no set e principalmente com suas estrelas. Para contracenar com Elvis em "Jailhouse Rock" (filme do qual essa música foi retirada) foi contratada a starlet em ascensão Judy Tyler. Logo nasceu uma amizade entre Elvis e ela. Ambos eram novatos no cinema e procuravam antes de tudo se consolidar no meio. Mas antes mesmo de se tornar uma estrela de cinema Judy Tyler foi vítima de um destino trágico. Ela morreu logo após as filmagens em um acidente automobilístico.

O fato chocou a todos, e em particular Elvis, que lamentou profundamente o passamento de sua colega de trabalho, ainda tão jovem, talentosa e com um futuro tão promissor pela frente. Não tardou muito para que "Jailhouse Rock" entrasse na lista negra de Elvis. Para evitar ficar deprimido Elvis baniu o filme de sua vida e nunca mais o assistiu. Isso inclusive iria acontecer um ano depois com "Loving You". Nesse filme Gladys Presley, mãe do Rei, aparecia em cena batendo palmas em uma das cenas. Depois que sua mãe faleceu Elvis riscou do mapa também seu segundo filme. Não queria recordar Gladys ali ao seu lado, viva e feliz. Freud Explica!

(You're So Square) BABY I DON'T CARE (Leiber / Stoller) - É outra verdadeira pérola da dupla Leiber e Stoller que foram os responsáveis por quase toda a parte musical do fantástico filme "Jailhouse Rock". Um fato curioso ocorreu na sessão de gravação desta música: o baixista Bill Black não conseguiu executar de forma satisfatória a Introdução da música, então Elvis pegou o contrabaixo de Black e tocou a introdução de forma impecável, sendo esta a definitiva e a que aparece no disco. Curiosamente na cena do filme aconteceu uma coisa engraçada: sem se dar conta Scotty Moore acabou comprometendo a continuidade do filme. Nas cenas em que se mostrava Elvis em close, Scotty aparece sem óculos e nas cenas abertas com o cantor focalizado a uma certa distância, Scotty se apresenta com seus óculos pretos! Obviamente as tomadas de perto e de longe foram filmadas em ocasiões diferentes, porém na montagem final em que as duas cenas são unidas surge o erro de continuidade bem nítido. Apesar desse pequeno pecado técnico a cena em si é ótima, com Elvis animado e dançando em seu peculiar estilo.

MILKCOW BLUES BOOGIE (Arnold) - Esta canção foi gravada inicialmente por Kokomo Arnold em 1953 pelo selo Decca, sendo que em 1946 Bob Willis & his Texas Playboys já a tinham gravado com o título de "Brain Cloudy Blues". A versão de Presley surgiu no mercado como a música título de seu terceiro single pela Sun Records (Sun 215) com "You're a Heartbreaker" no lado B, logo no comecinho de 1955. Ela foi gravada na terceira sessão de Elvis pela pequena gravadora de Sam Phillips contando somente com o trio básico de suas primeiras músicas: ele, Bill e Scotty. A data correta desta sessão é motivo de controvérsia pois alguns autores determinam o mês de novembro e outros, dezembro, não ocorrendo um consenso sobra a data correta. Essa é provavelmente uma das canções mais peculiares que já ouvi. A letra e o arranjo não deixam dúvidas: é uma canção escrita, feita e produzida para o Sul rural americano dos anos do pós guerra. A sonorização abafada e o ritmo estranho podem deixar muitos fãs jovens do cantor surpresos! Mas é esse tipo de canção que tocava nas rádios regionais de Memphis quando Elvis era apenas um aspirante ao estrelado. Vale a pena sentir e ouvir a sonoridade daquela época na voz do artista que melhor representou aquela geração.

BABY LET'S PLAY HOUSE (Gunther) - Outra música da Sun Records presente neste disco. Foi lançada originalmente por Arthur Gunter em 1954 pelo selo Excello. Sam achou que a música se encaixava perfeitamente no estilo de seu novo cantor. Tentando repetir o êxito da versão original Sam pediu a Elvis que relaxasse e se soltasse durante a gravação! O resultado não poderia ter sido melhor, sendo que a música hoje é considerada um das melhores gravações de todos os tempos. Além de símbolo maior dos anos de Elvis na Sun a canção serve também para demonstrar os primeiros passos do Rock'n'Roll nos EUA. Ainda um pouco atrelada ao country and western, o novo gênero ia aos poucos abrindo seus próprios caminhos, trazendo coisas novas, como bem podemos perceber ao ouvir esse registro histórico. Em muitos trechos percebemos nitidamente que não se trata mais de uma canção totalmente country e sim de algo novo, inovador. Esse tipo de sonoridade logo receberia um nome: era o Rock'n'Roll! Imagine presenciar e fazer parte desse grande momento para a cultural pop mundial! Era simplesmente o bravo Rock'n'Roll que estava nascendo naquele exato instante, naquele exato momento, naquele pequeno estúdio de Memphis, TN! A Versão de Elvis Presley foi lançada como single (Sun 217) em Abril de 1955 com "I'm Left, You're Right, She's Gone" no lado B e o mundo nunca mais seria o mesmo! Apesar de muitos desses compactos de Elvis pela Sun Records terem alcançado um sucesso limitado, restrito à região conhecida como "Arklatex", ou seja, Arkansas, Texas, Mississipi e Tennessee, todos perceberam que algo novo e revolucionário estava chegando, que um novo idioma musical estava surgindo! Tanto isso é verdade que os primeiros singles de Elvis pela Sun logo chamaram a atenção dos chefões das grandes gravadoras americanas como a Decca, a Columbia e a RCA Victor. Todos queriam entender esse tipo novo de som que surgia entre a moçada. Um ritmo novo, tocado por jovens músicos, feito para e pela juventude. Nascia a cultura jovem tal como a conhecemos. Longa vida ao verdadeiro Rock'n'Roll.

GOOD ROCKIN'TONIGHT (Roy Brown) - Se "Baby Let's Playhouse" ainda era uma música híbrida, fortemente amarrada em suas raízes de country and western, "Good Rockin Tonight" já era o próprio Rock'n'Roll. Originalmente lançada em 1947, pelo próprio autor no selo DeLuxe, a música já trazia em seu título a gíria que iria dar nome ao novo estilo musical que estava nascendo da fusão entre country, R&B, blues e gospel. Segundo o especialista Peter Guranilck esta é uma das mais perfeitas gravações de Rock'n'Roll de todos os tempos! De fato esta canção é sem sombra de dúvida um dos maiores registros do talento de Elvis Aaron Presley. Ao tomar posse de uma velha canção da década de 40 e adaptá-la aos novos tempos, Elvis certamente estava escrevendo uma das páginas musicais mais importantes de nosso tempo. Até hoje se fica perplexo em saber como apenas três músicos (Elvis, Scotty e Bill) fizeram um som tão completo como este! Nem parece também que tal música foi gravada num estúdio com poucos recursos técnicos. Enfim, poucas vezes podemos presenciar em uma só música tantos elementos identificadores desse novo gênero que iria mudar a face do mundo a partir desse ponto para sempre. Daqui em diante não haveria mais volta! "Good Rockin Tonight" na voz de Elvis Presley foi lançada pela Sun (Sun 210) em setembro de 1954 com "I Don't Care If The Sun Don't Shine" no lado B. Era o segundo compacto simples de Elvis que chegava nas lojas do Sul, dois meses após o lançamento de "That's All Right / Blue Moon Of Kentucky". Depois de seu lançamento a canção virou um ícone da primeira geração do Rock. Um símbolo que nunca mais foi esquecido, tanto que muitos artistas iriam prestar seu tributo a esse momento tão raro e importante nas décadas posteriores! Entre as mais conhecidas versões está a que Sir Paul McCartney produziu em sua New World Tour. Uma versão belíssima desta canção, que inclusive conseguiu capturar toda a sua essência rocker.

IS IT SO STRANGE (Faron Young) - Vejam como Parker e a RCA bagunçavam a discografia de Elvis. Essa canção nada tinha a ver com todas as demais que fizeram parte desse disco! Ela não era da época da Sun e nem muito menos fazia parte de alguma trilha sonora! Assim fica até mesmo complicado explicar como ela veio parar aqui nesse disco! Muito provavelmente ela foi simplesmente encaixada de última hora para completar o tempo necessário para se preencher um álbum, o antigo LP. Apesar de ser considerada uma autêntica "estranha no ninho" trata-se na verdade de uma linda balada romântica, típica dos anos cinquenta. Foi gravada no dia 19 de janeiro de 1957 nos Estúdios Radio Recorders em Hollywood e lançada pela primeira vez no compacto duplo "Just for You" em Abril de 1957, se tornando uma grande sucesso, pois chegou até mesmo a atingir o segundo lugar nas paradas. Belo momento

WE'RE GONNA MOVE (Presley / Matson) - Canção que foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby para o primeiro filme de Elvis, "Love Me Tender". Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivesse músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foram acrescentadas várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! Ken Darby foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".

I WANT TO BE FREE (Leiber / Stoller) - Outra canção composta por Leiber e Stoller para o filme "Jailhouse Rock". Dessa vez o resultado final fica um pouco abaixo da média. Nada que deponha contra o talento dos autores, mas se formos comparar com o restante da trilha sonora fica claro que o resultado fica abaixo do esperado. Novamente Elvis registrou duas versões na madrugada do dia 30 de abril (aliás, toda a trilha sonora foi praticamente gravada na mesma noite). Uma das versões foi utilizada exclusivamente no filme e a outra, oficial, lançada no EP (compacto duplo). Como sempre o Coronel Parker não deixaria a música ficar restrita à trilha do filme. Obviamente ele iria procurar uma forma de lançá-la novamente para ganhar alguns níqueis extras. E foi assim que "I Want To Be Free" foi relançada no disco "A Date With Elvis". Também no mesmo LP o Coronel ainda encaixaria "Baby I Don't Care" e "Young and Beautifull". Parker mais uma vez dava continuidade ao seu lema de vender a mesma coisa duas vezes!

I FORGOT TO REMEMBER TO FORGET (Kesler / Feathers) - Fechando o disco temos mais esta canção da época em que o "passe" do Rei do Rock pertencia à pequena Sun Records de Memphis. Ela foi título do último single de Elvis pela Sun (Sun 223) em agosto de 1955 e que foi logo relançado pela RCA em dezembro de 1955. No lado B "Mistery Train". Ela foi gravada no dia 11 de julho de 1955 com Elvis, Scotty Moore, Bill Black e Johnny Bernero, um dos primeiros bateristas da banda que acompanhava o cantor (o primeiro baterista que trabalhou profissionalmente com Elvis foi Jimmie Lott que só participou de uma sessão na Sun). Os Beatles no disco "Live in BBC" apresentam uma versão muito especial desta música. Era a prova que os Beatles eram profundos conhecedores da música americana e fãs de carteirinha de Elvis Presley.

Elvis Presley - A Date With Elvis (1959): (músicas da RCA Victor) Elvis Presley (vocal, violão, piano e baixo) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Ficha Técnica: ("Jailhouse Rock Sessions") Elvis Presley (vocal e baixo) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Mike Stoller (piano) / The Jordanaires (vocais) / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Produzido por Steve Sholes / - Data de Gravação: Abril e julho de 1957 / Local: Radio Recorders, Hollywood. Ficha Técnica: (músicas da Sun Records) Elvis Presley (voz, violão e guitarra) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Jimmie Lott (bateria) / Johnny Bernero (bateria) / Engenheiro de Som: Sam Phillips / Produção: Sam Phillips / Arranjado por Sam Philips, Scotty Moore e Elvis Presley / Gravado no estúdio Sun Records, Avenida Union, 706, Memphis, Tennessee. Ficha Técnica: ("We're Gonna Move") Elvis Presley (vocal, violão e guitarra) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Arranjos e producão: Ken Darby / Gravada em Agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood. A Date With Elvis: Data de Lançamento: Agosto de 1959 / Melhor posição nas charts: #32 (EUA) e #4 (UK)

Pablo Aluísio - Setembro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001 / reescrito em junho de 2006.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Elvis Presley - For LP Fans Only (1959)

Depois de terminar "King Creole" Elvis foi convocado pelo exército norte americano. Não haveria mais namoros com estrelas de cinema, festas em Hollywood e shows pelo país. Elvis trocaria seu violão por um rifle e um capacete! Dá para imaginar? De uma hora para outra Elvis deixou os mais luxuosos hotéis dos Estados Unidos pela lama da Alemanha. Também não haveria mais gravações pela RCA, ou seja, durante os meses que se seguiriam a carreira do maior ídolo da música americana simplesmente pararia! O jeito foi inventar alguns discos para ao menos amenizar as quedas nas vendas. Com Elvis servindo o exército na Alemanha a RCA resolveu reunir algumas de suas músicas para a composição deste LP. Deste modo aqui temos canções que fizeram parte de trilhas de Elvis como "Poor Boy" do filme "Love me Tender" (ama-me com ternura, 1956) junto de outras do seu período da Sun Records como "That's All Right" e "Mistery Train". Salada geral mesmo.

Uma curiosidade sobre este disco é a não inclusão do nome do cantor na capa e nem na contracapa, o que causou uma certa perplexidade na época. Elvis Presley era tão popular que isto se tornava um mero detalhe. O disco não alcançou o sucesso esperado chegando a um desolador décimo nono lugar nas paradas. O fato de ser o primeiro LP do rei a não chegar ao Top 10 da parada norte americana talvez se explique por este ser um trabalho que só trazia reprises. Seu pouco sucesso não é proporcional à sua qualidade porque sem dúvida este é um ótimo disco. De certa forma foi uma maneira encontrada pela RCA Victor de oficializar algumas músicas importantes da carreira de Elvis que só havia sido lançadas antes em singles da Sun Records. O disco foi lançado nos Estados Unidos em Fevereiro de 1959 e curiosamente não chegou às lojas da Inglaterra na época! Em seu lugar foi lançado no Reino Unido um LP intitulado "Elvis" que possuía uma mistura aleatória de músicas de seu primeiro LP norte Americano com algumas outras canções que, inclusive, estão presentes neste disco. Nesta mesma época Elvis liderava as paradas americanas com dois singles de enorme sucesso, que foram gravadas antes de Elvis partir para a Alemanha: "One Night / I Got Stung" , primeiro lugar em outubro de 1958 e "A Fool Such As I / I Need Your Love Tonight" que chegou ao topo em maio de 1959. As músicas deste "LP exclusivo para fãs" são:

THAT'S ALL RIGHT (Arthur Grudup) - Esta é uma música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Phillips: Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de provar seu talento graças a interferência da secretária de Phillips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "Cara de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "That's All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Em 2003 foi eleita a música mais inovadora da história.

LAWDY, MISS CLAWDY (Price) - Outro grande momento da carreira de Elvis que foi gravado no dia 3 de fevereiro de 1956 nos estúdios da RCA em Nova Iorque. Foi lançada como lado B de um single com "Shake, Rattle and Roll" em Agosto de 56. Era uma das preferidas do Rei do Rock. Na foto ao lado: Elvis desembarca na Alemanha, onde é recebido por uma multidão de fãs!

MISTERY TRAIN (Parker/Phillips) - Foi lançada originalmente em 1953 pelo grupo Jr.Parker & The Blue Flames pela própria gravadora Sun Records. A Versão de Elvis Presley foi lançada como lado B do quinto e último single de Elvis pela Sun Records em agosto de 1955. A partir deste momento o cantor deixava de ser um sucesso regional para se tornar um fenômeno internacional. Todos os compactos lançados pela Sun foram posteriormente relançados pela RCA Victor e este não fugiu à regra. "Mistery Train" é uma das canções mais expressivas da carreira de Presley e a que melhor retrata sua passagem pela gravadora de Memphis. Até hoje ela nos passa um sentimento positivo e feliz perante a vida. Foi lançado um filme chamado "Mistery Train" do diretor Jim Jamursch trazendo uma bela homenagem a Elvis e aos anos 50.

PLAYING FOR KEEPS (Kesler) - Lado B do single "Too Much" lançado em janeiro de 1957 num momento em que a sua carreira estava no auge, na crista da onda. É uma bela canção romântica que com certeza embalou muitos corações mundo afora. Elvis possuía um dom especial de transmitir emoção através de sua música.

POOR BOY (Presley / Matson) - Outra boa canção da trilha sonora de "Love me Tender" (ama-me com ternura, 1956). Para muitos uma música apenas bobinha e sem conteúdo, para outros apenas um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis é a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele.

MY BABY LEFT ME (Arthur Grudup) - Outra de Arthur "Big Boy" Grudup interpretada por Elvis. Ela foi lançada originalmente pelo próprio autor em 1946. A Versão de Elvis Presley foi gravada no dia 30 de janeiro de 1956 em Nova Iorque nas mesmas sessões de gravação que deram origem ao LP "Elvis Presley". Foi lançada como lado B do single "I Want You, I Need You, I Love You" em maio de 1956. Este é um Rock'n'Roll de primeira qualidade trazendo todas as características que fizeram deste gênero o mais popular do século.

SHAKE, RATTLE AND ROLL (Calhoun) - Clássico dos anos 50 que foi imortalizada na voz de Bill Halley and the comets. Ao longo dos tempos esta música foi sendo gravada por diversos outros nomes como Little Richard e os Beatles. A versão de Elvis Presley foi gravada no dia 3 de fevereiro de 1956 sendo lançada como single em Agosto do mesmo ano. Sem dúvida é uma das melhores interpretações do cantor e uma das mais vibrantes músicas da história do Rock.

I WAS THE ONE (Schroder / DeMetrius / Blair / Peppers) - Lado B do single "Heartbreak Hotel" lançado em Janeiro de 1956. O single alcançou o primeiro lugar nas paradas e esta música em si chegou ao vigésimo terceiro lugar na Top 100 da Billboard. É uma terna balada que sem dúvida figura entra as melhores do Rei. Muitos anos depois fez parte de um single em CD.

YOU'RE A HEARTBREAKER (Salle) - Lançada em janeiro de 1955 como lado B do terceiro single de Elvis pela Sun Records. No lado principal o compacto apresentava a canção "Milkcow Blues Boogie". Elvis a gravou em Memphis no final de 1954. Só contou com a participação dos "Blue Moon Boys", ou seja, Presley, Bill Black no contrabaixo e Scotty Moore na guitarra.

I'M LEFT, YOU'RE RIGHT, SHE'S GONE (Keisler/Taylor) - Outro lado B de um single de Elvis pela Sun Records. Esta canção foi lançada junto com "Baby Let's Play House" em Abril de 1955. De certa forma este disco "For LP Fans Only" se complementa com o LP "A Date With Elvis" pois os dois trazem em seu repertório músicas dos primeiros singles de Elvis Pela Sun Records de Memphis.

Elvis Presley - For LP Fans Only (1959): (músicas da RCA Victor) Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Ficha Técnica: (músicas da Sun Records) Elvis Presley (voz, violão e guitarra) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Jimmie Lott (bateria) / Johnny Bernero (bateria)Ficha Técnica: ("Poor Boy") Elvis Presley (vocal, violão e guitarra) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Arranjos e producão: Ken Darby / Gravada em Agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Golden Records (1958)

Nos anos 50 os singles (compactos simples com duas canções, uma no lado A e outra no lado B) eram a verdadeiras estrelas do mundo musical. Ter um disco de sucesso significava antes de tudo ter uma música tocando nas rádios e um single nas primeiras posições da parada. Geralmente esses singles tinham que contar com um grande sucesso para o lado principal e uma canção menos conhecida, mas que fosse boa o suficiente para prender a atenção do consumidor nos famosos "Lados B". Elvis Presley viveu intensamente a "era dos grandes singles". Seus maiores sucessos nunca foram lançados em álbuns e sim em singles, que geralmente ficavam de fora dos LPs. Por quê os singles eram tão importantes nesse tempo? Simplesmente porque eram baratos (custavam menos do que 1 dólar), vendiam muito e caiam como uma luva para as emissoras de rádio, que os usavam como o melhor meio de divulgação para os artistas.

Além disso a produção de singles era relativamente barata, tanto que muitas gravadoras de fundo de quintal surgiram nos EUA por essa época, entre elas a própria Sun Records de Sam Phillips. Como os custos eram baixos não havia tanto risco para um pequeno empresário montar seu próprio selo e arriscar a sorte na esperança de conseguir um grande sucesso nacional. Foi nesse ambiente que Elvis surgiu e despontou. Todos poderiam ter uma chance assim, até mesmo um caminhoneiro de Cia Elétrica, caso tivesse uma boa voz. Nesse mundo dominado pelos singles Elvis reinou absoluto. Nenhum artista conseguiu vender o número de singles que ele vendeu nos anos 50 (nem mesmo os Beatles na década seguinte). Raramente um grande single de sucesso de Elvis vendia menos do que 5 milhões de cópias! Se esse é um grande número ainda hoje imagine há 50 anos atrás! Era uma sucesso enorme, que espantou até mesmo a RCA Victor, que pressionada pela enorme demanda chegou a colocar fábricas inteiras de sua propriedade apenas para produzir singles de Elvis Presley.

Nesse ínterim os LPs (álbuns com 10 ou 12 músicas) eram considerados secundários pela indústria, pois ao contrário dos singles eram caros e não estavam ao acesso de qualquer um, principalmente de um adolescente cheio de espinhas na cara vivendo da mesada do pai. Os álbuns geralmente eram utilizados para as gravações de maior duração como óperas! Não era o meio ideal para um cantor de público jovem, pois muitas vezes esses nem tinham dinheiro suficiente para comprar um Long Playing. A série Golden Records foi bolada pelo Coronel como uma forma de reunir os maiores singles de Elvis em um álbum. Provavelmente se você fosse um adolescente dos anos 50 nem iria comprar esse disco, pois já teria todos os singles de Elvis que foram reeditados aqui. Mas como todos sabemos o Coronel sempre procurava ganhar mais e aproveitar o produto até o esgotamento dele. Então Parker simplesmente uniu todos os compactos campeões em um só álbum.

Além disso Elvis estava para passar por uma grande reviravolta em sua vida pessoal e o Coronel procurava se precaver levantando alguns trocados a mais. Por isso é importante analisar o que estava ocorrendo com Elvis nesta época. No mesmo mês que este LP era lançado (março de 1958) Elvis começava seu serviço militar nas forças armadas norte americanas. Foi o acontecimento mais comentado pela imprensa no período trazendo enorme publicidade para o cantor. De inicio Elvis foi despachado para Fort Hood no Texas e depois completou seu serviço na Alemanha. Ele iria ficar um longo tempo sem gravar e fazer filmes e por isso a RCA resolveu lançar esta reunião de seus principais sucessos. E assim nasceu o disco "Elvis Golden Records". A primeira coletânea dos sucessos da carreira de Elvis Presley reúne músicas que fizeram parte de singles que atingiram enorme sucesso quando lançadas.

Este é o primeiro da série "Golden Records" que iriam contar com mais três discos que seguiam a mesma filosofia. Com a consolidação do LP foi necessário reunir os principais hits da carreira de Elvis neste formato, pois a maioria delas só havia sido lançadas antes como singles. Desta forma estão reunidas aqui verdadeiras pérolas do inicio do Rock'n'Roll e as mais conhecidas músicas do anos cinquenta, pois sem nenhuma sombra de dúvida esta foi a década de ouro da carreira de Elvis. Aqui esta a nata do período antes dele servir o exército, em que o Rei virou a história da música popular pelo avesso O disco "Elvis Golden Records" chegou ao terceiro lugar nas paradas, uma posição muito boa pois o LP só apresentava músicas já lançadas anteriormente. Vamos agora detalhar faixa a faixa todos as grandes músicas que fizeram parte desse histórico álbum

HOUND DOG (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Sem dúvida uma das mais conhecidas músicas de Elvis. Originalmente foi lançada por Willie "Big Mama" Thornton em 1953. A Versão de Elvis surgiu como lado B do single "Don't Be Cruel" alcançando o primeiro lugar nas paradas em julho de 1956. Esse single é o mais vendido de toda a carreira de Elvis. No estúdio "Hound Dog" se transformou em uma das mais difíceis de gravar, levando Elvis e seu grupo a produzir mais de trinta takes! Finalmente Elvis se deu por satisfeito, escolhendo uma das versões como definitiva. No começo Elvis não quis gravá-la, mas como a música havia se transformado em um dos pontos altos de seus shows, o cantor cedeu aos apelos dos executivos da RCA Victor e a gravou em 2 de julho de 56 nos estúdios da RCA em Nova Iorque, os mesmos que havia utilizado para gravar parte das músicas de seu primeiro disco. Nessa mesma noite Elvis ainda gravaria as versões definitivas de "Don't Be Cruel" e "Any Way You Want Me". Uma das razões que levaram Elvis a ter uma certa resistência em gravar "Hound Dog" era o teor sua letra. Obviamente ela deveria ser cantada por uma cantora (de preferência negra, como Big Mama) pois era uma mensagem direta de uma mulher afro-americana despachando seu "homem" por ele ser infiel e mentiroso, apesar de tentar manter uma pose de honesto. Usando de gírias típicas da comunidade negra, Leiber e Stoller tinham essa clara intenção ao escrever sua música. Anos depois Stoller se manifestou: "Eu nunca escrevi o verso 'Well, you ain't never caught a rabbit and you ain't no friend of mine', isso foi escrito por Elvis para tentar disfarçar um pouco o conteúdo do que realmente queríamos dizer. Hound Dog foi feita para ser cantada por uma mulher...mas a versão de Elvis ficou tão legal que ninguém se tocou sobre isso". "Hound Dog" sem dúvida foi um tremendo êxito, mas Elvis a imortalizou mesmo ao apresentá-la no programa de Milton Berle na TV americana. Esse número entrou definitivamente na história e se transformou numa das melhores performances de sua vida.

LOVING YOU (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música título do segundo filme de Elvis, "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957), que foi gravada em três arranjos diferentes: uma versão acústica para uma determinada cena do filme, em balanço blues e a versão clássica, conhecido por todos, lenta e romântica, que está presente neste LP. A razão para tantas versões é a determinação dos diretores musicais da Paramount para que fosse gravada variações diferentes para a aprovação final do estúdio. Além disso deveria haver takes de "Loving You" suficientes para utilizar em material promocional, como trailers, divulgação em rádios, etc. Aliás "Loving You" acabou se tornando um problema para Elvis. Muitos dos takes produzidos nas sessões de janeiro de 57 foram rejeitados pela Paramount. Então Elvis deve que voltar várias vezes aos estúdios para regravar grande parte do material, tanto que a versão definitiva de "Loving You" só saiu mesmo dia 24 de fevereiro. Mesmo assim Elvis não estava completamente seguro de que aquela seria a versão ideal. Mas sem mais tempo a RCA Victor resolveu lançá-la mesmo no single junto com "Teddy Bear". O single, como já foi escrito aqui, fez grande sucesso e novamente mostrou que seus compositores, Leiber e Stoller, se firmavam cada vez mais como os principais escritores de Elvis. A música em si possui melodia e letra simples, ideal para os corações juvenis dos anos cinquenta.

ALL SHOOK UP (Elvis Presley / Blackwell) — Elvis teve a idéia sobre essa música durante um de seus sonhos. Depois a repassou para Blackwell para que ele a transformasse em música. Quando a melodia e a letra ficaram prontas Elvis ainda fez algumas modificações, principalmente acelerando um pouquinho o tempo da canção. Como Elvis estava na ordem do dia, sendo venerado em massa pela juventude americana, quando o single chegou às lojas foi imediatamente transformado em um de seus maiores sucessos. Esta canção alcançou tamanha repercussão entre a moçada que chegou inclusive a virar gíria, entrando para o vocabulário da juventude norte americana da época. Bem gravada, numa ginga e manha toda pessoal, "All Shook Up", apesar de curtinha (menos de 2 minutos de duração) varreu as paradas do mundo inteiro chegando a vários primeiros lugares simultâneos em diversos países (inclusive no Brasil). Elvis alcança uma das mais brilhantes interpretações de sua vida resultando num dos singles mais vendidos de sua carreira. O single alcançou o primeiro lugar da parada da revista Billboard em março de 1957 tendo sido gravada em 12 de janeiro do mesmo ano nos estúdios Radio Recorders em Hollywood.

HEARTBREAK HOTEL (Axton / Durden / Presley) — Tommy Durden era um músico e compositor desempregado morando na Flórida, quando numa certa manhã de um domingo qualquer de 1955 se deparou no jornal local com uma notícia no mínimo inusitada: um homem de trinta e poucos anos havia se suicidado e deixado um bilhete ao seu lado na cama escrito com apenas uma frase: "Eu caminho por uma rua solitária". A polícia local não sabia a identidade do suicida e perguntava no diário lido por Tommy: "Você conhece esse homem?". Durden logo viu que aquilo era tão interessante que poderia dar em música, um Blues é claro! Logo começou a escrever a canção. Como escrevia sempre melhor em parceria procurou no dia seguinte sua amiga Mae Axton. Mae era importante para Durden por duas razões básicas: Ela era uma radialista influente e poderia vender a canção em uma convenção de DJs e também escrevia muito bem. Axton adorou a idéia de Tommy e em poucos tempo já estava ao seu lado melhorando a letra da música. Logo ela sugeria que se esse homem caminhava em uma rua solitária, essa deveria ter um Hotel dos corações partidos! Pronto, a música estava completa! No mês seguinte Mae Axton foi a Nashville para a convenção nacional dos DJs de rádios. Sua principal intenção era vender a música que compôs ao lado de Durden. Chegando lá ela logo conheceu Elvis, que também estava circulando pela convenção. Mae então tocou a música para Presley num demo cantado pelo cantor Glen Reeves. Elvis ouviu e seus olhos brilharam! Era aquele som que ele estava procurando. Ele havia sido contratado pela RCA Victor e estava precisando de novas músicas para a sua primeira sessão de gravação na grande gravadora. Ele e Mae Axton fecharam no mesmo dia. Em troca Mae ofereceu parceria a Elvis como compositor. Elvis agradeceu a gentileza e levou a música consigo para sua primeira sessão na RCA em janeiro. O resultado foi melhor do que o esperado: "Heartbreak Hotel" logo se tornou o primeiro grande sucesso de Elvis em nível nacional quando lançada em Janeiro de 1956 com "I was the one" no lado B alcançando o primeiro lugar simultâneo nas paradas Country, R&B e Pop - um fato inédito até então!. Essa sem dúvida é um dos maiores sucessos de toda a carreira de Elvis Presley, um símbolo e uma marca registrada de seu estilo.

JAILHOUSE ROCK (Leiber / Stoller) - "Jailhouse Rock" é um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. Poucas músicas conseguiram traduzir e representar toda uma época e uma geração como essa. Perfeitamente executada, com ótimo arranjo a canção é uma das mais conhecidas da carreira de Elvis Presley. Nesse dia Elvis resolveu dispensar a participação dos Jordanaires após ter gravado alguns takes com os vocalistas. Elvis acertou, a canção ganhou em ritmo e fluência. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente visceral, tanto que ele mesmo confidenciou depois ter sido essa uma das mais difíceis de acertar. Reconhecido pelos especialistas como o melhor rock gravado por Elvis em toda a sua carreira, a canção até hoje empolga e não envelheceu nem um minuto. Tão preciso e atual é o seu arranjo que até parece que foi gravada ontem. Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um EP (compacto duplo) em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido em 1957. Porém a trajetória de sucesso dessa canção imortal continuou. No 70º aniversário de Elvis a música foi mais uma vez relançada em single para comemorar a data. Não deu outra, a música novamente liderou as paradas, 48 anos depois de ter sido gravada! Imortal é isso aí!

LOVE ME (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Sem dúvida uma das mais belas criações daquela que sem dúvida foi a mais importante dupla de compositores do Rei. Leiber e Stoller compuseram as mais importantes músicas da carreira de Elvis como "Jailhouse Rock", "Trouble" e "King Creole", entre outras. Esta foi feita especialmente para Elvis pois Leiber e Stoller achavam interessante o apego que Elvis tinha por músicas românticas, então resolveram compor uma canção sob medida para o gosto e a interpretação do cantor. Era uma das preferidas dele, tanto que a integrou em seu repertório nos anos setenta estando presente em quase todos os seus discos gravados ao vivo neste período. Também foi lançada num compacto duplo em outubro de 1956 junto com outras músicas de seu segundo LP, onde "Love Me" foi originalmente lançada. A música é uma das mais conhecidas de Elvis dos anos 50, pelo seu romantismo, por sua bela melodia e pela letra apaixonante. Embalou muitos corações apaixonados e serviu de trilha sonora para muitas paixões eternas. Sem dúvida um registro de Elvis em um de seus melhores momentos de estúdio.

TOO MUCH (Rosenberg / Weinman) - Música título de um single lançado em janeiro de 1957 com "Playing for Keeps" no lado B alcançando o segundo lugar nas paradas. O disco foi lançado num momento em que Elvis estava sendo muito visado pela mídia norte americana por causa das polêmicas apresentações dele no Ed Sullivan Show e nos programas de Milton Berle e Steve Allen. Foi gravada em 2 de setembro de 1956 juntamente com as músicas que fizeram parte do segundo disco do cantor, "Elvis".

DON'T BE CRUEL (Presley / Blackwell) - Lançado no single mais vendido da carreira de Elvis Presley, juntamente com "Hound Dog" no lado B. A canção foi uma das mais bem sucedidas parcerias entre Elvis e Blackwell. Esse era um renomado compositor de R&B nascido e criado no Brooklin de Nova Iorque. Em meados dos anos 50 ele foi contratado pela poderosa Hill & Range, que ao longo dos anos iria providenciar muitas das músicas escritas para o cantor. Elvis em diversas entrevistas nos anos cinquenta afirmou ser esta a sua música preferida. Seu produtor na Sun Records, Sam Philips, por sua vez declarou: "Não gostei de Heartbreak Hotel, mas quando ouvi Don't be Cruel eu pensei comigo mesmo: Agora eles descobriram o que fazer com o talento de Elvis". Foi lançada em julho de 1956 atingindo o primeiro lugar rapidamente. Foi durante a apresentação desta música que Elvis foi censurado no Ed Sullivan Show pois os produtores do programa resolveram só o mostrar da cintura para cima! Sem dúvida este ato simbolizou todo o moralismo da sociedade americana dos anos 50. "Don't be Cruel" foi gravada em 2 de julho de 1956 em Nova Iorque

THAT'S WHEN YOUR HEARTACHES BEGIN (Raskin / Brown / Fisher} - Em 1953 Elvis entrou pela primeira vez em um estúdio de gravação. Pagou quatro dólares e saiu com o primeiro acetato de sua vida. No lado principal "My Hapiness" e no lado B, "That's when your heartaches begin". A lenda afirmava que o cantor havia gravado este disco para dar de presente a sua mãe, mas o que Elvis queria mesmo era ouvir como ficava sua voz num disco. Este pequeno acetato ficou perdido por vários anos, sendo que nem mesmo Elvis sabia aonde ele foi parar durante todo esse tempo (o mitológico compacto só foi encontrado após a morte de Elvis com um amigo de ginásio de Presley e lançado pela primeira vez no box "The King Of Rock'n'Roll). Esta versão do disco "Elvis Golden Records", por sua vez, é uma gravada posteriormente por Elvis já como cantor profissional e que foi lado B de "All Shook Up" em março de 1957. A versão original desta música foi lançada em 1950 pelo grupo "The Ink Spots".

(Let Me Be Your) TEDDY BEAR (Kall Mann / Bernie Lowe) - No auge do sucesso de Elvis correu um boato que ele adorava ursinhos de pelúcia. Apesar de não ser verdade o boato ganhou força e de um momento para o outro o cantor se viu num mar de bichinhos dados pelos seus fãs. Em uma entrevista Elvis afirmou que tinha guardado todos em sua casa! Para aproveitar esta história foi composto este grande sucesso, que alcançou o primeiro lugar da parada de singles da revista Billboard com "Loving You" no lado B. O single foi um campeão absoluto de vendas quando foi lançado em junho de 1957. Assim como "Mean Woman Blues", "Teddy Bear" também não fez parte das sessões de gravação da trilha sonora do filme "Loving You". Ela foi registrada dias depois em uma sessão que só foi realizada para Elvis gravá-la. Nesse mesmo dia Presley ainda gravou uma versão "envenenada e maldita" de "One Night" chamada "One Night Of Sin". Esse take alternativo acabou se tornando bem badalado após a morte do cantor. Curiosidade: o "Teddy", nome dado ao ursinho é uma homenagem ao presidente americano Theodore Roosevelt, conhecido por suas caçadas e espírito aventureiro.

LOVE ME TENDER (Presley / Matson) - Música título do primeiro filme de Elvis Presley, que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, 1956). O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A história se passava durante o final da guerra civil norte americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Um deles (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão?

O roteiro gira em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não compromete em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria. Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia.

Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo. Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em adaptação do maestro Ken Darby.

TREAT ME NICE (Leiber / Stoller) - Outra canção deliciosa de Leiber e Stoller sendo lançada como lado B de "Jailhouse Rock". Para essa canção Elvis resolveu gravar duas versões: uma no dia 30 de abril durante as gravações do filme e outra no dia 5 de setembro que acabou se tornando a definitiva e oficial. A primeira foi utilizada durante o filme e curiosamente é considerada por muitos como a melhor. Isso se deve principalmente porque o arranjo da primeira versão é bem mais soft e leve do que a da versão original, mais excessivamente produzida. De qualquer forma as duas são ótimas e podem ser conferidas sem nenhum receio. No filme Elvis fez questão de chamar um dos compositores para participar da cena em que ele a apresenta. Lá está Mike Stoller, atrás de Elvis, fazendo figuração como um dos membros da banda do cantor. Aliás é bom frisar que ele também participou das gravações da trilha sonora em estúdio. Outro grande momento da trilha sonora que é reconhecida, de forma merecida aliás, como uma das melhores de Elvis.

ANYWAY YOU WANT ME (Schroder / Owens) - Lado B do single "Love me Tender". Não faz parte da trilha do filme sendo gravada nas mesmas sessões que deram origem as canções "Dont be Cruel" e "Hound Dog" em julho de 1956. Possui um toque de guitarra típica de algumas músicas dos anos cinquenta. Nota-se até mesmo uma certa estafa na voz de Elvis. Também não poderia ser diferente pois nessa mesma noite ele tinham trabalhado duro para chegar nas versões definitivas de "Don't Be Cruel" e "Hound Dog" (sendo que essa última teve mais de 30 takes gravados!). Sem ter mais fôlego Elvis registrou essa balada e deu por encerrada a sessão.

I WANT YOU, I NEED YOU, I LOVE YOU (Mysels / Kosloff) - Na véspera da gravação desta música o avião de Elvis havia sofrido um pane e se eles estavam ali era por um verdadeiro milagre. Elvis ficou tão nervoso com o acontecimento que só conseguiu gravar esta música durante a sessão. Ela foi gravada em 11 de Abril de 1956 nos estúdios da RCA em Nashville. Foi lançada como single em maio de 1956 junto com "My Baby Left Me" no lado B alcançando o terceiro lugar na parada da revista Billboard. Elvis a apresentou de fraque e cartola no programa de Steve Allen em 1956. Curiosidade: Era uma das preferidas de John Lennon.

Pablo Aluísio - Setembro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Elvis Presley - King Creole (1958)

Trilha sonora do quarto filme da carreira de Elvis Presley. No Brasil foi intitulado como "Balada Sangrenta" e está disponível nas locadoras de vídeo. Este é considerado seu melhor momento no cinema como ator e se tornou o filme preferido do próprio Elvis. De certa forma Presley iria passar o resto de sua carreira cinematográfica lamentando não participar de um filme tão bem elaborado como este. O roteiro foi originalmente escrito para ser estrelado pelo astro James Dean, porém com sua morte o projeto foi cancelado. Pouco depois o produtor Hal Wallis resolveu levá-lo à tela com Elvis no papel principal e Michael Curtiz na Direção. Curtiz foi uma lenda do cinema norte americano tendo dirigido um dos maiores clássicos de todos os tempos: o filme "Casablanca" com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Para tanto foram feitas algumas alterações no roteiro, como a mudança da estória de Danny Fischer que passou de boxeador para cantor nas horas vagas em um club de New Orleans, visando claro, adaptar a inclusão de Elvis no projeto.

"King Creole" (balada sangrenta, 1958) foi um grande sucesso de público e crítica pois vários nomes influentes da imprensa teceram elogios à atuação de Elvis, sendo que este foi um dos pouquíssimos filmes do cantor em que ele não foi criticado severamente. Infelizmente Presley iria deixar seus dias de Marlon Brando para trás e a partir de 1960 iria estrelar várias comédias musicais que não iriam fazer jus ao seu talento, salvando-se neste período poucos momentos realmente memoráveis como "Viva Las Vegas" (amor a toda velocidade, 1964), "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961) ou "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960). "Balada Sangrenta" é o último filme de Elvis antes do cantor seguir rumo à Alemanha, onde iria cumprir seu serviço militar. Estas são as músicas do LP "King Creole" (LPM 1884):

KING CREOLE (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música Título do filme escrita pela dupla Leiber e Stoller. Como este filme é ambientado em New Orleans, os produtores providenciaram um conjunto de metais que caracterizasse o ritmo da Louisiana, o que faz este disco possuir um som único e singular dentro da discografia de Elvis. King Creole sem dúvida é uma de suas melhores trilhas pois a qualidade de suas músicas acompanhou o alto nível artístico do filme. Foram gravadas duas versões diferentes desta canção: uma no dia 15 de janeiro de 1958 e outra no dia 23 do mesmo mês. A versão presente no disco é a segunda. Foi lançada também num Extended Play intitulado "King Creole vol.1" em Setembro de 1958.

AS LONG AS I HAVE YOU (Fred Wise / Ben Weisman) - Música escrita pela dupla que iria compor a grande maioria das canções dos filmes de Elvis nos anos sessenta. Esta foi também lançada no EP "King Creole Vol.1" em Setembro de 1958 atingindo o primeiro lugar na parada norte-americana! Foram gravadas duas versões diferentes: Uma para o filme e outra que iria fazer parte da trilha sonora. Ambas foram produzidas no dia 16 de janeiro de 1958 nos estúdios Radio Recorders.

HARD HEADED WOMAN (Claude DeMetrius) - Esta foi lançada em single junto com "Dont Ask me Why" em Junho de 1958 atingindo o segundo lugar na parada da revista Billboard e primeiro na Inglaterra. Trata-se de um Rock'n'Roll rápido com um acompanhamento de metais que se sobressaem no conjunto. Foi gravada no dia 15 de janeiro de 1958. Aqui está um caso raro no mundo da música, um exemplo perfeito de "Jazz-Rock".

TROUBLE (Jerry Leiber / Mike Stoller) - A melhor música da trilha e também a mais conhecida. Trouble é uma preciosidade composta por Leiber e Stoller em que o ritmo e o conteúdo de sua letra caiu como uma luva para a história do personagem Danny Fisher, um garoto correto que tenta sobreviver numa New Orleans infestada de Gangsters. Esta também foi utilizada no memorável "Comeback Special" de 1968 fazendo parte de sua trilha. Porém sem sombra de dúvida "Trouble" vai ficar imortalizada nesta versão gravada por Elvis no dia 15 de Janeiro de 1958. "Se você procura por encrenca, veio ao lugar certo!"

DIXIELAND ROCK (A Schroder / R Frank) - Deixe-se levar pelo balanço de Dixieland e aproveite esta linda canção que nos leva a um belíssimo arranjo de metais. Todos os momentos deste disco tem por finalidade nos levar a respirar o espírito jazzístico da Louisiana e esta música cumpre seu papel. A canção "Dixieland Rock" foi lançado num single britânico com "King Creole" no lado A atingindo o segundo lugar na parada de Vossa majestade.

DON'T ASK ME WHY (Fred Wise / Ben Weisman) - Abrindo o lado B do disco temos esta canção que foi lançado no único single norte-americano extraído do disco. "Não me pergunte o porquê" de ela ter sido escolhida para compor o compacto junto com "Hard Headed Woman" pois é fato notório que há músicas muito melhores na trilha. Digno de nota no filme é a atuação magistral do ator Walter Matthau, aqui interpretando um vilão, bem distante dos papéis de comediante que o imortalizaram para sempre. Na foto acima: Elvis e Matthau se enfrentam em "King Creole".

LOVER DOLL (S.Wayne / A.Silver) - Deliciosa música que sem dúvida é uma das melhores da carreira cinematográfica do Rei do Rock'n'Roll. Elvis a canta no filme com a finalidade de distrair os clientes e funcionários de uma loja enquanto membros de um grupo de delinquentes furtam alguns objetos! De quebra o Rei encontra o grande amor de sua vida. Fez parte também do bem sucedido compacto duplo "King Creole vol.1". Canção composta para todas as bonequinhas do mundo.

CRAWFISH (Fred Wise / Ben Weisman) - Música que abre o filme e que Elvis divide os vocais com a maravilhosa cantora negra Kitty White. A letra trata de forma singela dos costumes culinários típicos de New Orleans. É o primeiro dueto da carreira de Elvis a aparecer em um disco oficial, posteriormente ele iria dividir os microfones com a estupenda Ann Margret em "Viva Las Vegas" (amor a toda velocidade, 1964) , com Juliet Prowse em "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960), com Nancy Sinatra em "Speedway" (o bacana do volante, 1968) e com Donna Douglas em "Frankie e Johnnie" (entre a loira e a ruiva, 1966).

YOUNG DREAMS (M.Kalmanoff / A.Schroder} - Mais um grande momento do disco que faz jus ao maravilhoso filme que é "Balada Sangrenta". Elvis, ou melhor Danny Fischer, a apresenta no night club num momento especialmente difícil para o personagem. Foi gravada no dia 23 de janeiro de 1958 em Hollywood. Um segundo EP extraído da trilha foi lançado em setembro de 1958 atingindo também o primeiro lugar com esta música incluída nele.

STEADFAST, LOYAL AND TRUE (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Todo colégio norte-americano possui uma "alma mater" que é uma espécie de hino escolar. Pois bem, no filme Danny é desafiado a cantar por Walter Matthau para provar que ele realmente sabia cantar! A lamentar apenas o fato de a trilha só contar com três músicas dos geniais Leiber/Stoller. É um momento muito interessante do disco pois Elvis a canta praticamente sozinho o que faz sua voz se sobressair de forma brilhante.

NEW ORLEANS (S.Tepper / S.Wayne) -"Não há lugar como New Orleans" canta Elvis! Esta é uma ótima despedida para o disco fechando esta trilha com chave de ouro. Esta dupla de compositores iriam escrever praticamente todas as canções da próxima trilha do cantor "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960). Este também um dos maiores sucessos de Elvis no Cinema. Foi gravada no dia 15 de janeiro de 1958 em Hollywood.

Elvis Presley - King Creole (1958): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Ray Siegel (baixo e tuba) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Neal Matthews (baixo) / Bernie Matthinson (bateria) / Gordon Stocker (bongôs) / Dudley Brooks (piano) / Mahlon Clark (clarinete) / John Ed Buckner (trumpete) / Justin Gordon (sax) / Elmer Schneider (trombone) / Warren D. Smith (trombone) / Kitty White (vocal) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes / Gravado estúdios Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 15, 16 e 23 de janeiro de 1958 / Data de Lançamento: agosto de 1958 / Melhor posição nas charts: #2 (EUA) e #4 (UK)

Pablo Aluísio - Agosto de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001.

Elvis Presley - O Elvis Desconhecido

O Elvis Desconhecido
I’ll Never Stand in Your Way - Não é o marco zero na carreira de Elvis Presley, mas é quase isso. Para quem pensa que a pré-história de Elvis se resume ao acetato de "My Happiness / That’s The When Your Heartaches Begin", essa faixa, lançada na coleção Elvis Platinum - A Life In Music, serviu para lembrar a todos que a trajetória de Elvis em seus anos iniciais foi muito mais complexa (e interessante) do que a simples lenda do disco gravado para dar de presente à sua mãe, da milagrosa descoberta “instantânea” por parte de Sam Phillips em relação ao talento musical dele e de seu sucesso relâmpago, “da noite para o dia”. Não foi bem assim, isso é uma simplificação que pode até ficar bonita em um texto com o claro objetivo de impressionar o leitor menos atento, mas que não condiz inteiramente com a verdade dos fatos. Não foi tão fácil assim para Elvis em seu primeiríssimo momento, no nascimento de sua carreira.

As lendas costumam ser simples, mas os fatos históricos são mais complexos. Depois de My Happiness Elvis ainda gravaria um segundo acetato, também de forma amadora, que foi registrado na Sun Records numa clara tentativa dele em chamar a atenção de Sam Phillips para seu talento, para deixar claro a sua existência, para que o famoso produtor da Sun não o esquecesse (se bem que na gravação de seu primeiro acetato, Phillips na realidade nem sequer estava presente!). My Happiness é o marco zero de Elvis Presley em um estúdio, aquela mesma canção da lenda do disquinho dado a Gladys por Elvis em seu aniversário (pura lenda, diga-se de passagem!).

A música, que sobreviveu ao tempo, mesmo com inúmeros problemas de áudio e defeitos resultantes da deterioração natural da única matriz existente, registra um jovem Elvis, quase vacilante, tentando vencer sua timidez e tornando realidade seu velho sonho de ser cantor. É uma faixa que conta apenas com Elvis e sua violão, sem acompanhamento nenhum, sem banda e sem truques de estúdio. Just Elvis. Ela é simples do ponto de vista musical, mas não do ponto de vista histórico. Muito longe de registrar o surgimento do Rock’n’Roll como muitos pensam, My Happiness apenas deixou para a história o momento inicial do nascimento daquele que se tornaria o grande nome dessa revolução musical que iria tomar conta da América e do mundo nos anos seguintes. Naquele momento tudo se resumia no jovem caminhoneiro de Memphis, tentando fazer uma boa gravação e não fazer feio na frente de estranhos, nada mais do que isso. Muito longe do mega astro, do fenômeno mundial, do mito que todos conhecemos hoje.

I’ll Never Stand in Your Way é uma canção irmã de My Happiness. Gravada para completar o segundo acetato de Elvis na Sun (com Casual Love Affair no outro lado) a música ficou muitos anos desaparecida e esquecida. Muitos autores, dentre eles muitos escritores renomados, esqueceram ou ignoraram completamente sua existência e em inúmeros artigos escritos ao longo dos anos, chegaram a fazer uma ponte imediata entre My Happiness e That’s All Right, esquecendo-se completamente desse acetato que, se muito, no final das contas, apenas causou aborrecimentos e desilusões a Elvis quando o gravou na época. Como escrevi antes, a intenção de Elvis ao voltar à Sun e gravar duas novas músicas era muito simples: ele queria ser descoberto por Sam Phillips de uma vez por todas, queria chamar a atenção do dono da Sun, queria causar impacto. Mas, talvez pelo excesso de ansiedade e nervosismo, talvez pela inibição de fazer tudo certo e não errar, de ser perfeito demais, tudo o que Elvis conseguiu naquele dia foi ser ignorado pelo dono da gravadora, que acabou lhe dizendo (como sempre falava a todos os que gravavam em seu estúdio, em uma resposta padrão dada aos músicos que por lá passavam), que deixasse seu telefone com sua secretária.

Tudo estaria muito bom se Elvis já não tivesse deixado seu número antes, quando gravou My Happiness, tempos atrás. Imagine o desapontamento por parte dele! Para quem queria ser notado, descoberto, tudo o que acabou sentindo naquele dia foi uma involuntária demonstração de desânimo e desinteresse por parte de Sam, que nada viu demais nele e na sua música, naquele momento. Sam tinha razão? Elvis, nesse dia em particular, nada demonstrou para impressionar o dono da Sun? Em parte sim, Phillips teve razão em não achar nada demais na performance de Elvis.

Ao ouvir essa faixa hoje, mais de 50 anos depois de Elvis tê-la gravado, notamos certas coisas fascinantes para um admirador do Rei do Rock. Antes de tudo é bom salientar que a qualidade sonora não é boa, todos os problemas de My Happiness se repetem aqui. O ouvinte deve ignorar toda a precariedade de sua qualidade técnica para se deliciar e se sentir ao lado de Elvis na Sun, naquele tarde quente de Memphis. No final das contas isso não tem importância mesmo, principalmente para quem quer conhecer a história de Elvis com profundidade. Todas as relíquias históricas são assim, todas trazem a marca do tempo encravadas em sua essência material. I’ll Never Stand in Your Way é uma baladinha popular daqueles tempos. Elvis está contido, mas transmite bem seu estado emocional, que acaba sendo uma mistura curiosa de timidez excessiva e sensibilidade à flor da pele. O violão é tocado de forma tímida, quase inaudível, porém dentro das possibilidades dele na época.

Curioso notar que a voz de Elvis apresenta variações de volume típicas de quem, em certos momentos, abaixa a cabeça (e consequentemente se afasta um pouco do microfone) para verificar se a posição de sua mão está correta no braço do violão. A letra é simples, mas Elvis a canta com convicção e honestidade. Fico maravilhado a ouvir esse tipo de registro porque podemos notar com muita clareza a clara evolução vocal de Elvis ao longo de sua vida, da voz fininha e acanhada dos primeiros anos ao vozeirão apoteótico de seus momentos finais. A canção em si, emociona ao fã verdadeiro de Elvis Presley, mas não tiro a razão de Sam em não ter notado nada demais naquele dia.

Temos que ter em mente que uma pessoa como ele recebia diariamente muitos cantores à procura de um lugar ao sol. Certamente Elvis foi visto como apenas mais um dentre eles no meio da multidão. Um garoto com um visual estranho, mas que não causou grande impacto naquele dia. Não seria uma simples balada country romântica como essa que iria despertar a atenção de um homem rodado no mundo musical como Sam Phillips. Se Elvis tinha algo especial, não foi naquele dia que ele o mostrou a Sam. Na intenção de não errar, tudo o que Elvis conseguiu foi ser ordinário, comum. Como todos sabemos Elvis só seria notado quando trouxesse algo extraordinário, que fugisse dos padrões musicais de seu tempo. Isso só iria acontecer mesmo na próxima vez em que Elvis colocaria os pés na Sun. Nesse dia Elvis sentiu que para ser notado era melhor ser diferente, se transformar em algo novo, revolucionário. Foi na sessão seguinte que Elvis finalmente fez história e mudou o rumo da cultura popular do século XX. Mas essa é uma outra história...

Pablo Aluísio - abril de 2006

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Christmas Album (1957)

Elvis Christmas Album
- Em 1957 Elvis já havia se tornado uma celebridade internacional e um sucesso incontestável. Havia estrelado três filmes de enorme êxito comercial, "Love Me Tender" (ama-me com ternura, 1956), "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957) e "Jailhouse Rock" (o prisioneiro do rock, 1957) e estava liderando a parada dos Estados Unidos com três singles que se revezavam no primeiro lugar: "All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin", "Teddy Bear / Loving You" e "Jailhouse Rock / Treat Me Nice". Além disso estava em primeiro lugar também com o Extended Play (compacto especial com cinco músicas) contendo toda a trilha sonora do filme "Jailhouse Rock". Como se tudo isso não bastasse havia ainda atingido a segunda colocação da Top 100 da Billboard com o single "Too Much / Playing For Keeps".

Realmente ele estava na crista da onda e num dos mais férteis períodos de sua carreira. Porém nem tudo eram flores pois Elvis estava sendo atingido de modo implacável pela imprensa norte americana, que o criticava em diversos artigos. A questão era que Elvis era chocante demais para a época e a revolução causada em razão de seu estilo musical não havia sido ainda compreendida pelos jornalistas dos anos 50. Vendo toda esta situação o empresário de Elvis, o Coronel Tom Parker, pensou num modo de melhorar a imagem de seu pupilo perante o setor mais reacionário da sociedade americana. E foi visando este objetivo que o Coronel e os executivos da RCA bolaram este disco natalino que procurava antes de tudo melhorar a situação de Elvis perante o público conservador. Como o final do ano se aproximava, nada melhor do que colocar um produto "familiar" com o nome do cantor no mercado. Elvis torceu o nariz! Músicas de natal!? Afinal qual era a do Coronel?! De qualquer forma Elvis acabou aceitando, até mesmo porque até aquele momento tudo o que tinha feito sob a orientação de Tom Parker tinha dado certo. Como não se deve mexer em time que está ganhando...

A imprensa não tardou a descobrir os planos do próximo disco do Rei do "Rock" e logo começou a satirizar Elvis pelo fato dele estar em estúdio gravando "cafonices" de natal! Essa onda de notas ruins até mesmo chegou a balançar o cantor, afinal será que o Coronel havia pisado na bola com a idéia desse disco? "Elvis Christmas Album"?! Tudo parecia um pouco forçado e fora de propósito mesmo! E o pior: não tinha nada a ver com a imagem de roqueiro rebelde construída por Elvis em seus primeiros anos. Parker rapidamente acalmou seu cliente com a seguinte frase: "Filho, eles vão se arrepender de terem escrito isso quando estivermos no primeiro lugar nas paradas! Pode confiar em mim garoto!" De qualquer forma as músicas já estavam gravadas e tudo o que restava a Elvis e aos caras da banda era esperar para ver o resultado em vendas quando o final do ano chegasse. Não havia mais como voltar atrás! Ou o disco se tornava um sucesso ou então fracassaria e humilharia completamente Elvis e sua bem consolidada imagem de rebelde sem causa. Obviamente Tom Parker estava pensando na parcela da população americana que detestava Elvis Presley e o que ele representava. Em poucas palavras: Parker queria inverter e limpar a imagem de Elvis. Já que as adolescentes e jovens já estavam conquistadas, havia chegado o momento de ganhar também a confiança das mães de suas fãs, dos pais desconfiados e dos reacionários de plantão. Parker não iria se contentar apenas com o jubilo juvenil, ele queria mais... queria a outra fatia do bolo, a outra parte da sociedade americana, essa parcela influente e principalmente rica, que iria ampliar os horizontes musicais de Elvis e trazer muitos dólares para ele e para as organizações Presley. E se para conquistar os coroas e quadradões fosse preciso bolar idéias como um disco de natal para Elvis, então que assim fosse. Tretas de Marketing?! Para Parker não, era apenas uma "ampliação de mercado", por assim dizer.

O disco foi lançado em novembro de 1957 e Parker novamente estava certo: o álbum explodiu em vendas e rapidamente chegou ao primeiro posto das principais paradas como a da revista Billboard. Para não perder o pique o Coronel ainda reservou em várias rádios importantes espaço exclusivo no horário nobre apenas para tocar o disco. Alguns fãs ficaram tenebrosos com o possível resultado. Porém essa desconfiança não durou muito, pois quando o disco chegou em suas mãos eles puderam perceber que Elvis não havia renegado seu passado e nem jogado fora o seu legado rocker. Elvis impôs seu estilo nas músicas e conseguiu gravar os primeiros "rocks de natal" da história. Apesar de toda a pressão e desconfiança assim que o disco chegou nas lojas vários articulistas que o haviam atacado anteriormente reconheceram que o LP possuía inegável valor artístico. Deram a mão à palmatória! As músicas eram bem gravadas, arranjadas e produzidas e apesar do tom nitidamente conceitual o disco poderia ser ouvido como uma boa obra pop, ideal para os jovens e pessoas mais velhas, e cujo rótulo de "cafona" não se enquadrava. Foi uma jogada de risco e sem dúvida surtiu algum efeito positivo. Tom Parker era um jogador nato e de vez em quando gostava de correr riscos. Pelo menos dessa vez ele havia conseguido vencer na roleta e ficar dentro do jogo. O álbum de natal de Elvis Presley é sem dúvida um dos grandes discos do Rei do Rock nos anos 50. Estas são as músicas do LP "Elvis Christmas Album" (LOC 1035):

SANTA CLAUS IS BACK IN TOWN (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Blues composto pela dupla de compositores mais importante da carreira de Elvis: Leiber e Stoller. Essa canção foi escrita especialmente para Elvis sob encomenda de Tom Parker. Com destacado acompanhamento dos Jordanaires esta canção tem bom ritmo e desenvolvimento. Ela foi escrita praticamente às pressas depois que o Coronel divulgou seu projeto de colocar o Rei do Rock para cantar músicas de natal. A correria não prejudicou os resultados, apesar do baixista Bill Black ter sido criticado abertamente dentro dos estúdios por errar durante as sessões. Blackbird, como era apelidado, não era considerado um grande músico, chegando Sam Phillips a dizer que: "Bill Black era o pior baixista do mundo, tecnicamente falando, mas sabia fazer um slap como ninguém"! Quando esses atritos surgiam dentro dos estúdios Elvis procurava descontrair e melhorar o ambiente. Não era essa a primeira vez que Black falhava nas gravações e certamente nem seria a última, pois isso já tinha acontecido antes na gravação de "Baby I Don't Care" da trilha sonora de "Jailhouse Rock". Não dava para fazer boa música em um clima de tensão segundo a visão de Presley. Assim ele soltou mais uma de suas piadas e o clima geral dentro dos estúdio melhorou rapidamente. Pegando o embalo na animação promovida por ele, Elvis fez uma pequena brincadeira em cima da letra e não dispensou a inclusão de uma de suas paixões na música ao criar o seguinte verso: "You're gonna see me comin' in a big black cadillac". Apesar da sutil diversão a inovação de Elvis foi incorporada na versão oficial que saiu no disco, fazendo com que a letra original de Leiber e Stoller fosse modificada. Esse fato já havia acontecido antes quando o próprio Elvis mudou a letra de outra música de Leiber e Stoller: "Hound Dog". Apesar de adorar as canções da dupla, Elvis também não perdia a chance de dar seu toque pessoal nelas.

WHITE CRISTMAS (Irving Berlin) — Composição clássica do grande compositor norte americano Irving Berlin, considerado por muitos especialistas como um dos maiores escritores musicais daquele país. A canção, composta durante a década de 1940, foi sendo gravada diversas vezes por vários interpretes diferentes ao longo dos anos (sendo que a primeira versão foi lançada em 1942 por Bing Crosby). Cada um deles procurou imprimir seu toque pessoal e assim a música se incorporou definitivamente na cultura musical dos EUA, tanto que ainda hoje faz parte do repertório obrigatório de Natal que embala os norte americanos durante esta época do ano. Uma rara interpretação de Presley sobre uma música de Berlin, pois esse era um compositor muito mais gravado pela velha guarda, como Sinatra por exemplo e não se encaixava muito bem nos discos de um cantor como Elvis, que era um ídolo jovem nos anos 50. Tanto isso era uma verdade que a canção ainda seria lançada no disco natalino de Frank Sinatra, "A Jolly Christmas".

HERE COMES SANTA CLAUS (Gene Autry / Haldeman / Melka) — Ponto alto do disco e talvez a melhor música deste trabalho. Divertida, leve e ótima, a canção é um grande prazer sem culpas. Originalmente gravado pelo cowboy cantor Gene Autry nos anos 40, a melodia foi sugerida a Elvis pelos próprios executivos da RCA Victor, que já tinham os direitos sobre a música. Novamente Elvis teria que se superar e recriar uma antiga canção para os novos tempos. Mais uma da velha guarda, Elvis aqui procura antes de tudo modernizá-la e adaptá-la para melhor ser digerida por seu público jovem. Assim Elvis acrescenta um sabor novo e moderno a uma antiga música de natal. Foi lançada também em um compacto duplo denominado "Christmas With Elvis" juntamente com outras músicas deste LP em dezembro de 1957.

I'LL BE HOME FOR CHRISTMAS (Kent / Gannon / Ram) — Segue a mesma linha das outras canções deste disco. Como destaque pode-se citar a melodia e vocalização agradáveis. Foi lançada em um segundo compacto duplo extraído desse LP juntamente com outras músicas natalinas denominado "Elvis Sings Christmas Songs" em dezembro de 1957. A grande surpresa referente a esse EP foi que o mesmo acabou, sem pretensão nenhuma, atingindo o primeiro lugar nas paradas, coroando ainda mais o projeto de Parker e da RCA em colocar Elvis para cantar canções de natal! Aliás essa foi a última música gravada por Elvis para o disco no dia 7 setembro de 1957 no Radio Recorders

BLUE CHRISTMAS (Billy Hayes / Jay Jonhson) — Outro sucesso dos anos 40 cantada por Elvis neste disco. O Rei ainda apresentaria uma nova versão dessa mesma música no histórico "NBC TV Special" (Comeback Special) em 1968. A versão em questão pode ser conferida na respectiva trilha do especial de TV que trouxe o Rei de volta as apresentações ao vivo depois de uma longa ausência proporcionada pela série de filmes protagonizados por ele nos anos sessenta. Aliás os planos do Coronel Parker para esse especial visavam colocar não apenas uma música de natal na apresentação, mas todas elas! O plano inicial de Parker era fazer um programa inteiramente com canções natalinas. Inclusive chegou a sugerir a péssima idéia de vestir Elvis de Papai Noel! Imaginem o ridículo da cena! Dessa vez Elvis o ignorou pois suas sugestões não tinham mesmo o menor cabimento e nada estava mais longe do que ele e o produtor Steve Binder tinham em mente. Elvis sabia que o especial era essencial para ele, pois era a sua grande chance dar a volta por cima e não poderia ser desperdiçada de jeito nenhum. De qualquer forma "Blue Christmas" acabou entrando na edição final do programa apenas para acalmar os ânimos do velho empresário.

SANTA, BRING MY BABY BACK (Aaron Schroder / Claude DeMetrius) — Fechando o Lado A temos esta música em que o Rei pede a Papai Noel (Santa Claus) que ele traga sua pequena de volta aos seus braços. As músicas deste LP possuem um lugar próprio dentro da vasta discografia do cantor porque de certa forma expressam a inocência da sociedade americana dos anos cinqüenta, sentimento este que não iria sobreviver nos loucos anos sessenta. Se bem que nos bastidores dos estúdios havia de tudo, menos inocência. Novamente durante as gravações estourou uma nova crise entre o Coronel Parker e os compositores Leiber e Stoller. Tudo por causa de um evento sem maior importância. Elvis interrompeu as gravações das músicas natalinas para gravar uma música da dupla que ele havia encomendado durante as filmagens de "Jailhouse Rock". A canção se chamava "Don't" e foi gravada sem o conhecimento prévio de Parker. O Coronel quando soube da existência da gravação explodiu: "Pode dizer a esses caras que da próxima vez que eles levarem alguma música a Elvis sem falar comigo antes, estarão fora da carreira do garoto!" Esse fato demonstra duas coisas: a primeira era o medo que Parker tinha de perder o controle sobre a carreira de Elvis e a segunda era a forma como ele comandava a vida profissional (e diga-se de passagem também pessoal) de Elvis com mãos de ferro.

O LITLE TOWN OF BETHELEM (Redner / Brooks) — Canção em que o vocal de Presley se sobressai, expressando em notas musicais todo o sentimento e significado presentes no conteúdo da letra. Elvis tinha um sentimento religioso muito forte que se exteriorizava em músicas como essa. O acompanhamento de seus músicos é bem sutil, só o necessário para o cantor se expressar através de sua arte. De todas as músicas natalinas do LP essa sem dúvida é a mais intimista e introspectiva. O arranjo por sinal segue completamente o gênero Gospel, com o uso de órgãos e vocais em coral. Elvis por sua vez está em um bom momento, contido e concentrado, tudo resultando em uma agradável vocalização em quase capela. Merece ser redescoberta pelos novos fãs. Antes tarde do que nunca: o arranjo foi inteiramente creditado a Elvis.

SILENT NIGHT (Franz Gruber / Joseph Mor) — A última faixa natalina do disco. Esta é a famosa canção alemã de natal "Noite Feliz", conhecida mundialmente. Para criar o clima adequado durante as gravações o produtor Steve Sholes resolveu trazer para dentro do estúdio uma enorme árvore de natal! Elvis até mesmo brincou com o fato pois as gravações foram realizadas em setembro e não durante o período natalino. De qualquer forma valeu pela intenção, mesmo que inocente, de Sholes. Sem dúvida "Silent Night" é um dos momentos mais belos de toda a carreira de Elvis, sua versão é belíssima e faz jus a este clássico natalino. É uma pérola de natal, sendo um dos pontos mais emocionantes de todo o disco. Sem dúvida um grande momento do Rei.

PEACE IN THE VALLEY (Thomas A Dorsey) — Em Abril de 1957 Elvis lançou um compacto duplo contendo apenas músicas Gospel intitulado "Peace In The Valley". Era a primeira vez na carreira de Elvis em que ele dedicava todo um disco apenas para músicas religiosas. Assim Elvis se posicionava como um artista que não negaria suas origens, as suas raízes. O Gospel é parte fundamental na sua formação musical, o gênero musical por excelência na gênesis de sua própria musicalidade. O compacto foi bem sucedido em seu lançamento e de certa forma abriu portas para Elvis, pois desde essa época ele almejava o sonho de gravar um álbum inteiro apenas com suas canções religiosas preferidas, coisa que faria em 1960 com "His Hand In Mine". Como "Elvis Christmas Album" só possuía oito canções, o Coronel Parker resolveu incluir todas as músicas do projeto "Peace In The Valley" para completar cronologicamente o LP. E assim foi feito. Esta é a canção que deu título ao compacto e foi lançada originalmente em 1937 por Mahalia Jackson. Outra famosa versão surgiria ainda em 1951 com o cantor Red Foley. Foi essa versão aliás, uma das preferidas de Elvis, que o fez gravá-la novamente em estúdio. O cantor inclusive fez questão de apresentá-la ao vivo na televisão americana durante os anos 50 no programa de Ed Sullivan.

I BELIEVE (Drake / Graham / Shirl / Stillman) — A segunda música presente no disco que fez parte de "Peace In The Valley" (EPA 4054). Extremamente emocional para Elvis, a música ganha em grandiosidade e emoção, principalmente porque notamos nitidamente como ele se entregava completamente, de corpo e espírito, a esse sentimento religioso. Música Gospel sempre teve um significado muito grande para Elvis, provavelmente foi o primeiro tipo de canção que ele ouviu, nos cultos da assembléia de Deus, do qual fazia parte. Tinha um carinho especial por elas tendo gravado três discos exclusivamente com este gênero musical no decorrer de sua carreira: "His Hand in Mine" em 1960, "How Great Thou Art" em 1967 e "He Touched Me" em 1972. Curiosamente todos os prêmios Grammy da carreira de Elvis Presley lhes foram dados por trabalhos religiosos!

TAKE MY HAND PRECIOUS LORD (Thomas A Dorsey) — Outra que faz parte de "Peace In The Valley". "Take My Hand Precious Lord" foi particularmente complicada de finalizar. Depois de várias tentativas Elvis se deu por satisfeito e após ouvir todos os takes da sessão escolheu a que melhor lhe agradava. Mas intimamente, como confidenciou a Scotty Moore, não ficou muito certo sobre a escolha. Isso demonstra como Elvis trabalhava fixamente sobre uma canção até achar a versão definitiva. Estas quatro canções incluídas em "Peace In The Valley" foram a materialização de um dos sonhos de infância de Elvis, pois desde de criança ele almejava ser cantor de músicas religiosas. Mas de sua infância Elvis também trouxe outra ambição, essa bem menos, digamos, sacra. Na infância, ao mesmo tempo em que sonhava brilhar no mundo gospel americano, Elvis guardava também outra ambição: ser patrulheiro rodoviário! Aliás ao longo dos anos ele alimentou esses dois sonhos, o primeiro ao cantar várias canções religiosas em seus discos e o segundo colecionando uma quantidade incrível de insígnias policiais.

IT IS NO SECRET (Stuart Hamblem) — A última canção do LP é outra que também foi retirada de "Peace In The valley". A versão original foi lançada em 1950 pelo grupo Bill Kenney of the Ink Spots & The Song Spinners. A versão de Elvis Presley foi gravada no dia 19 de janeiro de 1957 em Hollywood. Estas músicas, apesar de serem resultado de um trabalho diferente de Elvis se encaixaram bem dentro do disco principalmente pelo conteúdo de suas letras. Um ótimo desfecho para o disco que se transformou em um dos mais reeditados da carreira de Elvis. Só nos EUA estima-se que "Elvis Christmas Album" foi relançado mais de 30 vezes ao longo dos anos, um recorde até mesmo para Elvis Presley, um dos artistas mais relançados da história da música mundial! Não é por menos que esse também é um dos discos mais vendidos de sua carreira.

Ficha Técnica: "Elvis Christmas Album" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Millie Kirkham (vocais) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 05 a 07 de setembro de 1957 / Data de Lançamento: novembro de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) # - (UK). "Peace In The Valley" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #39 (EUA) # - (UK).

Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Setembro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001

Elvis Presley - O Prisioneiro do Rock

Esse foi o grande sucesso de Elvis nos anos 50. Foi seu terceiro filme e o primeiro totalmente escrito e produzido para ele estrelar. Nos anteriores Elvis ainda era uma dúvida. Mesmo sendo o cantor mais popular do mundo na época não se sabia ainda se ele daria certo no cinema. Não tinha muita experiência como ator e não sabia atuar direito mas seus filmes eram estouros de bilheteria. Para muitos Jailhouse Rock é o melhor filme de Elvis, talvez só perdendo para Balada Sangrenta, de Michael Curtiz, o mesmo diretor de Casablanca. Tem bom roteiro e músicas famosas. O cantor vestido de prisioneiro acabou marcando tanto a cultura pop que até hoje a imagem é explorada em produtos como action figures, posters e brinquedos. O filme tem a famosa cena da dança dos prisioneiros que alguns consideram o primeiro videoclip da história e uma canção tema que vendeu milhões de cópias ao redor do mundo. Pena que em poucos meses Elvis seria convocado pelo exército americano o que iria interromper sua carreira por dois longos anos enquanto servia na Alemanha ocupada. Quando voltou aos EUA Elvis estrelou vários musicais água com açúcar que não chegavam nem perto da qualidade de seus primeiros filmes. Os roteiros fracos acabaram decepcionando o cantor que abandonou Hollywood definitivamente em 1969 para se dedicar novamente apenas à sua carreira de cantor de sucesso em Las Vegas e em turnês pelos EUA.

Realmente a questão chave sobre Elvis no cinema era que ele não era um ator, era um cantor que usava o cinema para vender discos. Cada um nasce com seu talento, Elvis Presley jamais poderia ser comparado a James Dean ou Marlon Brando, do mesmo modo que nenhum deles poderiam sequer tentar cantar igual a Elvis. No fundo Tom Parker, o empresário de Elvis, usava o cinema como um tremendo meio promocional para a música de Elvis e nesse aspecto o objetivo foi alcançado pois Elvis alcançou uma popularidade que nenhum outro cantor de sua época conseguiu chegar. Pois é, os filmes de Elvis mostraram que era possível arrecadar boas bilheterias com um astro do mundo da música estrelando filmes. Depois de Elvis vários astros foram para o cinema como os Beatles, Rolling Stones e até Michael Jackson (inclusive postumamente). No Brasil Roberto Carlos estrelou diversos filmes nos anos 60 só para citar um exemplo mais próximo de nós. Nenhum desses filmes eram "obras de arte" do cinema, longe disso, eram meios promocionais para os artistas e como tais devem ser encarados.

O Prisioneiro do Rock (Jailhouse Rock, EUA, 1957) Direção: Richard Thorpe / Roteiro: Guy Trosper / Elenco: Elvis Presley, Judy Tyler e Mickey Shaugnessey / Sinopse: Vince Everett (Elvis Presley é um jovem que acaba cometendo um crime sem intenção. Preso e condenado é enviado para a penitenciária do Estado. Lá conhece Hunk Houghton (Mickey Shaugnessy) que o apresenta ao mundo da música. Após ser libertado Vince decide tentar uma carreira artística. Com a ajuda da bela Peggy Van Aldern (Judy Tyler) ele tenta subir os degraus da fama e do sucesso.

Pablo Aluísio.