Título no Brasil: Cartas na Mesa
Título Original: The Gambler Wore a Gun
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Edward L. Cahn
Roteiro: Orville H. Hampton, L.L. Foreman
Elenco: Jim Davis, Merry Anders, Mark Allen, Michael Louis, Richard Richardson, Lisa Heloise Huffner
Sinopse:
Case Silverthorne (Jim Davis) é um jogador veterano no velho oeste que está pensando em mudar seu estilo de vida. Quer se retirar desse mundo para tocar sua própria fazenda. Os problemas porém parecem persegui-lo. Por acaso acaba salvando a vida do xerife numa emboscada, sendo morto o pistoleiro que queria matar o homem da lei. O problema para Case é que o sujeito era justamente o dono do rancho que ele havia comprado. A venda ainda não havia sido formalizada e agora Case precisa provar que o negócio havia sido feito. Os herdeiros do rancho não aceitam a venda e o pior, querem vingar a morte de seu pai. Case agora virou o alvo!
Comentários:
Mais um western enfocando a vida dos chamados jogadores profissionais do velho oeste. Esses eram sujeitos que viviam de saloon em saloon, sempre em busca de algum jogo de cartas para levantar uma grande bolada em apostas que envolviam muito dinheiro. O lance era perigoso, qualquer sinal de trapaça era respondida com o cano fumegante de uma pistola, por isso muitos jogadores também eram pistoleiros bons de mira - fazia parte daquele estilo de vida. No roteiro desse filme temos de tudo um pouco - a emoção dos jogos de poker, os problemas com a lei e os conflitos sangrentos por causa de terra e gado. O diretor Edward L. Cahn já era um veterano quando dirigiu esse "The Gambler Wore a Gun" pois havia estreado no cinema em 1931. No total dirigiu 127 filmes, numa mistura incrível de gêneros, desde faroestes até filmes de terror e ficção. Era um verdadeiro workaholic dos estúdios. "Cartas na Mesa" é certamente um bom faroeste, nada excepcional, mas que mantém o foco da diversão e do entretenimento com eficiência.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 19 de dezembro de 2023
segunda-feira, 18 de dezembro de 2023
Quando a Mulher Erra
Título Original: Stazione Termini
Ano de Lançamento: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Vittorio De Sica
Roteiro: Cesare Zavattini, Luigi Chiarini
Elenco: Jennifer Jones, Montgomery Clift, Gino Cervi, Richard Beymer, Gino Anglani, Oscar Blando
Sinopse:
Nesse drama romântico, a atriz Jennifer Jones interpreta uma mulher norte-americana que viaja para Paris e Roma e nessa última cidade conhece e se apaixona por um jovem italiano. O problema é que ela é casada nos Estados Unidos. Com sentimento de culpa, então resolve se encontrar com o amante em uma estação romana para terminar tudo, mas isso vai ser extremamente doloroso para o casal.
Comentários:
Mais um bom filme da filmografia de Montgomery Clitf, se bem que se formos pensar bem, o filme pertenceu mesmo à Jennifer Jones no quesito atuação. Ela era uma ótima atriz, bonita e talentosa nas medidas certas e soa perfeitamente convincente no seu papel de mulher casada que, corroída pela culpa de ter traído o marido numa viagem de férias pela Europa, tenta colocar um fim em seu caso romântico extraconjugal. O problema é que realmente está apaixonada pelo amante italiano e isso se torna extremamente doloroso emocionalmente para ela. A velha luta entre moralidade, ética e sentimentos passionais. O filme foi dirigido pelo mestre Vittorio De Sica. Foi filmado na Itália, em Roma, e tem jeito de filme europeu, embora fosse produzido por um estúdio de Hollywood. O produtor americano David O. Selznick não gostou muito da primeira versão do diretor e cortou nove minutos do filme. A versão completa só seria lançada muitas década depois em DVD. Pois é, não é de hoje que os cineastas são tolhidos em seus talentos nos filmes autorais em que trabalham, por meras preocupações comerciais dos produtores envolvidos.
Pablo Aluísio.
Um Sonho para Dois
Título Original: It All Came True
Ano de Lançamento: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Lewis Seiler
Roteiro: Louis Bromfield, Michael Fessier
Elenco: Humphrey Bogart, Ann Sheridan, Jeffrey Lynn, Zasu Pitts, Una O'Connor, Jessie Busley
Sinopse:
O gangster Chips Maguire (Humphrey Bogart) acaba assassinando um policial que estaria atrás dele, o investigando, por causa de suas atividades criminosas. Um músico de nightclub acaba sendo a única testemunha desse crime. Para Chips passa a ser uma questão de tempo para eliminá-lo, evitando assim que seja preso por mais esse crime.
Comentários:
Humphrey Bogart construiu sua carreira interpretando criminosos como a desse filme noir da década de 1940. Ele era realmente ótimo nesse personagem porque, vamos convir, tinha jeito mesmo de sujeito durão, com cara de bandido. Aqui nesse filme policial temos tipos bem interessantes, personagens bem construídos. O gangster de Bogart não é um tipo totalmente condenável, embora seja mesmo um criminoso contumaz. Ele tem sua dose de humanidade e charme, chegando a se envolver romanticamente com uma cantora de cabaré. Só que não se engane, esse, no final das contas, não é um filme romântico, apesar de seu título nacional que possa levar a essa interpretação. É um filme passado no submundo, com todos os tipos marginais que tão bem conhecemos nesse tipo de filme antigo. Que pena que não se produzam mais boas histórias como essa. É algo que se perdeu com o tempo em Hollywood.
Pablo Aluísio.
domingo, 17 de dezembro de 2023
Maria Antonieta de Zweig Stefan
Aqui vai uma dica de leitura para o fim de ano, um livro que li recentemente e de que gostei bastante. Trata-se da biografia da Rainha Maria Antonieta escrita por Zweig Stefan. Não e um livro novo e nem recente. Na verdade a primeira edição foi lançada em 1932. O tempo porém só lhe fez bem. O estilo de escrita de Zweig Stefan é um primor, uma verdadeira aula de como se deve escrever uma biografia de forma interessante, prazerosa, que capture a atenção da primeira à última página. Aqui o autor leva seu leitor para dentro da vida da Rainha, é como se estivéssemos nos aposentos reais do Palácio de Versalhes. Não se trata de um tratado de história, com inúmeras referências a cada página, o que tornaria a leitura pesada e muitas vezes chata. Nada disso. É escrito em estilo de romance, com a diferença de que não se trata de mera ficção, mas de algo que realmente aconteceu.
A protagonista é essa arquiduquesa austríaca, da dinastia dos Habsburgs, que é dada em casamento ao Delfim da França, um garoto que iria no futuro se tornar o Rei Luís XVI. Filha da imperatriz Maria Teresa da Áustria, Maria Antonieta sabia bem que ela e suas irmãs estavam destinadas a terem um casamento arranjado, pois era tradição na casa de Habsburg esse tipo de arranjo. As arquiduquesas eram criadas para se tornarem esposas de monarcas e nobres por toda a Europa, consolidando assim uma política de alianças por todo o continente. Aliás a primeira imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina, que era inclusive sobrinha neta de Maria Antonieta, teve o mesmo destino, vindo a se casar com Dom Pedro I.
Na França Maria Antonieta se deu conta que sua vida não seria muito fácil. Seu casamento demorou a se consumar, por causa da hesitação do príncipe. Com a morte de Luís XV, ela e seu marido subiram ao trono muito jovens, sem experiência para lidar com as transformações que estavam acontecendo dentro da França. A obsessão da Rainha pelo luxo e extravagância, com vestidos e penteados absurdos também não ajudou em nada. Enquanto o povo francês sofria na fome e na miséria, a corte de Versalhes desfilava riqueza, em situações que de certa maneira afrontava o próprio povo que sustentava a monarquia.
O resultado dessa situação todos sabemos. A Revolução Francesa eclodiu e o absolutismo monárquico europeu sofreu o primeiro grande golpe de sua história. Não é um livro de final feliz, ainda mais porque Zweig Stefan cria uma simpatia do leitor com a Rainha, mesmo com todos os erros que ela cometeu. O livro também demonstra que uma campanha de calúnia e difamação se espalhou pelo reino, divulgando mentiras e boatos maldosos sobre o comportamento da Rainha, que não era tão má pessoa como faziam parecer os revolucionários. No final de tudo é um livro tão bom que dá vontade de reler assim que chegamos ao final. E para quem gosta de curiosidades aqui vai uma informação final mais que interessante: o escritor Zweig Stefan, que assim como Maria Antonieta, era austríaco de nascimento, passou seus últimos anos de vida no Brasil. Ele tinha origem judaica e por essa razão precisou ir embora da Europa quando o nazismo começou a tomar de assalto os países europeus. Acabou morrendo em Petrópolis, aos 60 anos de idade.
Pablo Aluísio.
A protagonista é essa arquiduquesa austríaca, da dinastia dos Habsburgs, que é dada em casamento ao Delfim da França, um garoto que iria no futuro se tornar o Rei Luís XVI. Filha da imperatriz Maria Teresa da Áustria, Maria Antonieta sabia bem que ela e suas irmãs estavam destinadas a terem um casamento arranjado, pois era tradição na casa de Habsburg esse tipo de arranjo. As arquiduquesas eram criadas para se tornarem esposas de monarcas e nobres por toda a Europa, consolidando assim uma política de alianças por todo o continente. Aliás a primeira imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina, que era inclusive sobrinha neta de Maria Antonieta, teve o mesmo destino, vindo a se casar com Dom Pedro I.
Na França Maria Antonieta se deu conta que sua vida não seria muito fácil. Seu casamento demorou a se consumar, por causa da hesitação do príncipe. Com a morte de Luís XV, ela e seu marido subiram ao trono muito jovens, sem experiência para lidar com as transformações que estavam acontecendo dentro da França. A obsessão da Rainha pelo luxo e extravagância, com vestidos e penteados absurdos também não ajudou em nada. Enquanto o povo francês sofria na fome e na miséria, a corte de Versalhes desfilava riqueza, em situações que de certa maneira afrontava o próprio povo que sustentava a monarquia.
O resultado dessa situação todos sabemos. A Revolução Francesa eclodiu e o absolutismo monárquico europeu sofreu o primeiro grande golpe de sua história. Não é um livro de final feliz, ainda mais porque Zweig Stefan cria uma simpatia do leitor com a Rainha, mesmo com todos os erros que ela cometeu. O livro também demonstra que uma campanha de calúnia e difamação se espalhou pelo reino, divulgando mentiras e boatos maldosos sobre o comportamento da Rainha, que não era tão má pessoa como faziam parecer os revolucionários. No final de tudo é um livro tão bom que dá vontade de reler assim que chegamos ao final. E para quem gosta de curiosidades aqui vai uma informação final mais que interessante: o escritor Zweig Stefan, que assim como Maria Antonieta, era austríaco de nascimento, passou seus últimos anos de vida no Brasil. Ele tinha origem judaica e por essa razão precisou ir embora da Europa quando o nazismo começou a tomar de assalto os países europeus. Acabou morrendo em Petrópolis, aos 60 anos de idade.
Pablo Aluísio.
Lilith
O que é Lilith? Quem foi Lilith? Segundo pesquisas históricas e arqueológicas, a figura de Lilith surgiu na antiga civilização Mesopotâmia. Curioso notar que em suas origens não era ela uma criatura única, um ser do mal chamado Lilith. Na verdade era uma categoria de ser mitológico. Uma estranha e sombria figura que surgia nas madrugadas para levar recém nascidos. Importante frisar que na antiguidade era enorme o número de mortos recém-nascidos, pois a mortalidade infantil era elevadíssima, então os povos daquela época explicavam esses tristes eventos como atos de Liliths, seres alados femininos, com pés de águia, que surgiam na noite para infernizar a vida de jovens casais, levando seus filhos como forma de punir a felicidade alheia.
Como se trata de uma figura da mitologia antiga logo sua origem foi modificada e adaptada por outros povos. Os judeus, por exemplo, colocaram Lilith na posição de demônio. Não era apenas uma categoria de seres, mas apenas uma única mulher que teria sido a primeira mulher de Adão. Se recusando a servir ao marido como convinha a uma mulher da antiguidade, ela se rebelava, era dona de si, não aceitava ordens e era rebelde. Vendo essa situação logo o Deus Jeová a expulsou do paraíso, a jogou no inferno e arranjou uma nova mulher para Adão que seria Eva.
Interessante que essa nova versão de Lilith a tornaria muito popular nos dias de hoje, a ponto dela ser um símbolo para o movimento feminista atual, pois seria a mulher dona de seu próprio destino, que não aceitaria mais a opressão do patriarcado. E como a religião judaico-cristã a pintava com tintas de ser das trevas, tudo se encaixaria ainda mais para o símbolo de feminismo desde os tempos da antiguidade, algo bem simbólico que o movimento feminista tanto buscava. Tão popular ela segue sendo que até mesmo em fóruns de internet muitas das jovens feministas e progressistas usam o nickname de Lilith para se comunicar entre si nos fóruns ligados a esse movimento de luta social.
O mais interessante na história dessa personagem da mitologia antiga é perceber como ao longo dos séculos ela foi mudando de simbologia, sendo atualmente a figura mitológica antiga mais popular. Como produto puramente cultural, pois obviamente não existe demônio nenhum, ela segue sendo usada como símbolo de diversos movimentos ou aspirações, principalmente pelas mulheres mundo afora. Por essa os antigos religiosos não esperavam.
Pablo Aluísio.
sábado, 16 de dezembro de 2023
Imperador Romano Vitélio
Depois da morte de Nero, o Império Romano passou por uma fase de grande instabilidade política e militar. Foi um tempo de guerra civil, onde golpes militares eram superados por outros golpes militares, sendo que as legiões vencedoras proclamavam como novo imperador justamente os seus generais vitoriosos nos campos de batalha. Foi o que aconteceu com Aulus Vitellius Germanicus, o imperador Vitélio.
Ele vinha de uma linhagem que sempre desfrutou dos privilégios da casa de Júlio César. Dizia-se, na boca pequena, pelos becos de Roma, que ele havia sido um dos "peixinhos" do Imperador Tibério. Esse termo era usado para designar os jovens, menores de idade, que eram abusados sexualmente por Tibério, que tinha fama de pedófilo em Roma. Depois da morte desse velho imperador, ele continuou na corte, sendo um jovem privilegiado nas cortes de Calígula, Cláudio e Nero. Quando esse morreu, Vitélio comandava legiões romanas no exterior. Na fase que se sucedeu, ele sentiu que poderia assumir o poder total, pois suas legiões eram fortes e prontas para a guerra.
Rumou para Roma e destruiu as tropas leais a Otão. Depois de matar aquele imperador, Vitélio assumiu o título de Imperador Romano. Ele seria o último dos três imperadores efêmeros dessa fase da história de Roma. Infelizmente para os romanos de sua época, ele era um ser humano desprezível que tinha poucos valores morais a preservar. Para o povo romano em geral se vendia como general e político honesto, homem acima de qualquer crítica. Um militar vitorioso em campos de batalha distantes do centro do poder. Por baixo dos panos, nos bastidores do império, se comportava como um ladrão barato, capaz até mesmo de roubar jóias do tesouro imperial. Na calada da noite assaltava os locais onde ouro, prata e jóias eram guardadas pelos senadores.
E seus atos como Imperador apenas confirmava o lado sórdido de sua personalidade. Enquanto militar, ele acumulou grandes dívidas pessoais. Eram inúmeros os seus credores. Quando subiu ao trono esses pensaram que finalmente iriam receber seu dinheiro, mas para seus infortúnios, o novo imperador não pagaria suas dívidas. Ao invés disso mandou passar no fio da espada todos os seus credores. Não apenas nunca receberam, como também perderam suas vidas para esse homem pérfido.
E as atrocidades não pararam, atingindo sua própria casa. Mandou matar dois de seus filhos que eram acusados de conspiração política contra seu poder imperial. Não satisfeito, exilou para uma ilha distante sua única filha que havia chorado pelos irmãos mortos. Também celebrou publicamente a morte da mãe, que dizia-se havia sido envenenada por seus homens no palácio. Para quem se vendia como militar honesto ele se entregou cedo a todos os vícios possíveis, praticando orgias e banquetes suntuosos, enquanto grande parte do povo de Roma passava fome. Era insensível, brutal e cruel, segundo inúmeras crônicas de sua época.
Com tanta corrupção, foi outro imperador que caiu cedo. Ficou apenas oito meses no poder. O Senado e as famílias tradicionais de Roma ficaram horrorizadas com aquele comportamento. Não demorou muito e foi preso por outro general, Vespasiano, que finalmente iria trazer alguma estabilidade na política da cidade eterna. E sua derrota foi selada no campo de batalha quando suas últimas legiões leais foram derrotadas pelos exércitos de Vespasiano.
Depois de um breve julgamento de acordo com o Direito Romano, o agora deposto Vitélio foi jogado para a turba romana que promoveu um linchamento com seu corpo pelas ruas da cidade. Foi esfaqueado inúmeras vezes após ter suas vestes arrancadas pela enfurecida plebe romana. Seu corpo, destroçado, então foi jogado no rio Tibre, onde desapareceu para todo o sempre. Era dezembro de 69 e seu reinado de terror havia chegado ao fim. Vespasiano era o novo imperador romano. Pelas ruas da cidade o general desfilou com o povo gritando a plenos pulmões "Vida longa ao novo César!"
Pablo Aluísio.
Os Escribas do Velho Testamento
Quem escreveu a Bíblia? Quem são seus autores? A história, a arqueologia e a exegese dos velhos textos já encontraram a resposta. A Bíblia foi escrita por escribas que trabalhavam ora para o sacerdote de Jerusalém, ora para os antigos reis judeus. Dizer que a Bíblia foi escrita pelo Deus Jeová ou foi escrita sob a estrita inspiração de Deus é um conceito puramente teológico. Historicamente, nós temos que ir atrás dos verdadeiros autores desses vários livros que séculos depois foram reunidos em um só, dando origem a Bíblia, tal como a conhecemos atualmente. No mundo antigo, pouquíssimas pessoas sabiam ler e escrever. Estudos afirmam que os primeiros livros bíblicos foram escritos entre 600 a 400 anos antes de Cristo. Saber ler e escrever colocava um trabalhador no topo da elite intelectual de seu tempo. Esses eram os escribas.
Esses escribas muitas vezes usaram como inspiração para elaboração de seus textos outras tradições religiosas de outros povos da época, como os persas e os babilônicos. É grande a influência da religião de Zaratustra sobre essas histórias mais antigas da Bíblia. Os personagens bíblicos também são de origens diversas. Alguns podem ter tido como base pessoas reais que realmente existiram, pessoas históricas. Mas de modo em geral afirma-se também que a maioria são de pura literatura.
Moisés seria um dos mais cotados a ser meramente de ficção. Há indícios de um Moisés que criava imagens religiosas, mas esse provavelmente nada tinha a ver com o Moisés dos textos do velho testamento. Ele seria, basicamente, uma criação literária. O povo hebreu, tal como todos os outros povos da antiguidade, precisava também de sua própria mitologia de fundação, de origens daquele povo em questão. E não se pode negar que os escribas fizeram muito bem seu trabalho nesse sentido.
Outro aspecto importante a se considerar é que esses escribas muitas vezes apenas seguiam ordens de seus superiores. E muitas dessas antigas mitologias serviam para pacificar algum conflito social que acontecia naquele momento dentro daquela civilização. Por exemplo, a figura de Abraão. Ele seria apenas um símbolo, um grande patriarca que garantiria a propriedade e posse de terras para um determinado grupo social, deixando de fora os demais. Os filhos legítimos de Abraão teriam direito àquelas terras. Esses eram os judeus. Os descendentes dos filhos bastardos de Abraão não teriam direito de propriedade sobre aquelas terras. Esses formavam o povo árabe. Aliás esse conflito permanece vivo e violento até os dias de hoje, basta lembrar da atual guerra que se trava na Palestina.
Dessa maneira a mitologia em si, baseada muitas vezes em política do calor do momento e antigas tradições orais, servia para apaziguar um determinado conflito que acontecia naquele momento histórico. Seria essa a origem, a fonte de todos esses textos do velho testamento. Infelizmente nenhum escriba assinou sua obra. Isso não era normal na antiguidade e nem era de interesse de reis e sacerdotes judeus. Com isso se perdeu para sempre o nome desses escritores antigos que eram inegavelmente talentosos em sua arte de escrever.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
A Freira 2
Título Original: The Nun II
Ano de Lançamento: 2023
País: Estados Unidos
Estúdio: New Line Cinema
Direção: Michael Chaves
Roteiro: Ian Goldberg, Richard Naing
Elenco: Taissa Farmiga, Jonas Bloquet, Storm Reid, Anna Popplewell, Bonnie Aarons, Katelyn Rose Downey
Sinopse:
Uma jovem freira é enviada pelo Vaticano até uma isolada escola católica. Mortes e estranhos eventos sobrenaturais vem acontecendo em toda a Europa, inclusive com uma morte ritual de um padre dentro de sua própria igreja. São sinais de que um antigo demônio está retornando para o nosso mundo e ele quer a posse de uma relíquia sagrada, acima de tudo.
Comentários:
Eu não gostei do primeiro filme, por isso não esperava muito dessa continuação. Então de certa forma me surpreendi pois gostei dessa sequência de um modo em geral. Não me entenda mal, não estou dizendo que é um filme de terror excelente, nada disso. Apenas que é bem realizado, bem feito, com um roteiro muito redondinho que vai do ponto A para o ponto B sem sobressaltos. Parece que a equipe de roteiristas finalmente entendeu que não precisava de muitos exageros, nem de gorduras e excessos na história. Contem uma boa história básica, juntem com algumas cenas com alguns sustos e pronto, está feito mais um filme que o público dos dias atuais vai gostar, tanto que esse segundo filme fez sucesso e se tornou um dos mais lucrativos do ano. Aliás essa ideia de um demônio (chamado Valak) usando a imagem de uma freira dos infernos já é meio caminho andado para se vender um filme de terror. Certa premissas nascem justamente de algo assim, simples, mas bastante eficiente em seu nicho cinematográfico. E que venha mais filmes dessa nova franquia de horror. Afinal, pela boa bilheteria novos filmes virão, com certeza
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2023
Homem Morto
Título Original: Dead Man
Ano de Lançamento: 1995
País: Estados Unidos, Alemanha
Estúdio: Pandora Filmproduktion
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Elenco: Johnny Depp, Gary Farmer, John Hurt, Robert Mitchum, Iggy Pop, Gabriel Byrne, Jared Harris, Billy Bob Thornton, Alfred Molina, Steve Buscemi
Sinopse:
Em uma América selvagem, solitária e devastada pela aridez do deserto, dois homens se encontram. Um homem comum que acaba tendo grandes experiências místicas e sobrenaturais com um jovem nativo americano que deseja levar aquele homem branco a sondar os mistérios da espiritualidade interior.
Comentários:
Um filme bem estranho, para dizer o mínimo. Esse foi produzido naquela época em que Johnny Depp estava muito empenhado em só fazer filmes cults e artísticos. Ele almejava chegar em um ponto em que não fizesse mais nenhuma concessão aos grandes estúdios de Hollywood. Com o tempo ele se renderia ao lado mais comercial do cinema, como hoje sabemos, mas naqueles tempos ele procurava a excelência dramática como ator. O filme tem fotografia em preto e branco, roteiro incomum e aquele estilo que os cinéfilos já bem conhecem da direção de Jim Jarmusch. Não procure por nada fácil ou convencional nesse roteiro. É um filme com ares de cinema independente em cada fotograma. Interessante que muitos dos atores que trabalharam aqui, aceitaram trabalhar pelo salário mínimo da categoria, só para ter o orgulho de ter um filme do diretor em sua filmografia. Talvez excessivamente longo e com história desconexa, o filme não vai soar muito bom e simples de entender para a maioria do público, mas de qualquer maneira tem a trilha sonora assinado pelo cantor Neil Young, o que torna o conjunto da obra cinematográfica certamente bem mais palatável.
Pablo Aluísio.
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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 4
Seguindo a audição do disco em frente ouvimos os primeiros acordes do clássico "Yesterday" de Lennon e McCartney. A canção original dos Beatles foi um dos maiores sucessos dos anos 60. Lançada originalmente no álbum "Help!" em 1965 ela acabou virando um verdadeiro fenômeno de vendas e popularidade naquela década inesquecível. Durante anos se especulou se Elvis algum dia iria lançar sua própria versão, já que praticamente todos os outros grandes cantores americanos, como Frank Sinatra e Dean Martin, acabaram fazendo as suas. Em estúdio isso jamais aconteceria. Embora Elvis gostasse de vários discos e canções dos Beatles, ele nunca se interessou em gravar suas próprias versões do repertório do quarteto inglês, pelo menos até 1969. Isso mudou com sua volta aos palcos. Como artista de concertos ao vivo Elvis sentiu a necessidade de incluir algumas canções dos Beatles em seu repertório.
"Yesterday", a imortal criação de Paul McCartney, foi a primeira delas a sair em um disco oficial de Elvis Presley. Ela veio não numa versão de estúdio, como era esperado, mas ao vivo, no palco. Um fato curioso envolve a inclusão dessa faixa nesse álbum. Como sabemos o disco foi intitulado "On Stage - February, 1970" (Em bom português: "No Palco - Fevereiro de 1970"). Isso levava o ouvinte a pensar que todas as gravações tinham sido realizadas nesse período, justamente a da segunda temporada de Elvis em Las Vegas. Isso era apenas parcialmente verdadeiro. "Yesterday" na verdade havia sido gravada em agosto do ano anterior, na primeira temporada de Elvis em Las Vegas. Para ser mais exato no dia 25 de agosto de 1969, algo que nunca foi informado ao fã que comprou o disco uma vez que não havia ficha técnica e nem maiores detalhes na edição original desse disco. Apesar disso a boa seleção acabou deixando tudo com um aspecto bem imperceptível ao fã menos atento. Na realidade o consumidor menos detalhista poderia até mesmo jurar estar ouvindo a uma única apresentação de Elvis, realizada na mesma ocasião. Deixando isso um pouco de lado temos que admitir que essa versão live de "Yesterday" é muito boa, embora não seja tecnicamente perfeita. Se Elvis a tivesse gravada em estúdio, com todo o aparato e cuidado técnico que esse tipo de gravação traz, o resultado teria sido inegavelmente muito superior.
Dentro do conceito de trazer músicas inéditas dentro da discografia de Elvis na época (estamos falando de 1970) a RCA Victor selecionou essa versão ao vivo do grande clássico do rock americano, "Proud Mary". A canção havia sido lançada originalmente em janeiro de 1969 pelo grupo Creedence Clearwater Revival, um dos melhores de sua geração. O single (com "Born on the Bayou" no lado B) acabou se tornando um dos maiores sucessos da banda. Realmente é uma grande composição, um exemplo perfeito do tipo de country / rock que Elvis estava procurando para renovar seu repertório. Certamente cantar novas versões de sucessos dos anos 50 como "Hound Dog" ou "Don´t Be Cruel" em Las Vegas até poderia soar interessante, principalmente para os fãs mais veteranos, porém era igualmente necessário não esquecer o tipo de sucesso que andava tocando nas rádios naquele período. Segundo Felton Jarvis, o produtor e arranjador de Elvis, tudo o que o cantor queria na época era equilibrar seu legado, suas antigas canções, com o mundo musical contemporâneo. Não soar apenas como um artista meramente nostálgico, que vivia de glórias passadas. A escolha foi perfeita. A interpretação de Elvis foi uma das mais empolgantes e se tornou o ponto alto da temporada. Curiosamente, apesar da boa repercussão, Elvis iria deixar a música de lado nos anos seguintes.
É bom lembrar porém que "Proud Mary" surgiu duas vezes na discografia oficial de Elvis. A primeira foi aqui, no "On Stage". Uma versão bem executada, bem elaborada, com um ritmo mais cadenciado e um sabor quase acústico. A segunda gravação veio no álbum "Elvis as Recorded at Madison Square Garden" de 1972. Para muitos essa segunda versão seria bem melhor, contando com um pique e ritmo que ficaram bem conhecidos dessa eletrizante apresentação de Elvis em Nova Iorque. Por fim, um detalhe interessante: Embora muitos reconheçam que o single do Creedence Clearwater Revival tenha sido vital para que Elvis a gravasse, sua maior influência teria vindo mesmo da versão de Ike & Tina Turner, que lançada nesse mesmo ano (1970), teria impressionado pela garra e vitalidade da interpretação da cantora. Ouvindo todas as versões (a do Creedence, a de Tina Turner e a de Elvis) chegamos na conclusão que realmente Elvis retirou muito mais inspiração da segunda gravação, que combinava muito mais com o estilo de Las Vegas. Afinal de contas ele certamente sabia que poderia contar com essa música para levantar o público durante os shows.
Pablo Aluísio.
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