sábado, 3 de setembro de 2022

The Beatles - Love Me Do / P.S. I Love You

Este pode ser considerado o primeiro single da carreira dos Beatles. Eles já tinham participado como grupo de apoio em um single de Tony Sheridan, na Alemanha, em anos anteriores, mas esse single não pode ser creditado como um produto tipicamente dos Beatles. Já aqui, temos o grupo assumindo sua própria identidade. Eles eram uma das apostas da EMI para conquistar o mercado jovem. Algo novo, bancado por George Martin, um produtor da gravadora na época. Curiosamente, o lado A do disco, apesar de hoje ser mundialmente famoso, não fez muito sucesso. Foi preciso Brian Epstein comprar milhares de cópias do single para que a música surgisse na parada inglesa de compactos. Uma jogada do empresário, que também era dono de lojas de discos em Liverpool, e em outras cidades. Com o surgimento deles na parada, veio o interesse da imprensa e do público em geral. O que Brian havia planejado acabou dando certo. 

"Love Me Do" era uma canção simples, que havia sido composta inicialmente por Paul McCartney em seus tempos de escola. Curiosamente, a música apresentou problemas no estúdio. George Martin não gostou de Pete Best na bateria. Esse músico, então, foi demitido dos Beatles! Ele foi substituído por Ringo Starr, mas George Martin continuou não gostando da bateria. Assim, ele trouxe um músico de estúdio chamado Andy White. Ele que efetivamente toca na versão oficial que conhecemos do álbum. Ringo ficou desolado com isso.

No lado B o single trazia a música "P.S. I Love You", outra composição de Paul McCartney. Ela foi composta quando os Beatles estavam em Hamburgo, durante uma turnê, isso antes do grupo ser conhecido mundialmente. Naquela época, os Beatles não passavam de um grupo de rapazes com topete e brilhantina, usando roupas de couro, tocando pelos inferninhos desta cidade portuária da Alemanha. Trata-se de uma boa música que complementou muito bem esse trabalho pioneiro dos Beatles em sua discografia.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Clint Eastwood e o Western - Parte 2

Clint Eastwood não planejou sua carreira de ator como astro de filmes de western. As coisas simplesmente foram acontecendo. Em 1958 ele conseguiu um papel em um faroeste B chamado "Emboscada em Cimarron Pass" (Ambush at Cimarron Pass). Essa é uma produção bem difícil de se achar nos dias de hoje. É um filme pouco conhecido, obscuro, que poucos colecionadores possuem. Quase ninguém assistiu. Vale sobretudo por trazer Clint Eastwood ainda bem jovem, já no papel de cowboy, o tipo que iria consagrar sua carreira. Fora isso nada de muito relevante em termos cinematográficos.

Dirigido por Jodie Copelan, com Scott Brady e Margia Dean no elenco, o roteiro baseado em um livro escrito por Robert A. Reeds, contava uma história que se passava em 1867 no velho oeste americano. Clint interpretava um sujeito chamado Keith Williams. Ele era um homem que tentava sobreviver em um território distante, uma reserva Apache em guerra, onde soldados do exército americano, da União, literalmente caçavam ex-soldados confederados que tinham se tornado bandoleiros e assassinos. Anos depois Clint Eastwood não iria ser refinado ao se lembrar desse filme, dizendo que ele era "provavelmente o pior western que já existiu!". Sua opinião não incomodaria os produtores. Depois que Clint se tornou um astro de Hollywood, o estúdio resolveu relançar o filme nos cinemas, já durante a década de 60. Era impossível perder a chance de faturar alto com seu nome, afinal de contas era um faroeste com Clint Eastwood, que mesmo sendo ruim ainda poderia gerar um bom faturamento nas bilheterias.

Depois de atuar em um filme sobre a I Guerra Mundial chamado "Lutando Só Pela Glória", Clint conseguiu uma excelente oportunidade, mas não no cinema e sim na TV.  Ele foi contratado para atuar na série de grande sucesso de audiência "Maverick". O programa estava entre os mais assistidos do país e contava com o astro James Garner como o famoso jogador de cartas que se envolvia em inúmeras aventuras durante a corrida rumo ao oeste. Atores famosos como Roger Moore (que iria se tornar o futuro James Bond no cinema) também atuavam nessa série. A chance de atuar nesse programa de TV tinha sua importância, pois serviria como vitrine de seu trabalho. Clint Eastwood acabou atuando no episódio "Duel at Sundown" onde ele interpretava um vilão. Aqui Clint repetia o mesmo tipo de personagem durão, de poucas palavras, de procedência desconhecida e futuro incerto que iria se tornar imortal. O típico pistoleiro sem nome, que ele iria eternizar em seus futuros filmes.

É curioso que Clint nem estava muito longe de seu primeiro grande filme, "Por um Punhado de Dólares", mas ao mesmo tempo parecia meio desanimado com sua carreira de ator que parecia não decolar como ele planejava. Depois de atuar em mais uma série de TV, dessa vez sob o selo do mestre do suspense Alfred Hitchcock, no programa "Alfred Hitchcock Presents", ele resolveu dar um tempo para repensar sua vida. Durante 3 anos Clint pensou seriamente em abandonar o sonho de viver como ator de cinema. Ele planejou tentar outras carreiras, outras profissões. Começou a se interessar pelo ofício de dirigir ou escrever roteiros. Mal sabia ele que em breve iria conhecer um cineasta italiano que iria mudar sua vida para sempre.

Pablo Aluísio.

Quando os Abutres têm fome

Os Abutres Têm Fome foi um faroeste lançado em 1970, contando em seu elenco principal com os astros Clint Eastwood e Shirley MacLaine. Seus personagens passavam por todas as dificuldades no deserto mexicano. Ela interpretava uma freira que tentava levar a palavra de Cristo para uma região abandonada por Deus, repleta de bandidos, bandoleiros e mal feitores de todos os tipos. Ele interpretava um mercenário, um pistoleiro, que colocava seus dotes de exímio atirador para quem pagasse mais. 

A atriz  Shirley MacLaine não se deu bem durante as filmagens com o diretor Don Siegel, com quem teve várias brigas e atritos abertamente, na frente de toda a equipe técnica. Depois que as filmagens terminaram ela afirmou que nunca mais queria trabalhar novamente com esse cineasta. Ela sempre foi considerada uma profissional temperamental para se trabalhar e quando um diretor não fazia o que pedia, as coisas poderiam ficar bem tensas nos sets de filmagens.

Poucos percebem isso nos dias de hoje, mas Shirley MacLaine interpreta a protagonista do filme e não Clint Eastwood que surge como apenas coadjuvante dentro do roteiro. Esse foi o último filme da carreira de Clint onde ele atuou como mero coadjuvante, recebendo inclusive um cachê bem menor do que sua parceira no filme. Depois dessa produção Clint Eastwood recusou todos os papíes secundários que lhe foram oferecidos, só atuando a partir daqui como o principal nome do elenco dos filmes em que trabalhou.

Nessa época, Clint tinha alguns planos. Ele queria dirigir filmes, escrever seus próprios roteiros. Além disso, ele estava decidido a fundar sua própria companhia cinematográfica. Certa vez, conversando com um amigo espanhol, ele disse que iria fundar uma empresa para produzir seus próprios filmes. O tal sujeito não ficou muito animado e quis desestimular Clint, dizendo que isso seria um mal passo para ele. Sem perder a piada, Eastwood resolveu chamar sua nova empresa de Malpaso Produtions. Essa empresa, que existe até hoje, transformou o ator e diretor em uma pessoa milionária, uma vez que ele teve todo o controle de seus filmes futuros. De uma coisa é certa, ele não deu um mal passo na carreira, pelo contrário, deu o passo mais do que certo.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Planeta pré-histórico

Minissérie de extrema qualidade. A produção é fruto de uma parceria entre a BBC studios e a Apple TV. O resultado não poderia ser melhor. Aqui a tônica é toda baseada em achados científicos. Os dinossauros recriados em computação gráfica de alta qualidade surgem em situações baseadas em estudos de cientistas. No primeiro episódio já temos um cenário perfeito do que veremos no restante da minissérie. O tema é costas. As costas e as praias selvagens que separam o mundo terrestre e o mundo marítimo. Na primeira cena vemos um Tiranossauro Rex atravessando uma pequena faixa de mar em direção a uma ilha costeira. E ele não está sozinho, está acompanhado de 5 filhotes. Fiquei surpreso ao saber que esse dinossauro era um bom nadador. Isso é baseado justamente nas pesquisas científicas. Só que durante a travessia, ele acaba se confrontando com problemas. 

No mundo pré-histórico todos os animais eram gigantescos. Então, nadar em mares pré-históricos obviamente não uma boa ideia. O animal acaba sendo atacado por um monstro marinho. Esses seres que viviam nos mares na época da pré-história eram verdadeiros monstros de grandes dimensões. Poderiam engolir um grande tubarão branco com apenas uma mordida. Além de um mundo aquático mostrando todos esses dinossauros que viviam debaixo d'água, há ainda uma bela explicação sobre os Pterodáctilos, criaturas que tinham dificuldade de andar em terra firme, mas que reinavamm nos ares. Mostravam toda a sua graça voando por todo o planeta. Enfim, essa minissérie em apenas cinco episódios se revela simplesmente excelente, tanto tecnicamente como do ponto de vista da ciência.

Planeta pré-histórico (Prehistoric Planet, Estados Unidos, 2022) Direção: David Attenborough, Andrew R. Jones / Roteiro: Paul Stewart / Elenco: David Attenborough / Sinopse: Minissérie que recria o reinado dos dinossauros no planeta Terra durante a pré-história. Milhares de anos passam pela tela em ações da vida desses enormes animais.

Pablo Aluísio.


Planeta pré-histórico - Episódios comentados:

Planeta pré-histórico 1.02 - Deserts
Esse episódio mostra os dinossauros dos desertos. Vai desde os grandes dinos que pesava 70 toneladas até mesmo os mais ínfimos bichinhos das areias. Tudo de muito bom gosto e tecnicamente irrepreensível, como sempre. Nesse episódio o que me chamou atenção foram os grandes predadores que mantinham uma certa calma, quando iam nos oásis tomar água. Há, inclusive, um primo de Tiranossauro Rex envolvido nesse episódio. Um monstro pintado e voraz. E os titanossauros me surpreenderam também. Seres estranhos, bichos gigantes que tinham bolhas nos grandes pescoços. Aquela imagem, eu definitivamente não vou esquecer! / Planeta pré-histórico 1.02 - Desert (Estados Unidos, 2022) Direção: Dom Walter / Elenco: David Attenborough.

Planeta Pré-Histórico 1.03 - Freshwater
Nesse episódio vemos uma coisa inusitada. Um ritual de acasalamento entre 2 monstros. O que acontecia quando um Tiranossauro Rex encontrava outro Tiranossauro Rex de sexo oposto? Muito interessante. Também vemos outro astro dos dinossauros. Escalando as encostas para caçar filhotes de outras espécies . Estou me referindo aos famosos velociraptors. E aqui temos uma novidade baseada na ciência. Os bichos eram todos penados. Com penas! E também usavam essas penas para planar quando pulavam no Penhasco. De fato, vemos na prática porque as aves são consideradas as verdadeiras herdeiras genéticas dos dinossauros. Sim, aves são parentes muito próximos dos dinossauros. Por mais incrível que isso possa parecer! / Planeta Pré-Histórico 1.03 - Freshwater (Estados Unidos, 2022) Direção: David Attenborough / Elenco: David Attenborough.

Planeta Pré-Histórico 1.04 - Ice Worlds
Planeta Pré-Histórico 1.05 - Forests
Aqui temos os 2 últimos episódios dessa maravilhosa série que recria o mundo pré-histórico. No quarto e penúltimo episódio, o tema tratado são as regiões mais frias do planeta. Ao contrário do que muitos pensam, havia dinossauros vivendo nesses locais que a série chama de mundos do gelo. O último episódio traz as grandes florestas. Praticamente o planeta era coberto por grandes florestas naqueles tempos. Três quartos da planeta era composto de grandes florestas e nelas viviam uma grande diversidade de tipos de dinossauros. Desde os grandes predadores até os imensos herbívoros que comiam folhas no topo de árvores realmente gigantescas. E atrás dos herbívoros iam também os dinossauros carnívoros. Um ótimo episódio que  mostra bem a diversidade desses animais fabulosos, que um dia caminharam sobre o planeta Terra. / Planeta Pré-Histórico 1.04 - Ice Worlds / Planeta Pré-Histórico 1.05 - Forests (Estados Unidos,  2022) Direção: Andrew R. Jones, Adam Valdez. 

Pablo Aluísio.

Top Gun: Maverick

O maior sucesso de bilheteria do ano de 2022 é uma continuação bem tardia de um filme dos anos 80. Quem poderia imaginar? "Top Gun: Maverick" já está perto de faturar um bilhão e meio de dólares. Um sucesso espetacular, ainda mais em se tratando de uma época em que a pandemia ainda está no ar. E o filme cumpre muito bem seu papel. A história em si é básica. O veterano piloto Maverick está de volta para a classe dos melhores da marinha. Isso após participar de um teste mal sucedido de um avião supersônico. Ele vai até o limite, como sempre, e o avião acaba se despedaçando por causa de sua conhecida rebeldia contra ordens superiores. E esse tipo de personalidade levou Maverick a estagnar na carreira militar. Mesmo após quase 40 anos, ele ainda continua um Capitão. Enquanto isso, pessoas de sua época como Iceman estão nos mais altos postos da marinha. Iceman, interpretado por Val kilmer, é um almirante e comandante da frota no pacífico. Maverick segue como piloto de caça. E é justamente essa ligação entre eles que se constrói o alicerce narrativo principal do filme. 

Maverick é chamado para coordenar e ensinar jovens pilotos da marinha a executarem uma missão dita como impossível. Eles devem invadir o território inimigo e bombardear uma usina de enriquecimento de urânio. O nome deste país nunca é citado, mas tudo leva a crer que se trata do Irã. O filme assim se desenvolve. Existe o aspecto objetivo da missão a se cumprir e pequenos detalhes humanos no roteiro sobre o personagem de Maverick. Ele reencontra um velho amor do passado e tem que lidar com o filho de Goose, um antigo companheiro de caça que morreu em um desastre aéreo, no primeiro filme. O que mais me admirou aqui foi ver o vaidoso Tom Cruise aceitar participar de diálogos que, de certa forma, o tornam um velho. Em certo momento do filme, um jovem piloto o chama de vovô! Quem diria que isso poderia acontecer em um filme com Tom Cruise? 

De qualquer maneira, temos aqui um filme muito bom, divertido e que apenas poderia ter usado melhor aquela excelente trilha sonora incidental dos anos 80. Aquele tema tão conhecido é usado apenas timidamente em alguns breves momentos. Top Gun: Maverick é um filme sem maiores pretensões em termos de história e desenvolvimento psicológico dos personagens, mas que cumpre muito bem seu papel de ser um filme blockbuster de verão. Talvez os produtores de Hollywood tenham aprendido alguma lição com esse sucesso todo. Que tal voltar a fazer bons filmes? Como eram aqueles que assistíamos nos anos 80? Acho que o público em geral já está meio cansado de tanto super-herói. Top Gun: Maverick prova justamente isso.

Top Gun: Maverick (Estados Unidos, 2022) Direção: Joseph Kosinski / Roteiro: Peter Craig, Ehren Kruger / Elenco: Tom Cruise, Val Kilmer, Jon Hamm, Jennifer Connelly, Ed Harris, Miles Teller, Bashir Salahuddin / Sinopse: Veterano Capitão da marinha dos EUA é enviado para treinar um grupo de jovens pilotos Top Gun. O objetivo é realizar uma missão em território inimigo. Eles devem destruir uma base de enriquecimento de urânio em um país hostil do Oriente Médio.

Pablo Aluísio. 


terça-feira, 30 de agosto de 2022

Audie Murphy e o Western - Parte 5

Em 1950 Audie Murphy atuou no western "Cavaleiros da Bandeira Negra." Já tive oportunidade de escrever sobre esse faroeste aqui no blog. Murphy interpretava nada mais, nada menos, do que um dos pistoleiros mais conhecidos da história do velho oeste americano, o bandoleiro e assassino Jesse James. É interessante porque ao invés de ser um roteiro mais ligado com a verdade histórica, aqui se priorizou um suposto bom mocismo (que nunca existiu) de Jesse James. O pistoleiro deixa de ser um bandido para ser um homem arrependido.

Ele e o irmão Frank James (Richard Long) decidem abandonar a vida de crimes, deixando para trás o bando de Clarke Quantrill (Brian Donlevy); Esse foi outro personagem histórico real, um facínora que usava as cores de um dos lados da guerra civil para matar e saquear populações civis desarmadas e indefesas. Uma coisa insana. No filme pelo menos ele mantém o estigma de vilão, algo que nem sempre acontece sob uma ótica revisionista histórica que existe principalmente nos estados do sul. Acredite, muitos sulistas até hoje consideram Quantrill uma espécie de herói nacional, ou pelo menos, um herói das cores da bandeira confederada! Algo lamentável realmente.

De uma maneira ou outra, o nome de Jesse James sempre garantia boas bilheterias naqueles tempos. Ele havia sido, ao lado de Billy The Kid, um dos nomes mais conhecidos da mitologia do velho Oeste. Curiosamente, o ator iria ao longo dos anos interpretar os dois personagens históricos. Os filmes não era historicamente precisos, nem era essa sua intenção. Na realidade, eram adaptações de romances de faroeste que eram muito populares na época. Alguns roteiros foram baseados em livros de bolso que viraram febre editorial nos anos 50.

Depois desse faroeste que eu sempre considerei muito bom, Audie Murphy fez um dos melhores filmes de sua carreira. Em "A Glória de um Covarde" o ator foi dirigido pelo mestre John Huston. Seu personagem se chamava Henry Fleming, um soldado ianque que decide desertar durante a guerra civil americana. Todos os seus companheiros de farda parecem ser bravos e valentes, mas Henry tem sérias dúvidas sobre o que está acontecendo. Esse filme é brilhante porque valoriza mais o lado humano de seus personagens. Não é um faroeste comum ou um filme sobre a guerra civil que ficasse no convencional. Algo previsível de entender, já que Huston foi um diretor genial, um dos mais brilhantes cineastas de sua geração. Ele jamais iria fazer um filme de faroeste que fosse banal. Esse sem dúvida foi um dos grandes filmes de Audie Murphy.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O Doce Pássaro da Juventude

Mais uma brilhante adaptação de um texto de Tennessee Williams. Aqui somos apresentados ao casal formado por Chance Wayne (Paul Newman) e Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Eles chegam numa pequena cidade chamada St Cloud e se hospedam num hotel barato. Ela está totalmente embriagada e ele a trata publicamente como uma princesa estrangeira. No decorrer do filme vamos entendendo aos poucos quem realmente são e porque estão ali. A trama é tecida gradativamente, em camadas, com uso extremamente inteligente de flashbacks contando todo o passado deles - que serve para situar o espectador. Nem é preciso dizer que o roteiro tem excelentes diálogos e é excepcionalmente bem interpretado por Newman (em grande forma) e Page (maravilhosa em cena, conseguindo imprimir em sua personagem doses exatas de sensibilidade, humanidade e crueldade psicológica).

Na realidade o texto tem um tema central: A extrema dificuldade que certas pessoas possuem em lidar com o fim da juventude e de encarar os fracassos pessoais. Alexandra Del Lago (Page) retrata muito bem isso. Uma antiga diva do cinema que vê seu mundo desmoronar após perder o encanto e a jovialidade. Já Chance (Newman) é muito mais interessante. Correndo atrás de um sonho que jamais se realizará ele vê seus anos (e sua juventude) passarem em branco, sem conseguir tornar realidade os objetivos que ele próprio determinou a si mesmo. O texto é um dos melhores de Williams, embora não seja tão pesado como o que vimos em outras obras dele como "Gata em Teto de Zinco Quente". Além disso "O Doce Pássaro da Juventude" tem mais clima de cinema, deixando o aspecto teatral da obra original em segundo plano. Enfim, gostei muito e recomendo bastante. Obra prima.

O Doce Pássaro da Juventude (Sweet Bird of Youth, Estados Unidos, 1963) Direção: Richard Brooks / Com: Paul Newman, Geraldine Page, Shirley Knight e Ed Begley./ Sinopse: Chance Wayne (Paul Newman) volta à sua cidade-natal, após muitos anos tentando fazer filmes. Com ele está uma decadente estrela de cinema, Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Enquanto tenta obter ajuda para fazer um teste de cinema, Chance acha tempo para rever sua ex-namorada, Heavenly (Shirley Knight), a filha do político Tom Finley (Ed Begley), que mais ou menos o forçou a deixar a cidade há muitos anos atrás. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Ed Begley). Também vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Geraldine Page).

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de agosto de 2022

Crimes do Futuro

Filme estranho, bem estranho. O que em se tratando do diretor David Cronenberg nem é uma grande surpresa assim. Esse diretor sempre se notabilizou pelos seus roteiros fora do normal, incomuns. É sua marca registrada desde os primeiros filmes. Aqui temos um mundo bem esquisito para falar a verdade. Os seres humanos começam a apresentar estranhas mutações. Darwin previu tudo. Órgãos desconhecidos começam a surgir. E eles precisam retirar essas "anomalias" da natureza. O protagonista é interpretado pelo ator Viggo Mortensen. Ele é um sujeito que faz performances com os seus próprios procedimentos cirúrgicos. Tudo muito esquisito. As coisas mudam de nível quando os pais de um menino morto decidem vender o cadáver do filho para que ele faça uma inovadora performance de palco. O garoto também apresentava estranhas mutações. Ele tinha capacidade de comer plásticos e outros produtos tóxicos. Acabou sendo morto sufocado pela própria mãe! Ao entrar nesse jogo sinistro o performático artista pode ter dado um passo bem sombrio em sua trajetória.

Esse estranho roteiro foi recusado por todos os grandes estúdios de Hollywood. David Cronenberg só encontrou apoio para a produção em uma emissora de TV canadense. E assim o filme foi produzido. Não é um filme que eu indicaria para todos os públicos, longe disso. Seu teor estranho e bizarro vai afastar muita gente. Estranhamente eu acabei me interessando pela história, muito embora tenha percebido que o roteiro segue, de modo em geral, sem um rumo muito determinado. As bizarrices simplesmente acontecem. Muitos abandonam o filme nos minutos iniciais, tamanho o desconforto. E o veterano diretor parece não ter deixado sua obsessão por insetos no passado. Esse é o seu cinema em estado mais puro. A essência de sua obra cinematográfica. Os seus admiradores vão apreciar.

Crimes do Futuro (Crimes of the Future, Canadá, 2022) Direção: David Cronenberg / Roteiro: David Cronenberg / Elenco: Viggo Mortensen, Léa Seydoux, Kristen Stewart / Sinopse: Um artista performático de espetáculos bizarros e estranhos decide usar o corpo de um menino morto para chocar o seu público, em uma última e definitiva apresentação.

Pablo Aluísio.

Pequena Grande Vida

A ciência descobre um jeito de diminuir o tamanho dos seres humanos. E assim surge uma nova Era, com pessoas medindo em torno de 15 cm de altura. E qual seria a vantagem de ficar desse tamanho? Ora, o roteiro explica que quanto menor as pessoas forem, menor será a poluição, menor será o desgaste do meio ambiente. E assim o protagonista do filme, interpretado por Matt Damon, decide também diminuir de tamanho. Ele é um cara esforçado, mas está cheio de dívidas e no mundo pequeno o custo de vida seria muito menor. Com o dinheiro que tem, ele teria uma bela casa e poderia viver até mesmo de renda, então ele decide diminuir de tamanho. A decepção começa logo, pois sua esposa foge da raia no último minuto. Ele fica pequenino e ela não. Mesmo assim, ele vai tentar levar a vida em frente nesse novo mundo. Ele passa a morar numa nova casa, do tamanho de uma casa de bonecas. E tenta seguir em frente mesmo decepcionado com a atitude da sua esposa. 

Esse filme é meio bobo para falar a verdade. Quando começou a premissa me pareceu interessante, sobre a vida de um ser humano pequeno. Mas logo se revela que o roteiro não vai a lugar nenhum. Eu pensei que haveria uma tipo de conspiração contra os pequeninos, mas o roteiro prefere ir pelo caminho do politicamente correto. Logo adota algumas bandeiras. Assim o roteiro foca numa mensagem sobre a destruição do meio ambiente. E também abraça uma agenda positiva em relação aos imigrantes que vão para os Estados Unidos de maneira ilegal. Surge até um romance entre o personagem de Matt Damon e uma refugiada. Nada muito inspirador e nada muito convincente. O filme na realidade começa bem, mas vai perdendo fôlego conforme vai passando. Seu final é bem chatinho. Enfim, uma perda de tempo.

Pequena Grande Vida (Downsizing, Estados Unidos, 2017) Direção: Alexander Payne / Roteiro: Alexander Payne / Elenco: Matt Damon, Christoph Waltz, Hong Chau / Sinopse: Homem comum decide diminuir de tamanho para viver numa cidade para pequeninos. E assim começa uma nova vida e uma nova busca por motivações para continuar a viver.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de agosto de 2022

Elvis Presley - Shake, Rattle and Roll / Lawdy, Miss Clawdy

Após o enorme sucesso do single “Hound Dog / Don´t Be Cruel”, a RCA Victor inundou o mercado americano com nada mais, nada menos, do que seis novos compactos, todos reprises, com músicas que já tinham sido lançadas no álbum Elvis Presley. Nenhum dos singles conseguiu qualquer repercussão nas paradas. De fato foi uma ideia infeliz da gravadora em saturar as lojas com material sem novidades. O único material inédito a chegar aos fãs foi o single “Shake Rattle and Roll / Lawdy Miss Clawdy” que trazia a última leva de canções inéditas das primeiras sessões de Elvis na RCA em Nova Iorque. Curioso que o público acabou se confundindo e ignorou o novo single, pensando tratar-se de relançamento como os demais compactos do pacote. Uma lástima. Além do mais a própria RCA não deu muita atenção ao compacto, não o promovendo e o pior, não teve nem a dignidade de produzir uma capa com foto para o disquinho. Com tantos erros em série, “Shake Rattle and Roll / Lawdy Miss Clawdy” afundou nas paradas, sendo completamente ignorado. É lamentável a má sorte do single pois trazia duas ótimas gravações de Elvis.

O lado A com “Shake Rattle and Roll” era a materialização de uma constante insistência dos executivos para que Elvis gravasse canções do repertório de Bill Haley. Várias músicas de Haley tinham sido oferecidas a Elvis em Nova Iorque, inclusive o mega hit “Rock Around The Clock”, mas Presley as descartou. Diante da insistência acabou registrando essa "Shake, Rattle and Roll" em estúdio, finalmente. O resultado não agradou muito Steve Sholes que a tirou na última hora do primeiro álbum de Elvis. Queria trabalhar melhor depois nela (e o fez adicionando maior consistência à gravação antes de seu lançamento em compacto). Algumas fontes afirmam inclusive que nesse trabalho posterior de melhoramento da gravação o baixista Bill Black fez uma rara participação como vocalista de apoio.

Já “Lawdy Miss Clawdy” foi injustamente jogada no lado B do single, um absurdo, pois seguramente é uma das melhores melodias que Elvis registrou em Nova Iorque. Sua interpretação também é mais do que inspirada. Lloyd Price sempre foi um ótimo compositor e Elvis, por sua vez, sempre fez excelentes versões de sua obra musical. O fracasso de vendas ensinou algumas coisas à RCA. Nunca misturar material inédito e reprises em um só pacote de discos, pois isso certamente confundiria o consumidor. Prezar por belas capas, com boa direção de arte. Capas genéricas da gravadora como a que foi usada aqui era um desastre pois não chamava a atenção dos fãs nas lojas de discos. Por último não se descuidar da promoção das músicas. O compacto“Shake Rattle and Roll / Lawdy Miss Clawdy” foi tão mal lançado que muitos até mesmo ignoraram sua existência nas lojas. Com o péssimo resultado comercial as duas faixas só teriam alguma repercussão melhor três anos depois quando a RCA as resgatou novamente, as incluindo no álbum “For LP Fans Only”, lançado quando o cantor estava na Alemanha servindo o exército americano. Reconhecimento tardio, mas bem-vindo.

Shake, Rattle and Roll (Calhoun) - (Unichappel Music, BMI) 2:37 - Data de gravação: 03 de fevereiro de 1956 - Local: RCA Studios, NY. / Lawdy Miss Clawdy (Lloyd Price) - (ATV Music Co, BMI) 2:08 - Data de gravação: 03 de fevereiro de 1956 - Local: RCA Studios, NY./ Músicos: Elvis Presley (vocais, violão), Scotty Moore (guitarra), Bill Black (baixo), D.J. Fontana (bateria), Shorty Long (piano) / Local de Gravação: RCA Studios, New York, New York /  Produção: Steve Sholes / Engenheiro de Som: Ernie Ulrich / Data de Lançamento: Agosto de 1956.

Pablo Aluísio.