terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Os Esquecidos

Título no Brasil: Os Esquecidos
Título Original: Los Olvidados
Ano de Produção: 1950
País: México
Estúdio: Ultramar Films
Direção: Luis Buñuel
Roteiro: Luis Alcoriza, Luis Buñuel,
Elenco: Alfonso Mejía, Javier Amezcua, Roberto Cobo, Victorio Blanco, Estela Inda.

Sinopse:
Um grupo de garotos de rua vivem da marginalidade numa Cidade do México miserável e super povoada. Para sobreviver à crueldade que impera nos becos e vielas o líder do bando, El Jaibo (Roberto Cobo), não se importa em cometer roubos e outros crimes. A situação realmente sai do controle quando durante uma briga ele espanca um rapaz até a morte. Pedro (Alfonso Mejía), um dos membros delinquentes de seu grupo, acaba tendo uma crise de consciência com tudo o que acontece o que o fará enfrentar El Jaibo mais cedo ou mais tarde pelos destinos e rumos de todos aqueles jovens.

Comentários:
O cinema pode ser também um belo instrumento de denúncia dos males sociais. Que o diga o genial Luis Buñuel nesse Los Olvidados, considerada uma de suas maiores obras primas. Em seu lançamento o filme chocou pois não mostrou crianças e jovens idealizados (como era comum no cinema americano, por exemplo) mas sim garotos endurecidos por uma realidade brutal e sem salvação. Vivendo numa verdadeira lei da selva das ruas o diretor mostra de uma forma muito inteligente os instintos mais básicos e viscerais do ser humano. Nada de bobagens, apenas a realidade nua e crua. Um filme que na verdade é um estudo humanista das misérias do terceiro mundo. O retrato de Buñuel não está muito distante das nossas ruas na atualidade por isso não consigo entender quando vejo um espectador brasileiro ficando chocado com esse filme. Será que essa pessoa nunca olhou pela janela de seu carro para a miséria que assola o Brasil também? De qualquer forma o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes em 1951 dado a Luis Buñuel foi mais do que merecido já que a direção que ele desenvolveu aqui realmente é fantástica! Uma obra excepcional. Coisa de gênio.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O Que a Carne Herda

Filme clássico dirigido pelo grande Elia Kazan. A história é bem interessante. Patricia 'Pinky' Johnson (Jeanne Crain) é uma descendente de negros, só que com a pele branca, que retorna à casa de sua avó no sul dos Estados Unidos após se formar em uma escola de enfermagem no norte. De volta ao lar ela acaba se apaixonando pelo Dr. Thomas Adams, um médico branco, que nada sabe de sua herança negra. Sabendo de sua origem familiar, o Dr. Canady, um médico negro do sul, lhe pede que ajude um grupo de alunos afro-americanos mas ela recusa. Ela vive uma grande crise existencial, sem saber direito se assume sua herança familiar negra ou se esconde isso para ser aceita completamente na sociedade branca sulista, racista por tradição.

Não bastasse ter o grande Kazan na direção, essa produção ainda contou com a ajuda do mestre John Ford (embora ele não tenha sido creditado na direção). O tema é dos mais espinhosos, ainda mais para um filme realizado nos anos 40. Mostra as dificuldades enfrentadas por negros na parte mais racista dos Estados Unidos, o sul. O roteiro é engenhoso pois ao colocar uma personagem com a pele branca, embora descendente de negros, ele coloca uma opção a ela de simplesmente rejeitar sua herança negra para ser mais bem aceita pelos brancos sulistas. Afinal de contas para Pinky isso seria muito mais conveniente pois é apaixonada por um homem branco que dificilmente se relacionaria com ela se soubesse de suas origens. Então entra o dilema em sua vida, negar sua família, sua ascendência negra, ou assumir esse lado e viver com a consciência tranquila? Um belo exemplo do cinema socialmente consciente de Elia Kazan, uma obra inteligente e bem escrita que merece ser conhecida por amantes da sétima arte.

O Que a Carne Herda (Pinky, Estados Unidos. 1949) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Elia Kazan / Roteiro: Philip Dunne, baseado na novela de Cid Ricketts Sumner / Elenco: Jeanne Crain, Ethel Barrymore, Ethel Waters / Sinopse: Drama de época, enfocando a questão racial no sul dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.

O Homem Que Quis Matar Hitler

Título no Brasil: O Homem Que Quis Matar Hitler
Título Original: Man Hunt
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Fritz Lang
Roteiro: Geoffrey Household, Dudley Nichols
Elenco: Walter Pidgeon, Joan Bennett, George Sanders, John Carradine, Roddy McDowall, Ludwig Stössel

Sinopse:
No meio do maior conflito armado da história (a segunda guerra mundial) um capitão das forças armadas britânicas, Alan Thorndike (Walter Pidgeon), é enviado para uma missão perigosa e praticamente suicida: localizar o esconderijo do líder alemão Adolf Hitler na Bavária para assassiná-lo. Capturado pelas tropas do III Reich, ele é torturado, mas consegue escapar. De volta à Londres, o militar começa a ser perseguido pelo serviço secreto alemão que por ordens diretas de Hitler deve matar aquele que ousou atentar contra sua vida.

Comentários:
Mais uma excelente obra do mestre Fritz Lang. O enredo é completamente ficcional, mas realizado em plena guerra, acabou despertando suspeitas no próprio Hitler que se convenceu que havia um plano mirabolante para matá-lo. Aumentou sua segurança pessoal e construiu um bunker inexpugnável em regiões isoladas da Alemanha. Curiosamente o Fuhrer acabou virando alvo não dos ingleses, como é mostrado no filme, mas sim de parte de seus próprios comandantes militares que tentaram matar o chefe em mais de uma ocasião, sendo a mais conhecida o atentado que foi enfocado em vários filmes, inclusive o conhecido "Operação Valquíria" com o astro Tom Cruise. Aqui o que vale mesmo é o desfile de técnicas do grande cineasta. Há obviamente todo um clima noir que ronda todo o desenrolar do enredo, que é muito bem bolado, Pena que a história ficou restrita apenas ao mundo da ficção. Uma boa oportunidade para conhecer bem o estilo do grande Fritz Lang, um dos diretores mais talentosos diretores europeus que já pisaram em Hollywood.

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de dezembro de 2020

O Suplício de Lady Godiva

Clássico do cinema americano que se destaca por trazer uma história bem diferente. E o mais curioso desse roteiro é que praticamente tudo o que se vê no filme foi baseado em fatos históricos reais. A história se passa durante a Idade Média, Naqueles tempos o Rei Edward da Inglaterra tentava unir o país, conciliando saxões e normandos. Basicamente os dois povos que formaram o reino inglês em seus primórdios. Para isso ele determinou que os nobres saxões casassem com mulheres normandas. Além disso ordenou que todos os senhores feudais abrissem mão de seus exércitos particulares para a criação de apenas um exército inglês para todo o reino unido. Contra essas propostas se levantaram alguns nobres, entre eles o Conde Lord Leofric (George Nader) que não aceitava se casar por questões políticas e nem desarmar suas próprias forças de defesa, o seu próprio exército feudal. Para contrariar o Rei Edward, ele decide então se casar com Lady Godiva (Maureen O'Hara), uma saxã da classe dos plebeus. O desafio faz com que o Rei tome várias providências contra Leofric, que teria que ser forte para enfrentar os terríveis desafios que lhe foram impostos por causa de suas fortes convicções e opiniões políticas.

O filme pode ser classificado como uma aventura medieval com vários elementos diversos em seu roteiro: romance, conspirações políticas, ação e até mesmo pitadas de humor. O filme foi produzido em uma época em que épicos medievais estavam na moda em Hollywood. Na Universal vários filmes com Tony Curtis e outros astros do estúdio estavam sendo produzidos nessa mesma ocasião. Maureen O'Hara interpreta o papel principal de Lady Godiva, uma mulher de temperamento forte e marcante, com bastante opinião própria, mesmo sendo uma mulher que viveu na Idade Média inglesa. Um fato curioso é que em várias cenas achei a atriz extremamente parecida com Rita Hayworth. Aliás Rita foi a primeira opção dos produtores para esse papel. Com sua recusa, o filme foi oferecido para Maureen O'Hara que fez um excelente trabalho de atuação.

Ao seu lado no filme foi contratado o galã George Nader. Quem leu a autobiografia do ator Rock Hudson sabe que Nader foi um dos grandes amigos de Hudson na Universal, estúdio onde ambos trabalharam por longos anos. Uma amizade que durou décadas pois eles tinham algo em comum: eram galãs da Universal e eram gays! Não podiam divulgar sua orientação sexual pois caso o fizessem naquela época teriam suas carreiras liquidadas, afinal de contas nas telas só interpretavam homens conquistadores que eram cobiçados pelas mocinhas dos filmes. George Nader aqui surge bem másculo, com voz imponente e gestos rudes. De qualquer maneira essa pequena fofoca de bastidores não atrapalha em nada a apreciação da película que é realmente muito divertida, funcionando até hoje como um bom entretenimento.

O Suplício de Lady Godiva (Lady Godiva of Coventry, Estados Unidos, 1955) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Arthur Lubin / Roteiro: Oscar Brodney / Elenco: Maureen O'Hara, George Nader, Victor McLaglen, Eduard Franz, Leslie Bradley / Sinopse: Durante a Idade Média, uma mulher conhecida como Lady Godiva passa a ser alvo de jogadas políticas envolvendo o Rei da Inglaterra e os dois povos que formavam o povo inglês, os saxões e os normandos.

Pablo Aluísio.

César e Cleópatra

Título no Brasil: César e Cleópatra
Título Original: Caesar and Cleopatra
Ano de Produção: 1945
País: Inglaterra
Estúdio: Gabriel Pascal Productions, United Artists
Direção: Gabriel Pascal
Roteiro: George Bernard Shaw
Elenco: Claude Rains, Vivien Leigh, Stewart Granger, Flora Robson, Francis L. Sullivan, Basil Sydney

Sinopse:
Cleópatra (Vivien Leigh) é uma jovem princesa, descendente da dinastia dos Ptolomeus, que almeja um dia se tornar a Rainha do Egito. Para isso terá que vencer a disputa pelo trono com seu próprio irmão. Em busca de apoio ela acaba conhecendo o influente romano Júlio César (Claude Rains) que logo cai em seus braços. César encontra a perspectiva de um romance mais tentador do que ele esperava, uma vez que Cleópatra é uma política rara, além de brilhante. Como se esses atributos não lhe bastassem ainda é uma linda mulher. E para Cleópatra, um relacionamento amoroso com o homem mais poderoso do mundo pode lhe render muitos dividendos no futuro.

Comentários:
Quando se fala em Cleópatra no cinema as pessoas lembram imediatamente de Elizabeth Taylor. Também pudera, a super produção que estrelou na Fox durante os anos 60 realmente marcou época. O fato porém é que muitos anos antes de Taylor dar vida à Rainha do Egito, outra grande atriz da sétima arte interpretou a marcante figura histórica. Vivien Leigh encarnou com perfeição essa personagem da história tão marcante. O texto, baseado na peça do grande George Bernard Shaw, é bem mais teatral do que o que vimos no filme de Elizabeth Taylor. Além disso não há como comparar ambos os filmes em termos de produção pois essa foi realizada na Inglaterra, sem o luxo e pompa do filme americano. Mesmo assim considero o roteiro desse filme bem mais inteligente e bem escrito, com mais detalhes e desenvolvimento de personagens, do que a megalomania Hollywoodiana estrelada por Liz Taylor. Vivien Leigh também está muito bela, esbanjando charme e elegância em sua interpretação. Para falar a verdade sua atuação é bem mais convincente pois captou melhor a essência da personalidade da  Cleópatra real que não era apenas uma mulher bonita mas ambiciosa e ardilosa também. Assim deixamos a dica desse filme épico que realmente impressiona ainda hoje, mesmo após tantos anos de seu lançamento original. Que tal conhecer a Cleópatra de Vivien Leigh? Não vá deixar passar em branco.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Adeus, Amor

Título no Brasil: Adeus, Amor
Título Original: Bye Bye Birdie
Ano de Produção: 1963
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: George Sidney
Roteiro: Michael Stewart, Irving Brecher
Elenco: Ann-Margret, Dick Van Dyke, Janet Leigh, Maureen Stapleton, Bobby Rydell, Jesse Pearson

Sinopse:
Um famoso cantor de rock, ídolo internacional da música jovem, vai até uma cidadezinha perdida no Ohio para gravar seu programa de despedida antes de ir servir o exército americano. Lá é feito um concurso para escolher a fã número 1 dele que ganhará o direito de beijar seu grande ídolo. A adolescente Kim McAfee (Ann-Margret) entra no concurso disposta a sair vencedora.

Comentários:
Um musical simpático, bem humorado e com uma inédita postura de sátira besteirol, algo que era bem raro no começo dos anos 60. Para o cinema em geral o filme revelou a linda Ann-Margret que chamou tanto a atenção do público que o diretor George Sidney a levou para contracenar com Elvis Presley em "Amor a Toda Velocidade". Aliás nada mais conveniente, pois Ann-Margret foi chamada por um cronista de Nova Iorque como a "Elvis de saias". Curiosamente um dos satirizados dentro do enredo é o próprio Elvis, pois o personagem chave da estória é um roqueiro famoso que vai servir o exército deixando suas fãs apavoradas e desesperadas! Era a própria história de Elvis que servia como paródia ao roteiro desse filme.  A produção é apenas mediana. Porém o sabor de nostalgia, principalmente para quem viveu aqueles tempos, é simplesmente impecável. Além disso o espectador é ainda presenteado com a presença carismática da atriz Ann-Margret, aqui bem jovem e no auge de sua beleza. Enfim, deixo a dica desse filme que é pura diversão. Aproveite a festa e caso tenha vivido aqueles anos distantes sinta muitas saudades! Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor música (Johnny Green) e melhor som (Charles J. Rice). Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor filme - comédia ou musical e melhor atriz - comédia ou musical (Ann-Margret).

Pablo Aluísio.

O Renegado do Forte Petticoat

O tenente Frank Hewitt (Audie Murphy) entra em atrito com seus superiores por causa da política de violência implantada contra índios que deixam as reservas determinadas por tratados entre o governo americano e as nações indígenas. Após um massacre gratuito promovido por seu coronel de batalhão, Frank decide ir até o Texas (seu local de nascimento) para alertar os fazendeiros da região dos perigos de um provável ataque de comanches, em represália às mortes nas tribos da região. Em plena guerra civil americana, poucos homens restaram nessas propriedades rurais, então Frank une um grupo de mulheres para treiná-las contra o iminente ataque dos índios. Ao mesmo tempo precisa ganhar a confiança de todas elas, uma vez que veste uma farda ianque, do exército da União, o que para muitas daquelas sulistas era um ato de traição contra as forças confederadas.

"O Renegado do Forte Petticoat" é mais um bom western da filmografia do ator Audie Murphy. Esse aqui procura inovar pois em um gênero tão masculino temos na linha de frente mulheres fortes e decididas, prontas para defender suas terras. E elas não se saem nada mal para falar a verdade! O choque ocorre em uma velha missão católica abandonada. Esse detalhe do roteiro lembra até mesmo do clássico Álamo". As semelhanças são bem claras nesse aspecto. Temos um grupo de texanas encurraladas na missão, mas lutando até o fim contra os inimigos. No caso da história mostrada nesse filme saem os mexicanos do Álamo e entram os comanches, selvagens, guerreiros que querem a expulsão do homem branco de suas terras.

Praticamente todo o enredo se desenvolve em cima dessa situação. Felizmente o roteiro é bem escrito, ágil e não deixa em nenhum momento o filme cair no tédio, o que seria previsível diante da situação única explorada pelos roteiristas. Na verdade a fita tem a duração ideal, com pouco mais de 70 minutos, algo que faltou no filme "O Álamo" que acabou sendo vítima de suas próprias pretensões. Sendo de menor duração, as cenas de ação e combate se tornam menos repetitivas, trazendo agilidade ao faroeste como um todo. Por fim uma curiosidade: Seguindo os passos de Randolph Scott, o ator Audie Murphy por essa época começou ele próprio a também produzir seus filmes. Aqui ele assina a produção ao lado de Harry Joe Brown, produtor que inclusive produziu vários filmes de western com Randolph Scott.

O Renegado do Forte Petticoat (The Guns of Fort Petticoat, Estados Unidos, 1957) Direção: George Marshall / Roteiro: Walter Doniger, C. William Harrison / Elenco: Audie Murphy, Kathryn Grant, Hope Emerson / Sinopse: Tenente da cavalaria ianque vai até o Texas para ajudar um grupo de mulheres a se defender de um ataque da tribo comanche.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A Vingança de um Pistoleiro

Não era ainda o grande Jack Nicholson que aprendemos a gostar dentro do mundo do cinema. Na época em que escreveu o roteiro de "A Vingança de um Pistoleiro" Jack ainda era um ator em busca do estrelato, de um lugar ao sol. Como nas décadas de 1950 e 1960 o estilo western estava no auge da popularidade, Nicholson resolveu escrever seu próprio faroeste. Afinal se conseguisse vender o roteiro (e quem sabe até estrelar o filme) poderia chamar mais a atenção para si como artista. Assim Jack conseguiu um financiamento de apenas 70 mil dólares com a pequena companhia Proteus Films e partiu para o distante e desértico estado americano de Utah para as filmagens. O orçamento era mais do que apertado, as condições certamente não eram as ideais mas Jack e o diretor Monte Hellman (que tinha dirigido coisas como "A Besta da Caverna Assombrada") conseguiram realizar um filme muito eficiente, que escondia bem seus problemas de dinheiro.

A trama de "A Vingança de um Pistoleiro" é bem simples. No velho oeste um grupo de pessoas inocentes são acusadas de crimes que não cometeram. A partir do momento que todos se convencem de que eles são culpados a coisa fica realmente complicada. Fugindo de justiceiros armados os inocentes acabam virando eles próprios assassinos. O roteiro trabalha muito bem com a situação e parece querer demonstrar bem a diferença entre justiça e vingança - dois conceitos que geralmente são confundidos por todos. Também mostra a infantilidade que pode tomar conta da chamada consciência coletiva. Jack Nicholson abraça uma interpretação bem mais realista do que o público estava acostumado, já antecipando seu grande talento que em poucos anos iria brilhar em Hollywood. O curioso é que o filme anterior de Jack também havia sido um faroeste, "Disparo para Matar", inclusive com esse mesmo diretor. Será que ele planejava seguir os passos de um Randolph Scott? Bom, de uma forma ou outra os rumos de sua carreira iriam mesmo mudar definitivamente com "Sem Destino", uma odisséia pela América. Mas isso é uma outra história.

A Vingança de um Pistoleiro (Ride in the Whirlwind, Estados Unidos, 1966) Direção: Monte Hellman / Roteiro: Jack Nicholson / Elenco: Jack Nicholson, Cameron Mitchell, Millie Perkins / Sinopse: Uma trama de vingança e justiça no meio de um dos desertos mais selvagens e inóspitos do velho oeste.

Pablo Aluísio.

Paixão dos Fortes

Reza a lenda que no ano de 1927 o mítico Wyatt Berry Stapp Earp, ou simplesmente Wyatt Earp (1848 -1929) numa entrevista concedida ao mestre John Ford, contou-lhe em detalhes como fora o famoso duelo de Ok.Corral que ocorrera na cidade de Tombstone no ano de 1881, entre os irmãos Earp e os Clanton. Anos depois, transformado numa obra de arte e batizado de "Paixão dos Fortes" (My Darling Clementine - 1946) o clássico - erguido na exuberância de Monument Valley, palco principal do legendário diretor John Ford - conta a história (verídica) dos irmãos Earp (Wyatt, James, Virgil e Morgan Earp) que depois de abandonarem a cidade de Dodge City - onde Wyatt Earp (Henry Fonda) era xerife - partem para a região do Arizona dedicando-se a criação de gado.

Certa noite, Wyatt, Virgil e Morgan Earp vão até à cidade de Tombstone para conhecê-la um pouco mais e deixam o irmão mais novo, James Earp, sozinho, tomando conta do gado e do acampamento. Ao retornarem, o cenário é desolador: todo o gado havia sido roubado e James Earp, assassinado. Depois de enterrar o irmão, Wyatt torna-se xerife de Tombstone com o objetivo de vingar os assassinos do jovem irmão, e manter a cidade em paz. Ele ainda não sabe quem são os assassinos de seu irmão, no entanto, uma certa turma não sai de sua cabeça: os Clanton (Clanton pai, Billy Clanton, Ike Clanton) e seus comparsas: Billy Claiborne, Tom e Frank McLaury. Wyatt conhece Chihuahua (Linda Darnel) uma espevitada dançarina do saloon local, que alimenta apenas um sonho: a volta de sua paixão, John Henry "Doc" Holliday, ou apenas Doc Holliday: pistoleiro, jogador e dentista (daí o apelido Doc).

A fervura aumenta com a chegada à cidade do irascível Doc Holliday (Victor Mature). Depois de rever a bela Chihuahua o dentista conhece de perto o lendário Wyatt Earp. Wyatt aproxima-se de Doc, mas o encontro dos dois que a princípio poderia se tranformar numa grande amizade vira uma conturbada relação de amizade e ódio que se arrasta até o fim do clássico. Certo dia chega à cidade a bela Clementine Carter (Cathy Downs). Antiga paixão do Doc, Clementine (que inspira a trilha sonora) chega para reencontrar seu antigo e intratável amor. Doc odeia sua presença e diz que se ela não for embora, ele irá. Wyatt apaixona-se por Clementine que resolve ficar. Revoltada com a presença de Clementine em Tombstone, Chihuahua vai até seu quarto para expulsá-la do hotel e da cidade no exato momento em que  é surpreendida pela chegada de Wyatt Earp que acalma a situação. Enquanto conversa com Chihuahua, Earp nota que ela está usando um colar que pertenceu ao seu irmão assassinado. O famoso xerife fica então a poucos instantes de descobrir quem realmente matou seu irmão.

Paixão dos Fortes é um diamante da sétima arte e foi reconhecido pelo próprio John Ford como o seu filme mais precioso. Durante quarenta e cinco dias de filmagens, Ford construiu um verdadeiro monumento, não só ao cinema mas às artes em geral. Ele não era apenas um diretor de cinema, mas também um poeta, um pintor e um visionário de cenas antológicas que marcaram para sempre a história do cinema americano. No clássico, sua chancela está em cada cena e em cada fala. A esplêndida direção de fotografia de Joseph Mac Donald equilibra as imagens em preto e branco com brilhos e sombreamentos excepcionais. O elenco, recheado de lendas do cinema como Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature e Walter Brennan são a cereja do bolo deste clássico inesquecível que entrou para a história do cinema.

Paixão dos Fortes (My Darling Clementine, EUA, 1946) Direção: John Ford / Roteiro: Samuel G. Engel, Winston Miller / Elenco:  Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature / Sinopse: Um dos grandes clássicos de John Ford "Paixão dos Fortes" conta parte da história do lendário xerife Wyatt Earp e o famoso conflito armado ocorrido no OK Corral.

Telmo Vilela Jr.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O Violento

No século XIX no estado americano do Wyoming, três ranchos tentam conviver pacificamente entre si. O juiz da cidade é proprietário de um deles. O segundo pertence a uma arrojada mulher que quer se estabelecer definitivamente na região, com um rebanho de 20 mil cabeças de gado. Por fim há Ben Justin (Charles Bronson) que é um pequeno criador que tenta sobreviver ao lado de ricos e poderosos rancheiros do local. Esse filme "O Violento" nada mais é na realidade do que a união de dois episódios, "Duel at Shiloh" e "Nobility of Kings", da popular série de TV "The Virginian" (que no Brasil recebeu o título de "O Homem da Virgínia). Essa série foi uma das mais populares da década de 1960 nos EUA e contou com grandes nomes em seu elenco, inclusive Charles Bronson. O interessante é que embora tenha sido filmado nos anos 60 (para ser mais preciso, em 1963 e 1965) a Universal só editou os episódios e o lançou como filme em 1972 e a razão disso não é complicada de entender.

Acontece que Charles Bronson havia virado um astro. De simples coadjuvante por anos ele começou a emplacar uma série de sucessos no cinema. Como havia participado da série nos anos 60 e esse material se mostrou adequado para a edição de um filme o estúdio resolveu então não perder a oportunidade de faturar. A boa notícia é que os dois episódios que deram origem a esse filme são realmente muito bons. Mesmo que a edição tenha ficado truncada em certos momentos (o que era previsível), o fato é que o resultado final compensou. É um bom enredo mostrando as lutas de um pequeno rancheiro em sobreviver no meio de grandes tubarões. Tudo o que ele deseja é ser um bem sucedido criador de gado, o que não será nada fácil. O personagem de Bronson aliás é o grande atrativo aqui. Turrão, diria até bronco e rude, ele se destaca por viver em uma luta pessoal enorme pois não aceita desistir de seus sonhos. Assim se você é fã do ator não deve perder. Por fim uma última informação: no Brasil "O Violento" também ficou conhecido pelo título "Chumbo Quente" quando foi relançado em VHS.

O Violento (The Bull of the West, Estados Unidos, 1972) Direção: Jerry Hopper, Paul Stanley / Roteiro:  D.D. Beauchamp / Elenco: Charles Bronson, Geraldine Brooks, Gary Clarke / Sinopse: Rancheiros rivais entre si tentam conviver pacificamente nas distantes terras do Wyoming durante o século XIX.

Pablo Aluísio.