quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Sua Majestade o Aventureiro

Um filme clássico explorando a beleza natural dos sete mares, assim podemos definir essa produção, um belo exemplo de aventura da década de 1950. O enredo não poderia ser mais adequado. Depois de sofrer um motim em seu navio, o Capitão David Dion O'Keefe (Burt Lancaster) vai parar em uma ilha remota no Pacífico Sul. Lá ele descobre um grande potencial para comercializar o óleo dos coqueiros da região, algo de muito valor para ser vendido na rota comercial em direção à Europa. Após fazer amizade com os nativos locais O'Keefe retorna para Hong Kong onde pretende comprar um navio para colocar em prática seus planos. O problema é que várias companhias concorrentes farão de tudo para destruir o objetivo comercial do veterano capitão dos mares. Aventura filmada nas ilhas Fiji, um dos lugares mais bonitos do mundo. Claro que uma produção americana realizada em um lugar tão distante, do outro lado do planeta, acabaria se tornando um desafio e tanto. O diretor Byron Haskin ficou doente durante as filmagens e o próprio astro Burt Lancaster assumiu parte da direção (embora jamais tenha sido creditado por isso pela Warner). Algo até muito injusto porque como podemos perceber bem ao assistir a esse filme o astro Lancaster tinha uma boa mão como cineasta. Ele sabia muito bem o que queria e conseguia extrair o melhor das cenas com mais ação e lutas. Além disso captou como poucos a beleza natural dos lugares onde o filme foi feito.

Como era comum em filmes como esse na época, o protagonista era um aventureiro, um homem que enfrentava todos os desafios para atingir seus objetivos. Um papel perfeito para Burt Lancaster que vindo do circo se sentia muito bem nesse tipo de aventura onde o aspecto físico do ator era bem mais explorado do que sua capacidade dramática. Aliás em inúmeras cenas Lancaster dispensou o uso de dublês, fazendo ele mesmo várias das sequências mais perigosas. Numa delas ele desce a montanha de uma pedreira antes de haver uma grande explosão. Para isso usa apenas cordas, tal como se estivesse em um número de malabarismo sobre o picadeiro. Já sob o ponto de vista atual o roteiro de "His Majesty O'Keefe" poderia até mesmo ser considerado um pouco complicado de digerir. Isso porque o personagem de Burt Lancaster, apesar de seu estilo jovial e dinâmico, sempre com uma atitude de bom mocismo, pretende no final das contas apenas explorar o povo daquela ilha distante; pois o que ele tinha em mente mesmo era comercializar os recursos naturais que supostamente seriam deles de direito.

Um dos problemas que o Capitão precisa resolver é como colocar toda aquela gente para trabalhar atendendo ao seu próprio interesse de ficar rico. Os nativos não pareciam muito propensos ao trabalho, mas sim a cultuar pedras que eles consideravam sagradas. A ótica do colonizador assim acabou prevalecendo, com o Capitão O'Keefe sempre disposto a bolar alguma jogada para se dar bem com a mão de obra daquele povo primitivo. Por fim o filme também traz doses de romantismo, principalmente no romance entre o Capitão e uma garota muito bonita da ilha, interpretada pela bela atriz Joan Rice. Então é isso. "Sua Majestade o Aventureiro" é certamente um bom filme de aventuras ao velho estilo de Hollywood, com muita ação, desafios e a sempre exuberante natureza de Fiji, com suas águas cristalinas e paisagens de tirar o fôlego. Deixe de lado um pouco seu teor politicamente incorreto e tente se divertir, levando em conta a mentalidade da época em que o filme foi lançado. Assim você terá uma ótima diversão passada nos mares do Sul.

Sua Majestade o Aventureiro (His Majesty O'Keefe, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Warner Bros / Direção: Byron Haskin / Roteiro: Borden Chase, James Hill / Elenco: Burt Lancaster, Joan Rice, André Morell, Abraham Sofaer / Sinopse: Explorador, marinheiro e aventureiro um capitão descobre uma maneira de ficar rico com as belezas naturais de uma ilha perdida e quase inexplorada localizada no Pacífico Sul.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

As Sandálias do Pescador

O filme “As Sandálias do Pescador” foi baseado no best-seller de Morris L. West, um dos romancistas mais prestigiados do mundo. Em plena guerra fria, o enredo mesclava política e religião com muita maestria. A trama do filme era pura ficção, mas com nuances baseados em fatos históricos reais. No enredo o protagonista se chama Kiril Lakota (Anthony Quinn), Ele é um cardeal russo que acaba sendo libertado após muita pressão internacional contra o governo comunista da União Soviética. Exilado, ele volta ao Vaticano onde por uma ironia do destino acaba fazendo parte do conclave para a escolha do novo Papa. Como se não bastasse a surpresa de retornar a Roma nesse momento particularmente delicado, acaba ainda por cima sendo eleito o novo Papa pelos cardeais, que cansados das lutas internas dentro da cúria romana decidem eleger alguém de fora para assumir o poder máximo da Igreja Católica no mundo!

A história parece familiar para você? Pois é, incrivelmente parecida mesmo com a história do Papa João Paulo II, que também foi eleito após escapar do regime comunista na Polônia. Nesse ponto o autor Morris West foi incrivelmente perspicaz pois os eventos narrados em seu livro acabaram de certa forma se tornando reais dez anos depois com a escolha de Karol Wojtyla para o trono do pescador. É incrível pensar que ele havia previsto uma década antes que um novo Papa viria de um país dominado pelo comunismo. Era algo impensado na época, justamente por causa da guerra fria que parecia não ter fim. A eleição de um Papa proveniente de um país socialista seria algo não apenas inédito, mas também explosivo do ponto de vista da política internacional. Em meio a tensão, ter um Papa com essas origens iria deixar o cenário ainda mais turbulento e tenso entre Estados Unidos e União Soviética.

“As Sandálias do Pescador” é nitidamente dividido em dois atos. O primeiro que antecede a subida ao trono de São Pedro e o segundo que já mostra o protagonista como o novo Papa eleito. A produção é das mais ricas, com tudo sendo recriado a perfeição em seus menores detalhes. Todos os rituais, liturgias e cerimônias são refeitas com extremo rigor e fidelidade histórica. O elenco é fabuloso. Além de Anthony Quinn como o russo que vira Papa o filme ainda conta com as preciosas atuações de Laurence Olivier (como o premie soviético) e Vittorio de Sica como o Cardeal Rinaldi. Outro ponto positivo é a recriação das intrigas e conspirações palacianas, tão comuns em escolhas de Papas ao longo da história. Embora o filme decaia um pouco em seus momentos finais, o fato é que “As Sandálias do Pescador” é um marco do cinema da década de 60. Uma produção de encher os olhos com um elenco realmente maravilhoso. Em tempos de conclaves, eleições de Papas e tudo mais “As Sandálias do Pescador” se torna ainda mais interessante. Assistindo ao filme você irá perceber que pouco coisa mudou em todos esses anos. Os corredores do Vaticano e seus segredos milenares continuam os mesmos, seja na ficção ou na vida real. São dois mil anos de uma fonte inesgotável de história. 

As Sandálias do Pescador (The Shoes of the Fisherman, Estados Unidos, Itália, 1968) Direção: Michael Anderson / Roteiro: John Patrick, James Kennaway baseados no livro de Morris West / Elenco: Anthony Quinn, Laurence Olivier, Oskar Werner, Vittorio de Sica / Sinopse: Após escapar do regime brutal soviético um cardeal russo (Anthony Quinn) acaba sendo eleito o novo Papa com o nome de Kiril I. Filme indicado ao Oscar nas categorias de de melhor Trilha Sonora original e melhor Direção de Arte.

Pablo Aluísio. 

Hino de uma Consciência

Nesse fim de semana assisti a esse "Hino de Uma Consciência", um filme de guerra bem diferente. Embora o filme se passe em um centro de treinamento de pilotos americanos na guerra da Coreia, o foco do roteiro e argumento não se baseiam essencialmente nisso, mas sim na crise existencial que se abate sobre o protagonista. Rock Hudson aqui interpreta esse jovem Coronel da força aérea dos Estados Unidos que durante a II Guerra Mundial atacou por engano um orfanato de crianças no Japão. Muitas delas morrem por causa desse terrível erro. Corroído pela culpa, psicologicamente destruído, ele resolve se tornar ministro religioso, mas sem muito poder de oratória, acaba fracassando. Após alguns anos acaba voltando mais uma vez ao front de batalha, só que dessa vez como instrutor de jovens aviadores na Guerra da Coreia.

O curioso é que sua redenção vem na forma de ajuda humanitária à população local - seja distribuindo alimentos, seja ajudando crianças sem lar da região. O tom do filme é melodramático, arriscando muitas vezes cair na pieguice, mas que se salva ao final principalmente pelas cenas de batalha entre os caças americanos e inimigos. As boas intenções do roteiro também ajudam o filme em seu resultado final. No meio de tantas mensagens negativas que muitas vezes vemos em algumas produções, assistir a algo assim que incentive as boas ações sempre é muito bem-vindo. Aliás o filme foi premiado pelo Globo de Ouro em uma categoria especial criado pelos jornalistas da época que procuravam premiar roteiros que iam justamente por essa direção, com mensagens positivas, intenções de promover o bem dentro da comunidade, etc. Essa categoria acabou sendo extinta com os anos, infelizmente.

Rock Hudson entrega uma interpretação contida. Ele havia acabado de perder o Oscar de Melhor ator por "Assim Caminha a Humanidade" e talvez por isso estivesse menos empenhado em impressionar. De fato o ator nem gostou muito do roteiro, mas como o convite partiu de Douglas Sirk, o primeiro cineasta a lhe dar uma grande chance em Hollywood, Rock se viu na obrigação de aceitar. Ele sempre se mostrava muito agradecido e leal a quem lhe havia dado a mão e por isso não recusaria a chance de trabalhar novamente com seu mentor em Hollywood. Ao seu lado em cena temos a atriz indiana Anna Kashfi que ganhou notoriedade no cinema americano não tanto por suas interpretações, mas sim por ter sido uma das mais famosas mulheres "exóticas" de Marlon Brando. Para quem não se recorda essa atriz foi a primeira esposa de Brando, mãe de seu filho Christian, que anos depois seria preso por assassinar o namorado de sua irmã. Apesar do esforço em parecer empenhada e envolvida, Kashfi deixa a desejar. Não era particularmente talentosa e nem tinha uma presença marcante em cena. Sem uma grande estrela para contracenar com Rock Hudson o filme perde muitos pontos. Além disso a química do casal é zero, o que piora ainda mais a situação. Talvez ela só esteja no filme por nepotismo de Brando. De qualquer forma "Hino de Uma Consciência" merece ser redescoberto. Sua boa mensagem aliada ao fato de termos Rock Hudson no auge de sua carreira e popularidade mantém o interesse.

Hino de Uma Consciência (Battle Hymn, Estados Unidos, 1957) Direção: Douglas Sirk / Roteiro: Charles Grayson, Vincent B. Evans / Elenco: Rock Hudson, Anna Kashfi,  Dan Duryea, Don DeFore, Martha Hyer, Jock Mahoney / Sinopse: Após bombardear um orfanato japonês durante a II Guerra Mundial, um jovem piloto da força aérea dos EUA decide se redimir de seu erro se tornando ministro religioso. Após sentir que não tem vocação para isso, ele decide então voltar para o front onde se trava a sangrenta Guerra da Coreia. Lá acabará encontrando uma forma de superar o seu terrível erro cometido anos atrás, em um passado que tenta se libertar. Filme premiado no Globo de Ouro.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O Céu é Testemunha

Segunda Guerra Mundial. Após ter seu navio afundado por japoneses o cabo americano dos fuzileiros navais Allison (Mitchum) consegue sobreviver, ficando dias à deriva em alto-mar. Para sua sorte sua pequena embarcação é levada até uma ilha no meio do Pacífico Sul. Ao desembarcar ele acaba descobrindo que só há uma pessoa naquele lugar distante e esquecido por Deus, a freira Angela (Deborah Kerr). Ela é a única sobrevivente da comunidade. Seu superior, o padre Phillips, está morto. Agora juntos terão que sobreviver. Não será uma tarefa fácil, por causa da escassez de alimentos e pela provável ocupação das tropas japonesas que estão chegando para transformar a ilha em um posto avançado das forças imperiais de seu país. Caberá ao militar e à freira a complicada tarefa de não serem descobertos e presos pelos violentos soldados japoneses. Para isso Allison usará de todo o seu treinamento de fuzileiro naval enquanto protege a irmã Angela de mais uma tragédia em sua vida.

John Huston aqui realiza mais uma de suas obras primas. Baseado em um roteiro que foi parcialmente inspirado em fatos reais, Huston explora duas figuras completamente diferentes entre si (um militar e uma religiosa) que se encontram em uma situação limite pela sobrevivência. O mais curioso é que Huston ousou até mesmo ultrapassar certos limites, criando uma atração entre o personagem de Robert Mitchum e a jovem e bonita irmã, interpretada por Deborah Kerr. A tensão sexual que se cria entre eles é uma das melhores coisas desse argumento. Outro fato digno de aplausos é a técnica que Huston explora para desenvolver sua história. Com basicamente dois personagens centrais ele desenvolve diversos temas interessantes, como a força da fé, os limites éticos que caem na luta pela sobrevivência e o que não poderia faltar em uma produção como essa, o senso de aventura.

O militar de Robert Mitchum é um tipo que, apesar de crer em Deus, nunca foi muito preocupado com essa questão religiosa. Órfão, criado em abrigos a vida inteira, chegou a se tornar um delinquente juvenil antes de decidir entrar nos fuzileiros navais e finalmente se encontrar na vida, trilhando um caminho seguro. Já a freira de Kerr é jovem, bela e ainda não fez os seus votos definitivos de castidade, o que abre uma pequena margem de esperanças para o militar, que claramente fica apaixonado por ela. Assim temos um ótimo filme, baseado em uma história que prende a atenção do começo ao fim. Nada mais normal para um gênio do cinema como John Huston.

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, John Lee Mahin / Elenco: Robert Mitchum, Deborah Kerr / Sinopse: Um fuzlileiro naval dos Estados Unidos (Mitchum) consegue sobreviver a um ataque japonês ao seu navio durante a batalha do Pacífico, no auge da II Guerra Mundial. Ele acaba indo parar numa ilha onde conhece a bela e jovem freira irmã Angela (Kerr). Juntos vão tentar sobreviver ao mundo em chamas e à fúria da natureza do lugar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Deborah Kerr) e Melhor Roteiro Adaptado (John Huston e John Lee Mahin). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Deborah Kerr). Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme - Estados Unidos e Melhor Ator (Robert Mitchum),

Pablo Aluísio. 

A Taberna das Ilusões Perdidas

Tentando tornar em realidade seus sonhos de se tornar um músico de sucesso, o jovem saxofonista Pete Hammond Jr (Tony Curtis) resolve ir embora da pequenina cidadezinha do meio oeste onde nasceu rumo a Nova Iorque. Na cidade grande ele acaba conhecendo o lado duro da vida. Para sobreviver nos primeiros dias, sem emprego e sem trabalho à vista, ele divide um pequeno quartinho com a jovem Peggy Brown (Debbie Reynolds). Ela também veio do interior alguns meses atrás com o sonho de se tornar modelo, mas tudo o que conseguiu foi ganhar alguns trocados trabalhando como companhia de dança em um estabelecimento barato nas redondezas. Prestes a ser despejada por falta de pagamento do aluguel ela acaba se tornando amiga de Pete. Afinal ambos estão passando pelos mesmos problemas (e eles são muitos a cada dia). Quando eu vi as informações sobre esse filme pela primeira vez pensei se tratar de uma comédia romântica. Essa primeira impressão veio do fato do elenco ser encabeçado pela dupla Tony Curtis e Debbie Reynolds, uma espécie de casal doçura dos anos dourados. Para minha surpresa não era nada disso. O filme tem uma trama realista, melancólica e até mesmo triste. Embora o romance venha a aparecer em seu clímax (em um dos poucos momentos de doce esperança nesse roteiro amargo), o fato é que o filme investe mesmo na dura realidade de dois jovens perdidos em uma grande cidade que no fundo pode engolir a ambos sem piedade.

O título original do filme inclusive vem de uma fala ácida de Reynolds ao dizer que pelo luta da sobrevivência na selva de pedra vale tudo, com as pessoas se comportando como se estivessem em uma corrida de ratos! É triste, mas soa bem real de fato. A própria personagem de Debbie Reynolds é um jovem garota que não sonha mais. Ela havia ido para New York pensando se tornar modelo, mas tudo cai por terra e ela se vê sendo explorada por um crápula que a chantageia para que ela se torne prostituta. Arruinada financeiramente, ela não consegue sequer pagar o aluguel do quartinho minúsculo em que mora! Sua falta de esperança acaba contrastando  com a chegada do músico de interior interpretado por Tony Curtis. Esse ainda sonha em vencer na cidade grande, se tornando um músico de renome. Os primeiros dias porém logo acabam com suas esperanças. Uma quadrilha de picaretas rouba seus instrumentos e ele fica sem seu meio de trabalho.

O drama desse filme realmente me deixou bem surpreso. Não é algo tão dramático e trágico como nas peças de Tennessee Williams, mas que acaba no final das contas tendo a mesma dose de realismo cortante. A única coisa que pode salvar personagens tão amargos, vivendo em uma realidade tão cruel, é o amor. E eles estão tão massacrados pela vida dura que levam que até isso - expressar um sentimento verdadeiro pelo outro - acaba virando um tremendo esforço pessoal por parte de cada um deles. Em suma, um filme realmente acima da média que vai agradar bastante aos cinéfilos que estejam em busca de um tipo de cinema clássico mais socialmente consciente, retratando pessoas bem reais, com suas dificuldades para viver a cada dia, tentando sobreviver ao seu próprio fracasso pessoal.

A Taberna das Ilusões Perdidas (The Rat Race, Estados Unidos, 1960) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Robert Mulligan / Roteiro: Garson Kanin / Elenco: Tony Curtis, Debbie Reynolds, Jack Oakie, Kay Medford, Don Rickles, Marjorie Bennett, Joe Bushkin / Sinopse: jovem músico, vindo do interior, tenta vencer na cidade grande. Ele logo percebe que as coisas não serão muito fáceis, principalmente após sofrer um golpe dado por outros músicos que roubam seu instrumento, seu único meio de sobreviver em sua nova vida.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

The Mandalorian

Star Wars - The Mandalorian
Há um certo consenso entre os fãs de "Star Wars" que a franquia anda derrapando feio nos cinemas. Esse último filme, que está entrando em cartaz, recebeu uma tonelada de críticas ruins - e não foi apenas dos especialistas, dos jornalistas, mas também dos fãs, o que é bem grave. Curioso é que se "Star Wars" não anda agradando nos cinemas, no ramo das séries há uma boa novidade chegando. Se trata de "The Mandalorian", nova série da Disney passada no mesmo universo de "Star Wars".

Essa nova série está sob controle do diretor Jon Favreau. Ele criou o conceito, os personagens e os roteiros. Ele tem muita experiência. Já lidou com sucesso nas adaptações do Homem de Ferro nos cinemas. Também dirigiu bons filmes como "Mogli, o Menino Lobo" e a nova versão de "O Rei Leão". Sabe o que faz e tem talento para isso. Aqui nessa postagem vou publicar, de forma gradual, todas as resenhas dos episódios que vou assistindo. Certamente será uma boa opção de entretenimento conferir tudo o que se passa nesse novo programa - que vem recebendo boas críticas de uma maneira em geral. Ao custo de 100 milhões de dólares já é uma das melhores novidades do ano. E para quem andava reclamando do novo filme - que para alguns é bem ruim - não deixa de ser um alívio mais do que bem-vindo.

The Mandalorian 1.01 - Chapter 1: The Bounty
Por mais estranho que isso possa parecer o clima desse primeiro episódio é de puro velho oeste. Sim, daqueles faroestes clássicos que estamos tão bem acostumados a assistir. O protagonista é um caçador de recompensas. Um mandaloriano que cruza o universo em busca de criminosos e procurados em geral. Ele vive das recompensas que ganha quando os captura. O problema é que os tais sujeitos formam a escória do universo e esse trabalho passa longe de ser fácil! Nesse primeiro episódio ele consegue sua captura e terminado o serviço, com mais cinco presos em sua nave, ele retorna para receber o prêmio por suas cabeças. E acaba aceitando um novo serviço. Ir atrás de alguém (sem saber exatamente quem) em um lugar inóspito e cheio de bandoleiros. O episódio termina com ele frente a frente de sua presa. Quer uma pista? Baby Yoda! (ainda iremos falar muito nele por aqui, já que virou uma espécie de febre dos memes na internet!). E o mais divertido de tudo é saber que a tal criaturinha não é o Yoda e nem tampouco é um baby, pois tem 50 anos de idade! Só "Star Wars" mesmo para criar algo assim.../ The Mandalorian 1.01 - Chapter 1: The Bounty (Estados Unidos, 2019) Direção: Dave Filoni / Roteiro: Jon Favreau / Elenco: Pedro Pascal, Carl Weathers, Werner Herzog, Nick Nolte.

The Mandalorian 1.02 - Chapter 2: The Child  
A criança (que ganhou o apelido de "Baby Yoda") está recuperada. Com isso o caçador de recompensas mandaloriano já pode sair daquele planeta deserto. Só que ao chegar em sua nave ele tem uma surpresa bem desagradável. O povo do deserto depenou as peças dela. Com a ajuda de Kuiil (Nick Nolte) ele vai até o povo do deserto negociar com aquilo que havia sido roubado dele! Tempos complicados. Eles pedem sua arma. Ele nega. Pedem o Baby Yoda. Ele nega. Então o povo do deserto lhe faz uma oferta mais aceitável. Ele teve trazer o ovo de um animal da região. Em troca eles lhe devolverão as peças roubadas. Só que o tal bichano é uma fera monstruosa! Excelente episódio, mesclando diversão, aventura e ótimas cenas de ação. Os produtores dos filmes para o cinema deveriam dar uma olhada aqui para ver como se faz para renovar a franquia Star Wars com qualidade. / Star Wars - The Mandalorian 1.02 - Chapter 2: The Child  (Estados Unidos, 2019) Direção: Rick Famuyiwa / Roteiro: Jon Favreau / Elenco: Pedro Pascal, Nick Nolte, Misty Rosas.

The Mandalorian 1.03 - Chapter 3: The Sin 
O caçador de recompensas fez sua parte. Ele localizou e colocou as mãos no pequeno Baby Yoda. Após realizar seu serviço entrega a criança para seu cliente, mas a consciência fica pesada. Ele recebe o pagamento em tabletes de aço forjados pelo império. Vai usar o material para reforçar sua armadura. Quando todos pensam que ele vai entrar em sua nave para ir embora do planeta, ele muda de ideia. Pega suas armas e vai atrás do pequeno Yoda. E aí se origina uma carnificina. Ele acaba sendo salvo na última hora por outros caçadores de recompensa, mesmo todos sabendo que ele quebrou o "código de ética" de sua profissão, da guilda. Com a criança dentro de sua cabine ele então vai embora. Bom episódio, sempre mantendo o bom padrão dessa boa série com o selo "Star Wars". / The Mandalorian 1.03 - Chapter 3: The Sin (Estados Unidos, 2019) Direção: Deborah Chow / Roteiro: Jon Favreau / Elenco: Pedro Pascal, Werner Herzog, Omid Abtahi.

The Mandalorian 1.04 - Chapter 4: Sanctuary
O mercenário mandaloriano e seu "pequeno Yoda" chegam em um pequeno planeta perdido no universo. Claro, eles estão em fuga, então aquele lugar parece ser o ideal pois é perdido no meio do nada absoluto. Lá eles conhecem um pequeno vilarejo onde o povo local, todos fazendeiros e inexperientes na arte da guerra, pedem por sua proteção. Eles juntam tudo o que possuem e contratam o mercenário. Seu "serviço" é proteger a vila do ataque de um bando de bandoleiros, só que armados também com um tanque imperial (só não se sabe como ele foi parar ali). Nesse episódio o mercenário também conhece uma guerreira e pinta até um certo clima entre eles. O curioso é que esse roteiro é óbviamente uma homenagem ao clássico do western americano "Sete Homens e um Destino", com as devidas adaptações, claro. No final é um episódio bem interessante da série e com duração um pouco maior do que os anteriores. / Star Wars - The Mandalorian 1.04 - Chapter 4: Sanctuary (Estados Unidos, 2019) Direção: Bryce Dallas Howard / Roteiro: Jon Favreau / Elenco:  Pedro Pascal, Gina Carano, Julia Jones.

The Mandalorian 1.05 - Chapter 5: The Gunslinger
O caçador de recompensas mandaloriano e o Baby Yoda chegam em um planete deserto, depois que são atacados no espaço. A nave fica avariada, necessitando de conserto urgente. Ele acaba encontrando uma senhora que conserta naves e que acabará se revelando uma boa amiga leal. Só que para pagar seus serviços o caçador acaba aceitando uma oferta para caçar outra caçadora de recompensas que está no lugar. Ela é boa, uma das melhores da guilda e não será nada fácil cumprir mais esse serviço. Bom episódio que conta com duas atrações a mais para os fãs de "Star Wars". Primeiro o uso de motocicletas voadoras e o outro o surgimento do povo da areia. Figurinhas conhecidas dos filmes do cinema. / The Mandalorian 1.05 - Chapter 5: The Gunslinger (Estados Unidos, 2019) Direção: Dave Filoni / Roteiro: Dave Filoni / Elenco:  Pedro Pascal, Amy Sedaris, Jake Cannavale.

The Mandalorian 1.06 - Chapter 6: The Prisoner
O mercenário mandaloriano é contratado para ir até uma nave prisão da Nova República para resgatar um dos prisioneiros. Serviço perigoso, mas bem pago. Ao seu lado se une um estranho grupo. Uma especialista em matar com facas, um assassino profissional, um "diablo" de pura força bruta e um droid, com design de inseto cibernético. O serviço se torna mais complicado do que eles poderiam pensar, só que o Mandaloriano cumpre seu papel, com uma pequena ajuda do Baby Yoda, aqui mais uma vez treinando seus poderes da força, dominando as mentes dos fracos de espírito. / The Mandalorian 1.06 - Chapter 6: The Prisoner (Estados Unidos, 2019) Direção: Rick Famuyiwa / Roteiro: Christopher L. Yost, Rick Famuyiwa / Elenco: Pedro Pascal, Mark Boone Junior, Bill Burr.

The Mandalorian 1.07 - Chapter 7: The Reckoning
Nesse episódio, infelizmente, Baby Yoda finalmente cai nas mãos do império. Antes disso o mercenário mandaloriano é convidado para retornar, acertar as contas com a guilda. Greef Karga (Carl Weathers) lhe oferece a seguinte proposta: ele trará a criança de volta. A intenção é usá-la como uma isca, para eliminar um ex-combatente no império que insiste em colocar as mãos nele. Só que a proposta na realidade esconde uma emboscada. Esse episódio também traz alguns aspectos que vão agradar aos fãs de Star Wars. Uma delas é a presença de um grande pelotão de tropas imperiais. Dois deles usam motos, iguais as que se viu em "O Império Contra-ataca". A nostalgia vai bater. Outra é mostrar de uma vez por todas o poder de cura do pequeno Yoda. Episódio bacana, mas que não se encerra, deixando a porta aberta para o último episódio da temporada. / The Mandalorian 1.07 - Chapter 7: The Reckoning (Estados Unidos, 2019) Direção: Deborah Chow / Roteiro: Jon Favreau / Elenco:  Pedro Pascal, Carl Weathers, Gina Carano, Nick Nolte.

The Mandalorian 1.08 - Chapter 8: Redemption
Esse é o último episódio da primeira temporada da série. E o que acontece nesse episódio final? Baby Yoda é salvo das mãos de dois soldados do império pelo Droid babá. E pensar que o Mandaloriano não confiava nesses seres robóticos. E esse Droid, uma antiga peça de guerra do império, agora reprogramado, é sem dúvida um dos destaques do episódio. Ele salva não apenas o Baby Yoda, mas a todos que estavam cercados pelo império. Sua redenção ou seu sacríficio na lava bate forte entre os fãs de Star Wars. Alias é bom frisar que nesse episódio pela primeira vez é falada a palavra Jedi. E uma cena se destaca entre todas as demais, quando o Mandaloriano literalmente monta em um caça do império para destrui-lo. Grande cena. No final Baby Yoda e o mercenário terminam juntos, entrando em sua nave, rumo a novas aventuras no universo. A série já tem confirmada mais duas temporadas. Pelo visto vai longe. E merece todo o sucesso porque é realmente muito boa. Deixo aqui minhas palmas para Jon Favreau e toda a sua equipe. Fizeram um excelente trabalho! / The Mandalorian - Chapter 8: Redemption (Estados Unidos, 201 ) Direção: Taika Waititi / Roteiro: Jon Favreau / Elenco:  Pedro Pascal, Taika Waititi, Giancarlo Esposito, Carl Weathers.

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de dezembro de 2019

O Farol

Esse filme está sendo muito elogiado no exterior. Alguns críticos inclusive defendem que ele seja indicado ao Oscar de melhor filme do ano. Exagero? Sim, tenho que discordar desse tipo de opinião com mais entusiasmo. Na verdade o filme - dito por alguns como um terror - não se trata disso. No máximo poderia classificar essa obra como um drama psicológico, com nuances sutis de suspense. A trama é bem básica. Só há dois personagens em cena: os trabalhadores Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson), Eles são levados até uma ilha remota e isolada. A função da dupla é manter o farol local funcionando. O trabalho é duro, principalmente para o mais jovem, Ephraim. Já o velho Thomas é um veterano lobo do mar. Depois que se retirou da profissão de marinheiro, se tornou faroleiro. Logo que eles chegam na ilha o velho se impõe ao mais jovem e deixa claro que naquela ilha perdida ele é quem manda. Também determina que apenas ele poderá cuidar da manutenção das lentes do farol. Isso, claro, cria uma curiosidade no mais novo. O que estaria o velho fazendo lá em cima durante as madrugadas? Porém a solidão e o isolamento logo cobram seu preço. Eles começam a beber demais... e não demora muito a surgirem alucinações. Uma delas inclusive muito peculiar, envolvendo uma sereia! Para quem vive ali por meses, sem contato nenhum com o sexo feminino, era de se esperar mesmo que eles começassem a alucinar com uma bela mulher, mesmo que ela fosse uma figura mitológica.

O filme foi todo rodado com uma fotografia em preto e branco bem escura. A intenção era relembrar antigos filmes dos anos 1940. Para o público atual esse visual e seu roteiro mais estiloso, vai soar como algo bem estranho. Para os amantes da cinefilia porém isso será um bônus a mais em favor do filme. Particularmente até apreciei o filme naquele que ele tem de melhor, em especial no quesito atuação. Que Willem Dafoe é um dos atores mais talentosos de sua geração, acho que ninguém tem mais dúvida. A surpresa vem com Robert Pattinson. Eu sempre o considerei um ator muito fraquinho mesmo. Aqui porém ele cresce, porque precisou estar à altura de Dafoe, ou pelo menos não passar vergonha ao seu lado. Com isso o ator conseguiu sua melhor atuação no cinema. As fãs de Crepúsculo, por outro lado, provavelmente vão odiar o filme. De minha parte até gostei do conjunto, mas daí a indicar ao Oscar como um dos melhores do ano já penso ser um tanto exagerado.

O Farol (The Lighthouse, Estados Unidos, Canadá, Brasil, 2019) Direção: Robert Eggers / Roteiro: Max Eggers, Robert Eggers / Elenco: Willem Dafoe, Robert Pattinson, Valeriia Karaman / Sinopse: Dois faroleiros, Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson), chegam numa ilha isolada e remota da costa. O trabalho deles nos próximos meses será de manutenção e conserto do farol, só que nesse meio tempo coisas estranhas começam a acontecer. Embriagados, começam a ter uma série de alucinações.

Pablo Aluísio. 

sábado, 7 de dezembro de 2019

Dois Papas

Achei excelente esse filme. O tema sobre perdão e humanidade caiu muito bem, tudo bem escrito, em um roteiro realmente acima da média. Além disso é um tema dos nossos dias e vai despertar a atenção de muitas pessoas. O filme inclusive já é cotado para ser um campeão de indicações no Oscar, com destaque para o elenco, esse realmente excepcional. O grande Anthony Hopkins, um dos meus atores preferidos de todos os tempos, interpreta o Papa Bento XVI. Quando o encontramos nas primeiras cenas, ele ainda é apenas o cardeal Joseph Ratzinger. O Papa João Paulo II está morto e um conclave é convocado. Na votação duas correntes da igreja se enfrentam, os conservadores e os progressistas, que querem modernizar essa instituição milenar. Nessa primeira eleição Ratzinger se consagra vencedor e se torna o Papa Bento XVI. Só que o segundo lugar no conclave também se destaca. Ele é um cardeal pastoral argentino chamado Jorge Mario Bergoglio (Jonathan Pryce). O caminho deles volta a se cruzar alguns anos depois, no próprio Vaticano. Bergoglio vai até Bento XVI para pedir sua aposentadoria. Se considera cansado após tantos anos de luta dentro da igreja. Jesuíta, acredita que já fez tudo o que poderia fazer. Só que Bento XVI não lhe dá ouvidos. Ambos se aproximam e acabam criando uma bela amizade.

O roteiro do filme se concentra então em uma série de conversas entre eles, tudo também mesclado com cenas de flashback do passado de ambos os religiosos. E aí o roteiro mostra toda a sua força. O filme, que poderia ser considerado de antemão chato e arrastado, jamais cai nessa armadilha. Tudo é feito com talento raro. Os dois grandes atores "duelam" em cena e quem acaba se saindo vencedor é o próprio espectador. Mesmo com a idade já um tanto avançada, Sir Anthony Hopkins brilha como poucos. Ele está perfeito em seu papel e já é considerado um dos fortes candidatos ao Oscar desse ano. Não menos bem se sai Jonathan Pryce, como o carismático, popular e "gente boa" Bergoglio. Um é o aristocrata conservador, homem de tradição, o outro é o homem do povo, popular, sempre com um sorriso no rosto, esbanjando simpatia. O alemão é um estudioso, homem de livros, teórico. O argentino é um homem do povo, que privilegia o lado pastoral, um prático da fé cristã. Do choque dessas duas personalidades tão diferentes nasce um grande filme. É uma obra-prima cinematográfica assinada pelo brasileiro Fernando Meirelles que aqui merece todas os aplausos de pé. A conclusão não poderia ser outra. É um filme realmente maravilhoso,

Dois Papas (The Two Popes, Estados Unidos, Itália, Argentina, 2019) Direção: Fernando Meirelles / Roteiro: Anthony McCarten / Elenco: Anthony Hopkins, Jonathan Pryce, Juan Minujín / Sinopse: O destino de dois membros do clero católico se encontram após a morte do Papa João Paulo II. Ambos estão destinados a também se tornarem Papas. E uma amizade sincera, baseada muitas vezes na diferença de opiniões entre eles, nasce no meio de uma crise enfrentada pela Igreja. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator (Jonathan Pryce), Melhor Ator Coadjuvante (Anthony Hopkins) e Melhor Roteiro (Anthony McCarten).

Pablo Aluísio. 

Nós

Eu deveria ter ligado os pontos antes de começar a assistir a esse filme. O diretor Jordan Peele é o mesmo de "Corra!" e eu não havia gostado muito desse seu filme anterior. Porém deixei de prestar atenção e fui conferir esse novo terror. É a tal coisa, alguns filmes apresentam muito clima, muito estilo até, mas se formos pensar bem tem pouco ou nenhum conteúdo. É o caso desse "Us". Começa até bem convencional. Uma família de negros parte para suas férias. O paizão aluga uma casa perto de um bonito lago. Ele gostaria de ir para a praia, mas a esposa tem problemas e traumas desde a infância. Ela entrou em uma velha casa de espelhos quando criança. Esse tipo de coisa era bem popular nos anos 50, ainda mais naquelas cidades que viviam de turismo à beira-mar. Só que esses velhos parques de diversões também faliram com os anos e acabaram se transformando em cenários naturais para filmes de terror. Toda aquela decadência, aqueles brinquedos enferrujados, aqueles cartazes velhos, mostrando coisas bizarras. Pois bem, é justamente nesse lugar que a Adelaide (Lupita Nyong'o) entrou quando era apenas uma garotinha. E lá ela também encontrou uma versão em carne e osso de si mesma. Uma duplicata. Como explicar essa coisa surreal? Esqueça, nem o roteiro vai te explicar direito. Apenas embarque na proposta e veja como o filme vai ficando cada vez mais esquisito com o passar do tempo.

São sombras que ganharam vida? São pessoas marginalizadas que vivem nos bueiros e esgotos da cidade? São seres de puro mal, representando o lado obscuro de cada um? Ora, nem adianta perder muito tempo procurando explicações porque esse roteiro não vai lhe dar nada em definitivo. Penso apenas que partir de uma premissa interessante não garante um grande filme. Ainda mais quando ele se rende aos piores clichês de produções de terror ao estilo gore. Muitas cenas são estupidamente violentas e desnecessárias. O sangue jorra através de tesouradas e o espectador acaba bocejando de tédio. Esse é um problema e tanto a superar. No final achei o filme bem cansativo. Essas ideias que o Jordan Peele criou para seu filme não levam a nada. É legal até certo ponto, mas deixa aquela sensação de cansaço após quase duas horas de busca pela explicação. No fundo não tem explicação nenhuma. É apenas um conceito, uma ferramenta que o filme usa como muleta narrativa.

Nós (Us, Estados Unidos, 2019) Direção: Jordan Peele / Roteiro: Jordan Peele / Elenco: Lupita Nyong'o, Winston Duke, Elisabeth Moss, Tim Heidecker, Shahadi Wright Joseph, Evan Alex / Sinopse: Família de negros de classe média passa a ser perseguida por estranhas pessoas desconhecidas. Quando chegam perto demais descobrem que são versões violentas delas mesmas! Como isso pode acontecer? Quem são essas pessoas duplicadas? De onde vieram? O que querem? Como superar uma situação tão bizarra como essa?

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Os Aeronautas

A história desse filme se passa no século XIX. Aqui temos uma mescla entre personagens históricos que de fato existiram, com personagens de pura ficção. O cientista e astrônomo James Glaisher (Eddie Redmayne) se une a viúva Amelia Wren (Felicity Jones), cujo marido morreu durante uma expedição em um balão, para um novo desafio. Eles vão tentar bater o recorde de altura. Pretendem ir até onde nenhum baloeiro jamais tinha ido. E nesse processo James pretende fazer vários experimentos pois ele quer provar que a previsão do tempo seria possível - isso em uma época em que os demais cientistas nem levavam isso em conta. Acabou descobrindo muito mais. Ele chegou na conclusão que a atmosfera teria várias camadas e que quando mais alto o ser humano fosse mais ele enfrentaria escassez de oxigênio e queda na temperatura. Claro, hoje em dia todos sabemos disso, porém na época foi uma descoberta científica importante. E nesse desafio eles tinham que sobreviver às terríveis condições pelas quais passariam.

O cientista interpretado pelo ator Eddie Redmayne é de fato um personagem histórico real. Ele foi um pioneiro nessas pesquisas, escrevendo livros e teses que até hoje são referências bibliográficas para estudiosos. Já sua parceira no filme, a "piloto" do balão Amelia Wren é puramente ficcional. O roteiro apenas juntou histórias de várias mulheres aeronautas da época para fundir em uma só personagem dentro da trama. Deu certo. Eu gostei da dualidade entre um cientista racional, pura metodologia científica, com uma mulher emocional, tentando superar a perda de seu marido em uma expedição anterior. O filme funciona muito bem. Com basicamente dois personagens em cena, tentando sobreviver dentro de um balão, você poderia achar que ficaria chato. Muito longe disso. O filme tem excelentes cenas de suspense e ação e resgata a história desses pioneiros da aviação.

Os Aeronautas (The Aeronauts, Inglaterra, Estados Unidos, 2019) Direção: Tom Harper / Roteiro: Tom Harper, Jack Thorne / Elenco: Felicity Jones, Eddie Redmayne, Himesh Patel / Sinopse: Em um tempo pioneiro da aviação, um tímido cientista chamado James Glaisher (Eddie Redmayne) se une a Amelia Wren (Felicity Jones), uma mulher forte e decidida que quer superar um trauma do passado, em uma missão única. Tentar chegar ao recorde de altura em um balão, para não apenas chegar no mais alto possível, como também para fazer diversas experiências científicas.

Pablo Aluísio.