sábado, 21 de maio de 2016

Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre

Título no Brasil: Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre
Título Original: Tora no o wo fumu otokotachi
Ano de Produção: 1945
País: Japão
Estúdio: Toho Company
Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Akira Kurosawa
Elenco: Denjirô Ôkôchi, Susumu Fujita, Ken'ichi Enomoto

Sinopse:
No Japão feudal do século XII, dois clãs familiares lutam entre si. O clã samurai Heike luta para dominar as vastas terras dos guerreiros Minamotos. Após uma sangrenta batalha o general Yoshitsune Yoritomo volta para seu lar em Kyoto mas descobre que seu irmão, o Shogun Yoritomo, está traindo seu próprio clã. Após escapar de uma emboscada ele consegue fugir com seis de seus mais leais samurais ao se disfarçarem de monges. Agora terão que lutar por suas próprias vidas ao mesmo tempo em que tramam a queda do traidor de sua própria casa. 

Comentários:
"Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre" foi realizado em um dos períodos históricos mais terríveis da história do Japão. Nesse mesmo ano de 1945 duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki, foram varridas do mapa por duas bombas nucleares jogadas por aviões americanos, selando dessa forma o fim da Segunda Guerra Mundial. A sociedade japonesa assim passaria por transformações que a moldariam para o que se tornou  hoje em dia. Velhas tradições seriam substituídas pela tecnologia e pela cultura americana. O inimigo e sua invasão cultural mudariam os gostos e padrões dos japoneses para sempre. Akira Kurosawa porém procurava resgatar parte dessa tradição cultural. O filme é uma adaptação de uma peça teatral milenar, que sempre fez parte do folclore do Japão. Seu trabalho é realmente fantástico, mesmo sob o olhar atual. Kurosawa explora as tradições e valores ancestrais mas de uma forma atrativa, sem se tornar chato ou pretensioso. Embora tenha sido apenas seu quarto filme - e o primeiro a chegar ao Brasil - ele já dava muitos sinais de seu grande talento como cineasta e humanista. Uma obra que já antecede o gênio que iria se revelar nos anos seguintes.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

The Offering

Título Original: The Offering
Título no Brasil: Ainda Não Definido
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos, Singapura
Estúdio: Highland Film Group
Direção: Kelvin Tong
Roteiro: Kelvin Tong
Elenco: Elizabeth Rice, Pamelyn Chee, Matthew Settle
  
Sinopse:
Após a morte de sua irmã em Singapura, a jovem americana Jamie Waters (Elizabeth Rice) resolve viajar até aquele distante país asiático para trazer sua sobrinha de volta aos Estados Unidos. Uma vez lá começa a desconfiar das causas da morte de sua irmã, uma vez que o laudo oficial determinava como causa mortis o suicídio. Pesquisando ela descobre que a velha casa onde ela morava teria um passado negro, onde vários membros de uma mesma família teriam sido mortos por um pai enlouquecido, que praticava magia negra. Agora ela precisa salvar a sobrinha das garras do mal absoluto.

Comentários:
Alguns roteiros de filmes de terror possuem muito potencial. Infelizmente nem sempre grandes ideias dão muito certo nas telas. É o que vejo no caso dessa produção. Há várias boas ideias dentro da trama, mas nenhuma delas é bem trabalhada ou desenvolvida. O simbolismo que vai surgindo é um dos pontos mais interessantes que fica pelo meio do caminho. Várias pessoas, de diferentes camadas sociais, cometem suicídio. No lugar onde as mortes ocorrem surge um velho símbolo demoníaco referente a Leviatã, uma velha criatura citada no velho testamento. Isso por si só já daria margem a uma boa estória de terror, mas nada é muito bem realizado nesse aspecto. A atriz Elizabeth Rice é bonita e diria até talentosa, mas não tem muito o que fazer com o material do roteiro. Em termos de efeitos especiais eles são até discretos. Na cena final acontece um grande exorcismo envolvendo um padre traumatizado com rituais desse tipo, pois no passado uma pessoa exorcizada por ele teria morrido em suas mãos. A culpa então se torna esmagadora. Por essa razão sua fé estaria abalada, chegando ao ponto dele duvidar até mesmo da existência de Deus. Agora, frente a frente com o Leviatã, ele precisa voltar a erguer uma muralha de espiritualidade em torno de si mesmo. Outro fato que acabei percebendo foi que as situações criadas pela trama acabam tendo soluções rápidas demais. Fora isso o suspense não é bem desenvolvido. Em suma, tudo pode ser resumido mesmo na seguinte frase: várias boas ideias que não foram bem aproveitadas. Fica para a próxima então.

Pablo Aluísio.

Revólver

Título no Brasil: Revólver
Título Original: Revolver
Ano de Produção: 2005
País: França, Inglaterra
Estúdio: EuropaCorp Films
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Luc Besson, Guy Ritchie
Elenco: Jason Statham, Ray Liotta, Vincent Pastore, Mark Strong
  
Sinopse:
Jake Green (Jason Statham) passa longos anos preso. Ele acabou caindo numa cilada armada por outro criminoso chamado Dorothy Macha (Ray Liotta). Pior do que isso, acaba sendo também diagnosticado com uma rara doença que lhe dá pouco tempo de vida. Assim Jake não tem como esperar para promover sua vingança pessoal contra Macha e é justamente isso o que ele pretende fazer com suas poucas semanas de vida. Filme premiado pelo Golden Trailer Awards na categoria de Melhor Trailer - Filme de ação estrangeiro.

Comentários:
As qualificações desse filme de ação são as melhores possíveis. Primeiro é um filme inglês com Jason Statham. Eu já escrevi várias vezes de que qualquer produção britânica com Jason vale muito a pena. Certo, nos Estados Unidos ele realmente estrelou algumas bobagens, mas dentro da indústria inglesa de cinema ele só acertou. Não sei quais as razões disso acontecer, mas é uma verdade absoluta na filmografia de Statham. O segundo aspecto positivo é que o filme foi dirigido por Guy Ritchie. Esse é um cineasta que sempre procura fugir do lugar comum. Duvida? Basta olhar para a linguagem de Revolver para entender bem isso. Guy não parte de uma narrativa convencional, mas foge disso para não parecer óbvio demais. Assim tudo ganha um clima meio surreal, quase louco. Além disso o roteiro foi escrito a quatro mãos em parceria com Luc Besson. Hoje em dia Besson já não está mais em seus dias mais talentosos, mas pelo menos mantém uma certa postura artística de também fugir do lugar comum. Some-se a isso a pitada final da presença de Ray Liotta (ele sempre está ótimo em filmes de gangsters) e você terá uma fita de ação acima da média, valorizada pela narrativa fora do normal e por uma quantidade de cenas de ação bem realizadas para ninguém colocar defeito. Assim se você estiver a procura de uma boa fita com muita ação e originalidade deixo a dica de "Revolver". Certamente você não se arrependerá da escolha. É um filme pauleira com muito estilo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de maio de 2016

A Incrível História de Adaline

Achei muito simpático e diria até mesmo docemente romântico esse filme sobre uma mulher que nunca envelhece. Após um acidente em seu carro ela se torne imune ao envelhecimento. Os anos passam, os amigos e amores se vão, mas ela fica, eternamente jovem e bonita. É uma fábula sobre o passar dos anos, o envelhecimento e a busca pela eterna juventude (embora a personagem principal nunca tenha procurado por isso, sendo apenas vítima de uma série de circunstância que fogem ao seu controle). A direção de arte do filme é bela, valorizada pelo fato de que o roteiro se passa em várias épocas históricas, desde a década de 1930 até os nossos dias. Tudo muito elegante, fino e sofisticado. O próprio figurino de Adeline se torna um atrativo e merecia, em minha opinião, ser indicado ao Oscar.

A produção é estrelado pela atriz Blake Lively, muito conhecida pelos fãs de séries. Ela se tornou famosa ao estrelar a série adolescente de grande sucesso "Gossip Girl" onde fazia uma jovem da elite de Nova Iorque que tinha que lidar com um blog de fofocas na net que seguia seus passos e o de suas amigas. Deixando isso um pouco de lado o grande mérito de "A Incrível História de Adaline" vem da união que nasce envolvendo juventude e sabedoria. A protagonista ganha experiência de vida ao longo dos anos vividos, ao mesmo tempo em que mantém sua beleza jovial. Seria o sonho de muita gente, porém de modo indireto e de forma bem inteligente é justamente isso que seu argumento critica. De forma sutil o roteiro traz ainda uma reflexão sobre o fato inexorável da finitude da existência humana: a perda daqueles que amamos e de tudo aquilo que faz parte de nosso universo. Tudo isso um dia chegará ao fim, pois nada é eterno. Esse aliás é o grande drama na vida de Adaline, onde todos estão fadados a passarem pela vida, menos ela. Nesse aspecto sua vida logo se torna uma grande tragédia e um fardo existencial.

A Incrível História de Adaline (The Age of Adaline, Estados Unidos, 2015) Estúdio: Lakeshore Entertainment / Direção: Lee Toland Krieger / Roteiro: J. Mills Goodloe, Salvador Paskowitz  / Elenco: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford / Sinopse: Após um acidente de carro na década de 1930 a jovem Adaline ganha a capacidade inexplicável de ser imune ao passar dos anos, nunca envelhecendo, ficando eternamente jovem e bonita.

Pablo Aluísio.

A Ascensão dos Krays

Filme inglês que conta a história de dois irmãos que se tornam gangsters em Londres durante os anos 1950. Inicialmente eles sobem na hierarquia do submundo do crime extorquindo comerciantes do leste da cidade. Em troca de proteção (deles mesmos, é bom frisar) cobram dinheiro desses pequenos estabelecimentos. Aos poucos vão subindo usando de chantagem, suborno, violência e extorsão. Tudo começa a correr bem para os Krays até que um dos irmãos, Ronnie (Simon Cotton), começa a apresentar problemas mentais. Diagnosticado como esquizofrênico ele se torna uma bomba relógio, cometendo atos de extrema violência gratuita, o que começa a colocar em risco a própria sobrevivência de sua quadrilha. A partir daí rompe-se o suposto equilíbrio entre os próprios irmãos, desencadeando uma verdadeira guerra nas ruas.

Essa produção britânica, até bem realizada, com bom roteiro e boa reconstituição de época poderá agradar aos que gostam de filmes de gangsters. Um dos aspectos que mais me chamou atenção foi a forma como essas gangues inglesas escolhiam para resolver suas diferenças. Enquanto as quadrilhas americanas partiam logo para o uso de metralhadoras e armas de grosso calibre, havia ainda um tabu no uso de armas entre os criminosos ingleses. Tudo era resolvido no punho, em brigas de socos das mais violentas. Essa regra não escrita entre criminosos de Londres só seria quebrada justamente por um dos irmãos Kray, o insano Ronnie, que passou a andar armado, promovendo inclusive torturas em membros de bandos rivais. Nesse aspecto o filme recria o dia em que esse bandido colocou as mãos em um irmão de um de seus inimigos. Não foi certamente algo bonito de se ver. Enfim, bom filme policial, com uma trilha sonora recheada de clássicos do rock inglês em seus primórdios, que no geral cumpre bem seus propósitos.

A Ascensão dos Krays (The Rise of the Krays, Inglaterra, 2015) Direção: Zackary Adler / Roteiro: Ken Brown, Sebastian Brown / Elenco: Matt Vael, Simon Cotton, Kevin Leslie / Sinopse: Dois irmãos se tornam líderes de uma gangue que passa a dominar Londres durante os anos 1950. Para subir no mundo do crime não seguem limites, usando de violência e tortura para subjugar todos aqueles que cruzam seu caminho. Filme vencedor do Marbella Film Festival na categoria de Melhor Ator (Kevin Leslie).

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de maio de 2016

A Menina que Roubava Livros

O contexto histórico do filme se passa na Alemanha Nazista. Hitler está no poder e domina toda a sociedade alemã. Nesse cenário a jovem garota Liesel Meminger (Sophie Nélisse) vai morar com um casal alemão numa pequena cidade de interior. Seu irmão mais jovem está morto. Sua mãe é um fugitiva da perseguição política. No novo lar ela aos poucos vai se acostumando com a rotina. Começa a frequentar a escola e faz amizades, entre eles o garoto Rudy (Nico Liersch) que acaba tendo uma quedinha por ela. Para Liesel porém sua grande paixão são os livros. Ela, alfabetizada tardiamente, tem uma grande atração pela leitura, mas sendo uma garota pobre não tem dinheiro para comprá-los. Enquanto vai vivendo precisa conviver também, como todo o povo alemão, com as desgraças e tragédias da guerra que vai aumentando cada vez mais de intensidade. Os bombardeios se tornam diários e a morte começa a ser uma presença cada vez mais próxima.

Excelente filme. Baseado no romance escrito por Markus Zusak a estória tem um grande mérito que é mostrar e dar um rosto bem humano ao povo alemão que foi de certa maneira também uma das maiores vítimas do nazismo. A família de Liesel é um exemplo disso. São pessoas comuns e humildes. Sua mãe adotiva ganha a vida passando roupas. Seu pai (interpretado por um Geoffrey Rush, em nova e inspirada atuação) vive de pequenos serviços pela vizinhança. Nenhum deles é um nazista fanático, são boas pessoas, porém são engolidas por uma ideologia que levaria toda a nação para o caos completo. Um dos aspectos mais interessantes desse filme vem da narração em off da própria morte. Sim, a morte se torna um personagem importante no enredo, narrando com fina ironia e humor negro, sua chegada ao povo alemão, pelas mãos da guerra. No mais é um retrato bem humanista de uma jovem que perde a inocência em um dos momentos mais dramáticos da história. Como é um romance não se baseia em fatos reais, mas bem poderia, pela força de sua mensagem.

A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, Estados Unidos, Alemanha, 2013) Direção: Brian Percival / Roteiro: Michael Petroni, baseado no romance de Markus Zusak / Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Ben Schnetzer, Oliver Stokowski / Sinopse: Uma jovem garota vai morar com um casal alemão durante a II Guerra Mundial. Em uma nova escola, conhecendo novas amizades, ela precisa conviver com uma realidade dura, de destruição e morte, enquanto seus pais adotivos escondem no porão um judeu chamado Max (Oliver Stokowski) que procura sobreviver à perseguição nazista contra seu povo. Filme indicado ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Trilha Sonora (John Williams). Vencedor do Grammy Awards na mesma categoria.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de maio de 2016

Pandorum

Dois séculos no futuro a humanidade está em colapso. Com mais de 30 bilhões de seres humanos o planeta não suporta mais manter toda a população. Há escassez de água e comida. A solução é enviar uma nave colonizadora em direção a um planeta distante que parece ter condições de sobrevivência. Durante a jornada o astronauta Bower (Ben Foster) finalmente acorda após passar meses em hibernação. Ele não consegue mais se lembrar direito o que aconteceu. O ambiente dentro da espaçonave é o pior possível. O sistema central está inoperante. Não há sinais da tripulação e estranhas criaturas parecem infestar as salas escuras e sombrias do lugar. Quando o tenente Payton (Dennis Quaid) também desperta de sua câmara de hibernação ambos se unem para descobrirem o que afinal estaria acontecendo, onde estariam e para onde iriam dentro daquela atmosfera de caos, insanidade e desespero.

Pandorum é mais um filme na linha Dark Fiction. O futuro é sombrio. Perdidos no espaço, dois membros da tripulação tentam sobreviver a um ambiente completamente insano. O diretor alemão Christian Alvart bebe diretamente da fonte de filmes como "Aliens", muito embora passe longe de chegar perto do terror e suspense daquela franquia. Há o clima sufocante, o roteiro bem criado, mas ele se perde em não saber fazer direito o clima adequado para esse tipo de produção. As criaturas, por exemplo, não são bem trabalhadas. Elas surgem quase todo o tempo, mais parecendo um misto de zumbis com vampiros. Não sobra muita coisa para a imaginação. Há também a tentativa de desenvolver um pouco de terror psicológico pois dentro do roteiro a longa permanência no espaço dá origem a um distúrbio nos tripulantes conhecido como Pandorum. Os astronautas atingidos por esse mal trilham o caminho da insanidade e da alucinação. Dessa forma qualquer um poderia estar delirando, embora o espectador sempre fique na dúvida sobre quem estaria atingido por essa doença. No geral pode-se assistir sem maiores problemas, embora para a maior parte do público tudo soe realmente como mais do mesmo. Melhor rever a série original "Aliens".

Pandorum (Pandorum, Estados Unidos, 2009) Direção: Christian Alvart / Roteiro: Travis Milloy / Elenco: Dennis Quaid, Ben Foster, Cam Gigandet, Antje Traue / Sinopse: Dois tripulantes de uma nave colonizadora tentam sobreviver enquanto são atacados por estranhas criaturas. Eles precisam sobreviver para chegar no reator nuclear, retomando o controle da expedição. Filme dirigido pelo mesmo diretor do terror "Caso 39".

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Assim Estava Escrito

Essa semana tive a oportunidade de assistir a mais um belo clássico da era de ouro do cinema americano. O filme se chama "Assim Estava Escrito" (no original "The Bad and the Beautiful"). Produzido em 1952 e dirigido pelo mestre Vincente Minnelli, o filme é um primor cinematográfico.

O eterno astro Kirk Douglas interpreta Jonathan Shields. Seu pai foi um importante produtor de Hollywood na era do cinema mudo. Com sua morte não sobram muitas coisas além de dívidas para Shields. Ele então resolve arregaçar as mangas e vai à luta. Sua ambição é tornar-se produtor tal como seu pai no passado. Por onde começar? Bom, seu primeiro lance de sorte vem quando conhece um jovem diretor, cheio de novas ideias, chamado Fred Amiel (Barry Sullivan).

Inicialmente a dupla, para sobreviver, topa praticamente tudo, inclusive a realização de uma horrenda série de filmes de terror B sobre homens felinos que atacam suas vítimas na escuridão da noite. Uma porcaria. Essas produções porém rendem o dinheiro de que eles precisavam. Agora capitalizado Shields planeja algo maior, a adaptação de um famoso livro da literatura para as telas. Só falta mesmo convencer um estúdio maior a embarcar na ideia. Sem dinheiro para contratar um grande astro ou uma grande estrela, o jovem produtor resolve então apostar todas as suas fichas numa atriz desconhecida, corroída pelo alcoolismo e pelo fracasso na carreira chamada Georgia Lorrison (interpretada pela maravilhosa Lana Turner). Embora negasse isso o fato é que essa personagem se parecia demais como Marilyn Monroe para tudo parecer mera coincidência. Insegura, frágil emocionalmente, ela era um retrato da famosa estrela de Hollywood do mundo real.

O roteiro de "Assim Estava Escrito" foi todo planejado como um grande flashback. Um dono de estúdio de cinema, Harry Pebbel (Walter Pidgeon), resolve reunir todas essas pessoas que começaram suas carreiras pelas mãos de Shields para convidá-las a voltarem a trabalharem com ele. Uma a uma elas porém vão recusando e começam a contar como Shields as decepcionou no passado. Primoroso o texto, uma aula de sétima arte. Kirk Douglas não foi um astro comum em seu tempo. Ele assumia riscos e se aliava a grandes profissionais do cinema, tal como seu produtor aqui nesse filme. De certa maneira sua atuação reflete um pouco de seu próprio jeito de agir e atuar. Ele foi realmente grande na era de ouro do cinema clássico americano. "Assim Estava Escrito" é apenas mais uma prova definitiva sobre isso.

Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, EUA, 1952) Direção: Vincente Minnelli / Roteiro: Charles Schnee, George Bradshaw / Elenco: Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon / Sinopse: Famoso produtor de Hollywood encontra dificuldades para montar sua nova equipe para um novo filme por causa de atitudes que tomou no passado. Um a um todos se recusam a trabalharem novamente com ele. Filme premiado com o Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Friday the 13th - Sexta-Feira 13

Como hoje é Sexta-Feira 13 nada melhor do que relembrar uma das mais populares séries de filmes de terror de todos os tempos: Friday the 13th. Tudo começou em 1980 quando a Paramount Pictures deu autorização e liberou o orçamento de um novo filme sobre psicopatas. A ideia inicial era realizar uma espécie de "Psicose" mais moderno e com menos papo sobre psicologia e psiconeuroses. Ao invés de criar todo um passado cheio de traumas para justificar o ato do psicopata protagonista do filme o estúdio queria realmente algo bem sangrento, que não perdesse muito tempo com Freud.

Nasceu assim o personagem Jason Voorhees. Como havia sido determinado pelo estúdio seu passado não deveria dominar muito tempo do filme - partindo-se logo para os finalmentes, com adolescentes e jovens sendo trucidados na sinistra região de Crystal Lake. Ele era filho de Pamela Voorhees, cozinheira da estação de turismo local. Por problemas de gestação de sua mãe, Jason nasceu com deformidades físicas e mentais, o que logo o transformou em alvo de bullying das demais crianças que o chamavam de monstro. Tudo mudou até o dia em que dois jovens foram encontrados mortos em Crystal Lake. Quem os teria matado?

Após a morte de sua mãe, Jason continuou vivendo pelas florestas da região, sempre evitando contato com outras pessoas. Complexado por sua aparência jamais se deixou ver e com problemas mentais começou a se vingar daqueles que o zombavam. Assim muitos jovens foram desaparecendo, sendo que a polícia nunca conseguia decifrar completamente os crimes. Isso obviamente abriu margem para uma série tão popular quanto econômica. Os filmes de Jason custavam pouco, rendiam muitos lucros e não contavam em seu elenco com atores caros. Nem o personagem custava muito para a Paramount já que como usava máscara poderia ser interpretado por dublês que eram mudados a cada nova produção.

A franquia original rendeu 10 filmes. O primeiro chamado simplesmente Sexta-Feira 13 foi dirigido pelo cineasta Sean S. Cunningham. Nesse que é considerado um dos melhores o roteiro procurava explicar as origens do psicopata, embora a trama trouxesse novidades e surpresas. O primeiro ator a interpretar Jason foi Ari Lehman. A famosa máscara de hockey não havia surgido ainda. Com o sucesso começaram a surgir as sequências em série. Steve Dash assumiu o personagem e começou a dar a força sobrenatural que caracterizava o assassino. Não importava o que era feito a Jason, ele nunca parecia morrer!

Os filmes seguintes seriam meras imitações dos dois primeiros filmes. Os roteiros eram praticamente os mesmos. Um grupo de jovens ignoravam a lenda de mortes de Crystal Lake e iam para lá acampar. Não demorava muito e as mortes começavam. A única novidade de filme para filme era as maneiras como Jason matava suas vítimas. Conforme os anos iam passando essas cenas com muito sangue iam se tornando cada vez mais exageradas, até caírem completamente no caricato e burlesco. De assustador Jason passou a ser ridículo. O único sobro de inovação veio com a sexta parte que trazia pela primeira vez em anos algumas divertidas mudanças no roteiro.

Os filmes continuaram e foram até o limite. Os orçamentos iam ficando cada vez menores e as bilheterias também. A crítica detestava cada novo lançamento. A Paramount porém não parecia desistir de Jason até que em 2001 a franquia original chegou ao final com o péssimo Jason X, uma mistura mal feita de terror e ficção onde o humor trash definitivamente não funcionava e nem tampouco os efeitos especiais, simplesmente pavorosos. Infelizmente o psicopata Jason parece ter pendurado seu facão. Embora a Paramount tenha tentado renovar Jason no cinema com filmes ruins como "Jason vs Freddy" e o remake mais recente, nada parece dar muito certo. O tempo de Jason passou. Ele foi interessante, principalmente nos anos 80, quando o cinema de terror viveu seu auge criativo. Hoje em dia já não existe mais razão de ser. É hora de finalmente Crystal Park descansar de suas matanças.

1. Sexta-Feira 13 (1980)
Direção: Sean S. Cunningham
2. Sexta-Feira 13 Parte 2 (1981)
Direção: Steve Miner
3. Sexta-Feira 13 Parte 3 (1982)
Direção: Steve Miner
4. Sexta-Feira 13 Parte 4: O Capítulo Final (1984)
Direção: Joseph Zito
5. Sexta-Feira 13 Parte 5: Um Novo Começo (1985)
Direção: Danny Steinmann
6. Sexta-Feira 13 Parte 6: Jason Vive (1986)
Direção: Tom McLoughlin
7. Sexta-Feira 13 Parte 7: A Matança Continua (1988)
Direção: John Carl Buechler
8. Sexta-Feira 13 Parte 8: Jason Ataca Nova Iorque (1989)
Direção: Rob Hedden
9. Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (1993)
Direção: Adam Marcus
10. Jason X (2001)
Direção: James Isaac
11. Freddy vs. Jason (2003)
Direção: Ronny Yu
12. Sexta-Feira 13 (2009)
Direção: Marcus Nispel

Pablo Aluísio . 

As Profecias do Dr. Terror

Uma boa dica para quem gosta de filmes antigos é rever (ou ver pela primeira vez, conforme o caso) velhas produções inglesas de terror. A minha indicação de hoje vai para o clássico "As Profecias do Dr. Terror" (Dr. Terror's House of Horrors, Inglaterra, 1965). Veja bem, havia uma sofisticação nessas produções que não se via em lugar nenhum do mundo naquela época. Enquanto Hollywood produzia faroestes e dramas em ritmo industrial, os ingleses se especializaram em filmes de terror, alguns hoje em dia considerados verdadeiras obras primas do gênero.

Nessa fita temos um atrativo a mais, a presença de dois ícones em cena, Christopher Lee e Peter Cushing. Enquanto Lee interpreta um cético, um arrogante homem que vive como crítico de arte em Londres, Cushing dá vida (ou morte, dependendo do ponto de vista) ao protagonista. Ele se apresenta como o Dr. W. R. Schreck aos demais passageiros de um trem durante uma viagem noturna partindo de Londres. Ao cochilar acaba deixando cair ao chão sua bagagem que revela um baralho de cartas de tarot. Quem conhece esse tipo de filme sabe que nada acontece ao acaso. As cartas despertam a curiosidade dos demais passageiros que pedem ao sinistro doutor que leia o futuro de cada um deles.

Esse gancho narrativo assim abre a oportunidade do roteiro contar cinco contos de terror, cada um deles explorando algum tipo de estória clássica de horror. Há espaço para todos os gostos nesse menu. No primeiro conto um jovem arquiteto é contratado para ir até uma velha casa nos arredores da cidade. Sua dona deseja fazer reformas nela. Para verificar se isso seria possível ele desce até o porão e lá encontra uma velha tumba que reza a lenda pertenceu ao antigo morador que nas noites de lua cheia se transformava em uma criatura, metade homem, metade lobo (o nosso conhecido lobisomem dos filmes clássicos). Não é por outra razão que esse primeiro conto se chama "Werewolf".

Os dois seguintes são os mais fracos. O segundo, intitulado "Creeping Vine", é certamente o mais sem graça. Chegou a me lembrar de "A Pequena Loja de Horrores". Nele uma planta desconhecida começa a aterrorizar uma família quando começa a atacar todos os moradores (e até o cachorrinho de estimação) da região. Fraquinho realmente. O terceiro é um pouco melhor. Em "Voodoo" um trombonista inglês paga caro quando em turnê com sua banda numa ilha do Caribe resolve fazer chacota de uma velha divindade da religião vodu local. O quarto conto de terror se sobressai pois tem o excelente Christopher Lee no elenco. Ele é um crítico de arte boçal que paga caro por sua arrogância. Por fim em "Vampire" um jovem Donald Sutherland acaba descobrindo que seu casamento não é a maravilha que ele pensava já que sua própria esposa é uma vampira.

Pelas resenhas dos contos já deu para perceber que há muito humor negro inglês envolvido. O filme foi produzido pela Amicus Productions que concorria com a Hammer por esse mercado de produções de terror. Ambas se notabilizaram pela sofisticação, bom gosto e bons filmes. Certamente uma época de ouro para quem era fã de filmes desse estilo.

Pablo Aluísio.