domingo, 15 de maio de 2016

A Menina que Roubava Livros

O contexto histórico do filme se passa na Alemanha Nazista. Hitler está no poder e domina toda a sociedade alemã. Nesse cenário a jovem garota Liesel Meminger (Sophie Nélisse) vai morar com um casal alemão numa pequena cidade de interior. Seu irmão mais jovem está morto. Sua mãe é um fugitiva da perseguição política. No novo lar ela aos poucos vai se acostumando com a rotina. Começa a frequentar a escola e faz amizades, entre eles o garoto Rudy (Nico Liersch) que acaba tendo uma quedinha por ela. Para Liesel porém sua grande paixão são os livros. Ela, alfabetizada tardiamente, tem uma grande atração pela leitura, mas sendo uma garota pobre não tem dinheiro para comprá-los. Enquanto vai vivendo precisa conviver também, como todo o povo alemão, com as desgraças e tragédias da guerra que vai aumentando cada vez mais de intensidade. Os bombardeios se tornam diários e a morte começa a ser uma presença cada vez mais próxima.

Excelente filme. Baseado no romance escrito por Markus Zusak a estória tem um grande mérito que é mostrar e dar um rosto bem humano ao povo alemão que foi de certa maneira também uma das maiores vítimas do nazismo. A família de Liesel é um exemplo disso. São pessoas comuns e humildes. Sua mãe adotiva ganha a vida passando roupas. Seu pai (interpretado por um Geoffrey Rush, em nova e inspirada atuação) vive de pequenos serviços pela vizinhança. Nenhum deles é um nazista fanático, são boas pessoas, porém são engolidas por uma ideologia que levaria toda a nação para o caos completo. Um dos aspectos mais interessantes desse filme vem da narração em off da própria morte. Sim, a morte se torna um personagem importante no enredo, narrando com fina ironia e humor negro, sua chegada ao povo alemão, pelas mãos da guerra. No mais é um retrato bem humanista de uma jovem que perde a inocência em um dos momentos mais dramáticos da história. Como é um romance não se baseia em fatos reais, mas bem poderia, pela força de sua mensagem.

A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, Estados Unidos, Alemanha, 2013) Direção: Brian Percival / Roteiro: Michael Petroni, baseado no romance de Markus Zusak / Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Ben Schnetzer, Oliver Stokowski / Sinopse: Uma jovem garota vai morar com um casal alemão durante a II Guerra Mundial. Em uma nova escola, conhecendo novas amizades, ela precisa conviver com uma realidade dura, de destruição e morte, enquanto seus pais adotivos escondem no porão um judeu chamado Max (Oliver Stokowski) que procura sobreviver à perseguição nazista contra seu povo. Filme indicado ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Trilha Sonora (John Williams). Vencedor do Grammy Awards na mesma categoria.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de maio de 2016

Pandorum

Dois séculos no futuro a humanidade está em colapso. Com mais de 30 bilhões de seres humanos o planeta não suporta mais manter toda a população. Há escassez de água e comida. A solução é enviar uma nave colonizadora em direção a um planeta distante que parece ter condições de sobrevivência. Durante a jornada o astronauta Bower (Ben Foster) finalmente acorda após passar meses em hibernação. Ele não consegue mais se lembrar direito o que aconteceu. O ambiente dentro da espaçonave é o pior possível. O sistema central está inoperante. Não há sinais da tripulação e estranhas criaturas parecem infestar as salas escuras e sombrias do lugar. Quando o tenente Payton (Dennis Quaid) também desperta de sua câmara de hibernação ambos se unem para descobrirem o que afinal estaria acontecendo, onde estariam e para onde iriam dentro daquela atmosfera de caos, insanidade e desespero.

Pandorum é mais um filme na linha Dark Fiction. O futuro é sombrio. Perdidos no espaço, dois membros da tripulação tentam sobreviver a um ambiente completamente insano. O diretor alemão Christian Alvart bebe diretamente da fonte de filmes como "Aliens", muito embora passe longe de chegar perto do terror e suspense daquela franquia. Há o clima sufocante, o roteiro bem criado, mas ele se perde em não saber fazer direito o clima adequado para esse tipo de produção. As criaturas, por exemplo, não são bem trabalhadas. Elas surgem quase todo o tempo, mais parecendo um misto de zumbis com vampiros. Não sobra muita coisa para a imaginação. Há também a tentativa de desenvolver um pouco de terror psicológico pois dentro do roteiro a longa permanência no espaço dá origem a um distúrbio nos tripulantes conhecido como Pandorum. Os astronautas atingidos por esse mal trilham o caminho da insanidade e da alucinação. Dessa forma qualquer um poderia estar delirando, embora o espectador sempre fique na dúvida sobre quem estaria atingido por essa doença. No geral pode-se assistir sem maiores problemas, embora para a maior parte do público tudo soe realmente como mais do mesmo. Melhor rever a série original "Aliens".

Pandorum (Pandorum, Estados Unidos, 2009) Direção: Christian Alvart / Roteiro: Travis Milloy / Elenco: Dennis Quaid, Ben Foster, Cam Gigandet, Antje Traue / Sinopse: Dois tripulantes de uma nave colonizadora tentam sobreviver enquanto são atacados por estranhas criaturas. Eles precisam sobreviver para chegar no reator nuclear, retomando o controle da expedição. Filme dirigido pelo mesmo diretor do terror "Caso 39".

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Assim Estava Escrito

Essa semana tive a oportunidade de assistir a mais um belo clássico da era de ouro do cinema americano. O filme se chama "Assim Estava Escrito" (no original "The Bad and the Beautiful"). Produzido em 1952 e dirigido pelo mestre Vincente Minnelli, o filme é um primor cinematográfico.

O eterno astro Kirk Douglas interpreta Jonathan Shields. Seu pai foi um importante produtor de Hollywood na era do cinema mudo. Com sua morte não sobram muitas coisas além de dívidas para Shields. Ele então resolve arregaçar as mangas e vai à luta. Sua ambição é tornar-se produtor tal como seu pai no passado. Por onde começar? Bom, seu primeiro lance de sorte vem quando conhece um jovem diretor, cheio de novas ideias, chamado Fred Amiel (Barry Sullivan).

Inicialmente a dupla, para sobreviver, topa praticamente tudo, inclusive a realização de uma horrenda série de filmes de terror B sobre homens felinos que atacam suas vítimas na escuridão da noite. Uma porcaria. Essas produções porém rendem o dinheiro de que eles precisavam. Agora capitalizado Shields planeja algo maior, a adaptação de um famoso livro da literatura para as telas. Só falta mesmo convencer um estúdio maior a embarcar na ideia. Sem dinheiro para contratar um grande astro ou uma grande estrela, o jovem produtor resolve então apostar todas as suas fichas numa atriz desconhecida, corroída pelo alcoolismo e pelo fracasso na carreira chamada Georgia Lorrison (interpretada pela maravilhosa Lana Turner). Embora negasse isso o fato é que essa personagem se parecia demais como Marilyn Monroe para tudo parecer mera coincidência. Insegura, frágil emocionalmente, ela era um retrato da famosa estrela de Hollywood do mundo real.

O roteiro de "Assim Estava Escrito" foi todo planejado como um grande flashback. Um dono de estúdio de cinema, Harry Pebbel (Walter Pidgeon), resolve reunir todas essas pessoas que começaram suas carreiras pelas mãos de Shields para convidá-las a voltarem a trabalharem com ele. Uma a uma elas porém vão recusando e começam a contar como Shields as decepcionou no passado. Primoroso o texto, uma aula de sétima arte. Kirk Douglas não foi um astro comum em seu tempo. Ele assumia riscos e se aliava a grandes profissionais do cinema, tal como seu produtor aqui nesse filme. De certa maneira sua atuação reflete um pouco de seu próprio jeito de agir e atuar. Ele foi realmente grande na era de ouro do cinema clássico americano. "Assim Estava Escrito" é apenas mais uma prova definitiva sobre isso.

Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, EUA, 1952) Direção: Vincente Minnelli / Roteiro: Charles Schnee, George Bradshaw / Elenco: Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon / Sinopse: Famoso produtor de Hollywood encontra dificuldades para montar sua nova equipe para um novo filme por causa de atitudes que tomou no passado. Um a um todos se recusam a trabalharem novamente com ele. Filme premiado com o Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Friday the 13th - Sexta-Feira 13

Como hoje é Sexta-Feira 13 nada melhor do que relembrar uma das mais populares séries de filmes de terror de todos os tempos: Friday the 13th. Tudo começou em 1980 quando a Paramount Pictures deu autorização e liberou o orçamento de um novo filme sobre psicopatas. A ideia inicial era realizar uma espécie de "Psicose" mais moderno e com menos papo sobre psicologia e psiconeuroses. Ao invés de criar todo um passado cheio de traumas para justificar o ato do psicopata protagonista do filme o estúdio queria realmente algo bem sangrento, que não perdesse muito tempo com Freud.

Nasceu assim o personagem Jason Voorhees. Como havia sido determinado pelo estúdio seu passado não deveria dominar muito tempo do filme - partindo-se logo para os finalmentes, com adolescentes e jovens sendo trucidados na sinistra região de Crystal Lake. Ele era filho de Pamela Voorhees, cozinheira da estação de turismo local. Por problemas de gestação de sua mãe, Jason nasceu com deformidades físicas e mentais, o que logo o transformou em alvo de bullying das demais crianças que o chamavam de monstro. Tudo mudou até o dia em que dois jovens foram encontrados mortos em Crystal Lake. Quem os teria matado?

Após a morte de sua mãe, Jason continuou vivendo pelas florestas da região, sempre evitando contato com outras pessoas. Complexado por sua aparência jamais se deixou ver e com problemas mentais começou a se vingar daqueles que o zombavam. Assim muitos jovens foram desaparecendo, sendo que a polícia nunca conseguia decifrar completamente os crimes. Isso obviamente abriu margem para uma série tão popular quanto econômica. Os filmes de Jason custavam pouco, rendiam muitos lucros e não contavam em seu elenco com atores caros. Nem o personagem custava muito para a Paramount já que como usava máscara poderia ser interpretado por dublês que eram mudados a cada nova produção.

A franquia original rendeu 10 filmes. O primeiro chamado simplesmente Sexta-Feira 13 foi dirigido pelo cineasta Sean S. Cunningham. Nesse que é considerado um dos melhores o roteiro procurava explicar as origens do psicopata, embora a trama trouxesse novidades e surpresas. O primeiro ator a interpretar Jason foi Ari Lehman. A famosa máscara de hockey não havia surgido ainda. Com o sucesso começaram a surgir as sequências em série. Steve Dash assumiu o personagem e começou a dar a força sobrenatural que caracterizava o assassino. Não importava o que era feito a Jason, ele nunca parecia morrer!

Os filmes seguintes seriam meras imitações dos dois primeiros filmes. Os roteiros eram praticamente os mesmos. Um grupo de jovens ignoravam a lenda de mortes de Crystal Lake e iam para lá acampar. Não demorava muito e as mortes começavam. A única novidade de filme para filme era as maneiras como Jason matava suas vítimas. Conforme os anos iam passando essas cenas com muito sangue iam se tornando cada vez mais exageradas, até caírem completamente no caricato e burlesco. De assustador Jason passou a ser ridículo. O único sobro de inovação veio com a sexta parte que trazia pela primeira vez em anos algumas divertidas mudanças no roteiro.

Os filmes continuaram e foram até o limite. Os orçamentos iam ficando cada vez menores e as bilheterias também. A crítica detestava cada novo lançamento. A Paramount porém não parecia desistir de Jason até que em 2001 a franquia original chegou ao final com o péssimo Jason X, uma mistura mal feita de terror e ficção onde o humor trash definitivamente não funcionava e nem tampouco os efeitos especiais, simplesmente pavorosos. Infelizmente o psicopata Jason parece ter pendurado seu facão. Embora a Paramount tenha tentado renovar Jason no cinema com filmes ruins como "Jason vs Freddy" e o remake mais recente, nada parece dar muito certo. O tempo de Jason passou. Ele foi interessante, principalmente nos anos 80, quando o cinema de terror viveu seu auge criativo. Hoje em dia já não existe mais razão de ser. É hora de finalmente Crystal Park descansar de suas matanças.

1. Sexta-Feira 13 (1980)
Direção: Sean S. Cunningham
2. Sexta-Feira 13 Parte 2 (1981)
Direção: Steve Miner
3. Sexta-Feira 13 Parte 3 (1982)
Direção: Steve Miner
4. Sexta-Feira 13 Parte 4: O Capítulo Final (1984)
Direção: Joseph Zito
5. Sexta-Feira 13 Parte 5: Um Novo Começo (1985)
Direção: Danny Steinmann
6. Sexta-Feira 13 Parte 6: Jason Vive (1986)
Direção: Tom McLoughlin
7. Sexta-Feira 13 Parte 7: A Matança Continua (1988)
Direção: John Carl Buechler
8. Sexta-Feira 13 Parte 8: Jason Ataca Nova Iorque (1989)
Direção: Rob Hedden
9. Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (1993)
Direção: Adam Marcus
10. Jason X (2001)
Direção: James Isaac
11. Freddy vs. Jason (2003)
Direção: Ronny Yu
12. Sexta-Feira 13 (2009)
Direção: Marcus Nispel

Pablo Aluísio . 

As Profecias do Dr. Terror

Uma boa dica para quem gosta de filmes antigos é rever (ou ver pela primeira vez, conforme o caso) velhas produções inglesas de terror. A minha indicação de hoje vai para o clássico "As Profecias do Dr. Terror" (Dr. Terror's House of Horrors, Inglaterra, 1965). Veja bem, havia uma sofisticação nessas produções que não se via em lugar nenhum do mundo naquela época. Enquanto Hollywood produzia faroestes e dramas em ritmo industrial, os ingleses se especializaram em filmes de terror, alguns hoje em dia considerados verdadeiras obras primas do gênero.

Nessa fita temos um atrativo a mais, a presença de dois ícones em cena, Christopher Lee e Peter Cushing. Enquanto Lee interpreta um cético, um arrogante homem que vive como crítico de arte em Londres, Cushing dá vida (ou morte, dependendo do ponto de vista) ao protagonista. Ele se apresenta como o Dr. W. R. Schreck aos demais passageiros de um trem durante uma viagem noturna partindo de Londres. Ao cochilar acaba deixando cair ao chão sua bagagem que revela um baralho de cartas de tarot. Quem conhece esse tipo de filme sabe que nada acontece ao acaso. As cartas despertam a curiosidade dos demais passageiros que pedem ao sinistro doutor que leia o futuro de cada um deles.

Esse gancho narrativo assim abre a oportunidade do roteiro contar cinco contos de terror, cada um deles explorando algum tipo de estória clássica de horror. Há espaço para todos os gostos nesse menu. No primeiro conto um jovem arquiteto é contratado para ir até uma velha casa nos arredores da cidade. Sua dona deseja fazer reformas nela. Para verificar se isso seria possível ele desce até o porão e lá encontra uma velha tumba que reza a lenda pertenceu ao antigo morador que nas noites de lua cheia se transformava em uma criatura, metade homem, metade lobo (o nosso conhecido lobisomem dos filmes clássicos). Não é por outra razão que esse primeiro conto se chama "Werewolf".

Os dois seguintes são os mais fracos. O segundo, intitulado "Creeping Vine", é certamente o mais sem graça. Chegou a me lembrar de "A Pequena Loja de Horrores". Nele uma planta desconhecida começa a aterrorizar uma família quando começa a atacar todos os moradores (e até o cachorrinho de estimação) da região. Fraquinho realmente. O terceiro é um pouco melhor. Em "Voodoo" um trombonista inglês paga caro quando em turnê com sua banda numa ilha do Caribe resolve fazer chacota de uma velha divindade da religião vodu local. O quarto conto de terror se sobressai pois tem o excelente Christopher Lee no elenco. Ele é um crítico de arte boçal que paga caro por sua arrogância. Por fim em "Vampire" um jovem Donald Sutherland acaba descobrindo que seu casamento não é a maravilha que ele pensava já que sua própria esposa é uma vampira.

Pelas resenhas dos contos já deu para perceber que há muito humor negro inglês envolvido. O filme foi produzido pela Amicus Productions que concorria com a Hammer por esse mercado de produções de terror. Ambas se notabilizaram pela sofisticação, bom gosto e bons filmes. Certamente uma época de ouro para quem era fã de filmes desse estilo.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Brooklyn

Minha recomendação de hoje vai para o filme Brooklyn de John Crowley. Em um momento em que dramas humanos são cada vez mais raros nas telas nada melhor do que encontrar esse drama muito sensível, baseado em fatos reais, sobre a vida de uma jovem irlandesa que decide mudar tudo em sua vida, indo morar nos Estados Unidos no começo do século XX. O roteiro explora assim a vida de milhões de pessoas que emigraram de seus países de origem em busca de novas oportunidades, novas perspectivas de vida. Com produção muito bem realizada (de encher os olhos do espectador), Brooklyn se destaca também pela maravilhosa interpretação da atriz Saoirse Ronan. Dona de expressivos olhos azuis e uma maravilhosa capacidade dramática, ela tem aqui a oportunidade de estrelar o filme de sua vida.

Sua personagem é maravilhosa porque no final das contas é uma pessoa comum. De família humilde ela percebe que provavelmente morrerá trabalhando no mesmo empreguinho de sempre na sua pequena cidade na Irlanda. Por isso toma a corajosa decisão de cruzar o Atlântico, indo morar no bairro Nova Iorquino do Brooklyn. Logo arranja emprego numa loja de departamento, conhece um jovem trabalhador italiano, honesto e de boa índole, e se matricula em um curso noturno. Em poucas palavras, começa a lutar por uma vida melhor. Gostei bastante desse filme e não poderia deixar de recomendar ao todos. Brooklyn é uma ótima pedida para o fim de semana.

Brooklyn (Brooklyn, 2015) Direção: John Crowley - Direção de fotografia: Yves Bélanger - Estúdio: Wildgaze Films, Parallel Film Productions - País: Inglaterra, Canadá, Irlanda - Roteiro: Nick Hornby, baseado no livro de Colm Tóibín - Elenco: Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson - Sinopse: A história de uma garota, seus sonhos e amores.

Pablo Aluísio.

Capitão América: Guerra Civil

Eu já ando um tanto saturado de filmes com super-heróis de quadrinhos. Não é questão de gostar mais da Marvel ou da DC Comics, a questão é outra. Acho que esse gênero já anda sem novidades há tempos. Essas são palavras ao vento porque enquanto os filmes renderem bilhões de dólares eles continuarão a serem produzidos. Cinema é indústria e indústria precisa de receitas e lucros. Tudo bem, nada contra. O cinema comercial precisa existir para que filmes mais artísticos sejam realizados. Pois bem, mesmo com essa opinião formada, diria até má vontade, confesso que ainda consegui me divertir com esse Civil War.

Não, eu não li nenhuma revista da saga Civil War nos quadrinhos. Sei porém de antemão que a trama desenvolvido foi infinitamente mais complexa, com dezenas de outros personagens que simplesmente foram ignorados no filme. É normal, como condensar uma trama extensa, cheia de detalhes, em apenas uma película cinematográfica de duas horas e meia de duração? É impossível. Por isso os roteiristas passaram a tesoura sem dó. Personagens foram descartados e a longa estória mostrada nos quadrinhos foi reduzida a uma fac-símile, um resumão do que foi usado nas revistas. É o preço a se pagar em toda adaptação, seja em relação a livros, seja em relação a HQs.

Como não sou expert em quadrinhos entrei no cinema sem saber de muita coisa a não ser que os Vingadores iriam rachar ao meio, sendo um grupo formado liderado pelo Homem de Ferro e outro pelo Capitão América. Esse formato de enredo onde os super-heróis acabam quebrando o pau entre si mesmos é indiscutivelmente bem sucedido nas bancas. E isso vale para as duas maiores editoras. Se o Superman pode sair no braço com o Batman, porque a turma da Marvel não pode fazer o mesmo? É uma ideia até muito simplista e diria até boba, coisa de adolescente, mas que no final das contas funciona muito bem. De quebra ainda traz a participação do Homem-Aranha numa canja. Assim tudo se torna mesmo irresistível para quem é fã desses personagens.

Dito isso devo dizer que o roteiro de "Captain America: Civil War" não é nenhuma maravilha e começa muito mal. Há excesso de personagens, situações e subtramas. A primeira meia hora do filme é dispersa demais, pouco objetiva, mal escrita, complicada e confusa (pelo menos para quem nunca leu os gibis). O roteiro se mostra vacilante, mal arranjado e sem rumo a seguir. As coisas só melhoram mesmo quando os roteiristas finalmente resolvem enxugar tudo o que vinha acontecendo de forma um tanto aleatória na trama. Sim, há um tratado internacional que quer colocar freios nos Vingadores. Sim, eles não concordam em assinar ou não o tal tratado e sim, eles quebram o pau por essa razão. Quem diria que uma questão de direito internacional público iria ser o estopim dessa guerra entre eles? O resto é curtir a briga entre Homem de Ferro e Capitão América e todos os demais super-heróis (com a sentida ausência do Hulk no meio da briga!).

Assim o filme se revela um pouco problemático, mas ao mesmo tempo divertido, bem pipoca. As lutas andam cada vez mais bem coreografadas e os efeitos especiais são classe A. Em termos de narrativa a única coisa que achei bem esquisito foi a ausência de um vilão melhor, mais bem resolvido. Filme de super-herói sem um vilão bacana - e igualmente espalhafatoso - quase nunca funciona muito bem. De qualquer maneira se você estiver em busca de pura diversão, daquelas bem escapistas, "Civil War" pode funcionar que é uma beleza. Só não vá esperar por cinema como sétima arte. Aqui o que vale mesmo são os sopapos e a pipoca. Uma overdose pop sem culpas. Todo o resto é mero detalhe secundário.

Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, EUA, 2016) Direção: Anthony Russo, Joe Russo / Roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely / Elenco: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Don Cheadle, Jeremy Renner, Elizabeth Olsen, Paul Rudd, Emily VanCamp / Sinopse: O grupo de super-heróis dos Vingadores racha ao meio quando um tratado internacional é ratificado por centenas de países ao redor do mundo colocando um freio em suas atividades. O Homem de Ferro concorda com as novas medidas, mas o Capitão América se recusa a concordar com ele. Assim duas equipes antagônicas são formadas dentro dos Vingadores e elas logo entram em conflito.

Pablo Aluísio. 

domingo, 8 de maio de 2016

Mombasa, a Selva Negra

O filme em questão se chama "Beyond Mombasa" (no Brasil ele recebeu o título de "Mombasa, a Selva Negra"). É curioso perceber que o cinema americano, muito provavelmente influenciado pelo sucesso dos filmes de Tarzan, tenha produzido uma série de filmes de aventuras na África. Alguns desses filmes hoje em dia são considerados clássicos absolutos da sétima arte enquanto outros só estavam tentando se transformar em entretenimento lucrativo.

É justamente o caso desse aqui. Dirigido por George Marshall, que era um cineasta especializado em faroestes como "A Conquista do Oeste" e "O Irresistível Forasteiro", a fita tinha a proposta de divertir o público e não se tornar uma obra de arte ou qualquer coisa parecida. É o que o público brasileiro da época costumava chamar de filme de selva ou filme de aventuras na África. Esse tipo de produção ficou tão popular que acabou se tornando um gênero próprio como os filmes de western, ficção ou terror. Infelizmente esse tipo de fita hoje em dia está em franca decadência, até porque a própria figura do caçador branco já não tem mais nenhum charme ou apelo. Ao invés disso os caçadores hoje em dia são vistos como figuras desprezíveis, justamente por causa da consciência ecológica que predomina nos dias atuais.

Pois bem, o filme é estrelado pela dupla Cornel Wilde e Donna Reed. Aqui temos um diferencial onde a "mocinha" era muito mais conhecida do que o "mocinho". De fato, Donna Reed era quase uma estrela da Columbia, enquanto Cornel nunca chegou a ser um astro de primeira grandeza. Na verdade hoje em dia, mesmo entre grupos de cinéfilos, poucos se lembram de seu nome. Falecido em 1989, Wilde se notabilizou em filmes B de aventuras, sejam eles passados na África, na II Guerra Mundial ou em um campo de prisioneiros. Ele geralmente interpretava protagonistas mais farofeiros, que eram quase anti-heróis. O exemplo vem até mesmo desse Mombasa onde ele desfila seu repertório de cantadas baratas (praticamente cantadas de pedreiro) para cima da inteligente, bela e equilibrada Donna Reed. No mundo real ele seria solenemente esnobado, mas os roteiristas deram uma colher de chá para seu personagem e no final ele conquista a garota (ficou meio forçado e falso, mas era algo da época).

Wilde interpreta basicamente um americano que vai à África para trabalhar ao lado de seu irmão numa mina de ouro. Chegando lá vem o choque. Ele foi assassinado. Rezava a lenda na região de que guerreiros leopardos o teriam matado, mas Wilde não acredita nessa versão. A ganância por ouro não era algo que interessasse aos selvagens, aos nativos, mas sim ao homem branco ocidental. Dessa maneira o roteiro explora a real identidade do assassino que poderia ser qualquer um ali, visando justamente colocar as mãos na fortuna. É curiosa essa associação entre fazer fortuna em regiões selvagens. Isso é do centro mesmo desse tipo de filme, haja vista que há quase sempre nesses roteiros um tesouro perdido ou algo semelhante. No geral é um filme bom, divertido e com boas cenas. Exatamente como desejou o diretor George Marshall. Não é como "Uma Aventura na África" ou "Entre Dois Amores", filmes conceituados e premiados. É uma aventura B, típica dos anos 50. Bem ao estilo pura diversão realmente. No meu caso gostei e me diverti. Então está valendo.

Pablo Aluísio.

As Neves do Kilimanjaro

Ontem assisti ao clássico "As Neves do Kilimanjaro" (The Snows of Kilimanjaro, EUA, 1952). O filme é uma adaptação para o cinema de um conto escrito por Ernest Hemingway em 1936. Em seus escritos Hemingway quase sempre falava sobre si mesmo. Embora seus livros fossem romances, com personagens de ficção, todos eles traziam um pouco do próprio escritor em suas personalidades. Aqui não foi diferente. O protagonista interpretado por  Gregory Peck também é um escritor. Alguém que almeja viver de seus livros. Ele se vê numa situação limite após ter sua perna infeccionada em pleno safári na África. Em cima desse momento decisivo se desenvolve toda a trama do filme.

Enquanto fica prostrado numa maca, vendo a morte de perto, cercado por animais selvagens como hienas e abutres esperando por sua carcaça, ele começa a fazer um balanço de sua vida. Embora tenha tido relativo sucesso com seus romances isso passa longe de ser considerado um alívio para ele. Muito autocrítico considera-se um fracassado que levou toda a sua vida em vão. O único pensamento que lhe consola é um velho amor do passado, a exuberante Cynthia (Ava Gardner). Eles tiveram um belo romance no passado que resultou inclusive em uma gravidez. Street (Peck) porém não soube dar o devido valor ao que acontecia em sua vida naquele momento. Mais preocupado em fazer sucesso como escritor acabou negligenciando aquela que seria o grande amor de sua vida. Agora, à beira da morte, ele relembra e lamenta. O sucesso com os livros nada significou pois o fracasso na vida pessoal é o que mais pesa nesse momento final.

O roteiro assim se desdobra em duas linhas narrativas básicas. Uma no presente, onde o personagem de Gregory Peck agoniza em um acampamento aos pés da montanha do Kilimanjaro (a mais alta da África) e outra em diferentes passagens de seu passado, focando principalmente em amores que não deram certo. O uso de flashback situa assim o espectador sobre tudo o que aconteceu nos anos anteriores da vida do protagonista. Além de Cynthia (Gardner), o grande amor de sua vida, ainda há lembranças referentes à Condessa Liz (Hildegard Knef), uma bonita, mas frívola, nobre europeia com quem ele passou bons momentos no começo de sua carreira. É justamente o tio de Liz que resolve deixar uma fortuna para Street com um enigma para decifrar referente inclusive ao Kilimanjaro.

O elenco tem três grandes estrelas. Gregory Peck interpreta o personagem principal. É curioso ver esse trabalho do ator porque ele era muito diferente de Ernest Hemingway (cuja personalidade foi transportada para as páginas da literatura em seu personagem). Enquanto o escritor era uma explosão de sentimentos, fúria e vontade de experimentar todos os aspectos da vida, Peck sempre se caracterizou como um homem fino e elegante, bastante discreto. Mesmo assim ele conseguiu convencer plenamente em cena. Já Ava Gardner era pura sensualidade. Aqui ela curiosamente apresenta um aspecto mais vulnerável, o que a diferencia bem de outros trabalhos no cinema. Por fim há a presença de Susan Hayward como a esposa de Peck. Uma mulher paciente e muito dedicada ao marido, ainda mais agora que ele passa por uma situação extrema no coração do continente africano. Enfim, um belo filme que resgata a obra de Ernest Hemingway, especialmente indicado para neófitos em sua literatura.

Pablo Aluísio. 

sábado, 7 de maio de 2016

Chocolate

Título no Brasil: Chocolate
Título Original: Chocolat
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Miramax
Direção: Lasse Hallström
Roteiro: Robert Nelson Jacobs, baseado no romance de Joanne Harris
Elenco: Juliette Binoche, Johnny Depp, Judi Dench, Alfred Molina, Carrie-Anne Moss
  
Sinopse:
Vianne Rocher (Juliette Binoche) resolve abrir uma pequena loja de doces numa cidadezinha do interior da França. Para sua surpresa a sua presença e seu modo de vida acaba chocando os padrões morais da comunidade. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Juliette Binoche), Melhor Atriz Coadjuvante (Judi Dench), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Música (Rachel Portman). Indicado ao Globo de Ouro em quatro categorias, entre elas a de Melhor Filme - Comédia ou Musical.

Comentários:
Nunca considerei um grande filme. Na verdade era um típico filme da Miramax na época. E o que isso exatamente significava? Bom, basicamente uma produção com jeitão de filme europeu, roteiro que se propunha a ser cult, mas tudo embalado com um rótulo mais comercial. Não é um produto autêntico ou original, mas uma imitação para consumo popular do americano médio. Um dos problemas desse filme é que seu enredo não vai para lugar nenhum. Depp obviamente deve ter adorado seu personagem, meio cigano, meio andarilho, que nos remete ao velho ideal do herói romântico sem passado e sem destino pela frente. O que vale realmente a pena nessa produção meio fake é o elenco - cheio de atores e atrizes talentosos - e os belos cenários naturais pois o filme foi rodado numa região bem bucólica da França. Aquelas pequenas comunidades, algumas delas fundadas na Idade Média, ainda mantém um charme irresistível, ainda mais para quem adora história em geral. Então é isso, o filme é bonito, mas um pouco vazio. Vale conhecer uma vez e é só.

Pablo Aluísio.