quarta-feira, 2 de março de 2011

A Violenta Religião Azteca

Bom, pelos livros oficiais de história você vai aprender a seguinte teoria: os povos chamados pré-colombianos (Maias, Aztecas e Incas) viviam felizes e prósperos na América Central e parte da América do Norte quando os malvados colonizadores espanhóis e europeus chegaram impondo sua religião cristã, tanto da vertente católica como protestante, e assim cometeram um grave crime cultural ao sobrepor a crença no deus cristão em relação àqueles povos que tinham sua própria religião.

O que muitos livros de história do ensino médio escondem dos estudantes é que as religiões pré-colombianas eram extremamente violentas e sangrentas. Os cultos eram baseados em sacrifícios de sangue, onde pessoas eram assassinadas nos altares a deuses igualmente violentos e sedentos de sangue humano. Mulheres, crianças, adolescentes, idosos, não importava, eles eram massacrados nesses altares "religiosos".

Suas vísceras eram abertas, o coração arrancado de seus peitos e levantados ao ar pelos sacerdotes. Depois a cabeça das vítimas eram golpeadas com um pesado bastão. Por fim, para fechar a sangrenta e violenta cena, os sacerdotes vinham a arrancavam a cabeça das pessoas dadas como sacrifícios aos deuses pagãos. A cabeça era jogada do alto das pirâmides e ia rolando escada abaixo, até parar na base do templo, onde estacionava em um mar de sangue.

O cristianismo jamais iria compatibilizar com uma religião tão insana e sangrenta como essa. Um Deus cristão não exige sacrifícios de sangue, morte de pessoas inocentes, cujo sangue era bebido em cálices ditos "sagrados". Pensar que tudo se resume em uma invasão cultural de natureza religiosa é simplesmente ignorar o que era feito nas Américas antes da chegada do colonizador europeu. É uma visão parcial que esconde as verdadeiras históricas dessa mudança. Os povos americanos foram cristianizados e nisso não há qualquer erro. Caso contrário as velhas práticas de sacrifícios humanos continuariam, algo impensável nos dias atuais.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de março de 2011

O Paganismo e a Igreja Católica

Um dos argumentos mais absurdos e contraditórios da doutrina protestante desde os seus primórdios é aquele que afirma que a Igreja Católica seria na verdade uma nova faceta do paganismo dos tempos antigos. Como muitas outras falácias protestantes essa também nunca teve o mínimo de fundamentação histórica. Antes de qualquer coisa é importante esclarecer o que significa o termo paganismo.

Nos tempos pré-cristãos esse termo não tinha muito sentido. Havia inúmeras crenças e superstições circulando por toda a Europa. Essas crenças diferentes não tinham grandes ligações entre si. Havia crenças com inúmeros deuses (como a religião romana dos tempos imperiais), outras que acreditavam que a divindade provinha das forças da natureza (como as primeiras manifestações de bruxaria, feitiçaria, etc) e outras formas de espiritualidade de menor expressão.

Quando surge o cristianismo criou-se o termo paganismo para definir algo bem genérico, na maioria das vezes significando aquilo que não era cristão. Assim toda a crença que não tinha Jesus como foco central era considerada paganismo. Isso englobava inúmeras e diversas formas de manifestações religiosas que tinham as mais diversas características, mantendo apenas algo em comum: o desconhecimento ou a não crença na figura de Jesus Cristo como salvador e personificação humana, terrena, de Deus na Terra. Eram pagãos tanto os seguidores da velha religião imperial de Roma, com seus deuses do panteão, como os seguidores da religião do antigo Egito, os feiticeiros, as bruxas, etc. Paganismo não significa apenas um tipo de religião como muitos pensam, mas sim uma imensa galeria de credos antigos, que não seguiam e não acreditavam em Jesus de Nazaré. Apenas isso.

Esclarecido o significado do termo paganismo fica bem claro para todos como é fruto de ignorância afirmar que a Igreja Católica seria a seguidora do antigo paganismo europeu. É absurdo. Primeiro porque historicamente uma das primeiras bandeiras do catolicismo era converter os adeptos de todas essas crenças não cristãs (pagãs) ao cristianismo. Segundo porque tendo Jesus como figura central de sua doutrina religiosa o catolicismo jamais poderia ser classificado como paganismo. É pura bobagem, falácia, outra argumentação da doutrina protestante que não se sustenta quando se estuda a história das religiões e o surgimento do cristianismo na Europa antiga.

Pablo Aluísio.

Papa Urbano VII

O Papa Urbano VII passou para a história como Urbano, o Breve. A razão do título se deu por causa da brevidade de seu papado. Urbano ficou apenas 13 dias no trono de Pedro. Ele morreu antes mesmo de completar duas semanas no poder. O que teria acontecido? Por muitos anos se especulou que Urbano teria sido envenenado, pura e simplesmente. Afinal muitos papas foram envenenados e assassinados no Vaticano durante a história. Ele provavelmente não teria sido uma exceção.

Estudos históricos mais recentes porém demonstram que a verdade provavelmente foi bem mais simples. Ao invés de tramas e conspirações de assassinatos, o que teria acontecido é que Giambattista Castagna teria subido ao trono papal já muito doente. Ele havia contraído malária durante seus anos como cardeal na Espanha. Essa doença é traiçoeira, nunca deixando o paciente totalmente curado. Com os anos ela vai piorando.

Durante o conclave o cardeal Castagna demonstrava superficialmente gozar de boa saúde. O fato porém é que ele escondeu dos demais cardeais seus graves problemas de saúde. No século XVI houve uma intensa movimentação entre as metrópoles e suas colônias. Colonizadores, navegadores e europeus iam até o novo mundo, as Américas, e de lá traziam doenças tropicais que não eram muito conhecidas dos europeus. A Espanha era uma dessas metrópoles colonizadoras, uma potência militar que explorava o continente recentemente descoberto. O cardeal Castagna provavelmente esteve em algum lugar de contágio enquanto trabalhava nas cidades espanholas. Quando retornou ao Vaticano já estava doente.

Em menos de 13 dias de papado não há muito o que se fazer, nem o que conspirar contra. Por isso os historiadores acham muito improvável que tenha surgido uma conspiração de assassinato para matá-lo, até porque o Papa ainda era bem visto de seu clero. Ninguém realmente o odiava naqueles breves dias como Papa para o envenenar assim, tão prematuramente. Urbano VII morreu em 15 de setembro de 1590. Ele tinha 69 anos de idade. Sua morte foi um choque em Roma. Os sintomas que o atingiram no leito de morte corroboram a tese de que de fato ele morreu da famigerada e temida malária, uma doença dos navios que iam e vinham das terras da América.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - His Hand in Mine

Embora eu não seja evangélico (e nem pretendo ser algum dia) devo confessar que ouvir Elvis Presley cantando música gospel é uma daquelas coisas que realmente fazem valer a pena viver. De todos os álbuns do cantor nesse estilo esse aqui é certamente o meu preferido. "His Hand in Mine" capturou a voz de Elvis em um momento muito inspirado. Quando o disco foi gravado Elvis estava encerrando as atividades em seu ano de retorno (1960), quando ele voltou do exército e firmou-se novamente na carreira. Era uma fase muito bem sucedida, onde sua voz alcançou uma ternura ímpar em toda a sua discografia.

Todos os discos por essa época, sem exceção, traziam esse mesmo estilo vocal de Elvis. Ele parecia declamar as palavras de uma forma muito cuidadosa, caprichosa, com requinte e elegância. Sua fase poderosa só viria bem mais tarde, nos anos 70 e seu lado mais roqueiro e juvenil havia ficado para trás, na década anterior. Assim Elvis soava mais romântico e suave do que nunca. De todas os seus estilos de interpretação esse sempre foi um dos meus preferidos. O álbum também trazia em sua seleção musical lindas melodias, com excelentes arranjos, tudo feito para relaxarmos nossas mentes depois de um dia de stress. Afinal o mundo das artes existe justamente para isso mesmo, para alimentar (e aliviar) nosso ser interior.

Curiosamente em um disco que tenho em tão alto critério, a faixa título sempre me soou um pouco suntuosa além do razoável. De forma até inconsciente criei uma certa implicância com o trecho inicial vocal cantado pelos Jordanaires. Pode parecer uma bobagem, mas essa introdução sempre me pareceu ser até mesmo um tanto quanto fantasmagórica! Depois, felizmente "His Hand In Mine" cresce e se transforma em um lindo "duelo" entre a maravilhosa voz de Elvis e um piano, soando suas notas musicais como se fossem delicados pingos de chuva caindo na grama! Essa linda canção inclusive poderia até mesmo ter sido aproveitada por Elvis nos concertos dos anos 70, mas infelizmente parece que ele a esqueceu (de forma bem injusta).

Depois dela vem a canção "I'm Gonna Walk Dem Golden Stairs". Esse já é um "Gospel de altar" como essas composições mais agitadas eram chamadas no sul dos Estados Unidos. Era aquele tipo de hino feito para que toda a comunidade cantasse junta, batendo palmas, dentro das igrejinhas. O lado emocional, de êxtase, sempre foi muito importante nos cultos protestantes. Já "In My Father's House" soa mais intimista. A letra, bem evocativa, soa como uma oração. O destaque vem para o solo vocal de um dos membros dos Jordanaires. Elvis era um cantor muito generoso, sempre abrindo espaço em seus discos para seus músicos de apoio.

"Milky White Way" sempre foi uma das minhas preferidas do álbum. Que bela melodia, leve, alto astral, enfim, feliz! Isso mesmo, esse é aquele tipo de gravação que traz um sentimento de felicidade a quem ouve. Se não fosse uma música com letra religiosa poderia fazer parte de qualquer disco de Elvis dos anos 50. Em tempos tão sombrios como esses que vivemos nada melhor do que ouvir uma faixa como essa, para levantar o bom humor e astral. Nada poderia ser melhor. A canção a seguir, "Known Only To Him", é outro hino. Esse tipo de música era geralmente rotulada nas lojas de discos da época como Spiritual Song. Os grandes nomes desse estilo eram membros de igrejas negras espalhadas por todo o sul. Havia uma certa melancolia em suas letras, impulsionadas pelos problemas que enfrentavam: a pobreza, a falta de perspectivas, o racismo e tudo mais. Embasado tudo vinha a fé, para manter as comunidades centradas e coesas.

O disco segue. "I Believe In The Man In The Sky" começa também como hino, mas depois surge uma melodia das mais agradáveis. Esse tipo de som, ao contrário da faixa anterior, era mais associada aos cantores gospel de domingos, que se apresentavam em programas de rádio em cidades como Memphis e Tupelo (onde Presley forjou e recebeu todo o seu aprendizado cultural musical). Tão bem gravada ficou que a RCA Victor a reutilizou depois como um single. "Joshua Fit The Battle" por outro lado, vinha para desfazer dúvidas. Se o ouvinte ainda tinha questionamentos sobre o fato de que o Gospel foi um dos ritmos musicais que deram origem ao Rock nos anos 50 basta ouvir essa faixa para que tudo fique bem claro. Ray Charles costumava dizer que a única diferença entre o Rock original e o Gospel era o teor religioso de suas letras, algo que ele provou com "I Got a Woman". Pois é, basta pensar em uma letra profana nessa faixa que você terá um rock clássico, sem tirar e nem colocar nada.

"He Knows Just What I Need" vem então para acalmar mais os ânimos. É uma balada muito cadenciada, onde apenas sinto falta do piano, que sempre foi tão importante em todas as demais gravações desse álbum. Para compensar isso Elvis e os Jordanaires dão um verdadeiro baile em termos de riqueza vocal. Eles eram sobrenaturais nesse aspecto, não adianta negar. Nunca ouvi nada parecido em todo a minha vida. Saber que músicas assim era gravadas praticamente "ao vivo" dentro dos estúdios, sem nenhum truque nos serve para mostrar o quanto Elvis e seus vocalistas eram talentosos. A seguir vem "Swing Down, Sweet Chariot", outra grande preferida de minha parte. Tão boa é essa canção que Elvis voltaria a gravá-la muitos anos depois para a trilha sonora do filme "The Trouble With Girls". Embora ambas sejam ótimas, ainda prefiro essa, com Elvis mais uma vez arrasando nos microfones. Sem querer soar pedante, Elvis foi sim um dos maiores cantores de todos os tempos. Quando ele tinha material de qualidade pela frente simplesmente arrasava.

Esse álbum tem uma característica interessante. Sempre uma canção mais agitada é sucedida por uma mais leve, calma, relaxante. Assim confirmam os primeiros acordes de "Mansion Over The Hilltop". O piano retorna, criando mais uma pequena obra prima. Esse arranjo, Elvis, Jordanaires e piano sempre me soou belíssimo e diria mais, arrebatador. Muito inspirador. A letra religiosa realmente nos faz sentirmos na maior das mansões, em um céu idealizado. O tom inspirativo desce mais um degrau com "If We Never Meet Again". Outra canção mais reflexiva, introspectiva. Aqui há praticamente um diálogo entre criador e criatura. Elvis, é bom frisar, tinha uma grande espiritualidade que explodia justamente em gravações como essa. Outro excelente momento do disco. Por fim, fechando esse trabalho maravilhoso de sua carreira surge então a última música do LP. "Working On The Building" é uma despedida em tom de apoteose, com um lindo arranjo de violões e até mesmo banjo. Essa canção sempre me faz ter a sensação de que todos estão em um picnic após os cultos de domingos. Um momento para socializar com amigos e parentes da comunidade. Um final mais do que feliz para um álbum que o próprio Elvis considerava ser "um trabalho de amor" feito em memória de sua mãe, Gladys, falecida alguns anos antes. Certamente ela teria ficado orgulhosa de um trabalho tão belo como esse.

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - Sinatra's Sinatra

Gosto muito desses discos antigos, com jeito e capa de LPs dos anos 1960. Esse "Sinatra's Sinatra" foi lançado nos Estados Unidos pelo selo Reprise e só trazia a nata do repertório do cantor, que diga-se de passagem, estava deixando de ser apenas um artista para ser também um empresário de sucesso no ramo musical. E isso lembra um fato curioso. Sinatra não gostava muito de coletâneas quando era apenas um cantor contratado. Ele achava que isso resumia em demasia a qualidade de um verdadeiro intérprete, mas mudou de opinião quando ele próprio virou seu próprio agente, produtor e dono de selo musical. Como sabemos essa velha e bem antiga fórmula de "maiores sucessos" sempre vendeu muito bem. Sinatra sabia muito bem disso já que não era bobo nem nada, por isso logo estava usando da velha artimanha de marketing para melhorar o lucro de sua empresa. Esqueceu o que havia dito antes como mero artista e caiu no jogo do mundo dos negócios. Afinal a Reprise tinha que dar o lucro esperado por seus investidores.

A seleção é das melhores. As gravações são de alto nível - absurdo nível, diria, e conta com a maravilhosa dobradinha Sinatra e Nelson Riddle, cujo nome foi colocado na capa, em destaque, pelo próprio Frank Sinatra. Um reconhecimento muito sincero por parte dele. É aquele tipo de álbum que você gostará da primeira à última faixa. Também o que dizer de uma abertura com o clássico "I've Got You Under My Skin"? Achou pouco? Logo em seguinda temos a premiada "In the Wee Small Hours of the Morning" do imortal disco do cantor de 1955, um dos melhores trabalhos realizados por ele na Capitol Records em toda sua carreira. Uma das faixas, "Call Me Irresponsible", ficaria maravilhosa anos depois na voz de Dean Martin, até por causa da personalidade dele, mas a de Sinatra também não fica muito atrás em nenhum aspecto. Um primor! Assim só posso deixar a recomendação. Esse disco tenho há muitos anos, ainda na era do vinil, e é uma das preciosidades que não consigo me desfazer. Já criei inclusive vínculo emocional com ele, impossível jogar fora para substituir por um mero CD. Elegância, charme e bom gosto reunidos em 12 excepcionais registros. Realmente um álbum de classe.

Frank Sinatra - Sinatra's Sinatra (1964)

Lado A:
1. I've Got You Under My Skin  
2. In the Wee Small Hours of the Morning  
3. The Second Time Around  
4. Nancy  
5. Witchcraft  
6. Young at Heart  

Lado B:
1. All the Way  
2. (How Little It Matters) How Little We Know  
3. Pocketful of Miracles  
4. Oh! What It Seemed to Be  
5. Call Me Irresponsible  
6. Put Your Dreams Away 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Johnny Cash

Ele nunca foi um galã conquistador como Elvis Presley, nem um grande guitarrista como Chuck Berry. Desde o começo de sua carreira Cash descobriu que trilharia seu próprio caminho, muitas vezes fora de qualquer categoria musical que a imprensa quisesse que fizesse parte. Ele foi literalmente o homem comum, o "Working Man" que conseguiu vencer no mundo da música.

Antes de se definir como um músico ele tentou vários meios de vida. Foi vendedor de porta em porta, operário de fábrica, militar de baixa patente e o que mais lhe aparecesse pela frente. O importante era sobreviver. E foi atrás de um meio de sobrevivência que Cash bateu às portas da famosa gravadora Sun Records em Memphis em busca de alguma oportunidade de ganhar dinheiro com sua música, quem sabe! Afinal a propaganda da Sun era clara: "Gravamos qualquer coisa, a qualquer hora".

O começo foi complicado. Sam Phillips viu potencial em Cash mas ele soava muito duro, muito rústico. Essa rudeza em seu som nos anos que viriam seria seu grande diferencial. Percebendo que ficaria no mínimo patético cantando musiquinhas de amor para adolescentes, Cash resolveu abraçar o lado mais barra pesada da vida. Cantou sobre os prisioneiros (os reais, não os de cinema como em "Jailhouse Rock" de Elvis) e sobre as traições, desilusões e fracassos da vida do homem comum, como ele próprio se considerava.

Chegou a ser acusado de ser um "falso cantor de rock" após abraçar sem receios a música country e com ela seguir caminho até o fim de seus dias. Na verdade nem ligou para o que diziam. O fato é que Johnny Cash odiava rótulos. Ele jamais gravaria algo apenas para satisfazer o que as pessoas desejavam dele. Cash era autêntico demais para fazer pose e por essa razão cantava a América dos marginalizados, dos desesperados e dos miseráveis. Cantava apenas aquilo que queria, sem fazer nenhum tipo de concessão para produtores e nem gravadoras.

Ao longo da carreira acabou formando um público muito fiel que sempre ficou ao seu lado mesmo no período mais complicado de sua vida quando afundou no mundo das drogas pesadas. Só não morreu como Elvis porque foi salvo pelo amor que sentia por aquela que foi sua musa, sua diva e grande amiga e esposa, June Carter.

No final da vida finalmente encontrou algum tipo de paz. Reverenciado como um dos grandes nomes da história da música americana resolveu levar uma vida pacata em seu rancho em Madison, Tennessee. Acordava cedo, lá pelas seis da manhã e fazia longas caminhadas até uma pequena cabana onde ficava horas lendo seus livros preferidos, inclusive romances e a Bíblia. Cash não se sentia bem em ambientes luxuosos demais. Preferia uma casa de madeira, com as botas meladas de lama. Era sua forma de ser mais uma vez uma pessoa honesta consigo mesmo, relembrando suas raízes humildes. Também criou gosto pela jardinagem. Quem diria, o homem de preto passou seus últimos dias como um típico americano do interior, feliz por suas conquistas e saudoso de seu passado. Nada mais do que merecido.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - If Every Day Like Christmas

Embora tenha lançado algumas poucas músicas realmente relevantes em 1966 o fato é que Elvis estava em um momento ruim da carreira por essa época. Seus filmes eram severamente criticados pelos críticos de cinema e as trilhas sonoras vendiam cada vez menos a cada ano. Até a crítica musical que antes ainda se importava em criticar as músicas dos filmes, começou a ignorar seus álbuns com músicas de filmes. Afinal para que se importar se o material soava igual todos os anos? Como Elvis afinal era visto em 1966? Basicamente como um cantor que havia sido essencial no surgimento do rock ´n´ roll na década anterior, mas que estava totalmente perdido na carreira, sem rumo, fazendo filmes adolescentes para um público que nem sequer existia mais.

Afinal de contas os produtores não entenderam que os fãs de Elvis não eram mais os adolescentes dos anos 50, pois o tempo havia passado, eles tinham se casado, eram pais de famílias com mais de 30 anos e não iriam gastar seu suado dinheiro com aquele tipo de material. E os jovens dos anos 60, os verdadeiros adolescentes, seguiam outros ídolos de sua idade e não Elvis que já era considerado um astro de uma outra geração. Assim Elvis foi morrendo artisticamente. Ele perdeu o compasso com seus antigos admiradores. Seus antigos fãs ignoravam seus discos novos e a juventude simplesmente o achava um astro de Hollywood ao velho estilo, em musicais pouco interessantes para eles! Uma situação nada boa para um talento como Elvis Presley. O caminho era virar adulto também na carreira musical, mas infelizmente isso iria demorar ainda um pouco a acontecer.

No meio dessa situação de estagnação artística que tinha se transformado sua outrora gloriosa carreira musical, chegou nas lojas, muito timidamente, sem publicidade alguma, esse single natalino. Para os que ainda insistiam em seguir Elvis (verdadeiros heróis da resistência pois a maioria dos fãs tinham ido embora), o compacto trazia uma novidade e tanto, uma canção inédita de Elvis. Sim, era de natal, o que afastava uma parte do público que achava esse tipo de música ultrapassada, mas era algo novo - e não uma centésima reedição das canções natalinas de 1957. A RCA, desesperada pelas baixas vendas dos produtos com Elvis, resolveu que seria uma boa ideia ele gravar algo para o natal. Quem sabe não faria algum sucesso...

A música era uma composição muito bonita do amigo e guarda-costas de Elvis, Red West. A faixa havia sido gravada em junho, em Nashville, e contava com a maravilhosa participação do grupo vocal The Imperials Quartet, que iria ser extremamente importante na carreira de Elvis nos anos 70. O single não chegou a ser um fenômeno de vendas, passou muito longe de se destacar nas paradas, mas satisfez as expectativas da gravadora. Pelo menos não foi um fracasso comercial completo, como vinha acontecendo com regularidade nos lançamentos de Elvis ultimamente. No ano seguinte ainda seria reeditado, mostrando que havia ali uma centelha de força comercial ainda brilhando na cambaleante carreira musical do agora considerado ex-Rei do Rock Elvis Presley.

If Every Day Was Like Christmas
I hear the bells / Saying christmas is near / They ring out to tell the world / That this is the season of cheer / I hear a choir / Singing sweetly somewhere / And a glow fills my heart / I'm at peace with the world / As the sound of their singing fills the air / Oh why can't every day be like christmas / Why can't that feeling go on endlessly / For if everyday could be just like christmas / What a wonderful world this would be / I hear a child / Telling santa what to bring / And the smile upon his tiny face / Is worth more to me than anything.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Surrender / Lonely Man

Logo no começo de 1961 a RCA Victor lançou no mercado o novo single de Elvis Presley. Era um compacto com "Surrender" no lado A e "Lonely Man" no lado B. Esse single é bem curioso porque ambas as canções eram de certa forma símbolos da nova fase da carreira de Elvis. "Surrender" era claramente uma tentativa de repetir o sucesso comercial de "It´s Now Or Never" do ano anterior. Uma outra adaptação de uma música italiana, dessa vez da conhecida música napolitana "Torna a Surriento" de autoria de Giambattista e Ernesto de Curtis. Além disso era uma canção do começo do século XX (1902) tal como "Are You Lonesome Tonight?", o hit anterior de Elvis. Afinal se havia dado tão certo com "O Sole Mio" poderia dar certo novamente aqui. E deu.

A canção, embora não tivesse chegado ao mesmo nível de sucesso de "It´s Now or Never", conseguiu se destacar muito bem nas paradas, chegando ao primeiro lugar entre os mais vendidos. A gravação foi complicada para Elvis. A nota final exigia uma maturidade e poder vocal que intrigou o cantor. Mesmo assim ele topou o desafio. Vários takes foram produzidos apenas para essa parte final e depois de várias tentativas a escolhida por Elvis foi unida a um outro take da canção dando origem a versão oficial que conhecemos. A canção foi produzida durante as sessões de gravação do álbum religioso "His Hand In Mine" visando justamente seu lançamento em single logo no começo de 1961. Elvis ficou particularmente satisfeito com a performance, tanto que chegou a comentar com amigos que "Surrender" tinha de fato sido um desafio para ele dentro dos estúdios. Era até de certa forma uma homenagem a um de seus grandes ídolos no mundo da música, Mario Lanza. 

Já "Lonely Man" era do novo filme de Elvis que ainda nem chegara nas salas de cinema. O drama "Wild In The Country" (Coração Rebelde) prometia ser mais um passo de Elvis em direção a uma carreira de ator sério em Hollywood. Novamente rodado na Fox a película era mais uma tentativa de Elvis em emplacar na capital do cinema. Um dos destaques, além de seu belo acompanhamento instrumental era a própria letra, bem evocativa e sincera. Mesmo tendo suas qualidades infelizmente acabou sendo ignorada. Assim os fãs tinham que se contentar com um fato que era mais do que claro: Elvis se distanciava cada vez mais de seu antigo estilo musical, o bravo Rock ´n´ Roll.

Embora esse single se tornasse o quarto consecutivo a chegar ao primeiro lugar na parada Billboard as pessoas começaram a se perguntar quando Elvis finalmente lançaria um novo rock nas lojas. Seu romantismo era apreciado e até mesmo seus filmes eram prestigiados por essa época por seus fãs mas as baladas românticas começavam a tomar um espaço excessivo dentro dos lançamentos do outrora aclamado "Rei do Rock"! Essa situação meio embaraçosa levou o Los Angeles Times a pela primeira vez perguntar em uma reportagem se Elvis ainda poderia ser chamado de Rei do Rock, afinal o antes selvagem e barulhento ritmo que tanto fama lhe trouxe parecia ter sumido de seus lançamentos recentes. O tempo mostraria que não era bem assim mas o questionamento ainda seria feito muitas e muitas vezes nos anos que viriam, criando uma consciência nas pessoas de que Elvis havia abandonado o estilo musical que o tinha transformado no astro musical número 1 da América.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Elton John - Honky Château

Recentemente adquiri esse álbum de 1972 do Elton John. É um disco muito agradável de se ouvir, principalmente pelo fato de que ele escolheu um repertório que é justamente isso, proporcionando uma audição bem agradável aos ouvidos. Elton John também amenizou os arranjos de metais, deixando as canções com aquela sensação de leveza. As harmonias das músicas se inspiram claramente no estilo Honky-Tonk, muito popular nos bares e estabelecimentos comerciais mais populares, principalmente no sul dos Estados Unidos. Foi uma escolha acertada.

A primeira faixa do disco, a animada "Honky Cat" já mostra a que veio. Aliás ela daria nome ao disco como um todo e Elton John só mudou de ideia sobre isso no último momento, poucos dias antes da prensagem das primeiras cópias. O produtor Gus Dudgeon o convenceu que um nome mais estiloso ficaria melhor. Assim Elton John surgiu com esse título "Honky Château", algo como o castelo do  Honky-Tonk. Ficou bom, bem melhor do que o primeiro título que seria usado.

A segunda faixa do disco é uma balada, a boa "Mellow". Há quem implique com o refrão usado à exaustão. Bom, digamos que o bom e velho Elton sabia muito bem que um refrão pegajoso, que grudasse na mente do ouvinte já na primeira audição seria um potencial hit nas paradas. É uma bela música, gosto dela. A única coisa que envelheceu bastante foi o órgão que sola na segunda parte da canção. É um tipo de instrumento que evoca ao passado, não sendo muito utilizado em discos após os anos 70. De qualquer forma e música já havia sido salva pelo piano tocado por Elton John. Não há muito o que reclamar sobre isso. Não sejamos tão chatos!

Não é segredo para ninguém que o grande hit desse disco, o grande sucesso que fez o álbum vender milhões de cópias na época de seu lançamento original foi a canção "Rocket Man" Não é para menos. Essa balada é até hoje considerada uma das obras primas da carreira de Elton John. É o mais curioso de tudo é que sua letra é muito diferente do que ele estava acostumado a escrever na época. Esse tipo de tema era mais associado a artistas como David Bowie.

A letra contava as agruras e sentimentos de um astronauta que tinha de ir para o espaço, para cumprir mais uma missão enquanto deixava as pessoas amadas na Terra. Isso ficava bem claro em versos como: "Eu sinto tanta falta da Terra / Eu sinto saudades da minha esposa / É tão solitário no espaço / Em um vôo tão eterno". Naqueles tempos, em plenos anos 70, ainda se pensava que em poucos anos o homem iria fazer viagens a outros planetas com uma certa facilidade e regularidade. 50 anos depois e ainda estamos na Lua, ou melhor dizendo, nem na Lua, pois faz décadas que o homem não pisa por lá novamente.

Outra balada que gosto desse disco é "Salvation" que abria o lado B do vinil original. Existem aqueles que consideram o refrão cheio de clichês musicais, algo banal. Pode até ser, mas é impossível negar que mesmo sendo algo meio batido, ainda funcionava muito bem. A dobradinha de arranjos usando apenas instrumentos tradicionais de uma banda de rock e um bonito coro ao fundo completam a sonoridade agradável, acima de tudo. Aliás uma das melhores decisões de Elton John nesse disco foi deixar tudo mais clean, sem exageros desnecessários.

 "I Think I'm Gonna Kill Myself" é uma das faixas que mais lembram o verdadeiro estilo Honk-Tonk. Por isso ela se parece muito com aquelas antigas músicas do começo do século XX, mais precisamente da década de 1920. Aqui Elton John caprichou mesmo, embora seu refrão em coro no meio da faixa seja algo bem anos 1970. Assim Elton John acabou unindo duas décadas do século XX em apenas uma canção. Ficou excelente.

"Susie (Dramas)" é uma boa música. Sua sonoridade é um pouco fora do comum. Começa praticamente como uma súplica, então vai subindo o tom conforme a canção avança. Nesses álbuns dessa época o Elton John valoriza bastante também os arranjos da bateria. Claro, o piano sempre estaria em primeiro plano, mas isso não significava que ele não valorizasse os efeitos de percussão. A guitarra também surge em bonito solo. Uma boa canção do disco, mas em minha opinião não está entre as melhores.

"Slave" em inglês significa "escravo". Aqui Elton John compôs uma bela balada, toda arranjada tal como foi composta, com um bonito violão de doze cordas se destacando. O Elton também acrescentou efeitos de Slide-Guitar. A intenção dele assim se tornou bem clara e óbvia. Ele quis aqui cantar e tocar uma balada country ao velho estilo, ao estilo de Nashville. Ficou bonita, sem dúvida. O ouvinte até se pega imaginando estar andando naquelas estradas do sul dos Estados Unidos, nas antigas plantações de algodão onde havia, em um passado nem tanto distante assim, escravos trabalhando de sol a sol. Tempos de escravidão, tempos de vergonha.

Outra canção com nome de garota, "Amy" é um Honkey Tonkey mais nervosinho. Começa com acordes de balada, mas vai acelerando aos poucos, coisas de Elton John. Depois tudo explode no refrão. Os arranjos são interessantes, com destaque para o longo e bonito solo de guitarra. É um lado B do disco. Não fez sucesso, nem se destacou na época em nenhuma parada, porém inegavelmente é uma boa faixa desse álbum. Elton John em grande forma.

"Mona Lisas and Mad Hatters" é muito conhecida. Basta os primeiros acordes tocaram para lembrar dela. Não digo que seja um "Golden Hit" da carreira do Elton John, mas inegavelmente é bem conhecida. Tanto isso é verdade que quando coloquei o disco para tocar a primeira vez me lembrei imediatamente dessa faixa e isso sendo um conhecedor pouco aprofundado da discografia do Elton John. Ouvi a música e me lembrei na hora. Acredito que quem viveu os anos 70 vai lembrar dessa melodia.

E como acontece em praticamente todas as gravações desse disco, tudo é executado com um grande bom gosto. Elton John ao piano sempre foi um presente aos ouvintes de bom gosto. E para melhorar ainda mais a bela melodia ele colocou uns instrumentos clássicos ao fundo. Penso que há até mesmo a presença de uma Balalaica (ou balalaika, como dizem alguns), tradicional instrumento da música folclórica russa. Coisa de mestre. Ficou bela a canção.

"Hercules" é a música que fecha o álbum. Som agradável, melodia idem. Tem uma bonita introdução de violão (bem tocado, é claro), bem ao estilo do country and western de Nashville. Se tem uma coisa boa que Elton John fez nesse disco foi simplificar os arranjos. E outra coisa que merece aplausos foi esse vocal de apoio, muito bom, lembrando velhas músicas dos anos 50. Muito nostálgico, muito bom. É uma faixa para cima que fecha o LP original de maneira perfeita. Muito bom momento de Elton John e sua banda. Nota 10 mesmo, sem favor algum.

O disco "Honky Château" chegou nas lojas do mundo em 19 de maio de 1972. Foi sucesso imediato. O conjunto das músicas havia sido gravado em Château d'Hérouville, Hérouville, França, em janeiro daquele mesmo ano. Elton John sempre priorizou viver bem e trabalhar em lugares agradáveis também. Está certo. Os trabalhos foram produzidos por Gus Dudgeon, mas obviamente o prórpio Elton John comandou o show, embora ele pedisse que seu nome fosse retirado dos créditos na produção. Sujeito modesto e muito talentoso esse Elton John.

Pablo Aluísio.

David Bowie - Blackstar

Esse é o último CD do cantor David Bowie. Eu confesso, logo de cara, que nunca fui seu fã. Obviamente sempre respeitei sua importância para o mundo da música, porém não era realmente o tipo de som que tocava em minha lista de preferidos. Talvez minhas reservas em relação a Bowie nem tenha muito a ver com sua música, mas com sua imagem. Aqui estou escrevendo apenas como um ouvinte comum, uma pessoa normal que tem seus gostos pessoais, como qualquer outra. Gostar de um cantor, uma banda ou um artista, tem muito a ver com empatia. Os próprios produtores e executivos do meio musical sabem muito bem disso. Por essa razão também as imagens dos músicos geralmente são minuciosamente trabalhadas, justamente para criar empatia com o maior número possível de pessoas, gerando a partir daí o tão esperado sucesso.

Pois bem, eu nunca consegui criar empatia com David Bowie. Sempre achei sua figura muito excessiva, diria até estrambólica demais da conta (pelo menos em minha forma de pensar). Seu estilo completamente kitsch me afastou de sua música. Eu nunca embarquei em coisas como Ziggy Stardust - até achava original e bem criativo, porém ficava aquela sensação de algo muito parecido com o cinema trash de ficção (esse sim do qual gostava realmente). Suas roupas estranhas, seu cabelo cor de laranja, tudo conspirava para que eu não fosse atrás de Bowie como artista, nunca comprasse seus álbuns ou fosse em busca de seu trabalho para ouvir com maior atenção. É uma questão de puro gosto pessoal e não existe nada de errado nisso. Bowie realmente não era a minha praia.

Dito isso devo dizer que esse seu último álbum me agradou. Bowie, já na beira da morte, procurou se livrar de todos os excessos, de todas as perucas, roupas espaciais, androginia, saltos altos, etc. Aqui ele se mostrou da forma mais simples e honesta possível e talvez por essa razão eu tenha finalmente gostado de seu trabalho. De certa maneira isso já havia acontecido antes, em especial com o cantor Cazuza. Na beira da mortalidade, sob pressão psicológica total, esse tipo de artista parece retomar a sobriedade, tentando dar o melhor de si antes do momento final. Uma das coisas mais curiosas é que nesse último adeus, Bowie procurou pelo mais tradicional, pelo bom e velho jazz.

Um cantor que se notabilizou toda a vida por destruir velhos padrões sonoros e de comportamento acabou abraçando o conservadorismo musical em seu último momento. Como eu disse, a partir do momento que se chega na hora da verdade, muitos se transformam e no caso de Bowie essa transformação foi para melhor. Os dias de Ziggy Stardust também tinham ficado para trás definitivamente e isso fez muito bem a Bowie. Assim esse último CD me fez parar para uma reavaliação. Não vou aqui mentir dizendo que começarei a gostar de seus discos anteriores, isso não tem volta. Eles estão no passado e se depender da minha vontade ficarão lá para sempre. Porém uma coisa é certa, "Blackstar" sempre terá um espaço na minha coleção de CDs, tanto pelo fato de ser o último suspiro de Bowie como principalmente por ser um belo trabalho musical. Esse realmente vale a pena.

David Bowie - Blackstar (2015)
Blackstar
Tis a Pity She Was a Whore
Lazarus
Sue (Or in a Season of Crime)
Girl Loves Me
Dollar Days
I Can’t Give Everything Away

Pablo Aluísio.