terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Studios Highlights 1969

Logo em janeiro de 1969 Elvis iniciou as sessões que marcariam para sempre sua carreira. O local escolhido foi o American Studios, um pequeno estúdio de gravação localizado em Memphis. Seria a primeira vez que Elvis gravaria em sua cidade desde os tempos da Sun Records. Esse fato por si só já chamava a atenção dos que acompanhavam a carreira de Elvis desde o seu início, mas as novidades não paravam por aí. O grupo que acompanharia Elvis seria completamente renovado, composto por excelentes músicos contratados especialmente para atuar ao lado do cantor. Os antigos membros como Scotty Moore e DJ Fontana, além dos Jordanaires foram deixados de lado. A direção musical também mudaria de mãos, sendo comandada por Chips Moman e Felton Jarvis, que já tinha desenvolvido material interessante ao lado de Elvis anteriormente.

Qual afinal era a razão para tantas mudanças? Simples. A palavra de ordem era renovação - e urgente! Depois do sucesso alcançado por seu especial de TV no final de 1968 Elvis queria acima de tudo se renovar em estúdio, gravando material de qualidade para se tornar novamente um artista relevante. A própria escolha do American mostrava bem a intenção de Elvis. Tecnicamente o American passava longe de ser um local adequado, suas instalações não eram das melhores - alguns participantes relataram até mesmo ratos passeando pelo ambiente durante as gravações - mas no final nada disso importava. Elvis queria acima de tudo procurar a inspiração perdida há tantos anos e obviamente seria em Memphis que ele a reencontraria. Além disso o cantor não escondia que naquele momento queria certa distância dos estúdios de Nashville e da costa oeste. Nesses lugares Elvis foi obrigado a engolir algumas das músicas mais ridículas já compostas. O simples fato do American ser em Memphis já era um alívio para ele pois certamente a pressão vinda da direção da RCA seria bem menor.

A sessão no American também foi sua primeira "maratona" de gravação. Ao contrário do que ocorria antes Elvis agora entrava em estúdio para gravar uma grande quantidade de canções, sem nenhum tema específico as ligando entre si (como acontecia nas trilhas sonoras). O farto material depois seria selecionado e lançado pela direção da RCA em títulos diversos ao longo do ano. Esse sistema era muito interessante, pois dava uma grande liberdade de escolha de repertório ao artista, além de ser muito econômico pois as sessões realizadas de forma concentrada traziam menores custos. O sistema de "maratona" deu tão certo que seria fartamente utilizado por Elvis nos anos 70 e se tornaria padrão em sua carreira dai em diante.

Elvis por sua vez aproveitou muito bem esse sistema. Livre para escolher o que lhe agradava o cantor mostrou todo o seu ecletismo, passeando livremente por praticamente todos os gêneros musicais. Do Blues, passando pelo Country, indo de baladas sentimentais a temas mais incisivos, Elvis obteve sua retenção musical durante essas sessões. Sua empolgação era latente. Além disso logo se formou um clima ameno e amigável com o grupo que o acompanhava, tudo se traduzindo em excelentes canções gravadas. O resultado não tardou a aparecer. O primeiro single lançado trazendo músicas exclusivamente gravadas no American (com Suspicious Minds / You´ll Think Of Me) logo se tornou um enorme sucesso e deu a Elvis pela primeira vez em muitos anos a primeira posição entre os mais vendidos da parada Billboard! Isso sem esquecer os clássicos álbuns lançados nesse mesmo ano, todos também extremamente bem sucedidos nas paradas de sucesso.

De fato. Embora muitos creditem o renascimento da carreira de Elvis Presley ao sucesso do especial de TV realizado em 1968 a grande verdade é que esse só se tornou completo com as gravações realizadas em Memphis, no acanhado American. As sessões foram tão completas e satisfatórias que Elvis só entraria novamente em estúdio durante esse ano para gravar sua última trilha sonora, do filme Change of Habit. Depois disso Elvis nunca mais colocaria sua voz nesse tipo de projeto. Esse tipo de coisa era realmente algo para ser deixado para trás, era passado, algo que não cabia mais depois das ótimas músicas realizadas no American Studios. Depois de ouvir o resultado das sessões todos concordaram, tanto o público quanto a crítica, que finalmente Elvis havia reencontrado seu caminho. As portas para alguns dos anos mais inspirados da carreira do cantor estavam definitivamente abertas agora.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Dissecando Mr. Presley 1969

Contexto Histórico: Dez dias depois que o primeiro homem pisou na Lua, finalmente Elvis volta aos shows em Las Vegas e pisa no palco pela primeira vez desde 1961. Elvis está novamente empolgado, o NBC TV Special representou mais do que nunca uma virada decisiva em sua carreira. As sessões de janeiro no American Studio consolida a ótima fase que é coroada definitivamente com seu retorno ao local onde sempre foi rei: diante de seu público. Para lhe acompanhar Elvis forma uma excelente banda liderada pelo guitarrista James Burton e é acompanhado por uma orquestra de primeira linha. Em ótima forma física, esbanjando humor e alto astral Elvis conquista a todos numa série de apresentações com casa lotada.

Jerry Hopkins, amigo e testemunha ocular de seu retorno triunfante relembra: "Elvis caminhou preguiçosamente até o centro do palco, agarrou o microfone do pedestal, fez uma pose dos anos 50 - pernas firmes, joelhos estalando quase imperceptivelmente - e antes que pudesse começar sua primeira música, a plateia o fez parar. Logo que ele ia começar a primeira música, levou no rosto um grande rugido. Todas aquelas milhares de pessoas estavam de pé, muitas em cima das cadeiras e gritando". Elvis então dá o melhor de si e mostra que não perdera seu toque mágico com o público e mostra que ainda é o rei do rock. O show se traduz em um enorme sucesso, tanto de público como de crítica. Elvis não contêm após a apresentação. Ao encontrar o Coronel Parker ambos se abraçam, lágrimas nos olhos, celebrando o grande momento e o grande triunfo. Elvis diz ao Coronel: "Temos que colocar o pé na estrada novamente, vamos ganhar o país!". No dia seguinte toda a imprensa falada e escrita do país está comentando e celebrando a volta de Elvis às apresentações ao vivo. O Coronel anuncia que em breve Elvis irá começar a visitar as cidades americanas. No último dia da temporada Elvis dá uma grande festa em seu apartamento no International Hotel. Elvis confidencia a Joe Esposito: "Joe, estou muito feliz, há muito tempo não sentia tanto prazer assim em cantar e me apresentar!".

Assim se manifestou a revista Rolling Stone sobre os shows de Presley: "Elvis é sobrenatural. É a sua própria ressurreição". A Revista Newsweek escreveu: "Aconteceram muitos fatos na vida de Elvis, mas o mais inacreditável foi sua permanência no mundo musical, onde carreiras meteóricas quase sempre se desvanecem, tal qual estrelas cadentes". A revista "Elvis Monthly" expressou a opinião dos fãs: "Em 20 de julho de 1969, o Homem desceu na Lua, a Águia pousou e Neil Armstrong deu um pequeno passo para o homem, um gigantesco passo para a humanidade. A Atenção do mundo voltou-se para o Mar da Tranqüilidade e fez-se a História. Em 26 de julho de 1969, Elvis Presley pisou no palco do International Hotel - O Rei retornou. Pode ter sido um pequeno passo para Elvis, mas foi um gigantesco passo para seus fãs". Parte da temporada será lançada depois no disco duplo "From Memphis to Vegas / From Vegas To Memphis". Elvis ainda era o eterno Rei do Rock.

Pablo Aluísio.

Dissecando Mr Presley em 1969
Por Erick Steve


Visual: Elvis abandona de forma definitiva o laquê que o caracterizou tanto em Hollywood e usa seu cabelo ao natural, novamente bem pintado de preto. Suas primeiras roupas no palco no International Hotel também trazem tonalidades escuras, com acessórios vermelhos. Visualmente Elvis ainda não se achou, coisa que só iria se consolidar nos anos seguintes com a chegada das jumpsuits brancas que seriam sua marca registrada para sempre. Elvis no final das contas cede às pressões da moda da época e adota o cabelo liso e longo (alguém aí lembrou dos Beatles?)

Voz: Elvis está em uma fase particularmente inspirada em suas interpretações, trazendo ainda ecos de suas sessões no American Studios no começo do ano. Apesar das ótimas faixas de estúdio ainda prefiro suas perfomances ao vivo, aonde demonstra vitalidade e força de vontade, principalmente no disco Elvis In Person (que é apenas um dos Lps do From Elvis to Vegas lançado em separado). Seu estilo no American inclusive não mais se repetiu nos discos seguintes.

Banda: Perfeita. Porém um fato chama logo a atenção: eles se saem melhor em músicas mais agitadas e viris. Nas românticas, principalmente ao vivo, nota-se certa preguiça e falta de entrosamento (vide Are You Lonesome Tonight e In The Guetto do Lp In Person). Claro que estou me referindo à TCB Band. Já os músicos do American eram melhores em estúdio, como bem demonstra os LPs de Elvis gravados ao lado deles.

Melhor show de 1969: 24 de agosto. Elvis está bastante animado e afinado. Altamente profissional e bem longe de algumas apresentações em que ele visivelmente ficaria entediado nos anos que viriam. O show de estréia não me agrada muito, pois Elvis transparece nervosismo e demora a se encontrar no palco. Compreensível já que ele estava quase dez anos sem se apresentar ao vivo – sua última apresentação tinha acontecido no Hawaii em 1961.

Vida pessoal: quando Elvis foi para Las Vegas ele não se fez de tímido. Só existem dois tipos de pessoas que moram em Las Vegas mesmo: artistas frustrados e garotas de programa (as famosas escorts girls de Vegas). Elvis não demorou muito para se sentir totalmente à vontade na presença dessas "damas" e "tietes". Uma diferente a cada noite, senão enjoa. Priscilla? Coitada só ia nas estréias e nos shows de encerramento. Nesse meio tempo Elvis aprontava e ela ficava em Memphis cuidando da casa (machismo perde hein?). Infelizmente é isso mesmo, A Priscilla começa a virar alce, de tanto chifre que começa a levar.

Bolinhas: Ora, se Elvis já estava bem dependente em casa, imagine na loucura de Vegas. Pressionado e com a adrenalina a mil por causa dos shows e sua volta, Elvis se esbalta nos coquetéis químicos. O consumo aumenta mas tudo é cirurgicamente abafado para não gerar escândalos na imprensa. Porém, nessa época, as drogas ainda não começam a prejudicar seus shows e poucos percebem que Elvis está de cuca alta na maioria dos concertos.

Melhor single: Suspicious Minds – Pelo sucesso e pelo valor artístico. Nota 10.

Pior single: complicado escolher, pois Elvis só lançou material relevante. Na dúvida fico com His Hand In Mine, por ser apenas reprise. Mas isso não quer dizer que a música é ruim, na verdade é excelente, só que é velha.

Melhor música: In The Guetto – por seu valor social e político.

Pior Música: Charro – que porcaria é essa?! Fantasma do passado negro de Elvis no cinema!

Melhor disco: Sem dúvida, From Memphis to Vegas / From Vegas To Memphis, principalmente por causa da parte "Elvis in Person" do disco.

Pior disco: Não tem. Elvis só lançou dois LPs de ótima qualidade. Como não saiu nenhuma trilha sonora, não temos como dar o troféu Abacaxi do Ano.

Saldo final: Altamente positivo. Elvis recomeçava a andar, depois de ficar uma década estagnado e morto artisticamente em Hollywood.

Dissecando Mr Presley em 1969
Por Pablo Aluísio


Visual: Elvis ficou na dúvida quando resolveu voltar a se apresentar. Claro que não dava nem para vestir suas roupas dos anos 50, com ternos folgados e nem muito menos usar o smoking típico da turma de Sinatra. Se fizesse isso seria prontamente satirizado pelo Old Blue Eyes. Afinal Las Vegas era o lar desses cantores, Elvis estava pisando em terreno desconhecido e tinha que se precaver. Então ele se lembrou de sua velha roupa Gold Leaf e mandou confeccionar algo novo, próprio, com muito estilo e que lhe desse a liberdade de suas vestimentas de lutas marciais. Nasceu assim a primeira jumpsuit, meio sem identidade própria sem dúvida, um pouco diferente e que acabou não se fixando, mas que serviu para inspirar todas as que lhe sucederam. Pelo menos a idéia básica estava ali.

Voz: encorpada e altamente profissional, sem dúvida. Principalmente nas faixas dos discos gravados no American notamos uma maturidade e um cuidado todo especial por parte de Elvis, demonstrando que ele tinha plena consciência que aquelas músicas seriam lembradas para a posteridade como um de seus momentos mais marcantes. Talento e profissionalismo, aliado a um material de qualidade riquíssimo só poderia dar no que deu: no renascimento de Elvis como artista de relevância e importância dentro do contexto musical da época. Logo a nova geração iria tomar consciência do talento do cantor, que vinha sistematicamente sendo sufocada pela mediocridade imperante das trilhas sonoras pós 65.

Banda: O grupo que acompanhou Elvis no American era mais bem estruturado, tinha músicos mais profissionais, uma ótima bagagem teórica e leva o prêmio como melhor banda. Claro que todos temos a tendência de gostar da TCB Band, até mesmo porque eles nos são mais próximos, mas não há como evitar e negar se formos compará-los em termos de talento e segurança na execução das faixas. Até mesmo Elvis tinha essa percepção, pois resolveu formar uma banda com mais pulso para tocar com ele ao vivo, o que não significa em nenhum momento que eles eram mais talentosos ou profissionais. A coisa se resume assim: A TCB Band leva o prêmio de banda com mais pegada e coração, mas os caras do American levam o prêmio por melhor técnica e profissionalismo.

Melhor Show de 1969: Pode nem ser o melhor tecnicamente falando, mas é o mais importante do ponto de vista histórico dentro da carreira de Elvis Presley. Estou claro me referindo ao show de abertura de sua temporada em Vegas. É uma questão até mesmo clara que seu nervosismo é facilmente percebido em vários momentos, mas acho que isso não é demérito e muito pelo contrário, a impressão que se dá é a de que Elvis se revela muito mais como pessoa do que como artista e isso engrandece todo o espetáculo. Não há muito o que discutir, mas sempre frisando que minha escolha não é embasada em critérios estritamente técnicos, mas sim em critérios de relevância e importância histórica para todo o contexto da carreira de Elvis.

Vida Pessoal: a infidelidade de Elvis era algo notório não só em Vegas, mas em Hollywood também. Claro que em Vegas Elvis encontrou muito mais garotas dispostas a tudo, vamos assim dizer, mas não acho que aumentou significativamente o número de mulheres em sua vida. Só mudou o cenário, para dizer a verdade. A pior parte para Priscilla nem era muito o fato de Elvis a trair, mas sim a de a trair ostensivamente, levando algumas dessas mulheres para jantar com ele ou assistir shows de outros artistas. Claro que agindo assim Elvis estava humilhando publicamente sua esposa e dando um show para quem quisesse ver. Elvis provavelmente achava que não haveria pecado na cidade do pecado. Quem pode afirmar o contrário, não é mesmo?

Bolinhas: No começo de sua vida na estrada o consumo de drogas estava de certa forma sob controle. Elvis ainda não estava utilizando drogas injetáveis que causam uma dependência brutal no organismo como aconteceu a partir de 1973. Mas as pílulas estavam em toda parte e Elvis as utilizava para praticamente tudo: se animar para a apresentação, se acalmar nos finais dos shows e finalmente mais algumas para que pudesse dormir de forma tranqüila. Também as utilizava para perder apetite e peso e se mostrar em boa forma física. E realmente olhando as fotos dessas suas apresentações notamos que ele estava em ótima forma, bronzeado e com visual acima da média. Pena que o uso o levou a dependência rapidamente e a partir do ano seguinte ele se veria envolvido numa teia de vicio bem acentuado.

Melhor Single: Suspicious Minds – Não há muito o que comentar, a escolha chega a ser óbvia.

Pior Single: Clean Up Your Own Back Yard – Não escolheria His Hand In Mine porque essa música não pode ser considerada de 1969. De todos os singles verdadeiramente lançados em 69, esse que traz essa música do filme The Trouble With Girls é o menos relevante mesmo, não há muito o que comentar. Mas quero deixar claro que não estou condenando essa canção, na verdade até mesmo gosto dela, apenas ela perde em termos comparativos com as demais.

Melhor Musica: Novamente Suspicious Minds leva o prêmio. É a primeira canção de Elvis a liderar as paradas desde 1962, precisa dizer mais alguma coisa?

Pior Música: Charro realmente é péssima, mas o que dizer das trilhas de seus últimos filmes? Elas levam o prêmio em conjunto.

Melhor Disco: Um ano com apenas dois discos e os dois ótimos, como bem frisou o Lord Erick, concordo, porém fico com From Elvis in Memphis por trazer as músicas mais importantes das sessões do American. O From Vegas to Memphis, apesar de monumental, traz uma certa identidade de Ter sido lançado para aproveitar o que ficou de fora do primeiro disco. Restos de ouro, entenda-se bem.

Pior disco: Não tem mesmo. Mas como são apenas dois discos, um necessariamente vai ser o melhor e o outro o pior, Não é mesmo? Questão de lógica, pensando assim infelizmente o título vai para o From Vegas to Memphis.

Saldo Final: Não há muito o que acrescentar. Foi o melhor ano da carreira de Elvis desde 1960 quando ele voltou para retomar sua carreira artística. Aliás ele fez em 1969 mais do que em todos os anos anteriores dos anos 60 em termos de material de qualidade.

Pablo Aluísio e Erick Steve.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis (1969)

As duas melhores coisas que Elvis poderia ter feito por sua carreira eram: a) voltar a gravar músicas de qualidade e b) retornar aos palcos. Em 1969 para o bem de todos os fãs ele fez exatamente isso. O resultado de tudo pode ser encontrado em um álbum duplo que o cantor lançou no final desse mesmo ano. Denominado inteligentemente de From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis o disco era o trabalho definitivo que colocaria Elvis Presley de volta ao Olimpo dos grandes astros dos anos 1960. Como não poderia deixar de ser, nele o fã encontraria pela primeira vez na discografia de Elvis um LP inteiramente gravado ao vivo pelo cantor em Las Vegas (a cidade que seu empresário escolheu para sua volta) e um segundo disco com mais uma rodada de canções inéditas retiradas das ótimas sessões do American Studios. O disco ao vivo dava uma boa idéia de como eram os shows ao vivo do cantor em sua volta aos palcos na sua primeira temporada em Las Vegas. Elvis aparecia esbanjando um grande talento vocal, animação e boa vontade nas apresentações, tudo aliado a um fantástico repertório que louvava não só seu passado de glórias nos anos 50 como também seu material mais recente, representado aqui pelo seu grande hit do momento: Suspicious Minds. Acompanhado de uma nova banda, diferente de tudo o que os fãs do cantor estavam acostumados a ouvir até aquele momento, Elvis vinha para provar que o título de Rei do Rock ainda lhe pertencia e era mais do que merecido. Os fãs mais tradicionais certamente levaram um susto ao ouvir as primeiras notas de canções como I Got a Woman, velha música de seu primeiro disco, completamente atualizada e remodelada. O nível dos arranjos também eram bem superiores ao que se ouviu no disco do NBC Special, pois se lá a orquestra soava um pouco antiquada aqui tudo se encontrava no lugar e no timing perfeito. O resultado foi tão bom que a RCA Victor depois o relançaria, apenas alguns meses à frente, o denominando de Elvis In Person at The International Hotel.

O segundo LP vinha com uma excelente seleção musical retirada diretamente das sessões do American Studios. Pela primeira vez os fãs ouviriam belas baladas como Inherit The Wind e This Is The Story, extremamente bem arranjadas e gravadas. Mas não era só, como no disco anterior, From Elvis in Memphis, o cantor passearia novamente por diversos estilos e gêneros musicais. Um exemplo clássico era o blues Stranger In My Own Home Town e para quem gostava de um sabor mais country havia muitas opções como a sempre lembrada From A Jack to a King (uma das preferidas de seu esposa Priscilla Presley). Até o lado B do vitorioso single Suspicious Minds, You´ll Think Of Me, foi incluído, para não deixar mais margens de dúvidas sobre o alto nível das músicas presentes no disco. Esse segundo LP também seria lançado separadamente depois com o título de Back In Memphis. O álbum foi lançado no final do ano e pegou a febre das vendas de final de ano, conseguindo obter mais êxito nas paradas que seu antecessor. Na realidade esse trabalho marca a despedida de Elvis aos anos 1960. Uma década que começou muito bem para o cantor, com ele colecionando um sucesso atrás do outro após seu retorno do exército mas que nitidamente caiu de qualidade com o passar dos anos. Os chamados anos de Hollywood trouxeram o desgaste e a saturação que só foram recuperados plenamente com seu especial de TV na NBC em 1968 e que só se completaram definitivamente com o seu retorno aos palcos e aos estúdios em 1969. Uma nova década nascia e nela Elvis iria aprofundar ainda mais as mudanças que havia promovido em sua carreira, tanto para o bem como para o mal. Mas isso é uma outra história...

DISCO I "FROM MEMPHIS TO VEGAS" (Elvis in Person at International Hotel):

BLUE SUEDE SHOES (Carl Perkins) - Nada melhor que abrir o show com esta música símbolo do Rock mundial. Quando a RCA comprou o passe de Elvis da Sun Records, um executivo da gravadora perguntou a Sam Phillips, o dono da Sun, se não teria sido melhor contratar Carl Perkins ao invés de Elvis, pois Perkins estava estourando em nível nacional com "Blue Suede Shoes". Sam Phillips respondeu: "vocês não contrataram o cara errado porque Elvis não está ficando careca, não possui filhos e ao contrário de Perkins é boa pinta". Brincadeiras à parte, Sam tinha razão. O destino iria pregar uma peça em Perkins, pois logo após seu sucesso inicial, Carl sofreu um sério acidente que o tirou de circulação por um longo tempo e que acabou enterrando sua carreira de vez. Apesar de tudo isso, Carl Perkins deu a volta por cima e hoje é reconhecido como um dos pais do verdadeiro Rock 'n' Roll.

JOHNNY B. GOODE (Chuck Berry) - O Riff mais conhecido da história do Rock. Aqui, James Burton dá o tom da nova era na carreira de Elvis Presley. Um dos mais adorados e conhecidos hinos da nação rocker ganha sua versão na voz do Rei. Elvis, por sua vez, não deixa por menos e protagoniza uma das melhores versões para a histórica canção de Chuck Berry. O próprio Berry já dizia: "Tudo o que eu preciso para fazer uma música de Rock é um cara, uma garota e um cadillac". Definitivo, nas palavras do mais Outsider de todos os grandes nomes do surgimento do Rock.

ALL SHOOK UP (Blackwell / Presley) - Música título de um dos singles mais vendidos da história da música pop. Elvis Presley a lançou nos anos 50 e o compacto subiu como um foguete para o primeiro lugar entre os mais vendidos. O Rei estava no auge e esta canção se tornou um verdadeiro hino para a juventude norte-americana. Depois que se tornou um sucesso estrondoso ela foi gravada por inúmeros artistas ao longo do tempo. A mais recente versão foi lançada em 1999 no CD "Run Devil Run" de Paul McCartney. O Ex-Beatle afirma no encarte do CD que esta sempre foi uma de suas preferidas, sendo que ela chegou ao primeiro lugar na Inglaterra no dia do décimo quinto aniversário do ex-Fab Four. Uma justa homenagem à uma canção eterna.

ARE YOU LONESOME TONIGHT? (Turk / Handman) - Esta canção foi lançado por Elvis no início dos anos 60, quando ele acabava de voltar do exército. É uma música sui generis na carreira do cantor, inclusive com um trecho em que Elvis declama uma declaração de amor à mulher amada. O Single com "I Gotta Know" no lado B se tornou um estrondoso sucesso quando foi lançado em novembro de 1960. Elvis assim fechava seu ano como começou: Liderando todas as paradas mundiais.

HOUND DOG (Leiber / Stoller) - Outra que foi lançada como single por Elvis em 1956 e que se tornou um de seus maiores sucessos. O single contava com "Don't Be Cruel" no lado B e Elvis ganhou cinco discos de ouro por apenas este compacto. Daqui há muitos anos quando Elvis for lembrado pelas gerações futuras, certamente esta será uma das músicas que irão servir de exemplo do som de Presley.

I CAN'T STOP LOVING YOU (Gibson) - Depois do revival representado pelas canções do nascimento da carreira do cantor, Elvis apresenta uma nova versão para uma conhecida canção da terra do tio Sam. Sem sombra de dúvida, esta é uma das preferidas de Presley, estando presente em muitos dos discos ao vivo lançado por Pelvis durante os anos 70. O tempo de "I Can't Stop Loving You" foi acelerado para dar um maior ritmo na versão ao vivo. Elvis Presley a gravou em estúdio, mas esta gravação nunca foi lançada durante sua carreira.

MEDLEY: MISTERY TRAIN (Philips / Parker) / TIGER MAN (Lewis / Burns) - Ótimo Medley reunindo "Mystery Train", canção da época da Sun Records e Tiger Man, que se tornou conhecida após Elvis a apresentar no NBC TV Special em 1968. Tudo foi perfeitamente arranjado por Felton Jarvis e Elvis, com um maravilhoso balanço e equilíbrio entre cordas e metais. Este mesmo medley foi utilizado por Elvis no começo do filme "That's The Way It Is" (Elvis é assim, 1970). A coreografia e os efeitos de luzes do cinema completaram o magnifico show visual e sonoro desta joia do Rock.

WORDS (B.Gibb / R.Gibb / M. Gibb) - Ótimo momento do disco. Aqui se percebe toda a versatilidade de Elvis, pois esta é uma música do conjunto Bee Gees, muito popular nos anos 70, principalmente pela trilha sonora do filme "Saturday Night Fever" (os embalos de sábado à noite, 1977). Este grupo se tornou um dos símbolos dos anos em que a discoteque dominava o mundo musical americano e mundial.

IN THE GUETTO (Davis) - Canção do disco "From Elvis in Memphis". Aqui ela é apresentada so vivo e demonstra o grande talento de Elvis. A letra de "In The Guetto" é considerada uma das melhores de sua carreira. Traz um conteúdo bastante político que, de certa forma representa o conturbado período em que o mundo passava no momento em que ela foi lançada. O single "In the Guetto" com "Any Day Now" chegou às lojas em Abril de 1969.

SUSPICIOUS MINDS (Mark James) - O grande sucesso de Elvis no período em que este disco foi lançado. Quando este show foi realizado (agosto de 1969), o single "Suspicious Minds" ocupava a primeira posição no hit parade mundial. A canção em si é muito bem arranjada e faz parte das maravilhosas sessões de Elvis em Memphis no American Studios. Elvis aqui conta com ótimo material composto por Mark James, que iria se tornar um de seus principais compositores nos anos 70 ao lado de Dennis Linde, Tony Joe White, Joe South, Jerry Reed e Mac Davis.

CAN'T HELP FALLING IN LOVE (Peretti / Creatore / Weiss) - Música do álbum mais vendido da carreira de Elvis Presley: a trilha sonora do Filme "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961). Elvis iria utilizar esta música como desfecho de todos os seus shows a partir daí. Logo após sua saída do palco Al Dvorin anunciava: "Elvis has left the Building. Thank You and Good Night!" (Elvis já deixou o local, obrigado a todos e boa noite!). Esta acabou se tornando uma das frases mais conhecidas da história do Show business americano.

Elvis Presley - From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis (1969): (ao vivo): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Chip Young (guitarra) / Bob Lanning (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin (piano) / The Imperials (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / John Wilkinson (guitarra) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / David Briggs (piano) / Charlie McCoy (orgão e harmônica) / Bobby Thompson (banjo) / Harold Bradley (guitarra) / Farrel Morris (percussão) / Bobby Morris e sua Orquestra / Gravado no International Hotel, Las Vegas

DISCO II "FROM VEGAS TO MEMPHIS" (Back in Memphis):

INHERIT THE WIND
(Rabbit) - Canção que abre o segundo disco denominado "From Vegas to Memphis". Esta segunda parte traz músicas gravadas por Elvis em estúdio em Memphis no American Studios. O Coronel Tom Parker, empresário de Elvis, resolveu em 1970 relançar este álbum duplo de Presley em dois LPs separados. Assim o disco "Back in Memphis" nada mais é que o segundo disco do álbum duplo "From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis". A estratégia do coronel acabou dando certo, levando Elvis a receber mais um disco de ouro pelo LP "Elvis in Person at International Hotel".

THIS IS THE STORY (Arnold / Morrow / Martin) - Uma música bem arranjada e executada, contando com a voz de Elvis numa de suas melhores fases. Precisa dizer mais? Elvis Presley ficou particularmente orgulhoso por estas faixas a tocando para amigos e parentes. Finalmente depois de vários anos gravando o que lhe era imposto pelos estúdios de cinema, Elvis se sentia novamente livre para cantar as músicas de que gostava. Isto o levou a ter novamente orgulho por sua carreira.

STRANGER IN MY OWN HOME TOWN (Mayfield) - Mais um blues dentro da carreira de Elvis. O cantor apreciava particularmente R&B, ou seja, Rinthim and Blues, mas sempre estava à procura de um bom material para gravar blues. Aqui ele encontra um de ótimo nível, o que resulta num dos melhores momentos do disco. Na caixa "Walk a mile in my shoes" há uma versão envenenada desta música, bem melhor que a oficial.

A LITTLE BIT OF GREEN (Arnold / Morrow / Martin) - Canção que foi sucesso na voz do cantor Eddy Arnold. Elvis apreciava muito o estilo de Arnold, chegando inclusive a gravar duas vezes seguidas uma música de Eddy nos anos sessenta: "You Don't Know Me". A primeira versão foi completada para o filme "Clambake" (o barco do amor, 1967), mas Elvis não gostou e resolveu gravá-la novamente.

AND THE GRASS WON'T PAY NO MIND (Neil Diamond) - Sucesso de Neil Diamond. Elvis iria gravar outras canções de Diamond como "Sweet Caroline". Neil Diamond foi um típico cantor romântico dos anos setenta e não conseguiu ficar muito tempo entre os mais do Hit Parade mundial. Sua carreira entrou em decadência no início dos anos oitenta, mas mesmo assim ele gravou vários outros discos.

DO YOU KNOW WHO I AM? (Russel) - Uma magnifica interpretação de Elvis Presley. Mais uma vez fica evidenciado a perfeita harmonia entre o cantor e sua equipe vocal. Elvis a gravou diversas vezes para se chegar a um resultado perfeito. Nestes casos Elvis usava um modo original de gravar. Ele mandava apagar as luzes do estúdio para sentir maior inspiração. Ouvindo a canção chega-se a conclusão que a tática deu certo. Esta sem dúvida é uma das melhores canções que Elvis gravou em Memphis em 1969. Um primor.

FROM A JACK TO A KING (Miller) - Era uma das preferidas de Priscilla Presley, a esposa de Elvis. Numa versão pirata pode-se ouvir Elvis e seu Produtor Felton Jarvis discutindo o melhor modo de gravá-la. É um grande registro do que se passava dentro do estúdio, com Presley cheio de ideias para transformar o demo numa grande música.

THE FAIR'S MOVING ON (Fletcher / Flett) - Lado B de um single lançado em junho de 1969 com "Clean Up Your Own Back Yard", esta tema do filme "The Trouble With girls" (lindas encrencas, as garotas, 1969). Em 1969 Elvis terminava seu contrato de sete anos com a MGM. Estava cansado de Hollywood, de seus roteiros de baixo nível e do sistema industrial dos executivos da indústria do cinema. Queria sair novamente para a estrada e entrar em contato com seus fãs. Os seus três últimos filmes feito ao velho estilo foram: "Charro" (charro, 1969), um western com o cantor de barba! ; "The Trouble with Girls" (lindas encrencas, as garotas, 1969) o melhor dos três com a presença de Vincent Price no elenco e "Change of Habit" (ele e as três noviças, 1969), com Mary Tyler Moore, no qual o cantor interpreta um médico numa clínica pobre de um guetto de Nova York. Nesta época Elvis cunhou uma frase que resumia seus últimos filmes: "Pior que assistir um filme ruim é estar em um".

YOU'LL THINK OF ME (Shuman) - Lado B do single "Suspicious Minds". Elvis utilizou o que de melhor havia em estúdio para gravar as músicas escolhidas por ele, bem ao contrário das trilhas de filmes em que o material era determinado pelos estúdios de cinema. Elvis sabia da má qualidade destas músicas e se sentia muito mal ao gravá-las. Finalmente em 1969 ele deu um basta a esta situação e decidiu que ninguém mais iria interferir no seu trabalho. Isto representou um saldo de qualidade imenso na carreira do Rei.

WITHOUT LOVE (Small) - Nos tempos da Sun Records, o produtor de Elvis, Sam Phillips, sugeriu que o cantor gravasse "Without Love". Elvis tentou, tentou, mas não conseguiu gravá-la. Ao longo dos anos esta música acabou virando um tabu para o cantor. Scotty Moore relembra: "Elvis sempre tentava gravar esta canção, mas nunca conseguia". Finalmente em 1969, no American Studios em Memphis, Elvis Presley conseguiu gravar sua versão de "Without Love" após 16 takes!. Esta foi uma vitória pessoal e particular do Rei. É um desfecho magistral para um trabalho fantástico.

Elvis Presley - From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis (1969): (American Studios): Elvis Presley (voz, violão, baixo e piano) / Reggie Young (guitarra) / Tommy Cogbill (baixo) / Mike Leech (baixo) / Gene Chrisman (bateria) / Bobby Wood (piano) / Ronnie Milsap (piano) / Bobby Emons (orgão) / John Hughey (steel guitar) / Ed Kollis (harmonica) / Sonja Montgomery, Mary Green, Mary Holladay, Donna Thatcher, Susan Pilikington & Sandy Bolsey (vocais) / Charlie Hodge (vocais) / The Memphis Horns (metais) / The Memphis Strings (cordas) / Orquestra Sinfônica Municipal de Memphis / Felton Jarvis (produção) / Chips Moman (produção) / Data de gravação: 13 a 22 de janeiro e 17 a 22 de fevereiro de 1969 / Gravado no American Studios, Memphis / Data de lançamento: Novembro de 1969 / Melhor posição nas charts: # 12 (Billboard) e # 3 (UK)

Pablo Aluísio - Outubro de 2001

Elvis Presley - From Elvis in Memphis (1969)

Este disco representou muito na carreira de Elvis Presley. Depois de vários anos desperdiçando seu talento em trilhas sonoras, o cantor voltava a gravar músicas de qualidade. A fórmula "trilha / filme" já havia se esgotado pois o último grande êxito de Elvis tinha sido o filme "Viva Las Vegas" (amor a toda velocidade, 1964). De 1965 em diante Elvis iria lançar trilhas cada vez piores, como "Spinout" (minhas três noivas, 1966), "Double Trouble" (canções e confusões, 1967), "Clambake" (o barco do amor, 1967) e "Speedway" (o bacana do volante, 1968), que seriam grandes fracassos de vendas. Era hora de mudar para salvar a carreira do Rei do Rock. Em 1968 o cantor iria estrelar um especial de TV pela NBC que se tornaria um grande sucesso e que recuperaria o brilho de Presley. A Partir daí Elvis voltaria aos shows ao vivo e às paradas de sucesso, conquistando novamente público e crítica. A Revista Rolling Stone resumiu tudo no artigo referente ao lançamento deste disco: "From Elvis in Memphis é mais que um LP. É a prova de que quem começou tudo isso está melhor do que nunca. Um verdadeiro astro de Rock'n'Roll. Elvis domina um repertório que derrubaria dúzias de Mick Jaggers. Sem esforço algum, ele vai da ternura à fúria, da ironia à paixão, tudo em menos de um segundo. Ele só precisava de um disco para provar que ainda é o melhor de todos e este disco chama-se From Elvis in Memphis".

WEARIN' THAT LOVED ON LOOK (Dallas Frazier/Al Owens) - Elvis abre o LP com esta ótima canção. Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" (Elvis and Me, Ed.Rocco, 1985) relembra sobre estas sessões de gravação: "Pela primeira vez em 14 anos ele fora persuadido a gravar em Memphis no American Studios(...) Os músicos do estúdio eram jovens e Elvis estabeleceu um grande contato com eles. Mais importante ainda: Elvis fazia uma música sensacional com eles". Essa canção inicial já trazia uma instrumentalização muito bem elaborada, muito distante dos arranjos feitos às pressas pelas sofríveis trilhas sonoras pós 65. Era o prenúncio do que estava por vir.

ONLY THE STRONG SURVIVE (Gamble/Huff/Butler) - Grande sucesso do cantor e compositor Jerry Butler. O Estúdio escolhido para Elvis gravar este disco foi o American Studios em Memphis. Era um estúdio de gravação bem rústico localizado nos arredores de Memphis onde grandes nomes como Dione Warwick, Roy Hamilton, Neil Diamond, Aretha Franklin e Wilson Picket gravaram grandes sucessos. Era para muitos a "Volta ao lar" de Elvis.

I'LL HOLD YOUR IN MY HEART (Arnold/Horton/Dilbeck) - Um bom exemplo da dedicação de Elvis nas músicas deste disco. Aqui o cantor participa não só dos arranjos como também toca Piano. É uma bela canção bem ao estilo Blues. Mais um grande momento do disco.

LONG BLACK LIMOUSINE (George/Stavall) - Sucesso de Jody Miller. Foi a primeira música gravada por Elvis durante as sessões no American Studios. As músicas foram gravadas entre os dias 13 e 22 de Janeiro e 17 a 22 de Fevereiro de 1969. A intenção era gravar mais de trinta músicas em uma única vez, porém Elvis pegou uma infecção viral que o afastou dos estúdios durante um mês, voltando logo após para mais uma rodada de gravações. Detalhe: Elvis nunca mais gravaria com alguns desses músicos, pois ele iria montar o seu próprio grupo, a famosa TCB Band (das iniciais de "Taking Care of Business" ou em português "Tomando conta dos negócios", o lema de Elvis). A TCB iria acompanhá-lo até seus últimos shows e discos.

IT KEEPS RIGHT A HURTIN (Tilloston) - Lançada originalmente em 1962 pelo cantor e compositor Johnny Tilloston. O maior especialista sobre a história de Elvis, Peter Guralnick, escreveu sobre estas sessões: "Elvis Presley será lembrado pela posteridade por suas músicas na Sun Records e pelas maravilhosas gravações no American Studios em Memphis". Sem dúvida, o salto de qualidade foi enorme e mostrou para Elvis que ele deveria deixar Hollywood para trás. Esses caras de cinema não entendiam nada de Rock 'n' Roll.

I'M MOVIN ON (Hank Snow) - Música escrita pelo lendário Hank Snow e grande sucesso em 1950. Elvis que possuía uma incrível intuição artística sabia que estas canções iriam se transformar em grandes sucessos. Ele já tinha perdido a paciência de gravar tantas musiquinhas ruins das trilhas sonoras pós-65 e sabia que esta era a chance que ele precisava para voltar ao topo. Por essa razão deu o melhor de si nas sessões, trocando ideias com seus novos produtores Felton Jarvis e Chips Moman. Elvis sentiu durante muito tempo a falta de um bom produtor, pois passou os anos 60 produzindo praticamente sozinho seus discos. Jarvis se tornou um bom parceiro de estúdio para o cantor, tanto que dele não mais se separou. O produtor continuou trabalhando com Elvis até seu último disco, "Moody Blue".

POWER OF MY LOVE (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - A Melhor música do disco. Um dos músicos relembra sobre estas sessões: "O famoso cantor negro Roy Hamilton também gravava no American. Cantava nos clubes à noite e vinha de dia aos estúdios. Elvis gravava à noite, mas costumava chegar cedo aos estúdios para ouvir Roy" (Elvis adorava o sentimento e o estilo musical dos negros). E quando recebeu o Demo de "Angelica" deu para Roy gravar. A Música se tornou um grande sucesso mas infelizmente Roy Hamilton faleceu logo depois.

GENTLE ON MY MIND
(John Hartford) - Sucesso na voz de Glen Campbell. 1969 foi também o ano que Elvis voltou a fazer shows ao vivo em Las Vegas e nas demais cidades dos Estados Unidos. Assim se manifestou a revista Rolling Stone sobre os shows de Presley: "Elvis é sobrenatural. É a sua própria ressurreição". A Revista Newsweek escreveu: "Aconteceram muitos fatos na vida de Elvis, mas o mais inacreditável foi sua permanência no mundo musical, onde carreiras meteóricas quase sempre se desvanecem, tal qual estrelas cadentes". A revista "Elvis Monthly" expressou a opinião dos fãs: "Em 20 de julho de 1969, o Homem desceu na Lua, a Águia pousou e Neil Armstrong deu um pequeno passo para o homem, um gigantesco passo para a humanidade. A Atenção do mundo voltou-se para o Mar da Tranquilidade e fez-se a História. Em 26 de julho de 1969, Elvis Presley pisou no palco do International Hotel - O Rei retornou. Pode ter sido um pequeno passo para Elvis, mas foi um gigantesco passo para seus fãs".

AFTER LOVING YOU (Miller/Lantz) - Este disco se tornou um grande sucesso levando Elvis a ganhar mais um disco de Ouro. O Disco foi lançado em novembro de 1969. Foram lançados ainda vários singles com músicas destas sessões que levaram o Rei de novo ao topo da parada musical. O disco foi o primeiro de Elvis em muitos anos a vender mais de um milhão de cópias. O Rei deve ter se sentido aliviado, sem dúvida.

TRUE LOVE TRAVELLS ON A GRAVEL ROAD (Frazier/Owens) - Sucesso de Duanne Dee. Elvis e seu produtor Felton Jarvis mudaram os arranjos originais de algumas destas músicas para melhorar e adaptar as mesmas ao estilo de Presley. No final tudo saiu bem e Elvis nos legou mais alguns grandes momentos como este. Curiosidade: Depois de anos sem costeletas, Elvis resolveu voltar ao seu antigo visual, com os cabelos mais longos e as próprias costeletas maiores do que nunca! E muito bem trabalhadas também, basta dar uma conferida nestas fotos. O "Elvis Style" também estava de volta!

ANY DAY NOW (Hillard/Bacharad) - Sucesso do maestro Burt Bacharach que se tornou um grande sucesso na voz do cantor Chuck Jackson em 1962. No final dos anos 60 ainda foi gravada por Percy Sladge. Elvis escolheu o melhor para gravar durante estas sessões. Aqui se nota a marcante presença dos metais durante todo o arranjo. Foi lançada como lado B do single "In the Guetto" em Abril de 1969.

IN THE GUETTO (Mac Davis) - Em meio ao furacão que foi os anos sessenta Elvis lançaria esta música que trazia um conteúdo político em sua letra. A Guerra do Vietnã, a revolução sexual e a luta dos negros contra o preconceito racial (luta pelos direitos civis) eram alguns dos fatos que estavam na ordem do dia. Elvis Presley não poderia ficar à margem de tudo isso. Em uma entrevista coletiva o repórter perguntou a Elvis: "Está tentando mudar sua imagem com temas tipo "In The Guetto"? Elvis respondeu: "Não. 'Guetto' é uma grande música e simplesmente não poderia dispensá-la após tê-la escutado". "In The Guetto" foi lançada em abril de 69 como single alcançando o terceiro lugar das paradas dos EEUU e o segundo lugar no Reino Unido.

Elvis Presley - From Elvis in Memphis (1969): Elvis Presley (voz, piano e violão) / Reggie Young (guitarra) / Tommy Cogbill (baixo) / Mike Leech (baixo) / Gene Chrisman (bateria) / Bobby Wood (piano) / Ronnie Milsap (piano) / Bobby Emons (orgão) / John Hughey (steel guitar) / Ed Kollis (harmônica) / Sonja Montgomery, Mary Green, Mary Holladay, Donna Thatcher, Susan Pilikington & Sandy Bolsey (vocais) / Charlie Hodge (vocais) / The Memphis Horns (metais) / The Memphis Strings (cordas) / Orquestra Sinfônica Municipal de Memphis / Produzido por Felton Jarvis, Chips Moman e Elvis Presley / Data de gravação: 13 a 22 de janeiro e 17 a 22 de fevereiro de 1969 / Gravado no American Studios, Memphis / Data de lançamento: Novembro de 1969 / Melhor posição nas charts: #13 (EUA) e #1 (UK).

PABLO ALUÍSIO - Março de 2000 / revisado e atualizado em novembro de 2001.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Studios Highlights 1968

O ano de 1968 na carreira de Elvis foi dominado pelo seu especial de TV no canal NBC. Desde 1960 Elvis não aparecia na televisão e desde 1961 não realizava concertos ao vivo. Era tempo em demasia sem contato nenhum com o público em geral. A principal razão para ficar tanto tempo afastado foi o extenso número de obrigações contratuais que tinha assinado com os estúdios de cinema. Com a agenda cheia, Elvis pouco produziu visando apenas o lado musical de sua carreira. Praticamente todas as canções desse período eram direcionadas para os filmes, sobrando pouco (ou quase) nada para quem admirava apenas o cantor Elvis.

Embora 1968 seja o começo do fim, onde Elvis finalmente via uma luz no fim do túnel de suas obrigações no cinema, ele ainda teria que desperdiçar uma grande parte de seu tempo para honrar todos os compromissos assumidos. Para se ter uma ideia, só nesse ano Elvis gravou 4 trilhas sonoras! Fora as intensas sessões de gravação dedicadas ao especial de TV. Com isso ele mal entrou em estúdio para gravar material convencional. Se em 1966 e 1967 Elvis ainda produziu um número razoável de canções fora do circuito de Hollywood, em 1968 não sobrou quase nenhum tempo para a produção de material desse estilo.

Apenas em janeiro desse ano Elvis entrou em estúdio para gravar material convencional. Foi nessa sessão que Elvis gravou as boas versões de Too Much Monkey Business, Goin' Home e U.S. Male. Mas fora isso nada mais foi produzido por Elvis que fugisse ao esquema dos estúdios de cinema e TV (o especial da NBC incluído). Assim o verdadeiro renascimento da carreira musical de Elvis só seria definitivamente consolidada nas sessões do American Studios no ano seguinte. Até lá Elvis ainda se veria forçado e limitado por contratos com os grandes estúdios.

Em 1968 a RCA também deu adeus aos álbuns comerciais das trilhas sonoras de Elvis. O fracasso de vendas das trilhas anteriores de Spinout, Clambake e Easy Come Easy Go já tinham acendido a luz vermelha na gravadora do cantor. Com o grande fracasso de Speedway em 1968 a RCA finalmente desistiu desses discos. Não haveria mais a edição desse tipo de material, embora Elvis ainda continuasse a gravar músicas para trilhas a RCA resolveu que as lançariam dali em diante de forma esporádica, em singles ou em coletâneas, não mais investindo em títulos próprios e específicos. O prejuízo amargado pela gravadora jogou definitivamente uma pá de cal nesse tipo de álbum.

O grande destaque em relação a Elvis nesse ano de 1968 foi realmente o especial de TV. Gravado em meados do ano o NBC TV Special passou por uma série de problemas antes de ver a luz do dia. Os executivos da TV americana achavam que Elvis estava muito em baixa e por isso sugeriram que ele dividisse os holofotes com outra estrela (sugeriram ao Coronel que o especial fosse apresentado por Jerry Lewis). O Coronel recusou mas também deu sua cota de sugestões infelizes aos produtores, ao indicar um especial de natal com Elvis vestido de Papai Noel. Graças a Deus dessa vez não deram ouvidos ao que o Coronel Parker dizia. Enfim, foi graças a Steve Binder, o produtor do especial, que procurou investir apenas na imagem de ídolo da música do astro, que Elvis foi salvo de ver sua carreira afundar de vez. Era a salvação, o renascimento do Rei do Rock. Dali para frente a carreira de Elvis iria gradualmente entrar nos eixos. O ano de 1968 e o especial de TV iriam influenciar dali em diante todo o restante da carreira de Elvis. Definitivamente 1968 foi o ano que não acabou, inclusive na trajetória de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Live a Little, Love a Little (1968)

Live a Little, Love a Little foi o último filme de Elvis Presley a estrear nas telas de cinema no ano de 1968. Produzido novamente pela MGM e dirigido mais uma vez pelo diretor Norman Taurog o filme foi mais um a não fazer sucesso. A verdade é que por volta do final dos anos 60 os filmes de Elvis não conseguiam mais se destacar nas bilheterias. O público em geral passou a ignorar seus filmes e as músicas deles e por volta de 1968 até a própria gravadora de Elvis parecia não mais se importar com as canções feitas para o cinema pelo cantor, tanto que seus últimos filmes sequer tiveram as trilhas sonoras comercializadas no mercado. A situação era tão complicada que parecia que o público sequer tomava conhecimento dos projetos em que Elvis Presley se envolvia. Nem as revistas musicais mais se importavam com o que ele estava produzindo ou cantando e essa situação só mudaria mesmo a partir do especial de TV exibido no final do ano, quando então todos redescobririam o talento de Elvis.

Isso porém não havia acontecido ainda e quando Live a Little, Love a Little surgiu nas telas em outubro de 1968 foi solenemente ignorado. O filme em si não é péssimo, como algumas bombas do passado do tipo Harum Scarum ou Kissin Cousins. O uso de cenas externas, o visual mais clean de Elvis e alguns personagens mais bem desenvolvidos até mantém certo interesse. O diretor Norman Taurog, cansado das inúmeras críticas que recebeu ao lado de Elvis ao longo dos anos, até mesmo se preocupou em melhorar um pouco o roteiro do filme. A principal personagem feminina não era mais a típica e estereotipada "sonhadora princesinha apaixonada por Elvis" dos filmes anteriores, mas sim uma garota típica do final dos anos 60. Apesar das mudanças Elvis não gostou muito do filme e seu resultado final. Aos amigos confidenciou: "Meus filmes não foram lá essas coisas mas o enredo desse último foi complicado demais. Fiz o papel idiota de um fotógrafo atrás de uma linda morena, guardada por um enorme cachorro!".

Se o filme não desperta muito a atenção sua trilha sonora, por outro lado, é uma das mais interessantes dessa fase da carreira de Elvis. Todas as quatro canções do filme são relevantes, algo que há muito tempo não acontecia na carreira do cantor. Sob a direção musical de Billy Strange e contando com um grupo musical de apoio completamente diferente de todas as suas outras trilhas, Elvis gravou canções excepcionalmente boas para um mero filme seu dos anos 60. O primeiro destaque é Almost In Love. Essa música ganhou notoriedade por ser a única música composta por um brasileiro a ser cantada e gravada por Elvis Presley. A canção composta por Luíz Bonfá era chamada originalmente de Luar no Rio e foi rebatizada quando o compositor a comercializou nos Estados Unidos anos depois. Para muitos ela também seria a única Bossa Nova interpretada por Elvis. De qualquer forma seu valor artístico é tão óbvio que até os executivos da gravadora RCA a usaram para dar nome a uma coletânea de Elvis no começo dos anos 70.

A Little Less Conversation é outro grande destaque desse filme. Embora não tenha feito sucesso quando lançada originalmente nos anos 60 como single (ao lado de Almost in Love), a canção estourou mundialmente em 2002 quando a gravadora BMG produziu um Remix com o produtor e DJ Junkie JXL. O sucesso foi tamanho que até hoje essa é uma das músicas mais conhecidas de Elvis pela nova geração. As duas outras canções da trilha sonora também eram extremamente interessantes. Edge Of Reality, com sua sonoridade exótica, acabou sendo escolhida para ser o lado B do single If I Can Dream e a última música da trilha, Wonderfull World, com seu o arranjo muito próximo da sonoridade média das trilhas de Elvis nos anos 60, possui uma melodia agradável. Enfim, se Live a Little, Love a Little, não conseguiu se destacar por seus méritos cinematográficos, suas canções salvaram o projeto, pois musicalmente retratam um bom momento de Elvis nos estúdios em 1968.

Elvis Presley - Live a Little, Love a Little (1968)
Almost in Love
A Little Less Conversation
Wonderfull World
Edge Of Reality

Elvis Presley - Live a Little, Love a Little (1968): Vocais: Elvis Presley / Guitarra: Joseph Gibbons / Guitarra: Neil Levang / Guitarra: Charles Britz / Guitarra: Alvin Casey / Baixo: Larry Knechtal / Baixo: Charles Berghofer / Bateria: Hal Blaine / Percussão: Gary Coleman / Piano: Don Randi / Backup Vocals: B.J. Baker, Sally Stevens, Bob Tebow, John Bahler / Direção Musical: Billy Strange / Gravado no Western Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 07 de março de 1968 / Data de Lançamento: Setembro de 1968 (single A Little Less Conversation - Almost In Love) / Melhor posição nas Charts: # 69 (EUA).

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - NBC TV Special (1968)

No final de 1968 finalmente foi exibido o especial de TV que Elvis havia gravado em meados do ano. O Rei do Rock vinha em um mal momento da carreira. Seus filmes já estavam desgastados, Elvis sentia-se cada vez mais frustrado com a política dos grandes estúdios de cinema de Hollywood, que lhe mandavam fazer o mesmo filme ano após ano, com as mesmas trilhas sonoras e os mesmos roteiros estúpidos. Elvis estava mais do que farto deste esquema em 1968. Quando soube da ideia do especial, se empolgou e disse ao seu empresário que fechasse o contrato, pois ele queria voltar o quando antes a se apresentar ao vivo. Ainda tinha contratos a cumprir na costa oeste, mas queria que estes fossem os últimos. Sem dúvida, para quem apostava em uma carreira de ator, aquilo tudo representava um grande retrocesso. Era uma derrota para Elvis deixar Hollywood assim. A verdade era que ele descobriu, ao longo dos anos, que nenhum estúdio iria lhe dar uma chance para desenvolver uma carreira dramática em Hollywood. Para os chefões Elvis tinha que sempre desempenhar o mesmo papel: o de Elvis Presley. Se continuasse no esquema dos estúdios cinematográficos, Elvis iria continuar a fazer uma comédia musical atrás da outra até sua carreira se apagar de vez.

Ele estava decidido a pular fora e salvar o que ainda tinha restado de seu legado musical. E assim foi feito. Depois de acertar seu cachê (meio milhão de dólares por quatro dias de trabalho) Elvis finalmente se preparou para sua volta. O show seria transmitido no final do ano, em dezembro. O coronel Parker sugeriu um roteiro simplesmente desastroso para o especial: "Elvis entraria de papai noel, cantaria meia dúzia de músicas natalinas e iria embora pela chaminé". Elvis e o produtor Steve Binder simplesmente odiaram essa ideia. Juntos, trocaram pensamentos e conceitos e chegaram a um modelo básico. Elvis seria acompanhado de sua primeira banda, Scotty Moore e D.J. Fontana (Bill Black havia morrido em 1965). Seria um show acústico, com Elvis vestindo uma roupa de couro negro, tocando uma guitarra Gibson, tudo de forma natural e autêntica. Ele interpretaria seus velhos sucessos e duas canções escritas especialmente para o programa: "If I Can Dream" e "Memories". Estava em ótima forma física e empolgado pela chance de voltar a apresentar um material de qualidade. Tudo que precisava era uma chance de mostrar novamente seu incontestável talento. Os ensaios e as gravações foram exaustivos. Esse foi um momento crucial de sua vida, se falhasse, provavelmente seria o fim de sua carreira. E ele sabia disso.

Assim, aos 33 anos de idade, Elvis Presley finalmente voltou à TV, num especial histórico para NBC em comemoração ao natal. O show foi um marco em sua vida. Com cenas em estúdio e ao vivo, Elvis estava natural, espontâneo e decidido a dar o melhor de si no show. As sessões para o especial ocorreram em momentos diferentes. De inicio Elvis foi até o Western Recorders para gravar o material que seria dublado nas cenas de estúdio. Entre os dias 20 a 23 de junho Elvis gravou as novas versões de Big Boss Man, It Hurts Me, Guitar Man e os medleys que seriam usados no especial como Trouble / Guitar Man e o Medley gospel liderado pela canção Where Could I Go But To The Lord. Mas isso seria apenas o começo, Elvis participaria de várias outras sessões para se chegar ao material que iria ser usado incidentalmente no especial.

Depois desses preparativos finalmente começaram as filmagens de palco. Inicialmente com Elvis e banda em um tablado quadrado cercado pelo público. Depois novas tomadas de cena foram feitas, dessa vez sem plateia, com Elvis encenando pequenas cenas avulsas ao lado do corpo de baile do canal NBC. Curiosamente essa parte do especial lembrou e muito seus antigos filmes. interessante notar que essa parte foi também a que mais envelheceu do programa no decorrer dos anos. Enquanto as cenas de Elvis ao lado da banda parecem absurdamente atuais, as que Elvis contracena com atores soam incrivelmente datadas. Em termos de repertório o NBC usou e abusou de seus velhos sucessos dos anos 50. Seus maiores clássicos foram desenterrados, até mesmo porque a intenção era realmente alcançar um bom índice de audiência, pois o êxito era mais do que necessário. De material inédito mesmo havia apenas duas músicas: If I Can Dream e Memories. If I Can Dream foi especialmente composta para ser usada no programa de TV. Lançada em novembro daquele mesmo ano o single finalmente conciliou Elvis de novo com o sucesso que tanto esperava. Foi o primeiro single do cantor a receber o disco de ouro em muitos anos.

Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" relembra o impacto do show: "O especial de Elvis foi um sucesso espetacular e alcançou o maior índice de audiência do ano. A música final, "If I Can Dream", foi sua primeira gravação que ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas em muitos anos. Sentamos em torno da TV assistindo ao programa, esperando nervosamente pela reação. Elvis se manteve silencioso e tenso durante toda a exibição do programa, mas assim que os telefones começaram a tocar, compreendemos que ele conquistara um novo triunfo. Não perdera a classe, ainda era o rei do rock'n'roll". Com esse programa Elvis se convenceu que era hora de deixar Hollywood para trás e retomar os rumos de sua carreira musical. Não haveria mais trilhas sonoras insípidas, o momento era de entrar em estúdio novamente para gravar canções de qualidade, para mudar novamente os rumos musicais de seu tempo.

Elvis Presley  - NBC TV Special (1968)
Trouble / Guitar Man
Lawdy, Miss Clawdy
Baby, What You Want Me To Do
Heartbreak Hotel / Hound Dog / All Shook Up
Can't Help Falling In Love
Jailhouse Rock
Love Me Tender
Where Could I Go But To The Lord / Up Above My Head / Saved
Blue Christmas
One Night
Memories
Nothingville / Big Boss Man / Guitar Man / Little Egypt / Trouble / Guitar Man
If I Can Dream

Elvis Presley - NBC TV Special (1968): Elvis Presley (vocal, guitarra e violão) / Scotty Moore (guitarra) / D.J. Fontana (bateria) / Charlie Hodge (guitarra) / Alan Fortas (percussão) / Lance Le Gault (tamborim) / The NBC Orquestra / Bob Finkel (produção executiva) / Steve Binder (direção) / Bones Howe (supervisão musical) / Allan Blye e Chris Beard (roteiro) / W. Earl Brown (arranjos) / Gene McAvoy (direção de arte) / Jaime Rodgers e Claude Thompson (coreografias) / Gravado nos estúdios Burbank, Califórnia / Data de gravação: 27, 28, 29 e 30 de junho de 1968 / Data de exibição: 3 de dezembro de 1968 / Data de lançamento da trilha sonora: dezembro de 1968 / Melhor posição nas charts: # 8 (EUA) e # 2 (Inglaterra).

Pablo Aluísio - Setembro de 2003 / Setembro de 2009.

Elvis Presley - Elvis Sings Flaming Star and Others (1968)

Em 1968, anos após ter aparecido na TV americana pela última vez Elvis assinou com o canal NBC a realização de um especial de final de ano. Esse programa acabou ficando conhecido como "Comeback Special" pois seria seu retorno, sua volta aos palcos e às apresentações ao vivo. Para a realização desse programa de fim de ano não bastava apenas o contrato envolvendo Elvis e o canal de TV, mas também era vital que os anunciantes acreditassem no projeto e o patrocinassem. A Singer foi a empresa que acreditou no retorno de Elvis à TV. Dando apoio financeiro a empresa foi bastante importante para que a realização desse programa fosse possível. Enquanto muitos tinham dúvidas se Elvis teria ainda capacidade de protagonizar um especial de TV sozinho e obter boa audiência com ele, a Singer abraçou a idéia e investiu na volta do cantor.

Como todo contrato esse também apresentava cláusulas que favoreciam a ambas as partes. Entre elas havia uma que determinava que um álbum seria produzido especialmente pela gravadora de Elvis para ser vendido único e exclusivamente nas revendedoras da empresa Singer. O produtor Felton Jarvis então foi designado para a seleção musical das canções que iriam fazer parte desse disco tão singular dentro da carreira de Elvis. Como o canal NBC exibiria em breve o filme Flaming Star, o produtor de Elvis resolveu utilizar a música tema desse filme como título do novo álbum que se chamaria Elvis Sings Flaming Star. A seleção das canções também traria praticamente apenas canções de filmes.

Fazer uma coletânea de canções já lançadas nas trilhas sonoras porém seria banal. Foi então que Felton Jarvis, sob ordem expressa da direção da RCA, resolveu vasculhar os arquivos da gravadora em busca de material inédito no mercado. Como os últimos filmes de Elvis sequer tinham suas próprias trilhas sonoras lançadas, havia de certa forma bastante material arquivado para compor um disco como esse. Um exemplo era o vasto material que Elvis havia gravado para o filme Viva Las Vegas. Embora a trilha desse filme tivesse um número suficiente de músicas para a composição de um álbum, ele jamais foi lançado. Ao invés disso a RCA lançou apenas um compacto duplo na época e um single, ficando o restante das canções em um limbo. Resgatá-las agora seria uma boa ideia. Assim o medley Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas (utilizado no filme mas inédito na discografia de Elvis) e Do The Vega, duas boas músicas de Viva Las Vegas, foram lançadas pela primeira vez no mercado.

O mesmo aconteceu com duas músicas recentes, de filmes de Elvis que há pouco tempo havia chegado às telas. Wonderfull World da trilha de Live a Little, Love a Little, por exemplo, ainda não havia encontrado espaço entre os discos de Elvis mas aqui finalmente achava um local para chegar ao conhecimento do grande público. Idem para All I Needed Was The Rain, um bom blues do filme Stay Away Joe, que havia passado em brancas nuvens na discografia oficial de Elvis. Da trilha de Easy Come, Easy Go havia ainda She´s a Machine, que ficou de fora do EP lançado em 1967. Para completar o álbum ainda foram incluídas duas inéditas que certamente chamariam a atenção dos colecionadores: Too Much Monkey Business, clássico de Chuck Berry, lançado pela primeira vez aqui e uma prévia do que seria o especial de Elvis a ser lançado no final de ano, Tiger Man, versão gravada ao vivo durante o programa da NBC. Enfim, Elvis Sings Flaming Star, hoje pode soar datado e ultrapassado em termos de seleção musical e repertório, porém quando foi lançado ele se tornou um álbum bem interessante, pois trazia material inédito aos admiradores e fãs de Elvis Presley.

Elvis Sings Flaming Star
Flaming Star
Wonderful World
Night Life
All I Needed Was The Rain
Too Much Monkey Business
Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas
She's A Machine
Do The Vega
Tiger Man

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Speedway (1968)

Em meados de 1968, a ano que não acabou, o novo projeto de Elvis, intitulado Speedway (O Bacana do Volante) foi lançado. Aqui Elvis contracena com a filha de Frank Sinatra, Nancy. Na direção mais uma vez Norman Taurog. Novamente outro filme sem grandes novidades, com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. Nancy Sinatra por sua vez interpreta uma fiscal da receita federal que vai atrás do personagem de Elvis para lhe cobrar impostos sonegados. O filme se tornou um dos últimos de Elvis na MGM pois seu contrato com a empresa estava chegando ao final. Apesar do otimismo sobre a carreira de Elvis no começo dos anos 60, em 1968 todos já estavam conscientes que dificilmente Elvis decolaria nas telas trabalhando com material tão ruim. Seu desânimo chega a ser notado durante a projeção do filme pois ele apenas passeia entre as cenas, visivelmente entediado.

Não era para menos, Speedway na realidade era apenas outro filme sobre pistas de corridas, garotas, músicas fracas e direção inexistente. A crítica da época não perdoou e demonstrou que a produção nada mais era do que apenas mais uma repetição de muitos filmes anteriores do "Rei do Rock". Eles tinham razão. Esse é outro filme de Elvis ao velho estilo, do começo ainda dos anos 60, o que em 1968, em plena época do movimento Hippie, dos movimentos sociais e das lutas políticas soava completamente quadrado e careta (aqui utilizando-se inclusive das gírias daqueles tempos). Sem sintonia com os jovens e o público o filme foi completamente ignorado, deixando as salas de cinema vazias e os LPs encalhados nas prateleiras das lojas de discos.

O projeto foi mais um da carreira de Elvis que que não se traduziu em sucesso, revelando de uma vez por todas que a antiga fórmula "brilhantemente" idealizada por Tom Parker estava completamente esgotada. Nem os fãs mais ardorosos prestigiaram. A trilha sonora chegou nas lojas um mês antes do lançamento do filme e se tornou um novo fracasso de vendas, com um péssimo 82º lugar entre os mais vendidos, sendo que na Inglaterra o resultado foi ainda mais desastroso pois sequer conseguiu classificação na parada inglesa entre os mais vendidos. No Brasil a RCA nacional, em vista do grande fracasso do disco lá fora, nem ao menos chegou a lançá-lo por aqui. Com tantos boletins desanimadores de vendas nas mãos e vendo que muitas de suas filiais estrangeiras nem sequer cogitavam mais de lançar o disco em seus respectivos países a RCA disse basta ao lançamento de trilhas e decretou o fim das mesmas, para o alívio geral, diga-se de passagem. A gravadora de Elvis realmente havia jogado a toalha e não iria mais investir nessa fórmula pois ela definitivamente só vinha trazendo prejuízos desde meados dos anos 60.

Para termos uma ideia da queda de vendas de Elvis no mercado basta apenas citar um dado revelador: Elvis Presley passou três anos sem sequer ter um álbum lançado no Brasil na segunda metade dos anos 60, o que demonstra como era grande o desinteresse pelo trabalho que ele vinha desenvolvendo na época. A trilha sonora de Speedway então, em vista de todo esse quadro desanimador, realmente foi a pá de cal nesse velho esquema inventado por Tom Parker de lançar filme / trilha no mercado. Foi a última trilha sonora da carreira de Elvis ao velho estilo e não deixou saudades. Um melancólico adeus, sem dúvida. A única nota positiva veio do advento de que o fracasso levou Elvis e seu empresário a repensar toda a sua carreira e procurar por mudanças, o que iria desaguar ainda nesse ano na gravação do maravilhoso NBC Special que iria literalmente ressuscitar a cambaleante carreira de Elvis. Realmente há males que vem para o bem, como diz o velho ditado. Essas são as canções da derradeira trilha sonora de Elvis Presley nos anos 60:

SPEEDWAY (Glazer - Schlaks} - Tudo é uma questão de comparação. Muitos afirmam que Speedway é um dos temas mais fracos já compostos para filmes de Elvis Presley! Será mesmo? Basta comparar. Spinout, por exemplo, é bem pior certamente. Obviamente que nunca poderíamos aqui cair na insensatez de comparar essa canção com temas do passado como King Creole e Jailhouse Rock. Essa seria uma comparação completamente absurda. Porém se formos nos limitar ao período pós 1965 até que Speedway não se sai completamente mal. Os compositores dessa canção (dois completos desconhecidos dentro da discografia de Elvis) até se saíram razoavelmente bem em termos de ritmo, que chega a ser agradável em algumas passagens, mas derrapam feio na letra, que é inegavelmente simplória demais. Claro que o tema, falando sobre assuntos relacionados a velocidade, carros e afins, não daria margem ao surgimento de nenhuma poesia parnasiana, mas até mesmo dentro do limitado campo artístico que o filme proporciona deixa a desejar. Elvis, como sempre, extremamente profissional, fez o melhor que pôde com o material que tinha em mãos e a canção pelo menos não aborrece em nenhum momento, tendo como maior mérito seu ritmo mesmo, como já escrevi antes. Certamente não é o melhor tema de filme já escrito para as produções de Elvis no cinema, mas fica longe de figurar entre os piores.

THERE AIN´T NOTHING LIKE A SONG (Byers - Johnston) - Byers ficou conhecido na história como o autor das melhores músicas dos piores discos de Elvis. Ele escreveu diversas músicas para filmes de Elvis, algumas realmente muito boas, que elevavam significativamente o valor artístico de algumas de suas trilhas sonoras. Essa música foi escolhida para fechar o filme, onde Elvis e Nancy Sinatra a cantam juntos. A letra é otimista e combina bem com o final feliz e Nancy, que nunca teve o carisma de seu grande pai, pelo menos não decepciona e mostra um certo talento no resultado final. Em suma, essa é uma boa canção da trilha sonora de Speedway.

YOUR TIME HASN´T COME YET BABY
(Hirschhorn - Kascho) - Não há como escapar. Dentro da fórmula "Elvis" de fazer filmes nos anos 60 quase sempre haveria uma música destinada ao público infantil. Odiadas por muitos, amadas por outros, essas canções infantis foram, para o bem ou para o mal, uma das marcas registradas das trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Infelizmente a qualidade delas foram decaindo ao longo dos anos, já que "Wooden Heart", a grande iniciadora desse subgênero, possuía inegável qualidade que não foi mantida pelas que vieram nos filmes posteriores. Aqui, outra dupla de compositores desconhecidos aterrissam na trilha e tentam trazer alguma novidade, porém sem sucesso. Agora complicado mesmo é entender como ela foi lançada como lado principal do single do filme, justamente em um momento que Elvis precisava desesperadamente de um sucesso nas paradas. O absurdo é tamanho que ela foi preferida até mesmo em detrimento de Let Yourself Go, a melhor canção da trilha, que foi jogada para o lado B do mesmo compacto. Simplesmente inexplicável.

WHO ARE YOU? (S. Wayne - B. Weisman) - Para se perceber como as trilhas sonoras de Elvis perderam qualidade ao longo dos anos basta apenas ouvir as baladas presentes nelas. Aqui temos uma canção cheia de lugares comuns, com letra banal. A cena em que Elvis a canta para Nancy Sinatra no filme demonstra claramente que depois de Ann-Margret Elvis nunca mais teve uma partner à altura. Nancy não consegue transmitir emoção e a química do casal nunca decola. Enfim, Who Are You? é uma balada apenas mediana, sendo seu único destaque um arranjo um pouco diferenciado das demais baladas de Elvis, mas nada que a eleve demais entre as muitas baladas cantadas por Elvis durante esse período de sua carreira. O único destaque digno de nota fica com o solo bem executado do grande músico Homer "Boots" Randolph, recentemente falecido. Fora isso nada mais chama a atenção.

HE´S YOUR UNCLE, NOT YOUR DAD (Wayne - Weisman) - Depois de um começo até certo ponto animador somos lembrados, da pior forma possível, pela dupla de autores dessa música, que estamos afinal apenas ouvindo mais uma das trilhas sonoras de Elvis dos anos 60, com tudo de ruim que isso afinal significa. Candidata forte ao título de pior canção do filme, "He's Your Uncle, Not Your Dad" é aquele tipo de música que só funciona ao se assistir ao filme e mesmo assim se você estiver com muito bom humor e boa vontade. Certo que o roteiro gira em torno de um piloto com dívidas fiscais com o governo norte-americano, mas convenhamos não precisava colocar um tema tão fraco e sem graça para Elvis cantar e baixar consideravelmente o nível da parte musical da trilha sonora. A cena do filme não se salva, a coreografia apresentada é ridícula, a letra é uma piada e harmonia inexiste aqui. Méritos apenas para Elvis que demonstra mais uma vez que era um cantor que conseguia injetar um pouco de talento até mesmo nas mais horríveis canções já escritas. Simplesmente constrangedor.

LET YOURSELF GO (Joy Byers) - Sempre lembrada como grande injustiçada, Let Yourself Go é praticamente unanimidade entre os especialistas como a melhor canção dessa trilha sonora. A música tem letra interessante, trazendo até mesmo pitadas de sensualidade e charme e poderia muito bem se destacar nas paradas caso tivesse sido lançada corretamente como destaque no single do filme. Elvis, que não conseguia um primeiro lugar desde 1962 com Good Luck Charm, finalmente tinha uma boa candidata a lutar por, pelo menos, o Top l0 da Billboard. Mas infelizmente a RCA a negligenciou, a inserindo como mero lado B da infantil "Your Time Hasn't Come Yet Baby", essa sim com chances nulas de se destacar na Billboard. O resultado já conhecemos: a música foi solenemente ignorada pelo público na época e nem mesmo a boa cena em que ela é apresentada no filme serviu para tirá-la de um injusto obscurantismo. Ainda tentaram corrigir o erro a utilizando no especial da NBC mas todos os clássicos ali presentes também ajudaram para que esse bom momento de Elvis nos estúdios na segunda metade dos anos 60 passasse praticamente em brancas nuvens.

FIVE SLEEPY HEADS (Sid Tepper - Roy C. Bennett) - Talvez o maior exemplo do esgotamento da fórmula das trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Depois de "Your Time Hasn't Come Yet Baby" era de se esperar que o disco estaria livre de canções infantis. Que nada. Parece que sem mais nada para colocar na trilha o Coronel e a RCA resolveram colocar Elvis para cantar outra musiquinha de ninar. No disco original ela aparecia bem depois de um solo de Nancy Sinatra, "Your Groovy Self", canção sem maiores atrativos que demonstrava que uma forcinha do nepotismo também poderia ajudar na carreira de qualquer um. Sem maiores atrativos podemos classificar "Five Sleepy Heads" como uma espécie de "Big Boots" tardia. Um mero prato requentado para quem gostou das primeiras trilhas de Elvis no começo dos anos 60 como G.I. Blues e definitivamente não recomendado para gourmets musicais mais exigentes.

WESTERN UNION (Tepper - Bennet) - Essa é a primeira bonus song do disco Speedway. A inclusão de uma canção como essa só serve para demonstrar como Elvis estava estagnado artisticamente. Qual artista iria aceitar colocar em um novo disco uma música gravada quase 5 anos antes e que simplesmente havia sido arquivada? Cinco anos é uma eternidade em termos de renovação musical, todas as mudanças que surgiram no mundo da música, ainda mais nos anos 60, fazia com que uma canção gravada em 1963 soasse completamente anacrônica em 1968. Seria algo como se os Beatles lançassem She Loves You no Álbum Branco. Enfim, desleixo, displicência e estagnação, apenas esses fatores justificam esse tipo de lançamento numa trilha sonora de Elvis Presley no final dos anos 60. Mas o pior nem é isso, o pior é saber que Western Union, mesmo com vocalização ultrapassada, arranjo desatualizado e falta de sincronia com o que se ouvia em 1968 conseguia ser ainda melhor que muitas das músicas do filme Speedway! Só podemos chegar na triste constatação que sim, Elvis ficou sem evoluir durante pelo menos cinco anos em sua carreira nos anos 60, chegando inclusive a involuir (sic) em certos aspectos! Lamentável.

MINE (Tepper - Bennett) - Em setembro de 1967 o produtor Felton Jarvis levou Elvis a Nashville com a clara intenção de produzir material de melhor qualidade que o que vinha sendo apresentando nas trilhas sonoras de seus últimos filmes. Felton reuniu a nata dos músicos da cidade e conseguiu grande êxito, gravando excelentes canções como por exemplo You'll Never Walk Alone, We Call on Him, Hi-Heel Sneakers, Just Call Me Lonesome, Big Boss Man e Guitar Man. Enfim, uma excelente sessão em todos os aspectos que poderia inclusive dar origem a um excelente LP caso a RCA assim desejasse. Mas infelizmente isso nunca ocorreu. Ao invés disso os produtores tiveram a péssima idéia de utilizar ótimas faixas como essas apenas como bonus songs de algumas das piores trilhas sonoras de Elvis, ofuscando completamente o belo retorno que poderiam trazer para a carreira do cantor. Esse é o caso de "Mine", gravada nessa mesma ocasião e jogada no lado B da trilha de Speedway. Um grande equívoco pois "Mine" é uma excelente balada, com ótima interpretação por parte de Elvis.

GOIN´ HOME (Byers) - Gravada em janeiro de 1968 durante as gravações de parte da trilha sonora do filme "Stay Away, Joe", em Nashville, a canção "Goin' Home" se transformou num verdadeiro pesadelo para Elvis em estúdio, fazendo com que o cantor tivesse que registrar 30 takes diferentes para chegar na versão oficial. Curiosamente essa foi uma das sessões mais interessantes de Elvis, senão vejamos: Ele gravou o clássico de Chuck Berry, Too Much Monkey Business, a ótima U.S. Male, que seria lançada em single e versões diversas de Stay Away. Isso pelo menos demonstrava pequenos e significativos sinais de mudança, até mesmo porque Elvis ia, aos poucos, deixando o material fraco de filmes de lado para gravar canções de qualidade. A lamentar apenas o fato de Goin' Home, que sempre foi uma ótima música, ser lançada de forma tão equivocada, como mera bonus song de Speedway. Merecia melhor destino certamente.

SUPPOSE (Dee - Goehring) - Suppose nunca ganhou uma boa versão na voz de Elvis Presley. Todas as suas versões oficiais (seja a versão mais longa ou mais curta) deixam a desejar. Também pudera, gravada nas mesmas sessões do restante da trilha de Speedway a canção nunca foi prioridade para Elvis, isso apesar de haver indícios de que ele pessoalmente gostava dela, tanto que gravações caseiras do cantor em Graceland a cantando e tocando piano já eram conhecidas pelos fãs desde os anos 80. Inicialmente a música foi cogitada para entrar no filme mas logo depois foi cortada por decisão dos executivos da MGM. Curiosidade: em Suppose ouvimos o amigo de Elvis, Charlie Hodge, tocando piano em momento inspirado.

Elvis Presley - Speedway (1968): Vocal: Elvis Presley / Guitarra: Chip Young / Guitarra: Hilmer J. "Tiny" Timbrell / Guitarra: Tommy Tedesco / Baixo: Bob Moore / Bateria: Murrey "Buddy" Harman / Bateria: D.J. Fontana / Piano: Larry Muhoberac / Piano: Charlie Hodge (somente na versão de Suppose) / Steel Guitar: Pete Drake / Saxophone: Homer "Boots" Randolph / Trumpete: Charlie McCoy / Backup Vocals: The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / Direção Musical: Jeff Alexander / Engenheiro: Eddie Bracket / Gravado no M.G.M. Studios, Hollywood, California / Data de Gravação: 20 a 21 e 26 de junho de 1967 / Data de lançamento: maio de 1968 / Melhor posição nas charts: #82 (EUA) e # - (UK) Obs: Não obteve classificação entre os mais vendidos na Grã Bretanha.

Pablo Aluísio - abril / maio de 2008.

O Bacana do Volante

Quando "Speedway" pintou nos cinemas em junho de 1968 Elvis Presley já estava com um pé fora de Hollywood. Ele tinha planos para retornar em um grande especial de TV na NBC e posteriormente voltar para a estrada, para aquilo que mais gostava de fazer, realizar shows ao vivo. Sua carreira em Hollywood havia entrado em um beco sem saída e assim todos já sabiam de antemão que ele tinha dois caminhos a seguir: ou continuava a tentar emplacar ano após ano com esse tipo de filme ou então voltar para a música de forma definitiva. "O Bacana do Volante" foi produzido pela MGM. Nesse estúdio Elvis amargou seus piores filmes. Ao contrário da Paramount que sempre procurava fazer algo no mínimo decente para ser lançado, na Metro, em sua eterna crise financeira, valia tudo ou quase tudo. Filmes rodados em duas semanas, sem capricho, sem cuidado com pobre qualidade técnica. "Speedway" não chega a ficar entre os piores filmes de Elvis nesse estúdio mas também não fica entre os melhores. Não há como negar que o roteiro é bem derivativo, copiado inclusive de outras fitas de Elvis no próprio estúdio. De fato há pouca coisa que separa esse filme de "Spinout", por exemplo. A trama era quase sempre a mesma: Elvis como piloto de corridas, se apaixona por alguma starlet, cantas algumas músicas e The End. Tudo muito leve e inofensivo.

O filme custou 1 milhão e meio de dólares e não deu prejuízo. Lançado no Sul dos EUA inicialmente, em pequenas cidades onde Elvis tinha seu público mais fiel, o filme logo recuperou seu investimento em poucas semanas. A estréia ocorreu na mesma cidade onde foram realizadas quase todas as cenas externas de corrida. Essas sequências foram realizadas por uma segunda unidade em Charlotte na Carolina do Norte onde todos os anos a cidade promovia uma famosa corrida de Stock Car. Todos os pilotos foram devidamente creditados, mostrando respeito dos produtores com esses profissionais. Só depois o estúdio finalmente o colocou em cartaz nos grandes centros (Nova Iorque, Los Angeles, etc) onde como sempre o filme foi impiedosamente malhado pela crítica especializada. Dividindo a tela com Elvis surge aqui Nancy Sinatra. Muito longe do carisma e o talento de uma Ann-Margret, Nancy fez o que foi possível para se tornar um boa partner para Elvis Presley. Dança, canta e tenta trazer alguma veracidade para o romance. Ela interpreta uma fiscal do imposto de renda que está atrás do piloto Steve Grayson (Elvis Presley) por sonegação. 

Já Elvis aqui apenas passeia em cena. Algumas canções são até boas - a própria "Speedway" tem bom ritmo e fluência, embora a letra seja fraca - mas ele visivelmente não se esforça muito. Em alguns momentos transparece até mesmo estar entediado. De qualquer modo o famoso cantor desfila um figurino interessante que anos depois seria parcialmente copiada pelos criadores do desenho animado Speed Racer. Em conclusão podemos dizer que "Speedway" até mesmo tem alguns bons momentos mas no geral a produção realmente deixa a desejar seja como musical, seja como comédia romântica. Revisto hoje em dia realmente o único interesse que sobrevive é a própria presença de Elvis Presley, que como todo mito tinha um carisma fora do normal, que o fazia sair ileso até mesmo de filmes como esse. Fora isso realmente não temos nada de muito marcante.

O Bacana do Volante (Speedway, EUA, 1968) Direção: Norman Taurog / Roteiro: Phil Shuken / Elenco: Elvis Presley, Nancy Sinatra, Bill Bixby, Gale Gordon / Sinopse: Susan Jacks (Nancy Sinatra) é uma agente fiscal do governo americano que vai no encalço de um piloto de corridas, Steve Grayson (Elvis Presley), que não pagou seu imposto de renda. Não demora muito para ela ficar completamente apaixonada pelo carismático corredor..

Pablo Aluísio.