domingo, 8 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Studios Highlights 1968

O ano de 1968 na carreira de Elvis foi dominado pelo seu especial de TV no canal NBC. Desde 1960 Elvis não aparecia na televisão e desde 1961 não realizava concertos ao vivo. Era tempo em demasia sem contato nenhum com o público em geral. A principal razão para ficar tanto tempo afastado foi o extenso número de obrigações contratuais que tinha assinado com os estúdios de cinema. Com a agenda cheia, Elvis pouco produziu visando apenas o lado musical de sua carreira. Praticamente todas as canções desse período eram direcionadas para os filmes, sobrando pouco (ou quase) nada para quem admirava apenas o cantor Elvis.

Embora 1968 seja o começo do fim, onde Elvis finalmente via uma luz no fim do túnel de suas obrigações no cinema, ele ainda teria que desperdiçar uma grande parte de seu tempo para honrar todos os compromissos assumidos. Para se ter uma ideia, só nesse ano Elvis gravou 4 trilhas sonoras! Fora as intensas sessões de gravação dedicadas ao especial de TV. Com isso ele mal entrou em estúdio para gravar material convencional. Se em 1966 e 1967 Elvis ainda produziu um número razoável de canções fora do circuito de Hollywood, em 1968 não sobrou quase nenhum tempo para a produção de material desse estilo.

Apenas em janeiro desse ano Elvis entrou em estúdio para gravar material convencional. Foi nessa sessão que Elvis gravou as boas versões de Too Much Monkey Business, Goin' Home e U.S. Male. Mas fora isso nada mais foi produzido por Elvis que fugisse ao esquema dos estúdios de cinema e TV (o especial da NBC incluído). Assim o verdadeiro renascimento da carreira musical de Elvis só seria definitivamente consolidada nas sessões do American Studios no ano seguinte. Até lá Elvis ainda se veria forçado e limitado por contratos com os grandes estúdios.

Em 1968 a RCA também deu adeus aos álbuns comerciais das trilhas sonoras de Elvis. O fracasso de vendas das trilhas anteriores de Spinout, Clambake e Easy Come Easy Go já tinham acendido a luz vermelha na gravadora do cantor. Com o grande fracasso de Speedway em 1968 a RCA finalmente desistiu desses discos. Não haveria mais a edição desse tipo de material, embora Elvis ainda continuasse a gravar músicas para trilhas a RCA resolveu que as lançariam dali em diante de forma esporádica, em singles ou em coletâneas, não mais investindo em títulos próprios e específicos. O prejuízo amargado pela gravadora jogou definitivamente uma pá de cal nesse tipo de álbum.

O grande destaque em relação a Elvis nesse ano de 1968 foi realmente o especial de TV. Gravado em meados do ano o NBC TV Special passou por uma série de problemas antes de ver a luz do dia. Os executivos da TV americana achavam que Elvis estava muito em baixa e por isso sugeriram que ele dividisse os holofotes com outra estrela (sugeriram ao Coronel que o especial fosse apresentado por Jerry Lewis). O Coronel recusou mas também deu sua cota de sugestões infelizes aos produtores, ao indicar um especial de natal com Elvis vestido de Papai Noel. Graças a Deus dessa vez não deram ouvidos ao que o Coronel Parker dizia. Enfim, foi graças a Steve Binder, o produtor do especial, que procurou investir apenas na imagem de ídolo da música do astro, que Elvis foi salvo de ver sua carreira afundar de vez. Era a salvação, o renascimento do Rei do Rock. Dali para frente a carreira de Elvis iria gradualmente entrar nos eixos. O ano de 1968 e o especial de TV iriam influenciar dali em diante todo o restante da carreira de Elvis. Definitivamente 1968 foi o ano que não acabou, inclusive na trajetória de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Live a Little, Love a Little (1968)

Live a Little, Love a Little foi o último filme de Elvis Presley a estrear nas telas de cinema no ano de 1968. Produzido novamente pela MGM e dirigido mais uma vez pelo diretor Norman Taurog o filme foi mais um a não fazer sucesso. A verdade é que por volta do final dos anos 60 os filmes de Elvis não conseguiam mais se destacar nas bilheterias. O público em geral passou a ignorar seus filmes e as músicas deles e por volta de 1968 até a própria gravadora de Elvis parecia não mais se importar com as canções feitas para o cinema pelo cantor, tanto que seus últimos filmes sequer tiveram as trilhas sonoras comercializadas no mercado. A situação era tão complicada que parecia que o público sequer tomava conhecimento dos projetos em que Elvis Presley se envolvia. Nem as revistas musicais mais se importavam com o que ele estava produzindo ou cantando e essa situação só mudaria mesmo a partir do especial de TV exibido no final do ano, quando então todos redescobririam o talento de Elvis.

Isso porém não havia acontecido ainda e quando Live a Little, Love a Little surgiu nas telas em outubro de 1968 foi solenemente ignorado. O filme em si não é péssimo, como algumas bombas do passado do tipo Harum Scarum ou Kissin Cousins. O uso de cenas externas, o visual mais clean de Elvis e alguns personagens mais bem desenvolvidos até mantém certo interesse. O diretor Norman Taurog, cansado das inúmeras críticas que recebeu ao lado de Elvis ao longo dos anos, até mesmo se preocupou em melhorar um pouco o roteiro do filme. A principal personagem feminina não era mais a típica e estereotipada "sonhadora princesinha apaixonada por Elvis" dos filmes anteriores, mas sim uma garota típica do final dos anos 60. Apesar das mudanças Elvis não gostou muito do filme e seu resultado final. Aos amigos confidenciou: "Meus filmes não foram lá essas coisas mas o enredo desse último foi complicado demais. Fiz o papel idiota de um fotógrafo atrás de uma linda morena, guardada por um enorme cachorro!".

Se o filme não desperta muito a atenção sua trilha sonora, por outro lado, é uma das mais interessantes dessa fase da carreira de Elvis. Todas as quatro canções do filme são relevantes, algo que há muito tempo não acontecia na carreira do cantor. Sob a direção musical de Billy Strange e contando com um grupo musical de apoio completamente diferente de todas as suas outras trilhas, Elvis gravou canções excepcionalmente boas para um mero filme seu dos anos 60. O primeiro destaque é Almost In Love. Essa música ganhou notoriedade por ser a única música composta por um brasileiro a ser cantada e gravada por Elvis Presley. A canção composta por Luíz Bonfá era chamada originalmente de Luar no Rio e foi rebatizada quando o compositor a comercializou nos Estados Unidos anos depois. Para muitos ela também seria a única Bossa Nova interpretada por Elvis. De qualquer forma seu valor artístico é tão óbvio que até os executivos da gravadora RCA a usaram para dar nome a uma coletânea de Elvis no começo dos anos 70.

A Little Less Conversation é outro grande destaque desse filme. Embora não tenha feito sucesso quando lançada originalmente nos anos 60 como single (ao lado de Almost in Love), a canção estourou mundialmente em 2002 quando a gravadora BMG produziu um Remix com o produtor e DJ Junkie JXL. O sucesso foi tamanho que até hoje essa é uma das músicas mais conhecidas de Elvis pela nova geração. As duas outras canções da trilha sonora também eram extremamente interessantes. Edge Of Reality, com sua sonoridade exótica, acabou sendo escolhida para ser o lado B do single If I Can Dream e a última música da trilha, Wonderfull World, com seu o arranjo muito próximo da sonoridade média das trilhas de Elvis nos anos 60, possui uma melodia agradável. Enfim, se Live a Little, Love a Little, não conseguiu se destacar por seus méritos cinematográficos, suas canções salvaram o projeto, pois musicalmente retratam um bom momento de Elvis nos estúdios em 1968.

Elvis Presley - Live a Little, Love a Little (1968)
Almost in Love
A Little Less Conversation
Wonderfull World
Edge Of Reality

Elvis Presley - Live a Little, Love a Little (1968): Vocais: Elvis Presley / Guitarra: Joseph Gibbons / Guitarra: Neil Levang / Guitarra: Charles Britz / Guitarra: Alvin Casey / Baixo: Larry Knechtal / Baixo: Charles Berghofer / Bateria: Hal Blaine / Percussão: Gary Coleman / Piano: Don Randi / Backup Vocals: B.J. Baker, Sally Stevens, Bob Tebow, John Bahler / Direção Musical: Billy Strange / Gravado no Western Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 07 de março de 1968 / Data de Lançamento: Setembro de 1968 (single A Little Less Conversation - Almost In Love) / Melhor posição nas Charts: # 69 (EUA).

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - NBC TV Special (1968)

No final de 1968 finalmente foi exibido o especial de TV que Elvis havia gravado em meados do ano. O Rei do Rock vinha em um mal momento da carreira. Seus filmes já estavam desgastados, Elvis sentia-se cada vez mais frustrado com a política dos grandes estúdios de cinema de Hollywood, que lhe mandavam fazer o mesmo filme ano após ano, com as mesmas trilhas sonoras e os mesmos roteiros estúpidos. Elvis estava mais do que farto deste esquema em 1968. Quando soube da ideia do especial, se empolgou e disse ao seu empresário que fechasse o contrato, pois ele queria voltar o quando antes a se apresentar ao vivo. Ainda tinha contratos a cumprir na costa oeste, mas queria que estes fossem os últimos. Sem dúvida, para quem apostava em uma carreira de ator, aquilo tudo representava um grande retrocesso. Era uma derrota para Elvis deixar Hollywood assim. A verdade era que ele descobriu, ao longo dos anos, que nenhum estúdio iria lhe dar uma chance para desenvolver uma carreira dramática em Hollywood. Para os chefões Elvis tinha que sempre desempenhar o mesmo papel: o de Elvis Presley. Se continuasse no esquema dos estúdios cinematográficos, Elvis iria continuar a fazer uma comédia musical atrás da outra até sua carreira se apagar de vez.

Ele estava decidido a pular fora e salvar o que ainda tinha restado de seu legado musical. E assim foi feito. Depois de acertar seu cachê (meio milhão de dólares por quatro dias de trabalho) Elvis finalmente se preparou para sua volta. O show seria transmitido no final do ano, em dezembro. O coronel Parker sugeriu um roteiro simplesmente desastroso para o especial: "Elvis entraria de papai noel, cantaria meia dúzia de músicas natalinas e iria embora pela chaminé". Elvis e o produtor Steve Binder simplesmente odiaram essa ideia. Juntos, trocaram pensamentos e conceitos e chegaram a um modelo básico. Elvis seria acompanhado de sua primeira banda, Scotty Moore e D.J. Fontana (Bill Black havia morrido em 1965). Seria um show acústico, com Elvis vestindo uma roupa de couro negro, tocando uma guitarra Gibson, tudo de forma natural e autêntica. Ele interpretaria seus velhos sucessos e duas canções escritas especialmente para o programa: "If I Can Dream" e "Memories". Estava em ótima forma física e empolgado pela chance de voltar a apresentar um material de qualidade. Tudo que precisava era uma chance de mostrar novamente seu incontestável talento. Os ensaios e as gravações foram exaustivos. Esse foi um momento crucial de sua vida, se falhasse, provavelmente seria o fim de sua carreira. E ele sabia disso.

Assim, aos 33 anos de idade, Elvis Presley finalmente voltou à TV, num especial histórico para NBC em comemoração ao natal. O show foi um marco em sua vida. Com cenas em estúdio e ao vivo, Elvis estava natural, espontâneo e decidido a dar o melhor de si no show. As sessões para o especial ocorreram em momentos diferentes. De inicio Elvis foi até o Western Recorders para gravar o material que seria dublado nas cenas de estúdio. Entre os dias 20 a 23 de junho Elvis gravou as novas versões de Big Boss Man, It Hurts Me, Guitar Man e os medleys que seriam usados no especial como Trouble / Guitar Man e o Medley gospel liderado pela canção Where Could I Go But To The Lord. Mas isso seria apenas o começo, Elvis participaria de várias outras sessões para se chegar ao material que iria ser usado incidentalmente no especial.

Depois desses preparativos finalmente começaram as filmagens de palco. Inicialmente com Elvis e banda em um tablado quadrado cercado pelo público. Depois novas tomadas de cena foram feitas, dessa vez sem plateia, com Elvis encenando pequenas cenas avulsas ao lado do corpo de baile do canal NBC. Curiosamente essa parte do especial lembrou e muito seus antigos filmes. interessante notar que essa parte foi também a que mais envelheceu do programa no decorrer dos anos. Enquanto as cenas de Elvis ao lado da banda parecem absurdamente atuais, as que Elvis contracena com atores soam incrivelmente datadas. Em termos de repertório o NBC usou e abusou de seus velhos sucessos dos anos 50. Seus maiores clássicos foram desenterrados, até mesmo porque a intenção era realmente alcançar um bom índice de audiência, pois o êxito era mais do que necessário. De material inédito mesmo havia apenas duas músicas: If I Can Dream e Memories. If I Can Dream foi especialmente composta para ser usada no programa de TV. Lançada em novembro daquele mesmo ano o single finalmente conciliou Elvis de novo com o sucesso que tanto esperava. Foi o primeiro single do cantor a receber o disco de ouro em muitos anos.

Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" relembra o impacto do show: "O especial de Elvis foi um sucesso espetacular e alcançou o maior índice de audiência do ano. A música final, "If I Can Dream", foi sua primeira gravação que ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas em muitos anos. Sentamos em torno da TV assistindo ao programa, esperando nervosamente pela reação. Elvis se manteve silencioso e tenso durante toda a exibição do programa, mas assim que os telefones começaram a tocar, compreendemos que ele conquistara um novo triunfo. Não perdera a classe, ainda era o rei do rock'n'roll". Com esse programa Elvis se convenceu que era hora de deixar Hollywood para trás e retomar os rumos de sua carreira musical. Não haveria mais trilhas sonoras insípidas, o momento era de entrar em estúdio novamente para gravar canções de qualidade, para mudar novamente os rumos musicais de seu tempo.

Elvis Presley  - NBC TV Special (1968)
Trouble / Guitar Man
Lawdy, Miss Clawdy
Baby, What You Want Me To Do
Heartbreak Hotel / Hound Dog / All Shook Up
Can't Help Falling In Love
Jailhouse Rock
Love Me Tender
Where Could I Go But To The Lord / Up Above My Head / Saved
Blue Christmas
One Night
Memories
Nothingville / Big Boss Man / Guitar Man / Little Egypt / Trouble / Guitar Man
If I Can Dream

Elvis Presley - NBC TV Special (1968): Elvis Presley (vocal, guitarra e violão) / Scotty Moore (guitarra) / D.J. Fontana (bateria) / Charlie Hodge (guitarra) / Alan Fortas (percussão) / Lance Le Gault (tamborim) / The NBC Orquestra / Bob Finkel (produção executiva) / Steve Binder (direção) / Bones Howe (supervisão musical) / Allan Blye e Chris Beard (roteiro) / W. Earl Brown (arranjos) / Gene McAvoy (direção de arte) / Jaime Rodgers e Claude Thompson (coreografias) / Gravado nos estúdios Burbank, Califórnia / Data de gravação: 27, 28, 29 e 30 de junho de 1968 / Data de exibição: 3 de dezembro de 1968 / Data de lançamento da trilha sonora: dezembro de 1968 / Melhor posição nas charts: # 8 (EUA) e # 2 (Inglaterra).

Pablo Aluísio - Setembro de 2003 / Setembro de 2009.

Elvis Presley - Elvis Sings Flaming Star and Others (1968)

Em 1968, anos após ter aparecido na TV americana pela última vez Elvis assinou com o canal NBC a realização de um especial de final de ano. Esse programa acabou ficando conhecido como "Comeback Special" pois seria seu retorno, sua volta aos palcos e às apresentações ao vivo. Para a realização desse programa de fim de ano não bastava apenas o contrato envolvendo Elvis e o canal de TV, mas também era vital que os anunciantes acreditassem no projeto e o patrocinassem. A Singer foi a empresa que acreditou no retorno de Elvis à TV. Dando apoio financeiro a empresa foi bastante importante para que a realização desse programa fosse possível. Enquanto muitos tinham dúvidas se Elvis teria ainda capacidade de protagonizar um especial de TV sozinho e obter boa audiência com ele, a Singer abraçou a idéia e investiu na volta do cantor.

Como todo contrato esse também apresentava cláusulas que favoreciam a ambas as partes. Entre elas havia uma que determinava que um álbum seria produzido especialmente pela gravadora de Elvis para ser vendido único e exclusivamente nas revendedoras da empresa Singer. O produtor Felton Jarvis então foi designado para a seleção musical das canções que iriam fazer parte desse disco tão singular dentro da carreira de Elvis. Como o canal NBC exibiria em breve o filme Flaming Star, o produtor de Elvis resolveu utilizar a música tema desse filme como título do novo álbum que se chamaria Elvis Sings Flaming Star. A seleção das canções também traria praticamente apenas canções de filmes.

Fazer uma coletânea de canções já lançadas nas trilhas sonoras porém seria banal. Foi então que Felton Jarvis, sob ordem expressa da direção da RCA, resolveu vasculhar os arquivos da gravadora em busca de material inédito no mercado. Como os últimos filmes de Elvis sequer tinham suas próprias trilhas sonoras lançadas, havia de certa forma bastante material arquivado para compor um disco como esse. Um exemplo era o vasto material que Elvis havia gravado para o filme Viva Las Vegas. Embora a trilha desse filme tivesse um número suficiente de músicas para a composição de um álbum, ele jamais foi lançado. Ao invés disso a RCA lançou apenas um compacto duplo na época e um single, ficando o restante das canções em um limbo. Resgatá-las agora seria uma boa ideia. Assim o medley Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas (utilizado no filme mas inédito na discografia de Elvis) e Do The Vega, duas boas músicas de Viva Las Vegas, foram lançadas pela primeira vez no mercado.

O mesmo aconteceu com duas músicas recentes, de filmes de Elvis que há pouco tempo havia chegado às telas. Wonderfull World da trilha de Live a Little, Love a Little, por exemplo, ainda não havia encontrado espaço entre os discos de Elvis mas aqui finalmente achava um local para chegar ao conhecimento do grande público. Idem para All I Needed Was The Rain, um bom blues do filme Stay Away Joe, que havia passado em brancas nuvens na discografia oficial de Elvis. Da trilha de Easy Come, Easy Go havia ainda She´s a Machine, que ficou de fora do EP lançado em 1967. Para completar o álbum ainda foram incluídas duas inéditas que certamente chamariam a atenção dos colecionadores: Too Much Monkey Business, clássico de Chuck Berry, lançado pela primeira vez aqui e uma prévia do que seria o especial de Elvis a ser lançado no final de ano, Tiger Man, versão gravada ao vivo durante o programa da NBC. Enfim, Elvis Sings Flaming Star, hoje pode soar datado e ultrapassado em termos de seleção musical e repertório, porém quando foi lançado ele se tornou um álbum bem interessante, pois trazia material inédito aos admiradores e fãs de Elvis Presley.

Elvis Sings Flaming Star
Flaming Star
Wonderful World
Night Life
All I Needed Was The Rain
Too Much Monkey Business
Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas
She's A Machine
Do The Vega
Tiger Man

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Speedway (1968)

Em meados de 1968, a ano que não acabou, o novo projeto de Elvis, intitulado Speedway (O Bacana do Volante) foi lançado. Aqui Elvis contracena com a filha de Frank Sinatra, Nancy. Na direção mais uma vez Norman Taurog. Novamente outro filme sem grandes novidades, com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. Nancy Sinatra por sua vez interpreta uma fiscal da receita federal que vai atrás do personagem de Elvis para lhe cobrar impostos sonegados. O filme se tornou um dos últimos de Elvis na MGM pois seu contrato com a empresa estava chegando ao final. Apesar do otimismo sobre a carreira de Elvis no começo dos anos 60, em 1968 todos já estavam conscientes que dificilmente Elvis decolaria nas telas trabalhando com material tão ruim. Seu desânimo chega a ser notado durante a projeção do filme pois ele apenas passeia entre as cenas, visivelmente entediado.

Não era para menos, Speedway na realidade era apenas outro filme sobre pistas de corridas, garotas, músicas fracas e direção inexistente. A crítica da época não perdoou e demonstrou que a produção nada mais era do que apenas mais uma repetição de muitos filmes anteriores do "Rei do Rock". Eles tinham razão. Esse é outro filme de Elvis ao velho estilo, do começo ainda dos anos 60, o que em 1968, em plena época do movimento Hippie, dos movimentos sociais e das lutas políticas soava completamente quadrado e careta (aqui utilizando-se inclusive das gírias daqueles tempos). Sem sintonia com os jovens e o público o filme foi completamente ignorado, deixando as salas de cinema vazias e os LPs encalhados nas prateleiras das lojas de discos.

O projeto foi mais um da carreira de Elvis que que não se traduziu em sucesso, revelando de uma vez por todas que a antiga fórmula "brilhantemente" idealizada por Tom Parker estava completamente esgotada. Nem os fãs mais ardorosos prestigiaram. A trilha sonora chegou nas lojas um mês antes do lançamento do filme e se tornou um novo fracasso de vendas, com um péssimo 82º lugar entre os mais vendidos, sendo que na Inglaterra o resultado foi ainda mais desastroso pois sequer conseguiu classificação na parada inglesa entre os mais vendidos. No Brasil a RCA nacional, em vista do grande fracasso do disco lá fora, nem ao menos chegou a lançá-lo por aqui. Com tantos boletins desanimadores de vendas nas mãos e vendo que muitas de suas filiais estrangeiras nem sequer cogitavam mais de lançar o disco em seus respectivos países a RCA disse basta ao lançamento de trilhas e decretou o fim das mesmas, para o alívio geral, diga-se de passagem. A gravadora de Elvis realmente havia jogado a toalha e não iria mais investir nessa fórmula pois ela definitivamente só vinha trazendo prejuízos desde meados dos anos 60.

Para termos uma ideia da queda de vendas de Elvis no mercado basta apenas citar um dado revelador: Elvis Presley passou três anos sem sequer ter um álbum lançado no Brasil na segunda metade dos anos 60, o que demonstra como era grande o desinteresse pelo trabalho que ele vinha desenvolvendo na época. A trilha sonora de Speedway então, em vista de todo esse quadro desanimador, realmente foi a pá de cal nesse velho esquema inventado por Tom Parker de lançar filme / trilha no mercado. Foi a última trilha sonora da carreira de Elvis ao velho estilo e não deixou saudades. Um melancólico adeus, sem dúvida. A única nota positiva veio do advento de que o fracasso levou Elvis e seu empresário a repensar toda a sua carreira e procurar por mudanças, o que iria desaguar ainda nesse ano na gravação do maravilhoso NBC Special que iria literalmente ressuscitar a cambaleante carreira de Elvis. Realmente há males que vem para o bem, como diz o velho ditado. Essas são as canções da derradeira trilha sonora de Elvis Presley nos anos 60:

SPEEDWAY (Glazer - Schlaks} - Tudo é uma questão de comparação. Muitos afirmam que Speedway é um dos temas mais fracos já compostos para filmes de Elvis Presley! Será mesmo? Basta comparar. Spinout, por exemplo, é bem pior certamente. Obviamente que nunca poderíamos aqui cair na insensatez de comparar essa canção com temas do passado como King Creole e Jailhouse Rock. Essa seria uma comparação completamente absurda. Porém se formos nos limitar ao período pós 1965 até que Speedway não se sai completamente mal. Os compositores dessa canção (dois completos desconhecidos dentro da discografia de Elvis) até se saíram razoavelmente bem em termos de ritmo, que chega a ser agradável em algumas passagens, mas derrapam feio na letra, que é inegavelmente simplória demais. Claro que o tema, falando sobre assuntos relacionados a velocidade, carros e afins, não daria margem ao surgimento de nenhuma poesia parnasiana, mas até mesmo dentro do limitado campo artístico que o filme proporciona deixa a desejar. Elvis, como sempre, extremamente profissional, fez o melhor que pôde com o material que tinha em mãos e a canção pelo menos não aborrece em nenhum momento, tendo como maior mérito seu ritmo mesmo, como já escrevi antes. Certamente não é o melhor tema de filme já escrito para as produções de Elvis no cinema, mas fica longe de figurar entre os piores.

THERE AIN´T NOTHING LIKE A SONG (Byers - Johnston) - Byers ficou conhecido na história como o autor das melhores músicas dos piores discos de Elvis. Ele escreveu diversas músicas para filmes de Elvis, algumas realmente muito boas, que elevavam significativamente o valor artístico de algumas de suas trilhas sonoras. Essa música foi escolhida para fechar o filme, onde Elvis e Nancy Sinatra a cantam juntos. A letra é otimista e combina bem com o final feliz e Nancy, que nunca teve o carisma de seu grande pai, pelo menos não decepciona e mostra um certo talento no resultado final. Em suma, essa é uma boa canção da trilha sonora de Speedway.

YOUR TIME HASN´T COME YET BABY
(Hirschhorn - Kascho) - Não há como escapar. Dentro da fórmula "Elvis" de fazer filmes nos anos 60 quase sempre haveria uma música destinada ao público infantil. Odiadas por muitos, amadas por outros, essas canções infantis foram, para o bem ou para o mal, uma das marcas registradas das trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Infelizmente a qualidade delas foram decaindo ao longo dos anos, já que "Wooden Heart", a grande iniciadora desse subgênero, possuía inegável qualidade que não foi mantida pelas que vieram nos filmes posteriores. Aqui, outra dupla de compositores desconhecidos aterrissam na trilha e tentam trazer alguma novidade, porém sem sucesso. Agora complicado mesmo é entender como ela foi lançada como lado principal do single do filme, justamente em um momento que Elvis precisava desesperadamente de um sucesso nas paradas. O absurdo é tamanho que ela foi preferida até mesmo em detrimento de Let Yourself Go, a melhor canção da trilha, que foi jogada para o lado B do mesmo compacto. Simplesmente inexplicável.

WHO ARE YOU? (S. Wayne - B. Weisman) - Para se perceber como as trilhas sonoras de Elvis perderam qualidade ao longo dos anos basta apenas ouvir as baladas presentes nelas. Aqui temos uma canção cheia de lugares comuns, com letra banal. A cena em que Elvis a canta para Nancy Sinatra no filme demonstra claramente que depois de Ann-Margret Elvis nunca mais teve uma partner à altura. Nancy não consegue transmitir emoção e a química do casal nunca decola. Enfim, Who Are You? é uma balada apenas mediana, sendo seu único destaque um arranjo um pouco diferenciado das demais baladas de Elvis, mas nada que a eleve demais entre as muitas baladas cantadas por Elvis durante esse período de sua carreira. O único destaque digno de nota fica com o solo bem executado do grande músico Homer "Boots" Randolph, recentemente falecido. Fora isso nada mais chama a atenção.

HE´S YOUR UNCLE, NOT YOUR DAD (Wayne - Weisman) - Depois de um começo até certo ponto animador somos lembrados, da pior forma possível, pela dupla de autores dessa música, que estamos afinal apenas ouvindo mais uma das trilhas sonoras de Elvis dos anos 60, com tudo de ruim que isso afinal significa. Candidata forte ao título de pior canção do filme, "He's Your Uncle, Not Your Dad" é aquele tipo de música que só funciona ao se assistir ao filme e mesmo assim se você estiver com muito bom humor e boa vontade. Certo que o roteiro gira em torno de um piloto com dívidas fiscais com o governo norte-americano, mas convenhamos não precisava colocar um tema tão fraco e sem graça para Elvis cantar e baixar consideravelmente o nível da parte musical da trilha sonora. A cena do filme não se salva, a coreografia apresentada é ridícula, a letra é uma piada e harmonia inexiste aqui. Méritos apenas para Elvis que demonstra mais uma vez que era um cantor que conseguia injetar um pouco de talento até mesmo nas mais horríveis canções já escritas. Simplesmente constrangedor.

LET YOURSELF GO (Joy Byers) - Sempre lembrada como grande injustiçada, Let Yourself Go é praticamente unanimidade entre os especialistas como a melhor canção dessa trilha sonora. A música tem letra interessante, trazendo até mesmo pitadas de sensualidade e charme e poderia muito bem se destacar nas paradas caso tivesse sido lançada corretamente como destaque no single do filme. Elvis, que não conseguia um primeiro lugar desde 1962 com Good Luck Charm, finalmente tinha uma boa candidata a lutar por, pelo menos, o Top l0 da Billboard. Mas infelizmente a RCA a negligenciou, a inserindo como mero lado B da infantil "Your Time Hasn't Come Yet Baby", essa sim com chances nulas de se destacar na Billboard. O resultado já conhecemos: a música foi solenemente ignorada pelo público na época e nem mesmo a boa cena em que ela é apresentada no filme serviu para tirá-la de um injusto obscurantismo. Ainda tentaram corrigir o erro a utilizando no especial da NBC mas todos os clássicos ali presentes também ajudaram para que esse bom momento de Elvis nos estúdios na segunda metade dos anos 60 passasse praticamente em brancas nuvens.

FIVE SLEEPY HEADS (Sid Tepper - Roy C. Bennett) - Talvez o maior exemplo do esgotamento da fórmula das trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Depois de "Your Time Hasn't Come Yet Baby" era de se esperar que o disco estaria livre de canções infantis. Que nada. Parece que sem mais nada para colocar na trilha o Coronel e a RCA resolveram colocar Elvis para cantar outra musiquinha de ninar. No disco original ela aparecia bem depois de um solo de Nancy Sinatra, "Your Groovy Self", canção sem maiores atrativos que demonstrava que uma forcinha do nepotismo também poderia ajudar na carreira de qualquer um. Sem maiores atrativos podemos classificar "Five Sleepy Heads" como uma espécie de "Big Boots" tardia. Um mero prato requentado para quem gostou das primeiras trilhas de Elvis no começo dos anos 60 como G.I. Blues e definitivamente não recomendado para gourmets musicais mais exigentes.

WESTERN UNION (Tepper - Bennet) - Essa é a primeira bonus song do disco Speedway. A inclusão de uma canção como essa só serve para demonstrar como Elvis estava estagnado artisticamente. Qual artista iria aceitar colocar em um novo disco uma música gravada quase 5 anos antes e que simplesmente havia sido arquivada? Cinco anos é uma eternidade em termos de renovação musical, todas as mudanças que surgiram no mundo da música, ainda mais nos anos 60, fazia com que uma canção gravada em 1963 soasse completamente anacrônica em 1968. Seria algo como se os Beatles lançassem She Loves You no Álbum Branco. Enfim, desleixo, displicência e estagnação, apenas esses fatores justificam esse tipo de lançamento numa trilha sonora de Elvis Presley no final dos anos 60. Mas o pior nem é isso, o pior é saber que Western Union, mesmo com vocalização ultrapassada, arranjo desatualizado e falta de sincronia com o que se ouvia em 1968 conseguia ser ainda melhor que muitas das músicas do filme Speedway! Só podemos chegar na triste constatação que sim, Elvis ficou sem evoluir durante pelo menos cinco anos em sua carreira nos anos 60, chegando inclusive a involuir (sic) em certos aspectos! Lamentável.

MINE (Tepper - Bennett) - Em setembro de 1967 o produtor Felton Jarvis levou Elvis a Nashville com a clara intenção de produzir material de melhor qualidade que o que vinha sendo apresentando nas trilhas sonoras de seus últimos filmes. Felton reuniu a nata dos músicos da cidade e conseguiu grande êxito, gravando excelentes canções como por exemplo You'll Never Walk Alone, We Call on Him, Hi-Heel Sneakers, Just Call Me Lonesome, Big Boss Man e Guitar Man. Enfim, uma excelente sessão em todos os aspectos que poderia inclusive dar origem a um excelente LP caso a RCA assim desejasse. Mas infelizmente isso nunca ocorreu. Ao invés disso os produtores tiveram a péssima idéia de utilizar ótimas faixas como essas apenas como bonus songs de algumas das piores trilhas sonoras de Elvis, ofuscando completamente o belo retorno que poderiam trazer para a carreira do cantor. Esse é o caso de "Mine", gravada nessa mesma ocasião e jogada no lado B da trilha de Speedway. Um grande equívoco pois "Mine" é uma excelente balada, com ótima interpretação por parte de Elvis.

GOIN´ HOME (Byers) - Gravada em janeiro de 1968 durante as gravações de parte da trilha sonora do filme "Stay Away, Joe", em Nashville, a canção "Goin' Home" se transformou num verdadeiro pesadelo para Elvis em estúdio, fazendo com que o cantor tivesse que registrar 30 takes diferentes para chegar na versão oficial. Curiosamente essa foi uma das sessões mais interessantes de Elvis, senão vejamos: Ele gravou o clássico de Chuck Berry, Too Much Monkey Business, a ótima U.S. Male, que seria lançada em single e versões diversas de Stay Away. Isso pelo menos demonstrava pequenos e significativos sinais de mudança, até mesmo porque Elvis ia, aos poucos, deixando o material fraco de filmes de lado para gravar canções de qualidade. A lamentar apenas o fato de Goin' Home, que sempre foi uma ótima música, ser lançada de forma tão equivocada, como mera bonus song de Speedway. Merecia melhor destino certamente.

SUPPOSE (Dee - Goehring) - Suppose nunca ganhou uma boa versão na voz de Elvis Presley. Todas as suas versões oficiais (seja a versão mais longa ou mais curta) deixam a desejar. Também pudera, gravada nas mesmas sessões do restante da trilha de Speedway a canção nunca foi prioridade para Elvis, isso apesar de haver indícios de que ele pessoalmente gostava dela, tanto que gravações caseiras do cantor em Graceland a cantando e tocando piano já eram conhecidas pelos fãs desde os anos 80. Inicialmente a música foi cogitada para entrar no filme mas logo depois foi cortada por decisão dos executivos da MGM. Curiosidade: em Suppose ouvimos o amigo de Elvis, Charlie Hodge, tocando piano em momento inspirado.

Elvis Presley - Speedway (1968): Vocal: Elvis Presley / Guitarra: Chip Young / Guitarra: Hilmer J. "Tiny" Timbrell / Guitarra: Tommy Tedesco / Baixo: Bob Moore / Bateria: Murrey "Buddy" Harman / Bateria: D.J. Fontana / Piano: Larry Muhoberac / Piano: Charlie Hodge (somente na versão de Suppose) / Steel Guitar: Pete Drake / Saxophone: Homer "Boots" Randolph / Trumpete: Charlie McCoy / Backup Vocals: The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / Direção Musical: Jeff Alexander / Engenheiro: Eddie Bracket / Gravado no M.G.M. Studios, Hollywood, California / Data de Gravação: 20 a 21 e 26 de junho de 1967 / Data de lançamento: maio de 1968 / Melhor posição nas charts: #82 (EUA) e # - (UK) Obs: Não obteve classificação entre os mais vendidos na Grã Bretanha.

Pablo Aluísio - abril / maio de 2008.

O Bacana do Volante

Quando "Speedway" pintou nos cinemas em junho de 1968 Elvis Presley já estava com um pé fora de Hollywood. Ele tinha planos para retornar em um grande especial de TV na NBC e posteriormente voltar para a estrada, para aquilo que mais gostava de fazer, realizar shows ao vivo. Sua carreira em Hollywood havia entrado em um beco sem saída e assim todos já sabiam de antemão que ele tinha dois caminhos a seguir: ou continuava a tentar emplacar ano após ano com esse tipo de filme ou então voltar para a música de forma definitiva. "O Bacana do Volante" foi produzido pela MGM. Nesse estúdio Elvis amargou seus piores filmes. Ao contrário da Paramount que sempre procurava fazer algo no mínimo decente para ser lançado, na Metro, em sua eterna crise financeira, valia tudo ou quase tudo. Filmes rodados em duas semanas, sem capricho, sem cuidado com pobre qualidade técnica. "Speedway" não chega a ficar entre os piores filmes de Elvis nesse estúdio mas também não fica entre os melhores. Não há como negar que o roteiro é bem derivativo, copiado inclusive de outras fitas de Elvis no próprio estúdio. De fato há pouca coisa que separa esse filme de "Spinout", por exemplo. A trama era quase sempre a mesma: Elvis como piloto de corridas, se apaixona por alguma starlet, cantas algumas músicas e The End. Tudo muito leve e inofensivo.

O filme custou 1 milhão e meio de dólares e não deu prejuízo. Lançado no Sul dos EUA inicialmente, em pequenas cidades onde Elvis tinha seu público mais fiel, o filme logo recuperou seu investimento em poucas semanas. A estréia ocorreu na mesma cidade onde foram realizadas quase todas as cenas externas de corrida. Essas sequências foram realizadas por uma segunda unidade em Charlotte na Carolina do Norte onde todos os anos a cidade promovia uma famosa corrida de Stock Car. Todos os pilotos foram devidamente creditados, mostrando respeito dos produtores com esses profissionais. Só depois o estúdio finalmente o colocou em cartaz nos grandes centros (Nova Iorque, Los Angeles, etc) onde como sempre o filme foi impiedosamente malhado pela crítica especializada. Dividindo a tela com Elvis surge aqui Nancy Sinatra. Muito longe do carisma e o talento de uma Ann-Margret, Nancy fez o que foi possível para se tornar um boa partner para Elvis Presley. Dança, canta e tenta trazer alguma veracidade para o romance. Ela interpreta uma fiscal do imposto de renda que está atrás do piloto Steve Grayson (Elvis Presley) por sonegação. 

Já Elvis aqui apenas passeia em cena. Algumas canções são até boas - a própria "Speedway" tem bom ritmo e fluência, embora a letra seja fraca - mas ele visivelmente não se esforça muito. Em alguns momentos transparece até mesmo estar entediado. De qualquer modo o famoso cantor desfila um figurino interessante que anos depois seria parcialmente copiada pelos criadores do desenho animado Speed Racer. Em conclusão podemos dizer que "Speedway" até mesmo tem alguns bons momentos mas no geral a produção realmente deixa a desejar seja como musical, seja como comédia romântica. Revisto hoje em dia realmente o único interesse que sobrevive é a própria presença de Elvis Presley, que como todo mito tinha um carisma fora do normal, que o fazia sair ileso até mesmo de filmes como esse. Fora isso realmente não temos nada de muito marcante.

O Bacana do Volante (Speedway, EUA, 1968) Direção: Norman Taurog / Roteiro: Phil Shuken / Elenco: Elvis Presley, Nancy Sinatra, Bill Bixby, Gale Gordon / Sinopse: Susan Jacks (Nancy Sinatra) é uma agente fiscal do governo americano que vai no encalço de um piloto de corridas, Steve Grayson (Elvis Presley), que não pagou seu imposto de renda. Não demora muito para ela ficar completamente apaixonada pelo carismático corredor..

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol.4 (1968)

O ano de 1968 começou para Elvis com o lançamento do disco Elvis Gold Records vol. 4. Essa era uma coletânea dos principais sucessos de Elvis que chegaram ao mercado através de singles no período compreendido entre 1960 a 1967 (com ênfase maior entre 63 a 66). Basicamente segue o mesmo espírito dos volumes anteriores. Ouvindo esse CD percebemos bem como Elvis estava em crise nesse período de sua carreira. Não há entre as faixas nenhum grande hit, nenhuma música campeã de popularidade. Ao contrário do volume 1, que era recheado de megassucessos, do volume 2, que captou um ótimo momento da carreira rocker do cantor e do volume 3 que trazia os seus maiores sucessos logo após seu retorno à vida civil em 1960, o volume 4 consegue apenas reunir boas músicas, sem nenhum grande destaque, e o pior: sem ter sequer um número 1 para puxar o disco.

O CD abre com Love Letters, single de relativo sucesso lançado em 1966 (chegou ao sexto lugar nas paradas inglesas!). Essa versão não é a mesma que deu origem a um disco de Elvis do mesmo nome nos anos 70. É a mesma canção mas arranjada e executada de maneira completamente diversa. A versão original é bem melhor e sempre achei a versão de Elvis dos anos 70 desnecessária. Witchcraft vem logo a seguir. Até hoje não consegui entender o que essa música está fazendo aqui. Ela foi apenas o lado B do single Bossa Nova Baby e não fez sucesso nenhum quando foi lançada. Hit definitivamente ela nunca foi. O mesmo acontece com It Hurts Me. A canção é linda, mas nunca foi uma música digna do título de Gold Records. Ela foi lançada originalmente na discografia de Elvis como mero lado B do single Kissin Cousins e alcançou uma decepcionante 29ª posição! Não há como entender sua inclusão nesse disco.

Como esse período na carreira de Elvis foi marcado pelas trilhas sonoras, músicas de filmes não poderiam faltar. Assim temos What´D I Say de Viva Las Vegas e Lonely Man de Wild In The Country. São dois belos momentos da discografia de Elvis nos anos 60. O clássico absoluto de Ray Charles ganhou uma versão animada e com sabor pop na voz de Elvis, combinando perfeitamente com a proposta do filme e Lonely Man é seguramente uma das mais belas músicas de Elvis em sua fase Hollywoodiana, tanto pelo arranjo, como pela bela interpretação do cantor. Apesar de ter grandes méritos artísticos, nenhuma delas também foi grande sucesso na época de seus lançamentos. Lonely Man foi o lado B de Surrender (esse sim grande hit) e What`D I Say amargou uma 21ª posição nas paradas americanas.

O grande sucesso de todo o disco, se é que podemos qualificar assim, é realmente You´re The Devil In Disguise. O single, lançado em meados de 1963 chegou ao terceiro lugar nas paradas americanas, uma ótima posição para Elvis naquele momento. Como achar grandes hits estava complicado para os produtores que estavam selecionando as músicas desse disco resolveu-se acrescentar também o lado B do single, Please Don´t Drag That String Around. Percebam que no auge de Elvis, quando seus discos da série Golden Records eram lançados apenas com sucessos absolutos, seria impossível que uma canção como essa fosse incluída na seleção do repertório. Porém como Elvis estava em tempo de vacas magras ela foi sorrateiramente selecionada, mesmo sem ter feito sucesso nenhum.

O disco ainda conta com vários outros lados B: A Mess Of Blues (lado B do hit It´s Now Or Never) e Just Tell Her Jim Said Hello (lado B de She´s Not You). Duas músicas que só foram encaixadas porque, para ser sincero, não havia mais nenhum outro sucesso de Elvis para ser selecionado. O último single presente na coletânea é Ask Me / Ain´t That Loving Baby (essa um reaproveitamento dos anos 50). Apesar de ter chegado apenas a 12ª entre os mais vendidos ganhou seu espaço na série. Enfim, Elvis Gold Records vol. 4 é seguramente o mais fraco LP dessa série. É mal selecionado, equivocado e disperso, não fazendo jus ao espírito da série da qual faz parte. Também foi o último lançado na carreira do cantor (um quinto volume foi até inventado pela RCA, mas após a morte de Elvis).

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 (1968)
Love Letters
Whitcraft
It Hurts Me
What'd I Say
Please Don't Drag That String Around
Indescribably Blue
Devil in Disguise
Lonely Man
A Mess Of Blues
Ask Me
Ain't That Loving You Baby
Just Tell Her Jim Said Hello

Pablo Aluísio - setembro de 2009.

Elvis Presley - Stay Away Joe (1968)

Stay Away Joe (lançado no Brasil como Joe é muito vivo) foi o primeiro filme de Elvis Presley a surgir nas telas em 1968. O filme que foi rodado no Arizona era uma comédia rasgada, passada no moderno oeste americano. Nada que viesse a lembrar o filme anterior do cantor sobre o mesmo tema, Flaming Star. Aqui o clima é de total descontração, numa produção que lembra muito alguns filmes mais alternativos do final dos anos 60. Não há o menor indício de produção requintada ou algo parecido, tudo é muito despretensioso e leve. Elvis em particular passa a sensação que estava mais do que nunca se divertindo, pois sua "atuação" mais se parece com a de uma pessoa que está numa mera reunião de amigos, se divertindo no fim de semana (Realmente Elvis divide a cena com vários membros da Máfia de Memphis, principalmente nas divertidas cenas de briga no meio da lama).

O filme de certa forma mostra no que havia se transformado sua carreira no cinema. Ao invés de estar disputando por papéis realmente relevantes em boas produções, como um dia chegou a almejar, Elvis estava envolvido em mais um filme centrado única e exclusivamente em seu nome, sua fama e sua capacidade de atrair os espectadores às salas de cinema, não importando que produto fosse exibido. Infelizmente por volta de 1968 Elvis já não conseguia atrair tanta bilheteria assim, principalmente por ter queimado o filme em uma série incrível de produções B, sem nenhum atrativo além de ver o antigo ídolo cantando canções no meio de várias cenas sem nenhuma importância. Stay Away Joe não seguiu um caminho melhor, tendo ao final de sua carreira apenas uma humilde passagem pelas bilheterias americanas.

A trilha sonora, gravada parte em 1967 e completada alguns meses depois, já em 1968, não teve melhor sorte. Embora estivesse nos estúdios ao lado de seu grupo habitual não havia muito o que fazer com um material tão fraco como aquele. A canção título não passava de uma alegoria estereotipada dos nativos americanos, onde nem o arranjo levemente diferenciado se sobressaía. Elvis inclusive errou como nunca, sendo seus erros vocais levados para a master, um erro imperdoável por parte do produtor Jeff Alexander. O pior é Dominic, uma verdadeira aberração musical, que envergonhou tanto Elvis e sua banda que ele próprio exigiu garantias de que ela nunca seria lançada oficialmente em seus discos, sendo usada apenas na cena do filme.

As demais canções não ajudam muito. All I Need Was The Rain até tem arranjo interessante, lembrando um blues dos velhos tempos, com direito a gaita inspirada de Charlie McCoy. Infelizmente ela seria completamente desperdiçada na discografia de Elvis, passando em branco. A cena em que é apresentada no filme, com Elvis curtindo uma fase de baixa (será que se inspiraram na própria carreira de Elvis na época?) nada traz de muito inspirado ou relevante. Bem melhores são Goin´Home, que tecnicamente nem deve ser considerada parte da trilha em si, pois foi utilizada pessimamente como bônus no álbum de Speedway e Stay Away que até soa engraçadinha no meio desse lamaçal de músicas ruins.

A RCA após ouvir os resultados das sessões resolveu simplesmente ignorar todo o material. Embora o número de músicas fosse ideal para o lançamento de um EP (compacto duplo) a gravadora de Elvis resolveu não apostar de novo, depois do fracasso retumbante de Easy Come, Easy Go, nesse mesmo formato. A única consideração que a RCA teve com esse material foi o lançamento da música Stay Away como lado B do single US Male. Depois disso nada mais fez pelo restante das canções, a não ser colocá-las futuramente em coletâneas da série RCA CAMDEM, de discos promocionais, daqueles vendidos em supermercados pela metade do preço de um disco do selo principal da gravadora. Ah, antes que me esqueça: eles cumpriram a promessa feita a Elvis e jamais lançaram Dominic em discos oficiais (pelo menos enquanto ele estava vivo). Ao menos nisso tiveram bom senso.

Elvis Presley - Stay Away Joe (1968)
Stay Away Joe
Dominic
All I Need Was The Rain
Goin´ Home
Stay Away.

Elvis Presley - Stay Away Joe (1968): Vocais: Elvis Presley / Guitarra: Scotty Moore / Guitarra: Chip Young / Baixo: Bob Moore / Bateria: Murrey "Buddy" Harman / Bateria: D.J. Fontana / Piano: Floyd Cramer / Harmonica: Charlie McCoy / Violino: Gordon Terry / Backup Vocals: The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / Produzido por Jeff Alexander / Gravado nos Estúdios MGM Hollywood / Data de Gravação: 1 de outubro de 1967 e 15 a 17 de janeiro de 1968 / Data de lançamento: Fevereiro de 1968 (single US Male - Stay Away) / Melhor posição nas Charts: #67 (EUA) e #15 (UK) - (single US Male - Stay Away).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - How Great Thou Art (1967)

Em maio de 1966 Elvis finalmente entrou em estúdio para gravar material convencional, que não fizesse parte de seus filmes. O simples fato de lidar com material novo já era um alívio para os fãs que esperavam que Elvis retomasse sua carreira musical, longe um pouco das trilhas sonoras que vinha apresentando. O local de gravação escolhido foi o mesmo da grande maioria de seus álbuns de estúdio, o RCA Studios em Nashville. A grande novidade dessa sessão foi que Elvis voltaria a gravar material gospel, algo que não fazia desde 1960. Esse foi o primeiro grande trabalho do produtor Felton Jarvis ao lado de Elvis. Embora Elvis não tivesse se fixado a um único produtor ao longo dos anos 60 (eles mudavam constantemente de acordo com os interesses dos estúdios de cinema), Elvis e Felton logo iniciariam uma parceria de trabalho que iria cada vaz mais se fortalecer ao longo dos anos, principalmente nos anos 70, quando ele monopolizaria toda a produção dos discos do cantor naquela época.

How Great Thou Art foi importante na carreira de Elvis Presley por diversas razões: Foi o primeiro trabalho consistente do cantor em muitos anos; contou com uma produção extremamente inspirada e trouxe grande reconhecimento da crítica (algo que definitivamente faltava a Elvis naquele momento, pois ele vinha sendo constantemente criticado por suas trilhas sonoras de gosto duvidoso). Além disso o álbum finalmente consolidou seu prestigio como intérprete de música religiosa, algo que lhe trazia grande orgulho pessoal. Porém, de todos os méritos alcançados pelo disco o maior foi sem dúvida ter conquistado o prêmio Grammy de melhor Performance de Música Sacra de 1967. Embora tenha concorrido por várias vezes ao Grammy nos anos anteriores, Elvis jamais havia ganho o cobiçado "Oscar" da música americana. Agora ele finalmente havia sido merecidamente premiado e justamente pelo estilo musical do qual mais admirava. O repertório de How Great Thou Art é vasto e rico. O cantor fez uma excelente escolha da seleção musical, que é bem ampla e abrangente, procurando transitar por todas as vertentes da música religiosa americana. Com isso temos canções contemporâneas a Elvis naquele momento dividindo espaço no álbum com músicas clássicas e consagradas dentro do movimento evangélico americano. Para os admiradores do gênero realmente foi um Menu extremamente amplo e de bom gosto. Segue abaixo as principais referências do disco.

HOW GREAT THOU ART (Stuart K. Hine) - Escrita em 1886 pelo Reverendo Carl Boberg com o nome de "O Stored Gud". Em 1907 o Reverendo Stuart K. Hine escreveu a primeira versão em língua inglesa, esta por sua vez baseada na versão alemã da canção intitulada "Wie Gross Bist Du". A primeira gravação foi de George Beverly Shea em 1955, seguida da versão dos Blackwood Brothers em 1957. Elvis recebeu o prêmio Grammy na categoria "Melhor Performance Inspirativa" por sua interpretação desta música em 1974 no disco "Elvis As Recorded Live On Stage in Memphis" (1974). Sem dúvida um marco na carreira de Presley.

IN THE GARDEN (C.Austin Miles) - Música composta no início do século, mais exatamente em 1912. Em 1960 fez parte da trilha sonora do filme "Wild River" (rio selvagem, 1960). Entre os grandes nomes que a gravaram estão Mahalia Jackson e Jim Reeves.

SOMEBODY BIGGER THAN YOU AND I (Johnny Lange / Walter Heath - Joseph Burke) - Canção Spiritual bem ao gosto de Presley. O cantor e ator Gene Autry a gravou com grande sucesso para a trilha do filme "The Old West" (o velho oeste, 1951). Mahalia Jackson também fez sua versão, sendo ela aliás, uma das cantoras preferidas de Elvis. Finalmente o grupo "The Ink Spots" fez uma versão muito bem arranjada em 1951.

FARTHER ALONG (W.B.Stone) - Escrita em 1937. Foi gravada por Red Foley e Bill Monroe, autor de "Blue Moon of Kentucky". Certamente uma canção a qual Elvis deve ter tido contato ainda na infância, em Tupelo ou Memphis. Certamente uma das que mais tem ligação emocional com o cantor.

STAND BY ME (Charles B.Tindley) - Não é a famosa canção de Ben E.King que se tornou um grande sucesso nos anos 70 na voz de John Lennon e que foi tema do filme "Stand by Me (conta comigo) nos anos 80. Esta é na verdade, uma música composta em 1905 que foi gravada por Red Foley e pelo grupo The Harmonizing Four (o melhor grupo vocal da história, segundo Elvis). Era uma das preferidas de Elvis no período em que ele esteve servindo o exército na Alemanha.

WITHOUT HIM (Myron LeFreve) - Há controvérsia se o autor LeFreve a gravou em estúdio. Se isto ocorreu a gravação sumiu e não se tem a certeza absoluta da existência deste disco. Em 1956 Frankie Lane a gravou e alcançou um relativo sucesso na parada da revista Billboard na categoria "Gospel Music".

SO HIGH (Tradicional) - Foi gravada inicialmente por Rosetta Tharp. Em 1959 a cantora LaVern Backer a gravou com o título de "So High, So Low" e alcançou um grande sucesso. Elvis disse mais tarde em uma entrevista coletiva: "Não existe nada mais belo do que um grupo vocal em harmonia cantando Gospel". Esta canção é um exemplo do que ele se refere.

WHERE COULD I GO BUT THE LORD (James B. Coats) - Música por demais conhecida no mundo Gospel norte americano. Foi escrita inicialmente pela dupla de compositores K.E.Harris e J.M.Black em 1890. Em 1940 J.B.Coats escreveu uma versão bastante modificada. Foi gravada ainda por Red Foley em 1951 e por Faron Young em 1954. Elvis a utilizou ainda no NBC TV Special num medley com outras canções evangélicas.

BY AND BY (Charles B. Tindley) - Escrita em 1905. Lançada por Soul Stirrers e Bill Monroe. Elvis Presley já havia gravado um disco Gospel de grande sucesso em 1960 intitulado "His Hand in Mine". Em 1972 ele ainda lançaria mais um chamado "He Touched Me", este também grande sucesso e vencedor de mais um Grammy na categoria "melhor performance religiosa". Tamanha a simbiose entre Música Gospel e Elvis Presley que os três únicos prêmios Grammy da sua carreira foram conquistados através de seus trabalhos religiosos.

IF THE LORD WASN'T WALKING BY MY SIDE (Henry Slaughter) - O autor Henry era o pianista do grupo vocal The Imperials e escreveu esta canção em 1961. Elvis por essa época estava profundamente envolvido em questões religiosas, lendo e estudando muito sobre o assunto, tanto que resolveu construir um jardim em Graceland voltado para meditação e oração. O chamado "Jardim da meditação" hoje é o lugar de eterno repouso do cantor.

RUN ON (tradicional) - Música de outro grupo vocal, o "Golden Gate Quartet". Não é novidade para os que estudam sua biografia o fato de Elvis ter ambicionado desde muito jovem em fazer parte de um quarteto de música religiosa. Aliás esse sempre foi seu grande sonho na juventude. Embora nunca tenha realizado esse desejo Elvis nunca deixou de trabalhar ao lado de grupos vocais gospel, mesmo em seus anos mais roqueiros, como nos anos 50, onde usou um grupo vocal gospel, The Jordanaires, para lhe acompanhar até mesmo nos mais vibrantes rocks.

WHERE NO ONE STANDS ALONE (Mosie Lister) - Escrito sob encomenda para o grupo "Statemen Quartet" em 1955. O cantor Don Gibson também fez uma versão. Além dos três discos Gospel de Elvis (His Hand in Mine, How Great Thou Art e He Touched Me) iriam ser lançadas diversas coletâneas Gospel ao longo de sua carreira como "He Walks Beside Me" e "You'll Never Walk Alone". A reunião definitiva dos trabalhos sacros de Elvis iria se concretizar através da caixa de CDs lançadas nos anos 90 "Amazing Grace" reunindo todas as músicas Gospel de Elvis Presley em seus 21 anos de carreira.

CRYING IN THE CHAPEL (Artie Glenn) - Escrita por Artie Glenn em 1953 com apenas 16 anos de idade. Chegou ao primeiro lugar nas paradas R&B com o obscuro grupo Sonny Till and the Orioles. Em 1953 esta música explodiu nas paradas nas vozes de Rex Allen e June Valli. A versão de Elvis foi gravada em 1960. Se tornou um single de enorme sucesso em 1965. O sucesso foi tamanho que o single com "I believe in the man in the Sky" (canção do disco "His Hand In Mine") no lado B chegou ao primeiro lugar na parada britânica. Crying In The Chapel não fez parte dos trabalhos de How Great Thou Art mas devido a toda esta repercussão anterior a canção foi incluída no disco para ajudar em sua promoção.

Elvis Presley - How Great Thou Art (1967): Elvis Presley (vocal, piano e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Henry Strzelecky (baixo) / Charlie McCoy (baixo e gaita) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria e timba) / Floyd Cramer (piano) / Henry Slaugter (piano) / David Briggs (orgão) / Pete Drake (steel guitar) / Boots Randolph (sax) / Rufus Long (sax) / Ray Stevens (piston) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham, June Page, Dolores Edgin & Sandy Posey (vocais) / The Imperials (vocais) / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis & Elvis Presley / Local de gravação: RCA Studios B, Nashville / Data de gravação: 25 a 28 de maio de 1966 / Lançado em fevereiro de 1967 / Melhor posição nas charts: #18 (EUA) e #11 (UK).

Pablo Aluísio - Maio de 2000 / revisado e atualizado em novembro de 2001 / Introdução: setembro de 2009.

Elvis Presley - Elvis Studios Highlights 1967

No meio de uma grave crise musical, amenizada um pouco pelo recém lançamento de seu disco Gospel, How Great Thou Art, Elvis voltou aos estúdios em setembro de 1967 para gravar material convencional. Embora o número de canções agendadas fossem suficientes para compor um novo álbum a intenção dos produtores não era bem essa ao iniciar os trabalhos. O principal objetivo era produzir material com certa qualidade para compor os novos singles de Elvis. O problema era que o material das trilhas sonoras não mais chamava a atenção do público e os singles de Elvis cada vez mais derrapavam na parada. Ter um single de sucesso, coisa que Elvis não tinha desde 1962, era o principal motivo de todos estarem lá com o astro tentando reencontrar o caminho do sucesso.

No começo a RCA selecionou um amplo leque de opções de canções à disposição de Elvis para ele escolher o repertório da sessão. O problema é Elvis odiou a maioria das músicas. Elas lembravam muito a sonoridade de suas últimas trilhas sonoras e isso definitivamente não era o que Elvis procurava. Ele queria voltar a gravar material de qualidade, algo que causasse impacto novamente nas paradas de sucesso, algo realmente marcante. Com Felton Jarvis ao lado, Elvis sentiu segurança suficiente para escolher o que iria gravar com calma e paciência. Nada da correria que imperava nas sessões das trilhas dos estúdios de cinema. No fundo Elvis sabia que estava ali para voltar a produzir música de qualidade e não músicas que provavelmente só funcionariam nas cenas do filme.

E foi com esse pensamento que Elvis começou as sessões gravando Guitar Man e Big Boss Man. Duas canções com letras fortes e de auto afirmação. O que mais atraiu Elvis em Guitar Man foi justamente seu arranjo country, gênero que Elvis havia cada vez mais se afastado em seus anos de Hollywood. Já Big Boss Man deixou a todos empolgados, tanto que ela seria rapidamente lançada ainda naquele mês, junto a You Don´t Know Me. Para se ter uma ideia de como estava complicado o mercado de singles de Elvis para a RCA seu lançamento anterior nada mais era do que uma reprise do disco Something For Everybody, de 1960. Infelizmente a pressa e a vontade de ganhar rapidamente em cima do nome de Elvis atrapalharam os primeiros singles dessa sessão. A falta de publicidade fez com que Big Boss Man chegasse apenas em uma desoladora 34ª posição. O pior aconteceu com Guitar Man, que não conseguiu emplacar entre os 40 mais.

Essa sessão de setembro porém não foi realizada apenas visando o mercado de singles. A velocidade com que as trilhas sonoras chegavam no mercado e a insuficiência de músicas para completar cronologicamente um álbum fez com que a RCA inventasse as chamadas Bonus Songs. Músicas sem relação com os filmes mas que serviam como forma de se evitar que as trilhas fossem curtas demais. Infelizmente essas músicas, algumas delas ótimas, se perderam no meio de trilhas francamente ruins e jamais tiveram seus méritos reconhecidos, atoladas que estavam em meio a material sem importância. Foi visando justamente a produção de Bonus Songs que Elvis dedicou parte de seu tempo nessas sessões de setembro: Mine, Singing Tree e Just Call Me Lonesome, três boas músicas gravadas por Elvis nessa ocasião, tiveram esse infeliz destino.

Como não poderia deixar de ser, empolgado que estava pelo êxito de seu álbum religioso How Great Thou Art, Elvis se dedicou também a gravar algumas canções gospel, entre elas a linda You´ll Never Walk Alone, que acabou sendo lançada em single no começo de 1968 com We Call On Him, outra música gravada nessa mesma sessão. A interpretação de Elvis nessa música realmente demonstrava que em posse de material de qualidade Elvis ainda era plenamente capaz de emocionar e ser relevante musicalmente de novo. You´ll Never Walk Alone seria inclusive o último single de relevância de Elvis a ser lançado até If I Can Dream no final de 1968, o compacto que traria Elvis de volta definitivamente à parada de singles da Billboard. Embora a sessão de setembro de 1967 não tenha trazido o sucesso comercial de volta à carreira de Elvis Presley, ela serviu para que o cantor fosse novamente citado nas revistas e jornais especializados de forma elogiosa, pois os singles ganharam várias críticas positivas em seus lançamentos, algo que definitivamente ele não recebia desde a primeira metade dos anos 60. Não resta a menor dúvida que a gravação dessas músicas mostrou ao cantor e a seu empresário que o caminho a seguir não mais passava pela gravação das maçantes trilhas mas sim pela busca de material de excelência artística. Gravando bom material Elvis iria naturalmente voltar ao sucesso, fato que se confirmaria plenamente no ano que nascia, 1968, o ano do Comeback na carreira do cantor.

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.