Mostrando postagens com marcador John Ford. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador John Ford. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Homem Que Matou o Facínora

“Quando a lenda se torna mais interessante do que o fato, que se publique a lenda”. Essa frase colocada na boca de um dos personagens de “O Homem que Matou o Facínora” resume muito bem esse maravilhoso western, um dos grandes clássicos da história do cinema americano. John Ford, um mestre em extrair grandes lições de histórias aparentemente simples, aqui tem um dos momentos mais inspirados de toda a sua carreira. E diante da obra cinematográfica que ele produziu ao longo da vida isso definitivamente não é pouca coisa!

No filme acompanhamos a chegada do senador Ransom Stoddard (James Stewart) na pequenina cidade onde começou sua carreira política muitos anos antes. Ele vem para o enterro de um velho conhecido, Tom Doniphon (John Wayne). Mas quem seria Tom Doniphon na realidade? Através de flashback somos apresentados aos acontecimentos do passado onde Tom e Ranson tomaram parte em eventos que ficariam na história da região – e que em consequência levaria Ranson a ter uma extremamente bem sucedida carreira política nos anos que viriam. O enredo, como se pode perceber, tem uma inteligente linha narrativa.

John Ford, ao lado da equipe de roteiristas, trabalhou maravilhosamente bem o roteiro, com vários leituras sublimares que apenas um ótimo texto poderia explorar bem. Um dessas mensagens nas entrelinhas é o papel desempenhado pelo próprio personagem de John Wayne. Embora tenha sido creditado como o ator principal do filme (fruto de seu status de grande astro na época) o fato é que seu personagem é meramente coadjuvante na trama, mesmo que não seja um papel secundário qualquer.

Na realidade esse filme é uma parábola da capacidade de se doar pela felicidade de quem se ama. Tom é um rústico cowboy do interior, mas sua paixão pela jovem Hallie (Vera Miles) é tão profunda e sincera que ele deixa de lado até mesmo seus interesses pessoais para proteger Ranson (Stewart) pois é óbvio que Hallie o tem em grande consideração. Embora durão no exterior, Tom (Wayne) é na verdade uma pessoa extremamente altruísta, solidária e leal a ponto de ficar em segundo plano, abrindo mão de seus próprios sonhos pela felicidade da mulher que ama. Falar mais sobre a trama seria tirar parte de seu impacto.

Outro ponto excelente da produção é seu elenco excepcional. Como se não bastasse termos dois mitos em cena, James Stewart e John Wayne, o filme também apresenta um elenco de apoio de respeito, igualmente formado por grandes atores de sua época, a começar pelos que interpretam os bandidos do filme. Liberty Valance, o facínora do título nacional, é interpretado com brilhantismo por Lee Marvin, um ícone dos filmes de western. Ao seu lado, formando o bando de criminosos, está o famoso Lee Van Cleef que estrelaria uma longa série de faroestes nos anos seguintes, com destaque para as produções que rodou na Itália. Em suma, "O Homem Que Matou o Facínora" é um desses faroestes que podemos qualificar, sem medo de exageros, como monumental. É um western que privilegia o lado mais humano de seus personagens. É um exemplo de que mesmo dentro do gênero faroeste seria possível emplacar grandes dramas humanos. Um grande momento nas carreiras de John Wayne, James Stewart e John Ford. Impecável em todos os sentidos. Obra-prima da sétima arte.

O Homem Que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, Estados Unidos, 1962) Direção: John Ford / Roteiro: James Warner Bellah, Willis Goldbeck baseados na história de Dorothy M. Johnson / Elenco: John Wayne, James Stewart, Vera Miles, Lee Marvin, Lee Van Cleef, Edmond O'Brien, Andy Devine / Sinopse: Ransom Stoddard (James Stewart) é um jovem e idealista advogado recém formado que vai até uma distante cidadezinha do oeste para iniciar sua carreira jurídica. Durante a viagem é assaltado e espancado pelo fora-da-lei Liberty Valance (Lee Marvin). Jurando colocá-lo na cadeia, usando de meios legais, Ransom inicia uma luta pessoal pela implantação da lei e ordem naquela região selvagem. Para isso conta com o apoio da jovem Hallie (Vera Miles) e do durão Tom Doniphon (John Wayne). Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Edith Head).

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Aventureiro do Pacífico

Em 1961 Elvis Presley estourou nas bilheterias americanas com "Feitiço Havaiano". A fita seria a primeira do cantor realizada nas ilhas havaianas. Diante do sucesso o mesmo estúdio do filme de Elvis resolveu reunir praticamente a mesma equipe e o mesmo produtor, Hall Wallis, para repetir o sucesso usando da mesma fórmula: muitas paisagens bonitas, roteiro leve e divertido e música local. O curioso nesse projeto foi o fato da Paramount ter escalado a dupla John Wayne / John Ford para a empreitada. Conhecidos pelos grandes westerns, verdadeiros clássicos do cinema, foram ao Havaí para filmar "O Aventureiro do Pacífico" que em Portugal recebeu o curioso título de "A Taberna do Irlandês" (nome que também ficou conhecido no Brasil pois foi exibido na TV algumas vezes com esse mesmo título). A fita destoa de tudo o que um dia já realizaram. Era despretensiosa, tipicamente um filme de verão para ser consumido nas matinês da garotada em férias escolares. Pode-se afirmar inclusive sem medo de errar que "O Aventureiro do Pacífico" é o filme mais leve e sem pretensão de toda a carreira de John Ford.

Assim como "Feitiço Havaiano", "O Aventureiro do Pacífico" é basicamente isso mesmo, um filme de verão, muito leve, divertido, o que se pode chamar de uma aventura para toda a família. John Wayne continuava com seu carisma intacto, fazendo o dono de uma taberna para marinheiros. Já Lee Marvin faz um dos poucos personagens cômicos de sua carreira. O roteiro ainda toca timidamente na questão racial envolvendo nativos e americanos mas tudo numa sutileza planejadamente inofensiva, para não chocar ninguém. No final das contas a produção vale por sua fotografia (não poderia ser diferente uma vez que o Havaí é maravilhoso) e pelas cenas divertidas e descompromissadas. Da carreira do John Ford esse é seguramente seu filme mais inofensivo em todos os aspectos.

O Aventureiro do Pacífico (Donovan's Reef, Estados Unidos, 1963) Direção: John Ford / Roteiro: Frank S. Nugent, James Edward Grant / Elenco: John Wayne, Lee Marvin, Elizabeth Allen, Jack Warden / Sinopse: Michael Patrick 'Guns' Donovan (John Wayne) vive tranquliamente no Havaí quando é surpreendido pela chegada na ilha de Ameilia Dedham (Elizabeth Allen) que vem trazer várias surpresas para seu sossegado e tranquilo cotidiano.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões

Título no Brasil: O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões
Título Original: The Prisoner of Shark Island
Ano de Produção: 1936
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: John Ford
Roteiro: Nunnally Johnson
Elenco: Warner Baxter, Gloria Stuart, Claude Gillingwater, Arthur Byron, O.P. Heggie, Harry Carey

Sinopse:
Após o assassinato do presidente Lincoln, seu assassino vai parar na casa do Dr. Samuel Alexander Mudd. O médico trata da perna quebrada do criminoso, mas isso vira um enorme problema em sua vida. Ele é acusado e condenado por conspiração na morte do presidente, mas ele insiste em sua inocência. Não adianta, ele é enviado para uma ilha distante, onde cumprirá sua pena em uma prisão no lugar.

Comentários:
Esse filme mostra uma história real, de um médico que pagou caro por ajudar ao assassino de Lincoln. O roteiro parte da teoria de que o Dr Mudd era mesmo inocente e nada teria a ver com a morte do presidente. Tudo bem, é uma opção do roteiro, porém as coisas não foram exatamente como mostradas no filme. O médico conhecia o assassino. Não foi uma pessoa estranha que bateu em sua porta durante a madrugada para que ele lhe atendesse. Provas confirmaram no julgamento da época que o Dr. Mudd esteve várias vezes com o criminoso antes da noite da morte de Lincoln. Além disso o médico era um dono de escravos que foi muito prejudicado pela abolição da escravidão. Registros mostram também que ele havia matado um escravo. Era dono de terras, de grandes plantações de tabaco. Não era um santo como mostrado no filme. Era um sulista e confederado fanático. Por isso assista ao filme com reservas. Veja o bom cinema que John Ford conseguia fazer, mas não acredite em tudo o que se passa no filme. É uma excelente película, mas não inteiramente fiel aos fatos históricos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Sangue por Glória

Título no Brasil: Sangue por Glória
Título Original: What Price Glory
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: John Ford
Roteiro: Phoebe Ephron, Henry Ephron
Elenco: James Cagney, Corinne Calvet, Dan Dailey, William Demarest, Craig Hill, Robert Wagner

Sinopse:
Durante a Primeira Guerra Mundial, dois militares americanos servindo na França, o Capitão Flagg (James Cagney) e o Sargento Quirt (Dan Dailey), disputam o amor de uma bela francesa chamada Charmaine (Corinne Calvet). Ela é a filha do dono da taverna, tem bela voz e encanta a todos que a conhecem.

Comentários:
O fato do filme ser ambientado na Primeira Guerra Mundial, ser dirigido por John Ford e contar com James Cagney no elenco, pode levar algum cinéfilo a pensar que se trata de um daqueles épicos filmes de guerra do passado. Ainda mais com esse título pomposo de "Sangue por Glória". Não se trata disso. Não pense que vai encontrar grandes batalhas e grandes cenas de heroísmo. O filme, por mais incrível que isso possa parecer, está mais para comédia romântica. Tem música, cenas divertidas e personagens bem caricatos. O poster original do filme aliás entrega parte disso, é só prestar bem atenção. O tom é leve, embora de vez em quando (muito de vez em quando) mostre algum campo de batalha. James Cagney inclusive está muito bem em um tipo de papel que não era o seu habitual. O seu Capitão é do tipo nervosinho, mas que não dispenha uma boa garrafa de vinho francês. Na cena final, quando ele surge bêbado, o ator bem demonstra essa sua veia cômica. É um bom filme, mas o espectador precisa estar no clima certo. Se alguém for esperando um grande filme de guerra, com longas batalhas e cenas de ação, vai obviamente se decepcionar. Caso contrário, se quiser dar algumas boas risadas, então é o tipo ideal de programa para ver.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Cine Western


John Ford
O diretor John Ford foi premiado com o Oscar 4 vezes. Ele venceu o prêmio pelos filmes Depois do Vendaval, Como Era Verde o Meu Vale, As Vinhas da Ira e O Delator. Curiosamente considerado um dos maiores diretores do western americano jamais foi premiado por algum de seus grandes clássicos no gênero cinematográfico que tanto amava. No final da vida atribuiu isso a um certo preconceito da academia contra "os filmes de cowboy" como ela gostava de dizer em relação aos filmes de faroeste. 


O Preconceito em Hollywood
Hattie McDaniel foi a primeira negra a vencer um Oscar. Isso aconteceu em 1939 com seu trabalho no filme "E O Vento Levou". O Preconceito racial era tão forte na época que ela sequer teve o direito de ficar na platéia durante a cerimônia pois apenas brancos poderiam sentar no teatro onde a Academia realizava a entrega das estatuetas. Quando seu nome foi divulgado ela entrou pelas portas dos fundos, pegou seu Oscar e saiu. Isso foi o retrato mais cruel de um tempo em que todos os envolvidos deveriam se envergonhar... e muito!

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Sangue de Heróis (1948)

Sangue de Heróis (Fort Apache, EUA, 1948) é considerado um dos grandes filmes de cavalaria da história do cinema americano. Estrelado pelos astros John Wayne e Henry Fonda e dirigido pelo mestre John Ford, a fita é considerada um patrimônio cultural dos Estados Unidos pelo congresso. Aqui vão algumas curiosidades sobre esse clássico absoluto do western:

1. John Ford não se deu bem com a estrelinha Shirley Temple. Na época em que o filme foi realizado ela já tinha 19 anos de idade. Acontece que Temple foi a maior estrela mirim da história de Hollywood. Conforme foi ficando mais velha seus filmes foram fazendo menos sucesso a cada ano. Ela foi imposta pelo estúdio a Ford que se aborreceu com isso.

2. John Ford usou descendentes nativos Navajos para interpretar Apaches. Em sua visão esses indígenas eram mais profissionais para se trabalhar. Ele também descartou completamente a possibilidade de usar figurantes brancos pintados como índios. Para Ford isso era absurdo e não parecia convincente nas telas. Mais de 200 Navajos foram contratados para trabalharem como guerreiros e outro 100 para atuarem como crianças e mulheres da tribo.

3. Henry Fonda trabalhou nove vezes ao lado de John Ford durante sua carreira. Apesar disso jamais se acostumou com a maneira truculenta do diretor que muitas vezes usava de linguagem rude para dirigir seus atores. Isso se mostrava adequado para John Wayne que costumava responder de forma igualmente rude às provocações e xingamentos de Ford, mas para Fonda, que tinha uma educação mais elegante e refinada, tudo gerava apenas mal estar. Segundo algumas testemunhas Fonda chegava a tecer lágrimas após mais uma sessão de desaforos de Ford durante as filmagens.

4. John Ford mandou que o roteiro fosse o mais fiel possível aos fatos históricos. O enredo girava em torno dos erros cometidos pelo General Custer que levou ao massacre da Sétima Cavalaria do exército americano que estava sob seu comando. Inicialmente Ford queria filmar tudo na mesma região onde os fatos aconteceram - um lugar conhecido como Little Big Horn, mas depois foi convencido pelo estúdio que essa não seria uma boa ideia.

5. O forte construído para o filme ficou de pé por anos. Ele foi inclusive reutilizado para a série de TV "As Aventuras de Rin Tin Tin". Localizado na cidade de Simi Valley na Califórnia o local atrai turistas até os dias de hoje.

6. John Ford proibia a presença de filhos e esposas dos atores durante as filmagens, mas acabou deixando John Wayne trazer seu filho Michael Wayne para o set de filmagens no Monument Valley. Anos depois Michael lembraria como era duro trabalhar naquele lugar onde só havia deserto. Para ele não havia outra opção no lugar a não ser o trabalho e isso deixava Ford muito satisfeito.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

John Wayne e John Ford

Sem dúvida dentro da mitologia do western americano não podemos deixar de lado uma das duplas mais significativas da história do cinema americano: John Wayne e John Ford. Quando Ford começou a trabalhar com Wayne esse já era de certa maneira um ator popular e conhecido do público das grandes matinês. John Wayne tinha estrelado inúmeros filmes de bang bang antes de encontrar John Ford. Essas produções eram populares, tinham ótimas bilheterias, porém não contavam com o respaldo da crítica que as consideravam apenas entretenimento comum, sem qualquer tipo de status de grande arte. Apenas ao lado de John Ford o mito John Wayne seria alçado rumo ao panteão dos grandes ídolos do cinema americano. O curioso é que Ford tinha uma relação de amor e ódio com o ator. Quase sempre demonstrava ter pouca paciência com Wayne, principalmente por ele não ser considerado naquela altura de sua vida um grande ator.

"Quantas expressões faciais você tem seu hipopótamo?" - Desafiava John Ford durante as filmagens. Wayne não deixava barato e respondia: "Mais do que você pensa seu caolho desgraçado!". Isso pode soar rude e grosseiro para muitas pessoas, porém quem já teve uma amizade masculina sincera fundada em pequenas rusgas como essas saberá e entenderá que tudo não passava de uma nada delicada brincadeira entre os dois. É natural entre homens esse tipo de tratamento que nunca pode ser encarado como uma ofensa legítima, mas sim como uma forma íntima de tratar alguém que você tem intimidade suficiente para provocar e instigar. Nos filmes John Ford e John Wayne funcionavam em perfeita harmonia.

Ford procurava pelo resgate do homem íntegro e honesto que desbravou o velho oeste não apenas no aspecto puramente territorial, mas também psicológico. O americano que ia rumo ao oeste o fazia com o espírito de lá fundar suas raízes, criar sua família, viver muitas vezes da terra. Para Ford esse era o verdadeiro herói nacional. Um homem duro como rocha que encarava todos os desafios, como a aridez da região, o ataque de selvagens e a hostilidade da natureza para se firmar ali e criar uma civilização, baseada principalmente em seus valores de trabalho, ética e honestidade.

Em John Wayne o diretor enxergava o tipo ideal para personificar esse pioneiro. John Wayne era muito querido dentro da indústria, principalmente por ser considerado um profissional correto e digno de confiança. Além disso tinha uma reputação impecável, como homem honesto e cumpridor de suas obrigações. Em tantos anos de carreira jamais havia se envolvido em qualquer escândalo seja de que natureza fosse. Ao contrário de outros ídolos seu nome era respeitado dentro da comunidade cinematográfica. Além disso seu visual, mais velho, com sobrepeso, mas expressão firme e decidida, caía como uma luva nos personagens dos filmes de Ford. Os pioneiros dos século XVIII e XIX eram mesmo a cara de John Wayne. Dessa feliz fusão de ator e diretor nasceram alguns dos maiores clássicos do faroeste norte-americano que iremos tratar em uma série de textos nas próximas semanas. Até lá...

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

John Wayne e John Ford


John Wayne e John Ford
Rara foto entre o diretor John Ford e o ator John Wayne. Juntos fizeram alguns dos maiores clássicos do faroeste americano, filmes que são consideradas obras de arte da história dos Estados Unidos.


sábado, 24 de junho de 2006

Audazes e Malditos

Braxton Rutledge (Woody Strode) é um sargento negro do exército americano que é acusado de matar um oficial superior. Como se isso não bastasse ainda é apontado também como o assassino e estuprador de uma jovem garota. Para defendê-lo é indicado como advogado de defesa o tenente Tom Cantrell (Jeffrey Hunter). Instaurada a corte marcial todos tentarão desvendar o que realmente teria acontecido. "Audazes e Malditos" é mais um belo western do consagrado diretor John Ford. Geralmente filmes de cavalaria americana sempre dão bons filmes e com Ford na direção não poderia sair outro resultado. Porém o filme se diferencia dos demais que John Ford fez sobre o exército americano. Muita coisa que vemos em sua famosa trilogia da cavalaria não se repete aqui. Em "Audazes e Malditos" temos um autêntico filme de tribunal, só que obviamente passado no velho oeste. Embora haja conflitos entre soldados e Apaches (mostrados em flashbacks) a ação propriamente dita não se desenrola no meio do deserto mas sim em depoimentos, testemunhos e evidências que são apresentadas durante a corte marcial do sargento.

Para um filme assim Ford teve que convocar um bom elenco de atores. Jeffrey Hunter está muito bem no papel do tenente que tenta de todas as formas inocentar o acusado. Para falar a verdade não me recordo de nenhuma outra atuação dele tão boa quanto essa. Era sem dúvidas um bom ator que ficou imortalizado não apenas no papel de Jesus Cristo em "Rei dos Reis" como também por ter sido o primeiro piloto da nave Enterprise no episódio de estreia da série "Jornada nas Estrelas" que na época foi considerada "cerebral" demais para os padrões da TV americana. Uma pena que tenha morrido tão jovem. Outro destaque é a presença de Woody Strode como o sargento negro acusado de assassinato e estupro. Sua postura é das melhores e ele mostra que era excelente ator em pequenos detalhes, no olhar, na convicção e na dignidade. Por todas essas razões recomendo "Audazes e Malditos" não apenas aos fãs de John Ford, esse genial cineasta, mas também a todos que gostam de edificantes tramas jurídicos. Certamente não irão se arrepender.

Audazes e Malditos (Sergeant Rutledge, EUA, 1960) Direção: John Ford / Roteiro: James Warner Bellah, Willis Goldbeck baseado no conto "Shadow of the Noose" de John Hawkins e Ward Hawkins / Elenco: Jeffrey Hunter, Woody Strode, Constance Towers, Carleton Young / Sinopse: Baxton Rutledge (Woody Strode) é um sargento negro do exército americano que é acusado de matar um oficial superior. Como se isso não bastasse ainda é apontado também como o assassino e estuprador de uma jovem garota. Para defendê-lo é indicado como advogado de defesa o tenente Tom Cantrell (Jeffrey Hunter). Instaurada a corte marcial todos tentarão desvendar o que realmente teria acontecido

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de junho de 2006

Sangue de Heróis

Baseado no livro de James Warner Bellah, "Fort Apache - Sangue de Heróis" é um ótimo faroeste. Produzido e dirigido por John Ford, ele é o primeiro de uma trilogia realizada pelo cineasta sobre a cavalaria do exército americano, pós-guerra civil. Os dois outros, igualmente ótimos, são "Legião Invencível", de 1949, e "Rio Grande", de 1950. O filme gira em torno de um arrogante coronel da cavalaria americana, disposto a tudo para ter o reconhecimento do governo dos EUA por seus relevantes serviços prestados à nação. Para tanto, despreza os conselhos de seus auxiliares mais próximos, conhecedores dos problemas vividos pelos apaches, no longínquo território do Arizona e se envolve numa guerra desnecessária e suicida contra os indígenas, que só queriam ser tratados com um pouco de respeito e justiça. E o que chama a atenção é que, após sua morte, ele consegue ser oficialmente reconhecido como herói, muito embora tenha injustificadamente sacrificado a vida de centenas de homens sob seu comando.

Além do belo trabalho realizado por Ford, o filme conta com um roteiro muito bem estruturado e com a magnífica fotografia de Archie Stout. Henry Fonda está soberbo no papel do coronel Thursday, seguido de John Wayne, como o oficial que se rebela contra suas ordens. Adicionalmente "Fort Apache - Sangue de Heróis" conta ainda com um elenco coadjuvante de primeira linha, com nomes como Ward Bond, Victor McLaglen, George O'Brien e Pedro Armendáriz, entre outros. Shirley Temple, a garota prodígio da década de 30, faz um bom trabalho como adulta, na época com 20 anos de idade. O roteiro (e obviamente o livro que lhe deu origem) são em essência uma romantização em cima da história real do General Custer. Após ser morto pelas tribos comandadas por Cavalo Louco e Touro Sentado, Custer virou um herói nacional nos EUA. Na realidade ele era um carreirista que não media esforços para subir na carreira, não importando as consequências de seus atos. O Coronel Thursday do filme nada mais é do que uma alegoria da personalidade verdadeira do Custer histórico. Por tudo isso e muito mais o filme hoje é simplesmente essencial para os fãs do grande cinema da era de ouro de Hollywood. Sem dúvida uma obra magnífica.

Sangue de Heróis (Fort Apache, Estados Unidos, 1948) / Direção: John Ford / Roteiro: Frank S. Nugent, James Warner Bellah / Elenco: John Wayne, Henry Fonda, Ward Bond, Shirley Temple e John Agar / Sinopse: Sangue de Heróis é o primeiro filme da grande trilogia western do renomado diretor John Ford. O filme é baseado na história real do famoso General Custer que na vida real era um carreirista que não media esforços para subir na hierarquia militar.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Rastros de Ódio

Título no Brasil: Rastros de Ódio
Título Original: The Searchers
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Ford
Roteiro: Frank S. Nugent, Alan Le May
Elenco: John Wayne, Jeffrey Hunter, Natalie Wood, Vera Miles, John Qualen, Ward Bond

Sinopse:
O clássico do western "Rastros de Ódio" conta a história de Ethan Edwards (John Wayne), um veterano da Guerra Civil americana que embarca em uma jornada para resgatar sua sobrinha que fora raptada por guerreiros Comanches. Achar a garota passa a se tornar a obsessão de sua vida e ele se mostra disposto a tudo para resgatá-la das mãos dos nativos.

Comentários:
O próprio John Wayne costumava dizer que esse era o melhor filme de sua carreira. Tão orgulhoso ficou de seu trabalho e de seu personagem que resolveu dar o nome de Ethan a um de seus filhos. E como se isso não bastasse dizia e repetia em entrevistas que desejava ser lembrado justamente por esse "Rastros de Ódio". Não era pouca coisa. E realmente estamos mesmo diante de um filme inesquecível que marcou época na história do cinema. O diretor John Ford aqui chegou seguramente no ponto alto de sua rica carreira de cineasta. O filme pode ser considerado sua maior obra-prima. O desenvolvimento psicológico de todos os personagens era algo raro em filmes de faroeste na década de 1950. O roteiro e a direção acentuaram isso, transformando a trajetória do protagonista não apenas em uma jornada obsessiva, mas também em uma busca de si mesmo, de seus valores mais importantes. Aclamado por publico e crítica o filme foi absurdamente injustiçado pelo Oscar, passando em brancas nuvens pela Academia. Um retrato de um certo preconceito que existia contra filmes de faroeste. Não faz mal, "Rastros de Ódio" é uma obra cinematográfica tão maravilhosa que não precisaria mesmo de prêmios como esse para marcar sua posteridade.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Ao Rufar dos Tambores

Um filme do mestre John Ford menos conhecido. Porém não menos importante. Na história um casal de jovens pioneiros se casa. Mal a cerimônia de casamento termina e eles já sobem em uma carroça em direção ao oeste. O marido, Gilbert Martin (Henry Fonda), comprou um rancho na fronteira. A esposa, Lana Magdelana (Claudette Colbert) é uma moça da cidade e fica assustada com a rudeza do lugar. Fica mais apavorada ainda quando encontra um velho índio, amigo de Gilbert, dentro de sua casa. Apesar desses sustos iniciais as coisas seguem até bem nos primeiros dias.

Só que estoura a guerra de independência das 13 colônias americanas. Os ingleses se aliam com tribos de índios que atacam e queimam as fazendas dos colonos, inclusive a casa onde vive o casal que protagoniza a história. Eles fogem, conseguem sobreviver e se instalam em um forte de madeira mantido e defendido pelos próprios habitantes da região. A guerra é feroz, muitos homens morrem no campo de batalha e Lana logo percebe como é dura a vida de uma mulher naquelas terras sem lei, forjadas na violência.

"Ao Rufar dos Tambores" é um filme muito bom, explorando a vida dos pioneiros do oeste em um momento muito delicado da história dos Estados Unidos. Há cenas emblemáticas, como a da apresentação da primeiras bandeira da nova nação para as pessoas que viviam na fronteira selvagem. Como é de praxe em filmes de John Ford ele também acrescentou alguns breves momentos de humor para não deixar o filme tão pesado. Henry Fonda, como sempre ótimo, mas quem acaba roubando a cena é a atriz que interpreta sua esposa, Claudette Colbert. Enfim, um filme que resgata a vida de pessoas comuns, no limiar do nascimento daquela jovem nação.

Ao Rufar dos Tambores (Drums Along the Mohawk, Estados Unidos, 1939) Direção: John Ford / Roteiro: Lamar Trotti, Sonya Levien / Elenco: Claudette Colbert, Henry Fonda, Edna May Oliver, Eddie Collins / Sinopse: Um casal de pioneiros tenta vencer na vida, em um rancho da fronteira, durante a guerra de independência dos Estados Unidos. No novo lar acabam sendo atacados por índios e ingleses, que lutam contra a separação do colônia do império britânico. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Edna May Oliver).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de março de 2006

O Homem Que Matou o Facínora

“Quando a lenda se torna mais interessante do que o fato, que se publique a lenda”. Essa frase colocada na boca de um dos personagens de “O Homem que Matou o Facínora” resume muito bem esse maravilhoso western, um dos grandes clássicos da história do cinema americano. John Ford, um mestre em extrair grandes lições de histórias aparentemente simples, aqui tem um dos momentos mais inspirados de toda a sua carreira. E diante da obra cinematográfica que ele produziu ao longo da vida isso definitivamente não é pouca coisa! No filme acompanhamos a chegada do senador Ransom Stoddard (James Stewart) na pequenina cidade onde começou sua carreira política muitos anos antes. Ele vem para o enterro de um velho conhecido, Tom Doniphon (John Wayne). Mas quem seria Tom Doniphon na realidade? Através de flashback somos apresentados aos acontecimentos do passado onde Tom e Ranson tomaram parte em eventos que ficariam na história da região – e que em consequência levaria Ranson a ter uma extremamente bem sucedida carreira política nos anos que viriam. O enredo, como se pode perceber, tem uma inteligente linha narrativa.

John Ford, ao lado da equipe de roteiristas, trabalhou maravilhosamente bem o roteiro, com vários leituras sublimares que apenas um ótimo texto poderia explorar bem. Um dessas mensagens nas entrelinhas é o papel desempenhado pelo próprio personagem de John Wayne. Embora tenha sido creditado como o ator principal do filme (fruto de seu status de grande astro na época) o fato é que seu personagem é meramente coadjuvante na trama, mesmo que não seja um papel secundário qualquer.

Na realidade esse filme é uma parábola da capacidade de se doar pela felicidade de quem se ama. Tom é um rústico cowboy do interior, mas sua paixão pela jovem Hallie (Vera Miles) é tão profunda e sincera que ele deixa de lado até mesmo seus interesses pessoais para proteger Ranson (Stewart) pois é óbvio que Hallie o tem em grande consideração. Embora durão no exterior, Tom (Wayne) é na verdade uma pessoa extremamente altruísta, solidária e leal a ponto de ficar em segundo plano, abrindo mão de seus próprios sonhos pela felicidade da mulher que ama. Falar mais sobre a trama seria tirar parte de seu impacto.

Outro ponto excelente da produção é seu elenco excepcional. Como se não bastasse termos dois mitos em cena, James Stewart e John Wayne, o filme também apresenta um elenco de apoio de respeito, igualmente formado por grandes atores de sua época, a começar pelos que interpretam os bandidos do filme. Liberty Valance, o facínora do título nacional, é interpretado com brilhantismo por Lee Marvin, um ícone dos filmes de western. Ao seu lado, formando o bando de criminosos, está o famoso Lee Van Cleef que estrelaria uma longa série de faroestes nos anos seguintes, com destaque para as produções que rodou na Itália. Em suma, "O Homem Que Matou o Facínora" é um desses faroestes que podemos qualificar, sem medo de exageros, como monumental. É um western que privilegia o lado mais humano de seus personagens. É um exemplo de que mesmo dentro do gênero faroeste seria possível emplacar grandes dramas humanos. Um grande momento nas carreiras de John Wayne, James Stewart e John Ford. Impecável em todos os sentidos. Obra-prima da sétima arte.

O Homem Que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, Estados Unidos, 1962) Direção: John Ford / Roteiro: James Warner Bellah, Willis Goldbeck baseados na história de Dorothy M. Johnson / Elenco: John Wayne, James Stewart, Vera Miles, Lee Marvin, Lee Van Cleef, Edmond O'Brien, Andy Devine / Sinopse: Ransom Stoddard (James Stewart) é um jovem e idealista advogado recém formado que vai até uma distante cidadezinha do oeste para iniciar sua carreira jurídica. Durante a viagem é assaltado e espancado pelo fora-da-lei Liberty Valance (Lee Marvin). Jurando colocá-lo na cadeia, usando de meios legais, Ransom inicia uma luta pessoal pela implantação da lei e ordem naquela região selvagem. Para isso conta com o apoio da jovem Hallie (Vera Miles) e do durão Tom Doniphon (John Wayne). Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Edith Head).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de março de 2006

Legião Invencível

"Legião Invencível" é o segundo filme da trilogia dirigida por John Ford retratando a cavalaria americana. O primeiro, "Sangue de Heróis", era uma alegoria dos acontecimentos que levaram a sétima cavalaria do exército americano a ser dizimada por tribos hostis. Era de certa maneira uma crítica mordaz de Ford para com o fato do General Custer ser idolatrado pelo exército como um herói. Aqui o tema continua. Não é necessariamente uma sequência do filme anterior, personagens são diferentes e finalmente o nome Custer surge em cena (no anterior o papel que seria de Custer foi transferido para a de um Coronel puramente ficcional, embora sua estória seja obviamente a do famoso General). Aqui o enredo começa após o massacre de Custer e sua sétima cavalaria. Prestes a se aposentar o Capitão Nathan Brittles (John Wayne) tem que lidar com os efeitos terríveis de Little Big Horn. A moral das tropas sobreviventes, o risco eminente de um novo ataque e os novos problemas decorrentes da mudança de liderança em um forte avançado são algumas das situações que ele deve contornar.

O elenco novamente conta com o ator preferido de John Ford, o eterno cowboy John Wayne. Fazendo o papel de um personagem muito mais velho do que ele na época, Wayne foi fortemente maquiado para parecer um veterano Capitão perto da aposentadoria. Conciliador tenta abrir uma linha de diálogo com os líderes nativos, mesmo com resultados adversos. John Ford novamente foi a Monument Valley para rodar todas aquelas cenas clássicas que tanto conhecemos - com os montes ao fundo em pleno crepúsculo (uma das marcas registradas da carreira do cineasta). O filme é muito bem fotografado e de forma em geral muito mais leve do que "Sangue de Heróis". Não há muitas cenas de ação (afinal a grande batalha sangrenta havia acontecido no filme anterior) sendo que o filme se apoia muito mais no cotidiano da vida dos soldados no posto avançado. O humor também se faz presente, como quase sempre acontecia nos filmes de Ford. Em conclusão podemos considerar "Legião Invencível" um belo filme que traz uma interessante mensagem em seu roteiro, a de que a paz só será alcançada mesmo com atos de diplomacia e tolerância religiosa e cultural. A guerra, como sempre, nunca será a solução para nenhum problema envolvendo choque de civilizações e culturas.

Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon, EUA, 1949) Direção: John Ford / Roteiro: James Warner Bellah, Frank S. Nugent / Elenco: John Wayne, Joanne Dru, John Agar, Ben Johnson, Harry Carey Jr / Sinopse: Após a morte do General Custer e toda a sétima cavalaria o Capitão Nathan Brittles (John Wayne) tem que lidar com os efeitos terríveis de Little Big Horn. A moral das tropas sobreviventes, o risco eminente de um novo ataque e os novos problemas decorrentes da mudança de liderança em um forte avançado são algumas das situações que ele deve contornar.

Pablo Aluísio.