quarta-feira, 10 de março de 2010

Elvis Presley - A morte de Elvis por Priscilla Presley

Em abril de 1977 Elvis ficou doente, teve que cancelar uma excursão e voltar para Graceland. Lisa e eu estávamos lá, visitando Dodger (a avó do cantor). Ele me chamou a seu quarto. Não olhou para si mesmo, o rosto e o corpo estavam inchados. Vestia um pijama, o traje que parecia preferir agora quando estava em casa. Tinha nas mãos o livro dos números de Cheiro e disse que queria que eu lesse alguma coisa. Sua busca por respostas não se extinguira. Ainda procurava seu propósito na vida, ainda achava que não encontrara a sua vocação. Se descobrisse uma causa para defender, quer fosse uma sociedade sem drogas ou a paz mundial, teria o papel que procurava na vida. Sua generosidade era a prova dessa parte de sua natureza – a legendária propensão para dar, até mesmo incontáveis pessoas que não conhecia.

Mas Elvis jamais encontrou uma cruzada para tirá-lo de seu mundo enclausurado, uma disciplina bastante forte para anular a fuga nas drogas, naquela noite ele leu para mim, procurando por respostas, exatamente como fizera no ano anterior e em todos outros anos antes. Foi a última vez em que o encontrei.

Embarcamos no avião Lisa Marie por volta das nove horas daquela noite, 16 de agosto de 1977, apenas meus pais, Michele, Jerry Schilling, Joan Esposito e mais uns poucos amigos íntimos. A principio, fiquei sentada sozinha, desesperada. Depois, fui para a parte posterior do avião onde ficava o quarto de Elvis. Deitei ali, incapaz de acreditar que Elvis estava mesmo morto.

Lembrei dos gracejos que Elvis costumava dizer em relação a morte:

"Será sensacional para mim deixar esse mundo"
Contudo, ele usava no pescoço uma corrente com uma cruz e com uma estrela de Davi. Dizia que queria estar coberto por todos os lados "Não quero perder o paraíso por um detalhe técnico". Tinha medo de voar, mas nunca o demonstrava, Elvis nunca deixava transparecer os seus medos. Achava que tinha a responsabilidade de fazer com que todos nós sentissem seguros. Dava a impressão de ser confiante porque não queria que os outros ficassem desanimados.

Lembrei de uma ocasião em que estávamos voando de Los Angeles para Memphis. Havia muita turbulência e o avião sacudia bastante. Todos a bordo estavam assustados. Menos Elvis. Quando o fitei, ele sorriu e pegou minha mão

- "Não se preocupe, Baby. Vamos chegar lá"

No mesmo instante eu me senti segura. Havia uma certeza em Elvis. Se ele dizia que uma coisa aconteceria assim, então não restava a menor dúvida.

A viagem pareceu interminável. Eu estava completamente atordoada ao chegarmos a Memphis. Fomos levados a uma limousine à espera na pista, a fim de evitar os fotógrafos. Partimos a toda velocidade para Graceland, onde fomos recebidos por rostos frenéticos e incrédulos, de parentes, amigos íntimos e criados – as mesmas pessoas que nos havia cercado por tantos anos. Eu passara a maior parte de minha vida com aquela gente e olhar para todos agora foi Terrível.

A maior parte da família de Elvis – Vovó, Vernon, suas irmãs Delta e Hash, e outros – estava reunida no quarto de vovó, enquanto os amigos e os caras que trabalhavam para Elvis se concentrava nos Estúdios. Todos pareciam se limitar a entrar e sair dos cômodos, em silêncio, solenes, olhando ao redor com expressões incrédulas.

Vovó cuidava da casa, cozinhava, mantinha a tudo e a todos sob controle. Tinha o ar de uma pessoa com um propósito resoluto na vida, que no caso de Elvis era providenciar para que ele fosse bem cuidado. Quando morava em Graceland ficávamos por horas a fio juntas conversando, ela me falava dos velhos tempos, sobre Gladys e seu profundo amor por Elvis, sobre a terrível luta que os Presleys haviam travado pela sobrevivência. Ela vivia com Vernon e Gladys desde o nascimento de Elvis, ajudando quando Gladys arrumava um emprego para ajudar no sustento da casa. Uma mulher forte, vovó agüentara firme quando o marido fora embora, deixando-a com cinco filhos. Queria que todos acreditassem que tinha um ressentimento contra J.D. Presley, mas Dodger tinha um coração que a tudo perdoava e tenho a impressão que ainda gostava dele. Sempre falava que Elvis tinha sido um bom menino, nunca se meteu em qualquer encrenca mais grave, sempre saía da escola e voltava direto para casa, cumpria com suas obrigações. Fui informada de que o esforço constante de Gladys para proteger Elvis era o resultado de sua angústia pela morte do irmão gêmeo de Elvis, Jesse Garon. Aprendi a amar Dodger e o que ela representava – compaixão e devoção total a família.

Lisa estava lá fora, no gramado, em companhia de uma amiga, passeando no carrinho de golfe que o pai lhe dera. A princípio, fiquei aturdida por ela brincar numa ocasião como aquela, mas depois compreendi que Lisa ainda não fora ainda plenamente atingida pelo impacto do que acontecera. Vira a ambulância levando Elvis e ele ainda estava no hospital quando cheguei, por isso, Lisa estava confusa

E verdade? – perguntou ela – papai morreu mesmo?

Mas uma vez eu me senti desolada, sem saber o que dizer. Era nossa filha. Já era difícil para mim acreditar e enfrentar a morte de Elvis. Não sabia como contar a Lisa como nunca mais tornaria a ver o pai novamente. Balancei a cabeça e depois abracei-a Depois Lisa se afastou e voltou a passear de carrinho de golfe. Mas agora eu estava mais contente por ela ser capaz de brincar. Sabia que era sua maneira de evitar a realidade, era apenas uma criança.

A noite parecia interminável. Várias pessoas sentaram em torno da mesa de jantar, conversando. Foi então que tomei conhecimento das circunstâncias da morte de Elvis. Fui informada de que Elvis jogara tênis com seu primo Billy Smith até às quatro horas da madrugada, com a mulher de Billy, Jo, e a namorada de Elvis, Ginger, assistindo. Depois, todos se retiraram para dormir, mas enquanto Ginger dormia, Elvis permaneceu acordado, lendo. Ligou para tia Delta e disse que queria um pouco de água gelada, estava tendo dificuldades para dormir.

Elvis ainda estava lendo quando Ginger acordou, às nove horas da manhã, e quando ela voltou a dormir, por volta de uma hora da tarde. Quando ela despertou, Elvis não estava na cama. Foi encontrá-lo caído no chão do banheiro. Ginger gritou por socorro e Al Strada e Joe Esposito subiram correndo. Depois de chamar a ambulância, Joe aplicou respiração boca a boca em Elvis. Quando a ambulância estava saindo com Elvis para o hospital, seu médico particular, Dr Nick, apareceu e foi junto para o Memorial Batista. Ali os médicos tentaram por meia hora ressuscitar Elvis. Mas foi tudo inútil. Ele foi declarado morto ao chegar, de parada cardíaca. Vernon pediu a autópsia. O corpo foi levado para a agência funerária Memphis, a fim de ser preparado para a exposição no dia seguinte.

Enquanto estava escutando o relato das últimas horas de Elvis, fui me sentido cada vez mais perturbada. Havia dúvidas demais. Elvis raramente ficava sozinho por períodos prolongados. Subitamente compreendi que precisava ficar sozinha. Subi para a suíte de Elvis, onde passáramos boa parte de nossa vida conjugal. Os aposentos estavam arrumados mais do que o normal, muitos de seus pertences pessoais haviam desaparecido, não havia livros na mesinha de cabeceira, onde foi parar seus livros queridos, aqueles que ele jamais se separava? Fui ao seu quarto de vestir e era como se pudesse sentir sua presença viva – sua flagrância característica impregnava o quarto. Era uma sensação fantástica.

Pela janela da sala de jantar pude ver as milhares de pessoas que esperavam no Elvis Presley Boulevard pelo carro que traria seu corpo de volta a Graceland. Sua música enchia o ar, com as emissoras de rádio de todo o país prestando seu tributo ao rei.

Não demorou muito para que o caixão fosse instalado no vestíbulo da frente, aberto à visitação pública. Fiquei no quarto de vovó a maior parte daquela noite, enquanto milhares de pessoas do mundo inteiro apareciam, prestando sua última homenagem. Muitas choravam, alguns homens e mulheres até desmaiaram. Outras se demoravam junto ao caixão, recusando-se a acreditar que era ele mesmo. Elvis fora realmente amado, admirado e respeitado.

Esperei pelo momento certo para Lisa e eu nos despedirmos. Era tarde da noite e Elvis já fora transferido para a sala de estar, onde seria realizado o funeral. Havia silêncio, todos haviam ido embora. Juntas, ficamos paradas ao lado do caixão emocionadas. "Você parece tão sereno, Sattnin, tão descansado...sei que vai encontrar lá toda a felicidade e todas as respostas" Lisa pegou minha mão e pusemos no pulso direito de Elvis uma pulseira de prata , mostrando mãe e filha de mãos dadas.

- "Vamos sentir sua falta... "- murmurei

O coronel Parker compareceu ao funeral usando seu habitual quepe de beisebol, camisa e calça esporte. Disfarçou suas emoções da melhor forma que pôde. Elvis fora como um filho para ele. Um homem da velha escola, o coronel era considerado um homem de negócios de coração frio. Mas, na verdade, permaneceu fiel e leal a Elvis, mesmo quando sua carreira começara a declinar. Naquele dia pediu a Vernon que assinasse um contrato prolongando a sua posição como agente de Elvis. Já estava planejando meios de manter o nome de Elvis na lembrança do público. Agiu depressa, receando que Vernon, com a morte de Elvis, ficasse transtornado demais para cuidar direito das muitas propostas iminentes. Vernon assinou.

Durante o serviço religioso, Lisa e eu sentamos junto de Vernon e sua nova noiva, Sandy Miller, Dodger, Delta, Patsy, meus pais, Michelle e o resto da família. George Hamilton estava presente. Ann-Margret compareceu em companhia do marido, Roger Smith. Ann apresentou suas condolências com tanta sinceridade que senti um vínculo genuíno com ela.

J.D. e os Stamps Quartet cantaram as músicas evangélicas prediletas de Elvis. Vernon escolhera o pregador, um homem que mal conhecia Elvis e falou principalmente de sua generosidade. Elvis provavelmente teria rido e diria ao pai: "Não poderiam Ter arrumado um comediante ou algo parecido?" Elvis não queria que o lamentássemos.

Encerrado o serviço, fomos para o cemitério, Lisa e eu acompanhamos Vernon e Sandy. Ficava a cinco quilômetros da casa e por todo o percurso havia pessoas nos dois lados da rua, com outra milhares de pessoas no cemitério. Os carregadores do caixão – Jerry Schilling, Charlie Hodge, Dr Nick e Gene Smith – levaram-no até o mausoléu de mármore. Houve uma breve cerimônia e depois, um a um, todos nos aproximamos do caixão, beijamos ou tocamos, murmuramos algumas palavras finais de despedida. Depois, por medida de segurança, Elvis foi transferido para o jardim de Graceland, seu local de repouso eterno.

Antes de Lisa e eu voltarmos a Los Angeles, Vernon pediu-me que fosse ao escritório. Ele estava desesperado. Eu sabia de qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a compreender por que o filho morrera? Vernon jamais aceitou plenamente e creio que a angústia o levou a morte, assim como vovó também não se recuperou da morte de Vernon.

Eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. A morte de Elvis tornou-me muito mais consciente de minha própria mortalidade e das pessoas que eu amava. Compreendi que era melhor começar a partilhar mais com as pessoas com quem me importava, cada momento que tinha com minha filha ou meus pais se tornou mais precioso.

Aprendi com Elvis, muitas vezes – lamentavelmente – com seus erros. Aprendi que Ter muitas pessoas ao redor pode minar suas energias. Aprendi o preço de tentar fazer todos felizes. Elvis dava presentes a alguns e deixava outros ciumentos, freqüentemente criando rivalidades e ansiedades no grupo. Aprendi a confrontar as pessoas e os problemas – duas coisas que Elvis sempre evitara.

Aprendi a assumir o controle da minha vida. Elvis era tão jovem quando se tornara um astro que nunca fora capaz de manipular o poder e o dinheiro que acompanhavam a fama. Sob muitos aspectos, ele foi uma vítima, destruído pelas próprias pessoas que atendiam a todos os seus desejos e necessidades. Foi também uma vítima de sua imagem. O público queria que ele fosse perfeito, enquanto a imprensa implacavelmente exagerava os seus defeitos. Nunca teve a oportunidade de ser humano, de crescer para se tornar um adulto amadurecido, experimentar o mundo além de seu casulo artificial.

Quando Elvis Presley morreu, um pouco de nossas próprias vidas nos foi tirado, de todos que conheciam e amavam Elvis Presley, que partilharam suas Músicas e filmes, que acompanharam sua carreira. Sua paixão era divertir os amigos e os fãs. O público era seu verdadeiro amor. E o amor que Elvis e eu partilhamos foi profundo e permanente.

Passei muitas horas recordando momentos de meu passado que são para mim pedaços da história, significativos e memoráveis. Quando decidi contar essa história, não tinha a menor idéia de como seria uma tarefa difícil e emocionada. Muito se disse e escreveu a respeito de Elvis, por aqueles que o conheciam e outros que não conheciam mas diziam que conheciam. Espero Ter oferecido uma perspectiva melhor do que ele foi como um homem. Outros livros apresentaram uma imagem não muito lisonjeira, ressaltando suas fraquezas, excentricidades, explosões violentas, perversões e abuso de drogas. Eu queria escrever sobre amor, momentos preciosos e maravilhosos, outros repletos de sofrimento e desapontamento, sobre os triunfos e derrotas de um homem, uma grande parte com uma criança mulher ao seu lado, sentindo e experimentando suas angústias e alegrias como se fossem uma só pessoa.

Eu não seria honesta se não dissesse, ao revelar nossa vida, tão invejada, que não foi fácil para mim. Houve muitas ocasiões em que desejei pular fora, desistir, esquecer ou abrir mão daquele amor tão penoso. Alguns vão achar que omiti muitas datas importantes, fatos específicos e histórias incontáveis. Não creio que alguém possa sequer começar a captar a magia, sensibilidade, charme, generosidade e grandeza desse homem que tanto influenciou e contribuiu para a nossa cultura através de sua arte e sua música. Nunca tive intenção de realizar tal feito, queria apenas contar uma história. Elvis foi uma alma gentil, que emocionou e proporcionou felicidade a milhões de pessoas no mundo inteiro e continua a ser respeitado por seus semelhantes.

Ele era um homem, um homem muito especial.

Escrito por Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" (Elvis and me, 1985)

terça-feira, 9 de março de 2010

Elvis Presley - O dia em que Priscilla conheceu Elvis

Como toda adolescente americana, Priscilla Beaulieu era fã de Elvis Presley. Aos 14 anos, quando morava na Alemanha, conheceu seu ídolo, que lá servia o exército, e viveu um inesperado conto de fadas: apaixonaram-se profundamente e viveram um romance que se prolongou por 14 anos. Esta é a história desses anos, contada por Priscilla. É um relato sentido e verdadeiro de sua vida com um dos mais famosos cantores de todos os tempos, onde nos é revelado também o quanto o sucesso afetou a personalidade desse músico inovador, talentoso e sensual. Assediado pela imprensa, disputado pelas mulheres, obrigado a enfrentar o ritmo frenético do show business, o rapaz simpático e generoso tornou-se uma pessoa insegura, angustiada, sujeito a crises emocionais, profissionais e existenciais. 

Envolvida numa relação de ternura e dependência, a mocinha que se moldara ao gosto de seu ídolo - amante - marido, e que nele concentrava todo o seu universo afetivo, teve que lutar muito para buscar o equilíbrio entre o amor, a devoção e suas próprias escolhas pessoais. A vida pessoal, o lado oculto do grande astro internacional são descritos, sem meias palavras, num retrato pungente dos bastidores da glória de Elvis Presley. Priscilla Beaulieu conheceu Elvis melhor do que ninguém. Durante muitos anos ela viveu com o homem que era o ídolo de milhões de pessoas ao redor do mundo. Esta é a história de um amor verdadeiro entre duas pessoas. Aos nos relatar neste livro a apaixonada e conflitante relação que ambos viveram, ela torna pública também a intimidade do mais famoso cantor de todos os tempos, suas manias, fraquezas, virtudes, suas crises místicas e sua moral ambígua. Presa na rede do amor e da devoção, ela tentou ser o que Elvis dela se esperava. Mas não tardou a amargar a decepção e o ciúme, ao ter que assistir, quase impotente, sua crescente necessidade de emoções fortes e o assédio constante das mulheres. É um depoimento sincero, saudoso e emocionado. Leia a seguir o primeiro capítulo de "Elvis e Eu":

Era o ano de 1956. Eu morava com minha família na base Bergstrom, da Força Aérea, em Austin, Texas, onde meu pai, então Capitão Joseph Paul Beaulieu, um oficial de carreira, estava estacionado. Ele chegou tarde para o jantar e me entregou um disco. - 'Não sei nada sobre esse tal de Elvis, mas deve ser muito especial' - comentou ele - 'Entrei na fila com a metade da Força Aérea para comprar esse disco no reembolsável'. Todo mundo está querendo. Pus o disco na vitrola e ouvi o rock "Blue Suede Shoes". O disco chamava-se "Elvis Presley". Era seu primeiro lançamento. Como quase todos os jovens dos Estados Unidos, eu gostava de Elvis, embora não com o fanatismo de minhas amigas da escola secundária de Del Valley. Todas tinham camisas de Elvis, chapéus de Elvis e meias soquetes de Elvis, além de batons em cores como "Hound Dog Orange" e "Heartbreak Pink". Elvis estava em toda parte, nas figurinhas de goma de mascar e em bermudas, em diários e carteiras, em fotografias que brilhavam no escuro. Os garotos na escola começavam a tentar se parecer com ele, com os cabelos penteados para trás, com muita gomalina, costeletas compridas e golas levantadas.

Havia uma garota tão louca por Elvis que dirigia seu próprio Fã clube local. Ele disse que eu poderia ingressar por apenas 25 cents, o preço de um livro que encomendara para mim pelo reembolso postal. Ao recebê-lo, fiquei chocada ao me deparar com uma fotografia de Elvis autografando os seios de duas garotas, um ato sem precedentes na ocasião.

E depois o vi na televisão, no Stage Show, de Jimmy e Tommy Dorsey. Ele era sensual, bonito, olhos profundos e meditativos, lábios lindos e sorriso insinuante. Ele avançou para o microfone, abriu as pernas, inclinou-se para trás e dedilhou sua guitarra. Pôs-se a cantar com extrema confiança, remexendo o corpo numa sensualidade desenfreada. Contra a vontade, me senti atraída. Algumas pessoas na audiência adulta não se mostraram muito entusiasmadas. Não demorou muito para que suas apresentações fossem rotuladas de obscenas. Minha mãe declarou de forma taxativa que ele era "uma péssima influência sobre os adolescentes". E acrescentou: - "Ele desperta coisas nas moças que deveriam ficar adormecidas. Se houvesse uma marcha de mães contra Elvis Presley, eu estaria na primeira fila". Mas eu ouvi dizer que Elvis, apesar de suas extravagâncias e sensualidade nos palcos, tivera uma rigorosa educação cristã do sul. Era um garoto do interior que não fumava e nem bebia, que amava e honrava os pais e que tratava todos os adultos como "senhor" ou "senhora".

Eu era uma típica filha de oficial da Força Aérea, uma garota bonita e tímida, que jamais se acostumara a mudar de uma base para outra a cada dois ou três anos. Aos onze anos de idade eu já vivera em seis cidades diferentes; com receio de não ser aceita, permanecia retraída ou esperava que alguém tomasse a iniciativa de fazer amizade. Descobria ser difícil ingressar numa escola no meio do ano, quando os grupos já estavam formados e os novos alunos era considerados forasteiros. Uma garota pequena, de cabelos castanhos compridos, olhos azuis e nariz arrebitado, eu era sempre observado pelos colegas. A princípio, as garotas me viam como uma rival, receando que eu pudesse tomar seus namorados. Eu tinha a impressão de que me sentia mais à vontade com os rapazes... e geralmente eles se mostravam mais amistosos.

As pessoas sempre diziam que eu era a garota mais bonita da escola, mas nunca me senti assim. Era magra, quase esquelética; e mesmo que fosse tão atraente quanto diziam, queria ter algo mais que apenas aparência. Só com minha família é que eu me sentia totalmente amada e protegida. Afetivos e solidários, eles me proporcionavam estabilidade. Modelo antes do casamento, minha mãe se devotava inteiramente à família. Como a mais velha era minha responsabilidade ajudá-la com os menores. Depois de mim, havia Don, quatro anos mais moço e Michelle, minha única irmã, que era cinco anos mais moça do que Don. Jeff e os gêmeos, Tim e Tom, ainda não haviam nascido. Minha mãe era inibida demais para falar sobre as coisas da vida e por isso recebi toda a educação sexual na escola, no sexto ano. Alguns garotos estavam circulando com um livro que parecia a Bíblia, mas quando se abria o que se encontrava eram ilustrações de homens fazendo amor com mulheres e homens fazendo amor entre si. Meu corpo estava mudando e se agitando com as novas sensações. Eu recebia olhares constantes dos rapazes na escola e houve uma ocasião em que uma fotografia minha, numa suéter justa de gola rulê, foi roubada do quadro de avisos da escola. Contudo eu ainda era uma criança, embaraçada por minha sexualidade. Fantasiava interminavelmente sobre o beijo de língua, mas quando a turma brincava de girar a garrafa eu levava meia hora para permitir que algum rapaz me beijasse nos lábios, devidamente fechados.

Meu pai, forte e bonito, era o centro de nosso mundo. Um homem muito esforçado e determinada, formara-se em Administração de empresas pela Universidade do Texas. Em casa, mantinha tudo sob controle. Acreditava firmemente na disciplina e responsabilidade e tínhamos conflitos freqüentes. Quando me tornei animadora de torcida, aos treze anos, não era fácil convencê-lo a me deixar ir aos jogos em outras cidades. Havia ocasiões em que não havia choro, súplicas ou apelos a minha mãe que pudessem fazê-lo mudar de idéia. Quando ele tomava uma decisão, era ponto final. Eu conseguia envolvê-lo de vez em quando. Quando ele não deu permissão para que eu usasse uma saia justa, ingressei nas bandeirantes, a fim de vestir seu uniforme bem justo.

Meus pais eram sobreviventes. Muitas vezes se debatiam com dificuldades financeiras, mas os filhos era os últimos a sentir. Quando eu era pequena, minha mãe costurava lindas toalhas de mesa para cobrir os engradados de laranjas que usávamos como mesinhas. Em vez de ficar sem, procurávamos tirar o melhor proveito do que tínhamos. O jantar era sempre uma atividade de grupo; mamãe cozinhava, um de nós punha a mesa e o resto cuidava da limpeza. Ninguém ficava sem fazer nada, mas éramos sempre solidários uns com os outros. Eu me sentia afortunada por ter uma família tão unida.

Minha tranqüilidade recém-encontrada terminou abruptamente quando meu pai anunciou que estava sendo transferido para Wiesbaden, Alemanha Ocidental. Fiquei desesperada. A Alemanha era no outro lado do mundo. Todos os meus medos voltaram. Meu primeiro pensamento foi: O que vou fazer com meus amigos? falei com mamãe, que se mostrou compreensiva, mas lembrou que estávamos na Força Aérea e a mudança era uma parte inevitável de nossas vidas. Concluí a primeira parte do curso secundário, Jeff nasceu e nos despedimos de nossos amigos e vizinhos. Todos prometeram escrever ou telefonar, mas eu sabia que isso dificilmente aconteceria, pois me recordava das promessas similares anteriores. Minha amiga Angela me disse, em tom de brincadeira, que Elvis Presley estava prestando o serviço militar em Bad Nauheim, Alemanha Ocidental.

- Já pensou nisso? Você estará no mesmo país que Elvis Presley!

Examinamos um mapa e descobrimos que Bad Nauheim ficava perto de Wiesbaden. E comentei:

- Vou até lá para conhecer Elvis - Nós rimos, nos abraçamos e nos despedimos.

O vôo de quinze horas para a Alemanha Ocidental pareceu interminável, mas finalmente chegamos à linda e antiga cidade de Wiesbaden, sede da força aérea dos Estados Unidos na Europa. Fomos nos hospedar no hotel Helene, um prédio enorme e venerável na rua principal. Depois de três meses, a vida no hotel ficou muito cara e começamos a procurar uma casa para alugar. Tivemos sorte de encontrar um grande apartamento num prédio clássico, construído muito antes da Primeira Guerra Mundial. Mudamos logo depois e notamos que todos os outros apartamentos estavam alugados para moças solteiras. As "Fräuleins" andavam durante o dia inteiro em negligês e à noite se vestiam a capricho. Assim que aprendemos um pouco de alemão, compreendemos que, embora a pensão fosse bastante discreta, estávamos vivendo em um bordel.

Era impossível mudar, pois havia uma escassez de moradias. Mas o local em nada contribuiu para meu ajustamento. Não apenas estava isolada de outras famílias americanas, mas havia também a barreira da língua. Já estava acostumada a mudar de escola com freqüência, mas um país estrangeiro apresentava problemas inteiramente novos - e o principal era o fato de não ter ninguém com quem pudesse partilhar meus pensamentos. Comecei a sentir que minha vida parara por inteiro.

Setembro chegou a as aulas começaram. Mais uma vez eu era a garota nova. Não era mais popular e segura como me sentira na Del. Havia um lugar chamado Eagles Club, onde as famílias dos militares americanos costumavam fazer refeições e se encontrar socialmente. Dava para ir a pé da pensão e logo se tornou uma descoberta importante para mim. Todos os dias, depois das aulas, eu ia à lanchonete que havia ali, ficava escutando a vitrola automática e escrevia cartas para minhas amigas em Austin, dizendo como sentia saudades de todo mundo. Desmanchando-me em lágrimas, gastava a minha mesada tocando as músicas mais populares nos Estados Unidos como "Venus" de Frankie Avalon e "All I Have to Do Is Dream" dos Everly Brothers.

Numa tarde quente de verão eu estava sentada ali com meu irmão Don quando notei um homem bonito, na casa dos vinte anos, que não tirava os olhos de mim. Já o vira me observando antes, mas nunca lhe prestara nenhuma atenção. Desta vez porém, ele se levantou e se aproximou de mim. Apresentou-se como Currie Grant e perguntou meu nome.

- Priscilla Beaulieu - respondi, imediatamente desconfiada, porque ele era muito mais velho.

Ele perguntou de que lugar dos EUA eu vinha, se estava gostando da Alemanha e se apreciava Elvis Presley.

- Claro - respondi, rindo - Quem não gosta dele?

- Sou grande amigo de Elvis. Minha mulher e eu estamos sempre indo à casa dele. Não gostaria de nos acompanhar uma noite?

Despreparada para um convite tão extraordinário, eu me senti ainda mais cética e cautelosa. E declarei que teria de pedir permissão aos meus pais. Durante as duas semanas seguintes Currie conheceu meus pais. Ele também estava na Força Aérea e papai verificou suas credenciais, descobrindo que conhecia seu comandante. Isso pareceu romper o gelo entre os dois. Currie garantiu a papai que eu seria devidamente vigiada quando visitássemos Elvis, que vivia numa casa perto da base, em Bad Nauheim.

Vasculhei meu armário na noite marcada, tentando encontrar uma roupa apropriada. Nada parecia bastante elegante para o meu encontro com Elvis Presley. Acabei escolhendo um vestido branco e azul, sapatos e meias brancas. Contemplando-me no espelho, achei que estava atraente, mas convencida de que não causaria qualquer impressão em Elvis, já que tinha apenas quatorze anos.

Currie Grant apareceu às oito horas, em companhia de sua atraente esposa, Carole. Ansiosa, mal falei com qualquer dos dois durante a viagem de 45 minutos. Entramos na cidadezinha de Bad Nauheim, com suas ruas estreitas, calçamentos de pedras, casas feias e antigas. Eu me mantinha atenta, à espera de avistar o que presumia ser a enorme mansão de Elvis. Em vez disso, Currie parou o carro diante de uma casa de aparência comum, de três andares, com uma cerca de madeira branca.

Havia uma placa em alemão no portão que dizia: "Autógrafos somente entre sete e oito horas da noite". Embora já passasse das oito horas, havia um grupo enorme de pessoas e moças alemãs por ali, expectantes. E havia também vendedores de cachorros quentes, ambulantes, um verdadeiro carnaval. Quando interroguei Currie a respeito, ele explicou que havia sempre muitas fãs na frente da casa, esperando por um vislumbre de Elvis.

Segui Currie pelo portão e subimos pelo pequeno caminho até a casa. Fomos recebidos por Vernon Presley, o pai de Elvis, um homem alto, atraente, de cabelos grisalhos que nos levou por um corredor comprido até a sala de estar, de onde eu podia ouvir Brenda Lee na vitrola, cantando "Sweet Nothin's".

A sala simples, quase insípida, estava cheia de pessoas, mas avistei Elvis no mesmo instante. Era mais bonito do que aparecia nos filmes e nas fotos, mais jovem e com uma aparência mais vulnerável, os cabelos bem curtos de soldado. Estava à paisana, com uma suéter vermelha e calça castanha amarelada, sentado em uma poltrona grande, com um charuto pendendo nos lábios.

Quando Currie me levou em sua direção, Elvis levantou-se e sorriu.

- Ora, ora, o que temos aqui? - disse ele

Não falei nada. Não podia. Só tinha condição de fitá-lo fixamente.

- Elvis - disse Currie - esta é Priscilla Beaulieu. A garota de quem lhe falei.

Trocamos um aperto de mão e ele disse:

- Oi. Sou Elvis Presley.

Depois, houve um silêncio entre nós, até que Elvis convidou-me a sentar em seu lado e Currie afastou-se.

- Está na escola? - perguntou Elvis.

- Estou.

- E está no começo ou no final da escola secundária? (High School)

Corei e não respondi, não querendo revelar que estava apenas no nono ano.

- E então? - insistiu Elvis.

- Estou no nono ano.

Ele ficou confuso.

- Nono o quê?

- Nono ano - balbuciei.

- Nono ano! - exclamou ele rindo - Ora, você não passa de uma criança!

- Obrigada - respondi, bruscamente, pois nem mesmo Elvis Presley tinha o direito de falar assim.

- Parece que a garotinha não é fácil - comentou ele, rindo, de novo, divertido com a minha reação.

Elvis me presenteou com o seu sorriso encantador e todo o meu ressentimento se derreteu.

Conversamos mais um pouco. Depois, Elvis levantou-se, foi para o piano e sentou-se. A sala ficou em silêncio. Todos os olhos se fixaram nele.

Elvis cantou "Rags to Riches" e "Are You Lonesome Tonight?" e depois, com os amigos cantando em harmonia, "End of the Rainbow". Também ofereceu uma interpretação de Jerry Lee Lewis, martelando as teclas com tanta força que um copo com água que pusera em cima do piano começou a escorregar. Quando Elvis pegou-o, sem perder uma nota da canção, todos riram e aplaudiram - menos eu. Estava nervosa. Olhei ao redor e vi um poster de Brigite Bardot seminua, preso na parede. Ela era a última pessoa que eu queria ver, com seu corpo sedutor, lábios espichados e cabelos desgrenhados, Imaginando o gosto de Elvis em mulheres, eu me senti muito jovem e deslocada.

Levantei os olhos e me deparei com Elvis tentando atrair minha atenção. Percebi que quanto menos reação demonstrava, mas ele passava a cantar só para mim. Mas não podia acreditar que Elvis Presley estava tentando me impressionar.

Mais tarde, ele pediu-me que o acompanhasse até a cozinha, onde me apresentou à sua avó, Minnie Mae Presley, que estava no fogão, fritando bacon numa enorme panela. Sentamos à mesa e eu disse a Elvis que não estava com fome. Na verdade sentia-me nervosa demais para comer.

- Você é a primeira garota dos Estados Unidos que eu encontro em muito tempo - disse ele, enquanto começava a devorar o primeiro de cinco sanduíches de bacon, todos com mostarda.

- Quem é que a turma por lá está ouvindo?

- Está brincando? Todo mundo ouve você!

Elvis não ficou convencido. Fez-me uma porção de perguntas sobre Fabian e Ricky Nelson. Comentou que estava preocupado com a aceitação dos fãs quando voltasse aos Estados Unidos. Como estava ausente há algum tempo, não aparecia em espetáculos públicos nem em filmes, embora tivesse cinco músicas nas paradas de sucesso, todas gravadas antes de sua partida.

Parecia que mal começáramos a conversar quando Currie entrou na cozinha e apontou para o relógio. Eu receara aquele momento; a noite correra muito depressa. Parecia que acabara de chegar e agora já tinha que ir embora. Elvis e eu mal começávamos a nos conhecer. Sentia-me como Cinderela sabendo que toda a magia terminaria quando soasse o toque de recolher. Fiquei surpresa quando Elvis perguntou se eu poderia permanecer por mais algum tempo. Currie explicou o acordo com meu pai e Elvis sugeriu então que eu poderia voltar outro dia. Embora fosse a coisa que eu mais queria no mundo, não acreditava que pudesse acontecer.

O nevoeiro era tão denso na auto estrada, durante a volta a Wiesbaden, que só cheguei em casa às duas horas da madrugada. Meus pais estavam acordados e quiseram saber tudo o que acontecera. Contei que Elvis era um cavalheiro, muito divertido, cantara para os amigos, eu adorara a noite.

No dia seguinte na escola, eu não conseguira me concentrar. Os pensamentos fixavam-se exclusivamente em Elvis. Tentei recordar todas as palavras que ele me dissera, cada canção que cantara, cada expressão em seus olhos ao me fitar. Reconstituí interminavelmente nossa conversa. Seu charme era fascinante. Não contei a ninguém na escola. Quem iria acreditar que eu estivera com Elvis Presley na noite anterior?

Priscilla Presley e Sandra Harmon (Elvis e Eu).

Elvis Presley - Tupelo, Mississipi

Quando um repórter contou a Vernon que o nome Presley era de origem inglesa, ele respondeu surpreso: "Nunca ouvi falar que meus parentes tivessem vindo de tão longe. Deve Ter sido há muito tempo. Parece que nós sempre vivemos por aqui. E é a mesma coisa com a família de Gladys, os Smiths". Elvis Presley, muito mais educado que seu pai semi-analfabeto, também não tinha a mínima idéia sobre a sua origem. Pouco antes de morrer, porém, ele recebeu uma pesquisa que rastreava os Presleys até nove gerações passadas, quando o primeiro homem, o "tronco" da árvore genealógica de sua família imigrou para a América do Norte. Seu nome era David Pressley e pouco se sabe sobre ele, exceto que era anglo-irlandês e desembargou com seu filho Andrew em nova Bern, Carolina do Norte, por volta de 1740. A terceira geração da família foi Andrew Pressley junior, que lutou contra os ingleses em 1781, na última grande batalha travada no Sul do país durante a Guerra da Independência.

Em 1861, Dunnan Pressley Junior casou-se com Martha Jane Wesson e estabeleceu-se em Fulton, Mississipi, uma região pacificada por um tratado com os índios assinado em 1832, e onde a terra era muito barata. Antes de abandonar a mulher, Dunnan teve duas filhas com Martha: Rosalinda e Rosella. Nascida em 1862, Rosella seria a bisavó de Elvis. Rosella Presley cresceu e se tornou uma mulher muito estranha e misteriosa. Dos 19 até os 30 anos, ela deu à luz nove crianças ilegítimas. Rosella nunca identificou seu amante ou fez qualquer exigência a ele – ou a eles. Ela era uma mulher orgulhosa e dura como pedra e criou sua prole trabalhando de sol a sol nas fazendas de algodão.

Da mesma forma que os Pressleys, a família de Gladys, os Smiths também vieram das Carolinas. O Tataravô de Elvis, John Smith, aparece no censo de 1850 em Atlanta, Geórgia. Em 1874, seu filho Obe Smith, casou-se com Ann Mansell e foi morar em Satillo, a noroeste do Estado do Mississipi, um pouco ao norte de Tupelo. O segundo filho desta união foi Robert Lee Smith, avô de Elvis. Robert "Bob" Lee casou-se com Octavia Lavinia "Doll" Mansell, naquela que foi talvez a mais significativa aliança na genealogia de Elvis Presley, pois existem fortes razões para se acreditar que marido e mulher eram primos em primeiro grau. Bob e Doll geraram filhos que apresentaram uma propensão a bebedeiras, distúrbios físicos e emocionais e morte prematura. Os três irmãos de Gladys, por exemplo: Tracy nasceu surdo e mudo, Travis morreu na casa dos trinta anos, Johnny morreu aos 46 anos (como Gladys). Travis e Johnny eram bons bebedores e ficavam perigosamente violentos quando bêbados.

Jessie Presley, o avô, gostava de beber e sempre se metia em brigas de bar

Bob Smith gostava muito de sua filha Gladys, a mãe de Elvis Presley, que era muito parecida com ele. Embora no fim da vida Gladys tenha mergulhado em profunda depressão, sua personalidade era muito forte e ela tinha um excelente astral, sempre rindo e brincando o tempo todo. Quando Gladys tinha 19 anos, a saúde de seu pai, já cego, começou a piorar e a família decidiu mudar sua estratégia de sobrevivência, deixando de ser trabalhadores migrantes e estabelecendo-se em Tupelo, para aproveitar o desenvolvimento industrial da região. Na década de 30, Tupelo havia se transformado em cidade-modelo do "New Deal", a política desenvolvimentista criada pelo Presidente Roosevelt.

Os Smiths mudaram-se para uma casa em East Tupelo e as moças solteiras arrumaram emprego. Gladys foi trabalhar numa fábrica de roupas, costurando 12 horas por dia, seis vezes por semana, para ganhar um salário de 120 dólares mensais. East Tupelo estava cheio de Pressleys: 26 crianças do grupo escolar tinham este nome. O primeiro a chegar foi Jessie Pressley, o avô de Elvis, junto com os irmãos Noah e Calhoun. Em 1913, aos 17 anos, Jesse casou com Minnie Mae Hood. Tiveram dois filhos (Vernon e Vester) e três filhas (Delat Mae, Gladys Earlene e Nashville Lorene). E Minnie Mae começou a odiar o seu jovem marido. Calhoun Pressley, certa ocasião, ofereceu uma boa descrição de seu irmão mais velho:

- "Jessie vivia mudando de emprego. Era um homem honesto, mas gostava de beber e sempre se metia em brigas de bar, indo parar na cadeia. Ele era magro, tinha quase 1,90 m de altura e gostava de se vestir muito bem. Elvis herdou sua aparência física do avô Jessie" - O depoimento de Calhoun Pressley revela ainda que Jessie passava meses desempregado e que sua família geralmente ficava sem Ter o que comer, porque ele gastava todo o dinheiro necessário a subsistência em roupas e bebedeiras. Minnie Mae, como vimos, tinha bons motivos para detestar o marido irresponsável. Contudo, continuou com ele até 1947.

Não é difícil imaginar o efeito que tudo isso teve sobre os filhos do casal. Vester e Vernon virtualmente não tiveram educação alguma. Aos 48 anos, Vernon mal sabia assinar o nome. A morena Gladys era muito bonita nos seus 20 anos, quando conheceu o loiro e jovem Vernon, de 16 anos. Eram dois pólos opostos e talvez por isso tenham se apaixonado. Gladys era madura e trabalhadora, Vernon imaturo e negligente. Gladys era extrovertida, Vernon estava sempre sorumbático. Mais importante, Gladys possuía alguma inteligência e imaginação, enquanto Vernon estava predestinado a passar o resto da vida tentando tornar-se um homem.

Elvis Presley nasceu em uma casinha de madeira

O casamento foi em Pontotoc, a 220 milhas de Tupelo, no dia 17 de junho de 1933. Embaraçados pela diferença de idade entre eles, trataram de mentir na licença de casamento: Gladys afirmou que tinha 19 anos, quando na realidade tinha 21; Vernon acrescentou cinco anos à sua idade afirmando que tinha 22anos. Recém-casados, foram morar com Jessie Pressley. Quando Gladys engravidou, em meados de 1934, Vernon arrumou 180 dólares emprestado e, com a ajuda do pai e do irmão construiu uma casinha de madeira de dois cômodos num lote que pertencia a Jessie, localizado ao lado da casa deste na estrada de North Saltillo. Foi nessa modesta casa que Elvis nasceu.

Esta casinha (foto acima), que atrai centenas de milhares de fãs, está hoje totalmente diferente do que era quando Elvis veio ao mundo. As senhoras que ficaram com a propriedade devem Ter se horrorizados com sua aparência original e foram logo providenciando uma decoração mais adequado com o mito Elvis Presley. As tábuas cinzentas foram pintadas de branco, cortinas e papel de parede foram aplicados em seu interior, e objetos que os Presleys nunca tiveram dinheiro para comprar foram adicionados ao mobiliário: uma máquina de costura, uma cadeirinha de bebê e aparelhos elétricos como rádio e ventilador. Para completar, o chão batido em frente da casa foi transformado num belo gramado. Depois de todo este trabalho fútil, as caridosas senhoras haviam substituído toda a realidade histórica pela fantasia, num gesto que tem sido muito freqüente no mito Elvis Presley.

Gladys estava tão convencida de que iria Ter gêmeos homens, que ela e o marido escolheram até os nomes: Jessie Garon, em homenagem ao pai de Vernon, e Elvis Aron em homenagem ao próprio Vernon, cujo nome do meio também era Elvis.
A supersticiosa Gladys estava certa. Na fria noite de 7 para 8 de janeiro de 1935, o médico William Robert Hunt foi atendê-la em sua casa e, às 4 horas da manhã, a sra. Presley deu à luz um filho nati-morto. Mas, às 4:35, veio outro, que sobreviveu. No registro de nascimento o doutor escreveu "Elvis Aaron". Como a pequena família não tinha os 15 dólares para pagar o atendimento médico, o Dr. Hunt mandou a conta para a assistência social. Assim nasceu o Rei do Rock'n'Roll.

Personalidade dividida desde a adolescência

Gladys chorou imensamente o gêmeo morto, que foi velado num pequeno caixão na sala da casa e enterrado numa cova sem identificação no cemitério Princeville. Não era apenas o golpe pela perda de Jessie Garon – o médico disse também a Gladys que ela jamais poderia Ter outros filhos. Gladys transformou Jessie Garon numa presença viva em sua casa. Uma das primeiras coisas que Elvis aprendeu com a mãe foi que ele tinha um irmão gêmeo que era um anjo no céu, e com quem poderia se comunicar através de orações. Com a idade de 4 anos, Elvis começou a ouvir a voz do irmão morto.

Esse irmão fantasma é uma das características mais importantes de sua vida, pois desde a adolescência Elvis começou a exibir uma personalidade dividida, dois sistemas de fantasias opostos que iriam surgir sempre em sua vida subsequente: o Bem e o Mal Quando criança, Elvis queria ser um santo. Aos 9 anos ele foi batizado pela Igreja Pentecostal e essa cerimônia despertou-lhe tão fortemente o espírito cristão que ele pegou tudo o que tinha – um punhado de gibis – e deu para as crianças da vizinhança. Dois anos depois do nascimento do filho, Gladys foi testemunha da morte da mãe, por Tuberculosa. Pobre Gladys! Primeiro foi seu pai, depois Jessie Garon e agora sua mãe. Mas outra desgraça ainda estava por vir, seu jovem marido, que sustentava a pequena família foi levado para a prisão.

Gladys, a mãe superprotetora

Vernon e seu cunhado Travis Smith foram acusados de falsificar um cheque de pagamento. A quantia era irrisória (algo assim como de 18 para 28 dólares) mas a sentença foi severa. Julgado em 25 de maio de 1941, Vernon pegou três anos na penitenciaria Estadual
Desolada, Gladys foi trabalhar como costureira e lavadeira para sustentar o filho, até Vernon sair da cadeia em janeiro de 1941. A prolongada ausência paterna afetou muito o desenvolvimento do jovem Elvis, que virou um clássico "filhinho da mamãe", que não desgrudava da saia de Gladys nem por um minuto. Cheia de zelo, Gladys acompanhava Elvis à escola (ida e volta) proibia-o de nadar ou qualquer outra brincadeira perigosa e atacava toda criança que brigava com o filho, que aliás dormiu na cama da mãe até a puberdade.

Mãe e filho, de fato, se amavam muitíssimo. Elvis tratava Gladys pelo carinhoso apelido de "Satnin" e ambos conversavam uma "Linguagem de Bebês" que só eles entendiam. Sempre na companhia da mãe Elvis lhe confessava todos os seus sentimentos mais profundos e os pensamentos mais íntimos. Tão dependente se tornou, que era para ela que ele corria quando precisava de conselhos ou decisões. Havia somente uma pessoa capaz de entendê-lo e guiá-lo no mundo e essa pessoa era a sua mãe. Quando Gladys morreu, Elvis se fechou como uma ostra.

Gladys mimava demais o filho querido. Embora os Presleys fossem desesperadamente pobres, sempre havia dinheiro para lhe comprar presentes caros, como um triciclo ou um violão. Em sua infância Elvis era um pequeno príncipe. Também pudera – Gladys não tinha mais ninguém a devotar o seu amor. Seus pais estavam mortos e Vernon havia se revelado um "crianção" Irresponsável, que na ocasião mais crítica de seu casamento acabou sendo preso por causa de um erro tolo e infantil, jogando nos ombros da esposa toda a responsabilidade pela educação do filho

Família Humilde

A primeira vez que Elvis subiu em um palco para cantar foi no dia da criança, quando tinha 11 anos, num concurso da feira anual de Tupelo. A canção escolhida foi "Old Sheep", um sucesso de Red Foley, uma balada sentimental sobre um cachorrinho de estimação que morreu. Elvis tirou 2o lugar.

Em 1946, Os Presleys mudaram-se de East Tupelo para Tupelo e Vernon se empregou como motorista de caminhão, ganhando 100 dólares por mês. Nos três anos que viveu nesta cidade Elvis fez amizade com James Ausborn, seu colega de classe na escola Milhan Junior High e irmão mais novo de Mississipi Slim, um cantor country da região. Dos 12 aos 13 anos, na companhia de James, Elvis passou a freqüentar a estação local de rádio, onde todo Sábado pela manhã Mississipi Slim apresentava seu programa em frente a um pequeno auditório.

Em setembro de 1948, os Presleys juntaram suas coisas, colocaram tudo num velho Plymouth 37 todo estropiado e foram para Memphis, a capital do Tennesse. Mais tarde, Elvis contaria que sua família estava completamente na miséria e que Vernon esperava conseguir emprego na grande cidade. Esta súbita mudança de Estado, entretanto, foi conseqüência de outra infelicidade ocorrida com os Presleys. A polícia de Tupelo declarou aos compiladores do livro "All About Elvis", que Vernon Presley fora apanhado vendendo uísque fabricado ilegalmente e havia sido expulso da cidade.

Assim, numa manhã ensolarada Elvis, Gladys, Vernon rumaram em direção a Memphis, na esperança de uma vida melhor.

Elvis, Documento Histórico.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Elvis Presley - Elvis e o Karatê

Ao seu modo, Elvis Aaron Presley dedicou-se ao KARATE como apenas o fez à sua carreira. Durante muito tempo, aventei que, não fora o mito e todas as benesses e doações concedidas às associações e instituições afins, talvez não tivesse chegado aonde chegou; logrado tamanho êxito. Ou lhe tivessem retirado o DAN maior com o tempo, em função dos rumos tomados por seu próprio viver. Jamais saberemos ao certo.

A prática das ARTES MARCIAIS exige disciplina, alimentação adequada, respiração trabalhada, isenção dos impulsos egóicos do ser, treinamento diário, dedicação máxima, aprimoramento continuado de sentimentos e valores existenciais, abstinências; abandono de hábitos, vícios e químicas. Isso, em nível de mestre e monge; o patamar que lhe imputaram, supremo e professoral.

Elvis esteve muito longe de tudo isso. Mas aplicou-se. Se formos avaliar empenho, ao invés de resultados, como preconizava a cultura grega - e oriental - na Antiguidade, é merecedor de todas as glórias e homenagens.

Não podemos ser anacrônicos, olhar para ontem com os olhos de hoje. O KARATE exportado em sua época era lacônico em filosofia, estilo SHOTO-KAN, pouco enfático em ética e transcendência; muito histriônico e espetacular; e voltado para o embate, show e catarse. Mormente o KARATE presente no sul dos Estados Unidos, em meados dos anos 60, estava longe de ser um princípio e filosofia de vida como hoje se preconiza; aliás, muito por influência do ZEN BUDISMO.

Ao meu ver, Elvis, se falhou em quase todos os aspectos também como karateca, aprendeu, de maneira irrefutável, o imprescindível: que a prática deve ser centrada em busca de aprimoramento pessoal e utilizada, exclusivamente, para defesa pessoal; devendo ser disseminada, propagada e cultuada por esta vertente. Sob esse aspecto, essencial, Elvis foi um campeão.

Consideremos alguns dados biográficos. O primeiro contato de Elvis com ARTES MARCIAIS se deu em Fort Hood, no Texas, quando em escala para Alemanha, onde serviria o exército, ainda em 1958. Assistiu torneios de JUDÔ e JIU-JITSU e ficou impressionado. Iniciaria seu treinamento ainda em 1958, na Alemanha, com o Professor JUERGEN SEYDAL, expert em exatamente em SHOTO-KAN. Em Paris, 1959, em sua breve passagem pelo território francês, treinou com instrutores vietnamitas.

Orientado por HANK SLEMANSKY, um artista em SHITO-RYU - uma modalidade já mais "espiritualizada" do que o SHOTO-KAN -, dedicou- se à prática na Alemanha como jamais voltaria a fazê-lo; forma de sublimar, através da arte (marcial), a dor de dois lutos: o do falecimento, então recente, de sua mãe; e o do afastamento circunstancial de sua carreira e de sua condição de ASTRO-REI.

Ao retornar aos EUA, conquistou sua FAIXA PRETA com DAN INOSANTO, em 1960. Apesar do esmero e excelência apresentados, houve controvérsias por parte dos que julgaram aproximadamente 20 meses de treinamentos como insuficientes para tamanha concessão e honraria.

Na capa de seu LP HIS HAND IN MINE, gospel, lançado em 1961 e, posteriormente, agraciado com o GRAMMY; Elvis, ao piano, porta um broche; insígnia da qualificação alçada. HANK SLEMANSKY morreria no Vietnam e Elvis, pessoalmente, passaria a treinador de toda sua equipe, orientado por ED PARKER – que o introduziria ao KENPO, uma terceira modalidade, ainda mais refinada.

Ed Parker viria a escrever um livro medíocre nos anos 70; ufanista e, desnecessariamente, bajulador. O leitor, se fã ingênuo, toma Elvis por um super-herói. Se sensato, questionará seus méritos, realmente amplificados. Fazer justiça é uma coisa. Bajular é outra; desmerecer, ainda que às avessas.

Em 1970, Elvis interessou-se por TAEKWONDO e passou a treinar com KANG RHEE. Com Priscilla Beaulieu Presley, conheceu Mike Stone, por intermédio de Ed Parker, em um torneio no Havaí. Cilla ficaria interessadíssima pelo KARATE a partir de então e iniciaria lições particulares com o campeão; por sugestão do próprio Elvis.

O fim de seu casamento em 1972 - e as vicissitudes decorrentes do desenlace - o faria abandonar quase que totalmente os treinamentos em 1973. Porém, a antológica e surreal invasão de seu palco, em Vegas, pelos espectadores sul-americanos alcoolizados, o levaria a motivar-se novamente. Elvis e Red West demonstraram o que aprenderam em anos de treinamento, anulando os agressores déspotas, sem, entretanto, massacrá-los. Demonstração de ética e autocontrole; ainda que a imprensa, o público e, posteriormente, a literatura, discorram sobre a fúria quase indomável de Elvis.

Pouco depois, na qualidade de contratado exclusivo do HILTON HOTEL, Elvis quase se viu em problemas judiciais, ao comparecer a um campeonato de KARATE nos arredores de Los Angeles; onde seu nome fora, inadvertidamente, colocado em destaque; próximo de uma nova estréia, em Lãs Vegas. Problemas contratuais.

Elvis passaria a vida quebrando telhas, ladrilhos e toras. E estourando os dedos e as articulações, tratadas às escondidas – e, mais tarde, com muita Acupuntura. Constata-se que sua tendência à autoflagelação, posteriormente acentuada e consentida, já se manifestava então; ainda que sob o disfarce de treinamento obstinado - onde, aliás, qualquer dor era dissimulada. Quando a platéia de fãs privilegiados e de amigos menos íntimos partia, urrava! – conta-se.

Dentre as circunstâncias mais preocupantes aos empresários, diretores e produtores, por exemplo, filmou G. I. BLUES sob o efeito de fortes analgésicos e antiinflamatórios e com as mãos, totalmente edemaciadas, maquiadas. Em FLAMING STAR, rompeu um tendão do braço de Red West, seu principal companheiro de treinamento.

O KARATE lhe marcaria a vida e a carreira e sua estética estaria também em filmes como WILD IN THE COUNTRY, BLUE HAWAII, FOLLOW THAT DREAM, KID GALAHAD, ROUSTABOUT, HARUM SCARUM, DOUBLE TROUBLE e outros. KATAS estilizados estiveram presentes em seu especial de televisão de 1968 e seriam freqüentes em espetáculos ao vivo, a partir de 1969.

Durante os anos 60, Elvis conquistou o segundo, terceiro e quarto DAN (gradação), como Mestre. Em 1971 viria o quinto; em 1973, o sexto e sétimo e, em 1974, o oitavo DAN, dado por Ed Parker, como homenagem e estímulo. Ed, apontado como oportunista por alguns autores, não tinha qualquer parentesco com Tom Andrew Parker. Ou melhor, Andreas Cornelis van Kuijk.

Em 1974, Elvis viu fracassar sua idéia de realizar um semidocumentário independente intitulado TIGER. Seu personagem, Billy Eastern, seria um agente do FBI; ironicamente, adversário do submundo do narcotráfico internacional.

Os últimos anos de Elvis foram muito difíceis; particularmente, os dezoito meses que precederam sua morte, em 16 de agosto de 1977. Ainda assim, daria continuidade aos estudos teóricos sobre os meandros do TAEKWONDO, até 1976.

Segundo BILL WALLACE, expoente mundial dos mais expressivos nas ARTES MARCIAIS, "Elvis foi um dos primeiros mestres não asiáticos em seu país e um dos mais versáteis até hoje, abraçando o KARATE em suas múltiplas vertentes; não raramente, bastante distintas. Portanto, um notável e eclético embaixador nos EUA, onde a prática começaria a ser popularizada apenas em meados dos anos 70".

Quando ELVIS: THAT'S THE WAY IT IS (ELVIS É ASSIM) estreou no Rio de Janeiro, no final de 1971, escreveu o crítico José Carlos Monteiro, em O GLOBO: "É bom e surpreendente rever Elvis em tão boa forma. Quem não gostar do ídolo, entretanto, se deliciará com o show de Karate e contorcionismo apresentado!".

Artigo escrito por Nilson Calasans, fã desde 1966, fundador do GRUPO-INFORMATIVO THE PELVIS (1973- 1979) e membro da GANG´ ELVIS (1973 – 2003).


Elvis Presley - Os Tesouros Perdidos de Elvis

 Elvis Presley gravou mais de 600 músicas. Muitas são clássicos absolutos da música universal como "Hound Dog", "Can´t Help Falling in Love" e "Suspicious Minds". Outras são menos conhecidas, mas que fizeram sucesso como por exemplo "Don´t Cry Daddy", "Too Much" e "Hurt". Outras apesar de muito boas são desconhecidas do grande público. Vou tentar colocar todas as minhas favoritas nessa categoria. Esta é uma pequena busca pela colcha de retalhos que é a discografia de Elvis, onde vou comentar verdadeiras preciosidades, pelo menos na minha opinião, que não receberam a devida atenção na sua época de lançamento.

Anyway You Want Me (Schroeder / Owens) - Em 1993 o Guns'n'Roses regravou uma belíssima balada da década de 50 chamada "Since I Don't Have You". O resultado ficou excelente. Se tivessem escolhido essa pérola de Elvis o resultado também seria um sucesso. Essa fantástica balada possui os elementos que fazem de uma música um sucesso: letras simples, porém bonitas, uma melodia agradável aos ouvidos e um solo de introdução marcante. Gravado na mesma sessão que produziu os clássicos "Hound Dog" e "Don't Be Cruel", essa música foi o lado B de "Love me Tender" e por isso totalmente ofuscada. Quando algum artista a descobrir e fizer uma regravação terá seu lugar de sucesso nas paradas!!

Ain't That Loving Baby (Fast Version) (Hunter / Otis) - As sessões de junho de 58 produziram fantásticas músicas como "A bing Hunk O'Love", "A Fool Such As I", "I Got Stung", "I Need Your Love Tonight" que alcançaram o top 10. A outra música dessa sessão - Ain´t That Loving You Baby - só foi lançada em single em 1964 e alcançou 16º lugar nas paradas sendo um top 20 hit. A versão lançada foi uma mais lenta e muito boa também, mas a versão rápida dá de dez!! Começa com uma batera ritmada de DJ Fontana e tem uns solos do Hank Garland simplesmente fantásticos!! Por que essa versão não foi lançada e por que a versão oficial só foi aparecer em 64, 6 anos depois de sua gravação?? Burradas da RCA presumo. Pra variar. Alegre e dançante essa versão pode ser encontrada no vinil "Reconsider Baby" (a melhor versão com três solos), "Essential Elvis vol.3" e no disco 5 da caixa "The King of Rock'n'Roll". Essa versão só foi lançada depois da morte de Elvis!!! Gente só escutando para conferir: essa música é muito boa!! Se estiver triste é só colocá-la. Remix em Potencial!!

Suspicion (Pomus / Schuman) - Os escritores Doc Pomus e Mort Shuman foram uma espécie de Leiber e Stoller da década de 60. Sério mesmo, os caras escreveram alguns dos grandes clássicos de Elvis, incluindo sucessos imortais como "Little Sister", "His Latest Flame", "Viva Las Vegas", "Kiss me Quick", "A Mess of Blues", "Surrender", entre outras. É verdade que escorregaram com besteiras como "Double Trouble" e "Never Say Yes", mas a gente perdoa. A música acima citada, também escrita por eles foi lançada como lado B junto com "Kiss me Quick". Essa música é uma espécie de "Suspicious Minds" ao contrário, pois aqui quem tem problemas com ciúme é o cara e não a mulher. Letra bem legal, fácil de se identificar e puxada por uma introdução ritmada, com a voz de Elvis perfeita em 1962, essa música foi esquecida por culpa de.... má promoção! Que novidade! Os motivos foram os seguintes:
a) Fez parte de um álbum que o foi o último de estúdio de Elvis até 1967, e que foi abafado na época pelo sucesso das trilhas. O álbum foi "Pot Luck", que é bem interessante. A falta de promoção desse álbum foi tão grande que nenhum, repito, nenhum single foi lançado na época em que ele apareceu.
b) O single que promoveu esse álbum foi lançado em... 1964, dois anos depois de sua liberação no mercado. Vai entender a RCA!
c) Além de ter sido lançado com dois anos de atraso, chegou ao mercado no período em que havia muitos singles de Elvis, um atrás do outro. Se você não prolonga a exposição de uma música ela vai ser esquecida. O problema de Elvis nessa época era esse, seus produtos eram rapidamente substituídos por outros, sem ter chance de causar impacto.
d) Caiu no lado B, o que já não é muito bom, principalmente em um single em que nem o lado A é promovido.
e) Apareceu no auge da beatlemania.
Resultado, "Kiss Me Quick" alcançou apenas 34º lugar e "Suspicion" nem entrou no hot 100.

C´Mon Everybody (Joy Byers) - Como é que essa música não foi top 10?! Parte do filme "Viva Las Vegas", esse rock acelerado possui uma excelente seqüência de dança no filme com toda a Pelvis que você tiver direito. A letra é boba, mas nesse caso não atrapalha, pois o objetivo dessa música é levantar seu espirito e não mudar o mundo! Com um novo arranjo ia ficar uma beleza!

It Hurts Me (Byers / Daniels) - Sabe aquela música que só não fez sucesso pois foi lançada na época errada? Pois esse é o caso dessa belíssima balada que foi gravada em 64, na última sessão sem ser de trilhas até maio de 66 e lançada no auge da Beatlemania e para completar renegada ao lado B de um single. Alcançou apenas 29º lugar nas paradas. Uma pena, pois Elvis a canta com convicção e possui ótima letra. A versão do especial de 68 é igualmente boa. O segredo dessa música é que ela consegue ser bonita sem ser piegas.

Am I Ready? (S. Tepper / R.C. Bennet) - Essa música faz parte da trilha sonora de "Spinout", que não é tão boa, mas passa longe de ser das piores trilhas de seus filmes. Apesar de conter uma das maiores atrocidades musicais gravadas por Elvis (Beach Shack), contém boas músicas como "Am I Ready? Sem exagero nenhum, essa música é tão bonita quanto "Can't Help Falling In Love"!!! Belíssima melodia e uma letra simples mais que se encaixa com o ritmo. Além disso, a voz de Elvis estava macia no mínimo, o que no caso dessa música é o ideal. Talvez não tenha feito sucesso por ter feito parte do filme que menos rendeu na carreira de Elvis e pouca gente a notou. Também não foi lançada como single, apesar de ser superior a "Spinout / All That I Am". Vocais absurdamente perfeitos, boa instrumentação e melodia nota 10!!

You Gotta Stop (Giant / Baum / Kaye) - Por incrível que pareça, as trilhas de 66 tem uma qualidade melhor do que os horrorosos "Paradise Hawaiian Style" e "Harum Scarum", definitivamente uma prova de que Elvis estava dormindo em 65. "Double trouble" é bem razoável e "Spinout" é até interessante (tirando a horrenda Beach Shack!!). O mesmo não pode se dizer de "Easy Come Easy Go", que está em 5º lugar nas piores bilheterias de Elvis. E pessoalmente eu achei o filme horrível. A trilha é péssima, com exceção de "I´ll Take Love" e a mencionada acima. Essa trilha contém a extremamente desprezível "Yoga is as Yoga Does", uma das piores músicas que já escutei. Mas como esse é um caso de altos e baixos, temos o prazer de escutar essa excelente música completamente desconhecida até entre os fãs, talvez por ser dificílima de se conseguir. Com uma letra fugindo da temática "garoto apaixonado pela garota", falando de um cara que quer terminar um relacionamento, essa música tem um excelente ritmo e é extremamente contagiante, com uma introdução que usa os mesmos acordes do clássico de Dion "Runaroun Sue". Como já disse, se quisessem fazer um remix dela ficaria perfeito. Nada dance, mas um arranjo mais rock. Se o Offspring descobrisse essa música... Tenho certeza que iam fazer maravilhas, transformando-a num punk rock, pois ela tem ritmo para isso. Nota dez para talvez a mais desconhecida canção dessa lista de preciosidades!!!

Let Yourself Go (Joy Byers) - Gravada em 1967, se um remix fosse feito preferiria a versão de 68 onde os vocais de Elvis estão de matar. Sua voz estava rouca como na década de 50 só que mais grossa e madura. Parte da trilha de "Speedway" essa música alcançou apenas 72º lugar nas paradas e foi lado B, não recebendo maior atenção. Com uma letra maliciosa e ritmo que ficaria perfeito na voz de Britney Spears, essa música nas pesquisas entre os fãs é quase unânime como preferida para um remix. Muita gente já notou seu potencial, falta só o EPE e a BMG. Como vocês vêem Elvis não é só "Hound Dog" e "Tutti Frutti" e é o único cantor que conheço que quase trinta anos depois de sua morte possui pelo menos uma dezena de músicas, lançadas mas desconhecidas, com, talvez, o mesmo potencial de clássicos como os acima citados. "A Little Less Conversation" que o diga...

Clean Up Your Home Backyard (Billy Strange / Mac Davis) - Com o especial de 68 no gatilho Elvis foi filmar "The Trouble With Girls" em outubro de 68, seu último filme pela MGM. O filme é bem diferente dos anteriores com Elvis em um papel no mínimo inusitado. Não acho o filme tão bom assim, mas está longe de ser o seu pior. Contém cinco músicas, a curta "Violet", um dueto na engraçada "Signs of the Zodiac", uma regravação de um gospel de 1960, "Swing Down Sweet Chariot", que acho que ficou bem melhor nessa versão de 68, a belíssima balada "Almost" e uma das músicas mais intrigantes da carreira de Elvis: Clean Up Your Home Backyard. Com uma das melhores letras que eu já ouvi, essa música pinta um retrato sarcástico da sociedade hipócrita de uma típica cidadezinha dos EUA: fala do falso religioso que prega e se mete na vida de todo mundo, mas que na verdade em vez de ir para a missa fica se embriagando em casa, o cara que critica todo mundo, mas que trai a esposa com a funcionária de sua loja etc. No final conclui: "Quando você chega no fundo da questão, não é uma pena que nessa pequena cidade ninguém consegue admitir que possa estar um pouco errado?" Não chega a ser uma música com conotação social como "If I Can Dream" ou "In The Guetto", mas é na mesma linha, só que nela o tópico é abordado de forma irônica. Possui ainda uma instrumentação meio blues / funk bastante interessante. Foi lançado como single e foi relativamente bem, alcançando 35º lugar.

The Power of My Love (Giant / Baum / Kaye) - Acreditem, os mesmos autores desse fantástico blues rock são os mesmos de... "Beach Shack"!!! Giant, Baum e Kaye escreveram algumas das piores músicas para Elvis e outras muito boas como essa e pasmem, "Devil In Disguise"!!! Vai gostar de extremos em outro canto!!! Gravada nas lendárias sessões de 69 de Memphis que produziu clássicos como "Suspicious Minds" e "In The Guetto", essa música mereceu um lançamento em single que nunca aconteceu. Tem balanço, boa letra, e a instrumentação - incluindo uma gaita assassina - está fantástica com a voz de Elvis bem grossa detonando no vocal. Uma obra prima ainda a ser descoberta!!

Only The Strong Survive (Gamble / Huff / Buttler) - Me apaixonei por essa música desde a primeira vez que a ouvi. Mas ela ganhou um significado todo especial quando acabei meu primeiro namoro. Esse musicão definitivamente foi uma das melhores músicas gravadas nas fabulosas sessões de gravação em Memphis em 69 e deu bastante trabalho para Elvis, que a completou somente após 29 takes! Aqui nota-se a dedicação dele em fazer um bom trabalho por essa época de sua carreira. Essa música que tem como letra a história de um garotinho que acabou o namoro e recebe alguns conselhos da mãe que diz que não adianta ficar triste com o fim do relacionamento, pois existem muitas outras garotas por aí que podem se interessar por você e que ele não as conheceria se não se desse a chance, e conclui numa frase simples uma coisa que todos nós sabemos: só os fortes sobrevivem. Ela começa com Elvis falando ao som de uma instrumentação: "Eu me lembro de meu primeiro caso de amor. Por algum motivo a coisa toda não deu certo. Minha mãe tinha alguns ótimos conselhos pra me dar. Por isso eu pensei em botá-los na letra dessa canção. Eu ainda consigo escutá-la dizendo...." Depois começa Elvis cantando, reproduzindo a fala da mãe. Belíssima música! Merecia um lançamento em single, que nunca ocorreu. Erro da RCA? Talvez. Foi lançada em um dos melhores álbuns de Elvis: From Elvis In Memphis, que continha clássicos como In the Guetto e pérolas como essa e Power of My Love.

Patch it Up (Eddie Rabbit / Rory Rourke) - Favorita entre muitos fãs para um remix, esse rock de primeira foi gravado nas espetaculares sessões de 70 e foi lado B de "You Don´t Have to Say You Love Me", que por sinal foi muito bem nas paradas e vendas, e na minha opinião é o melhor single de Elvis na década de 70. O sucesso do lado A desse single apagou qualquer chance que esse musicão tinha de virar hit. Saiu em uma versão ao vivo, muito boa e dinâmica por sinal no álbum "That's The Way It Is". Também aparece no filme de mesmo nome numa performace eletrizante de Elvis, com sacudidas e movimentos de caratê a vontade. Só vendo pra saber! Um remix ao estilo guns por exemplo, com guitarra e bateria ao máximo ficaria perfeito. Mandaria esses rappers de atualmente pro espaço!!! Novamente fica o recado: BMG e EPE fiquem de olho, vocês tem uma mina de ouro nas mãos e não sabem!!!

Cindy, Cindy (Kaye / Weisman / Fuller) - Esse rock gravado nas sessões de junho de 70 foi parar no álbum "Love Letters From Elvis"(!?) e não foi lançada em single! Uma pena, pois é um típico rock de Elvis da década de 70 com um solo de arrebentar de James Burton (tem uma versão do "Essential Elvis vol.4" que tem dois solos), a banda detonando e o segredo de todo bom rock: ritmo bom, acelerado e um vocal poderoso do vocalista. Aqui Elvis dá um show. Sua voz ainda estava com a aspereza (no bom sentido) dos anos de 68 e 69. Curiosidade: essa é uma das poucas músicas que fica melhor com os overdubs, ou seja a orquestra e instrumentos adicionais.

The Sound of Your Cry (Giant / Baum / Kaye)- As sessões de 70 produziram belíssimas baladas como "Sylvia", "How The Web Was Woven", "Bridge Over Troubled Water" e "You Don't Have To Say You Love Me" entre outras. Essa balada não fica devendo a nenhuma das acima citadas. Mas com uma belezura dessa nas mãos advinha o que a RCA fez? A lançou no lado B de "Ot's Only Love" em 71 e... só!!! Ela não apareceu em nenhum álbum de Elvis na década de 70 e virou o mais raro "Lost Single" de toda sua carreira. A RCA não interpretou dessa forma pois na parte do "Silver Box" que se denomina "Lost Single" e tem como proposta resgatar alguns singles que ficaram difíceis de se encontrar, como "Rags To Riches" e "I'm Leaving", a gravadora simplesmente não lançou essa preciosidade que sem dúvida rivaliza com "Always On My Mind". Não tenho palavras para dizer como essa música é linda!!! Mas aconselho as versões sem os violinos (essa versão do violino não ficou ruim, só menos legal que as outras, apesar de ser a oficial), que está presente no "Platinum Box Set" e no CD da FTD "Nashville Marathon". Se você quiser entender porque Elvis é o maior vocalista de todos os tempos pegue essa música, feche a luz do quarto, ligue o som e deixe essa verdadeira pérola lhe levar para onde só as boas músicas conseguem: qualquer lugar que a sua imaginação queira!! Ah e escutá-la acompanhado é bem melhor. Só uma dica...

We Can Make The Morning (Jay Ramsey) - Lançada como lado B de "Until Is Time For You To Go", essa pérola é uma das melhores músicas que eu ouvi de Elvis. Mas como suas qualidades são muitas vamos por partes:
a) A letra dessa música é sensacional! Com um tom otimista e introspectivo essa música é uma discreta mensagem a todos aqueles que por um motivo ou outro se sentem perdidos e não estão bem consigo mesmo. Começa falando como o personagem da música se sente deslocado e com medo da própria vida e de ver seus problemas (I just thought I heard a small voice crying / Looked again and saw it was me / I feel like a little boy denying that he fears the night cause he can´t see) Como vocês percebem a beleza dessa letra é que ela não é tão direta e precisa-se de um pouco de atenção para entendê-la. Aí ela segue imediatamente com uma mensagem de força, dizendo que nada está perdido e que depende de você se ajudar para sair dessa (Bitter larger thoughts will stop your crying / Only scared to search cause you may find / Faith hold the candle for your footsteps / Time rolls back the shadows of your mind.) Aí vem o refrão clamando que é uma noite solitária mais nós faremos a manhã, se tentarmos. Usando essa linguagem figurada o autor diz que mesmo que as coisas estejam ruins, se tentarmos, podemos nos ajudar para que elas melhorem, principalmente se tivermos a ajuda de alguém. O segundo refrão segue a mesma linha. Com certeza, junto com "In The Guetto" e "If I Can Dream" é uma das melhores letras das músicas de Elvis.
b) A voz de Elvis está sensacional e aqui realmente os vocais do Imperial Quartet ajudam.
c) O ritmo impulsionado pela introdução de James Burton é excelente, não ficando atrás de nenhuma Rock Ballad atual. Um remix dessa música com umas guitarras rítmicas adicionais ficaria ótimo.

I'm Leaving (Jarret / Charles) - Sucessos recentes de músicas românticas como "My Immortal" do "Evanescence" provam que baladas nunca ficam fora de moda. Seria uma tacada certa um remix dessa pérola, bastante executada em shows de 73. Essa música de melodia bonita, introdução pegajosa (no bom sentido) e letra simples mas honesta junto com a voz de Elvis ecoando uma solidão e transmitindo uma idéia de vazio de arrepiar foi lançada em 71 como um single, que por algum motivo só chegou ao 36º lugar nas paradas. O desprezo da RCA foi tão grande que essa musica só foi lançada em 1980 em um álbum (Silver Box)!! Numa altura dessa (71) a política de marketing da gravadora era uma bagunça, fato que levou os produtores a esquecerem essa pequena obra prima que aguarda ansiosamente o dia em que alguém veja o potencial de sua beleza e melancolia.

T-R-O-U-B-L-E (Jerry Chesnut) - 35ª posição foi pouco para esse verdadeiro tesouro de 1975. Essa música possui ritmo contagiante e uma letra alegre e apesar de ter ouvido comentários diferentes, a voz de Elvis está soberba. O cara tinha 40 anos e seu talento para rock continuava intacto. Remix em Potencial!!! E essa música ainda tem a vantagem de ficar boa tanto em um ritmo dance quanto em uma nova roupagem rock! Talvez não tenha progredido tanto pois foi lançada sem muita promoção e em um disco que foi péssimo nas paradas (Elvis Today, 57ª posição). O disco é irregular, mas possui a bela "And I Love You So" e a excelente "I Can Help". Para quem gosta de country "Fairytale" é perfeita. Porém tem músicas como "Woman Without Love", que é simplesmente terrível. Mas, como disse T-R-O-U-B-L-E é fantástica e um verdadeiro tesouro escondido!!

For The Heart (Dennis Linde) - Essa música faz parte do álbum "From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee" de 1976. Como todos sabemos 1976 marcou o inicio da derrocada final de Elvis e este álbum reflete isso, apesar de em hipótese alguma ser ruim. Pelo contrário é um dos melhores da década de 70. Quando me refiro a derrocada quero dizer a emocional, pois este é um dos álbuns mais melancólicos que escutei. O que não necessariamente faz dele ruim, simplesmente triste!! Beirando o top 40, visto que atingiu a 41ª posição, este álbum foi bem recebido na época e foi bem melhor que "Elvis Today", ganhando disco de ouro. Elvis nessa época não queria gravar e suas doenças e preguiça obrigaram a RCA a trazer o material de gravação para sua casa. Apesar de conter várias baladas contém esse grande rock pop, que deveria ter sido lado A de um single. Escrita por Dennis Linde, o mesmo de "Burning Love" essa música é a mais alegrinha do disco e uma instrumentação bacana da banda com uma introduçãozinha bem legal. A voz grossa de Elvis também dá um toque especial. No meio da música tem uma frase que tenho certeza que Elvis se identificou na época: "I´m a Roll but I just can´t Rock......" Foi o lado B do único single do álbum que ainda continha Hurt. O single foi bem, chegando a 28º lugar nas paradas. Mas, apesar de "Hurt" ser ótima, For the Heart merecia ser lado A, era mais moderna, alegre e mais sucetível de alcançar uma vendagem maior. Mas a RCA não pensou assim e essa preciosidade ficou desconhecida do grande público.

Victor Alves.

domingo, 7 de março de 2010

Elvis Presley - Cinemin Nostalgia

Elvis Presley - Cinemin Nostalgia
Reprodução exata da reportagem publicada no "Star Album" de agosto de 1957 - Em 1956, eu estudava no Colégio em Andrews, em Botafogo, onde cursava a segunda Série do Curso Clássico. Certo dia, li no jornal que aparecera um novo ídolo na música popular norte-americana e que seu sucesso era tão grande quanto o de Frank Sinatra, muitos anos antes. Seu nome: Elvis Presley. A notícia deve ter me impressionado realmente, porque, dias depois, o professor de Inglês, Prof. Dante, nos fez ditado de um artigo do Time, semanário norte-americano, sobre o novo ídolo. E me lembro perfeitamente de que, na hora, o nome de Elvis Presley — citado como Elvis "the Pelvis" Presley — me soou conhecido e logo me recordei da nota que tinha lido no jornal.

O artigo do Time era meio irônico, querendo levar na troça o novo ídolo que surgia; segundo a revista, ele rebolava e miava. Seu rebolado (era mesmo assim?) influenciou todas as gerações posteriores de cantores de rock, iê-iê-iê e música pop. Foi, portanto, um rebolado que deixou rastro. Quanto a se dizer que Presley miava, não era exatamente assim: sua gravação do clássico Blue Moon provou aos das gerações mais velhas que ele poderia perfeitamente cantar canções românticas, com muito sentimento, além das baladas "cheias de gritos, ais, uis e miados"; com Blue Moon, Presley conseguiu a simpatia e a admiração dos que o xingavam. Em 1957, quando eu ainda não trabalhava aqui, a Editora Brasil-América lançou duas edições de Star Album dedicadas ao fenômeno, as de nº 4 ("Elvis Presley, o Rei do Rock'n'Roll") e nº5 ("Elvis Presley — Especial").

As duas edições fizeram enorme sucesso. Hoje, quando muitos choram a morte de seu ídolo, falecido em 16 de agosto de 1977, resolvemos homenageá-lo com esta edição especial de Cinemin. Reunimos as duas edições e selecionamos o que havia de melhor nelas. De novidade, apenas esta apresentação e a atualização, que sai, na terceira capa. Confesso que não fui um dos mais ardorosos seguidores de sua carreira. As vezes, lia reportagens sobre ele, mas muitas me escaparam.

Volta e meia, recebíamos visitas de leitores para ver nossas edições, esgotadas há muito. Como a visita de uma menina muito rica que era a maior fã de Elvis Presley e que queria, a qualquer custo, exemplares das nossas duas revistas. Como não encontrássemos um único, a garota nos informou que queria que imprimíssemos um exemplar exclusivamente para ela; diante de nossa informação de ser impossível isso, uma vez que as máquinas só podem imprimir milhares de exemplares, ela nos saiu com esta resposta: "Meu pai paga toda a tiragem, eu quero!".

De vez em quando, eu lia notícias sobre ele — uma das últimas me impressionou demais: aquele ídolo estava gordo, balofo, refugiava-se na comida, não queria sair de casa, com medo de agressões. Em resumo: aquele homem que alucinava milhões de pessoas estava alucinado, cheio de manias, fobias, fugas, tensões e temores. Mas eu não podia imaginar que a vida e a carreira de Elvis Presley estavam chegando ao fim — fim causado pela morte em plena glória (o melhor para um ídolo) e não por esquecimento dos fãs (este, sim, o fim trágico).

Roberto Carlos afirmou que sua carreira sofreu forte influência de Elvis Presley e acrescentou que a primeira música que cantou na televisão foi Tutti Frutti, um de seus principais sucessos. E finalizou: "Elvis morreu, mas sua arte é eterna". Rita Lee também fala dele: "Elvis quebrou muitos preconceitos com suas atitudes, com as loucuras que fazia no palco. (...) Quando tudo no mundo era tradicional, Elvis destacou-se como uma exceção. Confesso que tentei assimilar o que ele fazia em suas apresentações." Quando um ídolo merece palavras assim de dois outros ídolos de gerações posteriores, é porque ele merece também uma homenagem nossa.

Um pouco da vida de Elvis Presley – Seu amor pela musica se manifestou aos dois anos de idade – Como se explica o aparecimento das celebres costeletas – O primeiro grande emprego – Arremetida para o alto. Elvis Presley nasceu no dia 8 de janeiro de 1935, numa fazendola desprovida de instalações modernas, situada logo ao sair de um povoado pobre chamado Tupelo, no Mississippi. Pouco depois de Elvis nascer, um violento "tornado" devastou a região, destruindo casas e plantações ao mesmo tempo que ceifava centenas de vidas. Tupelo tinha na época de seu nascimento 12 mil habitantes, a maioria dos quais ainda lutava para se recuperar de dois golpes sofridos: a depressão econômica e o "tornado". Os pais de Elvis não eram melhores que os demais habitantes de Tupelo até que se mudaram para Memphis, Tennessee, a cem milhas de distância. Vernon Elvis Presley. o pai de Presley, era filho de um agricultor pobre e sua infância foi das mais difíceis.

Teve que trabalhar arduamente è nunca foi além da quinta série da escola primária. Casou-se aos 17 anos com Gladys Smith, que morava nas proximidades e tinha 15 anos. Ela mesma afirma: "Creio que devíamos continuar freqüentando a escola, mas em vez disso fugimos para nos casar". Vernon teve que enfrentar muitas dificuldades para sustentar a esposa menina. Por algum tempo plantou algodão como meeiro e depois se tornou carpinteiro e capataz. Finalmente, sendo diligente, pôde, com a ajuda do pai, construir uma casa modesta para ele e Gladys.

Elvis foi um dos gêmeos a que o casal Presley decidiu dar os nomes de Elvis Aron e Jesse Garon, por gostarem de rimas. Acontece, porém, que Elvis foi o único a sobreviver, pois seu irmão gêmeo faleceu ao nascer. Vernon era membro de um grupo de bombeiros voluntários da localidade. Certo dia, acompanhando o pai a um incêndio e vendo-o entrar e sair da casa sinistrada carregando móveis, desandou a chorar e só a mãe pôde acalmá-lo. Vernon nunca espancou o filho. Somente a mãe o castigava. Ela era rigorosa e terna ao mesmo tempo e parece que se deve pelo menos em parte a esse rigor e ternura o sentimento que hoje impregna as canções de Elvis. Ele não declara seu amor por uma moça. Pede, suplica. Suas canções são um queixume... "Não Sejas Cruel". "Ama-me com Ternura". Elvis Presley aprendeu da mãe a ser asseado e seu divertimento predileto, a natação, é ele próprio um ato de limpeza. Em muitas coisas Elvis ainda depende dos pais. Sempre que pode, vai visitá-los em Memphis, na casa moderna e confortável que ele mandou construir, com uma bela piscina no quintal, inclusive.

Dizem os Presleys que o amor do filho pela música se manifestou aos dois anos, logo depois de ele começar a andar. Os três iam todos os domingos a uma igreja local da Primeira Assembléia de Deus e, sempre que o coro se levantava para cantar, o pequeno Elvis não se continha. Debatia-se no colo da mãe e libertando-se por fim, corria para a plataforma dos cantores, onde ficava tentando imitá-los, balanceando o corpo numa aproximação do ritmo. Seu hino favorito era "Não terei que atravessar sozinho o Jordão".

Vernon não conheceu prosperidade durante a infância de Elvis. Com a eclosão da 2º Guerra Mundial as firmas industriais em volta de Memphis começaram a se expandir e Vernon achou que era chegada a ocasião para uma melhoria de vida. Era necessária uma separação. Vendo o pai se preparando para partir, agarrou-se a ele, chorando. Vernon arranjou logo emprego numa fabrica de material de guerra e tentou encontrar uma casa para sua família, o que não conseguiu, dadas as dificuldades de locação. Depois, habituando-se à vida da grande cidade, não quis mais voltar à pacata Tupelo.

Vencendo a relutância da esposa, Vernon se mudou em definitivo para Memphis e com Gladys e Elvis viveu algum tempo num quarto pequeno, substituído mais tarde por uma casa mais confortável, mas de aluguel elevado. Gladys teve então que trabalhar para ajudar as despesas da família. Elvis tinha 14 anos na época da mudança, mas já mostrava interesse pela carreira que ia seguir e que teve inicio, talvez, aos 11 anos de idade, quando ele venceu um concurso de canto na feira de Tupelo. Também foi antes de deixar Tupelo que conseguiu seu primeiro violão. Ele desejava uma bicicleta, mas Gladys, receosa de algum desastre, protelava sempre o cumprimento de sua promessa.

Acontece que a mesma loja que vendia bicicletas, também eram vendidos violões e um dia Elvis propôs à sua mãe adquirir-lhe o instrumento, que custava 12 dólares e 95 centavos, garantindo que passaria mais um ano sem exigir a bicicleta. Foi um alivio para os Presleys. Alivio e vantagem, pois a bicicleta custava 50 dólares e, alem disso, Elvis não corria o risco de se machucar com o violão. Foi aos 16 anos que Elvis Presley deixou crescer suas já celebérrimas costeletas. E assim ele explica: "Quando criança eu pensava que costeletas e um bigode me fariam parecer mais velho. Ora, como o bigode custou a aparecer, decidi-me pelas costeletas. Agora não as aprecio tanto como antigamente, mas, o que fazer?". A propósito, comenta um amigo: "As costeletas foram a declaração de independência de Elvis, sua rejeição ao ambiente que o cercava". Dedicado á família, Elvis logo que começou a se fazer gente não quis continuar com um fardo pesado para os pais.

Entremeava os estudos com algumas horas de trabalho em fabricas, casas de diversões e outras funções, ganhando desse modo mais alguns dólares para reforço do orçamento domestico. Mas seu primeiro grande emprego, que lhe rendeu o polpudo salário de 40 dólares por semana, foi o de motorista de caminhão da "Crown Electric Company" que conseguiu logo após concluir o curso secundário. Este, pode-se dizer, foi o inicio de sua arremetida para o alto, para a posição de relevo que hoje ocupa na constelação artística dos Estados Unidos.

Rock'n'Roll, a música que Elvis Presley engrandeceu - Os primeiros passos do cantor na estrada da fama — Disputado pelos grandes empresários — 50 mil dólares por um só espetáculo de televisão — Hollywood. "Acho que não darei para outra coisa senão cantar!" — afirmou Elvis Presley ao ver despedido de um emprego, quando ainda cursava a escola secundária. E tinha razão, pois foi nessa mesma escola que ele deu os passos decisivos de sua carreira, ao ingressar num "show" de alunos. Suas possibilidades vocais e artísticas foram logo reconhecidas.

Diziam alguns de seus colegas que ele cantava tão bem como os melhores cantores de Nashvilhe, cidade que se tornara o terceiro centro musical do pais e era invadida na época por um ritmo novo conhecido por "country music", "mountain music", "hillbilly musíc" ou "backwoods jazz". Foi no começo da guerra e mesmo os editores de Nova York, que a princípio zombavam dessa "música montanhesa", notaram que o ritmo se expandia e fazia furor, não só no Sul mas em toda a Nação. Cantores conhecidos como Johnnie Ray, Frankie Lane, Patti Paige e mesmo Jo Stafford adotaram com sucesso o "estilo de Nashville"... logo após batizado de "rock'n'roll". A maioria dos cantores do novo ritmo era constituida de madurões e, embora agradassem, o certo é que a mocidade esperava por alguém mais jovem, para transformá-lo em seu ídolo.

Elvis ainda não se apercebia disso. Tudo que sabia era que gostava de cantar a "hillbilly music" enquanto dirigia o caminhão da "Crown Eletric Company" e diante do escritório da firma. Seu público começou a aparecer e então alguém lhe sugeriu que ele "talvez pudesse ganhar a vida apenas com a voz". Depois de pensar por algum tempo, Elvis decidiu mudar de vida e deu um primeiro passo... a gravação de um disco com que homenagearia sua mãe no dia do aniversário dela e que lhe permitiria saber se a sua voz gravada soava tão bem como a dos ídolos de Nashville. Dirigindo-se a uma empresa gravadora de Memphis, a "Sun Records", ele gaguejou o que desejava... Explicaram-lhe ali que a gravação ficava um tanto cara, 3 dólares para um lado e 4 para os dois. Elvis não se impressionou com o preço e decidiu gravar as duas faces do disco; Mas, ficando nervoso, perguntou se ficaria alguém mais no estúdio enquanto ele cantasse.

"Ele parecia muito nervoso" — recorda Sam Philips, diretor da "Sun" — "como se não estivesse seguro de suas possibilidades, o que aliás acontece ainda hoje". Sempre que tem de aparecer no palco, Elvis fica nervoso, coberto de suor. Phillips gostou da voz de Elvis e disse, na ocasião, que ainda haveriam de fazer juntos uma gravação comercial. Elvis pensou que ele estivesse brincando, mas um ano depois Sam Phillips provou que falara a sério. Mandou chamar Elvis, treinou-o com o auxílio de Scotty Moore, violonista, e de Bill Black tocador de baixo, fazendo-o adotar também os movimentos ritmados de um cantor "colored" chamado Big Boy Crudup.

Feita a primeira gravação prometedora, constante dos melódicos "That's All Right (Mamma)" e "Blúe Moon of Kentucky", anteriormente levados à cera por Crudup. Mas surgiu um problema: Os discotecários negros decerto não haveriam de querer um disco feito por um branco e os brancos tampouco o aceitariam. Phillips resolveu o caso fazendo com que o disco fosse tocado em duas emissoras diferentes, na mesma noite. O sucesso foi estrondoso. Os telefones das duas estações não cessavam de tocar e o diretor de um dos programas, Dewey Phillips, ligou para a residência de Elvis: "Estou quase enlouquecendo! Não posso responder a tantos telefonemas! Quero por o Elvis no ar!".

Presley tinha ido a um cinema e os pais correram a procurá-lo. Depois de esquadrinhar a platéia, localizaram-no por fim, e ele, pálido e nervoso, quase teve que ser arrastado para a estação de rádio. "Foi este o começo" — diz hoje Samuel Phillips — "Nunca vi coisa igual. Dois dias depois já tínhamos seis mil encomendas para aquele disco, coisa que nunca vimos antes e com que nem mesmo sonhávamos." Philips fez Elvis assinar imediatamente ..um contrato de exclusividade para gravações e pouco depois ele era também contratado por Bob Neal, para aparecer em público. Sua fama cresceu rapidamente. Cartas de fãs solicitando fotos chegavam à razão de 64 a 75 por dia!

Também aumentavam os protestos de alguns pais impressionados com os seus excessos. EIvis Presley procurava se explicar: "Querem saber por que não deixo de me mexer quando canto. Os que assistem aos meus números também batem com os pés, estalam os dedos, balançam-se para diante e para trás. É alguma coisa que está fora de nós, que não sabemos o que é!" O prestígio de Elvis Presley aumentou quando Bob Neal vendeu seus direitos de exclusividade ao Coronel Tom Parker, empresário da velha guarda, que ainda segue a tradição dos grandes dias de Barnum e dos Irmãos Ringling. As críticas feitas ao estilo de Elvis não impressionaram o Coronel, que adquiriu sem discutir e por um preço não revelado os direitos de Neal.

Nada diz melhor da decisão feliz do Coronel Parker do que este comentário de George Durgom, um dos "bigs" do programa de TV de Jackie Gleason, por ocasião da estréia de Elvis na televisão: "Este foi um dos melhores negócios de sua vida, Coronel. O garoto promete ser um grande astro!" Gleason teve o privilégio do ser o lançador de Elvis Presley na televisão, lembra que foi Jack Philbin, um de seus auxiliares, quem lhe trouxe uma foto de um dos discos por ele gravados para a "Sun". "Jackie"- disse Philbin – "aqui tem um garoto que está causando furor no Sul. Seus discos são vendidos assombrosamente. Pensei que, talvez..." Gleasom estudava a foto, uma pose característica de Elvis cantando o "rock'n'roll", quando Phiibin voltou à carga: "Não se importe em apresentar o disco... Apresente o garoto da foto!"

Philbim empreendeu as negociações com a "William Morris Agency", que representava Elvis e o Corenel Parker, ficando ajustado um primeiro contrato de 1.250 dólares por espetáculo. Contrato modesto se considerarmos que bem pouco tempo depois o mesmo Presley era convidado a aparecer no "Show" de Ed Sullivan, ganhando 50 mil dólares por alguns instantes de programa. Presley seguiu o caminho natural de todos os grandes nomes do "Show business"de Tio Sam... o caminho que leva a Hollywood. Seu primeiro filme, "Ama-me com Ternura", da 20th Century Fox, foi um sucesso. Outros virão, sem duvida, logo que ele cumpra o serviço militar. É inevitável.

Até quando Manterá Elvis Presley sua popularidade? – É indiscutível que o menino pobre de Tupelo nasceu sob o signo de boa fortuna. Tem muito talento, é verdade, mas grande parte de seu êxito ele o deve ao destino amigo que lhe propiciou o domínio de um ritmo novo e avassalante, que conquistou os Estados Unidos e o mundo. Mas, até quando durará esse domínio? Elvis encara o futuro com otimismo. É novo, cheio de vida, tem boa voz e, sobretudo, vontade de manter os louros conquistados. Outros venceram e dominaram por muitos anos... Al Jolson, Bing Crosby, Sinatra... Por que não desfrutará ele de um reinado idêntico duradouro? Acham alguns que essa popularidade é fugaz. Que a febre do "rock'n'roll" cessará em breve e com ela, naturalmente, sua expressão mais legitima: Elvis Presley. Há a possibilidade de o vaticínio não se confirmar. Outras musicas populares, a valsa, o fox, o tango, o samba, a rumba, o baião e tantas mais nasceram, criaram força e se firmaram. Por que não pode acontecer o mesmo com o "hillbilly music" do Tennessee? O tempo dará a resposta que todos desejam saber. Enquanto isso, Elvis pode continuar cantando e amealhando dólares, feliz e despreocupado.

Elvis é assim – Um espírito pensativo e apaixonado – Embora Elvis Presley provoque efeitos tão explosivos sobre as multidões, ele próprio detesta permanecer no meio do povaréu. Quando não está no palco, prefere ficar sozinho. Quer esteja numa estação à espera do trem, quer na solidão de um quarto vazio, ele pressente a multidão e procura maior isolamento. E quando consegue isolar-se emprega a maior parte do tempo pensando, meditando. Entretanto, vendo-se em companhia de outras pessoas, é alegre e sorridente.

Sempre Atencioso - Ousado e por vezes quase brutal no palco, Elvis é, na realidade, um rapaz meigo e polido, muito calmo, obsequioso com os que o entrevistam e atencioso com os que com ele trabalham. Qualquer personalidade em ascensão nos meios artísticos pode ser ensinada a pontilhar suas conversas de "sim, senhor", "não, senhor", "tenha a bondade", "faça o obséquio", etc, mas somente um camarada sincero pode fazer as regras de cortesia parecerem tão genuínas como Elvis o faz. Apesar de sua intimidade com os conselheiros comerciais, agentes e diretores de empresas de gravação de discos, ele invariavelmente se dirige a cada um deles tratando-os de "Senhor" e toma ainda a Iiberdade de os chamar pelos primeiros nomes.

Sempre Sensível - Elvis sempre se preocupou em saber o que mais apreciam nele. Quando gravou o primeiro disco para a "Sun", a canção "That's All Right Mama", correu a se esconder na noite em que tocaram o disco pela primeira vez. Ele estava nervoso e deveras embaraçado, por pensar que todos os garotos, seus conhecidos, iriam rir dele. Para fugir da vista dos amiguinhos e para evitar, ele próprio, de ouvir a gravação, se meteu num cinema, até que os pais foram retirá-lo de lá, para a primeira arrancada para a glória. Ernbora a partir de então. tenha adquirido mais confiança em si mesmo, Elvis ainda pondera bem o que diz e faz, mesmo quando em presença dos amigos. Com outras pessoas fica quase sempre na defensiva e se esforça muito por agradar, não importa com quem converse.

Constantemente Sentimental - Para um rapaz que tem causado sérias preocupações aos pais de mocinhas, Elvis é um filho cônscio de seus deveres e pensa sempre com ternura nos pais que estão em Memphis. Nada diz melhor do que afirmamos, do que a esta frase, que ele costuma repetir com orgulho: "A primeira coisa que fiz quando o dinheiro começou a entrar foi comprar uma casa nova para meus pais" e acrescenta: "Meu pai era motorista de caminhão".

Elvis, um personagem Discutido - Mas o que dizem de bom ou de mal a seu respeito não afeta sua verdadeira personalidade. São poucas as pessoas que já ouviram Presley e ficaram neutras com relação á sua arte. Ou o admiram em excesso ou o olham com desdém. Alguns dos seus críticos mais ferrenhos chegaram, mesmo, a acusá-lo de não possuir qualquer talento musical. Um desses críticos, John Crosby, de Nova York, assim se referiu a Elvis: "É um barulhento... que não canta, berra! E parece atacado de uma espécie de doença de São Vito... um candidato a um hospital de espasmódicos." Tem havido uma constante barragem de denuncias, boatos e comentários desfavoráveis da imprensa desde que Elvis Presley começou sua fantástica ascensão. É natural que um cantor jovem como ele fique perturbado com publicidade tão adversa e tenha, muitas vezes, expressado seu ponto de vista a respeito. Ele diz que, por mais que procure agir as direitas, sempre aparece alguma reação contrária. Se olha inocentemente para uma garota, os repórteres dizem logo que há um romance serio. Se, com sinceridade, responde com um "não" a qualquer pergunta em que os repórteres desejariam um "sim", proclamam logo aos quatro ventos que não gosta de cooperar com a imprensa. Elvis fica chocado, o que é compreensível, pois, como ele bem o diz, o que deseja é ser amigo de todos.

Morre o Rei do Rock'n'Roll - A noticia causou impacto e surpresa, praticamente o mesmo impacto e a mesma surpresa que marcaram o surgimento no cenário artístico americano e mundial de quem seria inicialmente cognominado de "The Hill Billy Cat" (O Caipira) e que em uma década se transformaria no "Rei do Rock'n'Roll". Morreu para o mundo como nasceu para a fama — repentinamente. Marcou uma época, deixando atrás de si um rastro que ainda hoje se faz presente na novíssima geração de intérpretes da música popular do mundo inteiro. Seu timbre de voz reconhecidamente incomum, seus meneios de corpo tão contundentemente criticados e condenados na primeira fase de sua carreira, os trajes espalhafatosos com que se apresentava, até mesmo o seu penteado tão em desacordo com o que se usava na época, fizeram escola. E muito mais: abriram novos rumos, permitindo aos cantores que a ele se seguiram se libertarem dos velhos padrões de interpretação e empregarem novas formas de expressão e comunicação, usando para tanto até mesmo o próprio corpo numa linguagem mais livre e direta, material de consumo mais imediato, enfim. De modesto motorista de caminhão no princípio da década de 50, com uma renda semanal de 35 dólares, atingiu os quarenta anos com rendimentos que ascendiam à casa dos 5 milhões de dólares. Predestinação? Fenômeno? Sinal dos tempos? Como saber? A realidade aí está: vinte anos após seu espetacular surgimento, a morte prematura, e, em reação, uma verdadeira corrida às estantes e prateleiras das lojas de discos.

Ao que se diz, não sobrou um único disco seu para contar a história! A fama de Elvis Presley sempre suscitou os comentários mais controvertidos. Aquela bossa muito sua de se apresentar e que levava os auditórios às raias da histeria, em meio a gritinhos e desmaios sensacionais, era por muitos considerada quase que obscena. Mas, por trás de tudo, aliado ao real valor do jovem cantor, erguia-se uma máquina promocional muito bem montada, inteligentemente apoiada em dados certos, exatos. O sucesso era garantido porque nele tudo era previsto e mios de mestre moviam os cordéis — principalmente as de Tom Parker, ex-vendedor de cachorro-quente e primeiro empresário e ultimamente mentor de Elvis Presley, que farejou a mina de ouro que tinha pela frente, e foi o responsável quase exclusivo de sua sempre crescente renda mensal. Até a convocação de Elvis para o serviço militar foi aproveitada de forma prática e objetiva. Tanto assim que, em 1958, chegada a hora, todos os compromissos artísticos foram cancelados e, metido no seu uniforme militar, lá se foi o famoso cantor atender ao chamamento da Pátria. Vida militar exemplar.

Resultado: à sua volta, as últimas resistências à sua carreira haviam caído. E ele conquistava o público que antes não o aceitava e que agora nele via apenas um americano 100 %, feito só de virtudes e qualidades. Mas se por essa nada realizou no setor artístico, as gravações anteriormente lhe garantiram direitos de mais 1,3 milhões de dólares. E após a dispensa, um dos seus primeiros espetáculos, de seis minutos apenas como convidado de Frank Sinatra, lhe valeu 125 mil dólares! E sem tardar mais, retomou as suas atividades normais. Em 1960, aconselhado por Tom Parker, ingressou no cinema. Em vez de discos, trilhas sonoras! De 1961 a 1968 protagonizou 21 filmes, numa média de 3 filmes por ano. Em fins da década de 60 já era o ator mais bem pago da história do cinema: 1 milhão de dólares por filme, além de 50 % dos lucros e os direitos sobre os discos gravados a partir das trilhas sonoras. Filme em que apareceu era recorde de bilheteria na certa. Um deles, "G.I. Blues", foi apresentado simultaneamente em 500 cinemas, e só nos Estados Unidos e Canadá rendeu 4 milhões e 300 mil dólares, verdadeiro recorde na época. Foi nessa ocasião que recebeu a indicação para cinco prêmios da National Academy of Recording Arts and Science. Seus discos nunca vendiam menos de 1 milhão de cópias.

Em dez anos os lucros do cantor e do empresário atingiam a soma de 135 milhões de dólares. Mas já em fins da década de 60 o cantor engordara muito e sentia certo decréscimo de popularidade, e, apesar dos crescentes lucros com suas gravações, resolveu se retirar para a mansão de Memphis, Graceland, a essa altura já casado com Priscilla Ann-Beaulieu desde 1967, após sete anos de vida em comum, e com quem já tinha uma filha, Lisa Marie. Mas em 1972 retornava à vida artística. E veio o grande sucesso, aquele que derrubou de vez o resto das barreiras de seus opositores mais tradicionalistas: a sua gravação de "O Sole Mio" ("It's Now or Never!"). Em 1973 Elvis e Priscilla resolveram se separar, e ele torna a se dedicar aos seus discos, ao cinema, à televisão e aos seus espetaculares shows, ficando famoso aquele ao qual compareceram mais de 100 mil pessoas de todas as idades no Madison Square Garden de Nova Iorque.

As preocupações com a saúde e a aparência pessoal, porém, fizeram-no recorrer várias vezes ao Hospital Batista de Memphis. Boa parte do último mês de abril ele passou internado, seguindo-se, logo após, bem sucedida tournée pelos Estados Unidos. Sempre às voltas com regimes de emagrecer, temendo agressões e viagens aéreas e, segundo muitos de seus amigos, comendo demais, ele se recolheu, a partir da sua volta, à sua mansão, passando a viver exclusivamente do fabuloso faturamento de seus discos.

Finalmente, no dia 16 de agosto deste ano, com apenas 42 anos de idade, seu amigo Joe Esposito encontrou-o caído inconsciente no chão de sua residência. Levou-o ao Hospital Batista, mas, apesar de todos os esforços, Elvis Presley veio a falecer. A repercussão de sua morte prematura provou que o ostracismo que o cantor costumou se impor de dez anos para cá, receoso de qualquer abalo no seu prestígio junto aos fãs do mundo todo devido ao seu corpo não tão esbelto como antes, de sua aparência de quarentão preocupadíssimo com os quilos a mais e os cabelos brancos que teimavam em aparecer, realmente não se justificou. Elvis Presley foi de verdade um marco na música popular internacional — esta a realidade que sua simples morte física jamais afetará.

Agradecimentos a Sérgio Capuzzo.