segunda-feira, 16 de março de 2009

Elvis Presley - The Final Curtain CD 6

Finalmente chegamos no sexto e último CD dessa coleção "The Final Curtain". Como não poderia deixar de ser aqui temos o último show realizado por Elvis Presley no dia 26 de junho de 1977 na cidade de Indianapolis. Muito já foi dito dessa apresentação. Autores que muito provavelmente jamais o ouviram já disseram abobrinhas como a que ele teria sido fenomenal ou então seu extremo oposto, que teria sido medíocre, com Elvis tropeçando no palco, parando a apresentação para cair no chão logo após, nos bastidores, entre outras inúmeras bobagens. Os jornalistas brasileiros realmente nunca primaram muito pela verdade histórica preferindo o simples sensacionalismo para impressionar os seus leitores. Deixando tudo isso de lado o fato real é que o último concerto de Elvis nem foi excepcional e nem tampouco medíocre. Foi apenas bom, correto e pra falar a verdade um pouco melhor do que seus últimos shows (ele é bem superior do que aquele que foi realizado em Madison, dois dias antes, por exemplo). Há momentos realmente inspirados como "Bridge Over Troubled Water" onde Elvis se esforça para cantar tudo de forma impecável e há momentos fracos, principalmente em seus antigos hits, o que aliás acontecia com habitualidade durante os anos 70.

Como se trata do último show da turnê, Elvis procura se despedir de uma boa maneira. Não há grandes deslizes e nem muitos momentos brilhantes. Segundo alguns autores e biógrafos Elvis chegou muito mal na cidade, alguns afirmando inclusive que ele realmente estava muito doente nesse dia. Se é fato ou não é complicado afirmar qualquer coisa hoje com certeza, o que podemos porém dizer é que ouvindo o show não percebemos nenhum tipo de desconforto por parte do cantor, que parece inclusive muito bem humorado, brincando com seus músicos de palco. Se ele realmente estava mal de saúde soube perfeitamente esconder isso do público ou então estamos na presença de mais uma daquelas histórias que sempre foram carregadas nas tintas. Outro fato chama a atenção: o show teve uma duração maior do que seus costumeiros concertos por essa época. Algo que de certa forma desmente um possível mal estar por parte dele, pois se isso fosse verdade ele simplesmente teria encerrado tudo mais cedo (como fez em Madison). Não foi o que aconteceu. O show é tranquilo, transcorre sem atropelos, nada fora do normal acontece. Depois de se despedir do público Elvis foi imediatamente para seu avião particular Lisa Marie e de lá rumou em direção à Memphis. Essa foi a única coisa mais fora da rotina que aconteceu mas não significa que algo de errado estava acontecendo com ele naquele momento.

Em termos de qualidade sonora não temos muitas novidades. O show em Indianapolis sempre surgiu para os fãs em qualidade Audience, alguns com pouca ou uma mínima qualidade de gravação. Em troca da possibilidade de ouvirmos Elvis Presley em seu último show fomos obrigados a engolir muitos CD desprezíveis nesse quesito. Só para lembrar alguns títulos: Adios - The Final Performance (o primeiro CD com Indianapolis e o mais conhecido também), The Last Show, The Last Farewell, The Last Live Session e The Final Farewell. Nenhum deles satisfazendo qualquer critério de qualidade sonora. Há muitos anos há um boato de que existe um tape em soundboard desse último show. Para alguns esses tapes estariam nas mãos da família de um antigo engenheiro de som que trabalhou para Elvis. Para outros o registro estaria nas mãos de colecionadores europeus e por aí vai. O fato é que o boato tem mais ou menos uns 30 anos e até agora nada surgiu o que nos leva a conclusão de que se trata apenas de uma lenda urbana (que eu gostaria muito que fosse verdade). De qualquer forma, enquanto não surge, ficamos presos a essas gravações que apesar de serem ruins como são nos trazem os últimos momentos do Rei do Rock no local onde ele realmente reinava, o palco.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 6
01. Also Sprach Zarathustra
02. See See Rider
03. I Got A Woman/Amen
04. Love Me
05. Fairytale
06. You Gave Me A Mountain
07. Jailhouse Rock
08. O Sole Mio / It's Now Or Never
09. Little Sister
10. Teddy Bear/Don't Be Cruel
11. Release Me
12. I Can't Stop Loving You
13. Bridge Over Troubled Water
14. Introductions
15. Early Morning Rain
16. What'd I Say
17. Johnny B. Goode
18. Introductions Continued
19. I Really Don't Want To Know
20. Introductions Conclusion
21. Hurt
22. Hound Dog
23. Special Thanks By Elvis
24. Can't Help Falling In Love
25. Closing Vamp

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 5

O quinto CD da coleção The Final Curtain traz um soundboard inédito do show realizado por Elvis na cidade de Madison no dia 24 de junho de 1977. Esse foi o antepenúltimo concerto da vida de Elvis. Isso por si só já chama a atenção. Depois dessa apresentação Presley só pisaria no palco mais duas vezes (sendo que seu último show seria realizado apenas dois dias depois). Por essa razão estamos aqui tratando de um concerto de fim de turnê, com tudo o que de ruim isso possa significar. Cansaço, exaustão, tédio, desinteresse, tudo isso pode abater um artista de 42 anos de idade com muito tempo de estrada. E infelizmente é justamente isso que acontece. Elvis parece não ter mais pique. Soa cansado, entediado, muitas vezes sem a menor vontade de proporcionar aos presentes uma boa apresentação. O velho problema da dispersão ataca o cantor em vários momentos. Ele começa a contar piadas, a falar com seus membros de grupo, a ironizar certos trechos de algumas canções e no meio disso tudo se esquece de cantar corretamente (o que afinal era justamente o que todos esperavam dele).

Embora seja material inédito o consenso geral entre os fãs foi a constatação da má performance do cantor em Madison. Mas não é só. Não podemos esquecer que a qualidade sonora do concerto também deixa muito a desejar. O som soa abafado, distante, parece que a banda está a milhas de distância de Elvis. Os solos de guitarra mais parecem ecos perdidos no fundo de um poço, por exemplo. O show em si é muito curto (embora esteja incompleto) mostrando que Elvis tinha consciência de sua má atuação o que fez encurtar tudo para ir embora logo. Já conhecia a apresentação de Madison pelo péssimo CD Audience "One Night" por isso não me surpreendi muito. Aliás é importante falar que muitos audiences, apesar de suas conhecidas más qualidades sonoras podem muitas vezes, por trazer a energia do público, fazer com que certos shows pareçam ser melhores do que realmente são. É o caso de Madison. O Audience passava a impressão que o show não havia sido tão mal. Depois de ouvir esse novo soundboard finalmente caímos na real de um concerto realmente fraco feito por parte de Presley.

Nessa altura do texto você pode se perguntar: Mas existe algo de bom nesse show de Madison? A resposta é sim. No meio de músicas massacradas pelo cantor (como uma das piores versões que já ouvi de "Jailhouse Rock" e um medley de "Teddy Bear / Don´t Be Cruel" de dar vergonha alheia) Elvis solta pequeninas faíscas de seu grande talento. Isso acontece em poucos momentos, é verdade, mas estão lá. A singela versão de "Earl Morning Rain", por exemplo, me agrada. Essa música tem aquele tipo de melodia que nos cativa. Pena que o som está realmente péssimo! Bem melhor está "I Really Don´t Want To Know" que é a única interpretação acima da média feita por Elvis nessa noite, embora seja tão curtinha que faça pouca diferença no saldo final. De resto muita mediocridade, inclusive duas versões cantadas em solo por Sherril Nielsen (Danny Boy entre elas). Não consigo entender, logo em "Danny Boy" uma das mais belas gravações feitas por Elvis em estúdio ele simplesmente se ausenta e deixa para Nielsen apresentar. Enfim, em conclusão posso dizer que todo e qualquer soundboard inédito é muito bem vindo mesmo que deixe a desejar em termos de performance. Historicamente é válido, apesar dos pesares.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 5
01. See See Rider
02. I Got A Woman/Amen
03. Love Me
04. If You Love Me (Let Me Know)
05. You Gave Me A Mountain
06. Jailhouse Rock
07. O Sole Mio/It's Now Or Never
08. One Night
09. Teddy Bear/Don't Be Cruel
10. And I Love You So
11. Danny Boy (S. Nielsen)
12. Walk With Me (S. Nielsen)
13. Love Me Tender
14. Introductions
15. Early Morning Rain
16. What'd I Say
17. Johnny B. Goode
18. Introductions Continued
19. I Really Don't Want To Know
20. Introductions Conclusion
21. Hound Dog
22. Introduction of Vernon Presley
23. Can't Help Falling In Love
24. Closing Vamp

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de março de 2009

Elvis Presley - The Final Curtain CD 4

Chegamos ao quarto CD da coleção The Final Curtain. Aqui temos uma boa e uma má notícia. A boa é que podemos finalmente ouvir material realmente inédito com o show gravado em Saginaw no dia 2 de maio de 1977. Muitos (inclusive esse que escreve) só conheciam o concerto pelo sofrível bootleg audience "Springtime in Saginaw". Assim podemos ouvir finalmente em soundboard essa mesma apresentação. Não é um som de qualidade superior, diria até que deixa muito a desejar mas mesmo assim é válido o lançamento. Pena que a performance de Elvis esteja pouco inspirada. Essa é a má notícia. Além do set list de rotina Elvis não leva adiante algumas canções que poderiam se transformar em preciosos momentos (como Trouble de King Creole que ele apenas "brinca" de cantar). Que pena pois uma versão completa do clássico Trouble viria bem a calhar em um momento como esse. Infelizmente tudo fica apenas na vontade. Aliás a cidade de Saginaw é bem conhecida pelos fãs de Elvis uma vez que foi aqui que ele também se apresentou para os trabalhos de parte do especial "Elvis in Concert". Pelo jeito apesar de fraca performance o público gostou o que fez ele retornar depois.

No mais nada de muito relevante acontece durante a apresentação. Elvis surge aqui nesse registro pouco concentrado, disperso, soltando piadinhas em demasia e desinteressado. Para quem gosta de imprevistos e curiosidades que aconteciam no shows de Elvis Presley nos anos 70 há uma falha técnica no microfone do cantor bem no comecinho de "Polk Salad Annie". Como sempre fazia nessas ocasiões Elvis brinca muito com o fato, tira onda e depois reinicia a música (lembra o mesmo problema que surgiu em Las Vegas durante as filmagens de "That´s The Way It Is"). A lamentar apenas que pouco se captou da reação de Elvis no momento da falha do microfone. Como há pouca captação do som ambiente também ficamos momentaneamente em um silêncio incômodo, como se simplesmente a faixa tivesse acabado sem mais nem menos. Para falar a verdade o concerto em si vai acontecendo meio que ao acaso. Elvis parece um pouco fora de tom, deixando passar vários trechos de canções ao perder sua deixa. Uma situação um pouco desanimadora. Vale pelo resgate e pouco além disso.

Para completar o CD os produtores colocaram algumas canções avulsas de quatro concertos diferentes de Elvis realizados em Toledo (23 de abril), Duluth (29 de abril) e Chicago (1 e 2 de maio). Nenhuma novidade nessas faixas. O show de Toledo, por exemplo, já está há bastante tempo disponível no CD 2 do bootleg "Goodbye Memphis", já o concerto de Duluth pode ser conferido no CD "A Day in Duluth". A faixa "My Way" creditada como gravada em Chicago na realidade foi apresentada por Elvis em Toledo, o que demonstra um deslize por parte de quem organizou as canções. Além do mais está mal situada ao lado de outra versão de "My Way" supostamente também gravada na mesma cidade. Como eu já escrevi ao me referir ao outro CD dessa coleção não aprecio mesmo esse sistema de jogar momentos avulsos, misturando músicas de concertos diferentes, num tremendo balaio de gatos. Tudo soa desorganizado, jogado ao acaso. Seria bem melhor que colocassem dois concertos por CD (já que os shows de Elvis também eram curtos em duração). Dessa forma seria bem melhor no quesito organização. Enfim, se fosse definir sinteticamente esse quarto CD da coleção diria que ele é rotineiro, apesar de trazer algum material inédito.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 4
01. That's All Right
02. Trouble
03. I Got A Woman/Amen
04. Love Me
05. Happy Birthday To You
06. Hound Dog
07. Trying To Get To You
08. Jailhouse Rock
09. My Way
10. Little Sister
11. Teddy Bear/Don't Be Cruel
12. Help Me
13. O Sole Mio/It's Now Or Never
14. Love Me Tender
15. Why Me Lord
16. Polk Salad Annie/Microphone Change Over
17. Polk Salad Annie
18. Mystery Train/Tiger Man
19. Can't Help Falling In Love
20. Polk Salad Annie
21. Big Boss Man
22. Bridge Over Troubled Water
23. My Way
24. Fairytale
25. My Way

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 3

Infelizmente o CD 3 da coleção "The Final Curtain" nada traz de inédito. Basicamente o material é retirado de dois bootlegs bem conhecidos dos fãs de Elvis: "Coming On Strong" (que trazia o show do dia 16 de fevereiro de 1977 em Montgomery) e "Moody Blue and Other Great Performances" (que trazia o concerto realizado no dia 21 de fevereiro de 1977 em Charlotte, uma cidade da Carolina do Norte). Para quem nunca adquiriu esse material antes pode ser bem interessante conhecer essas apresentações que trazem pequenas novidades no set list habitual de Elvis nos anos 70. No show em Montgomery, por exemplo, temos uma muito rara "Where No Stands Alone" do álbum "How Great Thou Art". A canção é executada sobriamente, com basicamente Elvis em capela, acompanhando suavemente por piano e o grupo vocal. De certa forma destoa da versão do estúdio que é naturalmente grandiosa em seus arranjos. Como se trata de uma música religiosa Elvis mantém a concentração e a interpreta corretamente, muito inspirado.

A versão de "Unchained Melody" nesse mesmo concerto também é um ponto alto. Crua, sem os artifícios da versão de estúdio que conhecemos do álbum oficial Moody Blue a música revela uma interpretação natural, sem firulas mas também extremamente inspirada. Curiosa a inclusão dessa canção nos shows de Elvis em 1977, uma vez que de maneira geral Elvis vinha seguindo uma seleção musical em suas apresentações que não trazia novidades. Parecia até que ele não queria mais suar tanto a camisa. Felizmente isso caiu por terra pela inclusão de canções como essa que exigiam bem mais dele, tanto do ponto de interpretação vocal como instrumental, uma vez que ele fazia questão de tocar a música ao piano.

Do show seguinte, Charlotte, a grande novidade é a apresentação ao vivo de "Moody Blue". A música gravada em Graceland tinha boa melodia, letra e era uma bela novidade no repertório do cantor. Além disso tinha uma pegada bem anos 70 o que a tornava potencialmente candidata a virar hit nas rádios, coisa que vinha faltando a Elvis ultimamente. Assim em um raro esforço em mostrar novidades no palco Elvis a apresentou aqui nesse concerto. A execução mostra vacilos tanto por parte de Elvis como da banda, o que é normal em se tratando de uma música nova, grande novidade para eles que vinham numa espécie de controle remoto, cantando e tocando quase sempre as mesmas músicas. O fato porém é que mesmo com esses pequenos problemas "Moody Blue" é uma preciosidade para os fãs do cantor, uma vez que não se sabe bem o porquê Elvis literalmente abandonou a música nos shows seguintes. Como é rara seu valor é maior. O resto do material é de rotina. Em termos de performance ele não está particularmente brilhante mas também fica muito longe do medíocre. No final das contas esses registros afastam de certa forma a visão melodramática de um Elvis caindo no palco em seus últimos concertos, coisa que definitivamente não é verdade. Ele estava lá, trabalhando de forma digna, na média, com pequenos espasmos de brilhantismo, o que é normal para todo e qualquer artista de sua idade.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 3
01. You Gave Me A Mountain
02. O Sole Mio/It's Now Or Never
03. Little Sister
04. Teddy Bear/Don't Be Cruel
05. My Way
06. Polk Salad Annie
07. Hurt
08. Hound Dog
09. Elvis Talks/Striptease
10. Where No One Stands Alone
11. Unchained Melody
12. Can't Help Falling In Love/Closing Vamp
13. Are You Lonesome Tonight
14. Reconsider Baby
15. Love Me
16. Moody Blue
17. You Gave Me A Mountain
18. Jailhouse Rock
19. O Sole Mio/It's Now Or Never
20. Little Sister
21. Teddy Bear/Don’t Be Cruel
22. My Way
23. Release Me
24. Hurt
25. Why Me Lord

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de março de 2009

Elvis Presley - The Final Curtain CD 2

O segundo CD da coleção The Final Curtain já é bem mais interessante que o volume 1. Finalmente aparecem os primeiros registros realmente inéditos. O concerto que Elvis realizou na cidade de Orlando, por exemplo, só havia sido lançado antes em bootlegs sem qualidade sonora decente e aqui finalmente temos praticamente a íntegra do que foi encontrado até agora em sonoridade digna (embora longe de ser perfeita). Como o CD 2 traz faixas de concertos diferentes temos várias oscilações de qualidade, com algumas canções gravadas em bom nível técnico (como How Great Thou Art) intercaladas com registros de qualidade medíocre (como Love Me). Nesse aspecto puramente sonoro o CD começa mal, é verdade, principalmente nas primeiras faixas com vários problemas de gravação (alguns bizarros) mas depois ao longo do CD as coisas vão paulatinamente melhorando.

Como já foi dito as doze primeiras canções do CD foram gravadas em Orlando no dia 15 de fevereiro de 1977. Esse concerto é o grande chamariz desse segundo CD pois era dado como inexistente por longos anos. Orlando já era conhecido em qualidade Audience pelos fãs através do bootleg "Going Back In Time" mas do jeito que se apresenta aqui é realmente novidade. Obviamente como se tratava de um Audience (significa que foi gravado no meio da audiência) a qualidade sonora ia do sofrível ao medíocre. Agora temos acesso a um material com melhoria bem considerável. Não é perfeito, há erros de equalização e captação (em algumas ocasiões as caixas chegam próximas a explosão pelo volume desequilibrado) mas não há como negar a importância do aparecimento desse soundboard. Se fosse qualificar diria que as músicas desse show surgem em um nível de bom para mediano (embora tenha sido gravado na mesa de som) sem muito rigor técnico. De qualquer forma convenhamos que já é um avanço e tanto. Em termos de performance Elvis vai de oito a oitenta. Entre as canções apenas "You Gave a Mountain" se destaca mais embora o resto do concerto seja no mínimo curioso.

Depois do show em Orlando há uma salada com canções tiradas de nada mais, nada menos, do que sete shows diferentes. Não gosto desse tipo de seleção pois demonstra pouco rigor e passa a sensação de desleixo, além de ser tudo obviamente incompleto. Do show em Columbia temos, por exemplo, apenas duas faixas (Release Me e Trying To Get You). Nada de muito inspirado embora Elvis procure cantar tudo de forma correta e profissional. Esse show pode ser ouvido na íntegra no bootleg "Release Me" só que em sistema Audience, sem grande qualidade. Aqui as coisas melhoram. As quatro faixas seguintes foram gravadas em Charlote, no dia 20 de fevereiro. Esse show já é bem conhecido pelos fãs e colecionadores de bootlegs. Basta lembrar do CD FTD Unchained Melody. O grande destaque entre essas faixas é justamente Moody Blue (que infelizmente não passa de uma tentativa fracassado por parte de Elvis em apresentar material novo ao público - ele tenta, brinca, ri um pouco e desiste!). Depois dessas canções gravadas em Charlote a única coisa mais relevante é o medley gospel "Bossom Of Abraham / Better You Run" gravado em Alexandria. A faixa já havia sido lançada antes no bootleg "The Event" mas agora está bem melhor, chegando até mesmo a parecer um ensaio já que mal conseguimos ouvir o público. Como o CD citado não é muito conhecido vai ser uma boa surpresa para muitos. Eu sempre aconselho os fãs a adquirirem os bootlegs com as íntegras desse show mas como se apresenta aqui até que pode ser válido, muito embora como eu já disse o material esteja incompleto. Em resumo, o CD 2 não é perfeito mas já traz novidades interessantes (coisa que falta definitivamente no volume 1 da coleção).

Elvis Presley - The Final Curtain CD 2
01. Love Me
02. If You Love Me (Let Me Know)
03. You Gave Me A Mountain
04. O Sole Mio / It's Now Or Never
05. All Shook Up/Teddy Bear/Don't Be Cruel
06. Help Me
07. Big Boss Man
08. My Way
09. Introductions
10. Hurt
11. Hound Dog
12. Can't Help Falling In Love
13. Release Me
14. Trying To Get To You
15. Fairytale
16. My Way
17. Moody Blue
18. How Great Thou Art
19. Blue Christmas
20. My Way
21. That's All Right
22. Bosom Of Abraham/You Better Run
23. And I Love You So
24. Fever
25. Hurt
26. Heartbreak Hotel
27. Blue Suede Shoes.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - The Final Curtain CD 1

A partir de hoje vou fazer uma análise geral da coleção "The Final Curtain" que acaba de sair no mercado. Antes de mais nada é importante informar que se trata de um lançamento não oficial (do selo Boxcar) com tiragem limitada (em torno de 1500 cópias) que despertou grande interesse entre os fãs de Elvis aqui no Brasil e lá fora. Trata-se basicamente de 6 CDs e 6 DVDs com áudio e imagens dos últimos concertos realizados por Elvis Presley no ano de 1977. O primeiro CD da coleção traz basicamente duas apresentações feitas por Elvis nos dias 13 e 14 de fevereiro de 1977 nas cidades de West Palm Beach e St. Petersburg , ambas localizadas no Estado da Flórida.

Quem conhece mais a fundo o mundo dos bootlegs já conhece os shows de títulos como "Coming On Strong" e "Cajun Tornado". Em termos de performance não há muito o que se destacar pois Elvis está apenas ok, fazendo concertos que são acima de tudo profissionais e corretos. Obviamente que em se tratando de um período complicado de sua vida há um certo "freio de mão puxado" por parte do cantor, principalmente em canções que exigem um pouco mais dele como na nota final de "It´s Now Or Never" mas no geral ele nem compromete e nem tampouco surpreende. Há momentos divertidos como em "Blueberry Hill" do concerto em West Palm Beach onde Elvis nos transporta por alguns segundos aos anos 50 novamente ou na letra cheia de brincadeiras de "Can´t Help Falling in Love" desse mesmo concerto mas esses momentos também são apenas pontuais. Embora não leve muito a sério Elvis se diverte o que faz o registro valer a pena. No resto da set list não há maiores surpresas, se destacando apenas uma "Love Letters" tardia, embora não muito comovente.

Embora muitos tenham afirmado que houve um ótima melhora sonora no material ouso dizer que na realidade a melhora de som existe porém de forma mais sensível. O que se nota ao comparar com os títulos anteriores é que houve um trabalho de limpeza em certos momentos dos concertos, problemas esses que vinham desde as fitas originais. O fato porém é que não há como melhorar muito isso pois é um problema que nasceu no momento da gravação. Como não se trata de uma gravação profissional, tudo foi captado na mesa de som do concerto (os chamados soundboards) não havendo todo o cuidado que se tem na gravação de registros oficiais. Esse tipo de situação é simplesmente impossível de contornar, tudo se resumindo em paliativos para tornar a audição mais confortável. Foi exatamente isso que foi feito nesse primeiro CD. Para falar a verdade nunca gostei muito desses registros (especialmente o show em St Petersburg, muito fraco em termos de qualidade sonora) mas como se trata de Elvis em seus momentos finais geralmente aceitamos esse tipo de som abaixo da média. Os dois concertos aliás trazem problemas de equalização e balanceamento além do chamado "efeito metálico" que sempre os caracterizou e de certa forma os rebaixam no aspecto puramente técnico. Enfim, o primeiro CD da coleção não traz maiores novidades e nem nos surpreendem em sua qualidade (pois já a conhecemos).

Elvis Presley - The Final Curtain CD 1
01. Little Sister
02. You Gave Me A Mountain
03. Blue Suede Shoes
04. O Sole Mio/It's Now Or Never
05. My Way
06. All Shook Up/Teddy Bear/Don't Be Cruel
07. And I Love You So
08. Fever
09. Blueberry Hill
10. Hurt
11. Hound Dog
12. Jailhouse Rock
13. Can't Help Falling In Love
14. If You Love Me (Let Me Know)
15. You Gave Me A Mountain
16. O Sole Mio*/It's Now Or Never
17. All Shook Up/Teddy Bear/Don't Be Cruel
18. And I Love You So
19. Fever
20. My Way
21. Blueberry Hill
22. Love Letters
23. Introductions/School Days
24. Hurt
25. Hound Dog
26. Can't Help Falling In Love
27. Closing Vamp

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Elvis Presley - Close Up

Como o tempo passa rápido! Está completando 10 anos de lançamento desse box muito interessante, Close Up. Na ocasião de sua chegada nas lojas eu escrevi em meu site EPHP o seguinte texto: "A BMG Heritage anunciou em 1º de julho o lançamento de "Elvis: Close Up", um conjunto de quatro CDs que inclui amplo material até agora inédito do rei do rock'n'roll. No ano passado a RCA lançou o conjunto de CDs "Elvis Today, Tomorrow, and Forever" e a coleção "ELV1S 30 #1 Hits", num CD único, que já estreou no primeiro lugar da lista Billboard 200 e, desde então, vendeu 2,8 milhões de cópias nos Estados Unidos e no total 9.9 milhões de cópias ao redor do mundo, de acordo com a Nielsen SoundScan. O conjunto "Elvis: Close Up" inclui ao todo 89 faixas. Cada um dos quatro CDs remasterizados cobre um aspecto distinto da carreira de Elvis Presley.

O primeiro disco traz as fitas master em estéreo dos anos 50, sendo o primeiro lançamento desse tipo de "Blueberry Hill", "Loving You", "(There'll Be) Peace in the Valley (For Me)", "Don't Leave Me Now" e outras. O disco 2 traz faixas de quatro dos filmes em que Elvis trabalhou: "Saudades de um Pracinha", "Feitiço Havaiano", "Estrela de Fogo" e "Coração Rebelde". O disco traz 25 faixas nunca antes lançadas. O terceiro CD cobre as sessões que Elvis fez nos anos 60 no Estúdio B da RCA em Nashville. Estão incluídas 21 faixas de várias sessões diferentes, incluindo "Make Me Know It", "U.S. Male", "Surrender", "His Latest Flame", "The Girl of My Best Friend" e "Singing Tree". O último disco traz um concerto inteiro gravado em 18 de abril de 1972 em San Antonio, em gravação até agora inédita. O show teve 23 canções, incluindo "Burning Love", "Proud Mary", "Suspicious Minds", "Never Been to Spain", "Funny How Time Slips Away" e "Polk Salad Annie".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - One Night in Vegas / Too Much Monkey Business

FTD One Night in Vegas
Já tive a oportunidade de escrever um longo e detalhado review desse CD e portanto não irei me alongar em demasia. O que mais posso escrever em relação ao "FTD One Night in Vegas"? Se trata realmente de um título maravilhoso do selo FTD, muito bem organizado e completamente focado em sua proposta histórica. O CD foi gravado ao vivo durante um concerto realizado por Elvis Presley em Las Vegas durante a temporada de agosto de 1970. Essa terceira rodada de shows de Elvis é até hoje considerada uma das melhores de toda a sua carreira. Não havia mais o nervosismo da temporada inicial e nem tampouco a tensão da temporada do começo do ano, quando todos disseram que era precipitado voltar a Vegas em uma época de baixa no fluxo de turistas. Temia-se até um fracasso comercial, que de fato não aconteceu.

Assim Presley se mostra totalmente à vontade no palco, com repertório maduro e bem selecionado. O show do dia 10 de agosto surge na íntegra, o que é fantástico, pois dá uma ideia geral para o fã de Presley saber como era um concerto dele naquela época. Para completar cronologicamente o álbum o produtor Ernst Jorgensen resolveu colocar mais cinco canções gravadas no dia 4. Dessa segunda seleção o destaque vai para a versão ao vivo de "Twenty Days And Twenty Nights", uma linda balada do álbum "That´s The Way It Is" que Elvis raramente cantou em suas apresentações. Do concerto do dia 10 vale ressaltar as ótimas versões de "Words" (de seu primeiro disco ao vivo), "I Just Can't Help Believing" (a bela canção romântica que abriu o lado A da edição original de "That´s The Way It Is") e "Something" dos Beatles, ainda sem encontrar seu arranjo ideal dentro da banda de Elvis. Embora ele tivesse sérias restrições sobre as posições políticas do grupo inglês resolveu não deixar de fora de sua carreira clássicos imortais como esse, "Yesterday" e "Hey Jude", uma das poucas canções do quarteto a serem gravadas por ele em estúdio. Então é isso, esse é um título que definitivamente não pode faltar em sua coleção.

FTD One Night in Vegas - 1: Opening Theme 2: That's All Right 3: Mystery Train/Tiger Man 4: Elvis talks 5: I Can't Stop Loving You 6: Love Me Tender 7: The Next Step Is Love 8: Words 9: I Just Can't Help Believing 10: Something 11: Sweet Caroline 12: You've Lost That Loving Feeling 13: You Don't Have To Say You / Love Me 14: Polk Salad Annie / Intro: band 15: I've Lost You 16: Bridge Over Troubled Water17: Patch It Up 18: Can't Help Falling In Love 19: Words 20: Cattle Call / (Yodel) 21: Twenty Days And Twenty Nights 22: You Don't Have To Say You Love Me 23: Brigde Over Troubled Water (incomplete).

FTD Too Much Monkey Business
Esse é o patinho feio da coleção FTD. Mereceu o título. Muito ruim a ideia de se mexer nas gravações originais de Elvis. Há limites que não se devem ultrapassar sobre isso. De qualquer maneira o repertório pelo menos é de bom nível. O que liga a grande maioria das músicas desse CD é o sabor nitidamente country de praticamente todas as faixas. A country music sempre foi muito subestimada pela crítica em relação à obra do cantor. Elvis, e poucos param para pensar seriamente sobre isso, foi um grande artista country. Presley realmente vestiu mesmo a camisa desse estilo musical durante toda a sua carreira. Ele de certa maneira nasceu dentro dessa sonoridade e jamais a abandonou. Provavelmente se ainda estivesse vivo estaria lançando álbuns desse gênero até hoje!

"Too Much Monkey Business", por exemplo, foi subestimada em sua época de lançamento, mas a ouvindo hoje em dia podemos notar a força de seu sabor caipira. "Clean Up Your Own Backyard" é outra que não ganhou o destaque merecido. Além da boa letra tem uma performance incrível por parte de Elvis, que conseguiu impor uma fina ironia (diria até mesmo sarcasmo) em sua execução. Coisa de gênio realmente. "Just Call Me Lonesome" por outro lado é aquele tipo de som regional para não deixar dúvidas sobre o tipo de ritmo que Elvis estava abraçando na época. São boas músicas, boas faixas. Isso porém não é novidade pois elas já eram conhecidas desde o seu lançamento original. O CD, que se propõe a ser uma releitura do álbum póstumo "Guitar Man", assim me soa levemente descartável, apesar das boas canções presentes no repertório. Há coisas infinitamente melhores dentro do selo FTD.

FTD Too Much Monkey Business - 1: Burning Love 2: I'll Be There 3: Guitar Man 4: After Loving You 5: Too Much Monkey Business 6: Just Call Me Lonesome 7: Loving Arms 8: You Asked Me To 9: Clean Up Your Own Backyard 10: She Thinks I Still Care11: Faded Love 12: I'm Movin' On 13: I'll Hold You In My Heart14: In The Ghetto15: Long Black Limousine16: Only The Strong Survive17: Hey Jude18: Kentucky Rain19: If You Talk In Your Sleep 20: Blue Suede Shoes (Las Vegas, Aug '69).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Elvis Presley - Elvis at Sun

Segundo os diretores da Sony este seria o lançamento definitivo sobre os "anos Sun" da carreira de Presley. Será mesmo? Dois argumentos fortes militam contra esse "marketing". Primeiro ponto: Desde o surgimento do CD até os dias de hoje, os engenheiros de som da BMG RCA não conseguiram captar com perfeição o "Sun Sound" de Sam Phillips. Será que eles conseguem agora? Pessoalmente acho difícil, pois cada vez mais me convenço que o único formato que consegue capturar a essência das músicas na Sun é o vinil mesmo!

Os absurdos cometidos na era do CD foram tantos que até mesmo "eliminaram" o eco da Sun, que não é defeito e sim uma marca registrada do estúdio de Sam Phillips. Vamos torcer para que não ocorra outro absurdo deste tipo com esse novo CD! Segundo ponto: Onde está "Uncle Pen", a mais badalada música perdida de Elvis na Sun Records? Houve muitos boatos sobre sua existência, inclusive falou-se muito sobre seu lançamento nesse CD, o que não ocorreu. Alguns especialistas afirmam que a música realmente existe, mas que a BMG só pretenderia mostrá-la ao público no futuro, em um evento mais importante.

Outro aspecto curioso sobre as gravações de Elvis Presley na Sun Records é o fato do próprio cantor ter dito em entrevistas que "havia muito eco" nas músicas. Será que o próprio Elvis não tinha consciência da importância de seu trabalho na Sun Records? Ao que tudo indica sim, pois penso que Presley via suas faixas na Sun como um ponto importante em sua vida profissional, afinal de contas a Sun foi a primeira a lhe dar uma chance como cantor, mas o resultado técnico em sua visão deixava muito a desejar. E olhando sob um certo ponto de vista isso é algo até bem comum com alguns artistas.

Eles sempre olham para suas primeiras gravações com uma visão muito crítica pois enxergam ali a falta de experiência, o pouco domínio vocal, a falta de um arranjo mais bem elaborado, etc, etc. Mesmo não estando com o gosto pessoal de Elvis é impossível negar a importância histórica de todas as músicas da Sun Records que ele nos legou. É um momento em que realmente as canções deixaram de ser meros country para se tornar algo diferente, que viria a ser conhecido como rock. Sendo assim esse CD não é completo e nem muito menos definitivo mas vale a pena conferir, afinal o gênese do Rock ´n´Roll está aqui.

Elvis Presley - Elvis at Sun (2004)
Harbor Lights 
I Love You Because (alternate take 2)
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
Blue Moon
Tomorrow Night
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
Just Because
Good Rockin' Tonight
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
I'm Left, You're Right, She's Gone (slow version)
I'm Left, You're Right, She's Gone
Baby, Let's Play House
I Forgot To Remember To Forget
Mystery Train
Trying To Get To You
When It Rains, It Really Pours

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Long, Lonely Highway

Esse CD do selo FTD é bem curioso por vários motivos. Um deles é sua capa. Perceba que é antes de tudo uma homenagem à capa do disco Elvis Golden Records vol. 2, uma das mais lembradas da carreira do cantor. Com fundo branco e várias figuras de Elvis a capa fez escola sendo bastante imitada por outros artistas, inclusive no Brasil. É aquela coisa, nem sempre uma boa ideia precisa ser megalomaníaca ou exagerada para marcar época. A simplicidade do design chama muito atenção até nos dias de hoje. Outro aspecto curioso desse título é a grande quantidade de takes iniciais presentes (takes 1 ou 2, por exemplo). Esse tipo de gravação é relevante pois traz a primeira tentativa de acertar a música dentro dos estúdios. Certa vez escrevi sobre a grande eficiência de Elvis Presley dentro dos estúdios, geralmente gravando um LP inteiro em apenas uma ou duas noites.

Pois bem, esse CD mostra bem isso. Quando a luz acendia dentro da cabine de gravação Elvis já estava praticamente pronto ao lado de seus músicos. Muitos takes inicias são praticamente iguais às masters oficiais que conhecemos. Elvis chegava lá e resolvia como regra geral tudo de forma rápida e o mais importante, com qualidade. Com Elvis Presley certamente não se aplicava o velho lema de que "A Pressa é inimiga da perfeição". "Long Lonely Highway" foca nos anos 60, com gravações que vão desde o começo da década até praticamente seu final. Muitas pessoas que escrevem sobre música ainda insistem em qualificar essa fase de Elvis como um período de menor qualidade musical por parte do cantor, onde ele teria deixado o rock mais visceral de seus primeiros discos por um som mais suave, de romantismo extremo. Bobagem. Elvis apenas seguiu a própria tendência musical que acontecia na música americana no período. Não foi Elvis que suavizou, foi a própria cultura musical do período que seguiu para um lado mais pop. De qualquer forma engana-se quem pensa que essa fase foi destituída de valor. As próprias canções aqui presentes mostram justamente o contrário.

As faixas foram retiradas principalmente das sessões que deram origem aos discos "Elvis is Back" e "Pot Luck With Elvis", além de singles e bonus songs de trilhas para filmes. Muitas delas inclusive saíram diretamente do conhecido projeto "The Lost Album", o LP nunca lançado por Elvis nos anos 60. Eu particularmente gosto muito desse material pois foi uma tentativa muito válida por parte de Elvis e banda em produzir material com maior qualidade que suas costumeiras trilhas pós 1963. Entre os destaques cito a sempre curiosa "Come What May", uma daquelas canções que caíram em um injusto limbo dentro da discografia do cantor, tanto por terem sido mal lançadas e pessimamente divulgadas, o que em absoluto tiram seus méritos em termos de qualidade sonora. Hoje o título está parcialmente ultrapassado até mesmo pelos lançamentos posteriores do selo FTD (que trouxeram muitas dessas sessões quase na íntegra) mas de qualquer forma vale a citação de seu lançamento. É um bom produto para o fã de Elvis Presley ter em casa na sua coleção.

FTD Long, Lonely Highway
01. It's Now or Never (take 1)
02. A Mess Of Blues (take 1)
03. It Feels So Right (take 2)
04. I'm Yours (take 2)
05. Anything That's Part of You (take 2)
06. Just For Old Time Sake (take 1)
07. You'll Be Gone (take 4)
08. I Feel That I've Known You Forever (take 3)
09. Just Tell Her Jim Said Hello (take 5)
10. She's Not You (take 1, WP-4)
11. Devil In Disguise (takes 2, 3)
12. Never Ending (take 1)
13. Finders Keepers, Losers Weepers (take 1)
14. Long Lonely Highway (take 1)
15. Slowly But Surely (take 1)
16. By And By (take 4)
17. Fools Fall In Love (take 4)
18. Come What May (stereo master)
19. Guitar Man (take 10)
20. Singing Tree (take 13)
21. Too Much Monkey Business (take 9)
22. Stay Away (take 2)

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Elvis Presley - Elvis Spring Tours 77

Esse CD do selo FTD vem para desmistificar vários mitos criados em torno de Elvis Presley. O primeiro deles é aquele que afirma que, em 1977, Elvis não conseguia mais apresentar um bom concerto ou se animar em um palco. Não há nenhum sinal de vacilo vocal ou falta de energia nas faixas que são ouvidas aqui, muito pelo contrário, em todas elas Elvis procura dar o melhor de si e demonstrar que ainda podia empolgar uma plateia e disponibilizar para todos um belo show, com muito rock de primeira qualidade, belas baladas românticas e muita animação e energia. Afirmar tudo o que escrevi aqui não significa negar ou tentar ignorar todos seus problemas físicos e emocionais, não é isso, mas sim dar a César o que é de César. Elvis está bem em praticamente todos os registros, se há algum deslize em alguma faixa, eles são pontuais e não prejudicam o conjunto ou a qualidade do material. Em poucas palavras: Elvis ainda continuava um grande artista, com pleno domínio de palco em seus momentos finais.

No aspecto puramente técnico, as canções não apresentam uma qualidade que vá satisfazer os ouvidos mais exigentes. Aqui devemos primar nem tanto pela excelência de som, mas sim pela excelência histórica de se ouvir Elvis nos palcos, no mesmo ano de sua morte. Há problemas de equalização, de mixagem e de balanceamento dos instrumentos e na voz de Elvis, mas isso é normal, até mesmo pela própria subcategoria em que CDs como esses são enquadrados. Ninguém vai exigir de um lançamento desses todos os cuidados que foram utilizados em seus discos oficiais. O foco aqui é outro completamente diferente. Se o ouvinte passar por cima de todos esses problemas, certamente vai chegar a conclusão que ouvir algumas dessas músicas é sempre um prazer renovado. O CD começa com três faixas retiradas de um mesmo show realizado no dia 26 de março de 1977 na cidade de Norman.

A primeira, That's All Right, é providencial. Nada melhor que abrir o CD com a música que começou tudo. Após uma pequena introdução de violão tocada pelo próprio Elvis, o grupo entra à toda e apresenta uma grande versão, totalmente coesa e praticamente perfeita do ponto de vista técnico. Após conversar um pouco com Charlie Hodge e a plateia, Elvis começa Are You Lonesome Tonight? e como quase sempre acontecia nos registros dessa música ao vivo, ele aproveita para brincar um pouco e rir, principalmente na parte falada da música. Parece uma tradição, quando chegava nessa parte da canção era quase certeza Elvis perder o controle e começar a gargalhar. Aqui com a ajuda de Charlie tudo desanda, Elvis novamente ri muito e se diverte, mas depois se recupera e leva a canção até o final. Blue Christmas é a próxima. Esse registro é especialmente interessante porque essa música nem era muito utilizada por Elvis em seus shows. Inclusive pode-se perceber claramente que ela nem mesmo estava programada e Elvis a inclui em cima da hora. Mas isso certamente não era problema para a TCB Band que chega com competência e nos presenteia com uma versão excelente. As duas faixas seguintes foram gravadas no show do dia 27 em Abilene.

São duas músicas dos anos 50. A primeira, Trying To Get To You, foi utilizada a exaustão por Elvis nos palcos durante os anos 70. Essa canção sempre proporcionou boas versões para Elvis, sempre deu a ele a chance de demonstrar seu pleno controle e domínio vocal. Após ouvi-la na íntegra não há outra conclusão a não ser que ela está isenta de maiores máculas e é praticamente perfeita (tirando uma pequena brincadeira feita por ele, que passa muito longe de prejudicá-la). Em cima Elvis entra logo com Lawdy Miss Clawdy, outro grande clássico de seus anos iniciais. Aqui Elvis aparente estar bastante empolgado, improvisando em cima do solo de piano. Talvez o único senão seja a exagerada participação no finalzinho da música por parte do acompanhamento vocal, mas nada que vá prejudicar o resultado final. Fever, que vem logo a seguir, é uma versão excelente. Tudo o que ela poderia ter sido em shows mais importantes como o Aloha e não foi. Elvis, relaxado e brincando, proporciona um belo entrosamento com a banda e responde de imediato a empolgação do público. Outra faixa impecável. Única do show do dia 30 de março, realizado em Alexandria, presente no disco, uma pena.

A nostalgia prossegue com Heartbreak Hotel, seu primeiro grande sucesso internacional. Em seus últimos anos Elvis ganhou fama por não tratar seus velhos hits com a seriedade e o respeito merecidos, principalmente nos palcos. Esse mito tem sua razão de ser, principalmente por causa das mini versões de um minuto de duração de algumas de suas maiores músicas, mas isso nem sempre acontecia, como bem podemos notar nessa versão aqui presente. Elvis a canta corretamente, ainda que em certos trechos tire uma onda, mas a banda apresenta um bom acompanhamento, respeitando o arranjo das primeiras versões ao vivo de 1969. Gravada em Saginaw no show do dia 25 de abril. If You Love Me entra em seguida e vem para demonstrar o material mais recente de sua carreira. Essa versão não é tão boa como a oficial que aparece no disco Moody Blue, mas é na média. De todas as faixas, essa talvez seja a mais prejudicada pelo desnível de equalização existente entre Elvis, a banda e os vocais femininos de apoio. Faltou maior rigor técnico por parte daqueles que estavam gravando a apresentação. Vale pela importância. O Sole Mio / It's Now or Never traz novamente todos os problemas técnicos da faixa anterior, pois ambas foram gravadas no mesmo dia 26 de abril em Kalamazoo. Apesar da boa vontade de Elvis em promover Sherril Nielsen, acho que a introdução poderia ter sido suprimida sem maiores traumas. A Hot Horns certamente também é outro problema nessa faixa, pois o arranjo é excessivo e abusa de efeitos sonoros para passar a imagem de grandiosidade. Tudo ficou altamente excessivo no final das contas.

Little Sister vem logo a seguir. Essa versão foi retirada do show em Ann Arbor no dia 24 de abril. Bem mais extensa que suas irmãs do mesmo período a canção se torna uma boa surpresa e quando mal nos recuperamos de seu final somos arremessados imediatamente para um delicioso medley com as imortais Teddy Bear / Don't Be Cruel, mesma fusão que Elvis vinha utilizando já há tempos, mas que nunca perdia o frescor e a beleza. São canções imortais certamente, daquelas que Elvis nunca iria se livrar mesmo. A parte final do Medley é muito legal, com Elvis animado e novamente se divertindo para valer! Enfim, uma versão sem novidades, mas muito boa. Do mesmo show ainda temos Help Me. Há versões melhores do que esta certamente. Aqui Elvis já aparece um pouco cansado, o que se nota nitidamente no último verso quando ele se segura e se preserva, provavelmente se poupando para o resto da apresentação (a compare com a versão de Memphis de 1974 para ter uma ideia do momento em que Elvis realmente pisa no freio). A versão de Blue Suede Shoes do show do dia 26 de março em Norman que vem a seguir é fantástica. Depois de a negligenciar durante muitos anos, Elvis acata a sugestão que lhe é passada no palco e apresenta uma versão energética e de um pique ímpar. Pena que ela dure muito pouco. Mas isso não é problema pois somos compensados logo após, pois antes que percebamos como ela foi fugaz, outra boa versão entra nas caixas: é mais uma dos 50's, light e mínima, mas outro de seus clássicos de rock, Hound Dog, versão que mal chega a pouco mais de um minuto, mas que diverte principalmente pela bateria e pelos demais efeitos percussivos.

Pensou que a volta aos anos 50 tinha acabado? Que nada! Logo após Jailhouse Rock nos chega numa outra versão que não foge à regra: pouca duração e apenas o básico, o feijão com arroz, porém com um diferencial interessante: a própria empolgação de Elvis. Com ela chega ao final a sucessão de seus sucessos roqueiros dos anos 50, pelo menos por enquanto. Polk Salad Annie dá seus primeiros sinais e logo nos primeiros momentos descobrimos que estamos na presença de uma versão especial. Muito mais movimentada e bem arranjada, a Polk Salad Annie de 1977 nada fica a dever a suas predecessoras do começo da década. Primeira constatação importante: Elvis está a mil! O grupo fecha com ele e capricha no apoio que não lhe falta em nenhum momento da execução de seu grande hit! Até mesmo o naipe de metais se mostra altamente feliz nessa noite. Aliás esse show de Milwaukee é muito interessante, muito recomendado para quem quiser ouvi-lo na íntegra. Infelizmente para esse CD só utilizaram essa versão, o que deixará todos com água na boca certamente. Elvis vai no comando da animação e segura muito bem a vibração ao lado de seus músicos, lá pelo meio ele desliza levemente e perde um pouco de fôlego, para logo se recuperar e encerrar a música com tudo! O final dessa versão é a melhor que já ouvi dessa música! Elvis e a TCB Band colocando pra quebrar mesmo e botando abaixo o ginásio. Apoteose pouca é bobagem! Nota 10!

Já a seguinte, Bridge Over Troubled Water, versão gravada em Duluth no dia 29 de abril de 1977, apresenta problemas. Parece que esqueceram de avisar ao pianista que está é uma canção suave e intimista. Mal começa a canção e ele dispara alucinadamente, fazendo com que Elvis literalmente corra atrás! A canção está totalmente fora de seu ritmo normal, parece que Elvis fica todo o tempo da música tentando se acertar com o resto da banda, tudo ficando muito confuso. A orquestra e a banda de Elvis também não conseguem chegar num denominador comum! Certamente canções ao vivo são mais rápidas que as de estúdio, isso é natural e todo músico sabe disso, mas essa versão de Bridge Over Trouble Water mais parece uma maratona, onde a pressa e o desentrosamento imperam! Em vista de tudo isso não se poderia de jeito nenhum alcançar um resultado satisfatório. Pior faixa do CD. Porém nem tudo está perdido, como bem demonstra uma grata surpresa gravada no mesmo show que vem logo a seguir, Big Boss Man, outra que Elvis não costumava muito apresentar ao vivo. Aqui Elvis e banda nos apresenta uma versão muito agradável, fluída, de fácil assimilação. Músicas como essa dão a nítida impressão que em determinados concertos Elvis poderia também trazer um sopro de renovação em seu muitas vezes cansado repertório. Big Boss Man está acima da média nessa apresentação, tanto em aspectos artísticos como em aspectos técnicos. Gravada no show do dia 29, é uma bela surpresa e uma doce exceção!

Fairytale, faixa do disco Elvis Today, traz um Elvis novamente com o freio de mão puxado. Única canção do show dele em Chicago presente no CD. Particularmente nunca gostei muito dessa apresentação e essa faixa é uma boa amostra do que rolou naquela noite na cidade dos ventos! Embora a cante corretamente, Elvis visivelmente se posiciona e se contém, com pequenas exceções no meio da faixa. No final Elvis não se arrisca e deixa o vocal de apoio assumir o controle. Melhor mesmo poupar a voz para outra ocasião! Mistery Train / Tiger Man gravada no show em Saginaw também demonstra um Elvis mais contido. A versão é muito boa também, mas lhe falta maior pique, aqui quem brilha certamente é o grupo de Elvis, James Burton na guitarra principalmente. Elvis apenas dá o tom para que seus músicos brilhem, tanto individualmente em belos solos (inclusive de bateria) como em conjunto. Última dos velhos tempos presente no CD. Unchained Melody é uma preciosidade absoluta! Aqui temos a versão que Elvis gravou no dia 24 em Ann Arbor. Não há maiores novidades e todos já a conhecem bem, inclusive de outros discos. Momento especial na carreira de Elvis.

Litlle Darlin vem apenas para cumprir tabela e preparar o desfecho final do disco. Essa é a versão do mesmo show da faixa anterior. Também sem maiores novidades. Finalmente de todo esse revival chegamos ao final com chave de ouro: My Way. Essa é a versão do show em Saginaw e está entre as melhores que Elvis gravou. Apesar da versão do Aloha From Hawaii ser considerada a melhor pelos especialistas, principalmente pela sua perfeição técnica, fico com essa! Nessa época Elvis vinha apresentando belas versões dessa canção, vide a do show em Rapid City, por exemplo. Mesmo todas sendo de alto nível, a versão de Saginaw tem um diferencial que a lhe coloca em posição de superioridade perante as demais: Elvis está muito mais envolvido nela, muito mais ligado emocionalmente! Apesar de sempre ter ouvido ela em outros bootlegs, essa é a melhor em termos de qualidade sonora que já ouvi. Com ela Elvis fecha o CD de forma magistral.

Resumo da ópera: o velho mito de que Elvis não conseguia mais comover ou emocionar, que estava tão gordo que mal se segurava em pé, que estava tão dopado que não conseguia mais levar uma apresentação até seu final, deve ser revisto. Tudo está aí, para quem quiser ouvir. O raciocínio é simples: o CD foi gravado em 1977, último ano de vida do cantor, e prova que se houve problemas em sua vida, certamente eles não conseguiram apagar o brilho de Elvis nos palcos da vida! Alguns dessas versões em nada ficam a dever ao material que ele gravou nos anos anteriores. Certamente ele passou por situações aflitivas, de saúde, emocionais, mas ainda era Elvis Presley quando adentrava em um palco, ainda era o Rei do Rock'n'Roll que todos conhecemos. Para constatar isso basta apenas ouvir atentamente! Fazendo isso você certamente vai entender porque uma canção vale mesmo mais do que mil palavras!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Let It Roll

Alguns títulos de Elvis Presley são simpáticos. Veja bem, eles não irão mudar sua vida, não vão causar grandes surpresas em colecionadores de longa data, eles não vão mudar o conceito que você tem de Elvis Presley, nada disso. Eles apenas são bons lançamentos, com bom gosto em seu aspecto visual e na escolha do repertório e vai somar, mesmo que timidamente, em sua coleção apenas como um CD interessante e agradável. Eles são apenas títulos simpáticos. É justamente esse o caso desse CD do selo Madison denominado Let It Roll. Não há entre suas faixas nenhuma grande novidade, apesar do CD ter sido produzido inteiramente com takes alternativos de estúdio de Elvis durante os anos 60 e 70. Quase todos esses registros já tinham sido lançados antes em outros CDs, mas o selo Madison resolveu unir um belíssimo repertório com um grande apuro visual em seu encarte, o que acaba gerando pontos em seu favor. Aliás é bom que se diga que a produção visual e a direção de arte da capa e encartes internos é de alto nível. Interessante como lançamentos como esse, meros bootlegs, podem colocar facilmente à nocaute as produções artísticas dos discos oficiais de Elvis. Já escrevi aqui mais de uma vez sobre a pobreza artística das capas dos discos oficiais de Elvis nos anos 70 e volto a repetir que, quando me deparo com um título tão bem produzido como esse, realmente fico não menos do que surpreso. Quem dera os LPs oficiais de Elvis tivessem tido uma direção de tamanho bom gosto como essa!

"Let It Roll" é um CD que traz versões de estúdio não aproveitadas por Elvis na época. Essas faixas que foram descartadas são denominadas de "takes alternativos", ou seja, bem poderiam ter sido consideradas as oficiais caso assim fossem escolhidas pelos produtores de Elvis na época. Mas não o foram. Muitas delas foram arquivadas e ficaram longos anos longe do público. Talvez se o mito Elvis não tivesse tanta força como tem atualmente elas simplesmente seriam perdidas para sempre. Porém como o nome do cantor é cada vez mais forte e presente, gerando muita curiosidade das novas gerações, pessoas que eram encarregadas do armazenamento desses takes resolveram trazer tudo à tona e lançar todo o material em CDs oficiais e não oficiais. Aqui o período enfocado é o final dos anos 60 e grande parte dos anos 70 (indo mais ou menos até meados dessa década). Considerada por muitos a melhor fase de Elvis Presley em sua carreira, esse período foi aquele em que o artista resolveu realmente crescer como intérprete e artista, deixando os temas juvenis de suas trilhas para trás para se dedicar de corpo e alma a um material bem mais adulto e maduro. Se antes Elvis cantava sobre romances adolescentes agora ele estava realmente interpretando canções que falavam mais diretamente com pessoas de sua real faixa etária, com todos os seus problemas, sem fantasias de pré adolescentes no meio. Realmente não havia mais como Elvis ficar cantando pérolas fantasiosas de aborrescentes com quase quarenta anos de idade! Se continuasse naquele caminho das trilhas infantiloides ele certamente ficaria patético em pouco tempo. Felizmente os anos 70 para Elvis Presley começaram mesmo em 1969 no American Studios como bem demonstram os diversos takes de "Wihout Love" presentes no disco.

Essa canção é geralmente associada como "aquela música que Elvis sempre tentou gravar e nunca conseguiu". Segundo alguns autores desde os tempos da Sun Elvis tentava chegar numa versão que o agradasse sem contudo conseguir. Aqui temos os takes 1,2,3,4 e 5. O take 1 demonstra Elvis sussurrando a faixa baixinho com a banda ensaiando e afinando os instrumentos ao fundo. Finalmente entra o piano e começa o take 1 que dura poucos segundos. O take 2 é bem mais completo porém também não vai muito longe, mesmo Elvis a cantando corretamente. O que estraga esse take é um erro, quase imperceptível, do guitarrista na primeira fase da faixa. Apesar disso Elvis segue em frente, talvez para pegar o gancho certo da faixa ou talvez por não ter notado o pequeno erro do instrumentista de seu grupo musical. Apesar de tudo o que se nota é que, desde os primeiros takes, Elvis está seguro e com pleno controle da situação. A velha tese de que essa música teria se transformado no verdadeiro terror para Elvis nos estúdios durante sua longa carreira cai por terra rapidamente pois ele não demonstra o menor sinal de dificuldades em executá-la. Aliás é bom que se diga que não é certo e nem confirmado com absoluta certeza ser essa a música que Elvis tentou e não conseguiu gravar durante seus primeiros registros na Sun Records.

Promised Land mais uma vez rouba o show, sendo o centro das atenções. Aqui o take não captura o clima das gravações, a faixa começa a mil e demonstra uma grande semelhança com sua versão oficial. Tecnicamente está ótima embora se perceba algumas variações no vocal de Elvis, principalmente por seu riso incontido logo no comecinho da versão. Após o solo de James Burton Elvis perde por poucos segundos o tempo exato da canção mas segue em frente! Não há grandes surpresas, existem mínimas diferenças de bateria (algumas ideias muito boas que infelizmente ficaram de fora da gravação master) e um solo praticamente idêntico ao oficial o que de certa forma coloca por terra a afirmação de Burton de que o solo dessa canção teria sido praticamente improvisado! As duas versões demonstram claramente que não, embora existam certas diferenças e nuances no solo final.

A master My Way, lançada na caixa Walk a Mile in My Shows quebra um pouco o clima do disco! Aqui não há nenhum espaço para improvisos ou brincadeiras, o take é pra valer e embora essa faixa nunca tenha sido lançada na discografia oficial de Elvis pré 77, podemos facilmente reconhecer a perfeição técnica dessa versão. Uma das grandes interpretações da carreira de Elvis, embora não tenha encontrado nenhum espaço em sua carreira oficial. Se My Way é um símbolo de perfeccionismo e profissionalismo por parte do cantor a seguinte, na verdade uma Jam Session, vem de encontro aos anseios daqueles que querem compartilhar um pouco o humor de Elvis dentro dos estúdios. Johnny B.Good não passa de um ensaio descompromissado e Holly Night sequer deveria ter sido creditada pois não passa de uma gozação de Elvis em cima das músicas natalinas que ele era forçado a gravar pelo Coronel Parker e pela RCA. Elvis está até mesmo um pouco alterado além da conta, muito acima e além da animação corrente e costumeira que estamos tão familiarizados ao ouvir nesse tipo de registro. O cantor realmente passa nítida impressão de estar um pouco "alto" demais! De qualquer maneira vale o bom astral.

Patch Up, canção que nunca simpatizei, aparece em seguida e pouco acrescenta. A única nota relevante é saber que a faixa é muito bem executada, sem brincadeiras fora de hora, erros ou equívocos por parte de Elvis e banda. Para quem gosta da canção é uma boa pedida, para quem não curte o melhor mesmo é manter distância. Já Help Me é bem melhor. Embora creditada como "Live Multi Track" a canção fica bem na média, bem na regularidade das versões que Elvis apresentava na época. Essa canção também quebra um pouco o ritmo do CD pois é uma faixa ao vivo, o que destoa muito das outras versões (praticamente todas de estúdio). Sobre ela ainda tecerei algumas observações importantes logo abaixo.

It's Midnight que inclusive abre o CD apresenta duas faixas. A primeira nada mais é do que um mero ensaio, altamente recomendado para aqueles que gostam de ouvir os bastidores das gravações de Elvis em estúdio. Aqui temos os dois principais componentes do grupo de Elvis ensaiando. Em primeiro plano o grupo vocal tenta acertar a nota certa, tudo acompanhando pelo grupo musical que também tenta se achar. Em um segundo momento Elvis vai tentando achar, não só o tom certo da canção como também memorizar alguns trechos da música. Ao lado de J.D.Summer Elvis vai tentando se encontrar na música. Ao fundo muito barulho das vocalistas. Finalmente depois de alguns momentos Elvis interrompe o que estava fazendo e chama a atenção delas para que assim possam começar as gravações. O clima é descontraído, leve, com Elvis sempre de bom humor, o que desmente muitas biografias que sempre o colocam como um ser sorumbático e necrosado durante as sessões do Stax. Basta ouvir um pouquinho do que acontecia dentro dos estúdios para perceber que nada estaria mais longe da verdade! Elvis brinca, se diverte, solta piadinhas, faz brincadeiras. Não há o menor sinal de depressão ou melancolia, muito pelo contrário. Se há um grande mérito desses registros é realmente colocar por terra a imagem de um Elvis Presley desabando de decadente dentro dos estúdios de gravação durante os anos 70.

Bossom of Abraham, praticamente perfeita e completa, vem para fazer entender a todos porque o Gospel é uma das vertentes que deram origem ao Rock'n'Roll. Percebam que a vocalização é praticamente idêntica àquela usada nos primórdios do surgimento do bravo Rock'n'roll. A única notável diferença seria encontrada mesmo apenas no teor das letras, essas bem mais mundanas e seculares do que as de teor religioso. Porém isso não importa e nem desqualifica a teoria de que o novo idioma musical que nascia era realmente uma grande mistura de sons, gêneros e sonoridades que pairavam no ar no velho Delta do Mississippi. Já no passar dos anos ambos os gêneros iriam nitidamente se distanciar. O Rock'n'Roll iria se unificar cada vez mais ao pop, principalmente após a ida de Elvis para o exército e o Gospel, mesmo fiel às suas origens vocais das capelas, iria absorver cada vez mais outros gêneros regionais do Sul como o Country and Western e as baladas sentimentais. O exemplo mais perfeito disso é justamente Help Me. Percebam sua letra. Ao mesmo tempo em que o autor, em primeira pessoa, pede forças ao senhor (Lord, Help me walk another mile, just one more mile;) ele adota uma postura nitidamente melancólica e sentimental das mais conhecidas canções country e regionais do período! Mais eclética impossível. O ritmo pouco lembra os corais vocais dos cultos evangélicos, mas está presente, mesmo que de forma um tanto quanto tímida. Na realidade é outra das músicas de Elvis que não se enquadram em classificações restritas, sendo na realidade uma grande e colorida colcha de retalhos sonora.

Always On My Mind aparece em versões interessantes, bastante peculiares. Geralmente quem é fã há muito tempo de Elvis acaba ficando um pouco exausto de seus grandes sucessos e procura se dedicar mais aos seus momentos menos conhecidos e populares. Essa canção curiosamente já esteve nos dois lados da balança. Em um primeiro momento foi negligenciada a um obscuro lado B nos anos 70 e praticamente não causou qualquer impacto na carreira do cantor. Mas depois que Priscilla Presley a elegeu como tema principal do seriado "Elvis e Eu" a coisa mudou completamente de figura. De lado B a música foi catapultada para o Olimpo onde reinam seus grandes hits, seus maiores sucessos! Não é de se admirar que hoje, depois de ter sido executada exaustivamente, muitos colecionadores torçam o nariz para ela. Mas não vamos tomar esse caminho, a canção é uma das melhores melodias da carreira de Elvis, além de trazer uma letra nitidamente autobiográfica (impossível não fazer a conexão entre o pedido de desculpas implícita em seus versos e o fracasso do casamento entre Elvis e sua esposa). Aqui temos um ótimo momento para uma reavaliação equilibrada dessa linda canção. E por falar em lindas canções, melodias divinas, nada mais chama nossa atenção do que a harmonia de I'm Leavin. Se uma palavra define esse momento sem dúvida o termo correto nesse instante seria "elegância"! De uma sobriedade poucas vezes vista na carreira de Elvis Presley, I'm Leavin sempre vai figurar entre as mais divinas melodias da carreira do cantor. Um dos pontos altos do CD, sem a menor sombra de dúvidas.

Resumindo: o CD é muito válido. Além de colocar canções coadjuvantes do repertório de Elvis em primeiro plano ainda consegue manter, em praticamente todas as faixas, um belo nível técnico no aspecto de sua qualidade sonora. Também é recomendado para os admiradores dos bastidores das gravações de Elvis pois traz bons registros de seu humor durante as mesmas e o mais importante, de forma contextualizada ao repertório em si e sem exageros e arroubos inadequados. O conjunto não traz surpresas mas até que se mostra coeso em seu resultado final. Vale a pena ser adquirido e ouvido. Sua coleção vai agradecer.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de março de 2009

Elvis Presley - Southern Nights

Em 1975 Elvis Presley completou quarenta anos de idade. Apesar de ser algo normal e natural para qualquer ser humano, Elvis encarou a nova idade como uma grande tragédia em sua vida. Nos dias de hoje fica até mesmo difícil entender como alguém ficaria tão abalado apenas pelo fato de superar a barreira dos quarenta, mas para Elvis esse fato só significava uma coisa: ele estava ficando velho! Velho demais para sobreviver como artista! Não importava o fato de existirem muitos ídolos numa faixa etária maior do que essa, como o próprio Frank Sinatra, nem importava a famosa frase de que "a vida começa aos quarenta", isso não tinha importância para ele. Para Elvis Presley completar 40 anos era traumatizante, o simples fato de romper a linha dos 40 já era demais para ele! Como ele se veria agora?

Como um dos maiores símbolos jovens da história da cultura pop iria agora encarar essa maturidade inegável? Pelo jeito, nada bem. Elvis encarou a chegada de seu 40º aniversário da pior maneira possível. Trancou-se em casa, ficou deprimido e abatido, se recusou a atender telefonemas no dia 8 de janeiro e evitou a todo custo aparecer em público. Além disso se convenceu que estava com o rosto envelhecido demais, implicando totalmente com as características bolsas de envelhecimento abaixo de seus olhos (coisa que logo procurou corrigir fazendo uma cirurgia plástica em poucos meses). Nesse dia Elvis não parou de se lastimar com seus amigos mais próximos e de se olhar no espelho, "Imagine, 40 anos! Estou acabado! Não sou mais um garoto!" ficava repetindo insistentemente o cantor pelos corredores de Graceland. Em sua cabeça isso significa que seus fãs iriam deixá-lo pois ninguém seria mais admirador de um velho astro idoso! Elvis ficou tão abalado que não conseguia mais pensar em nada, estava sempre perguntando aos seus amigos: "Será que os fãs ainda vão gostar de mim quando eu estiver velho?!". Para Red West desabafou: "Red, estou acabado! Não consigo mais me imaginar como um ídolo de ninguém. Estou próximo do fim!".

Red West relembrou anos depois: "Depois de um tempo aquele dramalhão de Elvis começou a encher o saco! Quando mais falávamos para ele não se preocupar, mais ele se lastimava! Definitivamente foi uma chatice sem tamanho ficar ao lado dele em seu 40º aniversário!" Apesar de todos deixarem claro que essa preocupação não tinha sentido, Elvis não se convencia do contrário. Quando se defrontava com esse tipo de situação Elvis se isolava, trancava-se em casa e se recusava a ver pessoas estranhas ao seu círculo íntimo. E foi o que fez. No dia de 8 de janeiro, enquanto os fãs de todo o mundo lhe mandavam cartões e mensagens de congratulações, Elvis se fechava mais ainda, em total reclusão. Ele havia se convencido que completar 40 anos era uma verdadeira desgraça na sua vida pessoal e ponto final, ninguém nesse mundo iria convencê-lo do contrário. Quem não queria nem saber dessa bobagem toda era o Coronel Parker. De seu escritório ele já tinha planejado todos os shows de Elvis em sua próxima turnê. Quarentão ou não, Tom Parker não queria nem saber, Elvis teria que sair de Graceland para uma série de apresentações. O fato era que nem Elvis poderia viver trancado em casa, se corroendo por ter feito 40 anos, para Parker ele logo teria que colocar o pé na estrada novamente para cumprir seus contratos. Ultimamente Elvis vinha cada vez mais se queixando das longas viagens, do desconforto de viver de cidade em cidade, de ter que se apresentar em um ou dois shows diários. Elvis sentia-se esgotado após tantos anos de concertos.

Ele chegou inclusive, em muitas ocasiões, a deixar claro que aquele tipo de vida já não lhe trazia mais grande prazer e que já pensava em um futuro próximo ir diminuindo o ritmo de trabalho. Em vista dessas reclamações e do fato dele estar deprimido por ter feito 40 anos, o Coronel Parker acabou cedendo um pouco e seguindo o conselho de Joe Esposito resolveu agendar uma série de shows no Sul mesmo, pois além das cidades serem relativamente próximas de Memphis, Elvis não teria que se esforçar demais pois aquele também era o reduto mais fiel de seus fãs. Diante dessas pessoas Elvis seria sempre bem recebido, seja qual fosse sua atual condição de saúde ou de estado de espírito. Elvis estaria em casa, ou pelo menos perto de casa, ali no quintal de Memphis. E foi justamente nessa primeira turnê como quarentão que esse CD foi gravado. Embora Elvis estivesse passando por um momento ruim (pelo menos na sua forma de ver), o cantor procurou apresentar belos concertos e ampliou consideravelmente o leque de opções de seu repertório, atendendo inclusive aos reclamos de críticos e músicos que lamentavam cada vez mais a falta de uma maior renovação nas canções apresentadas ao vivo. Realmente, desde a ótima temporada de agosto de 1970, onde muita coisa nova foi acrescentada aos concertos, pouca coisa mudara em mais de 4 anos de shows ininterruptos. Já era hora mesmo de promover algumas mudanças, mesmo que fossem tímidas. De qualquer maneira, toda e qualquer nova música adicionada aos concertos já era um sopro de ar fresco em suas rotineiras apresentações. E assim, depois de cumprir uma temporada em Las Vegas, Elvis caiu na estrada para realizar mais uma turnê de primavera. Apesar de tudo, dos 40 anos, das lamúrias, das choradeiras, das lengalengas do cantor e da extensa agenda de compromissos, essas apresentações até que ocorreram numa calma muito bem-vinda para o quarentão Elvis Presley. O CD traz canções gravadas nas cidades de Atlanta, Huntsville, Mobile, Houston, Jackson, Memphis, Lake Charles e Macon.

O conceito de Southern Nights (em português, "noites sulistas") nasceu da necessidade por parte de Ernst Jorgensen em lançar todos os bons momentos de Elvis durante esses concertos realizados na primeira metade de 1975. O próprio Ernst justificou o lançamento de mais esse título inédito afirmando em entrevista: "Nosso objetivo no selo FTD é realmente lançar soundboards que cubram efetivamente todo o período de shows realizados por Elvis entre 1969 e 1977. Nossa intenção é que todas as temporadas em Las Vegas e todas as principais excursões venham a ser representadas nesse selo com pelo menos um título. Em alguns casos realmente basta o lançamento de apenas um CD que traga registros desses períodos. Existem temporadas e excursões realizadas por Elvis em que ele pouco inovou em seu repertório básico, sem grandes novidades. Porém existem também períodos ricos em novas canções, versões fabulosas ou pequenos grandes momentos de Elvis que merecem ser lançados! Quando lançamos Dixieland Rocks percebemos que estávamos na presença de um momento muito fértil e próspero da carreira de Elvis e sentimos a necessidade de voltar à essa fase para realmente não deixar nada de importante para trás. Essas excursões, realizadas na primavera de 1975, nos chamam atenção por sua rica diversidade. Para se ter uma idéia o repertório básico utilizado por Elvis nesses concertos consistia em mais de 40 músicas! Mesmo tendo lançado "Dixieland Rocks" com o que consideramos o melhor, sentimos que muita coisa de ótima qualidade ficou realmente de fora. Daí nasceu a idéia de lançarmos Southern Nights."

Seguindo essa linha de raciocínio, Ernst resolveu fazer uma verdadeira nova "coletânea" das duas primeiras excursões de Elvis em 1975. Retirando faixas de um ou outro concerto, Ernst foi completando o trabalho iniciado com "Dixieland Rocks" do mesmo selo FTD. Embora seja uma interessante ideia de resgate, esse tipo de lançamento também traz certos problemas como a diversidade de qualidade sonora e técnica entre as versões, que embora unidas aqui, foram gravadas em momentos e ocasiões diferentes. Isso se torna bem mais nítido quando ouvimos a montanha russa da seleção musical de "Southern Nights". Em um mesmo CD ouvimos registros com alto nível sonoro, outros apenas razoáveis e finalmente aqueles bem abaixo da crítica. De qualquer forma não há ainda como lançar todos esses shows diferentes na íntegra. Além de ser comercialmente inviável os lançamentos se tornariam excessivamente repetidos, pois apesar de toda a diversidade de repertório nessa primavera de 1975, os concertos de maneira geral pouco se diferenciavam entre si. A ideia de uma coletânea de temporadas e excursões realmente parece ser o único caminho viável para um selo como o FTD. No vácuo desse tipo de lançamento é que se constrói todo o mundo paralelo dos Bootlegs, com vasto material lançado todos os anos, trazendo aí sim, muitas vezes, os concertos na íntegra. Mas essa é uma outra história que ainda iremos tratar em futuros artigos. Vamos nos concentrar agora no CD Southern Nights, ótimo lançamento do selo FTD.

O CD começa com quatro versões retiradas das apresentações que Elvis realizou em Atlanta entre o final de abril e começo de maio de 1975. Do show do dia 30 de abril Ernst resolveu aproveitar That's All Right, It's Now Or Never e Help Me. Já do concerto realizado no dia 2 de maio foi acrescentada a canção Steamroller Blues. Se Nashville pode ser considerada a capital cultural do sul dos EUA, Atlanta, na Georgia, é a verdadeira potência econômica da região. Sua importância é tamanha para a economia daqueles Estados que ela é considerada a verdadeira força motriz do Sul. Não poderia ser diferente, pois essa cidade abriga a sede de algumas das maiores multinacionais do mundo, como por exemplo, a própria Coca-Cola. Tal polo comercial e financeiro nunca poderia ser ignorado pelo Coronel Tom Parker, até porque ele sempre considerava os shows de Elvis nessa cidade os mais importantes nessas turnês pelo Sul. A repercussão dos concertos em Atlanta seria sentida em todos os demais shows. Um concerto ruim em Atlanta significava um certo risco para o resto da turnê, pois um erro de Elvis nos palcos dessa cidade seria comentado e conhecido em todos os lugares e cidades sulistas. Por outro lado boas apresentações por parte de Elvis aqui sempre iriam gerar a repercussão oposta, ou seja, muita publicidade positiva nas cidades que ele visitaria depois. Se havia uma cidade vital nessas turnês de Elvis por todos esses Estados do sul, essa cidade se chamava Atlanta. O que Elvis faria ou deixaria de fazer em seus concertos em Atlanta iriam repercutir em todos os rincões do velho Sul norte-americano. Infelizmente, apesar de toda essa importância, Ernst Jorgensen não procurou destacar muito esses concertos. Ao invés de trazer mais faixas gravadas em Atlanta ele preferiu prestigiar as apresentações de Elvis em Huntsville nesse CD. De qualquer forma, mesmo com poucas versões presentes podemos ao menos ter uma idéia mais precisa de como Elvis estava nesses shows.

Os primeiros acordes de That's All Right são ouvidos e logo podemos perceber que, se levarmos essa versão como paradigma da apresentação, podemos facilmente chegar à conclusão de que Elvis estava bem nesses shows, principalmente porque esse CD nos traz sua voz com bastante nitidez e clareza. O arranjo é tradicional e sem surpresas. Já It's Now Or Never traz algumas novidades. A primeira coisa que notamos com facilidade é a mudança de sua velocidade normal e de sua linha melódica, fazendo com que ela fique bem mais lenta e terna. Um de seus maiores hits, "It's Now Or Never" seria cada vez mais presente em seu repertório nos anos finais, inclusive contando com os solos do vocalista Sherril Nielsen. E por falar nele, Help Me do disco "Promised Land", vem logo a seguir. Aqui temos um dueto entre Elvis e Nielsen. A combinação é interessante, pois sendo um barítono, Elvis se encaixa perfeitamente num "duelo" de vozes com seu colega de palco. Porém, se ficarmos atentos, vamos chegar facilmente à conclusão de que os melhores momentos da canção são justamente aqueles em que Elvis aparece sozinho ao microfone. Sua voz se sobressai com maior destaque e podemos nitidamente perceber que sua sensibilidade está realmente à flor da pele! De qualquer maneira não podemos deixar de reconhecer que essa é, sem dúvida, uma versão de alto nível. Infelizmente a parte "Atlanta" do CD conta com pouquíssimos registros nesse CD. Steamroller Blues, canção gravada dois dias depois, vem para encerrar a participação de Elvis na cidade da Georgia. Essa faixa é extremamente bem executada, com Elvis e banda totalmente entrosados. Segue muito de perto da versão do disco "Aloha From Hawaii", exceto com alguns solos mais destacados de piano e baixo. Mesmo assim não é algo que fuja muito do que já estamos acostumados a ouvir nas outras versões desse blues.

Depois de encerrar as quatro músicas gravadas em Atlanta o CD apresenta, de forma dispersa, vários momentos diversos de apresentações diferentes. Infelizmente Ernst as embaralhou completamente e para seguir uma certa lógica vou ignorar a ordem das canções do CD para organizá-las de acordo com o local e a data em que foram gravadas. Pura questão de organização. Vamos agora analisar as canções que foram gravadas em Macon no mesmo Estado da Georgia. Tenho certeza que você agora se lembrou do famoso verso de introdução de "I washed my hands in muddy water" que diz: "I was born in Macon, Georgia / They kept my daddy over in Macon jail...". Lembrou? Pois bem, continuemos, vamos seguir em frente com a análise. A versão Promised Land desse CD vem para confirmar um fato que se repete em vários outros shows de Elvis Presley nos anos 70. Embora essa canção de Chuck Berry tenha se traduzido em um dos maiores momentos da carreira de Elvis em estúdio naquela década, com uma versão fantástica e impecável, notamos que, com raríssimas exceções, as versões ao vivo desse rock sofrem de praticamente o mesmo mal: a falta de pique, garra e envolvimento por parte de Elvis ao cantá-la! Aqui o cantor se arrasta, não consegue entrar em sincronia com a banda e coloca seu vocal no controle remoto. Uma pena. A forma como foi gravada também não ajuda em nada, pois os teclados estão em primeiro plano, sendo que eles apenas são partes periféricas da canção e não deveriam ser expostos de forma tão destacada, superando e abafando até mesmo o resto da banda. Esse erro técnico no momento da gravação é facilmente explicado pois esse é um registro semiprofissional, sem os cuidados necessários e balanceamento correto entre os vocais e demais instrumentos.

Em decorrência disso notamos outro grande problema ao ouvir a versão: a orquestra simplesmente desapareceu na mixagem final! Para quem não gosta dos arranjos de metais isso pode até soar como um aspecto positivo, mas a descaracteriza como ela foi realmente pensada pelos arranjadores que estavam envolvidos na carreira de Elvis na época. Como nota favorável temos apenas a presença bem marcante dos solos de guitarra, que ao contrário dos metais, não desaparecem e cumprem excelente papel. Infelizmente James Burton também não está muito empolgado e sua participação soa burocrática. Não o culpo, se Elvis não se envolve em nenhum trecho da canção, por que ele se empenharia? Essa versão foi gravada no show realizado em Macon, Georgia, no dia 24 de abril. A outra canção presente nesse CD do mesmo show, Big Boss Man, parece confirmar que Elvis estava realmente pouco empolgado, embora nessa segunda canção ele esteja bem mais ligado na canção. O problema de faixas como Big Boss Man e Promised Land era que Elvis simplesmente não levava mais a sério esse tipo de música. Geralmente elas eram usadas apenas para evitar que o show caísse na monotonia. Uma forma de despertar e balançar o público para evitar que a apresentação ficasse muito parada. Acredito que se Elvis apenas fosse cantar o que lhe agradava nessa fase de sua vida ele certamente iria interpretar uma balada atrás da outra durante os shows, coisa que afinal de contas acabou fazendo em sua carreira dentro dos estúdios no final de sua vida. E por falar em baladas românticas, melancólicas e tristes, a retenção do show em Macon acontece justamente com It's Midnight. Aqui Elvis parece confirmar a tese de que ele realmente não estava mais preocupado em fazer boas versões de seus rocks mais conhecidos mas até que se empenhava, e muito, em disponibilizar belas versões de suas baladas românticas. Mesmo fora de seu ritmo normal, mesmo estando acelerada, "It's Midnight" mostra um Elvis finalmente envolvido na interpretação. Ao contrário das canções anteriores do mesmo show em Macon, aqui Elvis se mostra presente e não apenas cumprindo tabela. Embora seja outro erro técnico de gravação, a marcante presença da vocalização feminina, outra vez em primeiro plano, valoriza o belo vocal de Kathy Westmoreland. Belíssima voz e maravilhoso complemento a essa bela canção da fase final de Elvis.

Grande parte desse CD foi gravado em uma cidade de porte médio do sul, chamada Huntsville, localizada no norte do Alabama e bem na fronteira do Estado com o vizinho Tennessee, em cinco diferentes concertos realizados por Elvis nessa turnê. Essas apresentações nos dão uma idéia do ritmo acelerado e da estafante rotina de shows a que Elvis era submetido. Em apenas três dias ele subiu ao palco cinco vezes, sendo o primeiro show feito no dia 30, e mais quatro apresentações nos dois dias seguintes, sendo realizados dois concertos por dia, com Elvis se apresentando às duas e meia da tarde e depois subindo novamente ao palco para mais um show noturno às oito e trinta da noite. Todas essas apresentações foram realizados no mesmo local, o Von Braun Civic Center com capacidade para oito mil pessoas (o nome do ginásio se explica, pois a cidade sempre teve um passado muito ligado ao projeto espacial dos EUA). Aqui também temos uma ideia de como funcionava a mentalidade circense do empresário de Elvis, Tom Parker. Quando chegavam em uma cidade como essa, Tom Parker e seu assistente pessoal ficavam de olho, acompanhando o ritmo das vendas de ingressos. Se o show fosse esgotado e ainda houvesse público suficiente para uma nova apresentação o Coronel Parker não perdia tempo! Ora, se ainda havia público interessado em ver Elvis ao vivo não havia tempo (e dinheiro) a perder, o Coronel sempre arranjava um jeito. Ele logo providenciava uma maneira de não deixar a oportunidade de lucrar ainda mais passar por suas mãos. O plano inicial era de Elvis realizar apenas três shows noturnos na cidade. Porém como a procura de ingressos foi muito grande, o Coronel logo marcou mais duas apresentações no turno da tarde! Isso causava um sério problema para Elvis, porque assim ele praticamente ficava sem dormir, pois era justamente nesse horário vespertino que ele costumava dormir e descansar entre as apresentações. Mas para Tom Parker isso não tinha nenhuma importância, ele rapidamente marcava os shows e colocava suas velhas táticas de promoção em ação. Sua forma de vender os shows de Elvis não tinha mudado nada em mais de vinte anos ao lado do cantor.

O mais incrível é saber que a velha tática de promoção de Parker ainda se revelava eficaz nessas ocasiões. Basta ver o sucesso de público desses shows. Nada mudava e o empresário de Elvis sempre repetia a mesma estratégia, cidade após cidade. O Coronel alugava horários nas rádios locais para tocar exclusivamente músicas de Elvis, espalhava posters e até mesmo balões pela cidade, e anunciava seu show até mesmo em carros com alto falantes pela cidade e arredores. Se houvesse um circo na cidade o Coronel não perdia tempo e logo contratava uns malabaristas para promover o show de Elvis nas principais vias da cidade. Era uma loucura que sempre funcionava. O importante mesmo era faturar em cima do interesse de uma apresentação de um grande astro como Elvis Presley numa cidade como Huntsville, que muitas vezes ficava fora do circuito de concertos de grandes artistas da época. Talvez essa fosse realmente uma coisa correta que o Coronel fazia, levar Elvis para lugares que muitas vezes eram ignorados por outros astros. Levar o artista aonde o povo está! De qualquer forma esse tipo de atitude empresarial de Tom Parker se revelou acertada, pelo menos nessa ocasião. Vamos agora analisar as canções desses shows. O primeiro concerto em Huntsville foi realizado na noite do dia 30 de maio, mas infelizmente nada dessa apresentação inicial foi aproveitada no CD. Em compensação o segundo concerto foi muito bem explorada por Ernst Jorgensen. Desse show, realizado na tarde do dia posterior, foram retirados as seguintes músicas: Trouble, T-R-O-U-B-L-E, Hawaiian Wedding Song, Blue Suede Shoes e For The Good Times. Na primeira faixa desse show vespertino que ouvimos aqui, Elvis começa fazendo uma introdução da canção T-R-O-U-B-L-E: "We have a new record out, ladys and gentlemen, that has been out 2 or 3 weeks now, that’s called, T.R.O.U.B.L.E." mas logo muda de caminho e começa uma pequena versão de Trouble, velho sucesso de seu filme King Creole. Essa micro versão dura menos do que um minuto e nem deveria ter sido creditada na lista das músicas do CD.

Elvis logo a encerra de forma repentina (muito provavelmente por não se lembrar mais de sua letra) e começa finalmente a apresentar T-R-O-U-B-L-E, carro chefe de seu último disco, "Elvis Today". Embora comece bem a canção, lá pelo meio da canção surge um problema muito freqüente para Elvis em concertos dos anos finais de sua carreira, o esquecimento ou confusão nas letras. Aqui Elvis se enrola, ri, fica um pouco confuso mas resolve seguir adiante, aos trancos e barrancos! De qualquer forma, depois desse pequeno deslize (e outros erros que surgem no decorrer da faixa), Elvis se recupera bem e leva a canção de forma correta até o final, que também é bem interessante e foge um pouco da master oficial que conhecemos de estúdio. É uma versão apenas razoável e demonstra que apesar de sofrer às vezes com o esquecimento das letras, Elvis poderia se recuperar facilmente e disponibilizar material com certa qualidade quando se esforçava para isso. Pelo menos aqui ele está muito melhor do que na versão de Promised Land que já ouvimos (outro carro chefe presente nesse CD). A agradável Hawaiian Wedding Song surge logo a seguir e aqui Elvis apresenta uma bela versão, correta e sem máculas. Ele se desculpa com a plateia, que pede Blue Hawaii, e sai pela tangente apresentando essa canção do mesmo filme e com uma letra bem mais fácil para ele se recordar. Infelizmente ela é seguida de mais uma versão medíocre de Blue Suede Shoes dos anos 70. Novamente temos uma versão que dura pouco mais de um minuto, com Elvis não a levando a sério em nenhum momento e que, como já escrevi antes, só servia mesmo para acordar a plateia e chamar a atenção de todos que aquele que estava ali no palco era o mesmo Rei do Rock que virou a cultura mundial de ponta cabeça durante os anos 50. A canção é isso, um mero (e bem burocrático) memorando!

O melhor momento desse primeiro show em Huntsville vem com For The Good Times. Essa versão, além de ser bem rara, ainda traz um belo momento de Elvis, com vocalização sóbria e equilibrada e com um entrosamento quase perfeito com seu grupo. Sua semelhança e fidelidade de execução realmente é espantosa, pois está bem próxima da versão oficial. Elvis está sutil, concentrado e empenhando em fazer uma bela versão. O resultado não poderia ser outro: o melhor registro do CD até esse momento. Embora esse show da tarde seja bem na média, com poucos momentos realmente interessantes e que saiam do comum, ele ainda é considerado o melhor feito por Elvis naqueles três dias estacionado em Huntsville. Depois do primeiro contato com o público Elvis foi perdendo gradualmente o interesse nos shows seguintes, tanto que apenas duas canções do show noturno foram aproveitadas nesse CD. A primeira é I Can't Stop Loving You. Embora alguns tenham tratado essa versão com adjetivos exagerados como "maravilhosa" e "poderosa", temos que cair na real e chegar a conclusão que ela está bem na média de todas as outras versões que Elvis produziu dessa música. Aliás ela já estava totalmente saturada por essa época, tanto que Elvis a descartaria rapidamente a partir desse momento, talvez por não aguentar mais cantá-la em outras e repetidas vezes! Razoável, bem executada, tecnicamente boa, porém banal e rotineira.

Isso definitivamente não é o que acontece com I'm Leavin'. Que música maravilhosa, fantástica e bela! Essa canção é tão bonita que ainda me lembro da primeira vez que a ouvi, lá nos distantes anos 80! Definitivamente um das mais belas harmonias já cantadas por Elvis Presley. O registro dessa versão ao vivo é precioso por inúmeros motivos. O primeiro deles é o fato de Elvis quase nunca a apresentar em seus shows! Uma canção tão fantástica deveria ter sido mais explorada por Elvis em seus concertos ao vivo, mas nunca ganhou um papel de maior destaque ou se firmou em seu repertório de forma definitiva. Só podemos lamentar esse fato. Outro fator que torna essa versão especial é sua qualidade técnica. Podemos ouvir com certa nitidez todos os instrumentos, a orquestra, a banda TCB (com destaque especial para a bateria) e o vocal de apoio. Não é uma maravilha, até porque se trata de um soundboard, porém estamos bem próximos de uma qualidade técnica de alto nível sonoro. Por fim, o último fator que a torna especial é a própria interpretação de Elvis durante sua apresentação. Bem distante de sua postura de desinteresse e tédio que o acometia quando cantava seus antigos rocks, aqui Elvis se entrega totalmente ao lirismo ímpar da música. O resultado final é brilhante e a faixa é a melhor, sem nenhuma sombra de dúvidas, de todo o CD. Embora o restante do material de Huntsville não traga mais nada de novo e nem remotamente tão interessante como "I'm Leavin'", podemos ainda destacar algumas versões interessantes.

Release Me gravada na tarde do dia 1º de junho é uma delas. Embora não fosse nenhuma novidade, ainda era uma estranha no ninho no repertório de Elvis nesse ano de 1975. Aqui Elvis desacelera a velocidade normal da canção, o que a prejudica, pois seu ritmo correto, que foi utilizado na versão master do disco "On Stage", é muito mais satisfatório. A sensação que Elvis passa aqui é de estar com pouca vontade de levar em frente e terminar a música. Vale como registro. A outra canção retirada desse mesmo show da tarde é o clássico Heartbreak Hotel. Aqui Elvis repete o velho erro que quase sempre o acometia quando apresentava seus velhos sucessos dos anos 50. Ele se mostra pouco interessado, pouco envolvido, quase como se estivesse segurando o riso e na parte da execução se limita a murmurar preguiçosamente a letra. Elvis deveria ter mudado um pouco esse tipo de postura, não só em respeito ao seu público, como também ao seu passado, pois se não fossem todos esses clássicos ele certamente não estaria ali fazendo mais um show com lotação esgotada. De qualquer maneira o ponto positivo desse penúltimo show de Elvis em Huntsville é que ele apresenta uma boa sonoridade. Tecnicamente perfeita não é, nenhum CD ao vivo do selo FTD é perfeito no aspecto puramente de qualidade sonora, mas podemos perceber que pelo menos esse concerto em particular foi suficientemente bem registrado. Por fim chegamos nas três últimas canções retiradas das apresentações realizadas por Elvis nessa cidade, a saber: Polk Salad Annie, I'll Remember You e Little Darlin'.

Antes de iniciar Polk Salad Annie Elvis começa a canção Burning Love, porém a interrompe logo nos primeiros versos. A situação fica um pouco embaraçosa, principalmente depois que ele tenta se lembrar da letra e não consegue. Então sua vocalista começa a lhe passar a letra do primeiro verso, Elvis se enche um pouco daquela coisa toda e parte logo para Polk Salad Annie. Aqui podemos perceber que Elvis, depois de cinco shows seguidos, já estava um pouco de saco cheio. Ele nem insiste em tentar terminar (ou melhor dizendo começar) Burning Love, ele simplesmente a descarta! Aliás verdade seja dita, Burning Love nunca foi parte de sua lista de músicas preferidas, tanto que ele foi praticamente levado a gravá-la em estúdio e depois que ela se tornou um grande hit ele se viu na obrigação de apresentá-la nos concertos, mas quase sempre sem muito envolvimento e emoção. A versão de Polk Salad Annie desse último concerto em Huntsville é muito boa e interessante. Percebe-se claramente que Elvis se empenha em cantar direito, até mesmo para acabar com a má impressão deixada pelo fiasco de "Burning Love". Como as versões dessa época Elvis não apresentam a introdução falada e parte logo para a segunda parte da canção. Enfim, mais uma versão de "Polk Salad Annie" para a sua coleção das milhares de outras. O destaque maior fica mesmo com a participação da banda TCB e principalmente pelos solos do baixista Jerry Scheff (que chegou a tocar com os Doors em seu último disco, "L.A. Woman").

I'll Remember You, conhecida canção de seu show Aloha From Hawaii (como ele mesmo deixa claro no começo da execução) aparece de psraquedas no show. Essa música nem sempre foi muito utilizada por Elvis, porém as versões Off Aloha que conhecemos sempre mantiveram um nível satisfatório, tanto nos aspectos puramente técnicos como também de interpretação por parte de Elvis, sem dúvida era uma melodia que muito lhe agradava, tanto que sempre procurava apresentar belas versões para seu público. A última canção retirada dos shows em Huntsville é Little Darlin'. Essa canção era nova no repertório de Elvis e foi incluída por ser um símbolo dos anos dourados. Aqui Elvis certamente se posicionava como um artista nostálgico e o alvo era certo quando apresentava músicas como essa: seus antigos fãs dos anos 50. O mais interessante de quase todas as versões dessa canção é que Elvis quase nunca a levava muito à sério, sempre rindo ou tentando conter o riso, além disso ele sempre aproveitava a deixa para tirar uma onda em cima do arranjo "bons tempos" da famosa baladinha. Depois disso Ernst resolveu acrescentar as despedidas finais de Elvis para o público em Huntsville. O cantor agradece e é muito celebrado pelo público. Infelizmente um dos grandes pecados desse CD é justamente a desorganização em que as faixas foram colocadas, misturando canções gravadas em shows e apresentações diferentes! Deveria ter sido respeitado a ordem cronológica dos concertos, porém Ernst escolheu o caminho mais fácil de juntar tudo num só balaio para causar a falsa impressão de se estar ouvindo um show completo e não uma coletânea de momentos diversos de turnês específicas. De qualquer forma essa canção encerra a parte Huntsville do CD. São ao total doze canções retiradas desses quatro shows (lembrando que o CD não traz nenhuma faixa da estreia de Elvis nessa cidade).

Para quem quiser conhecer um pouco melhor esses concertos aconselho adquirir o Bootleg Huntsville'75 USA. Depois de explorar bem os shows realizados em Atlanta, Macon e principalmente Huntsville (que formam o esqueleto básico desse CD), Ernst Jorgensen resolveu completar o CD pincelando pequenos momentos de outras apresentações. De seu show em Mobile, por exemplo, Ernst resgatou uma versão de Bridge Over Troubled Water. Embora muito distante das versões da segunda temporada de 1970, consideradas as melhores de toda sua carreira, essa faixa é certamente razoavelmente bem executada e traz um Elvis inspirado em certos momentos. A velocidade da canção está bem fora de seu ritmo normal e apresenta oscilações rítmicas que soam, às vezes, desconfortáveis. Além disso ela não é tão bem gravada como tantas outras que conhecemos. Por outro lado Elvis parece estar envolvido, apesar de se segurar em alguns momentos para não forçar a voz. Apesar de todos esses pequenos problemas a versão ainda consegue se manter em um nível um pouco acima da média.

Do concerto realizado em Memphis no dia 10 de junho de 1975, Ernst resgata uma boa versão de Fairytale. Qualquer canção que fugisse do velho repertório cansado de Elvis por essa época era muito bem-vinda. Essa canção foi incluída para promover o último disco de Elvis, "Elvis Today" ("Elvis today, yesterday...however...tomorrow..." como brinca o cantor antes de começar a faixa). Aqui também notamos a guinada de direção que Elvis, de certo modo, promoveu em sua carreira de estúdio. Saem os rocks (tão presentes nos anos 50), as músicas pops (tão presentes nas trilhas sonoras) e entra as baladas e o country! Obviamente que em uma turnê no sul dos EUA Elvis tinha que caprichar nesse ritmo tipicamente regional, fato confirmado com Jambalaya gravada na pequena Lake Charles no dia 2 de maio! Aliás a inclusão de Jambalaya era muito oportuna, visto que ele estava na Louisiana, Estado vital na história de Hank Williams, cantor e mito do gênero gountry, morto precocemente. Pena que a versão dure pouco mais de trinta segundos!

A última versão pincelada de outros shows para completar o CD é Help Me Make it Throught The Night. Ela vem apenas para confirmar o que escrevi antes, da preferência visível demonstrada por Elvis pelas baladas countrys. A música tinha sido lançada três anos antes no disco "Elvis Now" e nunca conseguiu se firmar com maior frequência dentro do repertório de Elvis. A versão em estúdio deixa um pouco a desejar e essa versão ao vivo também. Apesar de ser bem raro para o fã médio ter essa música gravada nos palcos, percebemos nitidamente que ela é apenas razoável, sem grandes destaques. Elvis, apesar de rir um pouco no começo da execução, procura ser profissional no resto da faixa e a canta de forma correta. O fato é que podemos perceber que essa canção não funcionava muito bem ao vivo, pois era de levada mais intimista e calma, pouco apropriada para grandes concertos. De uma forma ou outra ela seria descartada pouco depois.

Conclusão final: Aconselho esse título especialmente para os fãs dos anos 70. Depois do Aloha From Hawaii Elvis entrou em uma etapa de sua carreira artística caracterizada por uma rotina, muitas vezes cansativa e tediosa, de shows ao vivo. Nenhuma dessas temporadas em Las Vegas ou turnês pelos EUA representavam mais qualquer tipo de desafio para Elvis Presley, porém mesmo estando de certo modo preso dentro dessa situação de muitos shows e pouca renovação musical, ele ainda se empenhava em fazer boas apresentações e concertos, como esses que ouvimos aqui. Obviamente todos esses registros foram selecionados a dedo por Ernst Jorgensen, certamente eles nos trazem apenas o que de melhor Elvis apresentou para seu público, mas isso já é suficiente para termos uma ideia de sua vida artística no período. Para quem quiser se aprofundar nessas apresentações o melhor caminho a seguir mesmo é o dos lançamentos não oficiais, os conhecidos Bootlegs, tanto soundboards (gravados diretamente da mesa de som usada nos concertos) como audiences (gravados pelos próprios fãs que assistiram ao show, diretamente da plateia), porém como já escrevi aqui antes, essa é uma outra história... Até a próxima, prezado leitor.

Pablo Aluísio.