quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Now (1972)

Elvis Now - 1972 foi um ano de grande correria para Elvis. Além de lançar vários LPs e Singles o cantor ainda gravou um filme registrando seus Shows, "Elvis On Tour" (Elvis triunfal, 1972) e também cruzou os Estados Unidos de costa a costa, sem contar ainda com suas temporadas anuais em Las Vegas. Tudo isso aliado a diversos outros problemas que ocorriam em sua vida pessoal como a separação definitiva de sua esposa Priscilla. Este Disco foi gravado em meio a este turbilhão de acontecimentos e registra de certa forma o cansaço físico e emocional de Presley. Deve-se ressaltar porém que mesmo em momentos difíceis Elvis conseguia produzir grandes momentos que sem dúvida estão presentes neste disco. A vida de Elvis Presley nesta época se resumia a viajar de cidade em cidade, um show a cada noite, em um ritmo tão frenético, que às vezes, o cantor nem sabia direito aonde se encontrava. Nos anos 70 Elvis fez mais de mil shows, nos cinquenta Estados da federação americana. A rotina do Rei do Rock era sempre a mesma: viagem, hotel, show, viagem, hotel, show... Muita correria, o que fazia muitas vezes Elvis perder o controle do que estava acontecendo. O crítico do jornal Los Angeles Times escreveu na edição de 25 de fevereiro de 1972: "O novo disco de Elvis Presley é bom, na realidade é muito melhor do que alguns outros lançamentos deste mês, mas Elvis está ficando intimista demais, romântico demais, country demais, a hora é de Presley lançar um disco de Rock 'n' Roll e sustentar o título que ele sempre ostentou". De qualquer forma o disco "Elvis Now" (LSP 4671) apresenta as seguintes canções:

HELP ME MAKE IT THROUGHT THE NIGHT (Kris Kristofferson) - Sucesso do cantor e ator Kristofferson lançado pelo selo Columbia em 1971. Foi lançada ainda nas vozes de Sammi Smith e Joe Simon. Elvis abre o disco com esta música country bem ao estilo "Nashville". Elvis Presley e seu produtor Felton Jarvis não foram fiéis a versão original acelerando seu ritmo um pouco para dar mais consistência musical à canção.

MIRACLE OF THE ROSARY (Lee Denson) - Como quase todos os discos de Presley nos anos 70 este também traz em seu repertório uma música Gospel. Elvis simplesmente adorava estas canções que traziam em suas letras o sentimento religioso típico das famílias cristãs, do sul dos EUA. Neste mesmo ano Presley iria gravar mais um LP só com canções Gospel que se intitularia "He Touched Me". Mais um trabalho musical de Elvis Presley no estilo Gospel.

HEY JUDE (Lennon/McCartney) - Um dos maiores sucessos dos Beatles. Música símbolo do final dos anos 60. Foi lançada no primeiro single dos Fab-four pela sua recém criada gravadora, a Apple. Elvis a gravou em janeiro de 1969 em Memphis, no American Studios, naquela sessão que foi considerada a melhor de sua carreira durante os anos 60. Finalmente depois de 10 anos estrelando filmes musicais fracos, o Rei voltava a gravar canções de alto nível artístico, como esta que marcou a época do "Flower Power".

PUT YOUR HAND IN THE HAND (Gene McLellan) - Sucesso de Anne Murray. Elvis gravou esta canção no dia 08 de junho de 1971, nos Estúdios B, da RCA, em Nashville. Esta sessão é histórica, porque se tornou a última de Presley em Nashville, a capital mundial da música country. Sem dúvida nesta cidade Elvis gravou algumas das músicas mais populares do século XX. A partir desse momento, Elvis iria gravar seus LPs somente em Memphis, seja em estúdios localizados na cidade ou em sua casa, Graceland.

UNTIL IT'S TIME FOR YOU TO GO (Marie) - Sucesso na voz de Neil Diamond em 1971, mas lançada antes por Buffy Sainte-Marie, pelo selo Vanguard no mesmo ano. A Versão de Elvis foi lançada como lado principal de um single em Janeiro de 1972, com "We Can Make the Morning" no lado B. Elvis resolveu regravá-la, pois achou a sua primeira versão ruim. Mas no final a nova versão ficou pior e Felton Jarvis, seu produtor, resolveu usar a original mesmo.

WE CAN MAKE THE MORNING
(Jay Ramsem) - Canção que fez parte do single lançado no começo de 1972, junto com "Until It's Time For You To Go". Nestas sessões de gravações, que deram origem a este disco, o cantor gravou mais de trinta músicas, que posteriormente seriam lançadas em vários outros trabalhos importantes de sua carreira, como por exemplo: "Elvis Now", "Elvis", "He Touched Me" e "Elvis sings the Wonderfull World of Christmas". Sem dúvida nos anos 70 Elvis Presley foi o maior "Hit Maker" da Indústria fonográfica.

EARLY MORNING RAIN (Gordon Lightfood) - Sucesso country de Peter, Paul and Mary nos anos 60. A Versão de Elvis Presley foi gravada no dia 15 de março de 1971. Era uma de suas preferidas, estando sempre presente em seus shows, como pode-se constatar nos discos "Elvis in Concert" e "Alternate Aloha". Vale salientar que ela foi utilizada e gravada em uma versão de estúdio para o "Aloha From Hawaii" em 1973.

SYLVIA (Geoff Stephens/Les Reed) - Grande sucesso de Elvis Presley no Brasil. Assim como "Kiss me Quick" esta música somente alcançou todo este sucesso em terras Brasileiras. Tamanho foi seu sucesso por aqui que a RCA Brasileira a colocou abrindo o Lado 2 do Disco. Foi gravada em junho de 1970 junto com as canções do disco "That's The Way It Is".

FOOLS RUSH IN (Rube Bloom/Johnny Mercer) - Lançada originalmente por Johnny Mercer nos anos 30. Posteriormente foi gravada por Glenn Miller e Frank Sinatra. A Versão de Elvis porém copia os arranjos da versão de Rick Nelson, que foi lançada em 1963 pelo selo Decca. Inclusive o guitarrista James Burton participou de ambas as versões. Rick Nelson considerava Burton como seu músico exclusivo e ficou muito magoado quando este o deixou, para trabalhar com Presley no lugar de Scotty Moore, como o guitarrista oficial do Rei.

I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Arranjos: Elvis Presley) - Esta música é a mesma que foi "picotada" entre as faixas do LP "Elvis Country". Aqui ela aparece completa da forma como foi gravada em meados de 1970. Essa canção acabou servindo de inspiração para outro roqueiro famoso: Raul Seixas. Fã confesso de Elvis Presley sua "versão" Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás acabou se tornando um de seus maiores sucessos. Durante anos pairou a dúvida entre a música de Elvis e a música de Raul até que tudo foi esclarecido por Paulo Coelho durante uma entrevista para o programa Fantástico da Rede Globo onde ele declarou: "Realmente, a letra foi inspirada na música do Elvis. Era uma maneira de Raul prestar sua homenagem ao seu maior ídolo". "Elvis Now" foi lançado em fevereiro de 1972 e foi criticado por um cronista que afirmou que o título do disco era exagerado pois Elvis tinha gravado estas músicas já há algum tempo. Coisas do Coronel Tom Parker.

Elvis Presley - Elvis Now (1972): Elvis Presley (voz, violão e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (vocais) / Al Pachucki (engenheiro de som) / Arranjado e produzido por Felton Jarvis / Data de Gravação:6 e 8 de junho de 1970, 15 de março, 15 a 21 de maio e 8 a 10 de junho de 1971 nos Estúdios B da RCA em Nashville / Data de Lançamento: fevereiro de 1972.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas (1971)

Elvis estava relaxando e se recuperando em seu camarim, durante o período que antecedia o midnight show em Las Vegas durante o mês de fevereiro de 1971, quando recebeu um telegrama da RCA Victor assinado pelo executivo Harry Jenkins informando-o que os estúdios em Nashville estavam prontos para recebê-lo entre os dias 15 a 20 do mês seguinte para uma nova maratona de gravações. Assim que terminasse sua agenda de shows em Vegas Elvis teria que voar imediatamente para Nashville para gravar novas canções de estúdio para seu novo álbum. O texto também informava que a direção da RCA havia decidido que Elvis deveria gravar um novo disco com músicas natalinas e que para isso lhe seria enviado uma série de demos e discos de demonstração com canções desse estilo, entre as quais ele poderia escolher suas preferidas para compor esse seu novo trabalho. Elvis, sentado em sua cadeira em frente ao espelho do luxuoso camarim estendeu a mão e deu o telegrama para Joe Esposito ler: "Dê só uma olhada nisso, Joe!" – disse balançando a cabeça em sinal de desaprovação. O desânimo era visível no semblante do cantor. Joe leu o teor da mensagem e compreendeu o motivo do desapontamento por parte de Elvis. "Bem Elvis, talvez eles saibam o que estão fazendo!" – disse Joe tentando amenizar a situação. "Duvido muito Joe! Sempre quando esses caras da RCA interferem em minha música eu sofro as consequências, recebo todas as críticas negativas, no final sempre pago o preço desse tipo de coisa sozinho!", desabafou o cantor.

No fundo Elvis sabia que o velho fantasma de suas trilhas sonoras ridículas e impostas pelos estúdios durante os anos 60 sempre iriam macular seu status de artista e interprete relevante e receava que tudo voltasse agora, com um novo projeto totalmente fabricado pelos executivos de Nova Iorque. Pessoas que, segundo a visão de Elvis, não sabiam nada de música! Gravar todos aqueles discos de filmes tinha sido um tremendo erro em sua passado e agora ser levado novamente a embarcar em um projeto do qual não acreditava trazia imediatamente à sua lembrança aquele período negro de sua carreira. Gravar um novo disco de natal, justamente agora que ele procurava produzir bons álbuns e apresentar bom material e de qualidade era um tremendo retrocesso em sua visão. Naquele momento Elvis estava disposto a não embarcar nesse projeto, a rejeitar a ideia dos executivos da RCA (afinal ele nem tinha sido consultado sobre isso!) e comunicar sua decisão ao Coronel Parker após o show. Não foi preciso. Em poucos minutos Parker entrava nos camarins para verificar se tudo estava bem com sua "propriedade". Encontrou um Elvis abatido e cabisbaixo, sem o ânimo necessário para alguém que iria enfrentar um show em poucos minutos. Parker mandou os membros da Máfia de Memphis saírem para deixá-lo a sós com o deprimido superstar. "O que está havendo Elvis?"- disparou Parker sabendo muito bem que o cantor não se encontrava em um bom estado emocional naquele momento. "A velha história se repete Coronel...Os caras da RCA querem que eu grave um novo disco de natal. Eu não quero gravar mais canções de natal, simplesmente não dá mais para gravar esse tipo de coisa. Por que não editam novamente o disco dos anos 50?" – perguntou Elvis. Tom Parker sentou-se ao lado de Elvis e vendo que a situação poderia lhe fugir ao controle começou a expor seus argumentos ao seu pupilo: "Elvis, isso não é uma coisa tão séria assim para você se preocupar, sabe? Eles estão com a razão. Não há mais como relançar novamente o Elvis Christmas Album depois de todos esses anos. A direção da RCA tomou essa atitude por uma razão bem simples: suas músicas natalinas sempre venderam muito bem no final de ano, durante as festas, e já é hora de apresentar material novo nesse estilo. Seus fãs querem isso, não os chefões da RCA, entende meu ponto de vista? São seus fãs que querem ouvi-lo novamente cantando canções de natal!".

Elvis ficou em silêncio ouvindo os argumentos do Coronel, fitando e mexendo seus diversos anéis. Parecia antes de tudo distante e desapontado. Durante a conversa Elvis não olhou para o Coronel, que ficou o tempo todo ao seu lado tentando convencê-lo a se submeter aos desígnios da grande multinacional. Mesmo com seu esforço de persuasão os argumentos pareciam não fazer efeito. Elvis não parecia nada convencido e por fim disparou: "Gravar essas músicas não me interessa, além do mais elas não se parecem em nada com o tipo de trabalho que venho mostrando atualmente para meus fãs, não quero fazer o disco!". Tom Parker entendeu que não adiantava pressionar naquele momento, pois não queria impor uma decisão ou passar a imagem para Elvis de alguém que estava forçando uma situação. Calejado pela vida e profundo conhecedor da personalidade facilmente irritável do artista, preferiu jogar panos quentes no assunto, pelo menos por enquanto. Então a velha raposa simplesmente disse ao Rei, que agora estava de pé, em frente ao grande espelho, verificando se tudo estava em ordem para sua entrada no palco: "Vamos fazer o seguinte: não fique abatido por isso, prometa apenas ouvir as músicas que a RCA vai enviar a você, depois iremos discutir sobre a gravação desse disco, ok? Faça o show tranquilamente e depois resolveremos esse problema, certo assim?". Elvis timidamente balançou a cabeça e se dirigiu para fora de seu recinto privativo para encontrar seu staff pessoal que iria conduzi-lo até o palco, para que ele assim finalmente fizesse seu concerto. Não parecia nada animado, sua melancolia era agora cada vez mais aparente. A temporada em Vegas transcorreu normalmente e o assunto não foi mais mencionado entre Elvis e o Coronel Parker. Então no dia 15 de março Elvis chegou à Nashville para o início de suas sessões de gravação.

Ele havia feito péssimo vôo, estava se sentindo mal, tinha enjoado durante o percurso, se queixava de fortes dores de cabeça acrescida de uma pressão incomum sentida sobre seu globo ocular e para falar a verdade não estava com a mínima vontade de gravar. Mesmo assim tentou seguir em frente. Quando chegou aos estúdios estava com péssima aparência: olheiras visíveis demonstrando que não tinha dormido bem nas últimas semanas, cabelo despenteado, barba por fazer e com expressão de dor. Teve inclusive que ser amparado por seu homens para poder sair do carro em que estava. Depois de realizar tantos shows em Las Vegas Elvis estava simplesmente muito estressado e exausto para cumprir uma maratona de gravações em Nashville. Além disso estava sentido dores cada vez mais agudas e latentes em seu olho esquerdo. Felton Jarvis ficou um pouco assustado com a aparência abatida de Elvis, mas mesmo assim resolveu dar prosseguimento aos trabalhos. Começou a tocar alguns demos natalinos para Elvis, para que ele finalmente decidisse quais canções iria gravar. O cantor ficou o tempo todo sentado em uma cadeira ao lado de uma caixa de som, mostrando total desinteresse pelas canções. A aversão de Elvis foi aumentando a cada música demonstrada a ele, até que finalmente pediu a Jarvis que parasse com as execuções. Elvis olhou ao seu lado e disse à sua banda: "Bom, vamos gravar alguma coisa por enquanto, depois a gente volta para esse material de natal, ok?". Dito e feito. Com a mudança de direção Elvis até mesmo se animou e conseguiu se empolgar um pouco. Pediu uma garrafa de água e começou a conversar com os caras da banda. Sugeriu ótimas músicas para salvar a sessão como "The First Time Ever I Saw Your Face", "Early Morning Rain", "For Loving Me" e a sua preferida na noite: o Gospel "Amazing Grace", que o levou a praticamente renascer dentro do estúdio. Novamente ligado no que estava acontecendo à sua volta, Elvis resolveu escrever ele mesmo um novo arranjo para a famosa música religiosa, depois discutiu com os caras da banda a melhor forma de gravá-la, enfim, era o Elvis Presley dos bons tempos que todos conheciam. As músicas natalinas ficariam para depois, até mesmo porque Elvis não tinha o menor interesse pelo material apresentado por Felton Jarvis. Ele não conseguiu se conectar com as músicas de natal. Na verdade ele havia até mesmo comentado com James Burton dentro da sala de gravação: "...essas músicas de natal são ruins demais, puxa vida!". Todos riram, o que foi ótimo, pois levou a amenizar bastante o clima de tensão que pairava no ar. Depois de algumas horas ali gravando as músicas não natalinas escolhidas por ele, Elvis chamou todos os presentes e os reuniu em uma sala adjacente ao estúdio principal: "Eu quero comunicar a vocês que estou cancelando o restante das sessões, vou hoje mesmo para Graceland. Não estou me sentido bem, sinto dores, estou cansado, indisposto e minha voz está no limite. Não quero gravar nada nesse estado. O pessoal de Los Angeles está dispensado e o de Memphis segue comigo hoje mesmo para casa. Vejo vocês depois! Estão todos livres! Obrigado e fiquem com Deus!" Poucos minutos depois Elvis embarcava de volta para Graceland.

Ao chegar foi imediatamente atendido por uma junta médica que constatou que ele tinha uma séria lesão no globo ocular esquerdo (provavelmente causada pelos fortes holofotes em seus shows) e que deveria se internar imediatamente para novos exames. Nenhuma luminosidade seria suportada pelo olho lesionado e assim o cantor adotou, por orientação médica, um tapa olho preto que logo virou piada entre os caras da máfia de Memphis. O Coronel Parker também logo foi informado que Elvis estava de licença médica por dois meses e que todos os seus compromissos deveriam ser cancelados. Elvis respirou aliviado e se trancou em seus aposentos para tratar de sua saúde e principalmente descansar. Agora o objetivo principal para ele era dormir o máximo que pudesse para se recuperar das longas noites mal dormidas em Las Vegas. Duas semanas depois o Coronel ligou de Los Angeles para ele em Graceland: "Elvis, você ouviu as músicas natalinas? A direção da RCA está me cobrando uma posição de sua parte!" do outro lado da linha cheia de interferência o Coronel conseguiu perceber o estado emocional deprimido do cantor que ao falar, apenas disse de forma melancólica: "Ouvi as músicas...são horríveis...não me interessa..." - então fez-se uma longa pausa, com Elvis em total silêncio - finalmente ele disse: "...depois lhe retorno com alguma decisão, não estou com estado de espírito hoje para esse tipo de conversa..." e desligou. O Coronel ficou preocupado. Parker não tinha costume em encontrar tanta resistência assim por parte de Elvis. Tudo levava a crer que depois de tanto material medíocre imposto por ele e pela RCA ao cantor ao longo dos anos, finalmente Elvis parecia agora encontrar disposição em dizer não a projetos nos quais ele não acreditava mais. O Coronel Parker então decidiu abrir um espaço para Elvis se refazer e depois partiu para o ataque. Um mês depois o Coronel chegou à Memphis para ver como Elvis estava e intensificou sua propaganda do disco de natal, sempre passando a idéia de que ele seria um grande sucesso, que com esse LP Elvis iria novamente alcançar as primeiras posições, que tudo seria ótimo para sua carreira e blá, blá, blá... Elvis começou a se encher daquela conversa.

Em uma noite particularmente agitada em sua suíte, visivelmente alterado pelo uso de drogas, Elvis explodiu com o empresário após esse lhe sugerir pela milionésima vez a gravações das malditas músicas de natal: "Não aguento mais!!! Eu não vou gravar essas merdas!!! Essa porcarias da RCA, eu não vou gravar esse lixo!!! Me deixe me paz, pelo amor de Deus!!!" e bateu a porta na cara do Coronel. Sabendo do terrível temperamento de Elvis Tom Parker simplesmente se retirou de Graceland e orientou Joe Esposito a ficar de olho no cantor. No dia seguinte já estava pronto para telefonar para Felton Jarvis, produtor de Elvis na RCA, para lhe comunicar da decisão de Elvis em não gravar músicas natalinas em suas próximas sessões, quando foi surpreendido por um telefonema do próprio Elvis: "Coronel...sobre as músicas de natal..." – O Coronel nem deixou o cantor completar a frase e lhe disse: "Elvis, não se preocupe, vou entrar em contato hoje com o pessoal da RCA, não se preocupe.." – Elvis então lhe disse: "Não é isso... eu tomei uma decisão...eu vou gravar o disco de natal......no dia que vocês quiserem voarei para Nashville e farei o álbum.... Não quero mais me aborrecer por esse tipo de coisa. Eu o farei". Não havia nenhum sinal de animação ou contentamento na voz de Elvis, apenas de resignação mesmo. O Coronel ficou estupefato! Quem afinal poderia entender uma mudança tão brusca de decisão em menos de 24 horas? Elvis era assim mesmo, mudanças repentinas de decisão e de temperamento faziam parte de sua personalidade. O Coronel ficou muito contente e garantiu a Elvis que ele tinha tomado uma "ótima decisão" do qual "não iria se arrepender!". E assim foi feito. Elvis entrou novamente em estúdio no dia 15 de maio (exatamente dois meses após sua primeira tentativa frustrada de gravar as canções do disco de natal).

Ainda sem acreditar no disco e com uma certa má vontade Elvis começou a gravar as músicas. Para tornar um pouco menos penosa a tarefa de cantar tanto material horrível, Elvis também intercalava as gravações natalinas com várias jam sessions de canções Gospel, que no futuro iriam acabar sendo reunidas no premiado disco "He Touched Me". No fundo o cantor procurou antes de tudo ter uma postura eminentemente profissional. Se ele era um artista contratado pela RCA Victor, então cumpriria as determinações da sua gravadora. Como era muito eficiente em estúdio, desde seus primeiros anos, conseguiu finalizar o álbum em apenas duas noites. Alguns músicos que estiveram ao seu lado naquelas desanimadas sessões iniciais pensam que o fator predominante nem foi tanto a intenção de ser eficiente, mas sim de ser rápido o bastante para se livrar desse disco de uma vez por todas. Elvis queria antes de tudo gravar o material, evitar novos atritos com o Coronel e a direção da RCA e seguir em frente na sua carreira, esquecendo essa má experiência da forma mais indolor e célere possível. Em suma, ele seria profissional e completaria as músicas. Infelizmente porém o gosto amargo ficaria na boca por mais alguns meses. Ele sabia que todo o material era um desperdício de tempo e dinheiro e que não tinha o menor valor artístico. Mesmo querendo se livrar do disco logo, Elvis percebeu rapidamente que o famigerado LP iria persegui-lo por mais algum tempo ainda. O Projeto iria continuar, em um futuro não muito distante, a trazer vários aborrecimentos pessoais a ele. Definitivamente as coisas não melhoraram muito nos meses seguintes, principalmente quando Felton Jarvis comunicou a Elvis o nome do novo disco: "Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas" (Elvis canta o maravilhoso mundo do natal). O Rei simplesmente odiou o título, que para ele era "completamente estúpido!", mas resolveu novamente se calar, só manifestando sua opinião pessoal para os mais próximos.

Depois outro aborrecimento surgiu quando a arte final da capa chegou em suas mãos: Elvis odiou muito a foto montagem feita com sua imagem, aonde colocaram a foto de sua face acoplada a um desenho de um Papai Noel balofo. Para quem lutava diariamente contra a balança, se deparar agora com um desenho que o retratava como um Papai Noel roliço não era das experiências mais agradáveis e o pior: o desenho iria sair na capa de um de seus próprios discos! Aquilo já era demais! Resolveu reclamar dessa vez. Chegou a comentar com Joe Esposito: "Aonde será que esses caras querem chegar??!! Meu Deus, não há limites para tanta mediocridade!!!" Tentou até mesmo impedir a reprodução da capa, mas o Coronel lhe informou que seria impossível pois todas já estavam impressas! Como não havia mais o que fazer, Elvis resolveu não se estressar mais e tomou a decisão de se divertir com o disco, fazendo piadas em cima de sua capa, de seu título, etc. Era um humor misturado com angústia e melancolia, pois apesar de rir do LP, Elvis sabia que os outros iriam criticá-lo por ter gravado tal material. Mas ele já tinha problemas demais e aquilo parecia ser o menor deles. Além do mais pensou: Quem sabe ele não estaria errado e os caras da RCA certos, não é mesmo? Podia ser até mesmo que "aquilo" fizesse sucesso! Quem sabe... O LP, finalmente, depois de sofrer muitas modificações promovidas pelo produtor de Elvis, foi lançado em outubro de 1971. A crítica caiu em cima, malhou impiedosamente o trabalho e culpou Elvis, o Coronel e o produtor Felton Jarvis pelo lançamento. Pelo menos dessa vez Elvis não levou a culpa toda sozinho como ele temia. De sua parte Elvis até mesmo se divertiu com alguns artigos e no final deu de ombros, declarando: "Eu tinha razão, esses caras da RCA não entendem nada mesmo de música!"...

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Love Letters From Elvis (1971)

O ano de 1971 foi bastante agitado para Elvis Presley. Começamos o ano brindados com seu melhor disco de estúdio da década de 70, "Elvis Country", e com o excelente filme "That´s The Way It Is", atacando os cinemas em todo os Estados Unidos. No dia 16 de janeiro desse mesmo ano, Elvis recebeu aquele que talvez fosse para ele o prêmio mais significativo de sua carreira, o Jaycees Award (concedido pela Jumior Chamber of Commerce), como um dos dez jovens que mais se destacaram na América. Na ocasião de premiação Elvis recebeu o troféu das mãos de ninguém menos do que George Bush, que anos depois iria se tornar presidente dos EUA. Elvis era tão orgulhoso desse prêmio que o carregou consigo até o final de sua vida. Não era raro Elvis exibir o vistoso objeto em sua suíte de Las Vegas, orgulhosamente colocado em um local de destaque para que todos pudessem vê-lo, ou então mostrá-lo para todos aqueles que encontrava durante as viagens de suas turnês. 1971 foi também um ano de trabalho árduo para o cantor. Para se ter uma idéia da agenda lotada de Elvis, basta dizer que em um curto espaço de tempo ele entrou em estúdio três vezes, para realizar sessões em março, maio e junho.

Como se isso não bastasse Elvis também caiu na estrada e realizou uma puxada maratona de apresentações em várias cidades, sendo que sua turnê em novembro ficou particularmente conhecida pelos fãs pela qualidade dos shows realizados. Mas isso ainda não foi tudo em sua vida artística, pois como sempre fazia nos anos 70, Elvis ainda realizou duas de suas habituais temporadas em Las Vegas. Mesmo esgotado física e emocionalmente, Elvis acabou aceitando a sugestão de Tom Parker para cumprir uma temporada extra em Lake Tahoe. Para Parker era interessante manter Elvis mergulhado numa infinidade de obrigações, pois isso iria manter a mente do cantor ocupada e produtiva. O Coronel, depois de tantos anos ao lado de Elvis, sabia que quando ele ficava muito tempo em ócio, sem ter o que fazer, mergulhava em depressão ou então se metia em alguma confusão tola. Parker sempre dizia o velho ditado inglês para Elvis: "Cabeça vazia, instrumento do diabo!". Além dos desafios impostos, o Coronel obviamente via o elevado potencial comercial do grande número de shows realizados.

Financeiramente 1971 foi um dos melhores anos da carreira de Elvis. Os lucros iriam finalmente equilibrar suas contas pessoais e de sua empresa. Era uma via de mão dupla que deixava todos satisfeitos: Elvis ficava feliz por estar trabalhando com agenda cheia e o Coronel Parker ficava igualmente contente em ver as verdinhas entrando em abundância. Mas se Elvis estava em uma ótima fase profissional, sua vida pessoal não ia pelo mesmo caminho. Apesar de estar se sentindo novamente valorizado e reconhecido como artista nesse período, 1971 não foi só um ano de glórias na vida do Rei do Rock. Esse também foi o ano em que seu relacionamento com Priscilla afundou de vez. Embora Priscilla só tenha pedido o divórcio e se separado do marido em 1972, nessa época ela já tinha chegado à conclusão de que seu casamento estava irremediavelmente arruinado.

Vivendo vidas separadas, Elvis ficava louco se tivesse que ficar mais de uma semana ao lado de sua esposa. Não havia mais carinho ou envolvimento. O que era prazer e alegria para Elvis antes em seu casamento, agora havia se transformado em obrigações, brigas e aborrecimentos. Embora infeliz em sua vida conjugal Elvis não estava disposto a tomar a iniciativa de um rompimento definitivo ou de uma conversa franca que colocasse todos os problemas em panos limpos. Tentava administrar a eterna crise conjugal com Priscilla com atitudes paliativas, viajando muito, dando desculpas para não passar muito tempo ao lado dela e o pior de tudo: procurando em outras mulheres o que não conseguia mais encontrar em sua esposa. Priscilla também resolveu seguir o mesmo caminho e logo estava de romance sério com Mike Stone, seu instrutor de caratê.

Depois de tentar solucionar seus problemas conjugais Priscilla finalmente entendeu que Elvis nunca seria fiel em seu matrimônio, nunca iria se tornar um pai presente e provavelmente nunca iria assumir todas as consequências ruins que invariavelmente surgem em um relacionamento adulto. Elvis ainda queria levar uma vida de mulherengo inconsequente, aprontando nas turnês ao lado de seus amigos. Na visão de Priscilla, Elvis se recusava a deixar sua postura adolescente de ser, uma atitude que diga-se de passagem em nada ajudava no projeto de salvamento de suas vidas em comum. Sem comunicação, com duas pessoas tentando levar vidas tão diferentes, não haveria outro rumo a tomar. O fim era inevitável, pois naquele momento o casamento havia se transformado apenas em uma fachada mesmo, uma paródia infeliz de um sonho não realizado. E tanto Elvis como Priscilla sabiam muito bem disso, embora continuassem a manter as aparências externas. Em conversas mais íntimas com seus amigos mais chegados Elvis revelava extrema decepção, angústia e sentimento de culpa pelo fracasso de seu casamento. Durante anos ele idealizou em Priscilla a mulher perfeita, a jovem correta e linda que iria ficar ao seu lado para sempre.

Durante anos ele preservou Priscilla ao seu lado, em um romance muitas vezes puramente platônico (pelo menos no aspecto sexual), e viu nela um modelo de mulher em que ele poderia confiar: leal, correta e pura. Depois do casamento tudo foi por água abaixo. O que era idealização romântica logo se tornou decepção com a realidade cotidiana de um matrimônio muitas vezes marcado pela indiferença e pela falta de diálogo. Talvez o grande problema para Elvis tenha sido a formulação em sua cabeça dessa imagem irreal de Priscilla por tantos anos. Quando se casou e a realidade bateu à porta, Elvis se sentiu frustrado e decepcionado com o que encontrou. Não poderia ter acontecido diferente, diga-se de passagem.

Sem encontrar aspectos positivos em sua vida pessoal, Elvis se voltou com todas as forças para sua vida profissional. Não que a RCA ajudasse muito nesse campo, pois ocasionado por infelizes escolhas da gravadora, os singles de Elvis testemunharam uma queda nas paradas, tendo sua melhor posição alcançada com "Rag to Riches", um mero e tímido 33º lugar. Lançado em junho de 1971 e sendo um dos discos de estúdio menos conhecidos de Elvis, "Love Letters", seguiu um caminho parecido, pois também não alcançou uma grande repercussão em vendas (33ª posição nos EUA), embora na Inglaterra tenha atingido um excelente 7º lugar. O álbum trazia canções que estavam arquivadas há mais de um ano nos estúdios da RCA em Nashville, pois grande parte desse material havia sido gravado em junho de 1970. De uma certa forma o disco criado por Felton Jarvis foi uma forma de aproveitar todos os "restos" dessas famosas sessões de gravação, com a honrosa exceção da belíssima "Sylvia" que só iria ser lançada no ano seguinte, no disco "Elvis Now". A palavra "restos" deve ser entendida em termos de comparação, pois apesar de "Love Letters" possuir algumas ótimas músicas, se formos compará-lo com "Elvis Country" ou "That´s The Way It Is" chegaremos a conclusão que ele é realmente meio fraquinho em termos de qualidade. Agora, prestem atenção no título do álbum. Quem o comprava esperava ouvir um disco só de baladas de Elvis, mas não se enganem. O repertório se mostra muito mais eclético, pois entre suas faixas podemos facilmente encontrar rocks, country, baladas e até mesmo um gospel! Vai entender a RCA!!!

Love Letters (E. Heyman / V. Young) - Essa linda balada que dá nome ao disco é na verdade uma regravação, visto que, Elvis a havia gravado em 1966. Quando lançada na época alcançou o 19º lugar. Iria ser bastante executada em shows durante o ano de 1976. A versão original de "Love Letters" foi gravada em 1945 e foi composta como tema de um filme estrelado por Joseph Cotten e Jennifer Jones. As duas versões são excelentes, tanto essa como a de 1966. A diferença é que na versão da década de 70 a voz de Elvis está bem mais forte, com entonações diferentes da versão anterior, em que sua voz está bem mais suave, quase murmurando as palavras. Escolha sua favorita!

When I'm Over You (S. Milete) - S. Milete escreveu três músicas que foram gravadas por Elvis em 1970: "When I´m Over You", "It´s Your Baby You Rock It" e finalmente "Life". Essa é a pior das três. A música não decola, tem um ritmo arrastado e definitivamente não deveria ter sido gravada. Vale ressaltar que apesar de não ser boa, a voz de Elvis está impecável e os músicos ótimos. Esse country insosso é um claro sinal de uma situação que já ocorrera na década de 60: falta de material de qualidade. É por essas e outras que digo que esse álbum foi comprometido em termos de qualidade pelo pessoal da RCA.

If I Were You (G. Nelson) - Outro country fraquinho que é burocrático ao extremo e ainda contém uma letra estúpida dizendo: "Se eu fosse você eu sei que que eu me amaria." O autor aqui tentou dar uma de poeta, mas falhou miseravelmente. É interessante notar que materiais fracos como esse foram gravados na mesma sessão em que foram produzidas músicas como "Brigde Over Trouble Water", "You Don´t Have To Say You Love Me", entre outros clássicos! Talvez Elvis ao gravar canções como essa só estivesse tentando agradar a Hill and Range, companhia responsável por fornecer material. Enquanto grandes compositores como John Lennon, Bob Dylan e outros achariam um privilégio em Elvis gravar suas músicas, ele se punha a gravar coisas assim!

Got My Mojo Working / Keep Your Hands Off Of It (P. Faster / E. Presley) - Malicioso e sujo, esse excelente rock, originalmente gravado por Muddy Waters, é na verdade uma Jam Session e claramente não havia sido gravado com intenção de ser lançado oficialmente. Sua versão completa possui mais de 5 minutos, porém foi editada pelo palavreado um tanto inadequado usado por Elvis no começo da canção. Caso excepcional de um feliz casamento entre a música de estúdio e os instrumentos acrescentados por Felton Jarvis posteriormente, que deixaram a música mais cheia. Elvis ainda a mistura em alguns momentos com "Keep Your Hands Off Of It", música que podemos vê-lo ensaiando na Alemanha em 1959, quando ainda estava servindo o exército americano.

Heart Of Rome (Stephens / Blaikley / Howard) - Um dos pontos altos do disco, essa canção possui fabulosa melodia e a voz de Elvis está fantástica. A letra é bem piegas, é verdade, mas tirando esse detalhe é um verdadeiro prazer sem culpas. Claro que é estranho o descendente de escocês Elvis cantando uma música que menciona Roma, mas avaliando a discografia de Elvis ("It´s Now Or Never", "You Don´t Have To Say You Love Me", "Surrender", etc) não é de se surpreender ouvir Elvis se aproximando musicalmente mais uma vez da Itália. Tem uma versão engraçada no bootleg "The Brighest Sar On Sunset Boulevard vol 2" onde Elvis literalmente avacalha a música, metendo palavrões e um grito hilário bem no meio da música. Divertidíssima!!! A versão oficial, por sua vez, foi lançada como lado B de "I´m Leaving", o que como sabemos era sentença de morte para uma música de Elvis na década de 70 e significava chances nulas de entrar para as paradas.

Only Believe
(P. Rader) - Os discos de Elvis são uma verdadeira salada musical de gêneros e refletem seu gosto musical eclético e sua preocupação zero em seguir só um estilo. Eis que depois de balada, countries e rock surge um gospel!!! Lançado no lado B de "Life", para promover o álbum esse gospel ganhou algumas versões ao vivo em 1971 e possui uma melodia meio esquisita, puxando algumas vezes para o Blues, outras vezes para o R&B e ensaiando uma proposital desafinada no seu final. Diferente de tudo que Elvis gravou, mas, na minha opinião um pouco abaixo da média.

This Is Our Dance (L. Reed / G. Stephens) - De longe uma das piores músicas de Elvis na década de 70, ao lado de "Take Good Care of Her". Aqui quase nada se salva, o ritmo é lerdo, a letra chatinha e não achando pouco, Felton Jarvis incluiu desnecessários violinos o que catapultou a música para um baile brega dos anos 40, o que em um disco de Elvis não é muito bom. Se possível pulem essa, pois não acrescenta em nada na discografia de Elvis e baixa consideravelmente o nível do disco.

Cindy, Cindy (Kaye / Weisman / Fuller) - Esse rock não ter sido lançado como single é um crime! Uma pena, pois é um típico rock de Elvis da década de 70 com um solo de arrebentar de James Burton (tem uma versão do "Essential Elvis vol.4" que tem dois solos), a banda detonando e o segredo de todo bom rock: ritmo bom, acelerado e um vocal poderoso do vocalista. Aqui Elvis dá um show. Sua voz ainda estava com a aspereza (no bom sentido) dos anos de 68 e 69. "Cindy, Cindy" já havia sido gravada diversas vezes com nomes e letras diferentes. Ricky Nelson, por exemplo, a gravou sob o nome de "Get Along Home Cindy" em 59 e Teddy Van também a gravou com o título de "Cindy". A letra foi reescrita por Ben Weisman, Florence Kaye e Dollores Fuller, três compositores de Elvis que escreveram para ele bastante na década de 60. De longe a melhor música do disco inteiro.

I'll Never Know (Karget / Wayne / Weisman) - Música escrita por Ben Weisman, que escreveu para Elvis mais de 50 músicas! Essa balada bonitinha lembra muito as musiquinhas inocentes dos filmes dos anos 60. A diferença em relação a essas fica a critério da voz de Elvis, bem mais madura e da instrumentação com violinos. Tudo utilizado por Felton Jarvis, o que não acontecia nas trilhas, que optavam por um arranjo bem básico. Não entra na lista das melhores de Elvis, mas é bem melhor do que outras músicas do disco.

It Ain't Big Thing (But is Crowing) (Merrit / Joy / Hall) - Essa canção é definitivamente, junto com "Just Call Me Lonesome", a música mais fiel ao estilo country gravada por Elvis. O porquê de não ter sido incluída no "Elvis Country" é um mistério. Algumas semanas depois da sessão de gravação em junho de 1970 ela estaria nas paradas na voz de Tex Williams. James Burton aqui capricha nos seu solo. Particularmente acho a música bem chatinha e meio deslocada no álbum.

Life (S. Milete) - Essa canção é única na carreira de Elvis, tanto pelo tema, falando da origem da vida(!), tanto pelo arranjo, que aqui sim ficou de primeira, principalmente na parte final da música, diferente de tudo que você já ouviu na voz de Elvis. Jarvis aqui acertou em cheio. No versos finais, a música acaba revelando ser uma balada. Muito bem escrita é a melhor das três músicas de S. Milete que Elvis gravou em 1970 e fecha o álbum com chave de ouro. Porém o público não aceitou essa simpática alienígena no mundo de Elvis e quando lançada como single para promover o álbum não ultrapassou a medíocre 53º posição, não tendo sido nem lançada na Inglaterra. Uma pena.

Em suma: "Love Letters From Elvis" é um álbum razoável de Elvis, que alterna excelentes momentos com outros bem medíocres e é bem inferior a seus antecessores "Elvis Country" e "That's The Way It Is". Os produtores também tiveram sua parcela de culpa no quase esquecimento desse álbum com o passar dos anos, apesar de sua posição não ter sido ruim, pois lançaram músicas fracas nos singles, deixando de fora pérolas como "Cindy, Cindy". Além disso o seu título dava a entender que era um álbum exclusivo de baladas, quando é um dos mais mistos, em termos de estilos musicais, de toda a carreira de Elvis Presley.

Pablo Aluísio e Victor Alves.

Elvis Presley - I Sing All Kinds

Devo confessar que recebi a notícia sobre esse lançamento sem muito entusiasmo. Não quero com isso afirmar que esse novo CD do selo Follow That Dream seria destituído de valor, nada disso, aliás muito longe desse tipo de afirmação. Recebi sem grande empolgação porque realmente não considero as sessões que Elvis realizou em Nashville em 1971 entre as mais inspiradas de sua carreira. Aliás devo ir além. Considero essas sessões limitadas, restritas e para dar voz aos setores mais críticos um verdadeiro desperdício de tempo por parte de Elvis e seu grupo.

Agora me explico. Esse set list por si só é extremamente limitado e restrito. Ao fazer uma análise sobre o conteúdo dessas sessões chegamos facilmente à conclusão que canções temáticas como as de natureza religiosa ou de temas natalinos por si só já ficariam restritas naqueles grupos que seguissem tal fé religiosa. Para ilustrar o que tento passar ao leitor vou me utilizar de um exemplo simples, para não dizer até mesmo simplório. Em um país essencialmente católico como o nosso o simples fato de algumas canções de Elvis Presley serem catalogadas nesse gênero já era por si limitante, tanto que nenhum de seus álbuns gospel conseguiu sequer ser lançado oficialmente em nosso país durante sua carreira. Não quero com isso desmerecer a importância das faixas religiosas, absolutamente não. Apenas quero ilustrar como, para alguém que procurava se firmar novamente na carreira após um período de crise artística, esse talvez não fosse o momento ideal para dar ao mercado de discos um novo LP com esse tipo de sonoridade. Outro problema se refere ao material natalino. Praticamente poucos países, fora os EUA, cultivam ou levam a sério esse estilo musical. Mesmo assim temos que convir que músicas de natal estavam bem fora de moda nos anos 70, mesmo naquele país.

Gravar músicas natalinas naquela altura era, para ser bem sincero, uma grande perda de tempo e dinheiro que traria muito pouco retorno para Elvis em termos de prestigio artístico. Em resumo, gravar músicas religiosas evangélicas eram limitantes e perder tempo registrando faixas de natal eram acima de tudo se limitar como cantor. Depois dessa rápida exposição sobram apenas um terço das sessões que poderiam ser dedicadas a material realmente relevante. Pouco, muito pouco. E mesmo assim, ao analisarmos essa terça parte final, verificamos facilmente que o resultado final não é muito positivo, que realmente as sessões em seu conjunto deixam muito a desejar. Ao se debruçar sobre o restante do material gravado por Elvis nessa ocasião, não posso deixar de ficar insatisfeito. As canções que compõem a parte, digamos assim, convencional, não temática, passam muito longe de nos presentear com algo que seja classificado como histórico ou lendário e ao invés disso nos deixa um sabor amargo de algo comum, ordinário (não no sentido pejorativo da palavra), vindo de um artista que pode ser denominado sem medo de errar com esses mesmos adjetivos a que citei no começo da frase. Em termos de comparação a situação só se agrava se formos comparar essas sessões de 1971 com as do ano anterior. Nada mesmo foi gravado de forma tão relevante aqui e nem muitos menos temos canções de porte como Bridge Over Troubled Water, a música que definiu de forma tão completa as sessões anteriores. O que nos resta então? Canções medianas e com toques da genialidade de Elvis em um ou outro momento. Talvez o FTD I Sing All Kinds tenha seu valor mais concretizado em seu ineditismo. Mas mesmo pensando sob esse ponto de vista não posso deixar de perceber que um CD apenas para resumir uma sessão que por si só deu origem a discos diversos da carreira de Elvis Presley vem apenas confirmar que em si essa sessão deixa e muito a desejar. Suas qualidades tiveram necessariamente de ser somadas para sustentar um único CD e não diversos específicos a cada álbum que conhecemos de sua discografia oficial. Eis aqui sua fragilidade definida em um fato do qual não podemos ignorar.

De qualquer forma vamos agora produzir pequenas pinceladas sobre cada faixa presente no CD, em nosso já conhecido método de se analisar faixa a faixa todos os registros deixados a nós pelo grande artista que Elvis Presley foi.

BOSOM OF ABRAHAM (William Johnson - George McFadden - Ted Brooks) - O CD abre com essa faixa gospel que foi gravada pela primeira vez pelo grupo The Golden Gate Quartet em 1938. Anos depois ainda ganharia uma releitura pelo mais que obscuro grupo The Trumpeteers no pós guerra. Embora todos saibamos que Elvis era um grande conhecedor da música religiosa norte americana, tanto que possuía vasta coleção desse gênero em sua casa, posso arriscar que sem dúvida o que o levou a gravar essa faixa em 1971 foi a versão produzida pelos Jordanaires em 1954. Esse tipo de conclusão chegamos ao ouvir as três versões originais citadas. Polida ao longo dos anos Bossom Of Abraham foi aos poucos deixando o som mais puro dos spirituals para flertar perigosamente com os novos ritmos que chegavam embalando a sociedade americana nos anos 50. Tanto isso é verdade que seu ritmo em muito lembra os primeiros registros desse novo idioma musical chamado Rock´n´Roll, produzindo uma curiosa aproximação entre o sagrado e o profano, o espiritual e o carnal. Temos aqui o take 4. Praticamente igual a todas as outras que conhecemos. Cercado por um grupo vocal gospel afinadíssimo, com músicos que conheciam muito bem a melodia em si, Elvis não teve muito com o que se preocupar. O take é praticamente perfeito do começo ao fim e poderia ter entrado em qualquer disco oficial de Elvis sem maiores problemas.

I'VE GOT CONFIDENCE (Andrea Crouch) - Andrea Crouch era um popular ministro religioso nas décadas de 1960 e 1970. Era um novo talento, alguém que ainda lutava para abrir caminho em sua trajetória artística, apesar de já naquela altura, 1971, ser bem reconhecido dentro da comunidade religiosa dos EUA. Para quem conhecia música gospel como a palma da mão Elvis logo tomou conhecimento de seus discos religiosos e se tornou grande admirador do trabalho desse pastor negro que, com sua música, deu um novo sopro de vida ao gênero durante aquele período. Era questão apenas de tempo Elvis vir a gravar alguma de suas canções e assim o fez finalmente nessas sessões de Nashville. A música escolhida foi justamente essa, que foi gravada pela primeira vez em 1969 por seu próprio autor. Aqui temos o take 1, a primeira tentativa de Elvis em gravar a canção. Bem mais rápida e acelerada que a versão original ainda temos um Elvis se acostumando com a canção. Mesmo assim podemos perceber que Elvis já a tinha ouvido tantas vezes na voz de Andrea que ela, apesar do compasso diferenciado, estava a poucos minutos de encontrar seu ponto ideal e se chegar ao take oficial.

AN EVENING PRAYER (C.M.Battersby - Charles H.Gabriel) - Depois de I´ve Got Confidence, faixa relativamente recente naquela época, Elvis mergulha fundo na história da música gospel e traz de volta uma canção que foi originalmente escrita em 1911! Esse fato tem explicação e não precisamos retroceder tanto para se saber em que momento essa canção religiosa capturou o gosto musical de Elvis Presley. Certamente a influência vital aqui é a versão do grupo Blackwood Brothers, um dos preferidos de Elvis. Embora músicos e cantores importantes como Jim Reeves e Mahalia Jackson tenham feito grandes gravações dessa música, foi a versão dos Blackwood Brothers que fisgou definitivamente Elvis Presley. Todos sabemos que um dos sonhos de Elvis em seu começo era cantar em um quarteto gospel. Esse sonho foi ainda mais acentuado por esses fantásticos cantores que resolveram se mudar para Memphis em 1950 dando inicio a uma longa e produtiva carreira, deixando profunda influência sobre o próprio som que Elvis iria desenvolver a partir de seu surgimento anos depois. Esse tipo de afirmação é facilmente perceptível logo nas primeiras notas ao piano da canção. O coro invade o ambiente e Elvis assume a música a levando em um ritmo cadenciado e terno para tudo terminar em final apoteótico de vozes em perfeita harmonia. Ao se ouvir esse take, de número 5, podemos facilmente chegar na conclusão que ele é praticamente definitivo.

FOR LOVIN' ME (Gordon Lightfoot) - Canção country que se destacou nas vozes dos componentes do grupo Peter, Paul and Mary nos anos sessenta. Interessante que muitos autores sempre gostam de frisar que nos anos 60 Elvis se isolou do cenário musical ao seu redor e se fechou em um casulo de canções fabricadas determinadas pelos estúdios de cinema. Sem dúvida em parte isso foi um fato verdadeiro. Porém se formos analisar a gravação de canções como essa nos anos 70 vamos perceber que Elvis não estava fora de sintonia com o que acontecia na música americana, apenas estava amordaçado por contratos leoninos a que tinha assinado. Aqui temos a versão que todos já conhecemos, a única novidade mesmo foi a introdução em que o grupo erra e volta para mais uma tentativa. Nesse aspecto acho que a inclusão aqui nesse CD foi puro desperdício.

EARLY MORNING RAIN (Gordon Lightfood) - Sucesso country de Peter, Paul and Mary nos anos 60. A versão oficial de Presley, que foi lançada no LP Elvis Now em 1972, foi gravada no dia 15 de março de 1971 nessas mesmas sessões de Nashville que estamos aqui analisando. Era uma de suas preferidas, estando bastante presente em suas apresentações, principalmente em seus últimos concertos realizados no período entre 1976 e 1977, onde Elvis realmente a cantou regularmente em muitas de suas turnês. Vale lembrar também que ela seria ainda gravada mais uma vez para o "Aloha From Hawaii" em 1973. "Early Morning Rain" é aquele tipo de canção que muito dificilmente você não irá apreciar. A música tem uma boa levada, melodia suave e relaxante e traz Elvis bem inspirado e envolvido. Acredito que mesmo aqueles que torcem o nariz para o gênero country vão apreciar sua melodia. Aqui temos o take 11, sem nenhuma grande diferença significativa em relação à versão oficial que conhecemos - exceto pela ausência de alguns instrumentos de sopro e da falta mais marcante do vocal de apoio.

FOOLS RUSH IN (Rube Bloom / Johnny Mercer) - Uma canção apenas mediana que a despeito de suas duvidosas qualidades melódicas alcançou uma incrível marca de regravações famosas desde que Johnny Mercer a lançou na década de 1930. Entre outros grandes nomes que fizeram suas próprias versões estão os consagrados Glenn Miller e Frank Sinatra. Porém nada dessa longa tradição foi reaproveitada por Elvis pois ele preferiu seguir quase que fielmente os arranjos da versão de Rick Nelson, que foi lançada em 1963 pelo selo Decca. Talvez o fato do guitarrista James Burton ter participado dessa versão de Nelson tenha colaborado decisivamente para a gravação sem grandes novidades por parte de Elvis Presley. Nesse CD temos o take de número 14, o que por si só já é uma surpresa, haja visto que nenhuma mudança significativa existe. Nos admira muito o fato de Elvis levar tantos takes para se chegar em um resultado significativo; como disse antes, a canção é simples, tanto no aspecto de arranjos quanto de vocalização por parte de Elvis Presley. Infelizmente aqui não ouvimos praticamente nada dos bastidores da gravação, sendo o corte mais adequado para um lançamento oficial do que para um CD de takes alternativos como esse.

HELP ME MAKE IT THROUGHT THE NIGHT
(Kris Kristofferson) - Essa canção escrita pelo cantor e ator Kristofferson surgiu nas paradas em 1971 cantada por Joe Simon. Fez um belo sucesso sendo considerada uma boa representante naquela que, para muitos, foi uma época de pleno renascimento do gênero country com cantores de grande expressão como Willie Nelson, Johnny Cash, Wayllon Jennings e Merle Haggard, grupo que ficou conhecido como símbolo do movimento "outlaw". Obviamente que em Nashville Elvis não poderia ficar à margem do que acontecia ao seu redor em termos de movimentos culturais e isso se refletiu muito em sua própria música nesse período. Essa influência é facilmente perceptível quando nos debruçamos sobre o teor das canções que Elvis gravou aqui nessas sessões. Tirando o material temático (gospel e natalino) o que basicamente temos são várias gravações, que se não são assumidamente do gênero country, bebem diretamente de sua fonte. Voltando a canção aqui temos dois takes, os de número seis e sete. O primeiro é uma mera introdução por parte de Elvis que acaba entrando com o vocal no momento errado, se enrola um pouco e apesar da banda seguir em frente logo é interrompida pelo cantor ao perceber suas próprias falhas. O take sete por sua vez já é uma versão completa. Elvis ainda erra levemente em alguns trechos mas no balanço final até que é um bom take, apesar de também ser sem grandes novidades importantes...

IT'S STILL HERE (Hunter) - Canção escrita por Ivory Joe Hunter, grande nome da música negra norte americana, compositor, pianista e consagrado cantor de R&B. A admiração de Elvis pela obra de Hunter não ficou apenas restrita as músicas ("My Wish Came True", "Ain't That Loving You, Baby" e "I Will Be True") que o cantor efetivamente gravou. Foi além. Nos anos 50 Elvis, em raro momento de verdadeiro fã de outro artista, convidou Ivory a Graceland para que ambos se conhecessem e trocassem ideias sobre música em geral. O jantar oferecido por Elvis foi um grande sucesso e Ivory relembraria anos depois do grande anfitrião que o cantor foi naquela ocasião. O ponto alto desse encontro, segundo as lembranças do próprio Ivory, foi cantar junto a Elvis o sucesso "I Almost Lost My Mind", escrito pelo autor e imortalizado em gravação com Pat Boone. Voltando ao CD que estamos analisando, aqui temos o take praticamente único de It´s Still Here. A história da gravação dessa música de Hunter por Elvis já é, de certa forma, bem conhecida pelos fãs do cantor. Aqui temos o astro em raro momento solo ao piano. O momento foi a manhã do dia 19 de fevereiro de 1971 nos estúdios de Nashville. Os músicos presentes a esta sessão lembram que Elvis chegou muito inspirado na manhã deste dia e gravou três canções de uma só vez ao piano, sozinho, sem acompanhamento. O interessante é que o horário preferido de Elvis para gravar era durante as madrugadas adentro e esta gravação, feita logo pela manhã, foi uma verdadeira quebra de seu "Modus Operandi". Aliás a novidade não se restringe apenas ao horário da gravação, mas também pelo fato do Elvis instrumentista aparecer depois de tantos anos esquecido.

I WILL BE TRUE (Hunter) - Essa é a terceira música registrada por Elvis na manhã do dia 19. Como já escrevi antes, essa canção e "It's Still Here" são algumas das versões de Presley para velhas e conhecidas canções do talentoso Ivory Joe Hunter. Aqui podemos notar o grande conhecimento musical de Elvis pois é fato que ele sempre usava desse artifício, ou seja, sempre estava revisionando canções antigas e lhes dando um novo tratamento, tentando trazê-las de volta para que novas gerações tivessem a oportunidade de conhecer toda essa vasta tradição musical. E isso que escrevi está bem nítido no fato de seus arranjos terem sido creditadas inteiramente a Elvis e não a Felton Jarvis, que nesse caso se resumiu a acrescentar overdubs para dar mais consistência ao resultado final. Detalhe curioso: Durante sua execução ouvimos nitidamente, segundo alguns, o som de manuseio de folhas, certamente de partituras e letras presentes na sessão. Mais curioso ainda é o fato de alguns autores creditarem esse pequeno erro de gravação ao próprio Elvis!!! Só não conseguiram mesmo explicar como Elvis, que estava tocando piano com as duas mãos, conseguiu ainda manusear as tais "folhas" ao mesmo tempo!!!

UNTIL IT'S TIME FOR YOU TO GO (Marie) - Essa é uma música que nunca encontrou uma versão ideal na voz de Elvis, opinião que era compartilhada pelo próprio cantor que sempre mostrava insatisfação ao ouvir os diversos takes produzidos em estúdio. Talvez por essa razão a música tenha sido arquivada por um bom tempo pelo produtor Felton Jarvis, pois muito provavelmente ele e Elvis ainda esperavam chegar no chamado "take perfeito", coisa que aliás nunca aconteceu, pois a versão que saiu no LP "Elvis Now" é bem mais fraca que essa versão que ouvimos nesse CD. O mais interessante nesse caso foi que, apesar de não ter ficado boa em estúdio na opinião de Elvis, ele resolveu levá-la para a estrada e a incorporou praticamente em definitivo em seu repertório. Os resultados dessas versões ao vivo foram irregulares, pois como sempre temos bons momentos ao lado de interpretações medíocres de Elvis para essa música. Em vista disso esse recente sucesso na voz de Neil Diamond (pois foi gravada no mesmo ano da versão de Elvis), foi lançado como lado principal de um single em janeiro de 1972, com "We Can Make the Morning" no lado B. O single, feito para divulgar o LP "Elvis Now", não encontrou boa repercussão nas paradas, chegando a um desolador 40º lugar. Nesse CD temos dois takes, de números 5 e 6. Essas são versões de junho e nada trazem de muito relevante. No aspecto fluidez essa versão ganha se comparada a versão oficial pois é sabido que a última é bastante prejudicada em seu andamento. Elvis, mais solto e relaxado, produziu aqui um melhor material. Fora isso, apesar de seus inegáveis méritos, só podemos constatar que mesmo sendo boa ainda certamente não é a ideal, o que confirma que Elvis e Felton tinham mesmo razão nesse ponto pois a versão perfeita jamais foi de encontro a voz do cantor.

IT´S ONLY LOVE (James / Tyrell) - A versão oficial dessa canção foi lançada em setembro de 1971 em um single juntamente com "The Sound of Your Cry" no lado B. As vendas foram desanimadoras, chegando apenas na 51ª posição entre os mais vendidos. Aliás é bom frisar que todos os singles lançados por Elvis em 1971 se deram mal, em maior ou menor grau, nas principais paradas musicais. Isso demonstra claramente como a carreira de Elvis vinha sendo mal administrada. Músicas sem muito apelo comercial eram colocadas em posições de destaque nos singles, que em razão disso não chamavam atenção do público que simplesmente o ignoravam. O excesso de lançamentos também era prejudicial. Em 1971 Elvis lançou um single novo praticamente a cada dois meses. Esses singles e álbuns em demasia (foram dez LPs de Elvis lançados somente entre 1970 e 1971) saturavam completamente o mercado, fazendo com que muitos deles encalhassem nas lojas. Além disso como eram muitos os lançamentos, nenhum deles acabava tendo a publicidade adequada e necessária para que se destacassem nessas mesmas paradas. It´s Only Love é o exemplo perfeito do que estou escrevendo. Essa realmente era a música errada no lugar errado. Não estou querendo com isso dizer que ela seja desprovida de méritos, nada disso, apenas quero deixar claro que jamais deveria ter sido lançada como foi, sendo título de um single de Elvis Presley. O resultado desse erro de estratégia veio em números que apenas demonstrava o grande fracasso de vendas em que o single se tornou. A versão oficial é apenas mediana. Com belo arranjo de cordas, com Burton fazendo pequenos solos ao longo da melodia, a música em si até tem refrão agradável, mas passa longe de ser aquele tipo de música que irá grudar na mente das pessoas, fazendo em consequência a canção se transformar em um hit em potencial. O take presente nesse CD já traz algumas pequenas novidades, nada demais, mas que ao menos devem ser citadas. Os pequenos dedilhados de guitarra ganham mais evidência e o ritmo da canção está mais lento e calmo, ganhando com isso maior qualidade técnica. Elvis também se mostra superior nos vocais, com as palavras cantadas de forma mais suave, trazendo nitidez ao conjunto final. De qualquer forma parece que Elvis sabia que faltava de certa forma pique ao take e talvez por isso resolveu no finalzinho inutilizar totalmente a tentativa ao trocar "it´s Only Love" por "It´s Only Sex", pequeno trocadilho que se torna apenas curioso e que nada acrescenta ao resultado final que ouvimos.

I'M LEAVIN´ (Jarret / Charles) - Dando prosseguimento a análise do FTD I Sing All Kinds abro um espaço para escrever sobre as injustiças que foram cometidas durante a carreira de Elvis. Entre elas temos uma série de canções que jamais tiveram o espaço merecido e foram, de uma forma ou outra, negligenciadas pelos produtores e pelo empresário de Elvis. A lista é enorme, porém se fôssemos eleger uma série candidata a mais injustiçada certamente teríamos I´m Leavin entre elas. Melodia das mais lindas entre todas as que Elvis Presley teve oportunidade de interpretar, foi severamente prejudicada pelas decisões equivocadas tomadas entre aqueles que comandavam os rumos fonográficos da carreira discográfica do Rei do Rock. Lançada sem quase nenhuma publicidade em junho de 1971 a canção foi injustamente ignorada na parada norte-americana, sem conseguir sequer ameaçar os líderes da lista de singles da Billboard, alcançando em seu melhor momento um fraco trigésimo terceiro lugar entre os mais vendidos. Uma lástima, sem dúvida. Pior aconteceu no Brasil onde ela sequer foi lançada, permanecendo inédita durante longos anos, não dando oportunidade ao consumidor nacional de sequer conhecer sua qualidade melódica extrema. Aliás os lançamentos de Elvis no Brasil durante os anos 70 eram mal direcionados, mal administrados e mal conduzidos. Para se ter uma pequena ideia do caos que reinava em nosso país basta apenas citar que apenas um compacto nacional inédito de Elvis foi lançado por aqui em 1971. Se isso era ruim o que dizer do fato de que nenhum de seus álbuns com canções inéditas foi lançado em solo pátrio em 1971? Os únicos LPs a chegarem nas lojas brasileiras foram Almost In Love e That´s The Way It Is, ambos com um ano de atraso!!! Realmente o colecionador da época era solenemente ignorado pelos executivos da RCA Brasil. Antes de me adentrar no take aqui presente nesse CD (o de número 3) quero fazer pequenas pinceladas sobre a versão oficial. A música possui uma levada única na carreira de Elvis. Começa suave, basicamente uma introdução vocal que evoca o lamento pela situação em que o autor se encontra. A letra, simples mas profundamente emocional, retrata a falência de um relacionamento, o ocaso de uma história de amor. Estaria Elvis se antecipando ao que iria acontecer com ele e Priscilla no ano que viria? Não sabemos e ir além disso seria mera especulação, porém a canção e sua letra nos remete exatamente a isso, Elvis realmente estaria cantando sobre um fato que lhe era também essencialmente pessoal: o iminente fim de seu casamento. O take 3 presente aqui nesse lançamento ainda traz um grupo e um cantor tentando achar a sonoridade ideal, o ritmo mais adequado e condizente com a versão que lhes foi passada. Elvis está ainda vacilante em certos pontos, tentando se encaixar totalmente na melodia. A despeito disso a versão é bem correta e está a poucos passos daquilo que conhecemos de sua versão oficial. Sem a menor sombra de dúvidas esse registro é um dos mais relevantes já lançados por essa coleção FTD.

LOVE ME, LOVE THE LIFE I LEAD (Macauley / Greenaway) - Esta música foi gravada em maio de 1971 em Nashville e arquivada pelo produtor Felton Jarvis por longos dois anos. Aliás ela foi a última canção gravada por Elvis nessas exaustivas sessões. De sua safra surgiram discos diversos da carreira de Elvis, entre eles o premiado "He Touched Me" (vencedor do Grammy), o popularesco "Elvis Now" (um de seus discos mais populares no Brasil durante os anos 70) e os equivocados "Elvis Sings the Wonderfull World Of Christmas" (tentativa mal sucedida da RCA de reviver seu clássico disco natalino dos anos 50) e "Elvis" (uma das maiores colchas de retalhos da carreira de Elvis Presley). No meio de tanta diversidade, para não dizer desorganização, essa canção ficou perdida em um limbo até encontrar um papel deveras coadjuvante nesse último LP citado. Afinal essa música possui algo que a destaque no meio de tantas outras que frequentavam o repertório de Elvis por essa época? Alguma característica que a remova do incômodo título de mera figurante, mero "tapa buraco"? No meio de tantos lançamentos a música só poderia ficar perdida mesmo, até porque quem prestaria atenção em seus méritos no meio de tal avalanche de lançamentos? Mas como não estamos mais nos anos 70 podemos analisar tudo com mais calma e ponderação certamente. Particularmente acho a canção em si lindíssima. Obviamente seu arranjo se coloca na média, com belo acompanhamento vocal, boa sonorização e um belo e discreto quarteto de cordas ao fundo. O que mais enobrece esse momento perdido de Elvis sem dúvida é a interpretação do próprio cantor. Vejam como Elvis vai, em poucos segundos, de uma vocalização sóbria e contida para uma explosão emocional logo nos primeiros segundos da canção. Ele facilmente passa de uma postura ressentida para passional ao extremo, seu vocal na versão oficial é simplesmente brilhante, uma verdadeira montanha russa de emoções e posturas conflitantes - não me admira que alguns o tenham como uma pessoa que sofria de transtorno bipolar!!! Maior exemplo de um artista trabalhando com material apenas razoável e o transformando em pequenos momentos de brilhantismo natural. Aqui nesse CD temos o take de número quatro de Love Me, Love The Life I Lead. Primeira constatação: a voz de Elvis e a parte instrumental de seu grupo estão bem mais nítidos e presentes nessa faixa. Fazendo uma analogia visual seria como se alguém tivesse tirado os músicos de dentro de uma caixa e os trazido para mais perto dos equipamentos de gravação. Na versão oficial temos um registro mais apagado pois certamente Felton ao fazer a mixagem com o arranjo orquestral ao fundo teve que contrabalancear os músicos de estúdio com o arranjo que foi gravado posteriormente e nesse processo o som da gravação de Elvis e grupo foi nitidamente ofuscado. Não chega a ser um problema mas tira um pouco do brilho da versão oficial. No aspecto puramente restrito à performance de Elvis notamos que ele ainda tenta encontrar o caminho correto dentro da faixa. Sua tão citada explosão emocional aqui é bem mais contida e menos robusta. Elvis ainda não havia se entregado completamente à interpretação e assim notamos que o "algo mais" ainda não está presente aqui nesse registro. De qualquer forma temos ao menos a gênesis de um pequeno grande momento de Elvis prestes a surgir. Sem dúvida um registro precioso desse CD.

PADRE
(LaRue / Webster / Romans) - A letra de Padre foi escrita por Paul Francis Webster, um famoso compositor que desde a década de 1930 já fazia canções para a grande estrela infantil da época: Shirley Temple. Embora isso o qualificasse como um compositor de estúdios, no auge do Star Sistem, ele aos poucos foi se aproximando de outras importantes vertentes da música daquela época, chegando a compor para nomes consagrados como Duke Ellington. Uma década depois ganharia dois prêmios Oscar por composições escritas especialmente para filmes de Hollywood, sendo duas delas conhecidissimas dos amantes da sétima arte: "Secret Love" que se tornou imortal na voz de Doris Day em 1953 e "Love is a Many-Splendored Thing" do grande clássico romântico "Suplício de uma saudade". Já a parte instrumental dessa música foi composta pelo famoso pianista clássico francês Jacques La Rue. Em vista de tudo isso chegamos facilmente à conclusão que "pedigree" não lhe faltava. A canção que havia se tornado sucesso em 1958 pelo jeito cativou realmente Elvis, tanto que era reconhecidamente uma de suas favoritas. Pode-se inclusive notar a extrema empolgação do cantor na versão oficial que saiu no LP Elvis de 1973, pegando o embalo dessa vez do sucesso da música em plenos anos 70 na voz de Marty Robbins. Embora a versão de Elvis tenha sido gravada no dia 15 de maio de 1971 em Nashville ela só ganhou mercado anos depois quando Jarvis reuniu uma série de canções arquivadas de Presley para compor o já citado álbum, que no fundo não passava de uma grande colcha de retalhos organizada pelo produtor do cantor. A versão que aqui ouvimos nesse CD I Sing All Kinds é a segunda tentativa de Elvis em gravar a música. Padre (take 2) é apenas um embrião do que viria a ser a versão oficial que todos conhecemos. Aqui a música está em um ritmo bem mais cadenciado. Elvis e seu grupo ainda estão um tanto quanto "amarrados", para não dizer tensos e pouco espontâneos. Elvis certamente ainda tenta seguir milimetricamente as notas o que torna a versão demasiadamente mecânica e pouco espontânea, duas características que certamente não existem na versão original cuja maior particularidade é a empolgação incontida e contagiante de sua interpretação.

SEEING IS BELIEVING (West / Spreen) - Sempre achei a versão oficial bem fraca, para dizer a mais pura verdade acho bem equivocado o tom escolhido por Elvis para cantar essa música gospel. Além disso o master escolhido por Jarvis sempre me pareceu gravado às pressas, sem muito rigor técnico. Agora que temos acesso a esse take alternativo desse CD podemos nos concentrar melhor sobre as eventuais falhas da gravação dessa canção. Assim chegamos em Seeing Is Believing (take 7). Interessante. Esse é o que sempre procurei em relação a essa música. Extremamente bem gravada, com o ritmo certo, acompanhamento mais do que correto e o vocal de Elvis que deixa a versão oficial a milhas de distância em termos de qualidade. Chego a me perguntar o que diabos se passava na cabeça de Felton Jarvis para escolher aquela versão fraquíssima do disco oficial? Esse é um dos grandes exemplos de um take alternativo que foi descartado pelo produtor de Elvis por causa de uma escolha bastante infeliz mas que é infinitamente superior ao que chegou ao mercado. E se esse foi um erro de seu produtor logo o cantor sofreria novamente por outro erro e outra decisão errada tomada, mas dessa vez por seu empresário Tom Parker. Foi durante as sessões de Nashville em 1971 que Presley sofreu a primeira baixa significativa em seu grupo de apoio. Essas foram as últimas gravações em que o grupo vocal The Imperials trabalhou ao lado do cantor. Como sempre acontecia na relação "Parker x músicos de Elvis" esses talentosos vocalistas estavam insatisfeitos com o que vinham recebendo do manager de Elvis. Assim como aconteceu com os músicos de Presley nos anos 50 eles também acabaram deixando o cantor por não serem atendidos em suas reivindicações salariais. Nesse aspecto Parker era intransigente e seu lema era simples: "Não estão satisfeitos com o que ganham? Podem ir embora então". E eles foram mesmo. Depois que deixaram o lugar vago, o grupo de JD Sumner assumiu o posto, sendo que anos depois Elvis resolveu ele mesmo formar um grupo vocal ao qual deu o nome de Voice.

A THING CALLED LOVE (Hubbard) - Jerry Reed Hubbard, autor dessa música, é um conhecido cantor veterano de música country nos EUA. Por lá ele desfrutava de grande prestígio desde os anos 60 e quando a versão de Elvis de sua música chegou nas lojas ele estava no auge de sua carreira musical. Para se ter uma idéia foi justamente em 1972 que Jerry venceu o Grammy de Best Male Country Vocal Performance. Jerry Reed era velho conhecido de Elvis. Desde o final dos anos 60 o caminho de ambos havia se cruzado. Em 1967 ele recebeu um telefonema de Felton Jarvis dizendo que Elvis estava muito interessado em gravar algumas de suas canções, entre elas as maravilhosas "Guitar Man," e "U.S. Male". Sem dúvida esse primeiro contato foi extremamente importante para Elvis e Jerry, justamente no momento em que Presley procurava material de qualidade para superar a fase de suas trilhas sonoras sem grande expressão. Mas essa bela parceria não terminaria por ai. Após gravar pela primeira vez "A Thing Called Love" Jerry cedeu os direitos para uma versão de grande sucesso na voz de ninguém menos do que o outsider Johnny Cash. Foi a partir desse momento que Elvis realmente percebeu que poderia gravar ele também mais uma bela versão para a música. Particularmente sempre achei "A Thing Called Love" uma das melhores coisas do álbum gospel He Touched Me e bem ao contrário de Seeing Is Believing sempre achei seu master muito bom, bem acima da média. A canção tem uma melodia relaxante e a vocalização, praticamente sussurrada por Presley e seu grupo vocal, é certamente um dos pontos altos do disco. Uma coisa logo chama atenção nessa música para os mais atentos. Elvis está mergulhado na vocalização ao lado de seu grupo. Ele procura sempre fazer parte do coro vocal e sua voz está no mesmo patamar dos cantores ao seu redor. Para quem sempre almejou fazer parte de um quarteto gospel vocal nada seria mais adequado. Elvis conscientemente e propositalmente se coloca como apenas mais uma voz de apoio. Sempre achei essa característica fascinante nesse registro. O take 1 que encontramos nesse cd nos chama atenção por algumas peculiaridades. A primeira é notar que Elvis já sabia muito bem desde o começo o que procurava fazer nessa gravação. Dessa forma não há nenhuma mudança mais visível entre as duas performances que conhecemos. Elvis está obviamente no controle da situação e podemos sentir nitidamente sua grande satisfação em, afinal de contas, ser apenas mais um dos rapazes de um belo quarteto gospel. Finalmente o velho sonho de infância do astro ganhava ares de realidade, para felicidade de todos os envolvidos.

PUT YOUR HAND IN THE HAND (Gene McLellan) - Quem disse que country canadense não existe ou não tem valor? Pois é, apesar dessa ser uma mistura mais do que implausível, aqui temos Elvis cantando mais uma música que foi grande sucesso na voz da cantora canadense Anne Murray. Ao lado de seu parceiro Gene MacLellan na Capitol Records ela conseguiu fazer uma carreira de sucesso, principalmente durante os anos 70 onde emplacou vários hits, entre eles a nossa tão conhecida "Snowbird", que também havia sido sucesso em sua voz após ser escrita pelo ótimo MacLellan. Apesar de terem legado duas excelentes canções que posteriormente foram gravados por Elvis em estúdio, a dupla chegou ao final após o trágico suicídio de Gene. Não importa, felizmente Elvis teve a chance de produzir esses dois belos registros em sua voz. O cantor entrou decidido a registrar essa canção, que afinal era uma de suas preferidas, e chegou na versão oficial no dia 08 de junho de 1971, nos Estúdios B, da RCA, em Nashville. Esta sessão tem um aspecto histórico que poucos se lembram ou então passam despercebidos quando a analisam: ela foi a última de Elvis Presley em Nashville, a capital mundial da música country. Sem dúvida nesta cidade Elvis gravou algumas das músicas mais populares do século XX. Desde seu primeiro grande sucesso nacional e mundial, passando por muitos de seus mais lembrados e famosos discos, Elvis estava dizendo adeus a cidade onde produziu algumas de suas verdadeiras obras primas. A partir desse momento, Elvis, envolvido em muitos problemas de ordem pessoal e profissional, iria preferir não fazer mais essas viagens a Nashville e iria ficar gravando seus últimos LPs somente em Memphis, seja em estúdios localizados na cidade (como o Stax) ou então em sua própria casa, Graceland. A mais pura verdade era que Elvis não tinha mais paciência para viagens após tantos deslocamentos para a realização de suas turnês e temporadas em Las Vegas. Agora voltando para a análise da gravação do master original de "Put Your Hand in The Hand" logo percebemos que ela não é tecnicamente perfeita, apenas ficando na média. De qualquer forma não deixa de ser um belo momento, apesar de achar que Elvis deveria se envolver um pouco mais. Outro destaque da gravação são os solos de Burton em momentos distintos da faixa (aliás um solo encerra a canção, um fato até mesmo raro na discografia oficial de Elvis). O take um não apresenta maiores novidades. Elvis está mais pontuado na dicção das frases, seguindo mais milimetricamente a ordem da letra original, mas é só. Ganha em tecnicismo porém perde ainda mais em emoção, pois Elvis está visivelmente apenas lendo a letra, sem maiores envolvimentos novamente. Como é apenas uma primeira tentativa Elvis fica mais à vontade no final do registro, que ainda não conta com o característico solo final de Burton da versão oficial que tanto conhecemos. Infelizmente essa é a última música relevante do ponto de vista artístico do CD. A partir desse ponto a qualidade cai assustadoramente. Um exemplo é a faixa que vem logo depois,

JOHNNY B. GOOD (Chuck Berry), uma versão sem nenhum interesse e que só serve para demonstrar como Elvis estava drogado nessa ocasião. Isso é facilmente percebido ao ouvir Elvis totalmente "alto", sem concentração, sem conseguir conectar nenhum nexo em suas ideias em um humor tipicamente artificial e fazendo com que todos os presentes ficassem embaraçados com seu estado mental. Totalmente desnecessário a inclusão desse momento constrangedor no CD. Logo após esse verdadeiro desastre entramos no material natalino. Só posso lamentar ao ouvir essas faixas. Isso é o mais próximo que Elvis chegou nos anos 70 de voltar ao esquema das trilhas sonoras dos anos 60. A analogia é fácil de entender. Aqui temos novamente Elvis sendo levado a gravar, sem a menor vontade, um material totalmente imposto por Parker e RCA. Faixas artificiais feitas com único propósito mercantilista, sem nenhuma preocupação com qualidade ou valor musical. Um material anacrônico, fora de moda, totalmente contrário ao que Elvis vinha tentando mostrar desde seu retorno aos palcos em 1969 e aos belos trabalhos de estúdio que vinha apresentando. O material natalino de 1971 é, e desculpem a minha sinceridade, destituído de qualquer importância musical. Quando chegamos no final do CD temos a sensação de que caímos dentro de mais um daqueles projetos horríveis que Elvis se envolveu na década de 60. São cinco faixas que jogam a qualidade do CD lá para baixo. Se as sessões de 1971 são tão criticadas a razão não é muito complicada de se entender. Essas canções são fraquíssimas, mal gravadas, com Elvis em total controle remoto, desinteressado, rezando para as sessões terminarem logo. Aqui Elvis e banda fracassaram duplamente: primeira artisticamente pois a qualidade desse material natalino é nulo e depois comercialmente pois o disco foi um tremendo, um grande fracasso de vendas, totalmente ignorado pelo público na ocasião de seu lançamento. Um desastre completo.

I´LL BE HOME ON CHRISTMAS DAY (Jarret) é a primeira delas. Ela é um prelúdio até adequado do que seria esse disco de natal de Elvis dos anos 70. Nem há muito o que comentar. A canção é assumidamente tediosa, bocejante e Elvis está desabando de tanto tédio. Na parte final da faixa Elvis erra pavorosamente o arranjo, perdendo o tempo certo da música. Mortificante e aborrecida, para dizer o mínimo, com Elvis tentando disfarçar a falta de envolvimento com malabarismos vocais primários que certamente não irão convencer ou impressionar os ouvintes mais atentos e criteriosos. Em resumo a música é apenas muito chata e enfadonha. O pior vem depois.

HOLLY LEAVES AND CHRISTMAS TREES (West / Spreen) Existe arranjo mais ultrapassado (até mesmo para a época) do que esse escrito para música? Duvido muito. Esses sininhos extremamente bregas e ridículos já estavam fora de moda desde a década de 1940. Que coisa mais fora de propósito. Totalmente embaraçoso, Elvis Presley, após tudo o que passou para ressuscitar sua carreira após 1968 ter que ficar cantando em cima de sininhos de natal. Simplesmente decepcionante e completamente embaraçoso, sem dúvida tudo muito, mas muito, embaraçoso. De fazer corar. Tudo bem que Elvis a gravou como um favor a seu amigo de longa data Red West, mas ele poderia ter muito bem passado sem esse vexame. Vou resumir esse arranjo e essa música com uma palavra simples: patético.

O pouco humor e paciência que você conseguiu reunir para ouvir essas últimas faixas começam a sumir quando as primeiras notas de IF I GET HOME ON CHRISTMAS DAY (Macaulay) começam a soar. Além de ser outra bobagem, que Elvis tenta cantar até o fim de forma profissional, somos levados a ouvir uma rara desafinada do cantor lá no começo da terça parte da canção. Simplesmente horrível. Sério, ao ouvir esse tipo de coisa só posso mesmo me sentir solidário com Elvis. Ficar preso a um material medíocre desses e ainda ter que se envolver com material tão obtuso não deve ter sido fácil para ele. Simplesmente pavoroso. Mas o espanto vem depois, se você é daquelas pessoas que achavam que tudo não poderia piorar vai certamente se surpreender com o que vem depois. Se sininhos já eram ridículos o que achar de uma introdução de caixinha de música? Seria engraçado se não fosse trágico.

IT WONT SEEM LIKE CHRISTMAS (Balthrop) é a pá de cal que faltava para enterrar todo o material ridículo de natal. Que lástima, logo Elvis que havia feito um belo álbum natalino nos anos 50 (Elvis Christmas Album) se afundar num pântano de canções ruins como essa de novo? Elvis lamentou e até mesmo se indispôs com a ideia de Parker e RCA de voltar a gravar músicas de natal mas infelizmente ele perdeu essa parada e... não há o que dizer, afundou mais uma vez em um álbum medíocre.

A última música do CD é uma outra versão de I´LL BE HOME ON CHRISTMAS DAY. Nada a acrescentar. Sendo bem sincero essa parte final desse, que em seu conjunto ainda consegue ser um bom CD do selo FTD, é completamente melancólica e desanimadora. Na minha forma de ver as coisas Ernst deveria ter feito um título exclusivo apenas com essas canções natalinas, assim seria mais fácil ignorar todo o CD ou então tentar descobrir algo de interessante no conjunto da obra, até mesmo porque existem pelo menos dois registros que ainda conseguem prender, mesmo de forma precária, nossa atenção. No álbum oficial "The Wonderfull World of Christmas" pelo menos ainda existe uma canção razoável com vocalização inspirada (O Come, All Ye Faithful) e um excelente blues de Chuck Berry (Merry Christmas Baby). Infelizmente aqui Ernst parece que selecionou apenas as piores para fazer parte do CD. Do jeito que está essa seleção aqui no I Sing All Kinds não há mais salvação. Ponto final. E com essas palavras encerro meu último texto inédito de 2007 e que venha agora 2008, ano que estaremos comemorando nove anos on line! Para celebrar tão importante data iremos trazer ainda mais material inédito e de nossa própria autoria. No mais quero agradecer todos os nossos leitores, que acompanharam nosso trabalho durante esse ano que chega ao fim e desejar um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Até 2008 e Viva Elvis!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Christmas Album (1970)

Muitos fãs de Elvis pensam que esse LP na verdade é apenas uma reedição do clássico "Elvis Christmas Album" de 1957. Ledo engano. Tecnicamente esse disco é na realidade um outro disco, com seleção musical própria e inclusive uma outra capa, muito bem feita por sinal. Elvis Christmas Album 1970 é apenas outro lançamento de um ano completamente produtivo de LPs na carreira de Elvis. Em 1970 foram lançados mais títulos de Elvis Presley nas lojas do que em qualquer outro ano anterior de sua carreira. Se fizermos um pequeno levantamento veremos que havia pelo menos um novo disco de Elvis a cada mês nas lojas. Com tantos LPs sendo lançados ao mesmo tempo a gravadora resolveu inovar. Utilizando de seu selo promocional RCA Camdem, a empresa lançou o Elvis Christmas Album para venda em locais nem sempre utilizados pela indústria fonográfica tais como supermercados, lojas de conveniência, postos de gasolina e até mesmo em bancas de revistas. Assim o Elvis Christmas Album, em preço bem baratinho, podia ser encontrado em vários locais de vendas, bem fora do circuito tradicional, e logo ali, bem a disposição do consumidor norte-americano (infelizmente esse LP tal como muitos outros na discografia de Elvis Presley não foi lançado na época no Brasil).

Isso acabou ocasionando uma coisa interessante. Embora tenha vendido muito o disco não obteve classificação nas principais paradas, isso porque elas só contavam as cópias vendidas nas tradicionais lojas do ramo. Também por causa desse desencontro não se sabe quantas cópias exatamente o disco vendeu, havendo uma grande confusão, ocasionada não só por esses pontos alternativos de vendas mas também pelo próprio fato de que como o LP tinha o mesmo nome do clássico álbum de 1957 muitos de seus números acabaram sendo contabilizados no disco original, causando ainda mais desencontro de informações. De qualquer forma tudo isso é apenas uma questão técnica que só interessou mesmo aos executivos da indústria fonográfica. O fato que não se pode ignorar porém é que seu sucesso acabou levando esses mesmos executivos a exercerem pressão sobre Elvis no ano seguinte para que ele gravasse novo material natalino (algo que ele não queria fazer mas que acabou fazendo, mesmo contra sua própria vontade).

Em termos de seleção musical o Elvis Christmas Album 1970 traz algumas peculiaridades. Ao lado do antigo material do álbum natalino clássico dos anos 50 a gravadora encaixou o single natalino "If Everyday Was Like Christmas" (ótima gravação de Elvis em 1966 que foi desperdiçada em um compacto sem quase nenhuma promoção na década anterior) e "Mama Liked The Roses" (das sessões de janeiro de 1969 no American, uma bela canção que não havia ainda encontrado um lugar de destaque dentro da discografia americana do cantor). Para finalizar e dar uma identidade própria ao disco a gravadora também retirou todo o material gospel que também fazia parte daquele disco natalino original (e que basicamente era formada pelas canções do EP Peace In The ValleY). Como foi um disco bem sucedido comercialmente o "Elvis Christmas Album 1970" ganhou diversas reedições ao longo dos anos, sendo relançado em 1975 e ganhando suas versões digitais em 1987, 1996 e 1999. Em alguns países ele também ganhou novas capas (algumas horrendas) deixando, de uma forma ou outra, sua marca registrada na extensa discografia do cantor.

Elvis Christmas Album (1970)
01. Blue Christmas
02. Silent Night
03. White Christmas
04. Santa Claus is Back in Town
05. Ill Be Home For Christmas
06. If Everyday Was Like Christmas
07. Here Comes Santa Claus
08. Oh Little Town of Bethlehem
09. Santa Bring My Baby Back (To Me)
10. Mama Liked The Roses

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - One Night Only!

Depois de se instalar confortavelmente em Las Vegas e conquistar seu espaço, Elvis caiu na estrada. Suas primeiras apresentações fora de Las Vegas foram realizadas em fevereiro e março de 1970 na cidade de Houston. Embora seus seis shows nessa cidade tenham sido um enorme êxito de público e crítica, Elvis ainda demoraria um pouco para se firmar nas turnês que viriam a seguir. Havia uma grande série de problemas a se resolver antes de abraçar completamente a ideia de voltar de vez a estrada, como nos anos 50. Aos poucos porém Elvis foi se firmando, assumindo turnês mais extensas e produtivas. Com o sucesso alcançado em 1970 todos pensavam que Elvis iria arrasar de vez nesse aspecto no ano posterior, mas não foi bem isso que aconteceu. 

Em 1971 Elvis quase não saiu de sua rotina de shows em Las Vegas. Realizou duas temporadas nessa cidade e depois seguiu rumo a Lake Tahoe para realizar uma curta temporada no mesmo estilo de Vegas. Para quem aguardava com ansiedade uma grande turnê nacional (e quem sabe até internacional) essa agenda de shows foi um grande balde de água fria. Já quase no final do ano o Coronel arranjou para Elvis uma série de concertos na costa leste, notadamente pelo Sul e norte do país. Entre os dias 5 a 16 de novembro Elvis cumpriria uma apertada agenda de shows, visitando cidades como Minneapolis, Cleveland, Philadelphia, Baltimore, Houston, Dallas e Boston. Foi justamente nessa última cidade que Elvis realizou a apresentação que seria lançada depois no CD da Madison intitulado One Night Only! Na verdade esse material já era bem conhecido dos fãs, principalmente quando chegou ao mercado dos bootlegs sob o título de The Power Of Shazam! A novidade era que a Madison prometia sensível melhora nos registros, tentando elevar, quando possível, a qualidade sonora da gravação. Embora muitos especialistas concordem que 1971 foi um ano bastante abaixo da média por parte de Elvis (principalmente por causa das criticadas temporadas de Vegas), nesse concerto podemos notar nitidamente que nem tudo o que Elvis realizou foi opaco nesse ano. Diante de um público estimado em 15 mil pessoas Elvis procurou dar o melhor de si e não deixou o tédio se instalar no palco.

O concerto em Boston é uma grata surpresa. Elvis aparece focado, cantando bem e se apresentando profissionalmente. Certamente o fato de ter realizado apenas uma única turnê em 71, com apenas 14 shows, obviamente foi um ponto a favor. O cansaço e a fadiga em nenhum momento se mostram presentes. Até mesmo em músicas que iriam virar piada no palco nos anos seguintes, como Love Me Tender, receberam tratamento digno por parte do cantor aqui. Em termos de performance temos um Elvis acima da média, nada de muito grandioso ou fenomenal, mas bem melhor que suas fracas apresentações que realizou em Vegas por essa época. Além do fato de ter tido uma agenda de shows bem mais humana outro fato deve ter contribuído para essa boa apresentação de Elvis. Mudanças em seu grupo vocal fizeram com que um grupo de que gostava muito, J.D Sumner & The Stamps, pela primeira vez se apresentasse ao seu lado. Certamente diante de vocalistas tão talentosos Elvis não queria fazer feio. E não fez. Ao ouvir o show o ouvinte nitidamente nota o empenho de Elvis em apresentar belas versões de Funny How Time Slips Away (uma canção sempre agradável de se ouvir), You've Lost that Lovin' Feeling (com um trocadilho para o público) e principalmente I’m Leavin’ (seu novo single nas lojas). Essa última canção realmente é o ponto alto do show. Como o vocal está em destaque na gravação podemos notar todas as nuances do trabalho de Elvis. Embora comece a cantar com uma sensível insegurança na letra (a música era uma grande novidade ao vivo para ele), Elvis rapidamente assume o controle e nos presenteia com um ótimo momento. Uma pena que Elvis tenha aos poucos deixado de divulgar suas novas gravações nos shows que viriam, algo que faz de forma fantástica aqui. Aproveitando o embalo de I´m Leavin ainda encaixa na sequência uma belíssima versão de Bridge Over Troubled Water (com direito até a uma reprise inspirada). Essa música, símbolo do filme documentário que realizou no ano anterior, eleva consideravelmente o nível de qualidade do CD.

Tecnicamente Bridge não é impecável (poucas versões ao vivo o são) mas o sentimento está lá, não há como negar. Por fim outro momento digno de nota é a boa apresentação de Suspicious Minds, anos antes de se tornar rotineira e cansativa. Em termos de energia o grande momento do show vem com Proud Mary, que iria se tornar marca registrada em seus futuros shows no Madison Square Garden. A canção está tão frenética que Elvis até mesmo perde um pouco a respiração. Muito provavelmente estava estraçalhando no palco, embora as imagens não tenham chegado até nós. Um aspecto negativo do CD é a versão de How Great Thou Art, que aqui aparece de forma incompleta. Como todos sabemos essa iria ganhar em grandiosidade pelos anos que viriam o que levaria Elvis finalmente a ganhar o Grammy por sua interpretação no álbum ao vivo de Memphis três anos depois. Com o registro incompleto perdemos uma boa oportunidade de conhecer uma das primeiras versões de Elvis para o gospel ao vivo e assim analisar todas as mudanças pelas quais a canção passaria. Enfim, One Night Only é um CD essencial para compreender que em 1971 Elvis realizou bons shows e concertos, embora grande parte do material que tenha nos chegado deixe a impressão do contrário. Talvez a genialidade apresentada em 1969 e principalmente 1970 tenha ofuscado 1971, deixando a impressão que foi um ano sem grandes novidades, com temporadas medíocres em Las Vegas e gravações rotineiras e sem brilho. Mas não é bem por aí. O talento estava lá, apenas não na intensidade dos anos anteriores. Para compreender melhor essa fase nada mais conveniente do que ouvir atentamente One Night Only, que captou mais um concerto impecável de Elvis nos palcos de Boston, mesmo que tudo tenha acontecido em apenas uma noite.

Elvis Presley - One Night Only!
- Selo: Madison - Músicas: Also Sprach Zarathustra That's All Right - I Got A Woman / Amen - Proud Mary - You Don't Have To Say You Love Me - You've Lost That Lovin' Feelin' - Polk Salad Annie - Elvis Walks (‘Coming Home, baby’ instrumental) - Love Me - Heartbreak Hotel - Blue Suede Shoes - One Night - Hound Dog - How Great Thou Art (incomplete) - Introductions - I'm Leavin' - Bridge Over Troubled Water (& reprise) - I Can't Stop Loving You - Love Me Tender - Suspicious Minds - Elvis Talks (instrumental) - Funny How Time Slips Away - Can't Help Falling In Love - Closing Vamp - Data de gravação: 10 de novembro de 1971, Boston, 8:30 da noite.

Pablo Aluisio.