domingo, 28 de abril de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 6

Eu não colocaria "Stranger in the Crowd" entre as melhores músicas desse disco, mas ela tem sim seus méritos. Se "Just Pretend" e "Bridge Over Troubled Water" são músicas embasadas nos arranjos de piano, aqui o que se destaca mesmo é o pleno domínio dos arranjos de cordas e de instrumentos percussivos. A mais acústica música do disco não chega ao ponto de ser um dos destaques da trilha, sendo considerada apenas um complemento ao conjunto. Apesar disso, de ser uma mera coadjuvante, não podemos deixar de colocar em destaque seus méritos como a vocalização inspirada de Elvis e o belo solo de guitarra de James Burton, bem diferente do que ele costumava fazer em estúdio. 

Winfield Scott, autor dessa música, compôs várias canções dos filmes de Elvis nos anos 60. Ele esteve muito presente nessa fase e foi dele a descoberta de uma das maiores surpresas em termos de gravações perdidas de Elvis. Quase que por acaso ele acabou descobrindo o tape inédito de "I'm Roustabout", canção que havia sido originalmente composta para ser o tema principal do filme "Roustabout" (O carrossel de emoções, 1964). Assim que soube o que tinha em mãos entrou em contato com Ernst Jorgensen que não perdeu tempo em anunciar para o mundo que pela primeira vez em muitos anos havia sido descoberta uma nova música na voz de Elvis, até então totalmente inédita. A descoberta acabou sendo definida por Joe Di Muro, executivo da RCA / BMG, como a "mais inacreditável da música moderna"!

"The Next Step Is Love" vem logo a seguir. Quando Elvis resolveu retomar o rumo de sua carreira e deixar Hollywood para trás ele procurou encontrar inspiração e renovação em um novo grupo de compositores. Paul Evans, cantor, compositor e famoso produtor certamente se encaixava nesse novo perfil que Elvis tanto procurava. Antes de compor "The Next Step is Love", Evans já era muito conhecido nos EUA por causa de suas músicas românticas, doces e ternas, que fizeram muito sucesso principalmente na primeira metade dos anos 60 como, por exemplo, "Too Make You Feel My Love", "When" e principalmente "Roses are Red (My Love)", seu grande sucesso que chegou ao primeiro lugar nas paradas. Além disso ainda escreveu novas versões para o clássico sacro "Amazing Grace". Compositor de grande talento, foi ainda gravado por Pat Boone, La Vern Baker e Bobby Vinton. Pena que não tenha tido uma parceria de maior duração ao lado de Elvis, pois na visão estreita de Tom Parker ele ainda era considerado um compositor muito "caro"!!! De qualquer maneira a música acabou sendo lançada como Lado B do Single "I've Lost You". No filme Elvis aparece ouvindo e dando sua aprovação final ao resultado da gravação desta canção. É uma bela música sem dúvida, porém perde em comparação com alguns clássicos presentes neste disco. Poderíamos dizer que é um belo complemento ao disco, mas sem jamais ser protagonista dentro da seleção de boas melodias desse trabalho de Elvis. 

A letra da canção exalta principalmente a paixão, os primeiros momentos em que cada um se descobre apaixonado pelo outro. Há uma clara intenção de, em forma poética, tentar capturar esse momento. Até mesmo aspectos bobos ganham relevância, como caminhar descalços pelos campos, rindo debaixo da chuva. Particularmente penso que essa gravação teria ficado bem melhor se tivesse sido feita com a antiga banda de Elvis, principalmente com aquela formação da primeira metade da década de 1960. Essa música tem uma singeleza que combinaria bem com aquele período histórico da carreira do cantor. Além disso se ele tivesse optado por aquela linha vocal mais terna, que tanto caracterizou suas canções naquela época, o resultado teria sido bem bonito. Já em Nashville, com todas aquelas canções para se gravar, onde o tempo era mais do que precioso, houve uma certa pressa em finalizar a faixa. Com isso a melodia não foi tão valorizada. Some-se a isso o fato da TCB Band ser um grupo com características de palco, o que deu a esse registro um certo sabor de música gravada ao vivo. Mas enfim, mesmo sendo feitas essas observações é importante ressaltar a boa qualidade da música como um todo. Nunca chegou a ser um hit ou um standart na discografia de Elvis, porém como coadjuvante nesse ótimo álbum "That´s The Way It Is" está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de abril de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 6

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. 

Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Último Ato

Título no Brasil: Último Ato
Título Original: Manhunt
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: Apple Studios
Direção: Eva Sørhaug, John Dahl
Roteiro: Monica Beletsky, Tim Brittain
Elenco: Tobias Menzies, Anthony Boyle, Hamish Linklater, Glenn Morshower, Matt Walsh, Damian O'Hare

Sinopse:
O ator John Wilkes Booth decide matar o presidente Abraham Lincoln em um teatro na capital americana. Bem sucedido em seu objetivo homicida, ele consegue fugir a cavalo. Caberá então ao secretário de guerra Edwin Stanton caçar o assassino, em meio a muitas mudanças em Washington e o no meio do luto da morte de um dos mais importantes presidentes da história dos Estados Unidos. 

Comentários:
Essa minissérie foi certamente a melhor coisa que assisti nessas últimas semanas. Excelente em todos os aspectos. Ótimo elenco, roteiro bem desenvolvido, fiel aos fatos históricos, ótima reconstituição de época, direção de arte primorosa e direção afinada. Não há nada melhor para se ver atualmente em termos de streaming. E a história é muito bem focada, mostrando todos os detalhes que cercaram esse crime histórico. A minissérie parte do assassinato do presidente Abraham Lincoln. A partir daí começa uma verdadeira caçada em busca de seu assassino, um ator vaidoso e fora da realidade chamado John Wilkes Booth. Racista e fanático, ele não aceitava a derrota do Sul confederado na Guerra Civil. Ele acreditava que após matar Lincoln ele iria ser recebido em Richmond como um herói da causa confederada. O problema é que após a guerra civil a cidade estava destruída e ocupada pelas tropas da União! E ele, ferido, sem conseguir andar direito, acabou sendo caçado em sua fuga. É realmente de impressionar a facilidade que ele teve de matar o presidente dos Estados Unidos. Não havia nenhum segurança guardando o camarote de Lincoln no teatro onde ele foi morto a tiros. Enfim, essa é apenas uma das inúmeras curiosidades que cercam essa história. Não deixe de assistir, principalmente se você gosta de séries historicamente precisas e bem produzidas. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

True Detective: Night Country

Título no Brasil: True Detective
Título Original: True Detective: Night Country
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: HBO
Direção: Issa López
Roteiro: Issa López
Elenco: Jodie Foster, Kali Reis, Fiona Shaw, Finn Bennett, Isabella Star LaBlanc, Christopher Eccleston 

Sinopse:
Quarta temporada da série "True Detective". Um grupo de pesquisadores e cientistas que trabalham numa base avançada e isolada no Alaska, próximo do Círculo Polar Ártico, é encontrada morta, no meio da escuridão e do frio congelante. Uma policial tenta desvendar o crime, mas encontra em seu caminho pistas que levam a lugar nenhum. O que teria acontecido com todos aqueles homens da ciência?

Comentários:
Essa nova temporada recebeu uma chuva torrencial de críticas negativas. Eu não as condeno. Realmente prometeu muito mais do que entregou. Veja, até que o desenrolar dos episódios mantém um bom nível de qualidade. A simples presença da Jodie Foster já é um grande atrativo para acompanhar os seis episódios. Quem é cinéfilo e gosta de cinema, gosta da Foster, não tem jeito. E ela está bem, atuando bem. Assim a temporada até que se desenvolve bem, mas há problemas. E o final? Aqui está o maior problema. Durante todo os episódios há insinuações de algo vive ali naquelas terras geladas próximas ao Ártico. Seria uma força da natureza sobrenatural que agora estaria atacando os que entrassem em seus domínios. Tudo bem, isso era interessante, mas apesar de tudo isso o que se encontra no final é um crime, simplesmente um crime, cometido por pessoas de carne e osso. E nem é um crime daqueles que se pode acreditar pois achei tudo muito forçado. É o que se chama de "roteirada". Enfim, esse é o maior problema, a decepção quando se chega no desfecho de tudo. Fica aquela sensação de que muito tempo foi perdido por absolutamente nada. A montanha pariu um rato! 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

O Último Chefão

Título no Brasil: O Último Chefão
Título Original: The Last Don
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Konigsberg / Sanitsky Company
Direção: Graeme Clifford
Roteiro: Joyce Eliason
Elenco: Danny Aiello, Kirstie Alley, Joe Mantegna, Daryl Hannah, Burt Young, Penelope Ann Miller

Sinopse:
O filme conta a história do mafioso Don Domenico Clericuzio (Danny Aiello). Ele começa seu império do mundo do crime nas ruas mais pobres e violentas de New Jersey e Nova Iorque. Conforme sua quadrilha ganha poder e dinheiro ele decide algo ousado, dominar o crime organizado na costa oeste dos Estados Unidos, criando um braço de seu grupo em Las Vegas e Los Angeles, tentando ganhar dinheiro sujo em Hollywood. 

Comentários:
Esse filme foi adaptado de outro livro escrito pelo consagrado Mario Puzo. Para quem não lembra ele criou a saga de "O Poderoso Chefão". O curioso é que o estúdio comprou os direitos do livro por mais de 2 milhões de dólares e depois, quando todos esperavam por um longa para o cinema, os produtores decidiram fazer um telefilme, para ser exibido na TV. Ninguém entendeu direito essa decisão. De qualquer forma o filme acabou sendo lançado em nosso país no mercado de vídeo, através do selo Playarte. Apesar de ser um telefilme, é uma bonita produção, com excelente trilha sonora. O Puzo quis com seu personagem Don Domenico Clericuzio reunir elementos de vários mafiosos da vida real em apenas um protagonista. Até que ficou interessante, mas é a tal coisa, se formos comparar com "O Poderoso Chefão" a coisa fica complicada. Parece que depois do enorme sucesso do livro anterior, ele tentou repetir o mesmo êxito comercial nas livrarias e no cinema, mas acabou se limitando, se repetindo, copiando a si mesmo, atrás do sucesso fácil. Não ficou tão bom e nem muito menos inspirado. Enfim, temos uma história até OK, mas nada memorável. 

Pablo Aluísio.

Os Amores De Picasso

Título no Brasil: Os Amores De Picasso
Título Original: Surviving Picasso
Ano de Produção: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: James Ivory
Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala
Elenco: Anthony Hopkins, Tom Fisher, Andreas Wisniewski, Julianne Moore

Sinopse:
Cinebiografia de parte da vida do famoso pintor Pablo Picasso, aqui interpretado pelo ator Anthony Hopkins. O enredo se desenrola a partir das lembranças de Francoise Gilot (Natasha McElhone), que foi amante do artista por mais de dez anos. Foi um caso dos mais ousados pois Picasso era 40 anos mais velho do que ela. Mesmo assim se apaixonaram e viveram um inesperado caso de amor. 

Comentários:
Um filme que agradou a poucos. Na época de seu lançamento a família de Pablo Picasso tentou impedir, inclusive legalmente, a chegada da película nas telas. Não conseguiu. Não é para tanto, embora muito humano o artista que vemos passar na tela não é em nenhum momento desrespeitoso com sua biografia, digamos, oficial e chapa branca. Com uso de inúmeros flashbacks ficamos conhecendo detalhes da vida pessoal do pintor, inclusive seu turbulento relacionamento com sua esposa, Olga (Jane Lapotaire). O Picasso de Anthony Hopkins é explosivo, apaixonado, caliente mas também infiel e traidor da confiança daqueles que mais o amam. Uma personalidade complexa que o roteiro apenas em parte consegue captar. No final das contas é um filme mediano que não consegue ficar à altura do gênio que tenta retratar. Anthony Hopkins é um grande ator mas alguns papéis definitivamente não lhe caíram bem. É o caso de Pablo Picasso. Escalar um ator tipicamente britânico para fazer um espanhol é uma temeridade, ainda mais quando literalmente o "pintam" para dar a tonalidade da cor natural do pintor. Depois de uma escalação e maquiagem tão ruins como essas fico pensando em como um ator consegue sobreviver a um papel desses? A única coisa que se salva é a beleza de Julianne Moore que ajuda a passar o tempo do filme de forma menos penosa.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2024

A Lei do Bravo

Título no Brasil: A Lei do Bravo
Título Original: White Feather
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Robert D. Webb
Roteiro: Delmer Daves, Leo Townsend
Elenco: Robert Wagner, Jeffrey Hunter, John Lund

Sinopse:
Uma tropa da cavalaria americana viaja até o distante território do Wyoming durante a década de 1870 para pacificar a região, celebrando tratados de paz e cooperação com os principais chefes nativos daquelas terras. Tudo corre relativamente bem até que questões de sucessão entre os índios Cheyennes colocam em perigo a paz e a prosperidade entre os dois povos.

Comentários:
"A Lei do Bravo" anda injustamente esquecido, mas não se engane, se trata de um western realmente acima da média. O título original que pode ser traduzido como "Pena da Paz" já dá uma ideia do que está por vir. O roteiro trabalha na complicada questão indígena que foi durante muitos anos um problema e tanto para o governo americano. Sempre em busca de paz, evitando assim novos conflitos, muitas tropas da cavalaria foram enviadas para regiões distantes, com o objetivo de costurar a paz com os líderes nativos. Isso nem sempre era fácil, seja por causa dos próprios índios, seja por falta de comprometimento do próprio homem branco, que muitas vezes rasgava os pactos assinados, ignorando completamente o que havia sido prometido aos caciques e chefes tribais. No meio de tudo ficava a velha questão do choque de civilizações entre os americanos brancos empenhados em colonizar o velho oeste e os nativos peles vermelhas que tradicionalmente ocupavam suas terras. Em termos de produção nada a criticar, pois tudo surge de forma muito bem realizada e caprichada. Idem para o elenco formado por dois galãs famosos da época, Robert Wagner e Jeffrey Hunter, que funcionam como um belo bônus para o público feminino. Muitos vão sentir talvez a falta de um pouco mais de ação e combates, mas isso é um erro, pois a moral de toda a história contada é apenas uma: apenas a paz pode gerar bons frutos entre povos inimigos.

Pablo Aluísio.

Comanche

Título no Brasil: Comanche
Título Original: Comanche
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: George Sherman
Roteiro: Carl Krueger
Elenco: Dana Andrews, Kent Smith, Nestor Paiva

Sinopse:
Na fronteira mais distante e inóspita do velho oeste do século XIX, um grupo de soldados americanos enviados por Washington precisa costurar um acordo de paz com a nação Comanche para evitar que ocorra um novo banho de sangue entre tropas da cavalaria e guerreiros nativos, que já se encontram com suas tradicionais pinturas de guerra. O acordo, como logo se mostra desde o começo, não será dos mais fáceis de conseguir.

Comentários:
"Comanche" mostra as dificuldades que existiam entre o governo americano, destemido em alargar as fronteiras do país rumo ao oeste selvagem e a natural resistência que nascia contra essa política de tribos nativas, entre elas a dos Comanches, que ficaram conhecidos na história como uma das nações mais guerreiras e bravas daquele período. Como se trata de um típico faroeste dos anos 50, já sabemos de antemão que tudo foi realmente produzido de forma muito romanceada, com claros objetivos de transformar os soldados americanos da cavalaria em heróis e os índios em impiedosos vilões. No meio de um clima de guerra há até espaço para namoricos e romances (até porque se não fosse assim as atrizes não teriam razão nenhuma de participar do filme). É uma visão que no fundo retrata a mentalidade da época. Colocando isso de lado sobra ao espectador muita diversão ao velho estilo bangue-bangue do cinema americano. Há várias cenas tradicionais de combate entre soldados e índios, algo que fará a alegria dos nostálgicos. Como diferencial o diretor George Sherman resolveu ele mesmo e sua equipe atravessar a fronteira filmando tudo no México, perto da cidade de Durango. Isso trouxe algo de novo ao filme em si, pois aquela terra deserta como o inferno, se torna um componente importante na condução do enredo. No saldo final temos um western muito interessante e divertido, acima de tudo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Sayonara

Sayonara
Major da Força Aérea Americana (Marlon Brando) se apaixona por jovem japonesa e tem que enfrentar a dura disciplina militar que explicitamente proíbe tal relacionamento durante a estadia de militares americanos no Japão. Basta ler a sinopse para entender porque o ator Marlon Brando se interessou pelo papel. Sempre envolvido em causas sociais (principalmente as que envolviam preconceito racial) Brando achou que seria bastante interessante tocar em um tema polêmico ao indagar até que ponto o código de ética militar das forças armadas americanas era moralmente aceitável. Que direito tinha de determinar quem poderia ou não se envolver com os soldados e oficiais americanos? Não seria uma invasão da vida pessoal dessas pessoas? 

O fato é que mesmo com a proibição muitos militares acabavam se apaixonando pelas mulheres nativas e sofriam sanções por isso. Brando adorou o roteiro desde a primeira vez que o leu mas recusou fazer o filme até que aceitassem reescrever o trágico final original. Aceitos os seus termos o ator fez as malas e junto da equipe viajou ao distante Japão para as filmagens, que não foram fáceis. O problema é que foram na época errada do ano, uma estação muito chuvosa que atrasou absurdamente o cronograma do filme. Em suas memórias Brando relembrou que havia semanas em que não conseguiam filmar nem ao menos uma tomada sequer. Pressionado e criticado pelo estúdio o diretor Joshua Logan entrou em depressão deixando o filme totalmente à deriva nas ilhas nipônicas. Isso se refletiu no resultado final. O filme tem um corte ruim, com mais de duas horas e meia de duração. Marlon acabou atribuindo isso à falta de controle do diretor Logan que se perdeu dentro do projeto.

Apesar de todos os problemas não considero "Sayonara" um filme ruim, pelo contrário. Ele pode ser levemente disperso e com várias cenas desnecessárias mas nunca se torna banal. Há certos deslizes na produção, é verdade, como a maquiagem nada convincente de Ricardo Montalban (fazendo um personagem japonês ora vejam só!) mas isso é de certo modo apenas pontual. A atriz que faz o par romântico de Brando também nada acrescenta, pois tem o talento dramático muito limitado (de fato não seguiu carreira depois). Outro problema é que inexiste química entre ela e Brando, o que para um filme pretensamente romântico é quase um desastre completo. Enfim, para fãs de Brando o filme é obrigatório, até mesmo para vê-lo em um papel de certa forma diferenciado em sua carreira (bancando o herói romântico) mas fica a observação pois o filme poderia ser bem melhor do que realmente é.

Sayonara (Sayonara, Estados Unidos, 1957) Direção de Joshua Logan / Roteiro: Paul Osborn baseado no romance de James Michener / Elenco: Marlon Brando, Patricia Owens, Red Buttons, Miiko Taka, Ricardo Montalban / Sinopse: Major da Força Aérea Americana (Marlon Brando) se apaixona por jovem japonesa e tem que enfrentar a dura disciplina militar que explicitamente proíbe tal relacionamento durante a estadia de militares americanos no Japão.

Pablo Aluísio.

Raposa do Espaço

Raposa do Espaço
Robert Mitchum era um ator da velha guarda de Hollywood que de velha guarda não tinha nada. Sua biografia pouco comum fugia bem do padrão dos astros da época. O ator interpretava personagens diferenciados que geralmente tinham em comum o fato de serem anti-heróis, pessoas bem à margem do American Way of Life. Para quem nasceu em uma família sem muitos recursos e que via a profissão de ator como uma boa forma de ganhar muito dinheiro sem fazer muito esforço, nada mais natural que levar para as telas o outro lado da sociedade americana dos anos 50. Nesse tipo de papel o ator foi insuperável pois ninguém fazia isso melhor do que ele. Em sua extensa filmografia Mitchum não poupou o público de encontrar nas salas de cinema com alguns dos tipos mais incomuns da tela grande. Havia um perdedor bêbado em algum filme? Mitchum encarava o desafio. O papel era de um sádico psicopata que perseguia as pessoas que o havia colocado na prisão? Mitchum era o ator a se socorrer nessas horas... Mesmo quando tentavam enquadrar o ator em algum papel mais, digamos, tradicional, Mitchum mostrava que as coisas não sairiam assim tão fácil para produtores e diretores. Um exemplo é o filme Raposa do Espaço - uma película produzida com a ajuda das forças armadas americanas, portanto digno de toda a patriotada possível.

O enredo se passa durante a guerra da Coreia. Mitchum faz o papel de um Major que chega no Japão para liderar uma esquadrilha de caças durante esse conflito. Bem, se esse papel fosse dado a um John Wayne o filme seria bem diferente. Porém como Mitchum está lá podemos ter certeza que seu personagem não seria nada convencional ou politicamente correto e realmente não era. Embora interprete um oficial da força aérea americana no filme, Mitchum logo logo trata de dar em cima da esposa de um outro oficial e companheiro de armas. Mais Robert Mitchum do que isso, impossível... Como se não bastasse ainda contracenava com o ator Robert Wagner no comecinho da carreira. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Wagner ganhou fama internacional muitos anos depois ao estrelar o famoso programa Casal 20. Também ganhou notoriedade por ter sido casado com Natalie Wood (alguns boatos chegaram inclusive a culpá-lo pela morte dela, afogada depois de uma noite de bebedeira). Contracenando com Mitchum nesse filme ainda temos Richard Egan, ator bem conhecido dos fãs de Elvis Presley pois estrelou ao lado do Rei do Rock seu primeiro filme, Love Me Tender. Para quem foi preso por fumar maconha no auge da fama, por vagabundagem na juventude, até que Mitchum engana direitinho como militar durante o filme. Com seu rosto cinicamente natural, ele nos lembra que até os anti-heróis eram mais interessantes antigamente...

Raposa do Espaço (The Hunters, Estados Unidos, 1958) Direção de Dick Powell / Roteiro de Wendell Mayes e James Salter / Elenco: Robert Mitchum, Robert Wagner, Richard Egan / Sinopse: O enredo se passa durante a guerra da Coréia. Mitchum faz o papel de um Major que chega no Japão para liderar uma esquadrilha de caças durante esse conflito.

Pablo Aluísio.