segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O Diário de Anne Frank

Baseado no livro escrito pela adolescente Anne Frank, o filme narra os dois anos em que ela e sua família viveram confinados em um anexo secreto de um prédio em uma Amsterdam ocupada por tropas nazistas. Como eram judeus, ela e seus familiares tentaram de todas as maneiras escapar do cerco de ódio racial que imperava naquele momento. Enquanto estava vivendo essa terrível situação Anne resolveu escrever um diário com seus pensamentos e desejos. O diário seria publicado após a guerra e se tornaria um dos livros mais importantes do século XX, dando voz a uma vítima do holocausto do nazismo. A história de Anne Frank já emocionou e cativou milhões de pessoas desde que seu singelo diário foi publicado por seu pai após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele foi o único sobrevivente de sua família do holocausto promovido pelo nazismo alemão. É certamente uma das obras mais importantes já escritas porque humaniza e dá voz e face aos números frios da morte de milhões de judeus em campos de concentração nos países ocupados pelos alemães. Ao invés de meras estatísticas o que temos aqui é uma pessoa real, uma jovem que tinha sonhos e ambições e que acabou se tornando uma das mais famosas vítimas do holocausto justamente por ter deixado um diário jogado no chão, após o local onde vivia escondida ser descoberto por soldados de Hitler.

Além da importância histórica o filme também serve para mostrar a genialidade do cineasta George Stevens. Grande diretor, ele convenceu a Twentieth Century Fox a construir um enorme cenário dentro do estúdio que recriava o prédio onde Anne viveu seus últimos anos de vida. A construção era realmente um primor, com três andares e tudo o que havia no lugar original onde Anne escreveu seu famoso diário. Para gravar nos andares mais altos Stevens usava enormes gruas de filmagens que deram um toque muito realista a cada momento. O resultado de tanto empenho é uma obra-prima da sétima arte, onde em duas horas e cinquenta minutos de duração, Stevens conta todos os momentos mais importantes narrados por Anne Frank em seus escritos. Estão lá suas impressões sobre os demais moradores do anexo secreto, seus sentimentos, suas paixões e sua esperança de um dia ver a paz reinar novamente naquela região devastada pela guerra. Como todos sabemos essa não é uma história com final feliz, com desfecho ttágico no campo de concentração de Bergen-Belsen. Anne Frank foi apenas uma entre mais de 1 milhão de crianças e adolescentes mortas pela doutrina nazista durante aquele período terrível da história. Sua obra porém será para sempre imortal.

O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: George Stevens / Roteiro: Frances Goodrich, Albert Hackett / Elenco: Millie Perkins, Shelley Winters, Joseph Schildkraut, Richard Beymer, Gusti Huber, Lou Jacobi, Diane Baker, Douglas Spencer, Ed Wynn / Sinopse: O filme conta a história real da jovem Anne Frank, que se escondeu ao lado de seus familiares em um pequeno anexo durante a barbárie a perseguição nazista aos judeus na Europa, durante a II Guerra Mundial. Filme indicado a oito Oscars, sendo vencedor nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Shelley Winters), Melhor Fotografia (William C. Mellor) e Melhor Direção de Arte. Filme também indicado ao Globo de Ouro em cinco categorias e à Palma de Ouro no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 16

Na foto dois ícones do cinema dos anos 50 se encontram casualmente: James Dean e Marlon Brando. Em seu livro de memórias Brando resolveu dedicar algumas palavras ao ator. Para Brando, Dean não lhe causava grande impressão. Ele já tinha ouvida falar em Dean, mas não procurou conhecer pessoalmente o famoso rebelde das telas. Já James Dean procurava se encontrar com Brando há tempos pois o tinha como ídolo. Ele enviou alguns convites por amigos mútuos, mas Brando não demonstrou maior interesse em lhe conhecer. Tudo parecia na mesma até que por mero acaso Brando e Dean se viram face a face numa festa nas colinas de Hollywood. Dean estava visivelmente emocionado em encontrar aquele que considerava o melhor ator do cinema americano.

Já Brando percebeu algumas coisas em Dean desde a primeira vez que o viu. Achou que Dean ainda mantinha a velha forma de agir dos americanos do meio oeste, um misto de medo e encantamento com a cidade grande. Como Brando também vinha de um estado rural do meio oeste, entendeu que isso gerou uma familiaridade até nostálgica entre ambos. Simpático em um primeiro momento com Dean, abriu uma conversa amigável com o colega de profissão. James Dean não deixou passar em branco e disse a Brando que o admirava muito e que em sua vida pessoal procurava seguir os passos do grande ator.

Brando por outro lado resolveu lhe dar alguns conselhos. Disse a Dean que ele não deveria seguir por esse caminho, procurando ser igual ao seu ídolo, pois todos deviam trilhar sua própria carreira e trazer aspectos de suas personalidades para obter êxito em Hollywood. Em palavras educadas Marlon Brando estava aconselhando James Dean a não ser uma mera imitação dele mesmo. Dean havia dito que admirava Brando por ele ser um tipo fora dos padrões, rebelde, que saia de moto pelas madrugadas. Aquilo deixou Brando surpreso. Em sua opinião Dean procurava por um tipo de aprovação - como se estivesse pedindo sua bênção por seu comportamento.

Depois desse encontro e dessa conversa mais do que interessante eles poucos se encontraram novamente. Para Brando foi uma gratificação saber que James Dean havia ouvido seus conselhos e os estava seguindo. Segundo Brando seu colega ainda não tinha personalidade própria até o advento do filme "Assim Caminha a Humanidade" quando, na visão de Brando, James Dean havia finalmente encontrado seu próprio caminho. Infelizmente assim que chegou em seu objetivo na profissão, Dean encontrou também a morte de forma prematura em um acidente de carro. Para Brando o jovem James Dean acabou sendo enterrado em seu próprio mito. Uma infelicidade trágica do destino.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de novembro de 2021

O Rei Leão

A Disney renasceu em suas animações para o cinema com o lançamento de "A Pequena Sereia" em 1989, mas o auge dessa fase de renascimento foi certamente a chegada de "O Rei Leão" nos cinemas em 1994. Só para se ter uma pequena ideia do capricho que essa animação teve, basta dizer que a Disney contratou 29 roteiristas (isso mesmo que você leu!) para criar o que os produtores chamavam de "A obra-prima da década no mundo da animação". Não há dúvidas que tanto esforço resultou em um filme realmente acima da média, já considerado um clássico nos dias de hoje. Há um toque de Rei Lear e até mesmo Hamlet na estória de um clã de leões africanos. Estão lá todos os personagens centrais que fizeram da obra de Shakespeare imortal. Há o pai valoroso e íntegro, o filho que deseja seguir seus passos e o invejoso membro da família real que só quer tomar a coroa para si mesmo. O elenco que fez as vozes do personagem também se destaca, em especial Jeremy Irons que faz a voz do vilão Scar.

É curioso porque os animadores resolveram mudar o método de trabalho, preferindo filmar antes os atores em estúdio declamando suas falas para só a partir daí criarem os desenhos que seriam usados no filme. De certa maneira "O Rei Leão" é a última grande animação ao estilo tradicional dos estúdios Disney. Marcou merecidamente toda uma geração de crianças (e até mesmo adultos). Na minha opinião é realmente o grande filme da Disney em sua retomada rumo ao sucesso absoluto de crítica e público.

O Rei Leão (The Lion King, Estados Unidos, 1994) Direção: Roger Allers, Rob Minkoff / Roteiro: Irene Mecchi, Jonathan Roberts, entre outros / Elenco: Matthew Broderick, James Earl Jones, Jeremy Irons, Nathan Lane, Whoopi Goldberg, Rowan Atkinson, Jonathan Taylor Thomas / Sinopse: A história de um leão e seu filho que no futuro deverá honrar sua família. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Música Original ("Can You Feel the Love Tonight" de Elton John) e Melhor Trilha Sonora. Também vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Comédia ou Musical.

Pablo Aluísio.

Pocahontas

Depois do enorme sucesso de "O Rei Leão" todos ficaram na expectativa do que viria da Disney dali em diante. Afinal de contas aquele filme tinha sido certamente uma obra-prima dos animadores do estúdio. Por isso houve uma certa surpresa quando foi anunciado que a próxima animação a chegar nos cinemas seria "Pocahontas". Essa história (verídica) fez parte do período de colonização dos Estados Unidos e simbolizava a união entre os colonizadores europeus (encarnados na figura de John Smith, aqui dublado pelo astro Mel Gibson) e os povos nativos (personificados na jovem garota Pocahontas). Obviamente que tudo é muito fantasiado no longa já que na verdade histórica as coisas jamais se passaram da mesma forma. Os diretores Mike Gabriel e Eric Goldberg resolveram valorizar a beleza da natureza nessa animação, deixando um pouco de lado a força de história (algo que havia sido o grande trunfo de "O Rei Leão").

O resultado, apesar de ser tecnicamente perfeito, deixou um pouco a desejar. Provavelmente a grande expectativa criada em torno do filme que sucederia "O Rei Leão" nos cinemas tenha sido responsável por grande parte disso. A animação nunca chega a ser marcante e foi de certa forma destruída pela crítica que não deixou barato, sempre procurando comparar o filme com a verdade histórica, o que sempre achei um exagero. "Pocahontas" nunca se propôs a ser um tratado de história da colonização americana, mas apenas uma animação divertida e romântica. Nesse caso quem errou feio foram os críticos, sempre tão pedantes e arrogantes. Não captaram a essência do filme e nem suas reais intenções.

Pocahontas (Pocahontas, Estadps Unidos, 1995) Direção: Mike Gabriel, Eric Goldberg / Roteiro: Carl Binder, Susannah Grant e Philip LaZebnik / Elenco: Mel Gibson, Christian Bale, Linda Hunt / Sinopse: A história de amor de um colonzador e uma nativa chamada Pocahontas, nos primórdios da América. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Música Original ("Colors of the Wind" de Alan Menken e Stephen Schwartz). Também vencedor do Oscar na categoria de Melhor Trilha Sonora.  

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de novembro de 2021

Elvis Presley - I Got Lucky

Nos anos 1970 a RCA começou a lançar vários discos de Elvis do tipo nada a ver. Eram coletâneas feitas sem nenhum critério muito claro. Na maioria das vezes eram apenas lançamentos caça-níqueis, sem nenhum grande valor discográfico. Um desses LPs foi o "I Got Lucky" de 1971. Esse foi outro disco que não foi lançado no Brasil, só que ao contrário do "Good Times" que era um álbum de canções inéditas, importante para o fã da época, esse aqui não despertava grande interesse. A seleção musical foi feita em cima de material de Hollywood dos anos 60. Canções que iam do meramente agradável ao descartável. Não sei bem quem iria se interessar por sobras de Elvis dos anos 60 naquela fase de sua carreira, mas como a RCA estava sempre pronta a tirar lucro de coisas antigas, não foi nenhuma grande surpresa a edição do disco. Lançado como parte do selo azul da subsidiária RCA Camden, o LP chegava aos consumidores em preços promocionais, geralmente pela metade do preço de um disco com o selo RCA Victor, que era o principal da companhia, aquele em que seus discos de canções inéditas eram lançados.

1. I Got Lucky (Dolores Fuller / Ben Weisman / Fred Wise) - A música que deu título a esse disco, "I Got Lucky", foi retirada da trilha sonora do filme "Talhado Para Campeão" (Kid Galahad). Filme menor, que não fez muito sucesso, mas que tinha um repertório (não canso de escrever isso) muito agradável de se ouvir. Nenhuma das músicas fez sucesso ou se tornou um hit, mas fizeram parte de uma seleção muito boa dessa fase de sua carreira. Essa canção em particular é apenas OK, nada demais. Não tenho a menor ideia dos critérios que a RCA levou em conta para dar título ao disco.

2. What a Wonderful Life (Jerry Livingston / Sid Wayne) - A música "What a Wonderful Life" era da trilha sonora de "Follow That Dream", filme que no Brasil se chamou "Em Cada Sonho um Amor". Nessa produção Elvis apareceu com os cabelos loiros, queimados pelo sol da Flórida. Seu personagem fazia parte de uma família de caipiras que lutavam por terras contra o governo. Tudo muito leve e relax, mero pretexto para Elvis ir cantando uma canção entre uma cena e outra. De calças jeans (de que ele não gostava), o cantor mais parecia um surfista de praia, jovial e esbanjando saúde. A música era boa, nada demais em termos de letra e melodia, mas que acabava funcionando bem dentro do contexto do roteiro do filme. Pura diversão descompromissada.

3. I Need Somebody to Lean On
(Doc Pomus / Mort Shuman) - Uma das faixas a se destacar nesse grupo era a bela balada romântica "I Need Somebody to Lean On". Essa música fez parte da trilha sonora de "Viva Las Vegas" (Amor a toda velocidade, no Brasil). Esse filme foi considerado por muitos como o último de grande qualidade de Elvis em Hollywood. Sucesso de público (faturou mais que "Feitiço Havaiano") e crítica, trazia ainda a melhor parceira de cena que Elvis teve no cinema, a maravilhosa Ann-Margret. Aliás sou da opinião de que Elvis deveria ter se casado com ela. Era uma mulher inteligente, independente, que certamente confrontaria Elvis em seus problemas pessoais, o colocando no rumo certo quando fosse necessário. Uma pena que isso não aconteceu.

4. Yoga Is as Yoga Does (Gerald Nelson / Fred Burch) - Outra canção da trilha sonora do filme "Easy Come, Easy Go" (Meu Tesouro é Você, no Brasil) foi essa esquisita "Yoga Is as Yoga Does", sempre presente em listas do tipo "As piores músicas cantadas por Elvis Presley". OK, temos que admitir que a música é meio fora do tom, nada condizente com a estatura de um cantor fenomenal como Elvis, porém temos também que avaliar que com o passar dos anos ela até que foi se tornando palatável. Como é muito ruim, se tornou divertida! Um paradoxo, eu sei, mas que no final das contas a salva da lata de lixo musical da história.  É como aquele filme B, trash, que com os anos foi ganhando status de cult! Como Elvis sempre dizia "Era um trabalho para se viver". Ele foi lá e jogou a sorte. Como era Elvis, quase sempre dava certo!

5. Riding the Rainbow (Ben Weisman / Fred Wise) - Da mesma trilha sonora de Kid Galahad a RCA Victor ainda encaixou "Riding the Rainbow", Uma canção com menos qualidade, mas igualmente agradável, como todas as outras faixas dessa trilha. Tudo soa bem relaxante, com sol brilhando e um céu azul pairando sobre todos os personagens. Era 1961, Elvis vinha de sucessos de bilheteria (Feitiço Havaiano e Saudades de um Pracinha) e tudo parecia correr bem sua carreira. Isso talvez tenha influenciado o sentimento de alto astral dessas faixas. A composição era da infalível dupla formada por Ben Weisman e Fred Wise. Eles fizeram inúmeras músicas para Elvis em sua fase Hollywood. Existe inclusive uma foto bem interessante com o cantor ao lado do compositor lhe oferecendo uma placa de agradecimento. Pela quantidade de canções feitas por ele, isso foi mesmo merecido.

6. Fools Fall in Love (Jerry Leiber / Mike Stoller) - De Leiber e Stoller havia ainda "Fools Fall in Love". Essa faixa havia sido gravada em 1966 e não fez qualquer sucesso na carreira de Elvis. Tinha um refrão que considero dos mais pegajosos que já ouvi em minha vida, mas mesmo assim não conseguiu se destacar nas paradas. Para muitos fãs que compraram o disco na época soava como algo inédito de tão desconhecida. Na verdade já havia sido lançada antes em um obscuro single com "Indescribably Blue". A versão original era de 1957 e havia sido lançada pelo grupo  The Drifters no selo Atlantic Records. Com Elvis porém não conseguiu chamar a atenção de ninguém.

7. The Love Machine (Fred Burch / Gerald Nelson / Chuck Taylor) - Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. "The Love Machine" fez parte da trilha sonora do último filme de Elvis na Paramount Pictures, o simpático "Meu Tesouro é Você" (Easy Come, Easy Go). O curioso dessa pequena trilha é que todas as canções possuem uma melodia agradável ao ouvinte. As letras obviamente são ao estilo plastificado made in Hollywood dos anos 60, mas mesmo assim agradam. Nesse filme Elvis interpretava um marinheiro que estava em busca de um tesouro perdido no mar. Entre uma música e outra ele dava longos mergulhos em busca da fortuna cobiçada. Essa música era apresentada em um night club onde Elvis girava uma roleta com fotos de garotas. Hoje em dias de politicamente correto isso daria arrepios nas feministas, mas nos anos 60 tudo era encarado com bom humor (como deve ser mesmo). Boa música, sempre me agradou.

8. Home Is Where the Heart Is (Hal David / Sherman Edwards / Donald Meyer) - Outra mini trilha sonora (aquelas que tinham apenas cinco ou seis músicas) foi a do filme "Talhado Para Campeão" (Kid Galahad). Esse filme era na realidade um remake de um clássico com Humphrey Bogart. O que era drama no filme original virou com Elvis um musical com leves toques esportivos e bastante romance. Para os cinéfilos o filme trazia no elenco um jovem Charles Bronson, antes dele virar um astro de filmes de faroeste e fitas de ação. Pois bem, entre uma luta de boxe e outra Elvis ia cantando as músicas do filme. Uma delas foi resgatada nesse disco e se chama "Home Is Where the Heart Is". A considero mais uma das músicas leves e agradáveis de Elvis nos anos 60. Pouca gente conhece, mas vale a pena ouvir. O estilo de Elvis cantar nessa época se sobressaía, mesmo quando a música não era grande coisa. Enfim, uma canção leve e divertida, bem característica de seus filmes em Hollywood nos anos 60.

9. You Gotta Stop (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - A direção musical desse filme foi do Gerald Nelson, maestro que tinha até bastante prestígio na Costa Oeste dos Estados Unidos. Não se sabe bem a razão, mas em determinado momento de sua carreira ele meio que deixou de lado o circuito mais clássico e partiu para trabalhar para estúdios de cinema. Acabou indo parar em "Kissin Cousins" (Com Caipira Não se Brinca, no Brasil). Depois ocasionalmente voltava a trabalhar em alguma trilha sonora de Elvis. Pena que nenhuma delas de alto nível. Quase sempre também contava com material composto pelo trio calafrio formado por Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye, que inclusive, é bom lembrar, compôs quase todo o disco Kissin Cousins. Pois bem, aqui a dobradinha se repetiu. Eles voltaram a trabalhar juntos, dessa vez numa faixa intitulada "You Gotta Stop". Gravada em setembro de 1966 era outra marmelada que Elvis tornava ao menos interessante. É incrível o talento de Elvis em tirar sabor musical de canções que eram fracas e derivativas. Só isso já bastava para justificar seu título de "Rei", aqui não mais Rei do Rock, mas certamente Rei do Pop Made in Hollywood. Algo mais de acordo com o trabalho que ele vinha desenvolvendo.

10. If You Think I Don't Need You (Gary Joe Cooper / Red West) - Esse álbum "I Got Lucky" fechava as cortinas com a bela balada "If You Think I Don't Need You". Essa música foi lançada originalmente em 1964, como parte da excelente e maravilhosa trilha sonora do musical "Viva Las Vegas". É impossível entender como a RCA Victor tendo tantas boas canções em mãos na época não lançou um álbum completo com as músicas do filme. Um LP seria mais do que necessário, porém a gravadora, numa das maiores barbeiragens da discografia de Elvis desperdiçou tudo em um EP (compacto duplo) sem maiores esforços de promoção. Chega a ser bizarro! De qualquer maneira nunca é tarde para conhecer uma música romântica tão lindamente cantada por Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Dívida de Honra

A vida no oeste selvagem era muito dura. Que o diga três mulheres que acabam enlouquecendo por causa das dificuldades de viver em uma terra tão hostil e perigosa. Diante dessa terrível situação o reverendo Dowd (John Lithgow) decide que pelo bem da comunidade as três devem ser enviadas para uma instituição psiquiátrica no distante Iowa. O problema é que até lá são cinco semanas de jornada a cavalo, bem no meio do nada. Mary Bee Cuddy (Hilary Swank) decide aceitar o desafio. No meio do caminho acaba encontrando o velho George Briggs (Tommy Lee Jones), que também decide seguir viagem ao seu lado. Juntos enfrentarão todos os desafios impostos pela complicada travessia. Esse faroeste é um projeto muito pessoal de Tommy Lee Jones. Só para se ter uma ideia ele produziu, dirigiu e ainda escreveu o roteiro de "The Homesman". Seu personagem é um homem já cansado pela vida que por um acaso do destino acaba entrando numa jornada ao lado da mulher que o salvou de morrer enforcado. O objetivo é levar três mulheres com problemas mentais a uma cidade distante cinco semanas de viagem pela terras selvagens cheias de pistoleiros, nativos e bandoleiros de todos os tipos. Usando uma carroça adaptada eles partem rumo aos confins do oeste americano. Pode-se dizer que em certos momentos a trama se arrasta um pouco, mas no geral é de fato um bom filme.

O elenco tem excelentes atores que interpretam pessoas que Briggs (Tommy Lee Jones) e Mary Bee (Hilary Swank) vão encontrando pelo caminho. James Spader, por exemplo, dá vida a um dono de hotel grã-fino que impede a entrada de Briggs e as mulheres em seu estabelecimento. A recusa não acaba muito bem. Não deixa de ser muito divertido encontrar Spader usando uma chamativa peruca ruiva, com jeito de irlandês, em um trabalho bem diferente que vem desenvolvendo na TV na série "The Blacklist". Já a premiada Meryl Streep tem uma pequena, mas importante participação, só surgindo na parte final do filme, como a esposa do pastor e reverendo que recebe as pobres mulheres para internamento no hospicio da região. Bem envelhecida, ela provavelmente só aceitou o papel em consideração ao amigo Tommy Lee Jones, até porque recentemente trabalharam juntos no delicado drama de relacionamentos "Um Divã para Dois".  No final de tudo quem acaba roubando mesmo o show é a atriz Hilary Swank. Sua personagem é uma balzaquiana desesperada para se casar que não consegue encontrar o homem de sua vida. Com isso ela vai vivendo de decepção em decepção até chegar ao seu limite. O destino de sua personagem me deixou um pouco perplexo e surpreso, confesso, mas ela consegue trazer uma grande carga humana para seu trabalho. Em suma é isso, no geral não há nada de errado na direção de Jones, talvez o filme devesse ter uns vinte minutos a menos para ser mais fluente, dando mais agilidade aos acontecimentos, quem sabe. Provavelmente esse seria o corte ideal, mas enfim. De qualquer forma esse é apenas um detalhe que não compromete o espetáculo. "The Homesman" é assim um bom western, um pouco diferente, é verdade, mas mesmo assim cativante ao seu próprio modo.

Dívida de Honra (The Homesman, Estados Unidos, 2014) Direção: Tommy Lee Jones / Roteiro: Tommy Lee Jones, Kieran Fitzgerald / Elenco: Tommy Lee Jones, Hilary Swank, John Lithgow, James Spader, Meryl Streep / Estúdio: EuropaCorp, Javelina Film Company / Sinopse: Um pastor resolve internar três mulheres com problemas mentais. O problema é que a instituição em que elas poderiam ser internadas fica longe, sendo necessário realizar uma longa viagem até lá, um desafio aceito pela valente Mary Bee Cuddy (Hilary Swank) que irá contar também com o apoio do velho cowboy George Briggs (Tommy Lee Jones).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A Salvação

Uma das maiores queixas dos fãs de filmes de faroeste ultimamente é a escassez de bons títulos do gênero na atualidade. Bem, eis aqui uma sugestão que vai agradar a muitos. Trata-se de um western chamado "The Salvation". No século XIX um imigrante escandinavo chamado Jon Jensen (Mads Mikkelsen) finalmente parte para reencontrar sua família. Há sete anos ele deixou sua Dinamarca natal para tentar uma nova vida na América. Lá ele conseguiu progredir ao lado do irmão em um rancho no meio do deserto do Arizona. Agora se sentindo mais seguro ele vai até uma estação de trem para recepcionar sua esposa e o pequeno filho, nessa que será a sua nova terra. No caminho de volta da estação Jon e sua família pegam uma diligência onde para sua infelicidade também viaja Paul Delarue (Michael Raymond-James). Ele é um criminoso que acabou de sair da prisão. Também é irmão de Henry Delarue (Jeffrey Dean Morgan), um ex-Coronel do Exéricito americano que agora ganha a vida como pistoleiro de uma grande empresa que deseja comprar todas as terras da região. Para que os produtores vendam seus ranchos ele implanta um sistema de terror para com os moradores do pequeno vilarejo. Pois bem, Paul Delarue acaba imobilizando Jensen na viagem pois fica interessado em sua esposa. Ele então mata o pequeno filho de apenas dez anos de Jensen e depois estupra sua mulher. Confiando que nada lhe acontecerá ele segue em frente na sua vida de crimes. Jensen porém não está disposto a deixar tudo isso barato e o mata em uma emboscada. Isso obviamente coloca sua cabeça à prêmio. Jensen não está disposto a recuar e decide lutar até o fim para que a justiça finalmente prevaleça.

O roteiro segue o tema básico da vingança pessoal. Isso, apesar de estar um pouco saturado, acaba funcionando muito bem no filme. O roteiro é bem arquitetado e no final todas as peças se encaixam perfeitamente. O filme apresenta também uma boa produção, mas certamente o seu grande atrativo é o elenco. Quem gosta de séries então vai gostar ainda mais. O protagonista é interpretado pelo ator Mads Mikkelsen, que dá vida ao Dr. Hannibal Lecter da série "Hannibal". Ele é um sujeito honesto e íntegro que no fundo quer apenas levar sua vida em frente, criando seu filho, vivendo ao lado da esposa amada. Ele sonha com um futuro baseado no trabalho e na dignidade, mas como alcançar isso em uma terra sem lei, dominada por facínoras sem escrúpulos? O vilão - um dos mais odiosos dos últimos tempos - é interpretado por Jeffrey Dean Morgan da série "The Walking Dead". O sujeito é completamente desprezível. O roteiro insinua que no passado ele teria sido um bom homem, mas que teria sido destruído interiormente após passar longos anos na cavalaria, matando índios nas reservas do velho oeste. Por fim outro grande destaque vem com a presença da elogiada Eva Green, a Vanessa Ives de "Penny Dreadful". Sua personagem teve a língua cortada por selvagens e ela não tem nenhuma fala no filme. Muda, se expressa apenas com olhares e expressões faciais. Excelente atuação. Em suma é isso. Não deixe de assistir a esse faroeste contemporâneo, um filme acima da média que seguramente se tornará um bom programa para o fim de sua noite.

A Salvação (The Salvation, Estados Unidos, 2014) Direção: Kristian Levring / Roteiro: Anders Thomas Jensen, Kristian Levring / Elenco: Mads Mikkelsen, Eva Green, Jeffrey Dean Morgan, Michael Raymond-James, Eric Cantona / Sinopse: Jon Jensen (Mads Mikkelsen) é um imigrante estrangeiro que tenta vencer na vida em um rancho nos Estados Unidos. Depois de sete anos ele finalmente consegue trazer para a América sua esposa e seu pequeno filho. Durante a viagem numa diligência eles caem nas mãos de um bandido que acaba de sair da prisão. Ele domina Jensen, mata seu filho e estupra sua esposa. Depois é morto quando finalmente Jensen o reencontra. O assassinato enfurece seu irmão, Henry Delarue (Jeffrey Dean Morgan), que promete caçar e liquidar com Jensen, dando origem a um jogo de vida e morte entre eles.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Céu Azul

Outro bom filme que levanta questões interessantes sobre o papel da mulher dentro da sociedade é esse drama "Céu Azul". O enredo se passa durante o começo dos anos 60. Carly Marshall (Jessica Lange) é a esposa de um militar que não consegue expressar seus sentimentos. Tudo parece bem ruim para o marido Hank (Tommy Lee Jones). Seu casamento é bem frustrante e as constantes mudanças de cidade causadas pelas transferências dele só pioram a situação. Como se isso não fosse ruim o bastante, ela se sente infeliz em seu íntimo pois é uma mulher criativa, com um forte senso de liberdade, que é sempre oprimida por causa da personalidade pouco cativante de seu esposo. Em um ambiente assim ela não consegue se sentir plenamente realizada, muito pelo contrário. Vivendo para manter as aparências ela intimamente cultiva uma melancolia sempre presente, algo que poucos conseguem enxergar debaixo daquela fachada de esposa "feliz". 

Assim o roteiro explora esse lado pouco conhecido da vida de muitas mulheres mundo afora que acabam encontrando em seus casamentos não a felicidade ou a realização emocional, mas sim muitas obrigações, deveres e até mesmo opressão. Nesse quadro o verdadeiro amor acaba sendo soterrado pela servidão do cotidiano, do dia a dia massacrante. O fato curioso é que a opressão social não parte apenas do marido, mas da sociedade em geral também, com seus valores morais travestidos de pura hipocrisia. Nesse processo as mulheres acabam se tornando profundamente infelizes com suas vidas. Como não poderia deixar de ser o destaque desse filme vai todo para a atriz Jessica Lange. Ela encontrou um presente nesse texto e não deixou por menos, realizando uma das melhores atuações de toda a sua carreira. Um momento realmente magistral que lhe valeu uma série de premiações e indicações em diversos festivais de cinema. E o Oscar que ela levou para casa foi mais do que merecido.

Céu Azul (Blue Sky, Estados Unidos, 1994) Direção: Tony Richardson / Roteiro: Rama Laurie Stagner / Elenco: Jessica Lange, Tommy Lee Jones, Powers Boothe  / Sinopse: A vida de um casal infeliz, tentando superar todas as adversidades. Filme vencedor do Oscar e do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Jessica Lange). Também indicado ao Screen Actors Guild Awards na mesma categoria. 

Pablo Aluísio.

Adoráveis Mulheres

Não importa a época histórica, as mulheres sempre amadurecem emocionalmente muito mais cedo do que os homens. Faz parte da natureza humana. Enquanto os garotos ainda estão envolvidos em brincadeiras infantis, as meninas já começam a se interessar romanticamente por outros rapazes, estimulando muito cedo em suas vidas uma personalidade romântica e sensitiva, mesmo que muitas vezes isso surja apenas dentro da mente delas, de forma bem reservada e íntima. Uma prova disso temos aqui nesse "Little Women". O roteiro foi baseado em um clássico da literatura americana escrito pela autora Louisa May Alcott. O que trouxe longevidade para esse texto foi sua sensibilidade em captar parte do universo feminino para suas páginas. Embora muitos não percebam isso, o fato é que o mundo das mulheres, mesmo das adolescentes, é muito mais rico em nuances sentimentais do que se imagina. As jovens, mesmo em tenra idade, já estão prontas para o amor e as emoções que envolvem esse precioso sentimento humano. 

Além disso o coração da mulher sempre guarda pequenos e grandes mistérios em seu interior. Para explorar esse aspecto da vida delas a história mostra a vida de um grupo de irmãs em um tempo particularmente complicado da história americana, quando a nação ficou dividida pela guerra civil. É um filme feito para elas, especialmente realizado para o público feminino. Também é bastante indicado para você assistir ao lado da namorada pois o roteiro levanta questões interessantes que certamente darão origem a um bom bate papo depois da exibição. Afinal de contas nada é mais estimulante e prazeroso do que a companhia de mulheres inteligentes e cultas que saibam manter uma excelente conversação sobre artes em geral. Assim o filme servirá como estimulante para bons momentos ao lado da pessoa amada. 

Adoráveis Mulheres (Little Women, Estados Unidos, 1994) Direção: Gillian Armstrong / Roteiro: Robin Swicord, baseado na novela escrita por Louisa May Alcott / Elenco: Susan Sarandon, Winona Ryder, Kirsten Dunst, Claire Danes, Christian Bale, Eric Stoltz, Gabriel Byrne  / Sinopse: O filme mostra a história atemporal de um grupo de mulheres em busca da felicidade e do amor,  Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Winona Ryder), Melhor Figurino e Melhor Música (Thomas Newman) 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Caminhando nas Nuvens

Romance estrelado pelo ator Keanu Reeves. Ele interpreta Paul Sutton, um militar americano que resolve ajudar uma jovem mexicana que descobre estar grávida. Abandonada pelo pai da criança, Sutton resolve dar algum tipo de apoio, de alguma forma a ela, se fazendo passar até mesmo por seu marido, embora ambos não sejam casados realmente. A boa direção de arte, fotografia e reconstituição histórica são as grandes qualidades dessa produção. Tudo se passa como se fosse um sonho romântico idealizado. A despeito disso, de ser um bonito filme nesses aspectos, achei o roteiro destituído de um conteúdo melhor. A jovem mexicana Victoria Aragon (Aitana Sánchez-Gijón) tem tanto medo de contar ao seu pai que irá se tornar uma mãe solteira que resolve pedir ajuda ao americano, para que ele se passe por seu futuro marido. 

O grande destaque assim acaba indo parar nas mãos do veterano Anthony Quinn como Don Pedro Aragon, o pai de Victoria. Um homem expansivo, de temperamento forte, que defende seus ideais de moralidade a ferro e fogo. Seria insuportável para ele saber que sua filha teria sido abandonada ao ficar grávida. O diretor mexicano Alfonso Arau assim quis fazer uma alegoria dos aspectos religiosos e culturais de seu povo. Conseguiu apenas realizar um filme esteticamente belo e por vezes açucarado em demasia. Seu filme anterior, "Como Água Para Chocolate" foi mais bem sucedido nesse aspecto. De uma forma ou outra o filme conseguiu vencer um Globo de Ouro na categoria de Melhor Trilha Sonora (Maurice Jarre), o que convenhamos foi um feito e tanto para um romance tão mediano como esse. 

Caminhando nas Nuvens (A Walk in the Clouds, Estados unidos, México, 1996) Direção: Alfonso Arau / Roteiro: Robert Mark Kamen, Mark Miller/ Elenco: Keanu Reeves, Aitana Sánchez-Gijón, Anthony Quinn  / Sinopse: O filme conta a história de um jovem, seus amores, sentimentos e dores em um universo de realismo fantástico. 

Pablo Aluísio.