quinta-feira, 12 de maio de 2011

Frank Sinatra - Swing Easy!

Quando Frank Sinatra foi para a gravadora Capitol ele queria mesmo mudar, procurar por novos rumos. Com um contrato que lhe dava plena autonomia na gravação de seus discos ele começou a planejar cuidadosamente cada álbum. Os LPs da carreira de Sinatra na Capitol eram extremamente pessoais pois ele pensava me praticamente tudo, da seleção musical às capas, dos arranjos aos menores detalhes. Tudo partia de Sinatra e tinha que passar por ele antes de qualquer decisão definitiva. De certo modo Sinatra era visto quase como um tirano pelos executivos da gravadora, mas havia uma clara razão para isso: Sinatra almejava a perfeição e acima de tudo o sucesso. Sua fase na Capitol é para muitos críticos não apenas a mais comercial de sua carreira, como também a mais criativa, pessoal e brilhante de Sinatra. Ele suavizou tudo, desde seu visual até às próprias canções, procurando por um repertório agradável que soasse bem aos ouvidos do homem comum da América.

Esses álbuns da Capitol não foram pensados e nem criados para um público mais erudito. O próprio Sinatra dizia que os realizou para o trabalhador comum que precisava relaxar na sala de sua casa após um dia duro de trabalho. Por essa razão notamos em praticamente todos os discos dessa fase essa suavidade agradável que tanta caracteriza esses trabalhos musicais. A intenção de agradar era tamanha que Sinatra resolveu abrir algumas sessões de gravação para o público e jornalistas. Alguns fãs eram escolhidos pela produção de Sinatra, além de críticos musicais de renome. Todos acompanhavam o método de trabalho do cantor atrás dos microfones.

O mais curioso é que Sinatra acabava criando uma relação com essas pessoas, quase como se estivesse perante um grande público. Entre um gole e outro de café ele ia cantando, contando piadas ou histórias engraçadas, enquanto interagia com seus músicos (apenas os melhores, escolhidos a dedo por Sinatra e o produtor Nelson Riddle entre as principais big bands americanas da época). Frank geralmente escolhia um horário especial para trabalhar (entre oito da noite à meia-noite). Nesse meio tempo ele dava o melhor de si, entretinha os convidados, tudo em um clima muito íntimo e aconchegante. O resultado? Um dos discos mais simpáticos e de fácil digestão do velho Sinatra. Uma verdadeira preciosidade que não pode faltar em sua coleção de (boa) música.

Frank Sinatra - Swing Easy! (1954)
Just One of Those Things
I'm Gonna Sit Right Down (And Write Myself a Letter)
Sunday
Wrap Your Troubles in Dreams
Taking a Chance on Love
Jeepers Creepers
Get Happy
All of Me

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Paul McCartney - Egypt Station

Esse é o novo álbum de Paul McCartney. "Egypt Station" é o seu título. Como se pode perceber ele não está nem um pouco disposto a se aposentar. John Lennon sempre disse que Paul era viciado em trabalho. A mais pura verdade. Esse álbum me deixou bem satisfeito, mais do que os anteriores. Paul abraçou novamente as boas melodias, as sonoridades agradáveis ao ouvido, voltando para aquele tipo de música que sempre foi sua marca registrada. É um repertório que me fez lembrar dos melhores discos de Paul nos anos 80. Ele definitivamente não perdeu a mão em compor e produzir músicas nesse estilo. Isso você perceberá logo no começo do CD. "I Don't Know" tem um belo arranjo em piano e violão. Seus primeiros acordes me fizeram lembrar imediatamente de "Only Love Remains". A letra é simples, passando uma mensagem que não vai mudar o mundo, mas que agrada bastante. Aqui Paul acerta justamente por escolher o simples e eficiente. Nada de sons exagerados, tentando evocar uma modernidade que não agrega em nada no final das contas.

Como não poderia deixar de ser a faixa mais comentada entre os fãs brasileiros é justamente a música que Paul fez em homenagem ao nosso país. Os primeiros acordes já entregam que Paul foi em busca de inspiração na boa e velha Bossa Nova. Depois ele acrescenta uma sonoridade mais moderninha, mas sem nunca deixar o acompanhamento inicial. Essa canção que Paul batizou de "Back in Brazil" foi composta quando ele estava em turnê pela terra brasilis. Segundo o produtor Greg Kurstin essa foi uma das primeiras canções gravadas e uma das que mais deram trabalho a Paul em estúdio. Sim, o Brasil não é para iniciantes! Outro destaque desse disco é "Hand in Hand". Seu estilo me fez lembrar muito das canções do disco "London Town" de 1978. É a mesma simplicidade romântica, com poucos instrumentos ao fundo, quase como se Paul estivesse cantando uma canção de ninar. O arranjo de quarteto de cordas que vai surgindo aos poucos também acrescenta muito ao resultado final. Achei acima de tudo uma faixa cativante, principalmente para quem é fã de longa data do ex-Beatle.

Gostei de "Who Cares" desde a primeira vez que ouvi. Certo, a canção tem um começo meio esquisito, mas depois que Paul coloca para fora seu lado, digamos, experimental, a canção embala. É uma daquelas faixas que me lembram dos discos de Paul lá por volta de meados dos anos 80. Com um arranjo de guitarras bem à vontade, é um dos bons momentos do disco. Uma faixa crua que cumpre o que promete. Já "Fuh You" parece simplória em seus primeiros acordes. Porém é preciso reconhecer que ela tem uma das melhores melodias do álbum e um refrão que vai grudar na sua cabeça de forma definitiva. Com duas audições você já pegou a linha da canção, não a esquecendo mesmo. É aquele tipo de som descompromissado que fez a carreira solo de Paul. Não me admira que esse CD tenha vendido tanto. Sua sonoridade que nos remete ao bom e velho Paul dos anos 80 aqui prova que a antiga fórmula ainda funciona muito bem. Típico som para tocar na FM naquela viagem de carro que você vai ter que fazer no fim de semana.

Gosta de uma boa balada ao violão? Então a dica do álbum é a singela "Confidante". Paul disse que sempre compôs ao longo da vida com basicamente apenas dois instrumentos: violão ou piano. Suas músicas mais clássicas sempre foram feitas ao piano. As mais bucólicas sempre surgiram nas cordas do violão que ele sempre gosta de carregar para onde vai, até porque a inspiração pode pintar a qualquer momento, em qualquer lugar. Essa faixa foi composta ao violão, enquanto Paul tirava férias numa estação de verão nos Estados Unidos. Composta à beira do lago mantém bem esse clima. Mais um momento agradável do álbum. Gostei bastante. Devo dizer que não curti muito "People Want Peace". Não se trata de implicância com a letra pacifista onde Paul tenta apertar um botão para virar o ativista John Lennon dos anos 70. Nada disso. Certo que a música tem muitos clichês - alguns já mais do que saturados - porém o que derrapa aqui em minha opinião é a própria melodia, que considero fraca e sem direção. O finalzinho com todo mundo batendo palma, como se estivessem em um acampamento hippie, também não convence em nada. Esse tipo de música era com John Lennon, não tem jeito. Com Paul parece forçada e falsa. 

Enfim, essas são algumas músicas que mais me chamaram a atenção, mas há outros bons momentos certamente. Em termos de música todos acabam desenvolvendo seus próprios gostos pessoais, como é de praxe. Minha conclusão sobre esse álbum de Paul McCartney é que ele obviamente perde em comparação com outras obras musicais do passado desse grande artista, mas em relação a outros CDs mais recentes até que se sai muito bem. Talvez haja excesso de faixas (18 são um pouco demais em minha opinião) teriam deixado o disco mais enxuto, com mais qualidade. Entretanto esse é uma escolha pessoal do artista. Assim o que temos é um álbum acima de tudo agradável de se ouvir.

Paul McCartney - Egypt Station (2018)
Opening Station
I Don't Know
Come On to Me
Happy with You
Who Cares
Fuh You
Confidante
People Want Peace
Hand in Hand
Dominoes
Back in Brazil
Do It Now
Caesar Rock
Despite Repeated Warnings
Station II
Hunt You Down/Naked/C-Link

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de maio de 2011

George Michael - Faith

Fim de ano é tempo de organizar algumas bagunças. Remexendo em uma velha pilha de discos de vinil da minha velha coleção acabei me deparando com uma cópia antiga, já bem gasta pelo tempo, desse "Faith". Para matar um pouco a saudade resolvi colocar para tocar algumas faixas. Provavelmente apenas Michael Jackson e Madonna eram mais populares do que George Michael na década de 80. O cantor inglês era um dos maiores vendedores de discos do mundo! Suas turnês lotavam estádios planeta afora e George Michael tinha um fã clube tão forte e organizado como os de Madonna e Michael Jackson. "Faith" foi seu auge absoluto. Depois de um começo de carreira no Wham! (uma espécie de Menudo em versão dupla) o cantor rompeu com o antigo amigo e se lançou em carreira solo.

Após assinar com uma grande gravadora ele mudou o visual (saiu o estilo namoradinho de colegial e entrou o jeito motoqueiro de ser). George Michael encarnava naquele momento o cara durão de rua, que arranjava briga em bares de motoqueiro onde só havia caras durões para bater. Com uma jukebox dos anos 50 ao lado e casaco de couro negro, o cantor praticamente se reinventou. O novo design caiu imediatamente no gosto de seu extenso fã clube. "Faith" vendeu quase 30 milhões de cópias ao redor do mundo! George Michael com seu visual de borracharia, barba por fazer e óculos espelhados virou um ícone de sensualidade e perigo para todas as adolescentes do mundo! Depois de conquistar o primeiro lugar nas paradas George Michael partiu para conquistar o mundo através de turnês megalomaníacas! Lotou estádios dos EUA à Europa e até no Brasil o ídolo das massas aterrissou.

Foi um dos primeiros álbuns gravados digitalmente no mundo - uma revolução e tanto para aquela época. George Michael mostrando uma maturidade incomum foi praticamente o único produtor de todas as faixas. Usando a nova tecnologia ao limite ele conseguiu produzir um disco único que até hoje causa admiração em quem ouve. Além disso ele sempre mostrou ser um intérprete muito talentoso, com voz muito agradável. Infelizmente assim como aconteceu com Michael Jackson, sua vida pessoal cheia de problemas e escândalos nublaram a isenção dos que escreviam sobre suas obras. O fato porém é que George Michael nunca mais voltou ao nível comercial e artístico que apresentou nesse "Faith", um álbum que até hoje é um dos maiores representantes da musicalidade da década de 80. Um apogeu que jamais voltaria a acontecer em sua carreira.

1. Faith (George Michael) - Inegavelmente é um pop descartável dos anos 80, música para tocar nas estações de rádio FM. Tudo feito para consumo rápido. A música título "Faith" vai justamente por esse lado. Agora pare para pensar um pouco. Compare essa pop music dos anos 80 com o que se ouve hoje em dia no Dial de sua programação. É algo muito superior a qualquer coisa que se ouça hoje em dia. Os arranjos dessa música são caprichados, lembrando inclusive as guitarras dos anos Rockabilly. Isso fica ainda mais evidente pelo próprio visual de George Michael nesse álbum. Ele surge como um roqueiro dos anos 50, com direito a casaco preto de couro e tudo. Uma antiga guitarra vintage completa o quadro. Ficou muito legal!

2. Father Figure (George Michael) - "Father Figure" foi outro grande sucesso desse álbum. É uma balada, mas que se diferencia justamente pelo estilo vocal de George Michael. Ele a canta em sussurros, causando um efeito de confissão em quem ouve a faixa. O coro feminino só valoriza ainda mais a canção. É aquela sonoridade anos 80 que se você ouviu na época nunca mais esqueceu. Extremamente fixada em sua mente. Coisas de produtor. A letra é também extremamente sensual. Em primeira pessoa George Michael conta para sua garota que quer ser sua figura paterna. Não na linha de se tornar um Sugar Daddy da jovem, mas sim ali lado a lado, desfrutando de momentos mais íntimos possíveis. Um violão espanhol solando ao fundo completam o quadro de sensualidade latente.

3. I Want Your Sex (I & II) (George Michael) - A música que mais fez sucesso desse álbum foi "I Want Your Sex (I & II)", Realmente um belo trabalho de arranjos providenciado pelo próprio George Michael que foi o produtor do disco. É interessante perceber também que essa faixa acabou sendo renegada pelo próprio George Michael alguns anos depois, principalmente depois que ele enveredou por uma linha mais séria em sua discografia. Não é mesmo incomum astros da música renegarem seus maiores sucessos depois de alguns anos. Até parece que sentem uma certa vergonha por terem feito sucesso com determinadas canções. Deixando isso de lado a canção tem um arranjo que mais parece um antigo R&B, com ênfase na parte mais acústica, isso sem deixar de lado o som mais sofisticado que acabou estourando nas rádios durante os anos 80. Já a letra, bem, essa era mais do que direta. Na época não se sabia que George Michael era gay, por isso o apelo de sua sexualidade pegou também as fãs em cheio. Com um visual bem másculo, com jeitão de roqueiro dos anos 50, George Michael logo se reafirmou como símbolo sexual para as garotas, algo aliás que vinha desde os tempos do Wham, só que naqueles tempos numa pegada mais juvenil.

4. One More Try (George Michael) - "One More Try" começa quase como uma música sacra. Essa balada foi outra que não saiu das paradas na época. De forma em geral esse foi mesmo o auge comercial da carreira do cantor. Praticamente todas as faixas do disco se tornaram hits. Impressionante. George Michael estava ali lado a lado com Michael Jackson e Madonna no domínio das paradas de sucesso. Aliás sempre cito os três artistas como a verdadeira "trindade" da música pop internacional dos anos 80. Seus discos eram formados de um sucesso atrás do outro. Em uma época onde a sonoridade da música comercial era infinitamente superior ao que se ouve hoje em dia eles se destacavam muito nesse aspecto. Sim, música comercial mesmo, feita para vender, mas com inegável qualidade.

5. Hard Day (George Michael) - "Hard Day" também é muito bem arranjada, porém é tal coisa, esse uso excessivo de sintetizadores (tão comum nos anos 80) deixou a gravação também bastante datada. A linha de baixo, instrumento mais tradicional e convencional, acabou salvando a canção de sua sonoridade 80s em excesso. Essa faixa fez relativo sucesso na época. Não é uma música de George Michael que você vai lembrar de imediato, mas bastará mais alguns segundo para que você se lembre bem dela. Tem um ritmo mais cadenciado. A letra não diz muita coisa, porém no conjunto se torna bastante razoável.

6. Hand to Mouth (George Michael) - A música começa com uma bateria digital (que era febre nos anos 80). A voz do George Michael também está modificada, muito remixada. Essa faixa fez um sucesso apenas razóavel em seu lançamento. Seu estrofe principalmente vai soar familiar para quem viveu a época. O refrão então, você lembrará com certeza. Mesmo assim penso que é uma faixa menor dentro do disco. Não chega a se destacar. Apenas seu ritmo mais relaxante vai chamar a atenção hoje em dia.

7. Look at Your Hands (David Austin / George Michael) - "Look at Your Hands" tem um arranjo tão anos 80! Esses saxofones, nesse tipo de linha melódica, me lembra imediatamente de Rob Lowe fingindo ser um músico naquele clássico "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas". Poderia ter feito parte dessa trilha sonora pois tem tudo a ver. Voltando para o "Faith" podemos perceber que a música tem seu embalo - com destaque também para as vocalistas femininas - mas nunca fez muito sucesso. Um Lado B de Michael. Bom embalo, dançante, bem produzida, mas sem maior brilho. Detalhe importante: foi composta em dupla com David Austin.

8. Monkey (George Michael) - A música "Monkey"ganhou clip, a gravadora se esforçou para fazer sucesso, mas a música nunca virou um hit! Por qual razão? Complicado dizer. O público tem seus próprios mistérios e nenhum analista consegue com certeza dizer se uma faixa vai ou não fazer sucesso. No videoclip temos uma parte em que George Michael, vestido de fazendeiro chic, com direito a suspensórios, dança em boa fotografia preto e branco. Na outra linha uma bem bolada edição mostra o cantor em diversos shows de sua turnê. É como eu escrevi, George Michael se esforçou muito para promover a canção - até fez coreografia própria, mas nunca pegou, nunca tocou bem nas rádios.

9. Kissing a Fool (George Michael) - E que tal beijar um tolo? Essa é a proposta de "Kissing a Fool". Ao contrário das anteriores esse bom swing fez sucesso e se tornou um hit internacional. O que não deixa de ser curioso pois é uma música bem simples, mas que caiu no gosto popular. Esse tipo de sonoridade me lembra muito os antigos cantores dos anos 40, com toda aquela ginga que se perdeu no tempo. Outro fato digno de nota: o arranjo não envelheceu nada e segue sendo tão saboroso e moderno como no dia em que chegou nas lojas pela primeira vez. Quem diria que essa faixa seria uma das mais impermeáveis ao tempo? Pois é... George Michael soando como algo novo, a última novidade.

10. Hard Day (Shep Pettibone Remix) (George Michael) - Numa época em que era raro termos remixes em álbuns de cantores e bandas, o George Michael inovou ao colocar essa faixa "Hard Day (Shep Pettibone Remix)". Era basicamente a mesma Hard Day, só que obviamente turbinada com todos os efeitos sonoros que eram possíveis nos anos 80. Ficou bem dançante, bem moderna, ideal para as pistas de dança. Importante chamar a atenção para o fato de que embora ainda não tivesse assumido publicamente que era gay o cantor era figurinha fácil em bailes e festas LGBTs. E ele bem sabia disso, tanto que contratou um grupo de DJs de Los Angeles especialmente para a elaboração desse remix. Um presente de George Michael para seu público mais fiel, obviamente.

11. A Last Request (I Want Your Sex Part III) (George Michael) - A mesma lógica fonográfica vem com "A Last Request (I Want Your Sex Part III)", só que aqui saiu o lado mais dance, frenético, para a entrada de uma balada bem calma, relax, bem diferente da "I Want Your Sex" original. Era fácil para George Michael brincar de produtor com esse tipo de faixa, afinal ele tinha à disposição o melhor dos mais modernos estúdios de gravação de Los Angeles e Nova Iorque ao seu dispor. Assim ele poderia dar diversas vertentes sonoras às músicas que havia gravado para o álbum "Faith". O resultado iria inspirar outros artistas a fazerem o mesmo, trilharem o mesmo caminho. Não deixou de ser uma inspiração bem interessante para quem gostava de música e sonoridade em geral. Foi até uma pequena revolução no mundo do disco que ele deu o pontapé inicial, quase sem querer.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Michael Jackson

Michael Jackson e Thriller
Os anos 80 foram de Michael Jackson. Elvis Presley estava morto, os Beatles tinham se separado e o trono de maior astro musical do mundo estava vago. Michael Jackson tomou esse trono justamente com esse álbum. "Thriller"foi durante anos o disco mais vendido da história, com mais de 50 milhões de cópias vendidas! Um número que hoje em dia é praticamente impossível de se alcançar. Aliás foi impossível até mesmo para o próprio Michael Jackson que nunca mais conseguiu alcançar esse marco comercial.

Estamos falando de outra era no mundo da música. Um tempo em que você necessariamente tinha que ter um vinil em mãos para ouvir o seu artista preferido. Hoje em dia nada mais parecido acontece. Alguns cantores não estão lançando nem mesmo mais CDs, tudo fica no virtual mesmo, em arquivos digitais. A indústria fonográfica se pulverizou! O curioso é que foi um álbum com poucas faixas, apenas nove no total. Na época os LPs vinham em média com dez a doze músicas. Isso decorreu do fato das músicas de Michael também terem duração maior do que o normal. O produtor Quincy Jones trabalhou de forma minuciosa em cada gravação, em cada detalhe  O disco trouxe uma produção primorosa, isso era algo inegável. Tanto capricho e trabalho foram recompensados.

Michael Jackson - Thriller - Box Special
Durante muitos anos Thriller foi o álbum mais vendido de todos os tempos. Um marco absoluto da música internacional. O cantor e compositor Michael Jackson chegou ao seu auge com esse trabalho realmente fantástico. Praticamente todas as faixas se tornaram hits, fazendo com que o álbum realmente fosse um fenômeno de vendas. Agora o trabalho ganhou uma recente modernização, através de um box com muito material de estúdio que seguia inédito. O produtor Quincy Jones (o verdadeiro gênio por trás do disco, ao lado de Michael Jackson, óbvio), foi até seus arquivos e encontrou muita coisa interessante.

O álbum foi produzido pela gravadora CBS, um braço do gigante da comunicação Columbia. Durante muitos anos os fãs só tiveram acesso ao disco original, tal como lançado na primeira metade dos anos 80, com encartes simples (contando com desenhos feitos pelo próprio Michael) e as letras das músicas. Nada de muito especial, nem mesmo nas inúmeras reedições do disco. O novo box promete trazer muito material que os fãs do cantor sequer imaginavam existir. Ainda há aspectos de direitos autorais a serem discutidos entre os herdeiros do astro, mas vamos torcer para que tudo caminhe bem e esse lançamento chegue mesmo nas mãos de seu público fiel.

Michael Jackson e Prince: Bad
Michael Jackson ainda segue sendo tema de interesse, mesmo após tanto tempo depois de sua morte. Um recente livro lançado nos Estados Unidos traz aspectos reveladores da intimidade do cantor, inclusive a descrição de seu quarto, que foi investigado pela polícia após sua morte. Fotos de crianças (até bebês!), frascos de remédios, roupas com sangue (não se sabe a origem delas) e dizem até pornografia infantil. Michael segue sendo um enigma complicado de desvendar.

Pois bem, um dos aspectos mais curiosos revelados nem vem dessa intimidade obscura do artista, mas sim de um encontro que foi durante muito tempo escondido do público. Algumas semanas antes de começar a gravação de seu novo disco "Bad" Michael se encontrou com Prince na sala da gravadora CBS em Los Angeles. Jackson queria que Prince participasse do seu novo álbum. Não apenas cantando em dueto na faixa principal "Bad" como também dançando no clipe.

O vídeo promocional traria Michael e Prince como líderes de gangues rivais que se encontrariam em um estacionamento de L.A. No começo tudo levaria o espectador a pensar que uma luta de punhais estaria prestes a começar, mas então ambos começariam a dançar, numa disputa para ver quem faria a melhor e mais bem elaborada performance. Seria genial se... Prince não gostasse da música. Realmente, com muito jeito, ele disse a Michael que não havia gostado de "Bad". Havia um trecho da canção que dizia: "A sua bunda é minha!" e Prince deixou claro para Michael que jamais cantaria um verso assim!

O encontro acabou terminando mal. Michael ficou ressentido pela recusa e nunca mais quis saber de Prince novamente. O grande encontro entre os dois ídolos pop dos anos 80 jamais aconteceria. O clipe foi gravado seguindo a ideia inicial, mas apenas como Michael atuando como astro. E ele também gravou a faixa sozinho. "Bad" não vendeu tanto quanto "Thriller" (isso jamais aconteceria de novo na carreira de Jackson) e por vários motivos foi considerado um disco decepcionante. Mesmo assim, entre polêmicas, recusas e batidas, o importante é que todos saíram são e salvos de mais essa tormenta na vida de Michael Jackson.

Michael Jackson Untouchable
Certas celebridades não conseguem morrer de fato. Suas vidas são fuçadas, estudadas, esmiuçadas ao extremo. Já havia acontecido antes em grande escala com Elvis Presley e agora começa a acontecer com outros ídolos mortos mais recentemente. A bola da vez é o superstar Michael Jackson. No livro "Michael Jackson Untouchable" o autor foca seu texto na vida íntima e sexual do cantor americano. Falar na vida sexual de Michael é algo que soa cansativo hoje para a maioria das pessoas pois durante anos esse tema foi exaustivamente explorado pela mídia. Como se sabe Michael Jackson foi acusado de ser pedófilo e teve que ir ao tribunal para se defender e provar que tudo o que diziam contra ele não era verdade. Agora surge uma nova visão sobre a vida do star. Para o autor Randall Sullivan a questão é simples de entender: Michael Jackson não era pedófilo, nem gay, nem hetero. Na verdade ele era assexuado e teria morrido virgem aos 50 anos de idade. Quem explica é o próprio Sullivan: "De todas as respostas que alguém pode dar sobre a pergunta central envolvendo a memória de Michael Jackson, a que tem mais apoio das evidências é a de que ele morreu como um virgem de 50 anos, tendo nunca feito sexo com nenhum homem, mulher ou criança, em um estado especial de solidão que é responsável em grande parte por ele ter se tornasse único enquanto artista e tão infeliz enquanto ser humano".

A declaração causou controvérsia essa semana nos Estados Unidos uma vez que Michael Jackson foi casado com a filha de Elvis Presley, Lisa Marie Presley. Será que o casamento tantas vezes acusado de ser  uma farsa jamais se consumou? Lisa Marie não quis dar declarações sobre o novo livro. O assunto para ela parece ter sido encerrado de forma definitiva. Para os fãs de Michael Jackson porém o tema ter voltado à tona agora é mais uma fonte de dor de cabeça pois terão que novamente responder às mesmas perguntas cansativas de antes como: Michael Jackson era pedófilo? Michael Jackson era gay? Michael Jackson era assexuado? O que significa isso afinal? As pessoas continuam extremamente preocupadas com a vida sexual alheia. O assunto como se vê parece longe de chegar ao fim. Para finalizar porém fica a grande pergunta nesse momento: E no que a afirmação de que Michael Jackson não era interessado por sexo se baseia? Segundo o autor ele teria ouvido pessoas próximas a Jackson como seu advogado Tom Mesereau, que defendeu Jackson das acusações de pedofilia em 2005. Mas afinal qual é a verdade no meio de tudo isso? Ninguém ao certo jamais saberá.

Michael Jackson, 60 anos
Se Michael Jackson estivesse vivo hoje estaria completando 60 anos de idade. Faz nove anos que morreu. Escrever sobre Michael é algo bem familiar em meu caso. Quando Thriller se tornou aquele fenômeno de vendas eu já me interessava muito por música, discos, etc. Ele foi o ícone máximo do mundo musical dos anos 80. Isso foi muito bom porque afinal ele era um artista extremamente talentoso, excelente cantor e dançarino e performance de palco realmente impressionante. O problema é que Michael gostava muito de ser uma celebridade. Assim ele herdou uma cera tara pelas manchetes nos jornais. Não importava que fossem escandalosas ou baseadas em atos bizarros de sua parte. Ele só tinha fixação em aparecer o tempo todo nos tabloides, isso apesar de publicamente dizer que odiava essa exposição.

Acabou sendo a armadilha mortal que o engoliu. Quando as acusações de abuso infantil surgiram ele ficou numa posição muito ruim porque perante a imprensa ele já vinha se promovendo como um sujeito diferente, fora dos padrões, completamente bizarro para muitos. Por isso as acusações de pedofilia o atingiram em cheio, algo que não aconteceria com outra pessoa que cultivasse um comportamento mais normal. Claro que gostei muito de suas músicas e de seus discos através dos anos. Inclusive deveria escrever mais sobre ele nesse blog. Como milhões de pessoas ao redor do mundo a arte de Michael Jackson fez parte da trilha sonora da minha vida. Pena que ele não soube, ao meu ver, capitalizar esse imenso talento apenas para o mundo musical, onde ele definitivamente foi um astro imortal.

Rancho de Michael Jackson é vendido
Finalmente conseguiram vender o rancho Neverland de Michael Jackson. O lugar estava à venda por anos. Inicialmente os herdeiros do cantor pediram 100 milhões de dólares. Ninguém mostrou interesse em comprar. E as coisas pioraram muito nos últimos anos. O rancho ficou praticamente abandonado, com os imóveis que fazem parte do rancho precisando de reformas urgentes. E depois que acusações voltaram para a mídia o interesse decaiu muito mais.

Como se sabe dois homens denunciaram Michael em um documentário chamado "Deixando Neverland", onde acusaram o cantor de ter transformado aquela propriedade isolada em uma verdadeira armadilha para crianças. O lugar tinha como tema Peter Pan, por isso se chamava Terra do Nunca. Havia lojas de doces, brinquedos, rodas gigantes, animais, tudo o que uma criança gostaria. Ao que tudo parece e foi denunciado também era um paraíso de pedofilia, onde Michael levava as crianças para ter relações sexuais nos lugares mais escondidos de Neverland.

Com um histórico pavoroso desses, nenhuma família mais tradicional quis comprar aquele rancho. Ron Burkle, um bilionário, ofereceu 20 milhões. Os herdeiros acharam muito pocuo, mas como ficaram sem opções fizeram uma contraoferta de 22 milhões. Assim o negócio foi fechado. Não se sabe quais são os planos do novo comprador. Neverland, que na verdade se chama Sycamore Valley Ranch, pode tanto ser utilizado comercialmente, para quem sabe transformar tudo em uma espécie de Graceland para fãs de Michael Jackson, como também pode ser usada para uso particular. Só o tempo dirá o que vai acontecer com esse lugar. 

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de maio de 2011

Bohemian Rhapsody: The Original Soundtrack

Um dos assuntos mais comentados dessa semana foi a estreia nos cinemas dessa cinebiografia do grupo Queen. Nem todo mundo gostou, principalmente os fãs reclamaram bastante do roteiro. No filme há diversos erros de data, desencontros narrativos, personagens de ficção que nunca existiram. Chegaram ao ponto inclusive de errarem as datas do Rock in Rio, dando a entender ao espectador que o festival aconteceu nos anos 70. Enfim, falhas não faltam. Para os fãs que leram os livros sobre a história da banda deve ter sido bem frustrante assistir a um filme com tantos erros em série.

Já a trilha sonora, como não poderia deixar de ser, é bem mais interessante. Aliás é uma ótima pedida para quem não tem nenhum CD do Queen, já que traz um balanço geral de todos os seus grandes sucessos, funcionando assim como uma coletânea abrangente. E para os fãs que já possuem todos os álbuns da banda, lançamentos especiais, etc, a gravadora resolveu anexar algumas gravações raras que não tinham saído ainda em nenhum lançamento anterior, inclusive com a primeira oficialização de músicas gravadas justamente no Rock in Rio. Elas até agora só tinham chegado nas mãos dos admiradores da música do Queen em bootlegs, CDs piratas em sua maioria. Enfim, um boa novidade nesse fim de ano, principalmente para dar de presente para aquele jovem que está começando a gostar de rock atualmente. Sem novidades relevantes no mercado roqueiro o jeito mesmo é lançar mão de coisas primorosas do passado. O Queen nesse aspecto cai muito bem.

Bohemian Rhapsody: The Original Soundtrack (2018)
1. 20th Century Fox Fanfare   
2. Somebody to Love
3. Doing All Right... Revisited
4. Keep Yourself Alive" (Ao vivo no Teatro Rainbow, Londres, 31 de março de 1974)   
5. Killer Queen   
6. Fat Bottomed Girls (Ao Vivo em Paris, França, 27 de fevereiro de 1979)   
7. Bohemian Rhapsody     
8. Now I'm Here (Ao vivo no Hammersmith Odeon, Londres, 24 de dezembro de 1975)   
9. Crazy Little Thing Called Love     
10. Love of My Life (Ao Vivo no Rock in Rio, 18 de janeiro de 1985)   
11. We Will Rock You (movie mix)   
12. Another One Bites the Dust     
13. I Want to Break Free    
14. Under Pressure (com David Bowie)   
15. Who Wants to Live Forever     
16. Bohemian Rhapsody (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
17. Radio Ga Ga (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
18. Ay-Oh (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
19. Hammer to Fall (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
20. We Are the Champions (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
21. Don't Stop Me Now... Revisited
22. The Show Must Go On"

Pablo Aluísio.      

O Heavy Metal dos anos 80

Olhando para o passado vejo que muitas pessoas da minha geração adoravam Heavy Metal. Nos anos 80 esse estilo musical teve mesmo uma explosão de popularidade, com centenas de bandas novas surgidas todos os anos. Eu vivi toda essa corrida de fãs de música em direção ao metal, mas nunca consegui gostar daquilo. Sempre fui um fã dos artistas clássicos do rock, em especial Beatles e Elvis Presley e toda a constelação de artistas que orbitavam ao redor deles.

Mesmo nos anos 80 quando o Heavy Metal se tornou a preferência entre os mais jovens, nunca me tornei ouvinte ou fã dessa vertente do rock. O Heavy Metal certamente produziu excelentes bandas como o próprio Iron Maiden, mas temos que reconhecer que muitas porcarias surgiram também na mesma época. É o efeito cascata, quando algum grupo de rock faz sucesso dentro de uma determinada linha, centenas de outras sem talento surgem ao mesmo tempo, sempre tentando faturar de forma rápida e fácil.

Houve uma infinidade de grupos sem qualquer qualidade musical. Como o Heavy Metal não valorizava tanto as melodias, mas sim o barulho, qualquer um poderia ostentar uma guitarra e com poucas notas e muita distorção fazer o barulho necessário para vender discos e bilhetes para seus concertos. Nem era necessário ser um bom músico, bastava apenas ter muita marra e cabelos cheios de laquê para fazer a alegria dos fãs. Hoje em dia isso é conhecido como rock farofa, mas nos anos 80, posso dizer por experiência própria, pessoal, eles eram levados bem à sério.

De certa maneira o Heavy Metal também colaborou a longo prazo para o declínio do rock. Não era todo mundo que topava curtir uma sonoridade tão excessivamente tribal, indo a shows onde tinha que dividir espaço com metaleiros balançando a cabeça como se fossem malucos. Virou assim um nicho muito específico e o público em geral, menos conhecedor de música, passou a associar diretamente o estilo rock com o Heavy Metal, sem perceber que essa era apenas uma espécie do amplo gênero chamado rock, mas não todo ele. Com isso o público passou a se distanciar, curtindo outros gêneros musicais. A marra juvenil do metal meio que afundou o rock como mainstream, o levando para guetos onde ainda hoje se encontra.

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de maio de 2011

Os Beatles e o Punk!

Ringo disse recentemente numa entrevista que os Beatles, quando ele os conheceu, não passavam de uma bandinha punk! Ora vejam só... o movimento punk (recordando) só veio a surgir mesmo nos anos 1970, quando os Beatles nem mesmo existiam mais. Ringo apenas usou uma metáfora, fora do tempo e espaço, para dizer que o grupo era bem rústico em termos musicais em seus primeiros shows, sim, havia poucas notas musicais, mas muito barulho.

Os Beatles foram punks? Não, historicamente as datas não batem, porém a comparação é válida. Claro que eles estavam mais para uma banda rockabilly que tentava seguir os passos de Elvis Presley (de quem eles eram absolutamente fãs) do que qualquer outra coisa. De qualquer forma essa fase ainda muito crua e inicial dos Beatles não deixa de ter sua importância. Eram jovens, músicos ainda iniciantes, tentando fazer um sonho distante (o de emplacarem como banda de rock) se transformar numa realidade.

Registros sonoros são poucos. Na época a tecnologia ainda era muito rudimentar. Certa vez um amigo de John Lennon levou um gravador doméstico (lembra deles?) para colocar na borda do palco enquanto os Beatles tocavam em um inferninho de Hamburgo, na Alemanha. Esse registro tosco, de péssima qualidade sonora, ainda existe, mas é complicado ouvir alguma música no meio de tanto barulho e ruídos. De fato o grupo, com todos os seus membros vestidos com roupas de couro, poderiam se passar por uma versão precoce dos Ramones. Isso se os Ramones não viessem a surgir muitos anos depois, nos anos 70, com vinte anos de diferença.

Também não é demais lembrar que o punk rock nasce como um reação ao rock progressivo. Esse era absurdamente complicado de ser reproduzido por um bando de garotos numa garagem qualquer. O espírito do antigo rockabilly, da primeira geração roqueira, veio então para abençoar de certa maneira o punk como estilo musical. Poucas notas, muita energia e atitude. Esse era o diferencial. Nada de arranjos que só poderiam ser reproduzidos por grandes músicos. Para essa visão o rock progressivo era acima de tudo muito chato, metido a intelectual demais e sem energia. O punk vinha então para recuperar esse lado mais juvenil e rebelde do rock primitivo.

Pablo Aluísio. 

A Morte de John Lennon

Faz 38 anos que John Lennon morreu. Como o tempo voa, não é mesmo? O pior é saber que sua morte foi completamente estúpida. Um ato irracional de um sujeito que se dizia fã dos Beatles, mas que na verdade não passava de um psicopata com delírios de grandeza, que acreditava que John era algum tipo de traidor da causa ou algo parecido.

Outros dizem que o assassino de Lennon era na verdade um homem que queria de alguma forma ligar sua vida à história dos Beatles para sempre. Em sua mente doente ele acreditava que matando John Lennon seria sempre lembrado pelos fãs dos Beatles. Talvez por essa razão - aliás melhor dizendo, justamente por essa razão - seu nome é sempre omitido em publicações produzidas por fãs e admiradores dos Beatles. Ninguém está disposto a dar os holofotes que ele tanto queria quando cometeu aquele crime gratuito.

E o John Lennon foi morto numa fase feliz de sua vida. Ele havia se acertado de vez com Yoko Ono, tinha um filho com ela, um rapazinho que ele idolatrava e procurava viver uma vida comum em Nova Iorque. Isso significava ter a liberdade de andar pelas ruas como qualquer outra pessoa, sem seguranças por perto ou ataques de histeria por parte dos fãs - algo que John odiava. Ele queria ser novamente um cara comum. Chegou até mesmo a celebrar isso em uma entrevista, dizendo que os nova-iorquinos o encaravam como um vizinho normal, daqueles que se dão bom dia ao se encontrar pelas ruas.

Ele estava completamente certo em seus objetivos de vida. Só errou ao calcular de forma equivocada a enormidade da fama que ainda o acompanhava. Grande fama também traz inúmeros problemas, entre eles a obsessão que alguns fãs desenvolvem. Existe até mesmo um filme antigo com Robert De Niro que explorava justamente esse lado obsessivo dos fãs, daqueles que acabam perdendo a vida própria para se dedicar a idolatrar suas estrelas preferidas, sejam elas do cinema, da música ou dos esportes. John Lennon acabou sendo morto justamente por causa desse tipo de pensamento doentio e obsessivo. Foi uma vítima de sua própria fama sem limites.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A-ha - Hunting High and Low

Vindo da distante e fria Noruega, o A-ha conseguiu o improvável. Cantando em inglês o trio conseguiu se destacar nas paradas americanas, fato completamente raro para um grupo norueguês. A sorte desses rapazes começou a mudar quando eles finalmente conseguiram um contrato com a poderosa gravadora Warner que resolveu acreditar nas músicas do A-ha após dar uma chance ao grupo. O trio era formado por um talentoso cantor, Morten Harket, que tinha bom visual e conseguia alcançar notas impossíveis, algumas delas inalcançáveis para muitos interpretes de sua idade, por um compositor produtivo e cheio de idéias criativas, Pål Waaktaar, e finalmente por um tecladista que colaborava com arranjos inspirados, Magne Furuholmen.  O álbum traria uma fórmula que seria seguida pelos três discos seguintes do grupo. Geralmente havia uma grande balada dando nome ao álbum, seguida por músicas com forte vocação ao sucesso radiofônico (o A-ha se notabilizou pelos refrões pegajosos e de fácil assimilação).

O carro chefe do disco foi a dançante “Take On Me” que foi lançada também em single, ganhando ainda um clip que ficou famoso na MTV americana. Nele havia uma fusão de atores reais (Live Action) com animação. Junte-se a isso o estouro dos primeiros concertos do grupo nos EUA e você entenderá porque o disco vendeu tanto (10 milhões de cópias, uma das estréias mais bem sucedidas do ponto de vista comercial da história da música). Na época houve quem classificasse o A-ha como mais uma boy band como muitas que surgiam a cada mês mas a comparação era completamente descabida. O trio era formado por músicos de verdade e vinha para ficar como provaram seus álbuns posteriores. No final daquele ano eles foram indicados como uma das bandas mais promissoras do cenário musical. A critica também gostou de seu pop dançante e romântico. Para celebrar (e relembrar) tanto sucesso o grupo resolveu relançar recentemente em CD “Edição Deluxe” o seu disco de estréia. Com várias faixas bônus em 2 CDs e encarte de luxo “Hunting High and Low” voltava às lojas tantos anos depois de seu lançamento como um verdadeiro presente para os fãs do grupo norueguês. Um relançamento mais do que bem-vindo.

1. Take on Me (Waaktaar / Furuholmen / Harket) - Essa música é o marco zero da carreira do A-ha. Ela já havia sido gravada em forma de fita demo na Noruega quando o A-ha ainda nem era conhecido ou famoso. Só após o grupo fechar um contrato com a filial da Warner Bros em Londres é que as coisas começaram a realmente acontecer. O estúdio americano acreditou no sucesso da faixa e decidiu produzir um clip para a canção. Esse videoclip logo se tornou muito popular na TV americana, justamente por combinar cenas com atores reais e desenhos animados. Em plena era do nascimento da MTV, canal especializado em música, o video acabou se tornando um dos mais queridos pelo público jovem. "Take On Me" chegou ao primeiro lugar da mais prestigiada parada de música dos Estados Unidos, a Billboard Hot 100 e em diversos outros países. De fato o A-ha teve uma das estreias mais explosivas da década de 80. Nada parecia igual. E o sucesso continuou depois com a edição do LP "Hunting High and Low" que tinha justamente essa música como seu carro chefe. É curioso que o A-ha tenha tido um ótimo começo no mercado americano, mas depois, com o passar dos anos, tenha se afastado desse mesmo mercado fonográfico. Hoje em dia a banda é muito mais consumida na Europa (em especial Alemanha e países nórdicos) do que na América. O hit fulminante de sua estreia acabou não se consolidando com o tempo.

2. Train of Thought (Waaktaar) - Uma das faixas mais bem produzidas desse álbum se chama "Train of Thought". Se trata de uma composição solo do guitarrista Pål Waaktaar. Embora a música não tenha sido necessariamente um hit, um sucesso, pois sua melhor posição foi a oitava na parada britânica, temos que admitir que é sem dúvida um dos melhores momentos do disco, ganhando muitos pontos a favor no quesito arranjos e ambientação. A letra também é excepcionalmente bem escrita, diria até que tem uma linguagem realmente cinematográfica, com foco nos detalhes, nos cenários, nos objetos de cena. É quase um roteiro de um filme dos anos 80. Se tem dúvidas sobre isso, leia esses versões da primeira estrofe da música: "Ele gosta de ter no jornal da manhã / As palavras cruzadas resolvidas / Palavras sobem, palavras descem / Para a frente, para trás, de trás para frente / Ele pega uma pilha de cartas e uma pequena valise / Desaparece para dentro de um escritório / É mais um dia de trabalho". Certamente poderia ser um roteiro de cinema, tudo está nos versos, a cena inteira descrita.

3. Hunting High and Low (Waaktaar) - A música título do álbum iria inaugurar uma tradição na discografia do A-ha, a de sempre usar baladas como canções que davam nome aos discos que viriam a seguir. "Hunting High and Low" tinha os elementos certos naquela fase da carreira do grupo. Inicialmente o grupo gravou uma primeira versão com uso muito abusivo de sintetizadores. Coube ao produtor Alan Tarney mudar os arranjos,apostando na participação de um belo som orquestral. Isso melhorou muito a canção e fez com que ela hoje em dia não soasse datada. A letra era bem romântica e evocativa, mostrando um homem apaixonado não conformado com o fim de seu romance, dizendo que iria lutar por aquele amor, a procurando por todos os lugares, escalando as maiores montanhas em busca da amada. Ficou bonito, apenas um pouquinho sentimental demais, como se um poeta da segunda geração romântica a tivesse escrito. Mesmo assim com o som da orquestra e um belo vocal o resultado final não ficou menos do que excelente..

4. The Blue Sky (Waaktaar) - Na Inglaterra a canção Hunting High and Low foi lançada como single trazendo "The Blue Sky" como lado B. Essa segunda faixa, mais uma composição do talentoso Pål Waaktaar, tem um ritmo bonito, mas acredito que o excesso de uso de seu refrão a prejudicou um pouco. É uma composição que se encaixa perfeitamente como uma coadjuvante dentro do álbum, por isso não alcançou maior repercussão nas paradas e nem foi muito utilizada pelo grupo em seus shows ao vivo. É mesmo um autêntico lado B do A-ha.

5. Living a Boy's Adventure Tale (Waaktaar / Harket) - O quadro se repete um pouco em "Living a Boy's Adventure Tale". Aqui temos uma melodia bem bonita, valorizada ainda mais pelos belos vocais de Morten Harket. A canção é outra composição feita exclusivamente por Pål Waaktaar que por cortesia e cordialidade aceitou colocar o vocalista como co-autor por causa de algumas sugestões dadas por ele dentro do estúdio. A sonoridade leve e relaxante também bebeu da fonte do rock escocês dos anos 80 A influência fica bem clara no uso orquestral ao fundo, característica de muitas bandas de Edimburgo daquele período.

6. The Sun Always Shines on TV (Waaktaar) - "The Sun Always Shines on TV" foi outro grande sucesso desse álbum. Foi lançada também como single, o terceiro extraído desse disco. Sucesso nas rádios, consolidou ainda mais a fama do A-ha na Europa e nos Estados Unidos. Também deu origem a um excelente videoclip, bem no momento em que o mundo da música ia popularizando ainda mais esse tipo de vídeo promocional. Tempos de MTV em seu nascimento e auge. É um clássico do A-ha.

7. And You Tell Me (Waaktaar) - "And You Tell Me" é uma faixa mais secundária dentro do disco. Tem uma bela melodia, muito bonita, porém é inegável que seus arranjos com uso intenso de sintetizadores a datou bastante. Uma boa ideia para o grupo seria gravar uma nova versão dessa bela balada apenas no estilo acústico, voz e violão e quem sabe um bonito arranjo de quarteto de cordas ao fundo. Ficaria muito bonita de se ouvir realmente. Aqui temos mesmo que ignorar os arranjos dos anos 80 para se chegar no núcleo da canção, de suas notas. Nesse aspecto continua sendo uma maravilha.

8. Love is Reason (Furuholmen) - Outro hit do álbum, só que em menor escala, foi "Love is Reason", Voltando pela memória aos anos 80 me recordo bem que essa música foi bastante tocada nas rádios na época. Curiosamente não ficou datada, mantendo-se firme mesmo após tantos anos de seu lançamento original. A composição é do tecladista Magne Furuholmen. Durante toda a carreira do A-ha ele nunca foi o criador mais habitual das músicas, esse posto sempre coube ao guitarrista Paul Waaktaar. Mesmo assim se saiu muito bem nessa baladinha que até hoje empolga e faz o ouvinte querer estar numa pista de dança..

9. I Dream Myself Alive (Waaktaar / Furuholmen) - A canção "I Dream Myself Alive" é uma dobradinha entre Magne Furuholmen e Paul Waaktaar. Essa sempre foi um Lado B do A-ha pois nunca fez muito sucesso, não conseguindo se destacar nas paradas da época. Tem um refrão pegajoso que se repete várias vezes ao longo de sua audição. Não acho particularmente uma das melhores coisas do disco. Mereceu esse papel mais coadjuvante dentro do repertório do LP.

10. Here I Stand and Face the Rain (Waaktaar) - "Here I Stand and Face the Rain" é uma faixa forte do disco. Uma bela criação solo de Paul Waaktaar. Esse tipo de som me faz lembrar muito de seu trabalho no Savoy. Tem esse estilo mais clássico, diria até quase épica. Aqui não há o que criticar em termos de arranjos. A gravação ficou mesmo excelente, imune à passagem dos anos. Grande trabalho do grupo como um todo onde tudo está perfeitamente no lugar certo.

A-ha - A-ha - Hunting High and Low (1985) - Magne Furuholmen (teclados) / Morten Harket (vocal) / Pål Waaktaar (guitarra) / Compositores: Magne Furuholmen / Morten Harket / Pål Waaktaar / Data de Gravação: dezembro de 1984 / Gravadora: Warner Bros / Local de Gravação: Warner Studios, Londres / Produção: John Ratcliff Alan Tarney.

Pablo Aluísio.

The Doors - L.A. Woman

O disco final da banda The Doors, "L.A.Woman", foi gravado em oito canais entre dezembro de 1970 a fevereiro de 1971, no Doors Workshop (Hollywood, CA). Esse era um estúdio pequeno, improvisado no escritório do grupo. Logo no começo dos ensaios Jim percebeu que o som ficava ótimo dentro do banheiro e sugeriu que toda a banda fosse para dentro do sanitário! Com a recusa dos demais membros da banda, o Rei Lagarto não se fez de rogado, gravou todas as faixas sentado em um banquinho ao lado da privada... O disco foi lançado oficialmente nos EUA no final de abril de 1971. A produção ficou com Bruce Botnick e os próprios The Doors. Panelinha nativa.

Mesmo contendo três das canções mais famosas dos Doors (a faixa título, Love Her Madly e Riders on the Storm) e ter sido um dos discos mais vendidos da banda (fazendo deles o primeiro grupo de rock americano a receber sete discos de ouro consecutivos), "L.A. Woman" é uma obra que pode não ser rapidamente digerida pelos admiradores do grupo. Como Morrison Hotel já dava sinais, os Doors haviam se transformado mais do que nunca numa banda de blues, e esse último lançamento é basicamente todo dedicado a esse estilo. A diferença pode ter sido acentuada com a saída do produtor Paul Rothchild, que não gostou do que ouviu nos ensaios das novas canções e decidiu se afastar dos Doors.

Assim, resolveram produzir a si mesmos com o auxílio de Bruce Botnick, que havia sido o engenheiro de gravação dos outros discos, e prepararam o novo álbum em um estúdio improvisado no escritório da banda. Num ambiente calmo e familiar (os vocais eram feitos no banheiro, que possuía uma melhor acústica), prepararam as faixas no chamado "estúdio ao vivo", onde todos os instrumentos são tocados e gravados ao mesmo tempo, como num show. O resultado foi simples e excelente, uma grandiosa despedida de Jim Morrison. Curiosidade: o nome Mr. Mojo Risin', repetido diversas vezes durante a canção L.A. Woman, é um anagrama de Jim Morrison. Reordenando as letras é possível formar o nome do vocalista. Além disso é o nome de uma entidade de vodu, muito em voga na cidade de New Orleans, no sul dos EUA.

1. The Changeling (Jim Morrison) - Para muitos essa canção chamada "The Changeling' é um blues visceral. Para outros o único funk feito por brancos que valeu a pena ouvir (pelo amor de Deus, estamos falando aqui do funk americano verdadeiro, não daquelas coisas que são chamadas de funk no Rio de Janeiro e demais cidades pelo Brasil afora!). No final das contas não importa a exata classificação da música, o que importa mesmo aqui é a bela performance de Morrison (visivelmente "alto", dando gritos de empolgação) e sua banda. Curiosamente apesar de ser muito bem executada, com ótimo arranjo, a canção não deu muito trabalho aos Doors. Em poucos takes eles chegaram na versão definitiva. E pensar que esses ótimos solos de guitarra de Robby Krieger foram alcançados quase de primeira mão dentro do estúdio. Virtuosismo pouco é bobagem.

2. Love Her Madly (Robby Krieger) - "Love Her Madly" acabou sendo escolhida para ser uma das músicas de divulgação do álbum. Com ritmo nitidamente alegre e simpático, com a cara de Krieger, realmente parecia ser a ideal para virar um hit das rádios. A canção tem algumas paradinhas em sua melodia típicas para se ouvir nas praias californianas. Tudo muito soft e relax. Por ter essa característica tão comercial, digamos assim, não a colocaria entre as grandes faixas desse álbum. Dançante, com bom arranjo, mas em essência simplória demais para estar à altura das outras mensagens de Morrison e sua mente privilegiada. Jim aliás a achou "engraçadinha" demais da conta, mas como gostava de Krieger a gravou sem causar maiores problemas para seu amigo de banda.

3. Been Down So Long (Jim Morrison) - Depois começamos a ouvir os primeiros acordes de "Been Down So Long". Vamos aos fatos: Jim estava interessado mesmo em cantar blues nessas sessões. Embora isso de certa forma aborrecesse o batera Densmore, Morrison queria mesmo se entregar de corpo e alma ao ritmo. Essa "Been Down So Long" é o primeiro grande blues do disco. Morrison visivelmente entregue, se farta com uma canção extremamente bem arranjada, com os demais membros do Doors em momento inspirado. Curiosamente a ordem dos instrumentos foi levemente alterada para essa gravação. Não havia necessidade de órgão e nem piano e por essa razão Ray Manzarek trocou os teclados pela guitarra rítmica. Robby Krieger ficou responsável pelo Slide guitar e um terceiro guitarrista, o músico Marc Benno, ficou na base. Completando a equipe os Doors ainda contaram com Jerry Scheff, o baixista de Elvis Presley. Assim acabaram atendendo às velhas críticas que sempre afirmavam que os Doors precisavam urgentemente de um baixo em suas canções, algo que nunca havia se tornado um problema, mas que agora tinham resolvido suprir contratando o baixista da banda do Rei do Rock.

4. Cars Hiss by My Window (Jim Morrison) - Foi justamente a gravação dessa faixa "Cars Hiss by My Window" que irritou o baterista Densmore. Anos depois ele declararia numa entrevista: "Tudo bem para um vocalista pois aqueles blues eram ótimos nesse aspecto. Já para um batera como eu, era extremamente chato esse tipo de canção. Não há como inovar ou trazer coisas interessantes. A coisa toda vira um tédio. O ritmo se mantém o mesmo em praticamente todo o tempo". Se para Densmore tudo era tédio puro o mesmo não se pode dizer para o brilhante trabalho de guitarra do mestre Krieger. Ele praticamente sola da primeira a última estrofe, criando um duelo de melodia com a voz de Morrison, que aliás surge perfeita, dando a impressão de estar levemente embriagada - o que convenhamos casa perfeitamente com a proposta da gravação e da letra. Impossível ficar indiferente a esse belo momento dark etílico da carreira do grupo.

5. L.A. Woman (Jim Morrison) - "L.A. Woman" foi creditado a todo o grupo, ou seja, Morrison, Manzarek, Densmore e Krieger. Basicamente é uma declaração de amor de Morrison para a cidade de Los Angeles. Em uma de suas últimas entrevistas Jim Morrison explicou que L.A. o tinha acolhido em um momento particularmente complicado de sua vida, quando finalmente resolveu largar a universidade e viver como um vagabundo errante pelos arredores de Venice Beach, e que por essa razão era eternamente grato a ela. "Se disserem que nunca a amei certamente estarão mentindo" - decretou o cantor. Curiosamente em sua letra Morrison acaba humanizando a cidade, a identificando de forma surrealista com uma mulher, tudo sendo criado em um plano puramente subjetivo e poético, de sua maneira muito peculiar de enxergar a realidade. Os lugares da cidade por onde parece caminhar se misturam com os delicados devaneios do corpo de uma mulher amada, misteriosa e Inatingível. Em termos técnicos considero essa uma das melhores gravações da carreira dos Doors. A música tem uma melodia envolvente, que desfila em uma crescente euforia que também vai contagiando o ouvinte, tudo indo desembocar em um excesso de explosões emocionais. Certamente uma obra prima da carreira do grupo. Genial mesmo.

6. L'America (Jim Morrison) - "L'America" é outra composição de Jim Morrison com forte influência cinematográfica. É praticamente um road movie, como eram chamados os filmes de estrada, com enredos versando sobre pessoas que em determinada manhã simplesmente decidiam ligar o carro e pegar a estrada, rumo a lugar nenhum. Morrison assim vai narrando em forma sensorial essa trip, onde ele se coloca como aquele forasteiro que chega numa cidade onde não conhece ninguém. Os homens não gostam de sua chegada, mas as mulheres acabam ficando atraídas pela sua presença. A letra é até simples, com poucos versos, mas funciona muito bem, afinal Jim Morrison era um grande poeta e escritor.

7. Hyacinth House (Ray Manzarek / Jim Morrison) - "Hyacinth House" também servia de trilha sonora para essa via crucis do cantor pelos lugares menos glamourosos de Los Angeles. Aqui, em versos simples, Jim dava uma indireta até mesmo para os colegas de banda. Ele estava meio de saco cheio de viver ao lado de pessoas que só o criticavam. Isso justificava versos como: "Eu preciso de um novo amigo que não me incomode / Eu preciso de um novo amigo que não me atrapalhe / Eu preciso de alguém que não precise de mim". Essa última frase era uma resposta direta a John Densmore, o baterista dos Doors, que havia dito durante as gravações que o grupo poderia seguir em frente, mesmo sem Jim nos vocais. O clima entre eles, como se podia perceber, não era dos melhores.

8. Crawling King Snake (John Lee Hooker) - De todas as faixas uma das mais representativas é justamente essa "Crawling King Snake". Esse é um blues antigo, clássico, um verdadeiro standart. Presume-se (ninguém tem certeza) que a canção foi composta por cantores de blues de cabarés na década de 1920. Só depois vieram as primeiras gravações. Naquela época os compositores e cantores de blues eram considerados vagabundos, artistas que vendiam suas criações em troca de uma garrafa de whisky, as gravando em pequenos estúdios do tipo fundo de quintal. Assim as origens de músicas como essa acabavam se perdendo nas areias do tempo. A versão de Morrison bebe diretamente (sem trocadilhos infames, por favor!) da gravação de John Lee Hooker dos anos 1940. Em minha opinião essa versão dos Doors é inclusive superior às gravadas por Howlin' Wolf e Muddy Waters, Um registro excelente, com muita alma e espírito (provavelmente vindo diretamente das entidades que norteavam a mente do embriagado Morrison). Melhor do que isso, impossível.

9. The WASP (Texas Radio and the Big Beat) (Jim Morrison) - Outra excelente faixa desse álbum, tanto em termos de composição como gravação é a diferente "The WASP (Texas Radio and the Big Beat)". Essa canção soava como se você estivesse dirigindo por alguma estrada do Texas e sintonizasse uma rádio de blues no dial. A sigla WASP era uma referência aos brancos, aos protestantes, aos anglo-saxões, considerados "a nata" da sociedade americana. Essa sigla inclusive foi usada por organizações racistas para classificar o que era um "verdadeiro americano", pessoas bem acima do restante da escória, ou seja, dos negros, dos latinos, dos imigrantes e de todos aqueles que não se enquadrassem na visão racista e canalha da Klan. Jim obviamente usou o WASP como ironia, como crítica, como uma forma de debochar da mentalidade dessa gente. Jim incorpora um DJ na música e declama versos como esse: "Os negros brilhantemente enfeitados na selva / Estão dizendo "Esqueçam as noites" / Vivam conosco na floresta azulada / Aqui fora no perímetro não há estrelas / Aqui estamos petrificados - imaculados.". Morrison estava particularmente inspirado para escrever letras nesse disco.

10. Riders on the Storm (Jim Morrison / Ray Manzarek / Robby Krieger / John Densmore) - "Riders On The Storm" foi lançada em single, em junho de 1971. Foi o segundo compacto simples extraído deste disco. "Riders on the Storm" é uma canção visceral, excepcionalmente bem produzida e que mostra que em poucos anos o grupo atingiu uma maturidade precoce. A letra é bem emblemática e mostra como o cinema influenciou o trabalho poético de Jim, basta ler a letra e ver como tudo se desenrola como um verdadeiro roteiro de um filme, uma cena rápida, bem ao estilo de alguém que frequentou uma escola de cinema, um verdadeiro outsider cinematográfico. Bem, essa canção dispensa maiores comentários, nem vou relembrar o fato dela ter sido inspirada em um fato real ocorrido com Jim em sua infância, quem assistiu ao filme de Oliver Stone, sabe do que estou falando, por isso não vou me repetir aqui. Em suma, essa música é vital, essencial na história do Rock Mundial. No Lado B do single foi colocada "Changeling", um blues ao velho estilo. Todos concordam em um ponto, "L.A.Woman" é basicamente um trabalho de Blues. Jim poderia até mesmo ter chamado esse disco de "The Doors Blues Album" se quisesse. É uma faixa forte, recomendada para bluesmen inveterados.

Singles extraídos desse álbum:

Love her madly / Don't go no farther - Em março de 1971 os Doors lançaram seu penúltimo single. O interessante deste compacto simples foi a escolha de uma das canções do disco como lado principal. "Love Her Madly" não tem a importância de "Riders on the Storm" ou ainda "L.A.Woman", mas foi ela a eleita para figurar como música "carro chefe" do disco. Não a considero uma canção altamente relevante dentro da discografia da banda, mas me parece que ela foi escolhida por ser a mais comercial, a mais fácil de ser digerida pelas rádios americanas. No lado B desse single temos uma música que hoje em dia é considerada uma verdadeira raridade. Se você já ouviu "Don't go no farther" por aí se considere privilegiado pois essa faixa sumiu da discografia da banda após seu lançamento nesse single.

Riders on the storm / Changeling - Em junho de 1971 o grupo lançou o segundo single extraído deste disco. "Riders on the Storm" é uma canção visceral, excepcionalmente bem produzida e que mostra que em poucos anos o grupo atingiu uma maturidade precoce. A letra é bem emblemática e mostra como o cinema influenciou o trabalho poético de Jim, basta ler a letra e ver como tudo se desenrola como um verdadeiro roteiro de um filme, uma cena rápida, bem ao estilo de alguém que frequentou uma escola de cinema, um verdadeiro outsider cinematográfico. Bem, essa canção dispensa maiores comentários, nem vou relembrar o fato dela ter sido inspirada em um fato real ocorrido com Jim em sua infância, quem assistiu ao filme de Oliver Stone, sabe do que estou falando, por isso não vou me repetir aqui. Em suma, essa música é vital, essencial na história do Rock Mundial. No Lado B do single foi colocada "Changeling", um blues ao velho estilo. Todos concordam em um ponto, "L.A.Woman" é basicamente um trabalho de Blues. Jim poderia até mesmo ter chamado esse disco de "The Doors Blues Album" se quisesse. É uma faixa forte, recomendada para bluesman inveterados.

The Doors - L.A. Woman (1971): Jim Morrison (vocais) / Ray Manzarek (piano, órgão) / Robby Krieger (guitarra) / John Densmore (bateria) / Jerry Scheff (baixo) / Marc Benno (guitarra) / Produzido por Bruce Botnick, Joey Levins e The Doors / Selo: Elektra Records / Local de gravação: The Doors' Workshop, Santa Monica Boulevard, Los Angeles / Data de gravação: Dezembro de 1970 - Janeiro de 1971 / Data de lançamento: Abril de 1971.

Pablo Aluísio.