sexta-feira, 6 de maio de 2011

A-ha - Hunting High and Low

Vindo da distante e fria Noruega, o A-ha conseguiu o improvável. Cantando em inglês o trio conseguiu se destacar nas paradas americanas, fato completamente raro para um grupo norueguês. A sorte desses rapazes começou a mudar quando eles finalmente conseguiram um contrato com a poderosa gravadora Warner que resolveu acreditar nas músicas do A-ha após dar uma chance ao grupo. O trio era formado por um talentoso cantor, Morten Harket, que tinha bom visual e conseguia alcançar notas impossíveis, algumas delas inalcançáveis para muitos interpretes de sua idade, por um compositor produtivo e cheio de idéias criativas, Pål Waaktaar, e finalmente por um tecladista que colaborava com arranjos inspirados, Magne Furuholmen.  O álbum traria uma fórmula que seria seguida pelos três discos seguintes do grupo. Geralmente havia uma grande balada dando nome ao álbum, seguida por músicas com forte vocação ao sucesso radiofônico (o A-ha se notabilizou pelos refrões pegajosos e de fácil assimilação).

O carro chefe do disco foi a dançante “Take On Me” que foi lançada também em single, ganhando ainda um clip que ficou famoso na MTV americana. Nele havia uma fusão de atores reais (Live Action) com animação. Junte-se a isso o estouro dos primeiros concertos do grupo nos EUA e você entenderá porque o disco vendeu tanto (10 milhões de cópias, uma das estréias mais bem sucedidas do ponto de vista comercial da história da música). Na época houve quem classificasse o A-ha como mais uma boy band como muitas que surgiam a cada mês mas a comparação era completamente descabida. O trio era formado por músicos de verdade e vinha para ficar como provaram seus álbuns posteriores. No final daquele ano eles foram indicados como uma das bandas mais promissoras do cenário musical. A critica também gostou de seu pop dançante e romântico. Para celebrar (e relembrar) tanto sucesso o grupo resolveu relançar recentemente em CD “Edição Deluxe” o seu disco de estréia. Com várias faixas bônus em 2 CDs e encarte de luxo “Hunting High and Low” voltava às lojas tantos anos depois de seu lançamento como um verdadeiro presente para os fãs do grupo norueguês. Um relançamento mais do que bem-vindo.

1. Take on Me (Waaktaar / Furuholmen / Harket) - Essa música é o marco zero da carreira do A-ha. Ela já havia sido gravada em forma de fita demo na Noruega quando o A-ha ainda nem era conhecido ou famoso. Só após o grupo fechar um contrato com a filial da Warner Bros em Londres é que as coisas começaram a realmente acontecer. O estúdio americano acreditou no sucesso da faixa e decidiu produzir um clip para a canção. Esse videoclip logo se tornou muito popular na TV americana, justamente por combinar cenas com atores reais e desenhos animados. Em plena era do nascimento da MTV, canal especializado em música, o video acabou se tornando um dos mais queridos pelo público jovem. "Take On Me" chegou ao primeiro lugar da mais prestigiada parada de música dos Estados Unidos, a Billboard Hot 100 e em diversos outros países. De fato o A-ha teve uma das estreias mais explosivas da década de 80. Nada parecia igual. E o sucesso continuou depois com a edição do LP "Hunting High and Low" que tinha justamente essa música como seu carro chefe. É curioso que o A-ha tenha tido um ótimo começo no mercado americano, mas depois, com o passar dos anos, tenha se afastado desse mesmo mercado fonográfico. Hoje em dia a banda é muito mais consumida na Europa (em especial Alemanha e países nórdicos) do que na América. O hit fulminante de sua estreia acabou não se consolidando com o tempo.

2. Train of Thought (Waaktaar) - Uma das faixas mais bem produzidas desse álbum se chama "Train of Thought". Se trata de uma composição solo do guitarrista Pål Waaktaar. Embora a música não tenha sido necessariamente um hit, um sucesso, pois sua melhor posição foi a oitava na parada britânica, temos que admitir que é sem dúvida um dos melhores momentos do disco, ganhando muitos pontos a favor no quesito arranjos e ambientação. A letra também é excepcionalmente bem escrita, diria até que tem uma linguagem realmente cinematográfica, com foco nos detalhes, nos cenários, nos objetos de cena. É quase um roteiro de um filme dos anos 80. Se tem dúvidas sobre isso, leia esses versões da primeira estrofe da música: "Ele gosta de ter no jornal da manhã / As palavras cruzadas resolvidas / Palavras sobem, palavras descem / Para a frente, para trás, de trás para frente / Ele pega uma pilha de cartas e uma pequena valise / Desaparece para dentro de um escritório / É mais um dia de trabalho". Certamente poderia ser um roteiro de cinema, tudo está nos versos, a cena inteira descrita.

3. Hunting High and Low (Waaktaar) - A música título do álbum iria inaugurar uma tradição na discografia do A-ha, a de sempre usar baladas como canções que davam nome aos discos que viriam a seguir. "Hunting High and Low" tinha os elementos certos naquela fase da carreira do grupo. Inicialmente o grupo gravou uma primeira versão com uso muito abusivo de sintetizadores. Coube ao produtor Alan Tarney mudar os arranjos,apostando na participação de um belo som orquestral. Isso melhorou muito a canção e fez com que ela hoje em dia não soasse datada. A letra era bem romântica e evocativa, mostrando um homem apaixonado não conformado com o fim de seu romance, dizendo que iria lutar por aquele amor, a procurando por todos os lugares, escalando as maiores montanhas em busca da amada. Ficou bonito, apenas um pouquinho sentimental demais, como se um poeta da segunda geração romântica a tivesse escrito. Mesmo assim com o som da orquestra e um belo vocal o resultado final não ficou menos do que excelente..

4. The Blue Sky (Waaktaar) - Na Inglaterra a canção Hunting High and Low foi lançada como single trazendo "The Blue Sky" como lado B. Essa segunda faixa, mais uma composição do talentoso Pål Waaktaar, tem um ritmo bonito, mas acredito que o excesso de uso de seu refrão a prejudicou um pouco. É uma composição que se encaixa perfeitamente como uma coadjuvante dentro do álbum, por isso não alcançou maior repercussão nas paradas e nem foi muito utilizada pelo grupo em seus shows ao vivo. É mesmo um autêntico lado B do A-ha.

5. Living a Boy's Adventure Tale (Waaktaar / Harket) - O quadro se repete um pouco em "Living a Boy's Adventure Tale". Aqui temos uma melodia bem bonita, valorizada ainda mais pelos belos vocais de Morten Harket. A canção é outra composição feita exclusivamente por Pål Waaktaar que por cortesia e cordialidade aceitou colocar o vocalista como co-autor por causa de algumas sugestões dadas por ele dentro do estúdio. A sonoridade leve e relaxante também bebeu da fonte do rock escocês dos anos 80 A influência fica bem clara no uso orquestral ao fundo, característica de muitas bandas de Edimburgo daquele período.

6. The Sun Always Shines on TV (Waaktaar) - "The Sun Always Shines on TV" foi outro grande sucesso desse álbum. Foi lançada também como single, o terceiro extraído desse disco. Sucesso nas rádios, consolidou ainda mais a fama do A-ha na Europa e nos Estados Unidos. Também deu origem a um excelente videoclip, bem no momento em que o mundo da música ia popularizando ainda mais esse tipo de vídeo promocional. Tempos de MTV em seu nascimento e auge. É um clássico do A-ha.

7. And You Tell Me (Waaktaar) - "And You Tell Me" é uma faixa mais secundária dentro do disco. Tem uma bela melodia, muito bonita, porém é inegável que seus arranjos com uso intenso de sintetizadores a datou bastante. Uma boa ideia para o grupo seria gravar uma nova versão dessa bela balada apenas no estilo acústico, voz e violão e quem sabe um bonito arranjo de quarteto de cordas ao fundo. Ficaria muito bonita de se ouvir realmente. Aqui temos mesmo que ignorar os arranjos dos anos 80 para se chegar no núcleo da canção, de suas notas. Nesse aspecto continua sendo uma maravilha.

8. Love is Reason (Furuholmen) - Outro hit do álbum, só que em menor escala, foi "Love is Reason", Voltando pela memória aos anos 80 me recordo bem que essa música foi bastante tocada nas rádios na época. Curiosamente não ficou datada, mantendo-se firme mesmo após tantos anos de seu lançamento original. A composição é do tecladista Magne Furuholmen. Durante toda a carreira do A-ha ele nunca foi o criador mais habitual das músicas, esse posto sempre coube ao guitarrista Paul Waaktaar. Mesmo assim se saiu muito bem nessa baladinha que até hoje empolga e faz o ouvinte querer estar numa pista de dança..

9. I Dream Myself Alive (Waaktaar / Furuholmen) - A canção "I Dream Myself Alive" é uma dobradinha entre Magne Furuholmen e Paul Waaktaar. Essa sempre foi um Lado B do A-ha pois nunca fez muito sucesso, não conseguindo se destacar nas paradas da época. Tem um refrão pegajoso que se repete várias vezes ao longo de sua audição. Não acho particularmente uma das melhores coisas do disco. Mereceu esse papel mais coadjuvante dentro do repertório do LP.

10. Here I Stand and Face the Rain (Waaktaar) - "Here I Stand and Face the Rain" é uma faixa forte do disco. Uma bela criação solo de Paul Waaktaar. Esse tipo de som me faz lembrar muito de seu trabalho no Savoy. Tem esse estilo mais clássico, diria até quase épica. Aqui não há o que criticar em termos de arranjos. A gravação ficou mesmo excelente, imune à passagem dos anos. Grande trabalho do grupo como um todo onde tudo está perfeitamente no lugar certo.

A-ha - A-ha - Hunting High and Low (1985) - Magne Furuholmen (teclados) / Morten Harket (vocal) / Pål Waaktaar (guitarra) / Compositores: Magne Furuholmen / Morten Harket / Pål Waaktaar / Data de Gravação: dezembro de 1984 / Gravadora: Warner Bros / Local de Gravação: Warner Studios, Londres / Produção: John Ratcliff Alan Tarney.

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Toda vez que vejo o A-ha, que fez sucesso nos Estados Unidos com tudo contra por serem, como você já disse, Noruegueses, eu me pergunto o quanto desse exito se deve creditar a beleza singular do Morten Harket, que perecia ter sido desenhado, como no seu vídeo clip. O mesmo se pode perguntar sobre o Sueco ABBA e suas duas belíssimas vocalistas. Ressaltando entretanto que, tanto no A-ha, quanto no ABBA, os belos eram cantores extraordinários.

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  2. A beleza conta no mundo fonográfico, isso é inegável. Agora um dia a beleza se vai, a febre adolescente das fãs passa e aí só se estabelece no meio quem tem talento mesmo. A beleza de um artista conta no começo, mas o teste final vem com o passar dos anos.

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