sábado, 22 de junho de 2019

Crônicas de Marlon Brando - Parte 2

"Sindicato de Ladrões" foi de certa maneira uma forma que o diretor Elia Kazan encontrou de se justificar aos seus colegas de profissão após ter dedurado uma série de profissionais do cinema e teatro para o comitê de atividades anti americanas. Parte dessas pessoas tinham participado do Partido Comunista americano e isso era algo muito sério naquela época. Para escapar da prisão ou talvez até mesmo de ser banido de Hollywood, Kazan resolveu entregar todos aqueles que ele sabia serem membros do Partido. Obviamente que aquilo tudo pegou muito mal e da noite para o dia Kazan passou a ser um nome a ser evitado. Como contornar uma situação dessas? A resposta caiu no colo de Kazan poucas semanas depois.

No roteiro desse filme também havia um sujeito que fora forçado pela situação para entregar os nomes de pessoas que tinham se envolvido em esquemas de corrupção. Quando Marlon Brando foi convidado para o papel de Terry Malloy ele imediatamente disse não, mas depois acabou sendo convencido que seria mais uma boa oportunidade de realizar um grande filme - e isso era a mais absoluta verdade. As filmagens se concentraram entre Nova Iorque e Hoboken, New Jersey e foram muito duras. Com baixas temperaturas, Brando precisou aprender parte da manha dos trabalhadores braçais do porto da cidade. Acabou fazendo amizades entre eles e em pouco tempo estava completamente à vontade em seu papel.

Por ser uma obra delicada que serviria a um propósito maior, Kazan queria seguir o script à risca, mas isso definitivamente não aconteceria com Marlon Brando no elenco. Numa cena com Rod Steiger e ele, o diretor sugeriu uma determinada situação de confronto no banco de trás de um carro. Brando achou que duas pessoas tão próximas como eram os personagens deles nunca se tratariam daquele jeito e por isso sugeriu mudanças. Ao invés de acontecer uma luta insana e feroz, o personagem de Brando apenas olharia com rosto chocado quando Steiger lhe apontasse uma arma. Era uma reação mais natural. Após um longo combate criativo Kazan finalmente se convenceu que Brando estava mesmo com a razão. Para Brando a resposta positiva por parte de Kazan confirmava o que ele pensava do diretor: que ele era de fato um dos cineastas mais brilhantes da história de Hollywood. Por seu engajamento no filme e principalmente por sua ótima atuação, Brando mais uma vez acabou sendo indicado ao Oscar de Melhor Ator.

Hoje em dia, depois que Brando recusou seu Oscar por "O Poderoso Chefão", todos conhecem a extrema ojeriza que o ator sentia pela Academia, mas naquela época, ainda um jovem talento em ascensão, Brando decidiu que compareceria à premiação. Para sua surpresa seu nome foi anunciado e ele, pela primeira vez em sua carreira, seria premiado com a estatueta mais cobiçada do cinema americano. Usando um comportado terno, todos sorrisos, Brando subiu ao palco e recebeu seu Oscar das mãos de uma princesa, Grace Kellly. Estaria o mais famoso selvagem de Hollywood devidamente domado? Pelo menos naquela noite memorável sim. Brando foi um perfeito gentleman. Agradeceu até emocionado pelo reconhecimento e depois fez um discurso bem nos moldes que todos esperavam, sem atropelos ou escândalos. Anos depois o Oscar de Brando foi parar numa casa de leilões. Em seu livro o ator reconheceu não se lembrar mais onde ele havia ido parar, mas depois de um ou dois minutos admitiu que o havia dado de presente - só não lembrava direito a quem! Imagine, o prêmio mais desejado de Hollywood indo parar nas mãos de qualquer um... enfim, coisas de Marlon Brando...

Pablo Aluísio.

5 comentários:

  1. Cinema Clássico
    Marlon Brando em Hollywood - Parte 2
    Pablo Aluísio.

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  2. "Para Brando a resposta positiva por parte de Kazan confirmava o que ele pensava do diretor: que ele era de fato um dos cineastas mais brilhantes da história de Hollywood" Isso comprova aquela máxima que diz que um dos jeitos das pessoas te acharem inteligente é concordando com o que elas pensam.

    Commnent: Cavaleiros da Bandeira Negra.

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  3. Em sua autobiografia Brando escreveu que admirava Kazan como diretor de cinema, não como pessoa! Nesse caso ele tentou separar o lado pessoal do profissional. Depois, anos após "Sindicato de Ladrões" recebeu novos convites para atuar em filmes de Kazan, mas recusou as propostas...

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  4. Naquela época, os comunistas, já conseguiram fazer do Elian Kazan o bandido, quando os bandidos verdadeiros eram eles, os comunistas de boutique de Hollywood. O Hoover deveria ter acabado com essa raça, assim hoje não estariam dominando tudo. Conseguiram acabar com o Kazan se passando por vítimas e agora estão destruindo tudo com suas idéias hipócritas e sofistas. Gente nociva dos infernos.

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  5. E muitos roteiristas, diretores, atores e atrizes, ficaram sem trabalho, sem dignidade, porque estavam na lista negra. Alguns se mataram, foi uma grande tragédia humana.

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