Vamos começar pelo pior. Se eu tivesse que escolher a canção mais fraca desse disco certamente minha escolha seria a balada romântica "Woman Without Love", O que levou Elvis a gravar essa faixa segue sendo um mistério. Não era uma canção conhecida no meio e nem tinha nada a ver com o tipo de sonoridade que Elvis vinha desenvolvendo nessas sessões. Muito piegas, tinha uma mensagem que nos dias de hoje poderia ser qualificada como "embaraçosa".
A letra é bem antiquada, nada condizente com a nova mulher que surgia no mundo, principalmente a partir dos anos 60. Há um trecho na letra que diz que um homem sem amor seria apenas a metade de um homem, porém uma mulher sem amor seria absolutamente nada! Que coisa mais cafona! Elvis poderia passar sem essa. Mensagem totalmente fora de moda. Se fosse nos dias atuais, com esse texto politicamente incorreto, as feministas iriam pedir a cabeça de Elvis em uma lança!
"I Can Help" tem até um bom refrão, porém sua repetição à exaustão cansa um pouco o ouvinte. No meio de tantas letras tristes e melancólicas, que tinham se tornado uma espécie de padrão dentro da discografia de Elvis, essa ia pela contramão, trazendo algo de positivo, com o autor em primeira pessoa dizendo que sim, ele poderia ajudar. Em certos aspectos me lembrou até mesmo de "Bridge Over Troubled Water", porém sem ser dramática em excesso. A mensagem que Elvis passava aqui era bem direta, do tipo "Você tem um problema? Não precisa se preocupar! Seja lá o que for, bom, eu posso ajudar!". Bacana, ponto positivo no disco, afinal uma mensagem para cima, alto astral, sempre seria muito bem-vinda - principalmente para Elvis que parecia ter entrado numa roda viva de depressão e auto piedade destruída.
Do country "Susan When She Tried" eu particularmente gosto bastante. É um som bem Dixieland, próprio para os sulistas (do sul dos Estados Unidos, obviamente). Penso até que a letra, levemente truncada, não faria muito sentido para os nortistas, nova-iorquinos, etc. É uma coisa bem milho, bem campo. Claro há um subtexto compreensível, porém se formos pensar bem essa forma de falar era típica mesmo dos "confederados" do sul. E Elvis como um típico homem do sul, captou muito bem essa mensagem, diríamos, "cifrada". Dizem que Elvis cogitou promover mais a música em concertos pelas cidades sulistas, mas se isso for verdade tudo ficou mesmo apenas na intenção pois ele definitivamente não fez qualquer esforço para cantá-la em suas longas, estafantes e cansativas turnês pelas terras de Dixie.
O álbum "Elvis Today" não foi um sucesso de vendas. Na realidade ele passou meio ignorado pelo mercado. Naquela época a sonoridade que fazia sucesso era a da discoteca e o próprio Rock que ainda sobrevivia nas paradas era muito diferente do tipo de som que Elvis vinha apresentando em seus álbuns. O cantor havia optado por cantar baladas ao estilo country and western de Nashville, além de se concentrar em baladas românticas dolorosas, de dor de cotovelo. Dificilmente um jovem que curtia Pink Floyd ou Led Zepellin nos anos 70 iria se interessar por um material desses.
Assim Elvis entrou numa espécie de mundo próprio, onde ele cultivava suas dores emocionais. O repertório das músicas escolhidas por ele mesmo refletiam esse estado de espírito em que ele vivia. Cada gravação, cada letra, tinha algo em comum com o que ele sentia. Algumas músicas eram claros recados indiretos que Elvis insistia em mandar para sua ex-esposa Priscilla. Com isso Elvis foi se tornando cada vez mais pessoal em seus discos, ao mesmo tempo em que as vendas iam piorando. Apenas um seleto grupo de fãs de sua carreira seguiram fiéis aos seus álbuns. O resto do público tinha a tendência de ignorar o que ele vinha produzindo em estúdio.
"Elvis Today" por isso não foge do tipo de disco que Elvis vinha apresentando nos últimos anos. Há muito country, bastante baladas românticas e um ou outro momento que podemos chamar de rock, só para lembrar que ele ainda era o aclamado "Rei do Rock", embora na prática fosse venerado à distância pela nova geração de roqueiros. Todos o elogiavam pelo seu passado, pelo que tinha feito no surgimento da popularização do rock, mas não estavam mais interessados nas viagens de ego ferido do cantor. Era tão pessoal que parecia importar apenas a Elvis e seu público sulista country mais próximo.
A boa notícia, pelo menos para os fãs brasileiros, foi que o disco foi lançado em nosso país no mesmo ano de seu lançamento nos Estados Unidos. A filial da RCA no Brasil havia deixado de lançar vários LPs de Elvis nos anos 70. "Elvis Country", "Love Letters", "Good Times" e até mesmo o disco ao vivo em Memphis em 1974 não tiveram edições nacionais. Assim não deixou de ser uma boa surpresa encontrar esse álbum nas lojas brasileiras, onde finalmente o fã tinha acesso a material mais recente gravado pelo cantor.
Pablo Aluísio.