As filmagens de Giant (Assim Caminha a Humanidade, no Brasil) foram longas e cansativas. Para piorar elas foram realizadas em pleno verão, no escaldante sol do Texas. O diretor George Stevens tinha um jeito próprio de filmar. Ele colocava várias câmeras filmando ao mesmo tempo para depois escolher apenas os melhores ângulos que entrariam no corte final. Isso se tornava um inferno nas mãos dos editores já que a edição ficava triplamente complicada. Por essa razão James Dean jamais teria a oportunidade de assistir ao seu último filme. Após o fim das filmagens o material ficou por mais de um ano e meio na sala de edição da Warner Bros e nesse meio tempo Dean sofreria o acidente fatal que o vitimou com apenas 24 anos de idade. Curiosamente a última cena rodada pelo ator era uma em que ele aparecia usando forte maquiagem, aparentando ser um homem bem mais velho, angustiado e corroído pelo fato de nunca ter conquistado a mulher de seus sonhos (que era interpretada por Elizabeth Taylor).
Uma grande ironia do destino já que Dean jamais teria a oportunidade de envelhecer como seu personagem. Outro aspecto interessante aconteceu porque pela primeira vez em sua carreira no cinema ele teria que interpretar um homem embriagado. Diante do diretor assistente o ator disse que a única forma de interpretar alguém bêbado de forma convincente era tomar um porre. Após tomar meio litro de whisky, Dean surgiu no set, totalmente alto! A cena se revelaria grandiosa na tela, mas na realidade foi um tormento e um desastre para ficar pronta. Dean, completamente de fogo, esqueceu a maioria das falas e quase não conseguiu terminar a sequência. Stevens não se importou, mandou as câmeras filmarem sem interrupção e no final, na sala de edição, conseguiu dar um jeito para que todas as partes apresentassem uma lógica narrativa.
Livre do filme, mas ainda precisando retornar ao estúdio para dublar determinadas falas que não ficaram bem, por motivos técnicos (algo que só seria realizado pelo amigo Nick Adams após a morte de Dean), o ator resolveu se dedicar ao que mais gostava: correr e participar de corridas amadoras pela região. O último encontro com o diretor George Stevens foi cordial, apesar de tudo. James Dean passou o tempo todo brigando com ele por causa da diferença de visão que ambos tinham sobre a melhor atuação possível. Stevens determinava o que queria, mas Dean, muito intuitivo, acaba fazendo o que ele bem entendia. Desse choque de visão acabou surgindo uma das melhores atuações da década, o que valeria a Dean a indicação póstuma ao Oscar. Ao veterano cineasta Dean se despediu dizendo: "Agora podemos dar as mãos, eu não preciso mais de você e nem você de mim. Espero que as pessoas gostem do filme" ao que Stevens respondeu secamente: "Sim, eles gostarão". Depois disso o ator subiu em seu Porsche e pegou estrada. No caminho conversando com seu mecânico particular confessou: "Não sei o que esperar desse meu último filme".
Por essa época todos em Hollywood já sabiam que James Dean era o grande nome do momento. Em pouco tempo ele certamente se tornaria um astro. Havia um certo protocolo, como fazer capas de revistas e dar entrevistas para os jornalistas especializados em cinema, mas Dean ignorou tudo isso. Em um sinal de boa vontade resolveu participar brevemente de um programa de TV, dando uma pequena, mas importante entrevista. Antes de ir embora o entrevistador perguntou a Dean se as pessoas precisavam tomar mais cuidado ao dirigir em alta velocidade. Com seu jeito peculiar de ser Dean disse: "É isso aí, tenham cuidado ao volante, assim vocês poderão salvar vidas... inclusive, quem sabe, talvez até a minha!".
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
ResponderExcluirCrônicas de Cinema - James Dean
Pablo Aluísio.