Após o fim das filmagens de "Juventude Transviada" James Dean pegou o primeiro avião para Nova Iorque. Dean queria ir embora de Los Angeles o mais rapidamente possível. Ele só tinha queixas a falar para seus amigos e colegas atores da big apple. Para Dean se fazia pouca arte em Hollywood e muito comércio. Ele odiava ter que lidar com agentes, produtores e executivos que na sua opinião "não passavam de um bando de idiotas!". Para James Dean a verdadeira realização para um grande ator viria nos palcos, no teatro, e não no cinema que ele considerava uma forma de arte menor. E nada melhor para um profissional como ele do que estar na capital mundial do teatro, que era justamente Nova Iorque. Não havia cidade no mundo que ele não amasse mais. Em New York ele tinha toda a cultura do mundo aos seus pés. Se quisesse ler livros raros bastaria dar uma passadinha na maior biblioteca dos Estados Unidos, logo ali a 20 minutos de caminhada de seu apartamento. Se desejasse assistir a uma peça bastava virar a esquina. A Broadway fervilhava de peças maravilhosas e todos os grandes atores, diretores, autores e escritores circulavam pela cidade.
Assim James Dean passava o dia passeando pela metrópole, absorvendo todo aquele clima maravilhoso de arte e cultura em cada canto da cidade. Nas tardes gostava de passar pelo Actors Studio onde reencontrava seus professores a fazia novas amizades com os alunos novos da mais conceituada escola de arte dramática dos Estados Unidos. Havia também encontros inesperados e surpresas muitas vezes constrangedoras. Enquanto almoçava em um pequeno restaurante da quinta avenida Dean esbarrou acidentalmente com Rogers Brackett, o homem com quem vivera no começa de sua carreira. Naquela época Dean não tinha onde morar e nem onde viver. Estava desempregado e sem um tostão, sem maiores alternativas resolveu ir morar no chic apartamento de Brackett. Curiosamente agora as posições sociais estavam invertidas. Enquanto Dean crescia na carreira, Brackett passava por dificuldades financeiras após ser demitido do emprego de publicitário onde havia trabalhado por anos e anos.
A conversa entre ambos foi tensa. Dean obviamente não queria que ninguém soubesse que ele havia morado com um homem em seu passado - isso certamente destruiria sua carreira em Hollywood caso a imprensa soubesse. Já Rogers não temia esse encontro, até porque seu longo relacionamento com Dean era de conhecimento notório entre seus amigos homossexuais. O bate papo começou com amenidades, com Dean afirmando que estava se "prostituindo" em Hollywood por causa dos excelentes cachês que a Warner lhe pagava. Em determinado momento Rogers abriu o jogo com Dean e lhe contou que estava com sérios problemas financeiros, correndo o risco de ser despejado de seu apartamento na cidade. Dean não se comoveu, então Rogers resolveu lhe pedir dinheiro emprestado diretamente, já que ele estava em ascensão em Hollywood e grana certamente não lhe faltava. O pedido de ajuda de seu ex-namorado surpreendeu James Dean. De forma áspera acabou respondendo que não iria lhe emprestar dinheiro, por um motivo muito simples: "As putas não devem pagar e sim os clientes!". O comentário rude por parte de Dean foi imediatamente entendido por Rogers, afinal em muitas ocasiões enquanto dividiam o mesmo teto no passado, Dean havia lhe dito que não passava de ser sua puta particular. Depois da baixaria Dean resolveu então ir embora.
Esse modo de agir não seria encarado como uma novidade entre pessoas que conviviam e eram do círculo de amigos de Dean em Nova Iorque. Ele agia muitas vezes de forma rude, sem meias palavras. Quando voltou a Nova Iorque ele prontamente foi bombardeado por telefonemas de amigos que havia feito em seus tempos de Actors Studio. Vários deles estavam desempregados, trabalhando como garçons ou mensageiros de hotel para sobreviver. Muitos procuravam por uma forcinha por parte de Dean para arranjar trabalho na costa oeste. Quem sabe ele não poderia lhes arranjar algumas pontas ou personagens em filmes da Warner Bros... O ator porém deixou bem claro que não iria arranjar papéis para ninguém e nem arranjaria pontas ou algo parecido em filmes de Hollywood. "Não vou arranjar trabalho para ninguém!" - desabafou quando encontrou Dizzy, uma de suas melhores amigas em Nova Iorque.
Dizzy era uma garota na faixa de seus 23 anos que tinha criado um vínculo muito forte com Dean. Ela tinha estudado para ser atriz, mas depois se encantou com as artes plásticas e vivia em Nova Iorque vendendo seus quadros para galerias de arte especializadas em jovens artistas. Nos fins de semana ganhava uns trocados se apresentando em companhias de dança da cidade. Para Dizzy as artes eram essenciais como a própria respiração e por isso ela procurou estudar todas elas. James Dean a adorou desde a primeira vez que conversaram. De fato foi a grande amiga de Dean em Nova Iorque até sua morte. A aproximação logo se tornou irresistível para Dizzy, mas Dean a confrontou dizendo: "Querida, eu adoro estar ao seu lado, mas isso não quer dizer que queira ser seu namorado. Espero que entenda isso. Eu iria magoar você, tenha certeza disso. Eu gosto de meninas, mas também de meninos. Não quero que você sofra por isso". Dizzy foi uma das poucas pessoas que Dean falou abertamente sobre sua bissexualidade. Ele gostava tanto dela como amiga que resolveu deixar tudo claro para evitar maiores mal-entendidos. Foram amigos até o fim da vida de Dean.
Pablo Aluísio.
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