A trama se passa numa New Orleans com muita música no ar, mas também com muita criminalidade pelos becos escuros da cidade. É nesse cenário que vive o jovem Danny Fisher (Elvis Presley). Após a morte de sua mãe em um acidente automobilístico, a outrora família feliz de Danny entra em crise. Seu pai (interpretado pelo ator Dean Jagger), um homem honesto e digno, não consegue mais se firmar em nenhum emprego. Já sua irmã Mimi (Jan Shepard) tenta de alguma forma ajudar em casa, ocupando a posição que era exercida por sua mãe falecida. Uma pessoa que logo se torna o equilíbrio emocional da família Fisher.
O sonho de todos eles é que Danny se forme, construa assim um futuro melhor para si e venha a ter um dia uma profissão que lhe dê segurança e estabilidade na vida. A escola se torna a única esperança de toda a família. E é justamente no último dia de aula, quando está prestes a receber seu diploma, que Danny acaba se envolvendo em uma confusão que irá alterar todo o seu destino. Ele briga com alguns colegas na porta da escola e por isso não consegue mais se formar. Desiludido, decide ir atrás de algum trabalho melhor na Bourbon Street, a principal e mais famosa rua de New Orleans. Cheia de boates e cabarets, a Bourbon é uma opção para quem não tem um diploma como Danny. É lá que Maxie Fields (Walter Matthau) impera, controlando tudo menos a pequena casa noturna chamada “King Creole”, onde Danny acaba encontrando um emprego como cantor fixo. E justamente nesse meio cheio de violência e crimes, disputas e concorrências desleais que Danny irá tentar finalmente abrir os caminhos de sua vida.
“Balada Sangrenta” tem um excelente roteiro que procura desenvolver todos os personagens. Apesar das músicas suavizarem um pouco o clima barra pesada da estória, Michael Curtiz conseguiu manter a densidade dramática dos acontecimentos. O Danny Fisher de Elvis é um cara durão, tenaz, que não aceita desaforos, bem ao contrário de seu pai, que muitas vezes se coloca em situações humilhantes apenas para garantir um suado e minguado salário em um emprego como assistente numa farmácia local. Isso é tudo o que Danny não deseja em seu futuro. Para piorar ele começa a andar com a turma de Shark (Vic Morrow de “Sementes da Violência”). Por falar nisso, o elenco coadjuvante de “Balada Sangrenta” é realmente excepcional.
O personagem de Elvis fica dividido entre o amor inocente e puro de Nellie (interpretada por Dolores Hart, mais uma vez contracenando com Elvis) e a paixão pela desiludida Ronnie (Carolyn Jones), uma garota de boate e amante casual do gangster Maxie. E por falar nesse personagem não deixa de ser muito interessante ver Walter Matthau interpretando um gangster que tenta controlar a tudo e a todos com violência, chantagens e poder econômico. Suas cenas ao lado de Elvis são excelentes. Curiosamente aqui Matthau deixou de lado seus personagens cômicos, em divertidos filmes ao lado de Jack Lemmon, para atuar em uma papel bem sério, diria até mesmo sinistro. Foi uma exceção em sua longa carreira no cinema.
E o Rei do Rock, como se sai com tanta responsabilidade ao ter que atuar no meio de tantos atores talentosos? Muito bem. A crítica da época elogiou Presley por sua capacidade de segurar um filme desse porte! Embora não fosse um ator com formação dramática, não há como deixar de elogiar o cantor em sua caracterização aqui. Obviamente que sua atuação não pode ser comparada aos grandes atores da época, mas dentro de suas possibilidades Elvis se saiu excepcionalmente bem. E ele tem muitas cenas complicadas ao longo do filme, seja sofrendo ao saber que seu pai foi apunhalado, seja tentando transmitir a dor pela perda de uma pessoa querida.
Embora tivesse a opção de realizar o filme em cores, o diretor Michael Curtiz se decidiu pelo Preto e Branco. A decisão foi baseada no próprio enredo do filme que pedia por um clima mais sórdido, noir, sombrio, ideal para o P&B. Outra decisão do diretor foi filmar grande parte do filme nos estúdios da Paramount em Los Angeles. Apenas algumas cenas seriam realizadas em locação na cidade de New Orleans, como a seqüência final no píer. Dentro dos confortáveis estúdios era bem mais fácil controlar as filmagens. Assim uma Bourbon Street foi recriada dentro do estúdio, o mesmo acontecendo com as boates de Maxie Fields e o próprio King Creole.
Em conclusão, “Balada Sangrenta” é um pequeno clássico da década de 1950 que merecia inclusive ter mais reconhecimento. Há uma mistura de elementos e gêneros que vão do drama ao suspense, do musical ao romance, que não pode ser subestimada. Pena que Michael Curtiz já estava com a idade muito avançada, perto de se aposentar definitivamente. Ele nunca mais trabalharia com Elvis. A lamentar também os rumos que a vida do próprio Elvis tomou após terminar o filme, ao ser convocado para o exército americano, interrompendo sua carreira em Hollywood, logo no melhor momento e na melhor fase de toda a sua vida artistica. De qualquer modo ficou para a posteridade essa obra cinematográfica, que resistiu excepcionalmente bem ao tempo. Uma preciosidade que merece ser redescoberta não apenas por fãs de Elvis Presley ou admirados de Michael Curtiz, mas principalmente pelos cinéfilos em geral. “Balada Sangrenta” é sem dúvida um exemplo do que de melhor Hollywood produzia naquela época.
Balada Sangrenta (King Creole, Estados Unidos, 1958) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Herbert Baker, Michael V. Gazzo baseados na obra "A Stone for Danny Fisher" de Harold Robbins / Elenco: Elvis Presley, Carolyn Jones, Walter Matthau, Dolores Hart, Dean Jagger, Vic Morrow, Paul Stewart, Jan Shepard, Liliane Montevecchi / Sinopse: Danny Fisher (Elvis Presley) se vira como é possível para ajudar sua família. Após as aulas ganha uns trocados limpando mesas e arrumando os salões de bares e casas noturnas em New Orleans. É justamente aí que descobre ter um talento especial, o de cantor. Disputado por duas casas noturnas da Bourbon Street, ele terá que ser forte para sobreviver ao jogo de gangsters e criminosos de todos os tipos.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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