sexta-feira, 26 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 15

As filmagens de Giant (Assim Caminha a Humanidade, no Brasil) foram longas e cansativas. Para piorar elas foram realizadas em pleno verão, no escaldante sol do Texas. O diretor George Stevens tinha um jeito próprio de filmar. Ele colocava várias câmeras filmando ao mesmo tempo para depois escolher apenas os melhores ângulos que entrariam no corte final. Isso se tornava um inferno nas mãos dos editores já que a edição ficava triplamente complicada. Por essa razão James Dean jamais teria a oportunidade de assistir ao seu último filme. Após o fim das filmagens o material ficou por mais de um ano e meio na sala de edição da Warner Bros e nesse meio tempo Dean sofreria o acidente fatal que o vitimou com apenas 24 anos de idade. Curiosamente a última cena rodada pelo ator era uma em que ele aparecia usando forte maquiagem, aparentando ser um homem bem mais velho, angustiado e corroído pelo fato de nunca ter conquistado a mulher de seus sonhos (que era interpretada por Elizabeth Taylor).

Uma grande ironia do destino já que Dean jamais teria a oportunidade de envelhecer como seu personagem. Outro aspecto interessante aconteceu porque pela primeira vez em sua carreira no cinema ele teria que interpretar um homem embriagado. Diante do diretor assistente o ator disse que a única forma de interpretar alguém bêbado de forma convincente era tomar um porre. Após tomar meio litro de whisky, Dean surgiu no set, totalmente alto! A cena se revelaria grandiosa na tela, mas na realidade foi um tormento e um desastre para ficar pronta. Dean, completamente de fogo, esqueceu a maioria das falas e quase não conseguiu terminar a sequência. Stevens não se importou, mandou as câmeras filmarem sem interrupção e no final, na sala de edição, conseguiu dar um jeito para que todas as partes apresentassem uma lógica narrativa.

Livre do filme, mas ainda precisando retornar ao estúdio para dublar determinadas falas que não ficaram bem, por motivos técnicos (algo que só seria realizado pelo amigo Nick Adams após a morte de Dean), o ator resolveu se dedicar ao que mais gostava: correr e participar de corridas amadoras pela região. O último encontro com o diretor George Stevens foi cordial, apesar de tudo. James Dean passou o tempo todo brigando com ele por causa da diferença de visão que ambos tinham sobre a melhor atuação possível. Stevens determinava o que queria, mas Dean, muito intuitivo, acaba fazendo o que ele bem entendia. Desse choque de visão acabou surgindo uma das melhores atuações da década, o que valeria a Dean a indicação póstuma ao Oscar. Ao veterano cineasta Dean se despediu dizendo: "Agora podemos dar as mãos, eu não preciso mais de você e nem você de mim. Espero que as pessoas gostem do filme" ao que Stevens respondeu secamente: "Sim, eles gostarão". Depois disso o ator subiu em seu Porsche e pegou estrada. No caminho conversando com seu mecânico particular confessou: "Não sei o que esperar desse meu último filme".

Por essa época todos em Hollywood já sabiam que James Dean era o grande nome do momento. Em pouco tempo ele certamente se tornaria um astro. Havia um certo protocolo, como fazer capas de revistas e dar entrevistas para os jornalistas especializados em cinema, mas Dean ignorou tudo isso. Em um sinal de boa vontade resolveu participar brevemente de um programa de TV, dando uma pequena, mas importante entrevista. Antes de ir embora o entrevistador perguntou a Dean se as pessoas precisavam tomar mais cuidado ao dirigir em alta velocidade. Com seu jeito peculiar de ser Dean disse: "É isso aí, tenham cuidado ao volante, assim vocês poderão salvar vidas... inclusive, quem sabe, talvez até a minha!".

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 14

Assim que começaram as filmagens de Giant (Assim Caminha a Humanidade, no Brasil), James Dean logo viu que teria problemas. O diretor George Stevens pertencia a uma outra escola, muito tradicional, onde não eram aceitas improvisações sobre o que estava no roteiro e no script. Ao contrário dos diretores anteriores, com os quais Dean se deu muito bem por causa do processo criativo, nesse novo filme ele deveria andar na linha, com disciplina sobre o que estava escrito. Na primeira semana de gravação Dean reclamou que ficara o tempo todo em sua cadeira, vendo "Rock Hudson se apaixonar por Elizabeth Taylor". Isso aconteceu porque Stevens procurava filmar as cenas em ordem cronológica e em razão disso James Dean não tinha nenhuma tomada programada.

Ele achou tudo um enorme tédio. Enquanto Rock e Liz trabalhavam, Dean ficava em seu acento, fazendo nós em sua corda de vaqueiro. Depois de três dias nisso o jovem ator rebelde chutou o balde e resolveu desaparecer do set. Ao invés de acompanhar a cena de outros atores ele preferiu ficar ao lado dos extras cowboys que faziam parte do elenco de apoio. Nem precisa dizer que isso acabou enfurecendo George Stevens. O veterano cineasta queria que Dean acompanhasse tudo, para assim entrar no clima da história. Dean pensava diferente. Para ele ficar acompanhando as filmagens de outros atores poderia atrapalhar sua performance. Ele queria ser espontâneo e não disciplinado. Além disso não estava disposto a abrir mão da linha de trabalho em que acreditava.

A diferença de visão sobre atuação e o aparente desinteresse de Dean pelo filme acabou criando uma tensão no set. Depois de inúmeras brigas e discussões, onde Dean teria xingado Stevens de "idiota" a relação entre eles azedou de vez. Mal se dirigiam a palavra uma ao outro. No máximo Stevens dava um bom dia a Dean que mal respondia, vociferando algo que ninguém entendia. Para uma amiga de Nova Iorque James Dean confidenciou em uma carta cheia de sinceridade: "Sinceramente todos me odeiam no set. O diretor não suporta ouvir nem meu nome. Rock é um grandalhão sem expressão. Estou na merda! Gostaria muito de voltar para Nova Iorque, para meus amigos, para o teatro... mas não posso! Esses caras da Warner me processariam e eu ficaria duro!". A única pessoa da equipe que parecia se dar bem com James Dean era a estrela Elizabeth Taylor. Liz tinha muita experiência em lidar com jovens atores de formação na costa leste como Dean. Ela já havia se dado muito bem com o problemático Montgomery Clift no passado e sabia que Dean não era muito diferente dele. Em pouco tempo ambos eram grandes amigos. Para Liz, Dean confidenciou: "Você é uma pessoa linda! O meu problema é que também gosto de pessoas más". Quando a situação ficava intolerável o diretor Stevens pedia a Liz que desse alguns conselhos a Dean, que curiosamente parecia seguir as dicas e opiniões da colega.

Já com Rock Hudson as coisas não fluíram bem. Eles se deram mal desde o começo. Na verdade James Dean tinha pouco respeito com galãs ao estilo de Rock, que no fundo era apenas um tipo bonitão que não tinha muita formação dramática. Rock havia sido criado pela fábrica de astros da Universal e nunca tinha pisado em um palco de teatro na vida. Esse histórico fazia com que Dean não o levasse muito à sério. Além disso a diferença de altura entre eles começou a incomodar Dean que se referia a ele como um "poste", uma piada que tinha dois sentidos, uma em relação ao 1.90m que Rock ostentava e outra em direção a pouca expressividade de Hudson. Dean que era considerado um baixinho ficou bem desconfortável ao ter que contracenar com alguém tão alto como Rock. Para piorar o próprio Rock começou a também ironizar James Dean e seu método de trabalho. Ele chegou a afirmar: "James Dean era do tipo miúdo! Antes de entrar em cena ele dava pulos, corria e fazia todo tipo de exercício que tinham lhe ensinado em Nova Iorque! Eu achava aquilo tudo bem estranho e para falar a verdade tudo me parecia um circo, uma palhaçada".

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 13

Assim que Dean se tornou um nome quente em Hollywood, ele começou a ter mais e mais problemas com os executivos da Warner Bros. Isso porque o estúdio estava acostumado a exercer grande controle sobre seus astros, determinando tudo em suas vidas, algo que James Dean simplesmente não aceitava. Para ele aquilo era apenas um trabalho e não uma escravidão, ninguém tinha o direito de dizer o que ele faria em sua vida particular. Afinal de contas ele era um rebelde e se recusava a se tornar um marionete nas mãos de Jack Warner ou quem quer que fosse. Depois que "Juventude Transviada" foi finalizado, Dean se mandou rumo a uma corrida amadora em Salinas. Ele comprou um carro novo, ideal para corridas de alta velocidade, e se inscreveu no maior número de competições possíveis.

Embora fosse legal a oportunidade de praticar um esporte, a Warner entendeu que Dean mais cedo ou mais tarde se espatifaria numa corrida dessas. A Warner enviou um agente para acompanhar uma desses Grand Prix e ele informou ao estúdio que Dean dirigia mal, era míope e imprudente nas pistas. Era a mais pura verdade. A simples menção de que Dean participaria de uma prova já deixava os outros pilotos preocupados e apreensivos. O ator não estava interessado em dirigir prudentemente, pois ele geralmente fazia ultrapassagens perigosas, manobras arriscadas e posicionamentos suicidas. Isso levou Dean a ter vários desafetos nessas competições. Certa vez um piloto foi colocado fora da pista pelas maluquices de Dean. Quando a corrida acabou ele foi tomar satisfações e ambos saíram no soco, ali, bem na frente do público. Dean tirou seu capacete e foi pra cima do outro sujeito. A pancadaria que se seguiu foi generalizada e Dean acabou sendo banido daquela corrida para sempre.

Outro problema detectado pela Warner foi na própria vida pessoal do ator. Ele gostava de variar, se encontrado com homens, depois com mulheres e depois voltando a sair com homens novamente. A um amigo pessoal Dean confessou: "Ser bi aumenta em duas vezes a chance de você conhecer alguém interessante. Não estou preocupado em valores ultrapassados". Para piorar James Dean encontrou uma turma que gostava de misturar sexo com dor. Eram masoquistas. James Dean, no fundo um garoto caipira de Indiana, achou que aquilo era o máximo da libertinagem. Obviamente se sentiu atraído pelas essas práticas exóticas no mesmo momento. Não tardou e ele começou a se entrosar com aquela estranha turma, se tornando popularmente conhecido entre eles como "James Dean, o cinzeiro humano" pois curtia que cigarros acessos fossem apagados em seu peito durante o ato sexual. Os executivos ficaram bem preocupados com a vida libertina de seu jovem (e valioso) contratado. Algumas medidas foram tomadas para esconder isso da imprensa. Dizem que até jornalistas foram comprados para não escreverem sobre isso em suas publicações sensacionalistas. Dean porém deu de ombros e continuou com suas práticas sexuais bizarras. Segundo algumas biografias ele teria inclusive participado de uma orgia sadomasoquista na noite anterior ao dia de sua morte, naquele acidente terrível.

Para acalmar um pouco os ânimos Dean resolveu sair com algumas atrizes, para diminuir um pouco as fofocas de que era gay! A escolhida foi Ursula Andress, a bonita loira nascida na Suíça, que vinha fazendo grande sucesso em Hollywood. Os dois saíram muitas vezes juntos e foram vistos em várias festas da indústria, mas Dean nunca chegou a se acertar completamente com ela. Anos depois Ursula contaria sobre o suposto romance: "Era estranho. Dean me ligava e dizia que iria sair comigo. Não perguntava se eu queria sair com ele! Eu estava interessada nele, é claro, mas desde o começo ele me pareceu meio estranho. Tinha hábitos fora do comum, como não ter educação e se comportar de forma selvagem em ambientes chiques. Uma vez tirou a camisa numa festa onde o traje era a rigor. Noutra mandou os convidados se calarem pois queria ouvir os ruídos da noite! Nunca nos assumimos como namorados e ele não parecia se importar com o que eu sentia. Ele tinha um senso de humor meio doentio e a gente se provocava. Uma vez me confessou que gostaria de levar para cama qualquer pessoa que achasse atraente, mesmo que não fosse uma mulher! Um dia ele simplesmente sumiu e não deu mais notícias e assim nosso suposto romance chegou ao fim. Foi o relacionamento mais esquisito que tive em minha vida".

A verdade é que James Dean não estava interessado em assumir romances com atrizes de Hollywood. Na verdade ele não tinha muito respeito por elas. Criado no meio teatral em Nova Iorque, onde atrizes talentosas ganhavam a vida nos palcos da cidade, ele considerava as atrizes de Los Angeles meros enfeites de beleza. Dean também desprezava as garotas que iam para a cama com os produtores para ganhar personagens em filmes importantes. Uma vez disparou para uma das atrizes coadjuvantes de um de seus filmes: "Quantos pirulitos você teve que chupar para estar aqui nessa cena?" Ele costumava dizer que as únicas atrizes que realmente respeitava era as de Nova Iorque, da costa leste. Essas eram realmente lutadoras. As starlets de estúdios de Hollywood eram, em sua opinião, na maioria das vezes apenas "putas bonitas sem caráter". Curiosamente Dean assinaria em breve sua participação em mais um grande filme Hollywoodiano  chamado "Assim Caminha a Humanidade" onde teria que contracenar com um dos maiores símbolos de estrelismo da indústria do cinema, Elizabeth Taylor. Será que ele se daria bem com uma estrela daquela envergadura, uma atriz que nunca havia pisado em um palco de teatro na vida? Que conquistara seus papéis no cinema apenas por sua beleza extrema? Só o tempo poderia trazer as respostas...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 12

Após o fim das filmagens de "Juventude Transviada" James Dean pegou o primeiro avião para Nova Iorque. Dean queria ir embora de Los Angeles o mais rapidamente possível. Ele só tinha queixas a falar para seus amigos e colegas atores da big apple. Para Dean se fazia pouca arte em Hollywood e muito comércio. Ele odiava ter que lidar com agentes, produtores e executivos que na sua opinião "não passavam de um bando de idiotas!". Para James Dean a verdadeira realização para um grande ator viria nos palcos, no teatro, e não no cinema que ele considerava uma forma de arte menor. E nada melhor para um profissional como ele do que estar na capital mundial do teatro, que era justamente Nova Iorque. Não havia cidade no mundo que ele não amasse mais. Em New York ele tinha toda a cultura do mundo aos seus pés. Se quisesse ler livros raros bastaria dar uma passadinha na maior biblioteca dos Estados Unidos, logo ali a 20 minutos de caminhada de seu apartamento. Se desejasse assistir a uma peça bastava virar a esquina. A Broadway fervilhava de peças maravilhosas e todos os grandes atores, diretores, autores e escritores circulavam pela cidade.

Assim James Dean passava o dia passeando pela metrópole, absorvendo todo aquele clima maravilhoso de arte e cultura em cada canto da cidade. Nas tardes gostava de passar pelo Actors Studio onde reencontrava seus professores a fazia novas amizades com os alunos novos da mais conceituada escola de arte dramática dos Estados Unidos. Havia também encontros inesperados e surpresas muitas vezes constrangedoras. Enquanto almoçava em um pequeno restaurante da quinta avenida Dean esbarrou acidentalmente com Rogers Brackett, o homem com quem vivera no começa de sua carreira. Naquela época Dean não tinha onde morar e nem onde viver. Estava desempregado e sem um tostão, sem maiores alternativas resolveu ir morar no chic apartamento de Brackett. Curiosamente agora as posições sociais estavam invertidas. Enquanto Dean crescia na carreira, Brackett passava por dificuldades financeiras após ser demitido do emprego de publicitário onde havia trabalhado por anos e anos.

A conversa entre ambos foi tensa. Dean obviamente não queria que ninguém soubesse que ele havia morado com um homem em seu passado - isso certamente destruiria sua carreira em Hollywood caso a imprensa soubesse. Já Rogers não temia esse encontro, até porque seu longo relacionamento com Dean era de conhecimento notório entre seus amigos homossexuais. O bate papo começou com amenidades, com Dean afirmando que estava se "prostituindo" em Hollywood por causa dos excelentes cachês que a Warner lhe pagava. Em determinado momento Rogers abriu o jogo com Dean e lhe contou que estava com sérios problemas financeiros, correndo o risco de ser despejado de seu apartamento na cidade. Dean não se comoveu, então Rogers resolveu lhe pedir dinheiro emprestado diretamente, já que ele estava em ascensão em Hollywood e grana certamente não lhe faltava. O pedido de ajuda de seu ex-namorado surpreendeu James Dean. De forma áspera acabou respondendo que não iria lhe emprestar dinheiro, por um motivo muito simples: "As putas não devem pagar e sim os clientes!". O comentário rude por parte de Dean foi imediatamente entendido por Rogers, afinal em muitas ocasiões enquanto dividiam o mesmo teto no passado, Dean havia lhe dito que não passava de ser sua puta particular. Depois da baixaria Dean resolveu então ir embora.

Esse modo de agir não seria encarado como uma novidade entre pessoas que conviviam e eram do círculo de amigos de Dean em Nova Iorque. Ele agia muitas vezes de forma rude, sem meias palavras. Quando voltou a Nova Iorque ele prontamente foi bombardeado por telefonemas de amigos que havia feito em seus tempos de Actors Studio. Vários deles estavam desempregados, trabalhando como garçons ou mensageiros de hotel para sobreviver. Muitos procuravam por uma forcinha por parte de Dean para arranjar trabalho na costa oeste. Quem sabe ele não poderia lhes arranjar algumas pontas ou personagens em filmes da Warner Bros... O ator porém deixou bem claro que não iria arranjar papéis para ninguém e nem arranjaria pontas ou algo parecido em filmes de Hollywood. "Não vou arranjar trabalho para ninguém!" - desabafou quando encontrou Dizzy, uma de suas melhores amigas em Nova Iorque.

Dizzy era uma garota na faixa de seus 23 anos que tinha criado um vínculo muito forte com Dean. Ela tinha estudado para ser atriz, mas depois se encantou com as artes plásticas e vivia em Nova Iorque vendendo seus quadros para galerias de arte especializadas em jovens artistas. Nos fins de semana ganhava uns trocados se apresentando em companhias de dança da cidade. Para Dizzy as artes eram essenciais como a própria respiração e por isso ela procurou estudar todas elas. James Dean a adorou desde a primeira vez que conversaram. De fato foi a grande amiga de Dean em Nova Iorque até sua morte. A aproximação logo se tornou irresistível para Dizzy, mas Dean a confrontou dizendo: "Querida, eu adoro estar ao seu lado, mas isso não quer dizer que queira ser seu namorado. Espero que entenda isso. Eu iria magoar você, tenha certeza disso. Eu gosto de meninas, mas também de meninos. Não quero que você sofra por isso". Dizzy foi uma das poucas pessoas que Dean falou abertamente sobre sua bissexualidade. Ele gostava tanto dela como amiga que resolveu deixar tudo claro para evitar maiores mal-entendidos. Foram amigos até o fim da vida de Dean.

Pablo Aluísio. 

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 11

Para não contrariar seu pai, Dean continuou frequentando o curso de Direito na UCLA. Morando em uma fraternidade no campus ele tinha liberdade suficiente para ir atrás do que realmente gostava. E Dean não gostava de leis e decisões judiciais, mas sim de teatro e artes cênicas. Assim sua presença foi ficando cada vez mais rara no departamento jurídica e cada vez mais presente entre os alunos aspirantes a atores.

Dean também começou a participar de grupos amadores de teatro. Era comum na época pessoas comuns participando de peças de teatro montados e encenados dentro da própria comunidade. Donas de casa, advogados, enfermeiras, todos podiam ter a chance de subir em um palco e ser um ator por um dia. James Dean viu aí uma boa oportunidade de começar por algum lugar. Em pouco tempo estava fazendo parte de grupos desse tipo.

Conforme o tempo foi passando suas notas em Direito foram desabando. Depois de um tempo nesse impasse James resolveu jogar tudo pela janela. Abandonou o curso e consequentemente a fraternidade do qual fazia parte. Era onde ele morava, sem o curso de Direito James Dean estaria literalmente no meio da rua, até porque seu pai também havia ficado irado com sua decisão de largar tudo. Mesmo com essa pressão, Dean resolveu abandonar a UCLA. Ele sabia, em seus pensamentos, que não tinha futuro nessa area.

Depois que Dean largou a faculdade o seu relacionamento com seu pai, que já era frio e distante, ficou ainda pior. Não parecia haver volta para a relação entre pai e filho. Durante um tempo James Dean pensou em ir para Nova Iorque, onde estavam as melhores escolas de atuação do mundo, mas ele não tinha grana nem para a viagem. Sem ter onde morar, sem emprego, sem universidade, esse parecia um dos piores momentos de sua vida. Além do mais Dean não queria voltar para Indiana, para a casa de seus tios. Seria aceitar uma derrota. Foi então que Dean começou a procurar um emprego, qualquer um, para tentar se manter em Los Angeles, até conseguir algo melhor ou conseguir transformar seu sonho de ser ator em realidade.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 10

Em Nova Iorque James Dean finalmente encontrou a liberdade que tanto procurava. Na cidadezinha onde nasceu e cresceu todos cuidavam da vida dos outros. Não se podia dar um pequeno passo sem que isso se tornasse a fofoca da cidade. Já em Nova Iorque, uma metrópole, ninguém queria saber da vida de ninguém. Dean podia seguir seus próprios passos sem se importar com o que os outros iriam dizer. Liberdade, acima de tudo. Era o que ele tanto procurava.

Além disso a cidade fervilhava artisticamente. Não era apenas a arte dramática. Havia poetas, artistas plásticos, escritores, todos os tipos de artistas que se podia imaginar. James Dean assim passou a cultivar amizades com toda essa gente. Seu passatempo preferido passou a frequentar um café perto do Actors Studio, onde ele passou a conhecer a classe artística de NYC. E apesar de ser bem jovem, Dean decidiu que não queria apenas atuar, ele queria tudo o que pudesse alcançar.

Não demorou muito e James Dean se matriculou nos mais diversos cursos de arte. Chegou até mesmo a estudar ballet! Isso seria impensável em Indiana, naquela sociedade rural e atrasada, onde isso era coisa de afeminados. Em Nova Iorque obviamente ninguém pensava assim. Ser bailarino era apenas mais uma chance de aprender uma nova expressão artística. Na dança James Dean acabou encontrando uma forma de aliviar o stress, a tensão do dia a dia. Foi uma experiência que ele gostou bastante.

Além disso se expressar com o corpo era algo essencial para um bom ator. No próprio Actors Studio os jovens atores eram incentivados a aprenderam canto, dança moderna, tudo que pudesse a desenvolver melhor a expressão corporal. Uma forma de ir fundo na arte dramática. Além disso todos os estudantes eram também incentivados a procurar por bons livros, grandes clássicos da literatura antiga e moderna. Ter cultura era essencial para se tornar um bom ator. Afinal ter base cultural era o primeiro passo para ser um grande artista em qualquer área que se abraçasse..

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 9

Conforme o tempo foi passando James Dean foi ficando cada vez mais decepcionado com Hollywood. Ele arranjou uma agente e começou a ir em testes para filmes, mas a resposta era sempre negativa. Dean não conseguia papéis e nem trabalho. Chegou a implorar para trabalhar como extra, mas nem nisso foi bem sucedido. Os responsáveis pelas escolhas do elenco davam as mais variadas justificativas para recusá-lo. Alguns diziam que ele não tinha experiência e nem currículo! Outros disseram que ele não tinha altura suficiente! Era uma desculpa esfarrapada atrás da outra.

Sem emprego, sem trabalho no cinema, Dean ouviu atentamente um veterano durante um desses dias em que passou horas para fazer sua audição para um filme qualquer. O velho ator lhe disse: "Você é jovem! O que está fazendo aqui? Vá para Nova Iorque se tornar um ator de verdade! Estude, vá fazer teatro! Você quer começar sua carreira profissional logo como ator de cinema? Primeiro você deve se tornar um ator para só depois, quem sabe, fazer filmes! O verdadeiro ator é o ator de teatro e Nova Iorque é o lugar certo para isso!". Esse sábio conselho tocou James Dean profundamente. O velho tinha razão. Dean então decidiu mudar sua estratégia de vida. Comprou uma passagem de avião para Nova Iorque (paga por sua agente) e na segunda-feira seguinte foi embora de Hollywood, de Los Angeles, e de seus testes medíocres.

Conforme lembraria depois Dean chegou em Nova Iorque com 5 dólares no bolso. Era um tempo frio, com muita chuva, mas nem isso desanimou o jovem ator. Ele adorou o clima da cidade, os bairros de artistas como o Greenwich Village, onde havia oportunidades para todos, pintores, escultores, poetas e... atores! A cidade respirava arte em todos os lugares. Escrevendo para um amigo Dean relatou: "Os primeiros dias em Nova Iorque foram impactantes! Essa grande cidade quase me esmagou! Agora estou mais confortável nela. Adoro caminhar pela Broadway, ver as peças que estão em cartaz! Nova Iorque, essa sim é uma cidade acolhedora!".

O ator gostou tanto da nova cidade que mesmo anos depois quando já era um astro em Hollywood, sempre ia para NY para passar os fins de semana. De fato ele considerava a "Big Apple" como seu verdadeiro lar. Nada de Hollywood com sua sociedade fútil e petulante. Os verdadeiros artistas estavam andando pelas ruas de Nova Iorque, isso Dean afirmou mais de uma vez. O ator tinha razão em amar o novo lar. Em Nova Iorque as coisas finalmente começaram a dar certo. Ele foi aprovado para participar de peças e o mais importante de tudo: foi aceito na prestigiada escola de atores do Actors Studio. Sua vida estava para mudar para sempre!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 8

Depois que abandonou a universidade, James Dean ficou sem grana, sem apoio do pai e sem emprego. Dean chegou a ponto de ficar sem ter nem o que comer, geralmente contando com a boa vontade de conhecidos que lhe pagavam algum lanche casual. Diante de uma situação financeira tão ruim Dean acabou encontrando a solução para seus problemas em Rogers Brackett. Ele era um homossexual rico e bem relacionado em Los Angeles. Um sujeito que poderia lhe ajudar no começo de sua carreira, que ainda não tinha decolado. 

O interesse de Rogers em relação a Dean era claramente sexual. Ele se sentiu atraído pelo jovem ator e o tornou seu namorado, seu protegido. Embora se apaixonasse mesmo por mulheres, James Dean estava aberto a todas as possibilidades. Além disso se houvesse uma ajuda financeira seria muito bem-vinda. Era claro para Rogers que James Dean tinha interesse nele e isso passava por uma ajuda em dinheiro em relação à sua situação. Era um relacionamento de interesses mútuos e eles sabiam disso. Com tudo certo entre eles James Dean arrumou suas malas e foi morar com Brackett em sua casa sofisticada nas colinas de Hollywood. 

Anos depois quando finalmente resolveu falar sobre seu romance com James Dean, Rogers explicou que aquela não havia sido a primeira experiência homossexual na vida do ator. Ele teria tido ao namorado que havia se relacionado com um pastor gay de sua cidade natal. Era curioso que em uma pequena cidadezinha de Indiana, Dean, ainda jovem, teria tido um romance proibido justamente com o pastor evangélico que era amplamente admirado e respeitado pelos moradores. Naquele meio oeste rural teria sido um escândalo e tanto se algo assim fosse descoberto. 

Outro fato que Rogers Brackett lamentaria seria o fato de ter rasgado as cartas de amor que James Dean havia lhe escrito anos antes. Ele disse na entrevista: "Se eu soubesse que Dean iria virar um ator tão popular do cinema, um astro de Hollywood, eu teria guardado todas as cartas românticas que ele me escreveu. As terias colocado em leilão e teria ficado muito rico com elas! Pena que depois que terminamos eu as rasguei, com raiva e mágoa dele! Uma coisa estúpida que fiz!". A mágoa de Brackett em relação a Dean teria sido causada pelo distanciamento de Dean para com ele, principalmente depois que ficou famoso. Assim que as coisas começaram a dar certo James Dean dispensou o namorado que havia lhe ajudado sem muita cerimônia.

Pablo Aluísio.