quinta-feira, 8 de abril de 2010

Elvis Presley - Flaming Star - Parte 4

Apesar dos esforços de Elvis, que não queria aparecer cantando de jeito nenhum nesse filme "Estrela de Fogo", o estúdio Fox conseguiu convencer ele a cantar pelo menos uma canção. A escolhida foi a baladinha country "A Cane and a High Starched Collar". Eu gosto dessa música, apesar de ser das mais simples. Basicamente apenas um arranjo acústico, para que soasse verdadeira na cena do filme, pois era um faroeste, onde o personagem contava apenas com um violão.

"Britches" era igualmente simples. Também foi cogitada para ser usada no filme, em outra cena, mas Elvis se recusou com firmeza. Ele queria que esse filme fosse apenas de atuação, não de cantoria. O resultado foi outra faixa gravada e completamente desperdiçada. Ficou anos e anos arquivada, se tornando muito rara. Se nos Estados Unidos passou em brancas nuvens, imagine no Brasil. Os fãs brasileiros nem sabiam que essa canção existia.

"Flaming Star" contou com um grupo musical bem diferente do que Elvis estava acostumado a trabalhar em estúdio. Nada de Scotty Moore e seus músicos da banda usual e tradicional que Elvis usava regularmente em seus discos e singles. Como era um western da Fox, o próprio estúdio cinematográfico escolheu a banda que iria tocar com Elvis na trilha sonora. Só músico contratado da própria companhia.

E a banda era formada pelos seguintes músicos: Howard Roberts no violão, Hilmer J. "Tiny" Timbrell na guitarra (esse iria trabalhar em outras ocasiões com Elvis), Michael "Meyer" Rubin no baixo, Bernie Mattinson na bateria e no acordeão James Haskell pois eram músicas de faroeste. Da turma de Elvis mesmo só compareceu na sessão o pianista Dudley Brooks e o grupo vocal The Jordanaires, contando com os vocalistas Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker. A formação clássica dos Jordanaires, como se pode perceber.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 1

Elvis gravou esse primeiro álbum gospel em 1960. A RCA Victor, sua gravadora, não achou uma boa ideia. Elvis era um rockstar, um cantor jovem pop. Não tinha nada a ver com músicas religiosas. Ele já havia gravado gospel antes, em um compacto duplo, nos anos 50, mas um álbum inteiro só com canções de teor religioso era algo que fugia dos padrões da gravadora. Só que Elvis já estava decidido. Ele queria gravar um álbum em homenagem à sua mãe. E nada era mais adequado do que gravar um LP gospel em memória da alma de Gladys Smith.

Não é demais lembrar também que um dos sonhos de Elvis era fazer parte de um quarteto gospel. Isso desde os tempos em que era apenas um adolescente que ouvia música religiosa nas estações de rádio de Memphis. A família de Elvis era religiosa, mas não era fanática. Eram crentes comuns, que gostavam de ir aos cultos aos domingos e principalmente ouvir músicas religiosa no rádio, um dos poucos eletrodomésticos que existia em sua casa. Assim não é de se admirar que Elvis tenha criado um vínculo emocional nostálgico com todas essas músicas que ouvia quando era garoto. Era uma lembrança muito presente de sua mãe também, que ouvia ao seu lado todos esses programas.

Assim Elvis cresceu ouvindo gospel. Fazia parte de sua formação musical e cultural. As faixas de "His Hand in Mine" foram selecionadas pelo próprio Elvis. Ele teve que engolir todas aquelas músicas de "G.I. Blues", sem ter poder de veto sobre elas, recebendo um pacote fechado do estúdio e da gravadora, para apenas colocar sua voz. Porém em se tratando desse álbum ele iria ter controle completo. Iria escolher as músicas, cantando aquilo que realmente desejasse cantar. Era um material que ele acreditava.

Eu considero um belo trabalho da carreira de Elvis. Curiosamente não gosto muito da faixa título "His Hand in Mine" que tem uma introdução muito estranha, embora melhore muito depois, em sua melodia bonita. Essa é uma antiga canção religiosa, que apenas pessoas como Elvis conheciam. Sim, ele tinha um vasto conhecimento de gospel music. E também era um colecionador de discos religiosos desde muito jovem. Ao longo dos anos Elvis estava sempre comprando discos desse gênero musical. Também adorava assistir programas religiosos nas manhãs de domingo. Esse era um lado de Elvis que realmente poucos conheciam na época.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 2

Elvis gravou esse álbum no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor escolhido pela gravadora para essas sessões foi o bom e velho Steve Sholes. O escolhido para ser o engenheiro de som foi Bill Porter. Esse disco mostrou bem como Elvis era "rápido no gatilho". Em praticamente apenas dois dias (30 e 31 de outubro de 1960) ele finalizou sua participação no álbum. Gravou todas as doze faixas previstas. Sem perda de tempo e dinheiro. Contribuiu para isso o fato de que Elvis conhecia a maioria das músicas desde a adolescência. Então foi apenas questão de acertar o take certo.

A primeira música gravada foi "Milky White Way", que não por acaso também era uma das melhores canções do álbum. Aqui Elvis caprichou mesmo naquele estilo de voz de veludo que seria a característica mais lembrada dessa fase de sua carreira, ali no comecinho dos anos 60. Elvis adotou um estilo de cantar mais suave, mais terno, como bem foi definido por um crítico da época. O velho estilo musical mais áspero e rasgante, de seus anos de roqueiro, nos anos 50, pareciam distantes agora.

Depois de gravar a faixa título do disco, Elvis se concentrou em "I Believe in the Man in the Sky". Essa era uma velha conhecida de Elvis. Um gospel tradicional, muito utilizado nos cultos da Assembleia de Deus, que era a igreja frequentada pela família de Elvis quando ele era apenas um garotinho. Foi uma lembrança nostálgica de seus anos de convivência ao lado de sua mãe Gladys, ainda nos tempos duros de Tupelo. Interessante citar também que a RCA Victor iria utilizar esse mesma música em um single, mas somente alguns anos depois.

Nessa mesma noite de inspiração nos estúdios da RCA, Elvis ainda emplacou sua versão de "He Knows Just What I Need". Esse gospel deu um pouco mais de trabalho para Elvis e seu grupo de apoio pois foi preciso gravar 10 takes para que Elvis se sentisse finalmente satisfeito. Depois que ela foi gravada Steve Sholes sugeriu que Elvis desse um tempo nas músicas religiosas para que eles gravassem a faixa título de seu novo single, "Surrender". Mais complicada de gravar do que era esperado, Elvis levou 17 takes para finalizá-la. Havia uma parte final que cobrou seu preço na voz de Elvis. Ele precisou se empenhar bastante para que ficasse realmente boa a gravação. Ficou excelente. Essa música iria se tornar um hit em sua carreira.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 3

"Joshua Fit The Battle" foi baseada em um evento narrado no velho testamento quando Josuè (Joshua) derrubou os muros de Jericó durante uma batalha. Essa vitória foi creditada pelos antigos judeus ao seu Deus único. Essa canção tem ótimo ritmo, bem animada, poderia ser considerado até mesmo um bom rockabilly se não fosse sua letra religiosa. Elvis parece bem empolgado com sua vocalização. É uma das faixas que mais aprecio nesse álbum. Pura energia positiva.

Outra que se destaca por seu excelente ritmo, bem pra cima, bem agitada, é a canção "Swing Down, Sweet Chariot". Um fato curioso é que essa faixa seria regravada por Elvis em 1969, para fazer parte da trilha sonora do filme "Lindas Encrencas, as Garotas" (The Trouble With Girls). No filme Elvis representava um personagem que gerenciava um daqueles parques itinerantes que viajavam de cidade em cidade com seu show.

Na época chegou-se a dizer que o enredo do filme era baseado na vida do Coronel Tom Parker antes dele encontrar Elvis, para se tornar seu empresário. De qualquer maneira entre as duas versões prefiro muito mais a desse disco do que a trilha sonora, que embora inferior também era muito boa. E a cena no filme também ficou excelente, com Elvis em seu terno branco e chapéu de cowboy, figurino inclusive que usa em praticamente todas as cenas do filme, que também considero bom, até acima da média do que ele vinha fazendo em Hollywood.

Outra faixa que merece destaque nesse disco "His Hand in Mine" é  "Working On The Building". Tem um excelente arranjo, mais voltado para o acústico. O violão é o grande destaque e muitos dizem que foi tocado pelo próprio Elvis no estúdio. Não seria uma surpresa. Se houve um álbum em que Elvis fez questão de se envolver nesse ano de 1960 foi justamente esse, que inclusive seria o seu último disco do ano a chegar nas lojas. Assim Elvis esperava fechar seu ano de retorno com belas mensagens cristãs. Nesse aspecto ele foi definitivamente bem sucedido em suas pretensões.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 4

O gospel  "I'm Gonna Walk Dem Golden Stairs" atualmente é bem associada a Elvis Presley, mas esse hino religioso, ou pelo menos seus primórdios, suas primeiras versões, são bem antigas. Segundo algumas pesquisas os pioneiros já cantavam versões rudimentares dessa música religiosa já por volta de 1750. Esse tipo de gospel vai mudando ao sabor dos tempos, afinal é uma música composta e criada para ser cantada em cultos. Conforme mudam as igrejas, novas versões vão surgindo.

"Known Only To Him" é o que os americanos gostam de chamar de spiritual. E o que seria isso? É uma subdivisão da música gospel. Essa denominação de spiritual era usada para canções mais introspectivas, mais centradas em si mesmo, mais reflexivas, algo como se fosse uma oração interior, um diálogo bem pessoal com Deus. Geralmente esse tipo de song era mais lenta, melancólica até. Feita para se ouvir em grandes crises pessoais.

"Mansion Over The Hilltop" apresenta uma melodia bem mais agradável em meu ponto de vista. O arranjo apresenta uma bela combinação entre o violão (que os americanos gostam de chamar de "guitarra acústica") e o piano, aqui dando o tom de todo o gospel, do começo ao fim. Destaque também, como não poderia de ser, ao grupo vocal The Jordanaires. Aqui eles estavam em casa, em seu habitual, pois nasceram como quarteto gospel, desde seu surgimento. Cantar ao lado de Elvis música pop, rock e comercial, havia sido quase um acidente em sua carreira.

Um aspecto que acho interessante em um álbum como esse é que não é segredo para ninguém o desejo que Elvis tinha, desde que era apenas um adolescente, em se tornar membro de um quarteto vocal gospel. E ao longo de sua carreira ele pareceu nunca desistir de um dia realizar esse tipo de sonho. Tanto que sempre foi acompanhado em suas gravações por grupos vocais que tinham surgido dentro do universo gospel americano. Não importava o tipo de música que gravava, sempre havia um grupo vocal desse estilo ao seu lado fazendo os vocais de apoio.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 5

Elvis gostava muito dos discos de um pastor batista chamado Thomas Mosie Lister. Tinha em sua coleção particular de discos todos os álbuns e singles desse pregador. Tão admirador do gospel de Mosie Lister se tornou que gravou várias versões de músicas dele, muitas delas presentes nesse seu primeiro LP de músicas religiosas, "His Hand in Mine".

Era até engraçado quando Elvis entrava em alguma loja de discos naquela época. Os vendedores pensavam que ele iria comprar discos de rock ou pop, mas Elvis ignorava completamente a seção desses discos. Ele ia direto para a sessão de gospel music. Inclusive passando os olhos sobre a lista de sua discoteca particular vemos que a grande maioria dos discos era de gospel e country, seus dois ritmos musicais preferidos. Quase não havia nada de rock, a não ser alguns discos dos Beatles.

"In My Father's House", que em tradução livre poderia ser traduzido em nossa língua portuguesa como "Na casa de Meu Pai" era mais uma das músicas religiosas preferidas de Elvis. Aqui, como não poderia deixar de ser, se destacava em relevo as vocalizações de seu grupo de apoio, os bons e velhos membros dos Jordanaires, que poucas pessoas sabem hoje em dia, mas que nasceram como quarteto gospel.

E por falar em quartetos gospel, Elvis tinha verdadeira adoração por esse tipo de vocalização. Ele inclusive chegou a declarar em entrevistas que não havia nada no mundo da música mais belo de se ouvir do que quatro vozes masculinas, em perfeita harmonia, cantando gospel music. Isso talvez explique a inclusão da faixa  "If We Never Meet Again" na seleção musical do álbum. Muito embora a versão de Elvis tenha sido adaptada ao seu estilo. Afinal os fãs queriam ouvir Elvis quando comprava um de seus discos oficiais e não um quarteto gospel ao velho estilo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Elvis Presley - GI Blues - Parte 1

A trilha sonora do filme "Saudades de um Pracinha" tem altos e baixos. Na época em que esse álbum foi produzido os produtores procuraram por uma sonoridade que lembrasse as marchas militares. Nem preciso dizer que Elvis odiou essa ideia. Dono de um senso musical único, Elvis achou essa uma péssima premissa, porém acabou no final aceitando, por livre e espontânea pressão de ter assinado um contrato leonino com a Paramount Pictures e a RCA Victor. Nesse tipo de contrato era estipulado que Elvis iria receber o pacote já fechado com as músicas dos filmes. Ele apenas teria que cantar as músicas, sem poder opinar ou recusar gravar qualquer uma delas.

O disco foi sucesso de público e crítica, fazendo com que Elvis resolvesse se calar pelo resto dos anos 60. O álbum com as músicas do filme se tornaram seu título mais vendido em 1960, superando e muito o "Elvis is Back!" que tinha maiores pretensões artísticas. A crítica também gostou. Achou o material criativo, lembrando inclusive de peças da Broadway em Nova Iorque. O disco foi até mesmo indicado ao Grammy, algo que não mais se repetiria em relação às trilhas sonoras de Elvis em Hollywood. Com tão boa receptividade, com tanto lucro, Elvis enfiou definitivamente suas opiniões no saco. Ele não mais reclamaria do material que lhe era enviado para gravar, por mais medíocres que fossem as músicas. Se estava fazendo sucesso, quem seria ele para contrariar?

Uma das curiosidades desse novo lote de músicas que ele teria que gravar é que Elvis teria que fazer uma nova versão de seu próprio clássico 'Blue Suede Shoes" de 1956. Lançada inicialmente em seu primeiro disco na RCA Victor, ele precisou voltar aos microfones para cantar esse novo arranjo, bem mais acústico e menos cru do que a versão original. Eu particularmente gostei da sonoridade dessa nova versão. É bem melhor produzida, não há como negar, embora com menos energia do que a primeira gravação, quando Elvis, aos 21 anos, estava no pique da sua fase roqueira.

E se formos parar para pensar bem foi até bem desnecessária a produção dessa nova versão. Ela é usada numa cena do filme quando um soldado resolve interromper Elvis, que está cantando no palco de um night club. O pracinha liga o jukebox e dele sai justamente a nova "Blue Suede Shoes". Momento ideal para uma briga de Elvis e seu opositor. Praticamente todo filme de Elvis tinha uma cena de briga. Era padrão em seus filmes. Os roteiristas usavam uma determinada fórmula em seus roteiros. O público já chegava no cinema sabendo que haveria uma cena assim.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - GI Blues - Parte 2

"What's She Really Like" foi composta pela dupla Abner Silver e Sid Wayne e gravada no dia 28 de abril de 1960. Considerada uma boa balada do disco, diria até que é uma das melhores faixas da trilha sonora, com uma sonoridade agradável e relaxante aos ouvidos. A letra é interessante, onde um amigo conta ao outro sobre sua nova namorada. Só elogios, dizendo que ela é maravilhosa em todos os sentidos, que tem lábios excitantes! E vem também o orgulho em dizer ao amigo que "ela é minha". Pois é, orgulho de namorado em romance recente.

"Big Boots" foi um caso curioso dessa trilha sonora. Foram gravadas duas versões diferentes da música. A primeira e a principal, que acabou entrando no disco e sendo usada numa cena do filme, veio em ritmo de canção de ninar. Muito terna, muita doçura e fofura. A outra versão que foi arquivada vinha em ritmo de rock, ou melhor dizendo, em ritmo pop aceleradinho. Ficou ótima essa versão B, mas infelizmente os produtores da época acharam que não havia espaço nela no disco oficial. Coloque mais esse na longa lista de erros da RCA Victor.

"Didja' Ever" é uma marcha militar. Sim, uma marcha militar, mas com claro sabor pop music. Nada tão surpreendente assim, uma vez que o personagem de Elvis era um soldado americano na Alemanha, servindo por lá no pós-guerra, sendo um bom patriota e tudo mais. No filme a música ganhou certo destaque. A força aérea dos Estados Unidos até colaborou, cedendo um de seus caças para fazer parte do cenário. Afinal tanto o filme como o disco poderiam ser usados como propaganda para as forças armadas americanas. Algo meio trágico pois em pouco tempo os Estados Unidos iriam se envolver na Guerra do Vietnã e toda aquela tragédia humana e militar que foi aquela intervenção.

Não há como ignora a bela melodia da balada "Doin' the Best I Can". A letra é de resignação e também de decepção. O enamorado personagem canta em primeira pessoa a decepção de se fazer tudo pela amada e não ter reconhecimento nenhum por isso. Ele faz tudo por ela, mas não parece ser suficiente. Uma carta de sonhos não realizados, afinal quando elas agem dessa maneira, uma coisa parece certa, o romance está prestes a desmoronar. Boa faixa, sendo que em minha opinião não foi bem usada no filme, aparecendo muito timidamente.

Pablo Aluísio.

domingo, 4 de abril de 2010

Elvis Presley - GI Blues - Parte 3

O maior sucesso dessa trilha sonora de Elvis foi a canção "Wooden Heart". É a bela música que foi apresentada no filme quando Elvis contracenou com uma marionete, no show para crianças. Cena muito legal do filme. Dois aspectos curiosos rondam essa música. A primeira é que foi a única música gravada por Elvis com palavras da língua alemã, o que era natural acontecer pois a versão aqui que ouvimos é uma adaptação de uma antiga música do folclore da Baviera. Como Elvis havia servido na Alemanha e como o seu personagem também servia na Alemanha na história do filme era impossível ignorar a cultura alemã na seleção musical do disco.  Os produtores do disco então se apressaram em providenciar algo nesse sentido. O resultado ficou muito bom, acima do esperado. E Elvis caprichou em sua performance.

O segundo aspecto digno de nota é que essa foi a única música dessa trilha sonora que Elvis cantou ao vivo, em um palco, durante a década de 1970. Claro que foi apenas uma pequena versão, muito limitada, de poucos minutos, algo que Elvis sempre fazia em se tratando de suas antigas gravações, mas mesmo assim ela foi cantada. Nenhuma outra ganhou esse privilégio. Sucesso na Alemanha e nos demais países ali vizinhos, como Holanda e Suíça, "Wooden Heart", apesar de sua singeleza, segue sendo um dos maiores hits europeus do cantor.

"Pocketful of Rainbows" ganhou uma cena bem romântica entre Elvis e sua parceira Juliet Prowse. É a cena do teleférico. Essa cena foi rodada em estúdio, em Hollywood. As cenas das montanhas que aparecem nas costas do casal é apenas o velho método de black projection (alguns chamam de back projection) onde os atores atuavam na frente de uma grande tela de cinema, com cenas filmadas por uma segunda unidade de direção da Paramount que foi até a Alemanha para gravar as cenas que seriam usadas nos cenários do filme.

Já no estúdio da gravadora RCA Victor Elvis precisou gravar duas versões diferentes da música. A primeira foi utilizada pela RCA na trilha sonora oficial do filme. Apenas Elvis cantando, em solo. A segunda foi gravada alguns dias depois quando a atriz Juliet Prowse apareceu nos estúdios para gravar um dueto ao lado de Elvis. Embora a voz de Prowse fosse bonita sempre preferi a versão que contava apenas com a vocalização de Elvis. Muito mais perfeita do ponto de vista técnico. Outro aspecto digno de nota é que essa canção deu muito trabalho para Elvis, resultando em incríveis 28 takes! Em se tratando de Elvis isso era um verdadeiro absurdo!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - GI Blues - Parte 4

"Frankfort Special" é a música que Elvis canta em um trem, no filme. Gosto bastante dessa canção, embora Elvis não tenha apreciado tanto assim. Ele inclusive pediu que mais da metade das músicas fossem retiradas do filme. Aquela velha coisa de querer ser um ator sério ao estilo Marlon Brando e James Dean. O produtor Hall Wallis recusou todos os seus pedidos. Experiente em Hollywood sabia muito bem o que os fãs de Elvis queriam ver em seus filmes. Queriam ver ele cantando, nada muito além disso. Assim as músicas ficaram no filme.

A música título do filme "G.I. Blues" divide opiniões. Tem que aprecie e tem quem não goste. Minha opinião é de que o ritmo é bom, um pop em ritmo de marcha militar. O que estraga um pouco é a letra, mais parecendo uma paródia dos anos em que Elvis viveu no serviço militar. De certa maneira desmerece quem serviu o exército americano naquele período, em tempos de paz. Acho que a melodia merecia uma letra melhor, menos metida a engraçadinha.

Caso semelhante ocorre com "Shoppin' Around". Excelente ritmo, letra fraquinha. Aqui Elvis foi creditado como instrumentista na ficha técnica da sessão de gravação. Ele teria tocado o violão. E como é uma faixa com forte vocação acústica essa teria sido, no final das contas, uma das melhores participações dele como músico nesse período de sua carreira. Ficou perfeito sua performance ao violão. Coisa rara de acontecer naqueles tempos.

"Tonight Is So Right for Love" é uma bela balada, mas trouxe problemas de direitos autorais para os produtores do disco e para a gravadora RCA Victor. Acontece que não havia os direitos para lançar essa música na Europa, então Elvis teve que gravar uma outra canção, no estilo "bem parecida, quase idêntica". O curioso é que esse mesmo problema aconteceu também no Brasil. Por isso a edição nacional do disco era semelhante ao europeu e não ao americano. Depois da morte de Elvis outras edições do álbum foram lançadas, já com a presença das duas faixas, agora sem problemas legais.

Pablo Aluísio.

sábado, 3 de abril de 2010

Elvis Presley - Elvis is Back! - Parte 1

Olhando para o passado notamos, com uma certa perplexidade, que esse foi o único disco convencional de Elvis em 1960. O único que não era, digamos assim, conceitual. "GI Blues" era uma trilha sonora. O filme "Saudade de um Pracinha" explorava em tom de pura ficção e romance, os anos em que Elvis havia passado no exército americano. "His Hand in Mine" era um álbum gospel, um disco gravado e direcionado para um público específico, sendo mais claro, a parcela evangélica do povo americano. Não era um álbum que um fã do rock de Elvis nos anos 50 iria comprar. Não seria de seu interesse.

Assim para quem estava em busca apenas do Elvis cantor, sobrava esse bom "Elvis is Back!". É foi sem dúvida um disco excepcional, com ótima seleção musical. Todas as faixas tinham, ao seu modo, um interesse próprio ao ouvinte. Também foi um dos trabalhos mais ecléticos gravados por Elvis, passeando tranquilamente por vários estilos e gêneros musicais, todos gravados de forma brilhante, registros de puro talento de Elvis e dos músicos, arranjadores e produtores que o acompanharam nessas sessões. Todos estavam de parabéns nesse sentido.

"Make Me Know It" abria o disco, era a música de entrada, faixa 1 do lado A do vinil original. Mais uma excelente criação do compositor Otis Blackwell que já tinha muita estrada ao lado de Elvis em um passado não tão remoto, apesar de que os anos no exército pareciam ter durado uma eternidade. A letra nem é o mais importante pois apesar de bem escrita apenas expressava os sentimentos de um jovem que pedia para sua namorada mostrar a ele como ela também estava apaixonada. "Mostre-me como é". Versos de caderno escolar de um rapaz um tanto inocente. Pois é, o ponto alto não é mesmo a letra, mas sim o ritmo, esse saboroso de se ouvir.

Elvis tocou muito "Soldier Boy" ao piano quando estava na Alemanha. Ele recebia amigos e convidados à noite em sua modesta residência e na sala de estar havia um piano onde Elvis se aventurava a tirar algumas notas musicais. E essa canção estava sempre presente nessas apresentações amadoras. Escrita pela dupla de compositores David Jones e Theodore Williams, Jr, essa canção contou com uma ótima performance vocal de Elvis. Ele soltou o vozeirão, algo que poderia ser encarado até mesmo como uma premissa do que estava por vir. "It´s Now or Never" estava chegando.

Pablo Aluìsio.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Elvis Presley - Elvis is Back! - Parte 2

A música "Dirty, Dirty Feeling" foi escrita pela dupla Leiber e Stoller. Eles, é sempre bom lembrar, escreveram algumas das melhores canções gravadas por Elvis Presley ao longo de sua carreira. Basta lembrar de "Jailhouse Rock" para bem perceber isso. Conforme os anos foram passando eles começaram a cobrar mais por seus direitos autorais. Algo natural, afinal o que escreviam geralmente fazia sucesso. O Coronel Tom Parker não gostou disso. As coisas foram ficando mais tensas e aos poucos as músicas de Leiber e Stoller foram desaparecendo dos álbuns do cantor.

"Dirty, Dirty Feeling" não é dos melhores momentos da dupla, mas mantém um certo nível de qualidade. Curiosamente essa faixa seria reaproveitada anos depois na trilha sonora do filme "O Cavaleiro Romântico" (Tickle-Me). Sempre pensando em gastar o menos possível o Coronel Parker chegou na péssima conclusão de que nem seria preciso gastar para gravar uma nova trilha sonora para esse filme. Bastava apenas pegar algumas músicas antigas e usar. Picaretagem pouca é bobagem!

"The Girl Of My Best Friend" tem uma bela melodia, uma das melhores desse disco. O título em português significa "A garota do meu melhor amigo", ou seja, a letra vai nessa direção. Imagine se apaixonar pela namorada de seu melhor amigo, situação delicada não é mesmo? Hoje em dia, com o afrouxamento dos valores morais, pode-se dizer que muitos nem pensariam duas vezes. Nos anos 60 porém ainda havia mais romantismo no ar e essa questão virava uma grande dúvida como se pode perceber ao ouvir essa bela balada romântica.

O forte de "I Will Be Home Again" é a linda vocalização, em dueto de Elvis com Charlie Hodge. Elvis o conheceu na Alemanha, no exército. Eles se tornaram amigos e Charlie acabou virando uma espécie de valete na vida de Elvis, o acompanhando até sua morte em 1977. Eles costumavam cantar essa música na Alemanha, pois a letra era saudosista e se adequava bem a um pracinha vivendo na Europa, cantando sobre um dia voltar para sua casa, seu lar. Como viviam cantando essa canção em seus tempos de exército, nem foi precisar se esforçar muito dentro do estúdio. Não foi preciso ensaiar. A questão foi rápida e simples, apenas caprichando na versão definitva.

Pablo Aluìsio.

Elvis Presley - Elvis is Back! - Parte 3

"Fever" sempre foi uma das músicas mais lembradas desse álbum. E não é para menos pois Elvis realmente teve uma performance vocal digna de todos os aplausos. A sensualidade da música era óbvia e Elvis sabia bem disso, potencializando cada sílaba, cada palavra. Essa música foi composta na verdade por Otis Blackwell. Porém ao se ler os créditos no disco você encontrará outro nome, John Davenport. Era apenas um pseudônimo usado por Otis.

Muitos compositores negros usavam desse artifício para contornar contratos de exclusividade que tinham assinado. Com Otis Blackwell não foi diferente. A primeira vez que "Fever" foi lançada, ela chegou no mercado através de um single em 1956. Quem cantou a primeira versão, a versão original, foi  Little Willie John. Depois disso surgiram inúmeras versões. As mais conhecidas foram de Peggy Lee, Ella Fitzgerald, James Brown, Ann-Margret e, claro, não poderíamos deixar de citar, Madonna.

Outro grande destaque desse álbum é "Such a Night". Curiosamente em 1960 nenhum single foi extraído do disco para ajudar em sua promoção, porém se isso tivesse acontecido certamente a música com maior potencial para sucesso na parada de singles da Billboard seria justamente essa. Com o marketing correto, com o cuidado necessário por parte da RCA Victor e com algumas apresentações de Elvis na TV, tenho certeza que essa gravação chegaria ao topo das paradas. Só que infelizmente isso não aconteceu. Ficou tudo apenas na categoria do "... e se...".

"The Thrill Of Your Love" é uma bela balada romântica, muito bonita em letra e música. Esse tipo de gravação era uma amostra do trabalho que Elvis iria abraçar cada vez mais nessa nova fase de sua carreira, nos anos 60. E os estúdios de Hollywood estavam ouvindo tudo atentamente, tanto que muitas canções nessa linha musical iriam fazer parte de suas futuras trilhas sonoras. Era o pacote perfeito. O disco ajudava a promover o filme e o filme, claro, ajudava a vender o disco. Para o Coronel Parker era essa a fórmula do sucesso.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Elvis Presley - Elvis is Back! - Parte 4

 "The Girl Next Door Went A'walking" tem um ritmo esquisito. Não sei se muitas pessoas concordam com minha opinião ou não, porém sempre achei essa canção um tanto estranha em seu ritmo. Passa uma ansiedade, uma coisa meio apressada, que sempre me deixou meio surpreso com sua estrutura. A vocalização de Elvis mais uma vez está ótima, mas seguramente foge dos padrões. Essa expressão "Girl Next Door" é muito usada em língua inglesa. Significa aquela garota comum, que poderia ser inclusive a sua vizinha da casa ao lado. Pelo visto o autor da música ficou abalado ao ver sua bela vizinha caminhando pela rua...

Até onde pesquisei essa faixa foi uma original da discografia de Elvis Presley. O que exatamente significava isso? Basicamente que Elvis havia gravado a canção pela primeira vez. Nenhum outro cantor a tinha gravado. Isso era importante porque aumentava o potencial da música em se tornar um hit. Músicas que já tinham feito sucesso na voz de outros artistas raramente se tornavam sucessos nas paradas. Só que a RCA Victor não fez questão de promover a música como se devia. Assim passou em brancas nuvens.

A música "It Feels So Right" pode ser considerada um blues. Muitos analistas citam apenas "Like a Baby" e "Reconsider Baby" como exemplos de blues presentes nesse álbum. Uma visão superficial da questão. Essa faixa "It Feels So Right" tem todos os elementos que um bom cantor de blues precisaria encontrar em uma composição para gravar em algum selo de Memphis, Atlanta ou Detroit. Afinal o blues é um estilo musical bem característico, da cultura negra, valorizando o sofrimento e mostrando as derrotas da vida.

O blues nasceu nas grandes plantações de algodão do sul. Os escravos eram levados para essas grandes fazendas onde trabalhavam de sol a sol, praticamente sem parar. O próprio nome dado ao estilo musical Blues tem essa conotação. A palavra Blue na língua inglesa não significa apenas "Azul" como muitos pensam. Significa também um estado de espírito triste, melancólico e até mesmo depressivo. Daí sua grande carga emocional, sempre presente na composição desses grandes artistas negros americanos da história. Um prato cheio de ritmo e emoção.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis is Back! - Parte 5

Certa vez o cantor e compositor de blues Howlin' Wolf disse que Elvis era um cantor de blues. Apenas isso, um cantor de blues. Não importava qual gênero musical ele gravasse, fosse rock, gospel ou country. Elvis tinha o timbre de um cantor de blues. Bom, se ele estava certo ou não, essa é uma questão hoje em dia meramente secundária. O que podemos dizer com certeza é que Elvis se saía excepcionalmente bem gravando blues. O exemplo mais cabal disso se pode encontrar nesse álbum "Elvis is Back!" de 1960.

Para esse disco Elvis gravou duas grandes músicas de blues. A primeira foi "Like a Baby". Essa canção foi gravada pela primeira vez em 1957, no mesmo ano que Elvis estrelou seu filme "O Prisioneiro do Rock" (Jailhouse Rock). Chegou ao mercado em um single obscuro gravado por Vikki Nelson, por seu próprio selo musical, a  Vik Records. Não causou grande repercussão no mercado. Quem se saiu melhor foi James Brown, com uma versão envenenada da música.

A versão de Elvis, como já foi dito, foi gravada em 1960, justamente para fazer parte do repertório do "Elvis is Back!", seu disco de retorno após passar alguns anos servindo o exército americano na Alemanha. A versão de Elvis, ao meu ver, tem muito mais estilo do que as demais. Elvis optou por desacelerar um pouco a velocidade da música, resultando tudo em mais sofisticação e elegância. Do meu ponto de vista ficou bem melhor.

Agora em se tratando de blues todos só lembram mesmo da versão de Elvis para "Reconsider Baby". Lowell Fulson a compôs e foi o primeiro a gravá-la, em single, no ano de 1954, quando Elvis dava seus primeiros passos na Sun Records. Ao contrário de "Like a Baby" esse blues já nasceu como um clássico do gênero. Na versão de Elvis ele decidiu abrir um grande espaço para o solo de sax do instrumentista Boots Randolph. É o mais longo solo instrumental da discografia de Elvis, só rivalizando talvez com "Girls, Girls, Girls", a música título do filme. Um bem-vindo espaço para um grande saxofonista. Desnecessário dizer que a gravação ficou primorosa, uma verdadeira obra-prima.

Pablo Aluísio.