domingo, 4 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Jailhouse Rock (1957)

JAILHOUSE ROCK (1957) - Se "Love Me Tender" foi um teste e "Loving You" a primeira tentativa de Elvis em se firmar como um astro em Hollywood, "Jailhouse Rock" é a consolidação desse objetivo. Com ótimo roteiro e um papel feito sob encomenda para Elvis, "Jailhouse Rock" foi o grande filme do cantor nos anos 50. A imagem do cantor vestido com roupas de presidiário entrou definitivamente na história da cultura pop e se tornou um dos ícones mais conhecidos do cantor em Hollywood. "Jailhouse Rock" foi o primeiro filme de Elvis pela MGM, estúdio conhecido por ter feito os maiores musicais da história do cinema. Com tanto know how o produto final não poderia sair diferente. Inclusive Elvis era visto como uma tábua de salvação para o estúdio, pois além de proporcionar ótimas bilheterias iria inevitavelmente levar o gênero musical para as platéias mais jovens. Em 1957 a era dos grandes musicais de Hollywood já ficara para trás, os grandes nomes do período de ouro desse estilo de filme estavam aposentados ou amargando um injusto ostracismo. O Rock'n'Roll de certa forma representava a linguagem dos jovens da época, que não estavam mais interessados nos passos de Gene Kelly e Fred Astaire.

Os grandes filmes da Metro como "Cantando na Chuva" ou "O Picolino" eram vistos pelos jovens roqueiros como passatempos bobos da juventude de seus pais. Sem conseguir encontrar uma via de comunicação com as novas gerações a MGM procurou se adaptar. E qual era a melhor forma de atrair essa moçada de volta aos cinemas para assistir seus grandes musicais? Ora, usando o maior ídolo dessa juventude: Elvis Presley. Imagine o choque de gerações dentro do set de filmagem. Uma equipe da velha escola tentando compreender e traduzir em película os anseios de uma juventude que eles mal conheciam. Isso se revelou perfeitamente em um fato ocorrido durante as filmagens. O coreógrafo e o diretor Richard Thorpe se encontraram com Elvis no dia em que iriam filmar a famosa cena em que ele cantaria o tema principal. Quando os dançarinos começaram a desenvolver sua coreografia Elvis se viu diante de um número completamente baseado no estilo de Fred Astaire e Gene Kelly, com aqueles passinhos de dança milimetricamente ensaiados. Além de fora de contexto o número era completamente ultrapassado segundo a visão de Elvis. Caso se apresentasse daquele jeito em um filme ele seria ridicularizado por seu público. Elvis viu que teria salvar o dia mais uma vez. Mudar tudo e começar do zero. O cantor esperou pacientemente tudo aquilo terminar e com educação sugeriu a Thorpe que iria, ele mesmo, desenvolver um número junto dos dançarinos. O que Elvis fez naquela tarde entrou para a história do cinema.

Em pouco mais de um dia de ensaios Elvis mostrou a todos como a cena deveria ser feita. Procurou determinar o local onde cada dançarino deveria estar e a forma que deveria se apresentar. Pela primeira em sua vida Elvis estava desenvolvendo um de seus mais notórios talentos, o de dançarino. Embora nunca tenha desenvolvido totalmente esse aspecto de sua personalidade artística, Elvis naquele dia se superou e conseguiu com aquele número entrar para a galeria dos grandes momentos musicais da história da MGM, lado a lado com os mestres do passado. E fez isso sem precisar adotar o estilo de ninguém, apenas confiou em sua intuição e realizou uma das cenas mais lembradas do cinema dos anos 50. O resultado final foi dos mais felizes: o filme foi elogiado pela crítica e o público lotou os cinemas mais uma vez. Fora isso o single "Jailhouse Rock / Treat Me Nice" se transformou em um dos discos mais vendidos da década. A trilha completa foi lançada em um compacto duplo com as seis canções do filme (sem nenhuma bonus song). Enfim, "Jailhouse Rock" é um dos mais vitoriosos projetos da carreira de Elvis, um momento único que captou para a posteridade toda a glória do Rei do Rock no auge de seu sucesso.

JAILHOUSE ROCK (Leiber / Stoller) - "Jailhouse Rock" é um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. Poucas músicas conseguiram traduzir e representar toda uma época e uma geração como essa. Perfeitamente executada, com ótimo arranjo a canção é uma das mais conhecidas da carreira de Elvis Presley. Nesse dia Elvis resolveu dispensar a participação dos Jordanaires após ter gravado alguns takes com os vocalistas. Elvis acertou, a canção ganhou em ritmo e fluência. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente visceral, tanto que ele mesmo confidenciou depois ter sido essa uma das mais difíceis de acertar. Reconhecido pelos especialistas como o melhor rock gravado por Elvis em toda a sua carreira, a canção até hoje empolga e não envelheceu nem um minuto. Tão preciso e atual é o seu arranjo que até parece que foi gravada ontem. Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um EP (compacto duplo) em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido em 1957. Porém a trajetória de sucesso dessa canção imortal continuou. No 70º aniversário de Elvis a música foi mais uma vez relançada em single para comemorar a data. Não deu outra, a música novamente liderou as paradas, 48 anos depois de ter sido gravada! Imortal é isso aí!

TREAT ME NICE (Leiber / Stoller) - Outra canção deliciosa de Leiber e Stoller sendo lançada como lado B de "Jailhouse Rock". Para essa canção Elvis resolveu gravar duas versões: uma no dia 30 de abril durante as gravações do filme e outra no dia 5 de setembro que acabou se tornando a definitiva e oficial. A primeira foi utilizada durante o filme e curiosamente é considerada por muitos como a melhor. Isso se deve principalmente porque o arranjo da primeira versão é bem mais soft e leve do que a da versão original, mais excessivamente produzida. De qualquer forma as duas são ótimas e podem ser conferidas sem nenhum receio. No filme Elvis fez questão de chamar um dos compositores para participar da cena em que ele a apresenta. Lá está Mike Stoller, atrás de Elvis, fazendo figuração como um dos membros da banda do cantor. Aliás é bom frisar que ele também participou das gravações da trilha sonora em estúdio. Outro grande momento da trilha sonora que é reconhecida, de forma merecida aliás, como uma das melhores de Elvis.

YOUNG AND BEAUTIFULL (A. Silver / A. Schroder) - Canção romântica que foi escrita especialmente para Elvis quebrar os corações de suas fãs adolescentes. Primeiro cantor a possuir um vasto conjunto de fãs clubes organizados nos anos 50, Elvis era considerado pelas jovens dos chamados anos dourados como o "namorado ideal", pelos fãs masculinos como um "modelo rebelde a se seguir" e pelas mães dessa moçada como "uma ameaça aos bons costumes". Embora fosse visto durante os anos 50 como um rebelde e delinquente essa imagem seria alterada profundamente em 1958 quando Elvis foi para o exército. A partir desse momento a imagem de Elvis sofreu uma profunda modificação passando a ser considerado um bom moço para até mesmo para as mães. Essa imagem de um Elvis rebelde e transgressor realmente não condizia com a verdade. Talvez por ser polêmico e considerado um sucessor legitimo de James Dean nos anos 50, o cantor era apontado de forma equivocada como o grande incentivador do aumento da delinquência juvenil dos EUA. Um mau elemento, à margem da sociedade. Nada mais longe da verdade. Elvis era apenas um garoto do sul, extremamente ligado em sua família, profundamente religioso e que procurava levar uma vida decente. Obviamente não estava aí para contestar os valores da classe média americana. Era antes de tudo uma pessoa que procurava subir na vida com seu talento.

Claro que papéis como o de Vince Everett do filme "Jailhouse Rock" contribuíram e muito para essa visão, mas tudo não passava de marketing dos estúdios. Elvis se dava bem com todos no set e principalmente com suas estrelas. Para contracenar com Elvis em "Jailhouse Rock" foi contratada a starlet em ascensão Judy Tyler. Logo nasceu uma amizade entre Elvis e ela. Ambos era novatos no cinema e procuravam antes de tudo se consolidar no meio. Mas antes mesmo de se tornar uma estrela de cinema Judy Tyler foi vítima de um destino trágico. Ela morreu logo após as filmagens em um acidente automobilístico. O fato chocou a todos, e em particular Elvis, que lamentou profundamente o passamento de sua colega de trabalho, ainda tão jovem, talentosa e com um futuro tão promissor pela frente. Não tardou muito para que "Jailhouse Rock" entrasse na lista negra de Elvis. Para evitar ficar deprimido Elvis baniu o filme de sua vida e nunca mais o assistiu. Isso inclusive iria acontecer um ano depois com "Loving You". Nesse filme Gladys Presley, mãe do Rei, aparecia em cena batendo palmas em uma das cenas. Depois que sua mãe faleceu Elvis riscou do mapa também seu segundo filme. Não queria recordar Gladys ali ao seu lado, viva e feliz. Freud Explica!

(You're So Square) BABY I DON'T CARE (Leiber / Stoller) - É outra verdadeira pérola da dupla Leiber e Stoller que foram os responsáveis por quase toda a parte musical deste fantástico filme. Um fato curioso ocorreu na sessão de gravação desta música: o baixista Bill Black não conseguiu executar de forma satisfatória a Introdução da música, então Elvis pegou o contrabaixo de Black e tocou a introdução de forma impecável, sendo esta a definitiva e a que aparece no disco. Curiosamente na cena do filme aconteceu uma coisa engraçada: sem se dar conta Scotty Moore acabou comprometendo a continuidade do filme. Nas cenas em que se mostrava Elvis em close, Scotty aparece sem óculos e nas cenas abertas com o cantor focalizado a uma certa distância, Scotty se apresenta com seus óculos pretos! Obviamente as tomadas de perto e de longe foram filmadas em ocasiões diferentes, porém na montagem final em que as duas cenas são unidas surge o erro de continuidade bem nítido. Apesar desse pequeno pecado técnico a cena em si é ótima, com Elvis animado e dançando em seu peculiar estilo.

I WANT TO BE FREE (Leiber / Stoller) - Outra canção composta por Leiber e Stoller. Dessa vez o resultado final fica um pouco abaixo da média. Nada que deponha contra o talento dos autores, mas se formos comparar com o restante da trilha sonora fica claro que o resultado fica abaixo do esperado. Novamente Elvis registrou duas versões na madrugada do dia 30 de abril (aliás, toda a trilha sonora foi praticamente gravada na mesma noite). Uma das versões foi utilizada exclusivamente no filme e a outra, oficial, lançada no EP (compacto duplo). Como sempre o Coronel Parker não deixaria a música ficar restrita à trilha do filme. Obviamente ele iria procurar uma forma de lançá-la novamente para ganhar alguns níqueis extras. E foi assim que "I Want To Be Free" foi relançada no disco "A Date With Elvis". Também no mesmo LP o Coronel ainda encaixaria "Baby I Don't Care" e "Young and Beautifull". Parker mais uma vez dava continuidade ao seu lema de vender a mesma coisa duas vezes!

DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Novamente?! Essa canção fez parte como "bonus song" da trilha de outro filme de Elvis, "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída aqui. Inclusive, esta não é a mesma versão do filme anterior. Particularmente prefiro a versão de "Loving You", apesar da ótima introdução de piano desta. Mas enfim, de qualquer forma ela vem para enriquecer ainda mais a ótima trilha deste filme. Um belo final para um inesquecível trabalho de Elvis Presley.

Elvis Presley - Jailhouse Rock (1957): Elvis Presley (vocal, violão e baixo) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Mike Stoller (piano) / The Jordanaires (vocais) / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 30 de abril de 1957, exceto "Treat Me Nice" gravada em 5 de setembro de 1957 / Local de gravação: Radio Recorders, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1957 (single) e outubro de 1957 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #1 (single) e EUA #1 e UK #18 - (Extended Play).

Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - setembro de 2005.

Elvis Presley - Loving You (1957)

LOVING YOU (1957) - Primeira trilha sonora de Elvis Presley em formato de Long Playing (LP) contendo as músicas do filme "Loving You" da Paramount Pictures. A trilha sonora do filme anterior de Elvis, "Love Me Tender", só havia sido lançada em um compacto duplo. Como Tom Parker não dava ponto sem nó, ele logo viu que seria muito mais lucrativo colocar todas as canções em um disco inteiro. Como a duração da trilha sonora do filme não era suficiente para preencher todo o espaço de um LP, Parker colocou canções inéditas gravadas em estúdio no lado B. Essas seriam as primeiras "Bônus Songs" da carreira de Elvis. No Brasil o filme recebeu o título de "A mulher que eu amo" nos cinemas e posteriormente quando passou na TV recebeu o título de "Perdidos na Cidade". Ao contrário de "Love Me Tender" em que Elvis era apenas um dos atores que chegaram após o projeto do filme estar pronto, "Loving You" foi totalmente planejado para o cantor estrelar. Os produtores elaboraram então a fórmula "Elvis" de fazer filmes: muita música, roteiro escapista e de acordo com o gosto médio do público jovem da época. Essa forma de fazer filmes iria se desgastar ao longo do tempo, mas em 1957 ainda era uma grande novidade. O Público adorou e lotou os cinemas. Todos queriam ver a nova sensação da música mundial.

Em "Love Me Tender" as músicas foram colocadas no último minuto, o filme, um western convencional, nem tinha canções em seu roteiro original, mas como Elvis era um nome quente em 1956, os diretores musicais da 20th Century Fox se apressaram em colocar 4 músicas para Elvis cantar em cima da hora! Mas com "Loving You" as coisas fluíram de forma diferente. O roteiro já nasceu pronto para Elvis, toda a trilha foi composta especialmente para ele. Elvis estava no auge e as coisas não poderiam sair de outra forma. "Loving You" hoje é considerado um dos clássicos do Rei, um símbolo do cinema jovem feito nos anos 50, cujo roteiro foi levemente inspirado na própria história do cantor. Nada muito dramático, ao contrário, muito leve e soft. Até mesmo porque ninguém queria ver Elvis estrelar um dramalhão! Com "Loving You" Hollywood abriu definitivamente as portas para Elvis Presley. A parceria iria durar 16 anos e Elvis só iria se despedir do cinema em 1972 com o documentário "Elvis On Tour".

Durante todo esse tempo muitos filmes seriam produzidos, com tudo o que de bom e ruim que os estúdios tinham a oferecer para o cantor. "Loving You" é um grande sucesso de Elvis nos cinemas, um filme que abriu caminho para todas as produções posteriores dele. Para fazer par principal com o Rei do Rock a Paramount escalou uma starlet em ascensão: Dolores Hart. A atriz que contracenou com Elvis tinha uma promissora carreira em Hollywood. Era uma das mais prestigiadas atrizes jovens e poderia ter se tornado um nome famoso com essas produções. Mas, para surpresa de todos, abandonou a vida do cinema para se dedicar totalmente à religião, se tornado freira em uma ordem católica. De qualquer forma Dolores levou seu prêmio por "Loving You", pois ela foi a primeira atriz a beijar Elvis em cena. Estas são as canções do Long Playing "Loving You" (LPM 1515):

MEAN WOMAN BLUES (Claude DeMetrius) - Um dia depois de registrar um de seus maiores sucessos de sua carreira, "All Shook Up", Elvis entrava no Radio Recorders para gravar "Mean Woman Blues". Na verdade a canção nem foi feita especialmente para o filme, mas foi aproveitada por seu potencial cênico, aonde Elvis poderia desenvolver com desenvoltura seus requebros. Esse é um blues visceral cantado por Elvis em um determinado momento da película, passado numa lanchonete típica dos anos 50. em que ele é desafiado a provar seu talento para os jovens presentes à mesa por um caricato vilão de filmes adolescentes. Termina com a inevitável briga entre o Rei e seu oponente. A dança apresentada se tornou um dos momentos antológicos da carreira cinematográfica de Elvis, mesmo que depois tenha sido criticada por causa do posicionamento da câmera principal, que focalizou Elvis de forma errada, pois pendurado na parede atrás do cantor havia um grande par de chifres de alce. Para alguns observadores, algumas tomadas de cena colocaram Elvis em uma posição no mínimo inusitada. Pois em alguns momentos os chifres se encaixam perfeitamente com sua cabeça, dando a impressão de que o diretor quis de forma deliberada colocar "chifres" em Elvis! Cada coisa que esse pessoal percebe, convenhamos... Apesar de todas as lendas urbanas envolvendo a cena, o veredito é um só: grande cena, grande música.

(Let Me Be Your) TEDDY BEAR (Kall Mann / Bernie Lowe) - No auge do sucesso de Elvis correu um boato que ele adorava ursinhos de pelúcia. Apesar de não ser verdade o boato ganhou força e de um momento para o outro o cantor se viu num mar de bichinhos dados pelos seus fãs. Em uma entrevista Elvis afirmou que tinha guardado todos em sua casa! Para aproveitar esta história foi composto este grande sucesso, que alcançou o primeiro lugar da parada de singles da revista Billboard com "Loving You" no lado B. O single foi um campeão absoluto de vendas quando foi lançado em junho de 1957. Assim como "Mean Woman Blues", "Teddy Bear" também não fez parte das sessões de gravação da trilha sonorda do filme "Loving You". Ela foi registrada dias depois em uma sessão que só foi realizada para Elvis gravá-la. Nesse mesmo dia Presley ainda gravou uma versão "envenenada e maldita" de "One Night" chamada "One Night Of Sin". Esse take alternativo acabou se tornando bem badalado após a morte do cantor. Curiosidade: o "Teddy", nome dado ao ursinho é uma homenagem ao presidente americano Theodore Roosevelt, conhecido por suas caçadas e espírito aventureiro.

LOVING YOU (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música título do filme que foi gravada em três arranjos diferentes: uma versão acústica para uma determinada cena do filme, em balanço blues e a versão clássica, conhecido por todos, lenta e romântica, que está presente neste LP. A razão para tantas versões é a determinação dos diretores musicais da Paramount para que fosse gravada variações diferentes para a aprovação final do estúdio. Além disso deveria haver takes de "Loving You" suficientes para utilizar em material promocional, como trailers, divulgação em rádios, etc. Aliás "Loving You" acabou se tornando um problema para Elvis. Muitos dos takes produzidos nas sessões de janeiro de 57 foram rejeitados pela Paramount. Então Elvis deve que voltar várias vezes aos estúdios para regravar grande parte do material, tanto que a versão definitiva de "Loving You" só saiu mesmo dia 24 de fevereiro. Mesmo assim Elvis não estava completamente seguro de que aquela seria a versão ideal. Mas sem mais tempo a RCA Victor resolveu lançá-la mesmo no single junto com "Teddy Bear". O single, como já foi escrito aqui, fez grande sucesso e novamente mostrou que seus compositores, Leiber e Stoller, se firmavam cada vez mais como os principais escritores de Elvis. A música em si possui melodia e letra simples, ideal para os corações juvenis dos anos cinqüenta.

GOT A LOT O'LIVIN TO DO (Aaron Schroder / Bernie Weisman) - Ponto alto tanto no filme em que Elvis a apresenta em uma de suas melhores performances, como no disco, pois a canção é um Rock'n'Roll vibrante e empolgante. Para a cena do filme Elvis chamou seus pais para participarem como figurantes na plateia. Visualiza-se facilmente Gladys Presley, sua mãe, de roupa azul, sentada entre o público, batendo palmas ao lado do filho. Elvis fez questão que sua mãe estivesse com ele em Hollywood. Queria lhe dar o melhor, hospedá-la em hotéis de luxo e dar todo o tratamento vip que ela nunca teve na vida. Elvis queria acima de tudo cercá-la do bom e do melhor. Gladys era a força moral e espiritual que Elvis sempre podia contar. Com a morte de sua mãe, meses depois, "Loving You" se tornou um filme muito doloroso de assistir para Elvis, pois a lembrança de sua mãe ali ao seu lado seria mais presente do que nunca. Para evitar a depressão de ver novamente Gladys em cena ao seu lado, Elvis tomou uma atitude drástica: baniu de uma vez por todas o filme de sua vida. Se recusou sempre a assisti-lo novamente e nunca mais nem ao menos voltou a ouvir a trilha sonora, segundo seus amigos da máfia de Memphis. Ele se sentiu profundamente deprimido pela morte da mãe e segundo seus amigos mais íntimos nunca mais se recuperou desta perda.

LONESOME COWBOY (Sid Tepper / Roy Bennet) - Esta canção foi composta inicialmente para ser o tema título da trilha sonora do segundo filme de Elvis pois ele iria se chamar "Lonesome Cowboy". Mas esse projeto inicial foi mudado pelos executivos da Paramount. Primeiro porque outro western poderia levar alguns a confundir o novo filme com "Love Me Tender" e segundo porque era mais importante colocar Elvis em um tema mais atual e urbano, que falasse mais diretamente com o público alvo de Elvis: os jovens. A música ficou e foi encaixada em uma cena com Elvis devidamente vestido à caráter. Apesar de apresentar um bom ritmo e certa fluência, percebe-se claramente que seu arranjo ficou um pouco confuso, no meio termo entre a pretensão e a simplicidade. O resultado final acabou não indo para nenhum lado, transformando tudo numa grande confusão rítmica. "Lonesome Cowboy" foi uma das únicas músicas aproveitadas das sessões de janeiro para a Paramount. Todas as outras, ou foram descartadas ou então regravadas por Elvis depois. Esta dupla de compositores seria responsável por uma das melhores trilhas sonoras da carreira de Elvis nos anos sessenta: "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960).

HOT DOG (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Pequena pérola composta pelos sempre ótimos Leiber e Stoller. Não confundir com "Hound Dog" dos mesmos compositores. Esta dupla foi importantíssima para a carreira do Rei do Rock, mas nunca se deram bem com o Coronel Parker. Além de cobrarem bem mais do que os demais escritores possuíam opiniões próprias que se chocavam com o próprio ponto de vista de Parker. Uma das ideias sugeridas por Leiber e Stoller a Elvis foi a realização de um musical na Broadway estrelada pelo próprio cantor. Elvis gostou muito da ideia pois teria oportunidade de atuar e o mais importante, de dançar e desenvolver novas coreografias. Apesar da ideia ter sido recebida com entusiasmo por Elvis logo foi abandonada, pois o Coronel convenceu o cantor que tal projeto "poderia ser prejudicial à sua carreira"! Esse e outros incidentes entre Parker e os autores acabaram causando o afastamento definitivo deles da carreira de Elvis em meados dos anos 60. Sem dúvida uma grande perda para o cantor.

PARTY (Jesse Mac Robinson) - Fechando o antigo lado A do LP e a parte referente aos trabalhos relativos ao filme temos esta música que cumpre seu papel de forma eficiente, parecendo até mesmo uma continuação de "Hot Dog". Ambas foram gravadas nas mesmas sessões realizadas em janeiro de 1957 no estúdios Radio Recorders em Hollywood. Apesar de ensaiar e gravar quase todos os temas da trilha sonora nessas sessões, a RCA só aproveitou como oficiais as versões de "Party", "Hot Dog" e "Lonesome Cowaboy". Todas as demais foram arquivadas ou rejeitadas pelos produtores. Muitos desses registros inclusive foram perdidos. "Party" não teve uma grande repercussão na época, era apenas um bom rock em uma época em que Elvis só estava gravando verdadeiros hinos desse ritmo. Porém ela não foi esquecida como bem demonstrou Paul McCartney em seu disco "Run Devil Run" onde ele gravou uma nova versão deste verdadeiro hino do Rock'n'Roll mundial. Um merecido reconhecimento, sem dúvida.

BLUEBERRY HILL (Rose / Lewis / Stock) - Música que abria o antigo Lado B da trilha sonora, em sua versão norte-americana. A primeira "Bonus Song" da carreira de Elvis Presley. Essa denominação era usada para músicas que não faziam parte da trilha sonora mas que eram colocadas nos LPs para completá-los cronologicamente. Uma das mais deliciosas canções dos anos 50. Se tornou bastante popular graças ao cantor e compositor de New Orleans, Fats Domino. Fats era um roqueiro atípico, primeiro porque sua vida foi um mar de tranquilidade, sem escândalos ou manchetes sensacionalistas na imprensa marrom. Segundo porque, ao contrário dos demais astros da primeira geração de roqueiros, não viu sua carreira afundar na virada da década de 50 para a de 60. Outro aspecto interessante em Fats Domino foi que ele foi um dos primeiros rockstars a irem para Las Vegas, na época considerada uma cidade fora de rota para os cantores jovens por causa do público envelhecido que frequentava os cassinos da cidade. Muito anos antes de Elvis ir de forma definitiva para Vegas, Fats já se apresentava regularmente naquela cidade. Aqui Elvis interpreta o maior sucesso de Domino, e por sua vez não deixa por menos e protagoniza uma versão de alto nível. O mais puro som dos anos 50 está aqui!.

TRUE LOVE (Porter) - Aqui Elvis Presley interpreta uma canção escrita por um dos maiores nomes da música norte americana, o músico e compositor Cole Porter. Esta canção fez parte da trilha sonora do clássico filme "Alta Sociedade", protagonizado por Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly alguns anos antes. Inclusive Frank Sinatra gravou um disco inteiro só com canções de Cole Porter chamado "Sinatra Sings The Select Cole Porter", trabalho musical maravilhoso e obrigatório. Já Elvis apenas entrou em contato timidamente com Porter. Como era um astro jovem e Porter exigia maior sofisticação não era muito conveniente para Presley se envolver em demasia com um autor que era o preferido de Sinatra, que por sua vez detestava a turma roqueira da época.

DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Outra "Bonus Song" que apesar de bem gravada e executada passou despercebida no lançamento do disco. Romântica e com indisfarçável gosto country a música ficaria muito bem no repertório de um Hank Williams, por exemplo. Elvis voltaria ao estúdio mais uma vez e em abril de 1957 gravaria uma nova versão dessa mesma canção, dessa vez para fazer parte da trilha de outro filme dele, "Jailhouse Rock" (o prisioneiro do rock, 1957). Não há grandes diferenças entre as duas versões, apenas uma nova introdução de piano abrindo a versão de "Jailhouse Rock". Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída novamente em outra trilha sonora e em outro filme. De qualquer forma fica o registro de Elvis em duas ocasiões diversas de sua carreira interpretando a mesma canção.

HAVE I TOLD YOU LATELY THAT I LOVE YOU (Weisman) - Outra canção com toques de música country! Chega a ser impressionante a quantidade de takes alternativos dessa música, o que mostra as dificuldades de se chegar a uma versão satisfatória. O CD "Stereo 57 - Essential Elvis Vol. 2" por exemplo traz várias das tentativas de Elvis. Outra canção que não faz parte dos trabalho de "Loving You", sendo gravada no dia 19 de janeiro de 1957 em Los Angeles. Nessa mesma noite Elvis, muito inspirado por sinal, conseguiu também chegar na versões definitivas de "Blueberry Hill" e "Is It So Strange", essa última sem dúvida uma das grandes baladas na voz de Elvis Presley nos anos 50. Enfim, mais uma canção que deixa registrado novamente um belo momento de seu talento.

I NEED YOU SO (Hunter) - Fechando o disco da trilha sonora de "Loving You" Elvis apresenta uma canção de um de seus compositores preferidos, Ivory Joe Hunter. Elvis sempre admirou muito Hunter, tanto que mesmo nos anos 70, ele iria gravar várias músicas dele, como "It's Still Here" e "I Will be True", ambas lançadas no LP "Elvis" de 1973. É uma música que de certa forma repete praticamente os mesmos arranjos de "Have I told you lately that I love you?" e não acrescenta muito. Isso porém não tira seus inegáveis méritos, principalmente pelo vocal inspirado de Elvis. Um bom desfecho para o terceiro LP da carreira de Elvis Presley.

Elvis Presley - Loving You (1957): Elvis Presley (vocal, violão) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Gordon Stoker (piano) / Hoyt Hawkins (piano) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / George Fields (harmonica) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado no Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 15 a 18, 21 a 22 de janeiro e 14 de fevereiro de 1957 / Data de Lançamento: julho de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK)

Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Junho de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001 / Reescrito em agosto de 2005.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Ama-me Com Ternura

Nos últimos dias da guerra civil americana um pequeno pelotão do exército confederado assalta uma locomotiva que trazia o soldo dos soldados da União. Com o dinheiro em mãos (algo em torno de 12 mil dólares) decidem voltar para sua guarnição mas são surpreendidos ao saberem que a guerra finalmente havia chegado ao fim! O problema passa a ser o destino do dinheiro. Eles deveriam devolvê-lo aos ianques ou ficar com ele, repartindo entre os soldados? Após uma breve reunião decidem ficar com o dinheiro, repartindo entre eles a quantia. Depois de acertarem tudo os irmãos Reno, liderados por Vance Reno (Richard Egan), retornam ao seu antigo rancho onde vivem seu irmão mais jovem e sua mãe. Vance planeja usar o dinheiro para ajudar sua família e depois finalmente se casar com a bela Cathy (Debra Paget), sua antiga paixão. O problema é que ao chegar em casa acaba descobrindo que Cathy, pensando que ele estava morto na guerra, acabou se casando com seu irmão caçula, o jovem Clint (Elvis Presley). 

Como superar seus sentimentos por Cathy agora? “Love Me Tender” se chamava originalmente “The Reno Brothers” e havia sido planejado como um drama de western, explorando os conflitos familiares entre os irmãos Reno em um roteiro baseado na estória original de Maurice Geraghty, uma veterana roteirista de faroestes. Quando Elvis Presley foi encaixado no filme tudo mudou, músicas foram adicionadas no enredo e o que era mais dramático ficou levemente amenizado. A primeira vez que Elvis apareceu numa tela de cinema foi justamente nesse filme, arando as terras do rancho de sua mãe ao longe quando finalmente percebe seus irmãos retornando da guerra. Presley nunca havia atuado antes na vida e tudo foi uma enorme experiência para ele. Na verdade era apenas um jovem de 21 anos deslumbrado com a chance de fazer um filme em Hollywood. De origem humilde ele jamais poderia pensar que um dia apareceria no cinema! Embora sua atuação tenha sido criticada por alguns na época o fato é que Elvis em nenhum momento compromete o filme com sua performance. Na verdade ele demonstra boa presença de cena, mesmo nos momentos em que seu personagem exige mais. Parece estar bem à vontade contracenando com os demais atores sem mostrar qualquer tipo de nervosismo ou amadorismo.

A Fox viu a presença de Elvis no elenco como um bônus para o filme. Mal sabiam eles que a partir de seu lançamento tudo iria girar em torno de Elvis Presley. Ele era o terceiro nome no elenco mas quando a Fox viu seu potencial de bilheteria mudou a estratégia de marketing e se concentrou na figura do cantor. Novos posters foram feitos e a figura de Elvis colocada em destaque. O resultado veio nas bilheterias. Os fãs de Presley lotaram os cinemas, formando filas e mais filas nas portas das salas de exibição. Todos queriam ver Elvis na tela grande! “Love Me Tender” que não passava de uma produção B da Fox logo se tornou um dos campeões de bilheteria do ano. O saldo final foi mais do que satisfatório rendendo nove vezes mais que seu custo de produção – um resultado que mostrava a força do roqueiro Elvis para os chefões dos estúdios. Afinal os jovens formavam a maior parte do público pagante do cinema americano na época e eles simplesmente adoravam as músicas de Elvis. Muitos inclusive assistiram ao filme várias vezes aumentando ainda mais sua renda final. A música tema também chegou ao primeiro lugar nas paradas e virou um clássico instantâneo. 

A presença de Elvis e o sucesso causado pelo seu público ofuscaram de certa forma uma avaliação mais isenta desse faroeste. Os que não gostavam de Elvis e sua música “selvagem” obviamente aproveitaram para desmerecer o filme em si. Bobagem. “Ama-me Com Ternura” era bem na média do que se produzia na época. Não era um faroeste ruim e nem uma bomba, pelo contrário, estava de acordo com o que os estúdios produziam nos anos 50. De certa forma poderia ser até mesmo estrelado por um Randolph Scott ou qualquer outro astro de westerns dos grandes estúdios. O diretor era o competente Robert D. Webb que já havia dirigido bons faroestes antes como “A Lei do Bravo” e sem dúvida sabia muito bem o que estava fazendo, com ou sem Elvis Presley no elenco. Esse aliás adorou tudo, o clima do set de filmagens, os ensaios, as tomadas de cena, tudo. De fato não seria a última vez que Elvis Presley iria ao velho oeste em sua carreira. Ele retornaria alguns anos depois às pradarias em filmes como “Estrela de Fogo” e “Charro” mas essa é uma outra história...

Ama-me Com Ternura (Love Me Tender, EUA, 1956) Direção: Robert D. Webb / Roteiro: Robert Buckner baseado na curta estória de Maurice Geraghty / Elenco: Richard Egan, Debra Paget, Elvis Presley, Robert Middleton, William Campbell / Sinopse: Após o fim da guerra americana Vance Reno (Richard Egan) retorna para o rancho de sua mãe mas descobre que a paixão de sua vida, a jovem Cathy (Debra Paget) se casou com seu irmão caçula, Clint Reno (Elvis Presley).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Love Me Tender (1956)

Um dos grandes sonhos de Elvis era se tornar ator. Para ele muitos cantores surgiam a desapareciam rapidamente, mas um bom ator poderia ter uma carreira longa e produtiva. Elvis não tinha muita confiança em seu sucesso como cantor, pois ele estava convencido que seu estrelado só iria durar pouco tempo. Além disso, pensava Elvis, um ídolo da juventude como ele estava fadado a ser superado por um novo artista mais jovem. Pois é meus amigos, Elvis não levava muita fé nesse negócio de Rock'n'Roll. Também pudera, ao longo de sua vida Elvis viu uma moda musical ser superada por outra em tempo recorde. Então quando conseguiu uma grande projeção inicial na mídia dos anos 50 Elvis sugeriu a Tom Parker que ele sondasse os grandes estúdios para saber se havia algum interesse nele em Hollywood. Parker não conhecia o esquema dos grandes executivos do cinema pois sempre havia atuado no ramo musical, mas não perdeu tempo e em poucos dias já estava circulando no meio cinematográfico de Los Angeles.

O Coronel se hospedou nos melhores e mais bem frequentados hotéis de Hollywood e procurou entrar na nata da sociedade local. Obteve êxito rapidamente pois era bastante sociável, tinha uma conversa interessante e sim, os produtores estavam muito interessados em contratar esse novo ídolo jovem, esse tal de Elvis Presley. Tom Parker era um empresário astuto e em pouco tempo estava recebendo propostas de praticamente todos os estúdios, menos da Warner Bros, pois não conseguiu ser recebido por Jack Warner. Parker ligou para Elvis e lhe disse que deveria vir imediatamente à Hollywood fazer os primeiros testes com os diretores de elenco. Ao chegar na Paramount Elvis teve uma surpresa. Ao invés de testá-lo em alguma cena com outro ator, tudo o que lhe deram foi um violão sem cordas para que ele dançasse e fizesse playback em cima da gravação de "Blue Suede Shoes". Elvis então fez seu teste (que pode ser conferido no documentário "The Great Performances") e foi aprovado. Porém antes de estrear pela Paramount o estúdio deu uma opção para Parker e o cantor.

Ele poderia iniciar em poucos dias as filmagens de um western B que estava sendo produzido pela 20th Century Fox. Atrás da suposta generosidade dos chefões da Paramount havia uma precaução compreensível antes de gastar milhões de dólares em um filme estrelado por Elvis. No fundo eles queriam antes de tudo ver como esse novo artista se saia em cena e principalmente conferir se ele tinha algum potencial comercial nas bilheterias. Caso Elvis se desse mal ninguém sairia perdendo pois a Paramount não gastaria nada e nem a Fox que iria fazer "The Reno Brothers" com ou sem Elvis. Além disso o filme teria uma produção modesta e Elvis apenas pularia de pára-quedas nele. Caso o filme fosse bem recebido a Paramount faria uma bela produção para seu segundo filme (que acabou sendo "Loving You"). Mas de simples teste, "Love Me Tender", logo se transformou em um fenômeno de bilheteria em todo o mundo. Elvis Presley havia chegado para ficar!

Love Me Tender (Presley / Matson) - Música título do primeiro filme de Elvis Presley, que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, 1956). O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A estória se passava durante o final da guerra civil norte americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Um deles (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão? O roteiro gira em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não compromete em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria.

Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia. Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo.

Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em adaptação do maestro Ken Darby.

Poor Boy (Presley / Matson) - Outra boa canção da trilha sonora de "Love me Tender" (ama-me com ternura, 1956). Para muitos uma música apenas bobinha e sem conteúdo, para outros apenas um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis é a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele.

We're Gonna Move (Presley / Matson) - Canção que foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! Ken Darby foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".

Let Me (Presley / Matson) - Das que vieram para coadjuvar "Love Me Tender" no compacto duplo essa é a que melhor se sai bem. Vagamente lembrando "Poor Boy", "Let Me" é divertida, bem executada e dançante. Mas o melhor mesmo é a cena de Elvis no filme, numa performance memorável (mesmo que mal captada pelo diretor do filme, talvez propositadamente!). Um prazer ouvir e ver Elvis cantando essa canção, na flor da idade, com o futuro promissor pela frente. Impossível ficar indiferente ao seu ritmo alegre e de bom astral. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente impagável. A cena do filme é ótima, quando ele a canta em um pequeno palco, durante uma feira de gado. Registro nota 10 de um Elvis Presley que ainda estava apenas começando a ganhar o mundo.

Elvis Presley - Love Me Tender (1956): Elvis Presley (vocal e violão) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Rad Robinson (vocal) / Jon Dodson (vocal) / Charles Prescott (vocal) / Arranjado por Ken Darby e Elvis Presley / Produzido por Ken Darby / Data de gravação: agosto, setembro e outubro de 1956 / Local de gravação: 20th Century Fox, Stage I, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1956 (single) e novembro de 1956 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #11 (single) e EUA #35 e UK # - (Extended Play).

Pablo Aluísio - setembro de 2005.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Elvis Presley - RCA Victor Studios II

Em setembro de 1956 Elvis entrou em estúdio para gravar seu segundo LP. O clima era bem diferente daquele que ele enfrentou na gravação de seu primeiro disco, as coisas agora seriam diferentes. Para começar Elvis deixava de ser apenas uma promessa para a RCA, ele havia se tornado o bem mais precioso da milionária gravadora, tratado com todo o respeito e reverência. Com o sucesso de seu primeiro álbum Elvis deixou de ser apenas "um garoto metido" e sua música não era mais apenas uma piada nos corredores da multinacional. Elvis rapidamente se tornou o maior vendedor de discos da Victor, deixando nomes consagrados para trás. E isso tudo aconteceu em um curto espaço de tempo, na verdade Elvis deixou de ser um artista desconhecido e sua fama se tornou mundial em apenas poucos meses, praticamente da noite para o dia. Pode ter certeza que tudo iria mudar de agora em diante.

A RCA resolveu mudar seu modo de lidar com Elvis, todos seus desejos e exigências seriam atendidas sem a menor contestação, a gravadora inclusive deu carta branca para Elvis mudar de produtor, já que Steve Sholes não havia se dado muito bem com o cantor nas gravações do disco anterior.

Mas Elvis não fez nada, não exigiu a dispensa de Sholes e nem mudou sua postura se tornando arrogante ou algo parecido, Elvis continuou como antes. Na realidade ele só queria uma coisa: que o deixassem em paz para ele produzir seus discos e escolher a seleção das músicas de seu segundo trabalho. Scotty Moore relembra: "Elvis não iria despedir Steve Sholes, apesar dele ter sido um pouco grosseiro nas primeiras gravações. Elvis não iria se sentir bem mandando alguém para o olho da rua, não era o estilo dele". Sholes ficou, mas ficou em segundo plano. Elvis iria trazer outras pessoas de sua confiança para ajudar nas gravações como os compositores Leiber e Stoller e iria ouvir mais seus músicos, inclusive Chet Atkins que ele conheceu na Victor mas que sempre trazia boas sugestões para os takes. Curiosamente nos anos seguintes, com o afastamento de Sholes por motivos de saúde, Atkins iria se tornar o verdadeiro produtor de Elvis na RCA.

Elvis tomou outra decisão diminuindo o número de instrumentistas nas sessões, sendo que a partir de agora seriam apenas cinco músicos (Scotty, Bill, D.J. Elvis e os Jordanaires). Como não haveria um pianista fixo, ele próprio, Elvis, iria se tornar, ao lado de Gordon Stocker dos Jordanaires, o pianista dessas sessões. De certa maneira Elvis ficou sobrecarregado, pois ele iria produzir o disco, tocaria violão e guitarra e ainda teria que ser o dono dos teclados durante as gravações. Mas Elvis não se importou, para ter mais controle ele também teria que assumir mais responsabilidades. Só mais um coisa: Elvis pediu um estúdio melhor, pois tocar em uma sacristia não era bem o seu lugar preferido para gravar músicas. Sugestão prontamente aceita pelos executivos da major americana.

Como a RCA não tinha um estúdio decente em Nashville e nem em Memphis o jeito foi levar todos para a costa oeste, para Hollywood, para que o disco fosse gravado no melhor estúdio da gravadora: o Radio Recorders. No começo a RCA sugeriu seus estúdios em Nova Iorque, mas Elvis já tinha gravado por lá e achava que ir para Hollywood seria melhor. D.J. relembra: "Na verdade queríamos ir para o Radio Recorders, um estúdio de gravação com o melhor em recursos técnicos". Com tudo acertado Elvis continuou sua série de shows e aparições na TV americana. Parou uns dias em casa para descansar e ensaiar ao piano as principais canções do disco. Depois juntou a turma e seguiram viagem para Los Angeles, onde seriam realizadas as gravações de "Elvis", seu antológico segundo disco. O grupo entrou em estúdio para aquela que seria a sua primeira sessão verdadeira na RCA Victor. Em apenas três dias ele gravaria 13 músicas, um recorde absoluto.

Com o controle dentro dos estúdios Elvis impôs seu modus operandi. Cada sessão começava com algumas canções gospel conhecidas, com todos os músicos em sua volta formando um círculo. Isso podia durar minutos ou horas. As canções eram testadas do pop ao R&B. As músicas eram repetidas insistentemente. Na hora de ouvi-las, se Elvis gostava, fazia um sinal com a cabeça mostrando que queria ouvir novamente. Se não, simplesmente passava o indicador sobre a garganta. A RCA queria que Elvis gravasse "Rock Around The Clock" de Bill Halley, mas Elvis logo a descartou. Também rejeitou várias outras como "I Almost Lost My Mind", "Your Secret's Safe With Me" e "Rock'n'Roll Ruby". Chegou a ensaiar "Mulberry Rush" mas logo desistiu dela também. Ao invés dessas Elvis se concentrou em composições de Leiber e Stoller como "Love Me" e de Blackwell como "Paralyzed". Gravou ainda uma canção de Chet Atkins e outra de um autor desconhecido de Nova Iorque, Ben Weisman. Mais três músicas que foram sucesso com Little Richard e uma velha canção de Willie Walker e Gene Sullivan chamada "When My Blue Moon Turns Gold Again". Depois foi até ao piano e gravou uma versão de "Old Shep", balada sobre a amizade de um garoto e seu cachorrinho.

Ecletismo é a palavra chave para descrever essa maravilhosa sessão de gravação. A grande diferença em relação ao disco anterior é que Elvis e sua equipe conseguiram recriar a atmosfera das gravações da Sun Records. Produziram material da mesma qualidade. Com isso todos ficaram satisfeitos. Mas Elvis não parava e não se mostrava cansado, ele ouvia as canções inúmeras vezes, tentando extrair o máximo que podia de cada música. Bones Howe, assistente do engenheiro de gravação Thorne Nogar disse que Elvis "ficava trabalhando muito tempo numa música, e seu critério era ter uma boa sensação ao ouvir as demos. Ele não se importava com pequenos erros. Estava interessado em extrair uma certa magia das canções. As sessões sempre eram diferentes e divertidas, havia muita energia, ele sempre estava fazendo algo inovador" Elvis terminou sua participação na madrugada do dia 3 de setembro. O disco chegaria nas lojas um mês depois, ocupando a primeira posição em 46 países diferentes ao redor do mundo, um sucesso digno de um Rei, de um Rei do Rock.

Pablo Aluísio - dezembro de 2003

Elvis Presley - Elvis (1956)

Elvis (1956) - Segundo disco da carreira de Elvis Presley. Com o sucesso alcançado pelo seu primeiro disco e pelos singles "Heartbreak Hotel / I Was the One", "I Want You, I Need You,I Love You / My Baby Left Me" e "Don't Be Cruel / Hound Dog" Elvis conseguia o feito de emplacar quatro discos consecutivos entre os dez mais, sendo considerado já a aquela altura um fenômeno não só musical e de vendas, mas também social, pois suas apresentações polêmicas em programas de TV lhe traziam cada vez mais popularidade. Todos queriam entender esse novo cantor que surgia. Sem dúvida 1956 foi o grande ano do Rei do Rock, o seu auge. O que faltava a Elvis? Ora, não era preciso ir muito longe para responder a essa questão. Desde criança Elvis tinha um sonho particular: o de se tornar astro de cinema. Tom Parker não perdeu tempo. Logo escalou alguns testes com os grandes chefões de Hollywood e em pouco tempo Elvis já estava estreando no cinema com o filme "Love Me Tender" (ama-me com ternura, 1956).

O empresário de Elvis então tomou consciência do tesouro que lhe havia caído nas mãos. Um astro multimídia, que poderia facilmente fazer sucesso não só no mundo musical, mas também no cinematográfico. Elvis era uma mina de ouro. E provou isso, pois além da ótima bilheteria alcançada pelo filme, sua trilha sonora também logo virou um enorme sucesso. O primeiro lugar nas paradas com o single "Love Me Tender / Any Way You Want Me" em novembro de 1956 consolidava de uma vez por todas o potencial comercial do roqueiro galã. Isto era em suma tudo o que estava rolando nesta época com Elvis Presley, ou seja, ele estava no auge de sua popularidade. Assim em setembro de 1956 Elvis entrava novamente nos estúdios para "encher a lata". Sem dúvida ele foi o mais rápido "Hit Maker" da história pois gravou este LP em apenas três dias nos Studios Radio Recorders da RCA em Hollywood.

Ao contrário do disco anterior em que Elvis ainda era considerado uma mera promessa, esse já mostrava um artista mais dono de si e de sua música. Em poucas palavras: Elvis agora teria maior poder de decisão dentro dos estúdios. O LP foi lançado no final de 1956, alcançando facilmente o primeiro lugar nas paradas. Elvis Presley havia começado o ano como um obscuro cantor do sul dos Estados Unidos e terminou como um fenômeno de sucesso em massa, nunca ninguém subiu tão rápido em tão pouco tempo. Fora estes dois discos, Elvis ainda liderava as paradas mundiais também com outros singles de enorme sucesso. O Rei do Rock estava em todos os lugares, não havia uma só revista que não o trazia na capa. No final de 56 Elvis era uma figura totalmente onipresente. Era o começo do sonho dourado de Elvis Aaron Presley, o início da carreira de um dos maiores sucessos da história do show business norte americano. Eis as músicas do LP "Elvis" (LPM 1382):

RIP IT UP (Robert Blackwell / John Marascalco) - Música símbolo do nascimento do Rock gravada por diversos nomes: John Lennon, Everly Brothers, Carl Perkins e Little Richard, daí nota-se sua importância na gênesis do ritmo. A versão de Elvis é muito bem executada com um arranjo peculiar principalmente em seu começo. Elvis a apresentou em alguns programas dos anos dourados com o respectivo rebolado causando mais encrencas ainda para ele. Tente imaginar a comoção causada por um cantor de visual rebelde, balançando a retrógada moralidade dos anos 50. Reparem na letra, cujo conteúdo é tipicamente adolescente, mostrando os "grilos" da juventude da época, utilizando de gírias e do palavreado da juventude de então. Além da deliciosa melodia, o jogo de palavras valoriza ainda mais o conjunto da música.

LOVE ME (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Sem dúvida uma das mais belas criações daquela que sem dúvida foi a mais importante dupla de compositores do Rei. Leiber e Stoller compuseram as mais importantes músicas da carreira de Elvis como "Jailhouse Rock", "Trouble" e "King Creole", entre outras. Esta foi feita especialmente para Elvis pois Leiber e Stoller achavam interessante o apego que Elvis tinha por músicas românticas, então resolveram compor uma canção sob medida para o gosto e a interpretação do cantor. Era uma das preferidas dele, tanto que a integrou em seu repertório nos anos setenta estando presente em quase todos os seus discos gravados ao vivo neste período. Também foi lançada num compacto duplo em outubro de 1956 junto com outras músicas deste LP. A música é uma das mais conhecidas de Elvis dos anos 50, pelo seu romantismo, por sua bela melodia e pela letra apaixonante. Embalou muitos corações apaixonados e serviu de trilha sonora para muitas paixões eternas. Sem dúvida um registro de Elvis em um de seus melhores momentos de estúdio.

WHEN MY BLUE MOON TURNS TO GOLD AGAIN (Willy Walker / Gene Sullivan) - Country cantado por Elvis. Como um garoto nascido e criado no sul rural dos Estados Unidos é lógico que o country sempre fez parte de sua vida e Elvis gravou diversas canções deste estilo ao longo de sua carreira, tendo inclusive gravado um disco conceitual só com músicas deste gênero: "Elvis Country". Mas bem longe do country moderninho desse disco de Elvis dos anos 70, "When my blue moon turns to gold again" era uma canção de raiz, composta por dois artistas típicos de Nashville, a capital do country and western americano. Serve como um exemplo da influência que a arte e a música dessa cidade exerceu sobre a carreira de Elvis desde seus tempos no Louisiana Hayride.

LONG TALL SALLY (Enotris johnson) - Sublime canção de Rock'n'Roll. Esta é outra que marcou toda uma época, sendo posteriormente gravada pelos Beatles e John Lennon (em sua carreira solo). A primeira versão de sucesso veio com o cantor Little Richard. Aqui Elvis está em sua melhor forma mandando ver e abrindo as portas de um novo tempo na música mundial. A letra mistura malícia, ironia e humor, numa combinação que caiu logo no gosto dos jovens americanos. Sem dúvida para esses garotos e garotas que procuravam se soltar das amarras dos pais caretas, a música trazia uma mensagem subentendida que certamente não seria compreendida pelos mais velhos. Um achado para quem queria aproveitar a vida nos moralistas anos Eisenhower. Pode-se encontrar versões ao vivo em discos dos anos setenta, porém sem nenhuma sombra de dúvida esta é a melhor versão de todas, pois foi gravada na época certa. Esta canção juntamente com "Ready Teddy", são as representantes máximas do Rock de Elvis neste trabalho musical. Duas canções que provam de uma vez por todas quem merecia receber o título de "Rei do Rock'n'Roll".

FIRST IN LINE (Aaron Schroder / Ben Weisman) - Baladona romântica escrita por uma dupla de compositores que posteriormente iriam escrever várias canções para os filmes de Elvis. O destaque fica no vocal do Rei expressando toda a emoção da letra. Essa canção, mais do que qualquer outra do disco, nos remete imediatamente aos anos de Elvis na Sun. Além do vocal típico da gravadora de Memphis, que fazia o ouvinte pensar que Elvis estava cantando do fundo de um poço, há ainda a guitarra de Scotty Moore afinada no mais puro "Sun Sound". A única coisa que não condiz com as músicas gravadas por Elvis nos estúdios de Sam Phillips é justamente o acompanhamento vocal do grupo gospel The Jordanaires, que diga-se de passagem acrescenta muito no resultado final. Um bom momento "Love Affair" de Elvis. Para românticos inveterados.

PARALYZED (Otis Blackwell) - Canção dançante e empolgante dentro do repertório de Elvis. Não chega a ser um rock e sim uma música pop despretensiosa (mas ótima!). Outra que Elvis apresentou em programas de TV nos anos 50. Blackwell é autor de uma das mais populares músicas de Elvis: "Don't Be Cruel". Novamente outra que procura captar o vocabulário da juventude. É uma verdadeira crônica que mostra os costumes e sonhos adolescentes da moçada. Uma das preferidas do roqueiro Raul Seixas, que em entrevista, afirmou que os termos usados na canção eram utilizados nos namoros dos anos 50. Belo e descontraído momento do LP.

SO GLAD YOU'RE MINE (Arthur Grudup) - Ao contrário das outras músicas deste disco, esta foi gravada em 30 de janeiro de 1956 nas mesmas sessões de gravação do disco "Elvis Presley", o primeiro LP do cantor. A razão certa pela qual a RCA não a lançou no disco anterior é um mistério. Provavelmente tenha sido arquivada por falta de espaço. De qualquer forma a canção não destoa e nem sai da temática do resto do disco. No final das contas se encaixa bastante bem, até mesmo porque a grande maioria das músicas de Elvis nessa fase de sua carreira rodavam invariavelmente sobre os mesmos temas. Aliás algumas resenhas da época chegaram ao exagero de afirmar que a música era excessivamente "sugestiva e sensual". Moralismo pouco é bobagem! O autor desta canção é o mesmo de "That's All Right" (o primeiro single comercial do cantor). Mais um grande momento do Rei e seus músicos. Veio para acrescentar qualidade em um disco já bastante reconhecido por seus valores artísticos.

OLD SHEEP (Red Foley) - Canção que Elvis apresentou num concurso de talentos em Memphis quando ainda era garoto, tirando o segundo lugar. A temática é reconhecidamente pueril e extremamente sentimental. Com uma narrativa cinematográfica, essa música é completamente diferente das demais do disco, o que a torna única, singular dentro do conjunto da obra. Sem dúvida Elvis acabou se identificando de alguma forma. Talvez pelo valor sentimental ele a tenha incluído no disco. Como destaque temos Elvis no piano e a vocalização perfeita dos Jordanaires, aqui mais presentes do que nunca. Aliás o fato deles estarem no disco demonstra que Elvis era uma pessoa de palavra. Antes de estourar mundialmente Elvis topou com o grupo em alguns shows no sul. Elvis lhes prometeu que assim que sua carreira decolasse ele iria trazê-los para fazer a vocalização de seus discos. Como palavra de Rei não volta atrás... Foi lançada ainda no compacto duplo "Elvis vol 2" em dezembro de 1956.

READY TEDDY (Robert Blackwell/John Marascalco) - Esta canção foi responsável pela mais brilhante aparição de Elvis Presley no programa de Ed Sullivan em 1956. Típico Rock'n'Roll do início dos anos cinqüenta, com vocalização perfeita, embalo à prova de falhas, alegria contagiante e acompanhamento idem, "Ready Teddy" é um dos maiores Rocks da história e a versão de Elvis é simplesmente imortal. Elvis encontrou aqui seu veículo perfeito: ritmo ágil e letra maliciosa. Sua histórica apresentação no Ed Sullivan causou muitos problemas com a censura da época pois Elvis foi severamente criticado no jornal Mirror News que no artigo referente ao show o acusou de "incentivar o libido de garotinhas" e promover a "delinqüência juvenil" chegando a ponto de chamá-lo de "nazista"! Puxa aquilo era demais e Elvis ficou tão chocado que no seu show posterior mandou ver mais do que no primeiro causando maior polêmica ainda. Sem dúvida a América (e o mundo) não estavam preparados para Elvis Presley, no flor da idade, esbanjando sensualidade e agilidade no auge de seus 21 anos!. Com sua dança e perfomance Elvis abria de uma vez por todas as portas da nova era! O Rock'n'Roll vinha para ficar! Por causa desse show Elvis acabou ganhando um de seus mais famosos apelidos: "Elvis, The Pelvis".

ANYPLACE IS PARADISE (Joe Thomas) - Mais uma deliciosa canção com uma melodia envolvente. Esta sem dúvida é um das músicas do Rei do Rock que de certa forma é subestimada pois não alcançou a repercussão que merecia. Isso é facilmente explicável. Elvis estava em um período tão genial, em que firmava as bases estéticas de todo uma revolução comportamental e cultural, que qualquer canção, mesmo que fosse ótima, seria facilmente ofuscada, porque ele estava em um momento simplesmente fenomenal da carreira. Nunca o mundo havia se deparado com tamanha descarga de energia e inovação. Os anos 50 foram tão produtivos e fantásticos que muitos autores consideram essa década como inigualável em termos de talento dentro da carreira de Elvis. Como um rapaz de apenas vinte e poucos anos conseguiu explodir e detonar todo esse movimento? Essa é uma questão ainda em aberto, mesmo que seja estudada até mesmo em centros acadêmicos pelos EUA e Europa. Um momento simplesmente único na história que não foi mais repetido nos anos que se seguiram, nem mesmo pelo próprio Elvis. Genialidade é isso aí. Destaque para o baixo de Bill Black num raro solo musical.

HOW'S THE WORLD TREATING YOU (Chet Atkins / Felice e B.Byant) - Talvez o momento mais fraco do disco. Música excessivamente melancólica para um trabalho tão rocante como este. Estaria Elvis antecipando o estilo que iria adotar em muitas das suas canções nos ainda distantes anos 70? Não sabemos. Uma coisa é certa: Elvis sempre teve escondido dentro de si uma personalidade que tendia à introspecção. Como ele ainda estava com apenas 21 anos de idade, jovem, bonito, ao lado da pessoa que ele mais amava na vida, sua mãe, suas tendências de se absorver em si mesmo ainda estavam sob controle e completamente adormecidas. Até porque não dá para ser uma pessoa deprimida na flor da idade, rico, amado e cercado de garotas por todos os lados. Esse Elvis a que estamos nos referindo estava há anos luz do Elvis "70's". De qualquer forma não podemos deixar de registrar que em alguns momentos dessa música o lado mais sombrio de Elvis se manifesta, mesmo que de forma totalmente inconsciente. Composição de Atkins que se tornaria produtor dos discos de Elvis nos anos sessenta. Apesar de tudo é cantada e executada corretamente e novamente Scotty faz questão de calibrar sua Gibson como nos velhos e bons tempos da Sun Records.

HOW DO YOU THINK I FEEL (Webb Pierce) - Depois da introversão de "How's The World Treating You" nada melhor para finalizar o disco do que uma música alegre e com um acentuado sabor latino em seu arranjo. Se destaca do conjunto possuindo personalidade própria. Aqui Elvis exercita um estilo que ele iria usar de forma acentuada em trabalhos posteriores como "Fun in Acapulco" (o seresteiro de Acapulco, 1963). Mas isso ainda estava muito longe de Elvis. Nesse momento ele era apenas o cantor mais idolatrado pelos jovens, um símbolo mundial de rebeldia e alegria de viver. Elvis estava sentado no mesmo trono que um dia pertenceu ao maior de todos os rebeldes: James Dean. Idolatrado como um verdadeiro Rei pelos jovens, Elvis não conseguia avistar de onde estava ninguém para ameaçar sua realeza. Elvis reinava absoluto, ditando a moda, os costumes e os gostos da juventude americana. Um verdadeiro monarca e o disco faz jus ao seu poder real, à toda sua majestade, um disco à altura de Elvis Aaron Presley, o Rei do Rock'n'Roll.

Elvis (1956): Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado no Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 01 a 03 de setembro de 1956 / Data de Lançamento: outubro de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Presley (1956)

Elvis Presley entrou no RCA Studios da cidade de Nashville no dia 10 de janeiro de 1956 para iniciar as gravações de suas primeiras músicas pela RCA Victor. Atrás de si deixava a pequena gravadora da Sun Records em Memphis e cinco singles que alcançaram um relativo sucesso no Sul dos Estados Unidos. Ninguém havia ouvido falar de Elvis Presley fora de sua região natal. Sua música e seu estilo ainda eram um mistério total para todos os envolvidos em sua contratação. Apesar da boa quantia paga pela RCA para a Sun pelo passe de Elvis, tudo naquele momento apontava apenas para uma aposta arriscada por parte dos executivos da grande gravadora americana. Elvis poderia fazer sucesso, mas também poderia fracassar totalmente caso não fosse aceito no norte e no oeste do país.

Acompanhado de seus músicos, considerados todos uns caipiras em Nova Iorque, Elvis iniciou naqueles dias uma nova era para a música jovem internacional. Um revolução musical sem precedentes na história, uma explosão que não deixou mais de se expandir e que causa repercussões até nos dias de hoje. Sem sombra de dúvida foi a partir deste ponto que começou a surgir o mito Elvis Presley. Foi a partir dessas músicas que o Rock'n'Roll começou sua escalada como o mais popular gênero musical de todos os tempos. Todas as vertentes, todas as tendências, todos os estilos musicais populares do século XX vieram de um só ponto, beberam de uma só fonte: O LP "Elvis Presley" de 1956. O disco ainda hoje é reverenciado por todos os grandes críticos de arte. Todos concordam que se trata de uma verdadeira obra prima, uma obra de arte. Mas na época, nem Elvis, nem seus músicos e nem o Coronel Parker tinham consciência disso. Tudo o que lhes importava era que o LP vendesse bem e pagasse os custos de sua produção. Se o disco fosse bem sucedido, já seria um alívio.

Ninguém sabia que estava mudando o mundo. Felizmente o disco foi um enorme sucesso de vendas atingindo rapidamente o topo da parada da revista Billboard. Além do sucesso do disco Elvis sabia que tinha que ter também um sucesso nacional, uma música que alavancasse sua recém nascida carreira. E o grande Hit de Elvis surgiu. "Heartbreak Hotel / I Was the One" foi a peça que faltava para consolidar o novo artista. Apesar de "Heartbreak Hotel" ter sido gravada nas mesmas sessões desse disco, ela não foi incluída entre as faixas por motivos comerciais, pois pela visão do Coronel Parker era melhor que quem comprasse o LP também adquirisse o single, que seria no final das contas uma ponta de lança para promover Elvis nas paradas.

O empresário do cantor já dava os primeiros sinais de sua forma de administrar a carreira de Elvis. O importante era extrair o máximo de lucro com o menor gasto possível. Isso se tornou bem claro quando o Coronel resolveu lançar as músicas do LP em diversos Extendeds Plays e Singles que também alcançaram sucesso, dando razão ao lema do velho empresário que sempre foi o de vender o mesmo produto duas vezes. "Elvis Presley" é na realidade uma mistura de antigas músicas de Elvis pela Sun como "Blue Moon" e "Just Because" com novas canções registradas nas três primeiras sessões de Elvis pela RCA Victor, uma realizada nos dias 10 e 11 de janeiro de 56 em Nashville, outra no final desse mesmo mês em Nova Iorque e finalmente uma terceira realizada em fevereiro de 56, só que dessa vez de volta em Nashville. Muitos anos depois Elvis confidenciou a um amigo que no momento que recebeu o disco pronto em suas mãos teve a certeza que havia conseguido atingir um de seus objetivos na vida, mal sabia ele o que estava por vir... O Disco "Elvis Presley" (LPM 1254) é composto pelas seguintes músicas:

Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - Clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins, cantor e compositor da Sun Records, que iria se tornar um dos maiores nomes da 1º geração de roqueiros americanos dos anos 50. Mesmo tendo alcançado grande sucesso na voz de seu autor, esta foi sem dúvida uma das músicas que se tornaram marca registrada de Elvis Presley. O Rei do Rock ao longo de sua carreira sempre foi apresentando novas versões para "Blue Suede Shoes" e quase sempre ela era incorporada aos seus shows ao vivo, aparecendo em vários discos de sucesso como "Aloha from Hawaii", e "From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis". Ele ainda a utilizaria em Hollywood, na trilha sonora de um de seus maiores sucessos no cinema: G.I. Blues (saudades de um pracinha, no Brasil). Essa nova versão era bem mais arranjada que a original, mas não tinha seu pique! Nos anos 70 e em seus shows na cidade de Las Vegas, "Blue Suede Shoes" entraria rotineiramente nos repertórios fixos do cantor em suas apresentações. A primeira versão de "Blue Suede Shoes", que está presente nesse álbum, foi gravada nos estúdios da RCA Victor em Nova Iorque no dia 30 de janeiro de 1956, poucos dias depois de Elvis completar 21 anos de idade. Apesar de possuir um arranjo bem mais simples que as versões posteriores, esta é a que melhor sintetiza o momento do surgimento do Rock'n'Roll nos Estados Unidos. A letra é clara: "Faça de tudo mas não pise nos meus sapatos de camurça azul". Em resumo: um verdadeiro hino da nação Rockabilly.

I´m Counting On You (Don Robertson) - Gravada em 11 de janeiro de 1956 nos estúdios da RCA de Nashville contando com a participação de Chet Atkins na guitarra e Floyd Cramer no piano, além do apoio vocal de Gordon Stocker, Ben Speer e Brock Speer. Pode ser considerada uma música menor dentro do vasto repertório de Elvis Presley, porém como faz parte da clássica primeira sessão do Rei do Rock na RCA, tem seu valor histórico incontestável.

I Got a Woman (Ray Charles) - Outra música que entrou em definitivo no repertório do Rei nos anos cinqüenta e setenta, sendo muitas vezes usada de introdução de seus shows logo após "Also Spratch Zarathustra" de Richard Strauss. Deve-se sua criação a Ray Charles que colocou uma letra pop sobre o ritmo de uma música religiosa chamada "My Jesus is all the world to me". Esta música trouxe problemas para Elvis pois seu título (Eu consegui uma Mulher) foi considerado ofensivo pela rígida sociedade americana da época. Elvis era considerado um incentivador da delinqüência juvenil pelos moralistas por sua dança e sua música e é claro que eles não iriam deixar passar esta oportunidade para mais uma vez atacá-lo. Foi gravada em 10 de janeiro de 1956 e é a primeira música gravada por Elvis nos estúdios da RCA Victor. Foi lançado num single junto com "I'm Counting on you" em agosto de 1956.

One-Sided Love Affair (Campbell) - Brilhante interpretação de Elvis em que seu estilo peculiar de pronunciar as palavras foi levado ao mais alto grau. Destaque também na preciosa colaboração de Short Long que leva a harmonia da música em seu piano. Típica música embalante dos primeiros discos de Elvis com letra igualmente saborosa. Sem dúvida um dos pontos altos do disco. Foi gravada no dia 30 de janeiro de 1956 nos estúdios de Nova Iorque.

I Love You Because (Leon Payne) - Música gravada por Elvis nos estúdios da Sun Records em 5 de agosto de 1954 naquela que foi a primeira sessão de gravação de sua vida. Nesta oportunidade Elvis gravaria ainda "That's All Right (Mamma)" e "Blue Moon of Kentucky", que seriam as primeiras músicas do cantor lançadas comercialmente. É uma balada romântica com uma letra simples porém significativa, em que participam somente os Blue Moon Boys (como Elvis, Bill Black e Scotty Moore se auto denominavam). Os solos de guitarra são de Scotty e o assobio no começo da música foi feito pelo próprio Elvis. Para especialistas como Peter Guralnick são músicas como esta que colocaram Elvis na história.

Just Because (BJ Snelton / S.Robin) - Também gravada na Sun Records em setembro de 1954. Traz novamente o pequeno trio de caipiras do sul dos Estados Unidos mandando ver numa espécie de mistura de country e skiffle. Elvis parece bem a vontade pois sem dúvida este tipo de música era o som que rolava em Memphis quando ele era apenas um adolescente. Possui todas as características das músicas de Elvis gravadas na minúscula gravadora de Sam Phillips, ou seja, poucos recursos técnicos mas muita imaginação.

Tutti Frutti (Joe Lubin / Richard Penniman / Dorothy LaBostrie) - Quem não conhece o refrão que caracteriza esta canção? Uma das mais conhecidas e famosas de toda a história do Rock'n'Roll. É aquele tipo de som que fica tão cristalizado na mente do público que se torna símbolo de toda uma era. Originalmente gravada por Little Richard, logo se tornou um sucesso instantâneo invadindo as paradas dos Estados Unidos de forma absoluta. A versão com Elvis foi gravada no dia 31 de janeiro de 1956 nos estúdios da RCA em Nova Iorque. Elvis poderia Ter caído na mesma armadilha de todos aqueles que interpretaram as músicas de Richard, que possuía um timbre de voz único, inimitável, porém o cantor optou por imprimir seu próprio estilo na música, tornando sua versão bem diferente da de Penniman. Elvis apresentou esta música em um programa na TV americana nos anos 50. Como curiosidade a filha de Elvis, Lisa Marie, declarou numa entrevista ser esta a sua música preferida dentre todas as outras que o rei do rock gravou.

Trying To Get To You (Charles Singleton / Rose Marie McCoy) - Gravada em 11 de julho de 1955 nos estúdios Sun em Memphis, Tennessee. Aqui Elvis exercita seu poderio vocal numa balada romântica característica do Sul dos Estados Unidos. Esta sem dúvida era uma de suas prediletas pois mesmo sendo ele o Rei do Rock'n'Roll não dispensava uma balada melódica como essa. Pode-se encontrá-la em discos ao vivo gravados durante os anos 70, porém a melhor versão sem dúvida é essa: simples e direta passando o sentimento dominante da época.

I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You) (Joe Thomas/Howard Biggs) - Ritmo perfeito e interpretação brilhante de Elvis caracterizam esta música, sendo considerada uma das mais alegres e alto astral do disco. Os Beatles fizeram um cover muito bem arranjado desta canção no período em que mantinham um programa radiofônico na BBC, a versão em questão está presente no CD "The Beatles Live in BBC". Sem dúvida Elvis atinge uma perfeita sintonia com seus músicos nesta canção gravada no dia 31 de janeiro de 1956. Posteriormente foi lançada como lado B de um single com "I'll Never let go (Little Darling)".

I'll Never Let You Go (Little Darlin') (Jimmy Wakely) - 10 de setembro de 1954 foi a data em que esta "Love Song" foi gravada nos estúdios da Sun Records. O fato engraçado da inclusão das músicas da Sun neste LP foi que a RCA não informou aos consumidores onde e quando elas haviam sido gravadas levando muitos a pensar que Elvis estava voltando ás origens. Nessa música atuaram apenas Elvis, Scotty (que sola durante toda a faixa) e fazendo uma sutil linha de baixo, Bill Black. Nessa época Elvis ainda não contava com um baterista fixo em sua banda. Na sala de edição apenas Sam Phillips

Blue Moon (Richards Rodgers / Lorenz Hart) - Outro clássico do repertório do cantor em que sua interpretação acrescenta algo de novo na música. Acontece que bem no meio da gravação desta linda balada Elvis esqueceu completamente a letra e no seu lugar colocou sua voz em harmonia, como se estivesse lamentando a perda da mulher amada. Sam Phillips achou genial e resolveu seguir em frente, resultando numa versão belíssima. Somente muitos anos depois Elvis explicou porque havia mudado "Blue Moon" de forma tão radical. Este tipo de comportamento acabou se tornando padrão nos seus anos de Sun Records, pois ele pegava uma música original e a mudava completamente de acordo com sua vontade, por isso ao se ouvir algumas versões originais de músicas gravadas por Elvis, tem-se a sensação de se estar ouvindo outra canção diferente. "Blue Moon" fez parte também de um single como lado B da música "Just Because", lançado em agosto de 1956.

Money Honey (Jesse Stone) - Elvis Presley fecha seu primeiro LP com este Rock'n'Roll. Com estrutura rítmica bem característica e uma perfeita combinação de guitarra e bateria Elvis nos proporciona seu último grande momento do disco. Esta é sem dúvida uma boa apoteose para o LP pois todos os elementos mais significativos do início do ritmo estão presentes aqui. Letra maliciosa e ritmo cortante fecham a cortina deste grande marco da história da música pop mundial.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956): Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - RCA Victor Studios

Em novembro de 1955 Elvis Presley foi contratado pela RCA Victor. Por essa época Elvis também assinou uma parceria com o empresário Coronel Tom Parker. Elvis fechou com a RCA por 35 mil dólares, a maior quantia paga a um artista solo até então. Com o dinheiro da venda, Sam Phillips, dono da Sun Records, conseguiu reformar sua pequena gravadora e investir em outros talentos. Então, em uma manhã ensolarada de segunda feira, 10 de janeiro de 1956, Elvis entrou em seu Cadillac roxo novinho, juntou-se aos rapazes de sua banda e viajaram até Nashville nos estúdios pertencentes à RCA.

Quando chegaram tiveram uma grande surpresa. Na realidade os estúdios eram de propriedade da Igreja Metodista do Tennessee, localizado nos fundos de uma antiga igreja protestante. Eles até ficaram em dúvida se aquele era o endereço correto. Mas eles não erraram de lugar, o estúdio ficava ali mesmo. A RCA havia alugado o local porque ele era muito apreciado por causa de sua acústica impecável. Elvis sentiu-se um pouco deslocado, ao contrário do pequenino local de gravação da Sun, ele agora se deparava com um grande espaço aberto, em um local que na realidade não se parecia com um estúdio de gravação, mas sim com uma sacristia! Imagine gravar Rock'n'Roll em um lugar desses, em solo sagrado!

Elvis resolveu então juntar o pessoal da banda, ao invés de espalhá-los pelo recinto. Assim todos ficaram agrupados em um canto do estúdio com Elvis cantando de frente para a banda e com o pessoal de apoio vocal ao seu lado. Para essa sessão foram recrutados outros músicos importantes como o pianista Floyd Cramer, que já tinha topado com Elvis pelas estradas e Gordon Stocker, que depois iria trazer seu próprio grupo (os Jordanaires) para acompanhar Elvis em gravações futuras. Para completar o grupo a RCA trouxe dois vocalistas Gospel, os irmãos Ben e Brock Speer. Elvis trouxe consigo sua turma: Scotty Moore e Bill Black. O baterista D.J. Fontana foi o último a chegar, sendo contratado em cima da hora pela direção da gravadora. Assim Elvis viu-se cercado por uma equipe de quase dez músicos. Para quem era acostumado a tocar com dois, foi um avanço grande. Depois Elvis foi apresentado ao seu novo produtor, Steve Sholes. Ao contrário de Sam, que sempre trazia contribuições para os takes, Sholes não era de dar opiniões no som da banda. Simplesmente ficava na sala de controle providenciando os aspectos técnicos da mesa de gravação.

Logo Elvis percebeu que iria ter que se virar sozinho com seu grupo. Presley também ficou surpreso ao saber que havia três violões e uma guitarra exclusivamente à sua disposição. Sem saber disso o futuro Rei do Rock tinha até trazido seu baleado instrumento para as gravações. Resolveu usar ele mesmo, pois o velho camarada de estrada já estava afinado em sua afinação preferida. Depois de se acomodar o grupo se preparou para as gravações. Sholes, da cabine de controle, perguntou a Elvis qual seria a primeira música a ser gravada. Elvis então deu uma olhada na lista das músicas e começou a riscar no papel as que ele pretendia iniciar nesse sessão de estreia. Uma logo lhe chamou atenção: "I Got a Woman". Seria melhor começar com ela pois eles já a estavam tocando nos shows e a banda estava entrosada.

Assim Elvis e os caras da banda chegaram a conclusão que era melhor começar por ela mesmo. Instrumentos ligados, todo mundo preparado começou as gravações, mas... A verdade era que as primeiras sessões não foram lá essas coisas. Os músicos ainda eram inexperientes. Era a primeira gravação deles fora da Sun Records e a primeira vez que tocavam com os outros músicos contratados pela RCA. Steve Sholes também não começou bem seu relacionamento com Elvis, não soube lidar muito bem com o estilo de trabalho de Presley. Elvis, por sua vez, não gostava muito da seriedade que estava reinando no estúdio naquele momento. Ele gostava de gravar em ambientes mais descontraídos e não sentindo toda a pressão dos caras da RCA. O som não foi dos melhores. Apesar das dificuldades, pouco após às duas horas da tarde daquele dia, Elvis foi ao microfone mais uma vez para tentar o take certo de "I Got a Woman".

Sob pressão e sob um calor infernal que fazia dentro dos estúdios, Elvis simplesmente arrasou! Fez uma performance inacreditável. Logo Sholes viu que aquele era o take definitivo, o ideal. Assim naquela tarde, depois de algumas tentativas, Elvis conseguiu gravar sua primeira canção na RCA Victor. Usava calças negras com uma faixa azul nas laterais e dançava como se estivesse fazendo um show para uma enorme plateia. Todos os caras da RCA ficaram impressionados. Sholes, já naquela época um senhor de mais de 50 anos, achou estranho, mas resolveu não falar nada. Ele nunca tinha ouvido ou visto aquele estilo musical em todos os seus anos de profissão. Nem podia, Elvis estava inventando naquele estúdio um novo idioma musical.

Então Elvis se preparou para a hora da verdade. Ele queria gravar "Heartbreak Hotel", de sua autoria junto com Mae Axton e Tommy Durden. Sholes achou a canção muito "estranha" pois a letra foi inspirada em um recorte de jornal que falava do suicídio de um homem, que teria escrito em seu bilhete de despedida a frase "Eu caminho em um rua solitária". Steve disse a Elvis que a achava muito mórbida, Elvis sorriu e respondeu que gostava dela e que a achava "legal". - "Então ok!" - respondeu o cansado produtor, naquela altura louco para voltar para casa. Ele havia achado Elvis "um garoto meio estranho com roupas esquisitas que canta umas músicas estridentes" como diria mais tarde a esposa de Sholes a um jornal de Nova Iorque. Só faltava essa: o primeiro produtor de Elvis na RCA era um velhusco ultrapassado. Mas sabia fazer seu trabalho.

Para conseguir o feito do eco, que Sholes considerava um ingrediente essencial da Sun Records, ele colocou um alto falante embaixo da escada , no hall, criando um som um tanto cavernoso, que se tornaria a marca registrada dessa música. Para encerrar o dia Elvis e banda detonaram em um rock clássico, "Money Honey". Exausto, depois de tocar o dia inteiro, Elvis deitou-se em cima de uma mesa que ficava no hall do estúdio. Nesse momento a filha do pastor local tirou uma das fotos mais raras da carreira de Elvis Presley. Quando a sessão estava concluída, Steve Sholes levou o material a seus superiores, que ficaram desnorteados. - "Eles me disseram que as músicas não soavam parecidas com nada que a gravadora já havia feito antes. Não soava como os outros discos e que era melhor não lança-lo daquele jeito. Me mandaram voltar e gravar tudo de novo". Era só o que faltava para Steve, nas portas da aposentadoria ele teria agora de cuidar de um "garoto maluco e sua bandinha!" O clima começou a ficar pesado entre Elvis e a RCA.

Steve então tomou uma decisão polêmica: resolveu aproveitar algumas músicas de Elvis na Sun e colocar no disco como "Blue Moon" e "Just Because", assim se o disco fosse um fracasso total o prejuízo seria menor. Nos dias que se seguiram Elvis gravou novas músicas ao lado de seu grupo (só clássicos absolutos: "Blue Suede Shoes", "Tutti Frutti" etc). Havia a sensação de se estar a frente - ou pelo menos se solidificando - uma nova revolução musical. Mas essa sensação era apenas de Elvis e dos demais músicos, Steve Sholes ainda duvidava do talento do cantor. Ele não sabia o quanto poderia durar aquele "fenômeno". No fundo Sholes temia mesmo era por seu emprego. Mas tudo se acalmou quando o disco chegou nas lojas poucos meses depois.

Elvis estava certo e o pessoal da RCA errado. O disco vendeu tanto e de forma tão rápida que ele logo chegaria ao primeiro lugar em todas as paradas: country, pop, rock e R&B. Esse disco, chamado simplesmente de "Elvis Presley" foi o primeiro disco da RCA Victor a vender mais de um milhão de cópias em menos de um mês. Tão importante ele se tornou para a história da música americana e mundial que ele é considerado um dos dez discos mais importantes da história da indústria fonográfica. Quem diria. Para citar apenas uma pessoa, John Lennon diria anos mais tarde: - "Este disco mudou minha vida!". Ao longo dos anos o disco ficou conhecido como "Rock'n'Roll 1", o primeiro e mais importante LP de Rock'n'Roll da história!

Pablo Aluísio - novembro de 2003.